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Um novo

Framework para
Projetos-Pilotos
Testada e aprimorada por quase quatro anos com 450 iniciativas em diversos
setores, a ferramenta busca acelerar a conversão de projetos-pilotos de inovação
aberta em futuros negócios. POR MAXIMILIANO CARLOMAGNO

CIRCULAÇÃO
AUTORIZADA PARA
Q
uase 20 anos depois da disseminação da ideia pelo professor Henry Chesbrough
na MIT Sloan Management Review, no artigo “The era of open innovation”, os
desafios da inovação aberta, sobretudo o do relacionamento entre empresas es-
tabelecidas e startups, permanecem presentes.
Para contribuir com seu enfrentamento, meu artigo “Projetos-piloto ajudam a
inovação aberta” propôs em 2019, também nesta revista, uma ferramenta de dese-
nho e estruturação de projetos-piloto desenvolvida a partir de três desafios
específicos: a ausência de alinhamento estratégico entre as partes sobre os objeti-
vos a alcançar com esse relacionamento, a falta de preparação organizacional para
fazer tal conexão e a inexistência de um método adequado de trabalho conjunto.

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Passados quase três anos, embora os líderes de 1. Dimensões: Na revisão da estrutura geral do
A PERGUNTA É:
empresas incumbentes e founders de startups brasi- framework, as nove dimensões originais foram
leiras tenham amadurecido o entendimento sobre os reorganizadas em seis, contendo 20 variáveis que Como
benefícios do relacionamento entre as partes como detalham aspectos importantes. [Veja quadro na converter em
forma de inovação e busca de crescimento e vanta- próxima página.] negócios mais
gem competitiva, ainda sobram desafios. Segundo 2. Variáveis: Entre as variáveis incluem-se infor- projetos-piloto
levantamento da 500 Startups feito em 2016, a maio- mações relevantes, que não estavam na versão feitos em
ria das corporações consegue converter até 15% dos original, sobre modelo de relacionamento, proprie- parcerias com
seus projetos-piloto em negócios. Somente 10% das dade intelectual, direitos, dados, tecnologia,
startups?
empresas têm um desempenho melhor, convertendo premissas de rollout e condição de pagamento.
mais de 60% dos pilotos. 3. Formato de visualização das informações:
Tendo utilizado nosso framework de aprendiza- A adaptação visou permitir a rápida caracterização
gem de pilotos em mais de 450 projetos-piloto em da proposta de projeto-piloto.
setores – tão diversos quanto farmacêutico, óleo e gás,
petroquímico, alimentos, bebidas, saúde, construção Eis a estrutura, com suas dimensões e
civil, agronegócio, energia e varejo – pudemos anali- variáveis:
sar melhor os formatos de relação e o papel dos
projetos-piloto, e fizemos ajustes e refinamentos. 1. Por quê? Estabelece as razões e justificativas
O presente artigo apresenta uma nova versão de que mobilizam a empresa para o projeto.
uma estruturação revisada e ampliada para proje- Problema/oportunidade: Houve a incorporação de-
tos-piloto e uma abordagem muito exitosa para sua liberada da “oportunidade”, o que se adequa para
aplicação – a imersão de cocriação. projetos onde não há uma “dor” operacional, em que
a empresa busca algo novo para criar valor.
Estrutura revisada e ampliada Justificativa: Essa é uma das informações novas. E,
preferencialmente quantitativa, é bem útil. Parte dos
A versão nº 1 do framework de aprendizagem projetos não tem rollout porque não foram dimen-
de pilotos, baseada na teoria da experimentação, sionados antes os ganhos tangíveis ou intangíveis.
foi desenvolvida a partir do estudo de caso de mais
de cem projetos-piloto. Organizada em função de
nove dimensões, tinha o objetivo de sistematizar a
abordagem de lean startup para projetos-piloto de
inovação aberta entre corporações e startups. GANHOS E ANOMALIAS NO FRAMEWORK Nº 1
Entendemos os principais ganhos e desafios da
A aplicação do framework apresentou ganhos em três métricas relevantes:
versão de 2019 [veja o quadro ao lado] e, depois de 1. Aumento do nível de aprovação dos projetos-piloto. Mais de 75% dos
analisar consequências e causas tanto na baixa taxa projetos-piloto desenhados foram aprovados para execução.
de conversão na transição piloto-rollout como no 2. Redução do tempo de desenho dos projetos. Entre 4 a 8 vezes menos
alto desempenho, melhoramos o que era necessário. tempo para desenho dos projetos-piloto.
3. Ampliação na taxa de conversão de projetos-piloto. Mais de 50% dos
Incorporamos os feedbacks de empresas reconheci-
projetos-piloto executados tiveram recomendação de sequência.
das como Ambev, Nestlé, SLC Agrícola, Ocyan,
Equinor, Klabin, Unimed, Unicred, Hypera Porém duas anomalias emergiram:
Pharma, Eurofarma, GSK, Ingredion, M. Dias 1. Limitações do contexto de aplicação: o uso do framework em
situações diferentes do formato de contratação originalmente idealizado
Branco, Dexco, Trisul, Coca-Cola, Kimberly
apresentou limitações – especialmente em formatos de parceria,
Clark, Moove e Vale. codesenvolvimento e cocriação de novos negócios.
Isso nos levou a realizar três alterações no fra- 2. Ausência de informações relevantes: as informações disponíveis no
mework para ampliar os contextos em que tem framework não cobriram todas as demandas necessárias para a completa
êxito e aumentar a efetividade de aplicação: organização dos projetos-piloto.

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2. O quê? Delimita o projeto e, mais detalhada- Dados: Determina os tipos a serem utilizados bem
mente, o experimento. como regras de acesso, armazenamento e descarte.
Solução: Essa também é uma nova variável que
apresenta a solução existente da startup. 4. Quem? Identifica os principais stakeholders e
Tipo: Descreve que ganho o projeto pode trazer. recursos necessários ao projeto-piloto.
Grau de customização: Nova variável que classifica Stakeholders: Informação adicionada, mapeia as
quão sob demanda é a solução da startup para ma- principais partes interessadas no piloto: decisores,
pear o nível de risco de eventuais adaptações. influenciadores, impactos e usuários.
Incerteza+KPIs+Hipótese: A variável já existia, mas Recursos: Identifica os recursos humanos, tecnoló-
foi refinada com a inclusão de um campo conec- gicos e informacionais necessários para execução
tando qual teste responderá a qual incerteza. do projeto-piloto.
Experimento: Descreve o que é, onde e como será
realizado, usuários, tempo de preparo, testes. 5. Quando? Descreve o cronograma do projeto, e
já fica como roadmap para o pós-piloto.
3. Como? Essa é uma nova dimensão incluída Cronograma: Organiza as principais fases, os res-
para facilitar a caracterização e a formalização. ponsáveis e as datas.
Formato de relacionamento: Pode ser contratação, Roadmap: Sinaliza potenciais expansões pós-pi-
parceria, cocriação, codesenvolvimento. loto, sejam funcionalidades ou áreas de aplicação.
Modelo de contrato: Identifica o tipo de contrato
no piloto para facilitar a formalização, como pres- 6. Quanto? Apresenta as despesas e a condição de
tação de serviço, acordo de cooperação comercial, pagamento do piloto, bem como as premissas de
SaaS, aquisição de hardware etc. modelo de negócio no rollout.
Direitos: É importante estabelecê-los com ou sem Despesas: Detalha os tipos de gastos e os valores.
continuidade do piloto definindo aspectos de ex- Condição comercial: Como será o pagamento do
clusividade, preferência, carência ou desconto. piloto: contra entrega? Contínuo? Adiantamento?
Propriedade intelectual: A dona da tecnologia será Premissas de rollout: Alinha parâmetros sobre
a startup, a corporação ou vão compartilhar? condições futuras de sua conversão em negócio.
Tecnologia: Mapeia as necessidades de infraestru-
tura, interfaces e eventuais integrações no piloto. Quanto à nova visualização proposta, veja as fi-
guras na página ao lado.

NOVAS DIMENSÕES, NOVAS VARIÁVEIS

POR QUÊ O QUÊ COMO

Problema/Oportunidade | Justificativa Solução | Tipo | Grau de customização | Formato de relacionamento | Modelo de


Incertezas+KPIs+Hipótese | contrato | Direitos | Propriedade
Experimento intelectual | Tecnologia | Dados

QUEM QUANDO QUANTO

Stakeholders | Recursos Cronograma | Roadmap Despesas | Condição comercial |


Premissas de rollout

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NOVA FORMA DE VISUALIZAÇÃO Então, todos os interlocutores precisam ficar
juntos por um período de tempo suficiente que
lhes permita desenvolver confiança. Você não faz
algo novo com alguém em quem não confia; e não
se confia em quem não se conhece.
Uma boa imersão é dividida em quatro fases:

1. Alinhamento. Detalha-se o problema ou opor-


tunidade. A corporação compartilha sua situação
atual, indicadores, soluções testadas, stakeholders
envolvidos, incertezas e tudo que permita entendi-
mento da realidade. A startup apresenta sua
solução e as possibilidades de curto e médio prazo.
2. Cocriação. É a elaboração conjunta da pro-
posta de projeto-piloto com o framework de
aprendizagem de pilotos que provê protocolo e lin-
guagem para isso.
3. Validação. Consultam-se os stakeholders po-
tencialmente impactados (tecnologia, jurídico,
sustentabilidade, segurança) para evitar problemas
Imersão de cocriação futuros. A orçamentação ocorre aqui também.
As discussões entre corporações e startups Startup e empresa devem discutir condições.
podem ser intermináveis – e frequentemente não 4. Aprovação. Reúne pitch, aprovação e alocação
têm todos os interlocutores necessários à mesa. de recursos para executar o projeto-piloto. Alguns
Os profissionais de empresas estabelecidas estão cuidados aqui podem fazer diferença, como garan-
habituados a uma abordagem convencional, de tir a presença de todos os interessados na solução e
meses, para projetos-piloto: dedicando-se part time, pensar no piloto como o início da parceria – e,
definem um escopo detalhado, emitem uma requisi- assim, dimensionar o projeto conforme o necessá-
ção de compras e avaliam de forma crítica o rio para validar as incertezas priorizadas.
entregável de uma proposta desenvolvida por um
parceiro que não conhece profundamente a necessi- O NOVO FRAMEWORK de aprendizagem de pi-
dade. Isso é bom para situações mais conhecidas; não lotos definitivamente amplia suas situações de uso
funciona para desenvolver inovações com startups. pelas empresas. E aplicá-lo em uma imersão de co-
Na inovação aberta para o desenvolvimento de criação permite aos gestores poupar tempo e PRINCIPAIS TAKEAWAYS
pilotos, a melhor forma de aplicar nosso framework avançar na conversão do piloto em negócio. *As relações entre empresas
estabelecidas e startups para
é em uma imersão de cocriação. Trata-se de um pro- Evita-se, assim, as tão frequentes relações de inovar seguem desafiadoras. Um
cesso de três dias em que os times trabalham juntos predatismo e parasitismo, beneficiando o ecossis- framework de projetos-piloto
lançado em 2019 começou a
em período integral com um único objetivo: dese- tema de negócios com uma relação quase tão facilitá-las, mas tinha aplicação
nhar um projeto-piloto com início, meio e fim. harmônica como a que ocorre, em um ecossistema limitada.
A razão? Inovar é como iniciar um novo es- natural, entre anêmonas-do-mar e caranguejos-er- * Em nova versão, o framework
serve a mais casos. E fica mais
porte. Não dá para aprender algo novo praticando mitões. Enquanto a anêmona protege o corpo mole eficaz com a imersão de
apenas uma hora a cada 20 dias, porque cada reco- do caranguejo, este a transporta sob sua concha. cocriação sugerida.
meço será um retorno à estaca zero. Há uma dura
verdade no ambiente de negócios: ninguém faz
nada incrível no tempo que sobra. A forma de criar SOBRE O AUTOR
Maximiliano Carlomagno é fundador da consultoria de
algo novo é trabalhando de maneira concentrada.
inovação Innoscience e doutorando da FGV-Eaesp.

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POR QUÊ

1. Problema/Oportunidade 2. Justificativa
Descreve o problema ou oportunidade da corporação. Identifica as razões e que mobilizam o projeto delimitando as fontes de ganhos quando da
resolução do problema ou aproveitamento da oportunidade.
O QUE
4. Incertezas, KPIs e Hipóteses
Descreve o que será testado, como será medido e o que seria considerado sucesso.
1. Solução
Descreve a solução existente da startup.

Incerteza KPI Hipótese Teste

2. Tipo de Projeto
Caracteriza o tipo ganhos potencialmente ganhos com o projeto.

Branding Produtividade Mitigação de Risco


/Social
5. Experimento
Descreve o que é o experimento, onde vai ser realizado, como vai ser executado, os
principais usuários e o tempo de preparação e testes
Economia Receita Novas Receitas
Incremental
O que: Quem:

3. Grau de Customização Onde: Quando:


Estabelece o tipo de solução da startup.

Baixo: Produto Moderado: Produto Alto: Produto sob Como:


pronto adaptado medida
COMO
2. Modelo de Contrato
Determina o tipo de contrato entre as partes

1. Formato de Relacionamento SaaS Aquisição de hardware/software Acordo de cooperação comercial


Define o tipo de relacionamento durante o piloto.
Codev Desenvolvimento sob medida Prestação de serviço
Contratação: relação de fornecimento de
produto e serviço.
Parceria: cooperação técnica ou comercial 3. Direitos 5. Tecnologia
entre as partes. Estabelece os direitos das partes com ou sem Identifica as necessidades durante o piloto.
continuidade do piloto.
Codesenvolvimento: desenvolvimento
conjunto de solução entre as partes Em caso de encerramento • Infraestrutura: acesso, rede e segurança
• Restrições: delimita eventuais restrições para as • Plataformas relacionadas: fonte e destino
Cocriacao: criação conjunta de nova
oportunidade de negócio. partes de dados
• Dados: determina os procedimentos de dados • Integrações: quem disponibiliza e quem
pós piloto consome

4. Propriedade Intelectual • Continuidade em separado: estipula direitos de


Resultante continuidade para cada parte
Estipula os direitos sobre propriedade intelectual.
6. Dados
Determina os tipos de dados a serem utilizados.
Total startup: mais frequente em Em caso de rollout
modelo de contratação e parceria
• Exclusividade: em condições determinadas • Gerais:
Total Corporate: mais frequente em
• Preferência: investimento, contratação, parceria • Pessoais:
desenvolvimento sob medida
• Carência: período para ofertar a terceiros • Procedimentos de acesso, armazenamento
Dividida: mais frequente em
codesenvolvimento e cocriacao • Desconto: condições comerciais especiais e descarte
QUEM QUANDO QUANTO

1. Stakeholders 1. Cronograma 1. Despesas


Mapeia as principais partes Organiza as principais fases, atividades e datas do Define o que são as despesas e respectivos valores.
interessadas no projeto piloto. piloto.

Tipos: Valores:
• Decisor O que Quem Quando
• Influenciador
• Impactado
• Usuário final

2. Condição comercial
Estabelece a condição de pagamento do projeto piloto

Contra entrega: pagamentos periódicos


2. Recursos 2. Roadmap a medida que determinadas entregas
Sinaliza os potenciais caminhos da expansão pós
Identifica os principais recursos
piloto, funcionalidades ou áreas de aplicação.
intermediárias são realizadas.
necessários para execução do projeto
piloto. Mensal: pagamentos mensais e
• Onda 1: sucessivos ao longo do piloto.
• Humanos:
• Onda 2:
• Tecnológicos: Adiantamento: pagamento mensal ou
• Onde 3: contra entrega com adiantamento de
• Informacionais: capital em função da necessidade de
caixa da startup.

3. Premissas de rollout • Modelo de negócios


Alinha parâmetros básicos sobre
modelo de negócios do rollout.
• Unidade de cobrança

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