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Resumo
Este estudo apresenta um modelo analítico estruturado, que se insere no campo de estudos de gerenciamento de
projetos nas organizações. Sua importância decorre de que o ambiente empresarial vem passando por intensas
mudanças, nas últimas décadas, reflexo das inúmeras transformações tecnológicas, sociais e políticas, em curso
nos mais diversos setores econômicos. É nítida a importância das atividades que se caracterizam pela inovação em
qualquer processo de mudança, pois, em geral, são elas que agregam mais valor ao produto ou serviço. Neste
sentido, gerenciar melhor todos os recursos de uma organização é fundamental para as empresas que querem ser
mais competitivas e progredir. No entanto, conseguir maturidade em gerenciamento de projetos implica em decidir
por uma série de ações consistentes, envolvendo desenvolvimento de competências em várias instâncias, e isto leva
tempo e tem reflexos em toda a organização. A contribuição deste estudo está, justamente, em entender o
processo de obtenção da maturidade em gerenciamento de projetos nas organizações, bem como em propor um
modelo referencial para ser adotado por elas.
Palavras-chave
Competências em gerenciamento de projetos, maturidade em gerenciamento de projetos, gerenciamento de projetos.
Key words
Project management competences, project management maturity, project management.
O conceito de projetos tem sido aprimorado nos últi- Competências em gerenciamento de projetos
mos anos, visando estabelecer um entendimento comum Frame (1999) sugere três tipos de competências em
nas organizações que trabalham com este tipo de empre- gerenciamento de projetos: as individuais, as de equipe e
endimento. Para o PMI® – Project Management Institute, as da empresa. Estes tipos podem ser vistos como se
um projeto pode ser definido, em termos de suas caracte- fossem três vetores. O primeiro se refere às aptidões e
f) estabelecimento de critérios de sucesso – Esta área busca telecomunicações cuja missão declarada foi: entender as
identificar os projetos com adequação de valor para as necessidades e as oportunidades de seus clientes, pro-
estratégias organizacionais. vendo soluções de comunicações melhores do que quais-
g) pessoas e suas competências – Esta área visa criar meca- quer de seus concorrentes.
nismos formais para avaliação de competências dos re- O modelo adotado para o desenvolvimento deste caso
cursos das equipes de projetos. A foi elaborado por Kerzner (1999 e 2000), enfatizando
h) alocação pessoal – Esta área deverá interpretar as priori- as fases do nível dois de maturidade.
zações dos projetos segundo as estratégias organizacio- Os resultados do diagnóstico feito na organização
nais para alocação adequada de recursos. representante do caso A revelaram que já foi percorrido
i) aspectos organizacionais – Esta área propõe a estrutura- um bom caminho na direção do gerenciamento de proje-
ção das equipes de projetos considerando-se as formas tos, porém, notou-se a ausência do desenvolvimento de
organizacionais existentes. uma série de ações visando atingir a maturidade.
j) equipes – Esta área envolve a formação de uma cultura A avaliação das variáveis propostas por Kerzner
baseada em equipes de projetos, considerando-se o esta- (2000) mostra que a organização atingiu um nível de
belecimento de níveis de inovação e criatividade de traba- maturidade de 50,4%, revelando, assim, a possibilidade
lhos conjuntos. de desenvolvimento de ações rumo ao gerenciamento de
projetos. O modelo mostrou que os índices de cada fase
AS EMPRESAS QUE CONSTITUÍRAM OS CASOS: oscilam pouco, relativamente, variando de 60%, aproxi-
PRÁTICAS PERCEBIDAS E MATURIDADE EM madamente, na fase embrionária a 64% na fase de cresci-
GERENCIAMENTO DE PROJETOS mento.
A fase de maturidade mostrou que, exceto no que se
Serão apresentados, a seguir, os resultados dos dois refere ao reconhecimento das atividades, pode-se inferir
casos selecionados que configuraram diagnósticos dis- que a empresa é bastante carente no desenvolvimento dos
tintos sobre gerenciamento de projetos, seguidos de res- conceitos e práticas em gerenciamento de projetos, dei-
pectivas análises, enfocando os modelos adotados. xando clara a distância a ser percorrida visando buscar a
Os dois casos foram tratados com abordagens teóricas maturidade.
distintas, que constituem parte da literatura sobre avalia- A utilização do modelo de Kerzner (2000) mostrou-se
ção e requisitos para institucionalização de gerencia- bastante interessante, devido à possibilidade em detalhar
mento de projetos nas organizações. Cada caso visa, as variáveis de cada fase. Destaca-se também no trabalho
portanto, representar um modelo teórico. de Kerzner (1999) o instrumento de levantamento de
dados que, adequadamente, contribui para a elaboração
Estudo do caso A de diagnóstico. Mais especificamente, o modelo propi-
O caso A refere-se a uma organização do ramo das ciou identificar os elementos de análise, uma vez que o
Avaliação Kzerner
CASO A
levantamento de dados foi pautado na identificação do modelo utilizado para análise do caso B, até a conclusão
nível de maturidade. deste estudo.
No estudo deste caso percebeu-se que o modelo de Os resultados obtidos estão expressos na Figura 2.
Kerzner (1999) foi útil, mas apresenta alguns pontos que Os maiores problemas enfrentados pela empresa em
não deixam claras as ações prospectivas, limitando, de relação ao gerenciamento de projetos refletiram-se nas
certa forma, as possíveis análises da questão gerencia- notas médias mais baixas nas dimensões de recursos
mento de projetos. humanos (42%, aproximadamente, de atendimento) e de
O modelo deixou de examinar as seguintes questões, aprendizagem organizacional (em torno de 47% de aten-
entre outras: dimento). Não menos importantes, as notas médias das
a) competências em gerenciamento de projetos nas suas mais outras três dimensões também refletem carências da em-
distintas instâncias; presa no gerenciamento de projetos. As dimensões de
b) constituir um escritório (PMO Project Management Office); metodologias e procedimentos, que apresentaram um
c) construção de uma base de dados, e para isto constituir as grau de 55%, aproximadamente, de atendimento; apoio
ferramentas que irão suportar o gerenciamento dos pro- organizacional, cujo nível de atendimento ficou em torno
jetos; de 56%; e alinhamento estratégico, que teve maior grau
d) desempenho das equipes de projetos; de atendimento segundo os entrevistados, com 61%,
aproximadamente.
Estudo do caso B O trabalho proposto pelo grupo de estudo que originou
A empresa estudada no caso B pertence ao ramo da o modelo OPM3 (1999), embora ainda incipiente na
engenharia da construção com ênfase na execução de época de sua aplicação neste caso, propiciou contribui-
empreendimentos complexos e integrados para diversos ções relevantes. São elas:
setores industriais. a) existência de requisitos que determinam o posicionamen-
Para orientar a análise, foi adotado o modelo do PMI® to do projeto na organização;
Project Management Institute, em desenvolvimento, b) fatores de recursos humanos considerando-se o desenvol-
OPM3 – Organizational Project Management Maturity vimento de potenciais gerentes de projeto, o treinamento
model. Este modelo, como visto na revisão teórica, está em gerenciamento de projetos, treinamento cruzado, re-
em elaboração e para efeito deste estudo foram conside- ferente às outras áreas, formação de equipes e definição
rados os elementos apresentados até o período das entre- de papéis e responsabilidades;
vistas: junho e julho de 2001. Vale a pena mencionar que c) apoio organizacional aos projetos onde se constatou que,
foi impossível adotar as inúmeras mudanças ocorridas no apesar da empresa prover amplo suporte para suas unida-
Avaliação OPM3
CASO B
Estratégia
Organização
Equipes
Indivíduo
panorama bastante interessante sobre os aspectos de ge- aconteça, haja um espírito de colaboração e comprometi-
renciamento de projetos nas organizações. A aplicação mento com os requisitos de gerenciamento do projeto. Isto
deste modelo foi utilizada por Rabechini Jr. (1999) para significa ter equipes competentes em projetos.
avaliar as necessidades em gerenciamento de projetos em Por fim, a camada da organização, no ímpeto de
instituição de pesquisa. Neste caso, foi possível, através institucionalizar o gerenciamento de projetos como for-
dos resultados obtidos, levantar os principais problemas ma moderna de administração de suas atividades não-
em administração de projetos na organização, mediante rotineiras, deverá estar sensibilizada, disponibilizando
as considerações estratégicas delineadas anteriormente. recursos, adequando estratégias, divulgando resultados
No entanto, esta foi mais uma aplicação que careceu de de projetos, etc. Isto é, ser uma organização competente
apontamentos sobre as competências necessárias em ge- em projetos.
renciamento de projetos, ficando clara a existência de As camadas de competências apóiam-se em distintos
oportunidade para avançar na teoria. Uma vez estabeleci- pilares, capazes de viabilizar seus respectivos desenvol-
das as considerações estratégicas e os fatores críticos de vimentos. O primeiro pilar se refere aos objetivos estra-
sucesso, cabe então delinear as dimensões centrais do tégicos. Este pilar caracteriza-se por apoiar e estabelecer
modelo. as diretrizes em relação ao desenvolvimento de gerencia-
mento de projetos, para todas as
competências. Estas diretrizes fo-
s equipes, no âmbito dos projetos, devem
A ser pró-ativas em buscar resultados,
através de uma orientação voltada às tarefas
ram criadas para nortear o desen-
volvimento das outras dimensões
deste modelo.
Entre os aspectos importantes a
serem considerados neste pilar, não
e atividades, bem como adequar as exaustivamente, destacam-se:
a) o desenvolvimento de diretrizes
necessidades pessoais de seus membros. que visam estabelecer um escritório
de projetos (project office) que, por
sua vez dará suporte a toda a organi-
Da camada dos indivíduos, que estão envolvidos em zação no que se refere à gestão de projetos;
projetos, em linhas gerais, espera-se que eles dominem b) a carreira do gerente de projeto e, como conseqüência,
as técnicas e ferramentas em gerenciamento de projetos, sua remuneração profissional;
dentro dos parâmetros amplamente divulgados como das c) carteira de projetos como opção gerencial de organiza-
restrições de recursos, prazos e custos, característicos de ção e priorização de projetos na organização;
projetos, levando-se em conta, ainda, as exigências de d) a capacitação das equipes de projetos.
singularidade e empenho. Espera-se que estes indivíduos
possuam uma visão bastante abrangente do sentido de O segundo pilar se refere aos processos. Este pilar visa
governar ou ser governado, mediante a necessidade de o desenvolvimento das funções que integram os requisi-
alinhamento de projetos às estratégias organizacionais, tos de gerenciamento de projetos na empresa para as três
bem como do desenvolvimento das habilidades geren- camadas propostas. Normalmente este pilar caracteriza a
ciais e da capacidade em aplicar as técnicas e ferramentas metodologia de gerenciamento de projetos a ser empre-
de gerenciamento de projetos. Neste aspecto buscou-se endida na empresa. Este pilar, na verdade, dará suporte
identificar ações que elevem o grau de competência do ao conjunto de estratégias definidas pela organização no
indivíduo em relação a suas capacidades gerenciais, de que tange ao gerenciamento de projetos.
conhecimento do negócio e de gerenciamento de proje- O terceiro pilar se refere à mudança prescrita, decor-
tos. Em suma, isto significa ter indivíduos competentes rente das estratégias configuradas e do desenho dos pro-
em projetos. cessos. Este pilar representa os elementos necessários
As equipes, no âmbito dos projetos, devem ser pró- para se configurar o entendimento do gerenciamento da
ativas em buscar resultados, através de uma orientação mudança organizacional e de suas barreiras, ocasionadas
voltada às tarefas e atividades. Neste aspecto, buscou-se durante implantação da gestão por projetos. Este pilar,
planejar ações visando torná-las aptas ao desenvolvimento para efeitos de análise, deverá contemplar os indicadores
de comprometimento com a agenda do projeto, bem como de desempenho dos projetos e seus respectivos geren-
com orçamento, gestão dos riscos, com a qualidade, entre ciamentos, considerando-se a possibilidade de analisar
outros aspectos. Espera-se que, também, para que isto as competências das três camadas sugeridas.
analisados, em geral, não se mostram adequados, pois guração de um plano de institucionalização de gerencia-
não foram exaustivos na configuração de elementos mento de projetos nas organizações.
para análise, deixando, portanto, muitas lacunas a serem O modelo, assim, proporcionou uma visão holística da
preenchidas. questão da institucionalização de gerenciamento de projetos.
Os modelos utilizados apresentam elementos bastante Foi possível, através do modelo, estabelecer uma análise
importantes, mas não exaustivos. sobre pressupostos sobre a causa da institucionalização
Torna-se extremamente difícil abordar, num modelo, to- via desenvolvimento de competências e estabelecimento
das as variáveis envolvidas na institucionalização de de maturidade – aqui, sim, de forma evolutiva.
projetos numa organização. d) O modelo proposto mostrou-se adequado à identificação
Estas observações apontam para a necessidade de se ter de competências nas dimensões estudadas: indivíduo,
um modelo abrangente das questões de gerenciamento de equipes de projeto e organização.
projetos. Estas camadas são amplas e, portanto, requerem elabora-
b) A análise (de dados secundários) de documentos das ção de um estudo detalhado para a sua ideal configuração.
organizações estudadas foi tão importante quanto as en- O modelo, neste sentido, não apresenta instrumento de
trevistas, pois, em relativos graus, ajudaram a comprovar levantamento de dados, mas, na verdade, possibilita o uso
ou reprovar as afirmações primárias; de outras configurações já desenvolvidas na literatura
Embora os modelos adotados da literatura técnica forne- técnica, acrescido, obviamente, da necessidade em buscar
cessem, em alguns casos, questionários de levantamento de informações internas à organização por meio de entrevis-
dados, eles não conseguem, de forma prática, estabelecer tas e análise documental.
todas as variáveis de um problema tão complexo como o da Neste aspecto, observa-se a incidência de uma espécie de
institucionalização de gerenciamento de projetos nas orga- meta-modelo, que fornece elementos essenciais na desco-
nizações. berta de variáveis relevantes à institucionalização de
c) O modelo proposto, embora não-evolutivo, foi útil para gerenciamento de projetos nas organizações. Assim,
entender o panorama das carências da organização em complementa outros modelos e não os substitui.
gestão de projetos; e) Quando se focaliza a organização e suas competências,
O modelo proposto mostrou, de forma agregada, uma abrem-se possibilidades de se discutir temas centrais
amplitude considerável de variáveis relevantes na confi- como: definição de estratégias e processos técnicos e
Alto nível de
atendimento Cenário II Cenário IV
Intuitivo Maduro
Equipes
Indicadores
de estratégia
Organização
Indivíduo
Indicadores
Baixo nível de Alto nível de
de processos
atendimento atendimento
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Sobre os autores
Roque Rabechini Jr.
Doutor pela Escola Politécnica da USP, Consultor de Empresas.
Endereço: Av. Prof. Almeida Prado, 128 – 05508-900 – C. Universitária – São Paulo, SP
E-mail: roquejr@usp.br