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FUNDAMENTOS DE QUÍMICA
AULA 3

 
Prof. Eduardo Moraes Araujo

CONVERSA INICIAL

A evolução da ciência é expressiva na atualidade, e isso muito se


explica pela tecnologia

disponível aos cientistas atuais. Mas como seria se os


cientistas de séculos passados tivessem acesso

ao que se tem hoje? Claro que


não é possível prever nada, mas as descobertas que fizeram, mesmo
com a
tecnologia mais arcaica comparada com a de hoje, fizeram deles não apenas
cientistas, mas

gênios.

Nesta etapa vamos debater mais alguns pontos importantes, como a visão
do modelo atômico

atual, além de outros aspectos mais aprofundados, como


distribuição eletrônica.

TEMA 1 – MODELO ATÔMICO ATUAL

Erwin Schrödinger (1887-1961), Louis Victor De Broglie (1892-1987) e


Werner Heisenberg (1901-

1976), reunindo os conhecimentos, acabaram por


desenvolver uma nova teoria do modelo atômico,

modificando a visão anterior


sobre o que era proposto a respeito do estudo da atomística.

Em 1924, Heinsenberg aceitou o convite de Bohr para trabalhar em


Copenhague, sendo que esse

cientista brilhante ganhou o Prêmio Nobel pela


descoberta da mecânica quântica em 1932, e em

1927 publicou o princípio da


incerteza, que defendia que a um dado momento não seria possível

determinar a
posição exata de um elétron, e sim, por meio de cálculos estatísticos, a
provável região

de encontrá-lo. Ou seja, segundo ele é impossível medir


simultaneamente e com precisão absoluta a

posição e o momento linear de uma


partícula. Essa região na qual há maior probabilidade de se
encontrar um
elétron foi denominada de orbital.

Schrödinger descreveu o movimento do elétron ao redor do núcleo


mediante uma equação

matemática denominada equação de onda, que relaciona o


comportamento de dualidade (onda-

partícula), a energia, a carga e a massa do


elétron. As soluções numéricas para essa equação foram
denominadas de números
quânticos (principal (n), secundário ou azimutal (l), magnético (m ou m1) e

spin (s ou ms)), que permitiriam caracterizar cada elétron pela sua quantidade
de energia.

A contribuição de De Broglie foi em relação ao princípio da dualidade,


que defendia que

“quando examinamos em escala atômica, os conceitos de


partícula e onda se fundem, com partículas
tendo características de ondas e
ondas tendo características de partículas” (Atkins, 2011, p. 236).

De Broglie determinou uma relação (Relação de De Broglie), que


possibilita o cálculo de um

comprimento de onda de uma “onda matéria”. A


expressão por ele seria:

Sendo p = (2me.e.V)1/2, chegando então à seguinte


expressão:

λ = (h/2me.e.V)1/2

Vamos a um exemplo, utilizando


alguns cálculos em relação ao comprimento de onda de De

Broglie. Calcule o
comprimento de onda de elétrons que foram acelerados a partir do repouso por

uma diferença de potencial de 1,00 kV. Para resolver essa questão basta aplicar
a seguinte fórmula:

λ= (h/2me.e.V)1/2

Sendo: λ = comprimento de onda; me = massa do elétron; e = carga


elementar do elétron; V =

diferença de potencial.

Substituindo na
expressão, teríamos o seguinte:

λ = 6,626.10-34Js
/ [2. (9.110.10-31 kg). (1,062.10-19 C). (1,00.103
V)]1/2

Resolvendo os
cálculos, teremos o comprimento de onda igual a:

λ = 3,88.10-11
m

Em relação à dualidade proposta por De Broglie, “experimentos de


Davisson-Germer, que

tenham sido repetidos em outras partículas [...] mostram


claramente que as partículas têm

propriedades ondulatórias” (Atkins, 2011, p. 236).


TEMA 2 – MODIFICAÇÕES DA VISÃO DOS MODELOS ATÔMICOS

A visão dos modelos atômicos foi sendo modificada com o passar do


tempo, demonstrando que

a ciência está em constante evolução. O que se sabe


hoje pode ser pensando de forma diferente no

futuro, o que é de grande


importância, pois se a ciência estivesse estagnada, tudo já sendo

descoberto e
nada mais a acrescentar, o avanço tecnológico não seria possível.

A Figura 1 mostra a evolução da visão dos modelos atômicos, desde a


antiguidade, que se

iniciou o pensamento da atomística com uma visão filosófica,


até o modelo atual que, conforme já

citado, é o aceito, mas não necessariamente


o último, pois futuramente outros cientistas poderão

propor diferentes
explicações.

Figura 1 – Evolução das teorias dos modelos atômicos

Créditos: Udaix/Shutterstock.

Importante ressaltar que a visão filosófica não tem cunho científico,


por isso não é definida

como modelo atômico, e sim um pensamento em relação à


explicação da formação da matéria,

iniciando o pensamento da atomística, pelos


gregos da antiguidade.

TEMA 3 – DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA POR NÍVES E SUBNÍVEIS

Agora, com um bom conhecimento sobre a evolução dos modelos atômicos, é


possível

compreender melhor a parte da distribuição eletrônica e nos aprofundar


um pouco mais em relação

ao estudo dos níveis e subníveis de energia.


Como já demonstrado anteriormente, os níveis de energia são regiões em que
se encontram os

elétrons, conforme o modelo atômico proposto por Bohr, sendo


denominados por letras maiúsculas

K, L, M, N, O, P, Q, R... Não é totalmente


correto pensar que são definidos apenas sete níveis de

energia; esse número é


usado devido à tabela periódica que, até o momento, possui apenas sete

períodos.
Todavia, a partir do momento em que for necessário mais um período, o que pode
ocorrer

a qualquer momento – como a ciência está em evolução, podem ser


descobertos ou mesmo criados

em laboratório mais elementos químicos –, será


preciso usar mais níveis de energia. Na Tabela 1, é

possível identificar os
níveis de energia, bem como a quantidade máxima de elétrons para cada um

deles.

Tabela 1 – Níveis de energia e quantidade máxima de elétrons

n
Níveis
de Quantidade
máxima de Quantidade
prevista de elétrons mediante
(número
quântico
energia elétrons cálculo
principal)

1 K 2 2

2 L 8 8

3 M 18 18

4 N 32 32

5 O 32 50

6 P 18 72

7 Q 8 98

A quantidade de
elétrons máxima por nível de energia é calculada pela fórmula: 2n², em que n =

número
quântico principal, que indica o nível.

O motivo de não termos o número de elétrons calculados, e sim o máximo (que


seria 32), está na

quantidade excessiva de orbitais necessários para alocar


todos os elétrons, conforme indica a Tabela

2.
Tabela 2 – Relação da quantidade de orbitais necessários em relação à quantidade de elétrons

possíveis

Camada
(ou Quantidade
prevista de elétrons mediante Número
total de orbitais necessários na camada (ou

nível) cálculo nível)

1 2 1

2 8 4

3 18 9

4 32 16

5 50 25

6 72 36

Embora até haja mais


orbitais, os mais usuais são os definidos pelas letras “s”, “p”, “d” e “f”.

Vale lembrar que os orbitais, simplificadamente, podem ser


compreendidos como a região de

localização dos elétrons e que cada orbital pode


alocar dois elétrons com valor de spin opostos para
não gerar uma
instabilidade.

A distribuição eletrônica por subníveis leva em consideração esses


orbitais. Vamos a um
exemplo:

Faça a distribuição eletrônica por subníveis do elemento cloro (Z = 17).

Essa distribuição ficaria assim: 1s2 2s2 2p6


3s2 3p5

Considerando-se que está em ordem crescente de energia, o subnível


menos energético é o 1s²,

e o mais energético seria o último, ou seja, o 3p5


(Figura 2).

Figura 2 – Representação dos níveis de energia do cloro


Analisando a
distribuição por subníveis, também podemos identificar o nível (ou camada) de
valência, que é o nível com maior valor de n (número quântico principal)
(Figura 3).

Figura 3 – Demonstração da camada de valência


Para transformar a
distribuição por subníveis em níveis, basta somar as quantidades de elétrons

em
cada “n” (Tabela 3).

Tabela 3 – Distribuição por subníveis e por níveis

n Subnível
do n Distribuição
por nível

1 1s² K
= 2

2 2s²
e 2p6 L
= 2 + 6 = 8
3 3s²
e 3p5 M
= 2 + 5 = 7

Então analisando a
tabela, vemos que a distribuição por níveis fica: K = 2, L = 8 e M = 7, sendo a
M a última, então denominada camada de valência.

TEMA 4 – REPRESENTAÇÃO DOS ORBITAIS

Cada orbital tem um formato específico, e “as suas formas nos ajudam a
visualizar como a
densidade eletrônica está distribuída ao redor do núcleo”
(Brown, 2016, p. 241). Para fins didáticos,

geralmente representam-se os
orbitais no formato de quadrados, conforme ilustrado na Tabela 4.

Tabela 4 – Orbitais e suas representações didáticas em quadrados

Representação
da quantidade de orbitais
Orbitais Máximo
de elétrons por subnível
 (por
quadrados)

s 2

p 6

d 10

f 14

Para se distribuírem
os elétrons nos orbitais, é preciso seguir algumas regras propostas por
Friedrich
Hermann Hund (1896-1997) e Wolfgang Pauli (1900-1958).

4.1 ÓRBITA DO TIPO S


Para esse tipo de orbital, “a densidade eletrônica a uma determinada
distância do núcleo é

sempre igual, independentemente da direção tomada a


partir do núcleo” (Brown, 2016, p. 241). Dito
de outro modo, a representação
pode ser considerada uma espera, como demonstra a Figura 4.

Figura 4 – Representação do orbital s

Créditos: Zizou7/Shutterstock.

Para esse orbital, a distinção entre diferentes números quânticos


principais (n = 1, n = 2, n = 3
etc.) seria em relação à densidade eletrônica,
pois “à medida que n aumenta, a densidade eletrônica

torna-se mais espalhada,


ou seja, existe maior probabilidade de localizar o elétron mais distante do
núcleo” (Brown, 2016, p. 243), conforme demonstrado na Figura 5.

Figura 5 – Densidade de probabilidade [Ψ(r)] ² nos orbitais 1s, 2s e 3s do átomo de hidrogênio


Fonte: Brown, 2016, p. 243.

4.2 ÓRBITAS DO TIPO P

Para os
orbitais p, formados por lóbulos (em formato de halteres), nos eixos x, y e z
(px, py e pz),

as regiões de maior probabilidade de se encontrarem elétrons são


representadas na Figura 6.

Figura 6 – Representação dos orbitais p (px, py e pz e p juntos)

Créditos: Draw Man/Shutterstock.


Conforme esclarece Brown (2016, p. 244), “lembre-se que não estamos
falando a respeito de

como os elétrons se movem dentro do orbital, [sendo que]


representa apenas a distribuição média

da densidade eletrônica em um orbital”.

4.3 ÓRBITAS DO TIPO D

Para os orbitais do tipo d, pelos cálculos de probabilidade de se


encontrarem os elétrons, os
orbitais adquirem os formatos representados na Figura
7.

Figura 7 – Representação de superfícies-limites dos cinco orbitais d

Fonte: Brown, 2016, p. 245.

TEMA 5 – REGRA DE HUND E DE PAULI

A regra de Hund, também denominada princípio da máxima multiplicidade,


foi baseada em
resultados experimentais que demonstraram que as configurações
eletrônicas dos átomos no estado

fundamental são tais que os elétrons tendem a


ocupar orbitais de menor energia. Para Pauli, o

princípio da exclusão cita que


não pode haver em um átomo elétrons diferentes com os mesmos

números quânticos.

Vamos analisar um exemplo de distribuições de elétrons em orbitais,


demonstrando alguns erros
no formato de se realizar essa configuração (Figura 8).
Figura 8 – Exemplos de preenchimento de elétrons nos orbitais

Créditos: porbital.com/Shutterstock.

Desses seis exemplos de distribuição, quais estão corretos, seguindo as


regras? Os corretos são

os representados pelos números 1 e 4, consequentemente


2, 3, 5 e 6 estão errados. Mas qual o

motivo?

Quando formos distribuir os elétrons (representados pelas setas), devemos


iniciar no primeiro
orbital mais à esquerda e ir preenchendo os próximos,
lembrando-nos de colocar apenas um em

cada orbital até o final; em seguida,


retornamos ao primeiro, colocando os elétrons que ainda não

foram adicionados,
mas dessa vez com spin invertido.

Veja, no exemplo 1, que deveriam ser colocados três elétrons; nesse


caso, colocou-se um no

primeiro quadrado (primeiro orbital) com a seta para


cima (cuja direção representa o spin), e depois

colocado nos outros orbitais


com o mesmo spin.

Compare com o exemplo 2, que está errado, em que foram colocados dois
elétrons no primeiro
orbital, mesmo que com spin diferentes, uma seta para cada
sentido, o que estaria certo; porém, no
último orbital não foi colocado nenhum
elétron, então não foi até o fim para depois retornar

colocando os que estavam


faltando.

O exemplo 3 também está incorreto, pois, mesmo que tenha ido até o
final, colocando os
elétrons, no último orbital o spin estava invertido (seta
com sentido diferente dos outros dois

primeiros). Já o exemplo 4 está correto,


pois não importa como comece (para cima ou para baixo o

sentido de elétron), e
sim em permanecer até o fim como iniciou.

Por fim, o exemplo 5 apresenta o mesmo erro que o exemplo 2, e o 6 está


equivocado da

mesma forma que o 3.

NA PRÁTICA

1. Considere um átomo
neutro no estado fundamental que tenha a seguinte distribuição

eletrônica: 1s2
2s2 2p6 3s2 3p5. Com base em tal
distribuição, indique o número de orbitais

vazios, os totalmente preenchidos e os


semipreenchidos.

2. Calcule o comprimento
de onda de elétrons que foram acelerados a partir do repouso por uma

diferença
de potencial de 2,5 kV.
3. Indique as principais
mudanças de pensamento em relação à evolução dos modelos atômicos

desde Dalton
até o modelo atual. Para responder, indique a mudança do cientista com a visão

de seu antecessor, como por exemplo a do modelo atual, com o de Sommerfeld, o


de

Sommerfeld com a de Bohr, de Bohr com a de Rutherford, de Rutherford com a


de Thomson,
de Thompson com a de Dalton.

4. (Brown, 2016, p. 261 –


exercício 6.17) Liste os seguintes tipos de radiação eletromagnética em

ordem
crescente de comprimento de onda: luz infravermelha, luz verde, luz vermelha,
ondas de

rádio, raios-X e luz ultravioleta.


5. (Brown, 2016, p. 261 –
exercício 6.12) Localize os seguintes elementos na tabela periódica:

a. elementos com configuração eletrônica na camada de valência ns² np5.

b. elementos com três elétrons np desemparelhados.

c. um elemento cujos elétrons de valência são 4s² 4p¹

FINALIZANDO
A ciência não está estagnada, e as teorias dos cientistas foram modificando
a visão do que se

acreditava. Certamente ainda teremos mudanças no futuro. Mas,


claro, não podemos descartar tudo

o que foi descoberto, pois quando olhamos


para o passado conseguimos errar menos no futuro.

REFERÊNCIAS

BROWN, T. et al. Química:


a ciência central.13. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.

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