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Elementos do grupo VIA: Calcogéneos (O, S, Se, Te, Po e Lv)

Características Gerais do Grupo

O oxigénio, é o elemento químico mais abundante na terra: constitui cerca de metade da crosta
terrestre, onde se encontra fundamentalmente na forma de compostos como sílica, silicatos,
carbonatos, sulfatos, nitratos, fosfatos, boratos, etc; também está presente no ar e na água.
Existem duas formas alotrópicas do oxigénio, sendo mais vulgar a que tem o nome do elemento,
o O2. É um gás incolor a temperatura ambiente. O outro alótropo é o ozono, O3, um gás muito
reactivo, com forte odor. As fases sólida e líquida do ozono são muito instáveis e decompõe-se
explosivamente. Nas camadas inferiores da atmosfera o ozono é um poluente, porém, nas
camadas superiores é muito importante, pois absorve raios ultravioletas emitidos pelo sol.

O enxofre também abunda na natureza. Ocorre na forma elementar e também na forma


combinada, geralmente como sulfuretos (a galena PbS, o cinábrio HgS, a pirite FeS2 e a
esfalerite ZnS) ou sulfatos. É um subproduto da purificação de combustíveis fósseis (petróleo e
gás natural), donde é removido antes da queima destes combustíveis para evitar a poluição do ar.
O enxofre existe em muitas formas alotrópicas, sendo as mais comuns o enxofre ortorrômbico e
o enxofre monoclínico, ambos constituídos pelas mesmas moléculas, S8. O enxofre ortorrômbico
é um sólido amarelo, estável a temperatura ambiente. O aquecimento deste alótropo acima do seu
ponto de fusão (113oC), quebra os anéis constituídos pelos oito átomos de enxofre, formando
outros alótropos de enxofre, S7, S6, S4, S2, S, S9, S10, S11, S12, S18, S20, consoante a velocidade e a
temperatura de aquecimento.

O selénio e o telúrio são raros. O polónio e o livermório são radioactivos, sendo o primeiro
encontrado em quantidades vestigiais. Os três primeiros elementos VIA são ametais, o telúrio é
um metalóide, enquanto que o polónio tem sido considerado metálico. As configurações
electrónicas das camadas de valência e algumas propriedades físicas dos elementos deste grupo
são:

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Elementos O S Se Te Po Lv

Estrutura electrónica 2s22p4 3s23p4 4s24p4 5s25p4 6s26p4 7s27p4

Raio atómico (nm) 0,066 0,104 0,117 0,137 … …

Raio iónico (nm) 0,136 0,182 0,193 0,211 … …

Energia da 1ª ionização (eV) 13,62 10,36 9,75 9,01 … …

Ponto de fusão (oC) -218,8 119,3 217 449,8 … …

Ponto de ebulição (oC) -183,0 444,6 685 990 … …

O Elemento Oxigénio

O oxigénio ocorre naturalmente como uma mistura de três isótopos estáveis: 16O, 17O e 18O, dos
quais o primeiro é o mais abundante (99,8%). No estado livre ele aparece mais comummente
como molécula diatómica O2.
O gás oxigénio se condensa a 90 K (-183 oC) (a 1 atm), formando um líquido azul-claro, e se
solidifica a 55 K (-218 oC), dando um sólido de cor semelhante. Embora o O2 tenha um número
par de electrões, dois deles não estão emparelhados, o que torna a molécula paramagnética. Em
outras palavras, ela se comporta como um pequeno íman e é atraída pelos campos magnéticos.

Propriedades do oxigénio

O oxigénio é um gás incolor e inodoro. Forma moléculas diatómicas muito estáveis, com energia
de ligação 5,16 eV.

O oxigénio é o segundo elemento mais electronegativo, a seguir ao flúor. Forma ligações


covalentes fortes com a maioria dos ametais e com muitos metais de transição. Nos compostos
iónicos de oxigénio, as ligações são bastante estáveis devido ao pequeno tamanho e a carga do

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ião óxido. Só o hélio, o néon, o árgon e possivelmente o krípton é que não formam compostos
binários com o oxigénio.

O oxigénio reage directamente com a maioria dos elementos químicos, formando compostos
binários, excepto com halogéneos, platina e ouro.

Obtenção do Oxigénio

Todo o oxigénio da atmosfera actual é o resultado da actividade biológica, isto é, da acção


fotossintética levada a cabo por ―membros‖ do reino vegetal:

6CO2 (g) + 6H2O (l)+ Energia C6H12O6 + 6O2 (g)

Laboratorialmente, o oxigénio pode ser preparado pela electrólise da água:

2H2O (l) 


Electrólise
 2H2 (g) + O2 (g)

Ou pela decomposição térmica de certos óxidos, tal como óxido de mercúrio (II):

2HgO (s) 2Hg (g) + O2 (g)

Ou pela decomposição térmica de oxossais, tal como o clorato de potássio, na presença de


dióxido de manganés, MnO2, e por muitos outros óxidos de metais que apresentam comummente
mais de um estado de oxidação, como catalisadores.

2KClO3 (s) 2 KCl (s) + 3O2 (g)

Ou ainda pela oxidação de uma solução diluída de peróxido de hidrogénio com permanganato de
potássio, em meio ácido:

5H2O2 (aq) + 2MnO4- (aq) + 6H+ (aq) 5O2 (g) + 2Mn2+ (aq) + 8H2O (l)

Industrialmente, o oxigénio é produzido por electrólise da água, mas o custo (de energia) toma
este método prático somente para obtenção de O2 muito puro. A maior parte do oxigénio
industrial é produzido pela separação do nitrogénio e outros componentes da atmosfera no

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processo conhecido como destilação fraccionada do ar líquido. Esse processo é vantajoso
devido ao fato de o ponto de ebulição do oxigénio (90 K = - 183 oC) ser maior do que o do
nitrogénio (77 K = - 196 oC).

Importância do Oxigénio

O oxigénio é importante na respiração (para a libertação de energia no organismo) tanto de


animais como de plantas. É, portanto, essencial à vida.

C6H12O6 + 6O2 6CO2 + 6H2O + Energia

O oxigénio é importante em várias actividades humanas e, principalmente, para a manutenção da


vida na Terra.

Compostos de Oxigénio

O estado de oxidação mais comum mostrado pelo oxigénio nos compostos é –2, embora os
estados –1, –½, +½, +1 e +2 sejam conhecidos.

Estado de Oxidação –2. O estado –2 é mostrado pelo oxigénio em óxidos e muitos outros
compostos. Ele é atingido quando o átomo de oxigénio completa o seu octeto, ganhando um par
de electrões para formar o ião óxido, O2–, ou no compartilhamento de dois electrões com um
elemento menos electronegativo, formando uma ligação covalente.
Os chamados óxidos iónicos incluem aqueles formados pelos metais alcalinos e alcalino-terrosos
(excepto BeO, no qual o oxigénio está covalentemente ligado). Estes óxidos são básicos; eles
reagem com água formando hidróxidos, nos quais a água pode quebrar a ligação metal -
hidroxila.

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Para o óxido de sódio, as reacções são:
Na2O(s) + H2O(l) 2NaOH(s)

NaOH(s) Na+(aq) + OH–(aq)

Muitos óxidos iónicos são refractários, isto é, podem ser aquecidos a altas temperaturas sem
fusão ou decomposição. O óxido de cálcio, CaO, "cal virgem", tem um ponto de fusão acima de
2500°C, por exemplo.

Óxidos moleculares covalentes são formados quando o oxigénio se liga a outros não-metais.
Alguns exemplos são CO2, SO3, NO2 e ClO2. Esses óxidos são ácidos; a reacção com água
produz hidroxicompostos que se dissociam como ácidos. Para o CO2, as reacções são:
CO2 (g) + H2O H2CO3(aq)
H2CO3(aq) H+(aq) + HCO3–(aq)
Os óxidos de elementos de electronegatividade intermediária mostram o carácter intermediário
da ligação, como seria de esperar. Muitos desses óxidos são anfóteros, sendo insolúveis em água,
mas se dissolvendo em ácido ou base. Por exemplo, quando o óxido de zinco é adicionado na
água, forma-se primeiro um hidróxido:
ZnO (s) + H2O (l) Zn(OH)2(s)
Que é insolúvel em água, mas que dissolverá em uma solução de um ácido forte ou uma base
forte. As reacções podem ser escritas:
Zn(OH)2(s) + 2H+(aq) Zn2+(aq) + 2H2O
Zn(OH)2(s) + 2OH–(aq) Zn(OH)42–(aq)

O produto da segunda reacção é comummente chamado ião zincato.


Alguns elementos formam diversos óxidos. O crómio, por exemplo, forma três: CrO, óxido de
crómio (II) ou óxido cromoso, que é básico; Cr2O3, óxido de crómio (III) ou óxido crómico, que
é anfótero; e CrO3, óxido de crómio (VI) ou trióxido de crómio, que é ácido. A variação na
posição ácido-base com o estado de oxidação é explicada como segue: quando o óxido é
adicionado à água, o hidróxido correspondente é formado. O fato de este composto reagir como
um ácido (dissolve em solução básica) ou como uma base (dissolve em solução ácida) ou como

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ambos dependem da rapidez relativa com a qual as ligações Cr—O e O—H (na estrutura Cr—
O—H) podem ser quebradas. Como o estado de oxidação do átomo de crómio aumenta, electrões
são atraídos mais fortemente para fora do átomo de oxigénio electronegativo, tomando a ligação
Cr—O menos polar e, portanto, mais difícil para ser quebrada pela água. Ao mesmo tempo,
electrões são atraídos para a ligação polar O—H, tornando-a mais polar e consequentemente
facilitando a quebra pela água. Portanto, como o estado de oxidação do Cr aumenta, torna-se
mais difícil remover iões OH- e mais fácil remover iões H+; em outras palavras, os
hidroxicompostos tornam-se mais ácidos.

Óxidos são muitas vezes referidos como anidridos, que significa sem água. Especificamente, um
óxido é o anidrido do hidroxicomposto, que significa que reagirá com água para formar o
respectivo hidróxido. (A reacção de um óxido com água é rápida algumas vezes, como com
Na2O, mas algumas vezes é tão baixa que não é observada, como SiO2 (areia do mar).) Por
exemplo, óxido de sódio reage com água para formar hidróxido de sódio:
Na2O(s) + H2O(l) 2NaOH(s)

Hidróxidos são formados pelo menos em princípio, pela reacção de um óxido metálico com a
água, como, por exemplo:
CaO(s) + H2O(l) Ca(OH)2(s)

Alguns hidróxidos contêm iões OH simples; os hidróxidos dos metais alcalinos e alcalino-
terrosos pertencem a essa categoria. Outros elementos, notadamente os metais de transição,
formam "hidróxidos" que são na realidade óxidos hidratados, também chamados óxidos
hidrosos. Assim, o hidróxido férrico, usualmente formulado como Fe(OH)3, é provavelmente
melhor representado como Fe2O3 × H2O e chamado óxido férrico hidratado.

Os oxoácidos incluem os hidroxicompostos dos não-metais. Aqui o grupo hidroxila não existe
como iões simples, mas, sem dúvida, está ligado covalentemente a um átomo não-metal, tal
como S, N, Cl etc. Os oxossais são derivados de oxoácidos tais como Na2SO4 (derivado do
H2SO4), NaOCl (derivado do HOCl) etc. Muitos desses, como o permanganato de potássio

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(KMnO4) e o cromato de sódio (Na2CrO4), são muito mais comummente encontrados que seus
ácidos pais.

Estado de Oxidação –1. Os compostos nos quais o oxigénio está no estado –1 são chamados de
peróxidos (ou peroxicompostos). Os metais alcalinos e os alcalino-terrosos Ca, Sr e Ba formam
peróxidos iónicos. Nesses casos, o anião é o ião simples O22– (peróxido), que pode ser imaginado
como uma molécula de oxigénio à qual se adicionaram dois electrões.
Ex: Na2O2, K2O2, CaO2, BaO2, etc.
O peróxido de sódio pode ser preparado pelo aquecimento de sódio metálico com oxigénio:
2Na(s) + O2(g) Na2O2(s)
A ligação simples O—O está presente também nos peróxidos covalentes; deste, o mais
importante é o peróxido de hidrogénio (água oxigenada), H2O2.
Peróxidos reagem com a água ou com ácidos diluídos, produzindo água oxigenada (H2O2).
Na2O2 (s) + 2H2O(l) 2NaOH(aq) + H2O2(l)
Na2O2 (s) + H2SO4(aq) Na2SO4(aq) + H2O2(l)

Estado de Oxidação –½. Adicionando somente um electrão a uma molécula de oxigénio, o


resultado é a formação de ião superóxido, O2–. Os superóxidos de K, Rb e Cs são os mais fáceis
de serem formados; basta aquecê-los em O2:
K(s) + O2(g) KO2(s)
Os superóxidos são sólidos cristalinos alaranjados que são agentes oxidantes extremamente
poderosos. Oxidam muitas substâncias e a própria água:
2KO2(s) + H2O O2(g) + HO2–(aq) + OH–(aq) + 2K+(aq)

Estados de Oxidação Positivos. O oxigénio pode formar o catião O2+, chamado ião dioxigenilo,
ao qual se pode atribuir o estado de oxidação +½ para cada átomo de oxigénio. Este ião ocorre
em alguns poucos complexos conhecidos, como por exemplo O2PtF6.
Nos seus compostos binários com o flúor, o oxigénio apresenta número de oxidação positivo,
porque o flúor é mais electronegativo que o oxigénio. Uma série de fluoretos de oxigénio foi

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observada; desses, somente difluoreto de oxigénio, OF2, e difluoreto de dioxigénio, O2F2, são
razoavelmente estáveis à temperatura ambiente.

Água

A água é uma substância muito abundante no nosso planeta. É um solvente excepcional, pois tem
a capacidade de dissolver muitas substâncias. Quando pura, a água é uma má condutora de
electricidade, pois é quase que exclusivamente constituída por molécula H2O, visto que a sua
ionização é fraca. Este processo designa-se autoionização ou autoprotólise da água e representa-
se pela equação:

2H2O = H3O+ + OH-

A água apresenta uma estrutura angular como resultado da existência de quatro pares
electrónicos em redor do oxigénio, átomo central, dois dos quais são ligantes e outros dois
solitários. As propriedades redox da água são tanto oxidantes (reduz-se a H2) como redutoras
(oxida-se a O2). Quanto ao carácter ácido-base, a água é um anfótero.

Nas redes cristalinas de sais, as moléculas de água podem ocupar posições em redor do catião e
do anião, formando cristalohidratos. A água associada a esses sais é chamada água de hidratação.

Ex: CuSO4.5H2O

A água que contém iões Ca2+, Mg2+ e outros catiões divalentes em concentrações elevadas
designa-se água dura. Os sais naturais destes catiões são pouco solúveis em água, e o seu teor
total é a dureza total da água. A dureza da água pode ser temporária ou permanente, conforme
seja possível eliminá-la ou não.

Se a água contiver dióxido de carbono, o carbonato de cálcio pode passar a hidrogenocarbonato,


Ca(HCO3)2, podendo ocorrer o mesmo com o magnésio. Ao ferver essa água durante muito
tempo, o hidrogenocarbonato volta a transformar-se em carbonato e liberta dióxido de carbono.
Por isso, a dureza provocada por carbonatos é temporária. Porém, se a dureza da água for

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provocada por sais de ácidos fortes, como sulfatos ou cloretos dos referidos catiões divalentes,
diz-se permanente, pois permanece após ferver a água.

A dureza da água varia de acordo com a sua fonte de obtenção, podendo até variar na mesma
fonte de acordo com o período do ano. Normalmente diminui durante as cheias. A água do mar é,
geralmente mais dura que a dos rios e lagos. A água dura é imprópria para muitos usos
domésticos e industriais. Para elucidar, a água dura não dá espuma com o sabão porque os sais
solúveis do sabão transformam-se em sais insolúveis dos catiões divalentes da água dura,
depositando-se como sujidade. Assim, antes de usar a água para fins tecnológicos é necessário
remover os catiões divalentes nela contidos, num processo chamado adoçamento ou
abrandamento da água, que consiste na precipitação ou permuta iónica.

Peróxido de hidrogénio

O peróxido de hidrogénio, vulgarmente conhecido como água oxigenada, é um líquido incolor e


bastante instável, particularmente quando puro. As suas soluções 2% a 3%, vendidas como
germicidas, manuseiam-se sem perigo, contudo, as soluções com concentrações maiores que
20% podem ser muito perigosas devido a eventual violência e explosão da sua composição.

O peróxido de hidrogénio é actualmente obtido, quase que exclusivamente, segundo o processo


de auto-oxidação por antraquinona. Nesse processo, o H2O2 é produzido a partir de hidrogénio e
do oxigénio atmosférico, e um derivado da antraquinona que é circulado, actua como agente de
reacção. Essa transformação se processa em duas etapas, nas quais ocorrem as reacções de oxi-
redução. Em seguida, o peróxido de hidrogénio cru é purificado e concentrado.

Reacções de produção industrial do peróxido de hidrogénio:

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A estrutura da molécula H2O2 mostra que os átomos de hidrogénio não estão no mesmo plano,
pois formam entre si um ângulo com pouco mais de 90oC. Este óxido tanto pode ser oxidante
(reduz-se a H2O) ou redutor (oxida-se a O2), por isso, também é uma substância anfotérica.

Ciclo de Oxigénio

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Óxidos e compostos hidrogenados e halogenados de S, Se e Te

O dióxido de enxofre, SO2, é o mais vulgar dos óxidos de enxofre. É um gás tóxico, com odor
sufocante. É obtido em grandes quantidades ao queimar enxofre no ar, mas também é obtido
como subproduto da ustulação de sulfuretos e na queima de combustíveis fósseis. Reage com
água para produzir ácido sulfuroso. Ao oxidar-se, o SO2 transforma-se em trióxido de enxofre,
SO3, um líquido volátil e extremamente reactivo. É o anidrido do ácido sulfúrico, pelo que a sua
reacção com água produz esse ácido.

Durante a combustão numa atmosfera de oxigénio, ou mesmo ao ar, o selénio e o telúrio


produzem dióxidos, SeO2 e TeO2, que revelam propriedades oxidantes, reduzindo-se até os seus
elementos, por exemplo:

SeO2 + 2SO2 + 2H2O 2H2SO4 + Se

Estes óxidos são sólidos em condições normais, sendo os anidridos dos ácidos selenioso H2SeO3
e teluroso H2TeO3.

Sob acção de oxidantes fortes, os dióxidos de selénio e telúrio podem ser transformados,
respectivamente, nos ácidos selénico H2SeO4 e telúrico H2TeO4.

Além da água, outros compostos hidrogenados dos elementos VIA são: H2S, sulfureto de
hidrogénio; H2Se, seleneto de hidrogénio; e H2Te, telureto de hidrogénio. O sulfureto de
hidrogénio é um gás muito venenoso. Se se aspirar por muito tempo o ar contaminado por esse
gás corre-se o risco de intoxicação grave. A solução aquosa de sulfureto de hidrogénio chama-se
água sulfídrica. É uma solução fracamente ácida.

São conhecidos três cloretos de enxofre, S2Cl2, SCl2 e SCl4, dois fluoretos, SF4 e SF6, e um
brometo, S2Br2.

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Ácidos sulfuroso e sulfúrico

O ácido sulfuroso, H2SO3, é um composto muito instável, que somente pode existir em solução
aquosa. É um bom agente redutor, em contacto com o ar oxida-se à ácido sulfúrico. Porque o
estado de oxidação do enxofre no ácido sulfuroso (+4) é intermediário, esse composto também
pode actuar como oxidante. É um ácido fraco.

O ácido sulfúrico, H2SO4, é um ácido forte, corrosivo, devendo por isso ser manuseado com
cuidado. Ao diluí-lo com água, deve-se adicionar ácido à água lentamente e com agitação porque
esse processo liberta grande quantidade de calor, que pode provocar ebulição das gotas de água e
projectar o ácido para fora do recipiente. O ácido sulfúrico é um oxidante poderoso,
especialmente a temperaturas elevadas.

O principal método industrial para a sua obtenção é o método de contacto. Este método ocorre
em etapas, em que o enxofre é primeiramente queimado em oxigénio e o SO2 produzido é
oxidado a SO3 na presença do catalisador V2O5.

S ( s )  O2 ( g ) 
o
1.000 C
SO2 ( g )
o
2 SO2 ( g )  O2 ( g ) 
500 C ,V2O5
2 SO3 ( g )

Como o SO3 forma um vapor ácido corrosivo com o vapor de água, ele é absorvido,
normalmente, em ácido sulfúrico concentrado a 98%, para dar o líquido oleoso, denso chamado,
oleum:

SO3(g) + H2SO4(l) → H2S2O7(l)

O oleum é, então, convertido em ácido por reacção com a água:

H2S2O7(l) + H2O(l) → 2H2SO4(l)

A primeira etapa (obtenção de SO2) pode ser substituída pela ustulação de sulfuretos metálicos,
normalmente pirite, FeS2:

4FeS2 + 11O2 → 2Fe2O3 + 8SO2

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A segunda etapa é a mais difícil e lenta. Para aumentar a sua velocidade usam-se a platina e,
principalmente, o anidrido de vanádio, V2O5, como catalisadores.

Sulfuretos

São compostos binários que contém o enxofre como elemento mais electronegativo. Podem ser
obtidos de várias formas, incluindo a reacção directa entre o elemento e o enxofre. Muitos
sulfuretos insolúveis de metais são obtidos por reacção de intercâmbio entre os sais solúveis
desses metais e o sulfureto de hidrogénio. Os sulfuretos hidrolisam-se formando um sal ácido.

A base de minérios não ferrosos e raros, com grande aplicação na metalurgia e, alguns até
aplicados na produção de ácido sulfúrico, são os sulfuretos naturais. Alguns sulfuretos são semi-
condutores bastante usados na electrotecnia.

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Exercícios

1. Caracterize o oxigénio molecular O2, indicando: a) as suas propriedades químicas; b) as


propriedades magnéticas da molécula. Com que substâncias simples é que o oxigénio não
reage directamente?

2. Descreva a estrutura electrónica do O3 e compare a actividade química do ozono com a do


oxigénio molecular O2. Como obter ozono a partir do oxigénio molecular?

3. Depois de se ozonar um determinado volume de oxigénio à temperatura ambiente


determinou-se que o volume do gás, traduzido à pressão inicial, se tinha reduzido em 500
mL. Qual o volume do ozono que se formou? Que quantidade de calor foi absorvida durante
a sua formação, sabendo-se que no caso da formação do ozono ∆Hoform = 144,2 kJ/mol?

4. Com base na estrutura dos átomos de enxofre, selénio e telúrio, indique quais os estados de
valência e o número de oxidação típicos destes elementos. Quais as fórmulas dos seus
hidróxidos superiores?

5. Qual dos elementos do grupo VI A da tabela periódica forma um ácido hexabásico. Escreva a
fórmula deste ácido. Porque razão os restantes elementos deste grupo não dão origem a
ácidos deste tipo.

6. Como e porque razão variam as propriedades ácidas na série ácido sulfúrico – selénico –
telúrico? Como variam nesta mesma série as suas propriedades oxidantes?

7. Indicar um método laboratorial de obtenção de sulfureto de hidrogénio. Como é que se pode


obter seleneto e telureto de hidrogénio?

8. Conclua as equações das seguintes reacções:

a) S + NaOH

b) H2S + KMnO4 (aq)

c) H2S + H2SO4 (conc.)

d) FeCl3 + Na2S + H2O

e) KMnO4 + SO2 + H2O

f) H2S + SO2

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