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Profª Juliana Rocha

 Distúrbios de fala adquiridos por lesão


neurológica:

-Apraxia de fala

-Disartria
 Praxis: origem grega que significa “realizar
uma ação”

 Incapacidade total de realizar uma ação,


movimento ou uma sequência destes.

 Dispraxia x apraxia
A apraxia de fala é uma desordem da
articulação que resulta da perda, causada por
uma lesão cerebral, da capacidade de organizar
o posicionamento da musculatura da fala e de
sequencializar os movimentos na produção
espontânea de fonemas ou de uma sequência
de fonemas. Porém essa dificuldade não é
acompanhada por fraqueza, lentidão
significante ou incoordenação desses músculos
nos movimentos reflexos ou automáticos.

(DARLEY, ARONSON, BROWN, 1975)


 Motora

 Ideomotora

 Ideatória
 Ideatória: Inabilidade de fazer uso de um objeto
ou gesto devido a perda do conhecimento de
suas funções.

 Ideomotora: Distúrbio na performance dos


movimentos necessários para o uso de objetos,
para a realização de gestos ou uma sequência
de movimentos isolados.

(LURIA, 1983; LURIA, 1984; FREED, 2000)


 Ideatória: Incapacidade para ordenar de maneira correta uma série de
movimentos o ações que conduzem a um objetivo. A dificuldade para
realizar um plano ideatório que leva a uma finalidade (BRADLEY
2004). O paciente é incapaz de criar a imagem do ato que vai efetuar
(LORENZO-OTERO 2001)

 Ideomotora: Incapacidade para realizar habilidades motoras por erros


na secquencia, amplitude, configuração y posição dos membros no
espaço (GOLDMANN 2008). É a dificuldade para colocar, orientar e
mover corretamente um membro no espaço. Ao utilizar objetos, se
pode observar erros temporais y espaciais. É o tipo mais comum de
apraxia (BRADLEY 2004)
 Se observa nas lesões hemisféricas esquerdas, principalmente áreas
de associação frontal e parietal (ZADIKOFF 2005). Também se observa
nas lesões do corpo caloso, lesões subcorticais que afetam os
gânglios basais e a substância branca. Em pacientes surdos, se pode
associar a lesões do hemisfério direito (BRADLEY 2004)
 Para alguns autores a apraxia
ideatória corresponde à ideomotora, mas o
desempenho não melhora com a presença do
objeto nem com a imitação. É como se todos os
esquemas de programação motora estivessem
perdidos.

 Este tipo de apraxia é comum na demência.


 Limb apraxia: Inabilidade para sequencializar os
movimentos dos braços, pernas, mãos e pés durante uma
ação voluntária.

 Apraxia oral não-verbal: déficit na habilidade de


sequencialização dos movimentos voluntários não-
verbais da língua, lábios, mandíbula e outras estruturas
orais associadas.

 Apraxia de fala: déficit nas habilidades de sequencializar


comandos motores necessários para o posicionamento
correto dos articuladores durante a produção voluntária
da fala.

 Apraxia oculomotor: que dificulta os movimentos oculares


(com os olhos).
 A apraxia buco-facial corresponde à incapacidade
de realizar movimentos com os músculos da face e
da boca.
 Este tipo acompanha muitas vezes os quadros
afásicos, sendo possível que os mecanismos que
sustentam estes movimentos partilhem algumas
funções com as da linguagem.
 O mesmo já não acontece nas apraxias, que se
torna evidente nos membros em que
a lateralidade se correlaciona mais com a sua
presença.
 A apraxia de marcha, como o nome indica,
corresponde à impossibilidade de realizar os
movimentos necessários para andar.

 Estes sujeitos, são capazes de cruzar as pernas


quando estão sentados, de bater com os pés no
chão alternadamente, de fazer movimentos de
bicicleta quando estão deitados, mas não
conseguem realizar os movimentos necessários
para progredir na marcha.
 A apraxia do vestir surge com muita frequência
nos casos de demência. O doente deixa de saber a
sequência correta com que se vestem as diferentes
peças de roupa. Pode, por exemplo, vestir a
camisa por cima do casaco. Muitas vezes, tenta
vestir peças de roupa de forma errada, tenta enfiar
a perna na manga do casaco e, noutras ocasiões,
pode usar múltiplas peças de roupa repetidas, por
exemplo, três pares de meias.
 No caso da apraxia construtiva o paciente
apresenta dificuldades em desenhar ou identificar
figuras simples, como bola, um dado, por
exemplo.
 Acidente Vascular Cerebral (AVC);

 Doenças degenerativas;

 Traumas

 Tumores
O sistema
Os centros de O gânglio basal,
límbico e o
linguagem cerebelo e tálamo
hemosfério
fornecem a são responsáveis
direito
informação pelos
fornecem as
linguística a ser planejamentos
informações
falada. sensorial e motor.
emocionais
para a fala.

FALA FLUENTE
 Não há uma correlação de função x
localização cerebral, ou seja, não há
correlação entre a área da lesão cerebral e as
alterações de fala/linguagem (BASSO, 2000)

 Lesões anteriores, frontais são as maiores


causadoras de apraxia que as posteriores,
parietais e temporais (LURIA, 1984;
DRONKERS, 1996)
 Alterações de articulação e de prosódia;

 Alterações de respiração, fonação e


ressonância – nível de afetamento.

 Discurso truncado;

 O grau da apraxia irá influenciar na


severidade das manifestações.
 Os erros de articulação aumentam
proporcionalmente à complexidade do ajuste
motor que a articulação exige.

Vogais  consoantes grupos consonantais

 Segundo à zona de articulação do fonema, os


palatais e dentais são mais suscetíveis a erros.

 O modo de articulação interfere também.


Fonemas fricativos são mais difíceis de serem
articulados do que os plosivo.s (ORTIZ, 1997)
 Os erros quanto à zona de articulação são mais
comuns que os relacionados ao modo.

 A repetição de fonemas é mais fácil de pontos


anteriores para posteriores que o inverso
pa-ta-ca --> ca-ta-pa

 Consoantes iniciais são mais mal articuladas


que as consoantes em outras posições
(CANTER, 1974)
 Leituras repetidas de um mesmo material;

 Fonemas que aparecem com maior frequência


na língua tendem a ser melhor articulados do
que os menos frequentes.

 Em relação à sequência de erros, acontecem 3


tipos fundamentais: antecipação, reiteração e
metatese.
 Antecipação: cabelo  labelo; cabide
babide

 Reiteração: panela  panepa; sapato 


sapapo

 Metatese: todos os fonemas presentes mas


com a ordem alterada: boneca  cobena,
cabone
 Discrepância entre a fala automática e a
espontânea (ORTIZ, 1997);

 Repetição pior que a fala espontânea com


maior tempo de latência de resposta
(HALPERN, 1986);

 Quanto maior a palavra, maior os erros


articulatórios (DEAL, DARLEY, 1972)
 Situações ou conteúdos estressantes (com
grande carga emocional) podem agravar a
ocorrência de erros na emissão oral
espontânea do paciente.

 Articulação correta influenciada pela forma


de apresentação do estímulo (pistas visuais
e auditivas). (HALPERN, 1986)
A apraxia de fala pode vir associada à
apraxia não-verbal, tornando o caso
bem mais grave. É necessária uma
avaliação bem completa para se
detectar essa associação.
 É preciso fazer uma observação minuciosa das
manifestações de fala.

 A fala deve ser gravada e analisada quanto ao


tipo e prevalência de erros.

 Essa análise é fundamental para se entender a


gravidade da apraxia e se ter uma noção do
prognóstico da reabilitação do paciente.
 Estímulos de diferentes extensões:

- Palavras de diferentes complexidades (de


mono a polisílabas)

- Palavras longas e curtas da mesma família


(vila  vilarejo; bolor  embolorado)

- Emissão de frases curtas.


 OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

Quando o paciente apresentar uma apraxia de


fala tão grave que o impeça de emitir palavras,
faz-se a avaliação com a emissão de sílabas
isoladas e com pista visual.

Há uma hierarquia na apresentação dessas


sílabas: fonemas plosivos anteriores plosivos
posteriores  /L/  fricativos anteriores 
fricativos posteriores
 É muito importante utilizar séries automáticas;

 Emissão oral espontânea;

 Repetição;

 Leitura em voz alta.


 APRAXIA NÃO-VERBAL (FREED, 2000)

 Observar se o movimento é adequado, o


tempo e a hesitação na realização, se a
resposta é fidedigna ou parcial.

 Quando as pistas visuais não são


suficientes, deve-se ajudar tocando ou
pressionando grupos musculares que
executam o movimento desejado.
 AVALIAR A SENSIBILIDADE(DRUMMOND,
1996)

 Labios;

 Língua;

 Véu palatino.
 ORDENS (MARTINS, ORTIZ, 2004)

 Colocar a língua para fora;


 Assoprar;
 Mostrar os dentes;
 Arredondar os lábios;
 Morder lábio inferior;
 Assobiar;
 Sorrir;
 Estalar a língua... ETC.
 A terapia de apraxia é uma das mais
difíceis dentro dos distúrbios adquiridos
da fala e da linguagem.

 Os processos terapêuticos são longos.

 Princípios básicos: compensação,


atividades planejadas, monitoramento,
intervenção precoce e motivação.
 COMPENSAÇÃO

-Utilizar os melhores recursos de fala do


paciente em sua terapia.
-Utilizar automatismos mais facilmente
produzidos pelo paciente.

 ATIVIDADES PLANEJADAS

- Considerar hierarquicamente as etapas da


mais simples à mais complexa
 MONITORAMENTO

-Paciente encorajado a ouvir seus erros e


tentar realizar o ajuste correto da articulação.
Caso ele não consiga, dá-se o modelo.

 INTERVENÇÃO PRECOCE

- Quanto mais cedo iniciarmos a terapia,


melhor o prognóstico.
 A terapia deve ser centrada na desordem de
articulação;

 Analisar as variáveis fonológicas que interferem


na produção;

 Iniciar o trabalho com fonemas plosivos;

 Começar com fonemas anteriores;


 Iniciar com fonemas e palavras mais frequentes;

 Evitar trabalhar fonemas diferenciados apenas


por um traço distintivo;

 Começar com palavras curtas, monossílabas e ir


aumentando a extensão destas;

 Se atentar para a distância entre fonemas


sucessivos (papel  pato  pegar)
 Ritmo de fala: lentificado porém natural;

 Uso de estratégias repetitivas e intensivas:


treinar todos os dias;

 Planejar as tarefas segundo o grau de


complexidade.

 Lembre-se de que o terapeuta deve fornecer


exercícios que ele possa executar.
 É importante que o paciente e a família
entendam a necessidade de realizar os
exercícios.

 Em casos de apraxia de fala muito grave, alguns


autores afirmam que a terapia é ineficaz.
Orientam o uso de CSA.
 TERAPIA DOS 8 PASSOS (ROSENBERK, LEMME, AHERN, HARRIS,
WERTZ, 1973)

1. A terapeuta fala, solicita ao paciente que olhe para ele e


escute e os dois articulam a palavra juntos.

2. O terapeuta fala, solicita ao paciente que olhe para ele e


escute; o terapeuta sussurra e o paciente fala em voz alta.

3. O terapeuta fala, solicita ao paciente que olhe para ele e


escute; o paciente repete após o terapeuta.

4. O terapeuta fala, solicita ao paciente que olhe para ele e


escute; o paciente repete após o terapeuta por várias vezes.
 TERAPIA DOS 8 PASSOS (ROSENBERK, LEMME, AHERN, HARRIS,
WERTZ, 1973)

5. O terapeuta apresenta a palavra escrita, retira o


estímulo e o paciente diz a palavra olhando para o estímulo.

6. O terapeuta apresenta a palavra escrita, retira o


estímulo e o paciente diz a palavra.

7. O paciente diz uma palavra em resposta a uma pergunta


feita pelo terapeuta.

8. Dramatização com o paciente, família e amigos.


 PROPOSTA DE DARLEY, ARONSON E BROWN (1975)

1. Começar por um fonema fácil (humming)

2. Adicionar séries de vogais e treinar cada produção de


10 a 20 vezes.

3. As produções consoante-vogal são duplicadas e


treinadas novamente de 10 a 20 vezes.

4. Inserir a produção do /m/ no final de palavras


monossílabas.
 PROPOSTA DE DARLEY, ARONSON E BROWN (1975)
5. Inserir a produção do /m/ em palavras fáceis e sempre treinar
a produção de 10 a 20 vezes.

6. Produzir frases de duas palavras, ambas começadas com o


fonema trabalhado.

7. Produzir frases de duas palavras, ambas terminadas com o


fonema trabalho.

8. Produzir frases de duas palavras, ambas começadas e


terminadas com o fonema trabalhado.

9. Produzir frases com palavras extensas – incluindo o fonema


trabalhado.
 MÉTODO PROPOSTO POR DABUL & BOLLIER (1976)

1. Produção correta e domínio das consoantes isoladas (18


corretos em 20).

2. Repetição rápida de cada consoante com a vogal /a/ (60


corretos em 15 segundos).

3. Colocação de fonemas nas sílabas CV-CV (fa-ta) e do tipo CVC


(zaz) (20 pares de sílabas em 15 segundos)

4. Produção das palavras através dos fonemas e das sílabas. Ele


deve tentar produzi-la dizendo cada donema isoladamente e, a
seguir, combiná-los dentro das sílabas e das palavras.

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