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V Simpósio Nacional de Geomorfologia

I Encontro Sul-Americano de Geomorfologia


UFSM - RS, 02 a 07 de Agosto de 2004
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PROCESSOS GEOMORFOLÓGICOS ASSOCIADOS À MINERAÇÃO DE OURO NO
GARIMPO DE CAXIAS, LUIS DOMINGUES-MA.
Lílian Daniele Pantoja Gonçalves, Geografia/UFMA Lilipantoja@bol.com.br
Lenir Cardoso Brito, Geografia/UFMA lenirbrito@ hotmail.com
Marcia Silva Furtado, Geografia/UFMA marcinhageo@bol.com.br
Antonio Cordeiro Feitosa, DEGEO/NEPA/UFMA feitos@terra.com.br
Palavras – Chave: Geomorfologia, mineração, Luís Domingues - Ma
Eixo - Temático: Análise e Diagnóstico de Processos Erosivos

1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história, as atividades humanas têm representado papel determinante
nas relações do homem com a natureza, sendo direcionadas para os mais variados aspectos
dessas relações. Nesse contexto a atividade mineradora constitui uma das primeiras
expressões, Através da manipulação de rochas e minerais para a produção de artefatos que
facilitassem a vida em sociedade.
Desde o início de sua colonização até os dias atuais, o Brasil sofre reflexos de uma
atividade extrativa, desordenada e de pouco controle tecnológico o que acaba sendo um
aspecto negativo relacionado às atividades mineradoras no país. A vocação aurífera do Brasil é
incontestável, a mercê de possuir grandes extensões de seu território, dominados por rochas
pré-cambrianas de reconhecida potencialidade metalogenética.
Na região Noroeste do Estado do Maranhão, existem antigas áreas de garimpo
ainda exploradas com emprego de técnicas rudimentares, como a de Caxias, no município de
Luís Domingues (Figura 01), que vem causando preocupação na comunidade, pelo
agravamento dos problemas ambientais decorrentes, tensões sociais oriundas do aumento
populacional e migrações, agravando os problemas de saúde e segurança e comprometendo os
índices de desenvolvimento humano da região. Por outro lado, o lucro gerado pela atividade de
extração mineral não favorece ao município, haja vista que o ouro é comercializado no Estado
do Pará.
No presente estudo, abordam-se os problemas geomorfológicos relacionados
com os diversos níveis de degradação sócio-ambiental provenientes da extração mineral no
garimpo de Caxias, localizado a 8 km do município de Luís Domingues – MA, uma vez que
sua atividade, embora intercalando períodos de intensidade variada, vem causado danos

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bastante visíveis à área, tanto no ponto de vista físico como no ponto de vista humano e
econômico.
Figura 01 – Mapa de localização de área de estudo

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2 METODOLOGIA
Para a realização do presente trabalho foram desenvolvidas as seguintes atividades
de pesquisa: Levantamento e análise bibliográfica relacionada com o tema e a área objeto de
estudo; visitas de campo; elaboração e aplicação de entrevista com o morador mais antigo da
área do garimpo, a fim de investigar a parte histórica e registros fotográficos das áreas mais
impactadas do garimpo.
Para fundamentação teórica foram consultados trabalhos publicados em livros,
periódicos e anais de congressos, sendo que dentre os autores consultados, destacam-se as
contribuições de Kopezinski (2000), IBRAM (1992) e TEIXEIRA (2001) como mais
importantes para subsidiar o presente estudo.
Foram realizadas visitas de campo no período entre 2001 e 2003, no total de duas por
ano, com objetivo de visualizar e acompanhar as alterações ambientais mais expressivas da
área, analisando os principais impactos físicos e sócio-ambientais decorrentes das atividades
humanas relacionadas com o garimpo. Dentre eles, pode-se citar o desmatamento, a erosão
degradação do solo e assoreamento além dos problemas sociais que envolvem a população
local.
Durante os trabalhos de campo foram utilizados alguns instrumentos como GPS,
máquina fotográfica, bloco de anotações e câmera de filmagem.
Por ser uma comunidade pequena, em torno de doze casas, a entrevista foi realizada
com um único morador, o mais antigo da área, por ser este o mais indicado para esclarecer o
processo de ocupação da área.
Em gabinete, serão realizadas as análises e interpretação dos dados e informações
coletadas nos trabalhos de campo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A potencialidade aurífera da área de Caxias, município de Luís Domingues, foi
iniciada em 1934, mas somente em 1998 foi efetivada a extração do ouro. Os garimpeiros
tinham acesso aos barrancos mais, na época, não utilizavam máquinas e todo o trabalho era
executado manualmente. Os únicos instrumentos usados eram o Pilão de Ferro, pesando
aproximadamente uns 200 kg e a tradicional bateia.

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O ouro atraiu grande contingente de imigrantes para a área e fez com que os
garimpeiros se fixassem no local construindo casebres até hoje ocupados por moradores que
presenciaram a formação deste garimpo. Como a área fica próxima ao Estado do Pará atraiu
uma grande massa de pessoas oriundas deste Estado dentre as quais, muitas mal-intencionadas,
com intuito de roubar o ouro garimpado, o que acabou gerando inúmeras mortes.
Durante a década de 1980, período áureo do garimpo de Caxias, houve muitos
conflitos ocasionados pela disputa de ouro no local. No período do Governo Collor, o preço do
ouro foi desvalorizado, ocasionando o desinteresse de boa parte dos garimpeiros pela atividade
extrativa. No decorrer deste período, muitos garimpeiros abandonaram a atividade, deixando
crateras a céu aberto, dentre as quais dois barrancos que se transformaram em grandes lagos
(Foto 01) sendo utilizados pelos moradores da área para a atividade pesqueira.

Foto 1 – Lago com 60 m de profundidade

Atualmente na área do garimpo de Caxias existem doze casas e uma escola, além
de uma área reservada para o plantio de alimentos, que serve de sustento para a população da

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comunidade. Nessa área desenvolvem culturas de subsistência e criam alguns animais para
tração e suprimento alimentar dos trabalhadores do garimpo, não se constituindo, portanto,
uma atividade economicamente expressiva.
Segundo Kopezinsk (2000), a forma de extrair os bens minerais que a natureza nos
oferece tem sido aprimorada nos últimos cinqüenta anos. Como atividade extrativa, a
mineração, quando exercida sem técnicas adequadas e sem controle, pode deixar um quadro de
degradação oneroso na área que a abriga. Sustenta, ainda, que “o impacto ambiental, positivo
e/ou negativo causado pela atividade extrativa dependerá exclusivamente da ação antrópica. A
atividade humana é que determinará o tipo, a magnitude e as conseqüências da alteração
ambiental no meio a ser minerado.”
O garimpo de Caxias não possui licença ambiental do Ministério do Meio
Ambiente, nem mesmo uma Licença Prévia, gerando assim um descontrole do trabalho que é
feito no local. Mesmo assim, muitos garimpeiros dão continuidade à extração do mineral
diariamente, e, na maioria dos casos, sem dar-se conta da degradação no meio causada pela sua
atividade descontrolada.
Para Veiga (2000 apud BARCELLOS, 2003) o garimpo de ouro tem sido
praticado de modo desordenado e itinerante. Essa prática causa problemas socioeconômicos
para as atividades locais, tendo em vista o dano ambiental causado pelas práticas rudimentares
combinadas ao lançamento de rejeitos no meio ambiente e após décadas de intensa exploração.
As ações mais simples na extração do ouro, muitas vezes, ocasionam impactos
ambientais inevitáveis ao meio físico, especialmente devido ao fato de que a atividade
prospectiva baseia-se, principalmente, em trabalhos que envolvem a mobilização de terra,
alteração da topográfica, abertura de trincheira, instabilização de encostas e terrenos,
exposição de áreas aos fenômenos de dinâmica superficial, como erosão e assoreamento. Essas
implicações acabam gerando modificações no meio biótico abrangendo vários níveis de
intensidade, principalmente nas propriedades físicas (Foto 02).

Foto 2 – Alteração da topografia no garimpo de Caxias

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Com a freqüência da extração do ouro, os barrancos chegam a atingir de quarenta a


sessenta metros de altura proporcionando riscos de desmoronamentos e, conseqüentemente,
óbitos no local. A exploração aurífera se dá de forma tão intensa que provoca o esgotamento
do mineral. Com isto, os garimpeiros deslocam-se para uma nova área e novas escavações são
feitas e assim sucessivamente.
Quanto à produção do ouro, atualmente são extraidas 100 gramas/dia com
emprego de máquinas e 50 gramas com emprego do moinho. O ouro extraído é dividido entre
os garimpeiros, sendo que a maior parte fica para o dono do barranco. A produção é
comercializada em Belém do Pará, onde o produto é mais valorizado. “A produção e o uso
inadequados do bem mineral podem, direta ou indiretamente, levar a diferentes formas da
degradação ambiental, causando efeitos locais... Assim, não só a provável futura escassez do
bem mineral nos aflige, mas também as conseqüências nocivas e, às vezes, desastrosas de sua
lavra e utilização” (TEIXEIRA, 2001).

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Outro aspecto observado, que constitui agravante, é o uso do mercúrio. Segundo
relatos de garimpeiros, este produto só é usado para “apurar” o ouro dentro do barranco mais é
evidente que o mínimo usado acaba chegando diretamente ao solo.
Segundo Brasil (1991) o mercúrio é pouco utilizado, pois o ouro da área é
grosseiro. O mercúrio seria utilizado por poucos garimpeiros devido ao hábito cultural. Os
rejeitos de pedra moída são atirados numa área rebaixada, provocando assoreamento e
comprometendo a vegetação de áreas consideráveis.
Dentre as alterações geomorfológicas figuram as formas erosivas identificadas em
todas as áreas visitadas no garimpo constituindo três grandes depressões com profundidades
médias entre 40 e 60 metros, todas preenchidas com águas das chuvas, com caráter perene, que
representam riscos potenciais aos moradores do local (foto 3).

Foto 03 – Formas erosivas no garimpo de Caxias

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4 CONCLUSÃO
Nota-se que a área de garimpo sofre diariamente alterações prejudiciais, haja
vista que o ato de minerar, tanto no processo de extração mineral quanto o de deposição de
rejeitos, modifica a estrutura do terreno.
Uma vez extraído o bem mineral (ouro) não retorna mais ao seu local de
origem, fica em circulação, servindo ao homem e às suas necessidades. E esse aspecto traz
consigo uma dupla questão, pois se, de uma certa maneira, a mineração degrada o terreno, é
verdade também que este ambiente pode ser reestruturado de forma aceitável, limitando assim
o impacto ambiental a um certo período de tempo. E é nesse contexto que a palavra
Reestruturação Ambiental se destaca na questão, devendo ser aplicada em áreas degradadas,
tendo importância no sentido de ser uma resposta às ações mitigadoras. E o processo de
reestruturação se daria desde o primórdio do processo de planejamento, durante a exploração
até um período após o término da atividade mineira no local.
Segundo o IBRAM (1992), ao planejar o trabalho de recuperação, deve-se
considerar os diagnósticos efetuados nos estudos ambientais que identificam as características
específicas da mina e o local onde está instalada. Essas características dizem respeito aos
aspectos físicos como a topografia, geologia, solos, rede hidrográfica e paisagem, aos aspectos
biológicos, como fauna e flora.
Um fato preocupante é com relação à saúde dos moradores próximos da área do
garimpo, sendo as doenças venéreas e infecto-parasitárias (micose, verminose, protozoonoses,
entre outras) as mais suscetíveis a atingir a população desde crianças até adultos.Junto a essa
preocupação está a contaminação pelo mercúrio nos lagos (antigos barrancos), que ao entrar na
cadeia trófica promove a biomagnificação através dos peixes, chegando a população pelo
consumo desses organismos aquáticos contaminados.
Contudo, uma forma de amenizar o problema seria proporcionar à comunidade
palestras que favoreçam um esclarecimento sobre a problemática do garimpo, gerando na
mesma sensibilização, uma vez que muitos trabalham na área sem ter noção dos danos
causados ao meio.
Além de medidas preventivas, é importante tentar recuperar, pelo menos em parte,
pequenas áreas no que se refere a questões paisagísticas, a biota, habilitando-as localmente
para a prática de esportes e/ou outras atividades de lazer. Portanto, é de extrema necessidade

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que se desenvolvam trabalhos voltados para essa questão, de modo que possam subsidiar a
ação de órgãos responsáveis pela gestão ambiental tais como IBAMA e DNPM e da Prefeitura
Municipal de Luís Domingues juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde de Luís
Domingues no sentido de financiar e promover ações favoráveis à recuperação e conservação
da área .
Torna-se, portanto, cada vez mais urgente a conscientização da população quanto à
extração e uso de qualquer mineral, levando em conta primeiramente o meio ambiente, bem
como a atenção o órgãos governamentais com a condição de vida e trabalho das populações
dos garimpos e áreas afins, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento humano da
população como de segurança e infra estrutura nas regiões prospectivas afim de que tal
atividade possa ser mantida, já que se trata de uma atividade econômica de grande valor, e por
séculos abandonada à própria sorte marginalizado pelo próprio estado que deveria, ao
contrário do que realmente ocorre acompanhar mais de perto a atividade econômica, o
Controle ambiental da área e o Bem estar da população prospectiva.

REFERÊNCIAS

BARCELLOS, Elen Araújo de. Mineração e Desflorestamento na Amazônia Legal. www.


Cetem. gov.br/ publicação.2002.
BRASIL.Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo do Maranhão. Diagnóstico dos Principais
Problemas Ambientais do Estado do Maranhão. Programa Nacional de Meio Ambiente/
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo do Maranhão. São
Luís.LITHOGRAF,1991.194P.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO-IBRAM. Comissão técnica de meio ambiente.
Grupo de trabalho de redação. Brasília, 1992.126p.
TEIXEIRA, Wilson.et.al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de textos, reimpressão,
2001.558p.
www. Cprm.gov .br
www. Dnpm.gov.br

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KOPEZINSKI, Isaac. Mineração x meio ambiente: considerações legais, principais
impactos ambientais e seus processos modificadores. Porto Alegre: Ed. Universidade/
UFRGS,2000.

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