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Três Rios, RJ
2021
RÔMULO FERNANDES COSTA
Três Rios, RJ
Dezembro de 2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ – ITR / BIBLIOTECA
Os dispositivos legais propostos pelo PL 2630/2020 que visam restringir as
redes de disseminação artificiais de fake news e perspectivas futuras.
COSTA, Rômulo Fernandes / Rômulo Fernandes Costa – 2021.
60 f.
Orientador: Ludmilla Elyseu Rocha
Direito Civil – Monografia. 2. Responsabilidade Civil – Monografia. 3. Direito
Penal - Monografia.
Monografia (Graduação em Direito). Instituto Três Rios, Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro - Faculdade de Direito.
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese,
desde que citada a fonte.
_______________________________ ______________________________
Assinatura Data
RÔMULO FERNANDES COSTA
Aprovado em:
Banca Examinadora:
Jonh Locke
RESUMO
COSTA, Rômulo Fernandes. Os dispositivos legais propostos pelo PL 2630/2020 que visam
restringir as redes de disseminação artificiais de fake news e perspectivas futuras. 2021.
60 p. Monografia (Graduação em Direito). Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Três Rios, RJ, 2021.
This paper will seek to critically expose the proposals of Bill n. 2,630/2020 to combat the
dissemination of fake news programmed in order to artificially impact the distribution of
content in order to obtain political gains and the expected effects after the project's enactment
in the next elections. Given this, it aims to analyze the genesis of the bill, which it aims to
regulate and curb with the promulgation of PL 2.630/2020, considering that fake news is not
about opinion, but rather the manipulation of wrong and / or twisted information. Subsequently,
the research will envision a relevant theme to be fought by law, namely, funding, with
specialized groups, aiming at the mass shooting of false information to gain political advantage;
so-called "digital gangs". Finally, the future electoral prospects will be addressed if PL
2630/2020 is enacted.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 08
CAPÍTULO 1
DIREITO FUNDAMENTAL A INFORMAÇÃO X INDICAÇÃO DA FONTE / ORIGEM DA
INFORMAÇÃO ....................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
OS CONTEÚDOS QUE O PL Nº 2.630/2020 VISA COMBATER..................................... 26
CAPÍTULO 3
RESPONSABILIDADE CIVIL E INDENIZAÇÃO POR FAKE NEWS ................................ 39
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 57
8
INTRODUÇÃO
No Brasil contemporâneo não é diferente e, desde as eleições de 2018, o país passa por
uma onda de informações enganosas com viés de impedir a visão de uma realidade subjetiva.
Tanto o atual Presidente do Brasil Jair Bolsonaro quanto o Presidente dos Estados Unidos
Donald Trump veem seus nomes frequentemente relacionados a notícias falsas, ainda mais por
serem apoiadores e emissores destas. Ou seja, pessoas com algum vínculo com os
representantes da nação valorizam e intensificam a propagação da mentira1, no intuito de
manterem a sociedade vendada. Donald Trump, inclusive, é investigado por manter uma rede
de robôs responsável por encaminhar notícias falsas, massivamente, nas mídias sociais. 2 Haja
vista a conduta de Trump servir de exemplo a do presidente brasileiro, este também compartilha
informações infundadas através dos meios de comunicação, consideradas fake news.
Diferentemente de histórias mal contadas, as fake news atuam como uma inverdade
desde o seu princípio, ou seja, a intenção ao conta-la é a de enganar o receptor da mensagem,
que ficará iludido, portanto, desinformado. Observa-se, assim, que a desinformação é um
terreno fértil para o fortalecimento mentira. Além disso, cabe ressaltar a facilidade da
divulgação das fake news em um país onde a política, a justiça e mídia são desmoralizadas.
Quanto mais frágil for a sociedade, a nível de conhecimento, maior será a dificuldade em
absolver, em sentido crítico, as informações recebidas. O resultado dessa cadeia de
desinformação é catastrófico e resulta, fora a alienação popular, em uma polarização política e
em uma sociedade inflamada.
1
MILITÃO, Eduardo; REBELLO, Aiuri. Rede de fake news com robôs pró-Bolsonaro mantém 80% das contas
ativas. In: UOL, Brasília / São Paulo, 19 set. 2019. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/09/19/fake-news-pro-bolsonaro-whatsapp-
eleicoes-robos-disparo-em-massa.htm>. Acesso em: 04 mar. 2021.
2
BRENAN, Megan. President Trump and social media are super spreaders of misinformation right now,
Americans say. In: Knight Foundation. NiemanLab, Nova York, publicado em: 8 out. 2020. Disponível em:
<https://www.niemanlab.org/2020/10/president-trump-and-social-media-are-super-spreaders-of-
misinformation-right-now-americans-say/>. Acesso em: 04 mar. 2021.
9
Assim, pode-se enfatizar que o tema trazido pela presente monografia está totalmente
em voga, fazendo parte das atuais discussões doutrinárias, jurisprudenciais e legislativas do
Brasil e do mundo, fatos esses levados em conta para a escolha do presente tema. Além disso,
a análise de um projeto de lei, de seus trâmites e discussões, ante a votação do certame nas
devidas casas legislativas, também influenciou na opção do conteúdo a ser tratado na presente
dissertação.
3
SOUZA, Michel de; NIERO, Guilherme. 'Judiciário não deve ser um censor privado', diz Barroso no
Conbrade/MG. In: CNN Brasil. São Paulo, publicado em: 07 jul. 2020. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/07/08/judiciario-nao-e-local-mais-adequado-para-enfrentar-
fake-news-diz-barroso>. Acesso em: 04 mar. 2020.
10
Visto isso, serão analisados os dispositivos ligais sugeridos pelo PL 2.630/20 - os quais
visarão restringir os conteúdos, bem como a atuação das redes de disseminações artificiais- e
seus reflexos no processo eleitoral brasileiro, sua constitucionalidade e a responsabilização dos
responsáveis por criar e disseminar conteúdos inverídicos.
11
CAPÍTULO 1
Com isso, os cidadãos destinatários desses conteúdos ficam à mercê de uma grande carga
de informações inverídicas, equivocadas, incompletas ou que não abordam todos os pontos de
vista sobre determinado fato, tendo em vista que resposta jurídica aos efeitos gerados pela
publicação será posterior a sua livre circulação.
4
QUEIROZ. Antônio Augusto de. O papel dos robôs e das redes sociais nas eleições deste ano. In: CONJUR.
Publicado em: 23 out. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-out-23/antonio-queiroz-papel-
12
Assim, o pluralismo dos provedores de conteúdo e de opinião deve ser garantido pelo
ordenamento, juntamente a um trabalho voraz contra às fake news, visando sempre a finalidade
de busca da verdade real dos fatos e um ambiente informacional democrático.
Entretanto, por diversos motivos estas fake news dão ênfase a opinião de um grupo
específico, sendo publicado nos provedores de serviço de mensageria e redes sociais informações
5
com a intenção real de interferir no juízo de valor do receptor da informação6, e na grande
maioria das vezes, na obtenção de benefícios financeiros, sociais e/ou políticos, visando manter
os interesses do grupo nos meios de comunicação, interferindo na formação da opinião pública.
Por isso, se faz necessário enfatizar que o mero acesso a informações, por si só, não quer
dizer ter conhecimento. É necessário tomar um juízo de valor sobre a informação e analisadas de
forma crítica.
atuais e da grande problemática oriunda das fake news. Primeiramente, a questão de ser informado
por si só não irá considerar um conhecimento sobre o fato. Ao ser informado, o receptor do
conteúdo deve analisa-lo e fazer um juízo de valor, verificando a fonte da informação e fazer sua
síntese como um todo. Como bem preconiza Favero e Steinmetz:
Em virtude dessa tal verdade se faz necessário traçar um liame pré-definido e ético sobre
a verdade dos fatos que será passada ao receptor. Esta análise deve ser feita com muito cuidado,
pois ao se fazer a arguição de um mesmo fato, deve-se encontrar, no mínimo, dois pontos de vista
distintos do fato em si, aos quais levam a interpretações na maioria das vezes distintas. Assim, se
faz necessário cobrar dos provedores de conteúdo a veracidade dos fatos aos quais está sendo
repassada para terceiros, não se exigindo uma informação irrefutável, mas sim aquela oriunda da
diligência do informador, publicada com base em dados e provas concretos, sendo totalmente
rechaçados insinuações e/ou boatos.
8
FAVERO, Sabrina; STEINMETZ, Wilson Antônio. Direito de informação: dimensão coletiva da liberdade de
expressão e democracia. In: Revista Jurídica Cesumar. Publicado em: set./dez. 2016. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.17765/2176-9184.2016v16n3p639-655>. v. 16, n. 3, p. 639-655. Acesso em: 15 mar.
2021.
14
de ser extremamente necessária a checagem da veracidade dos fatos, como bem afirma Chequer
“[...] o requisito da verdade deve ser compreendido do ponto de vista subjetivo, equiparando-se à
diligência do informador, a quem incumbe apurar de forma séria os fatos que pretende tornar
públicos”.9
9
CHEQUER, Cláudio. A liberdade de expressão como direito fundamental preferencial prima facie: análise
crítica e proposta de revisão do padrão jurisprudencial brasileiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011,
p. 52.
10
BARROSO. Luís Roberto. Colisão entre liberdade de expressão e direitos da personalidade. Critérios de
ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do código civil e da lei de imprensa. In: Revista de
Direito Administrativo, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, nº 235, jan/mar. 2004, p. 18. Disponível
em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/45123>. Acesso em: 15 mar. 2021.
11
BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
12
Os direitos coletivos, em sentido amplo, dividem-se em direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,
conforme o parágrafo único do art. 81 da Lei 8.078/90.
Os direitos difusos são aqueles cujos titulares são indeterminados e indetermináveis (transindividuais). Isso
não significa que ninguém sofra ameaça ou violação de direitos difusos, mas que os direitos difusos são direitos
que merecem especial proteção, pois não atingem a alguém em particular e, simultaneamente, a todos.
São exemplos de direitos difusos os direitos a um meio ambiente sadio, à vedação à propaganda enganosa e o
15
Neste sentido, o autor acredita que a liberdade de informação seria outra espécie do
gênero, se contrapondo a liberdade de expressão pela necessidade de estar atrelada a verdade,
diferente do entendimento do ministro Barroso.
Em síntese, pode-se dizer que a liberdade de expressão está atrelada a seu direito de
expor suas ideias, opiniões, crenças e cultos, interpretações culturais e ideáis sem nenhum tipo de
censura prévia, sem algum compromisso com a verdade. Já a liberdade de informação está
também atrelada ao direito individual e fundamental de liberdade de expressão, se leva-se em
conta a liberdade de publicação e compartilhamento prévio de informações sem nenhum tipo de
censura ou sansão prévia. Porém, também está a liberdade de informação atrelada ao interesse
público de se informar, juntamente com interferência na formação da opinião pública, devendo,
assim, ter compromisso com a verdade subjetiva, e não a indubitável. Por fim, a liberdade de
imprensa engloba a exteriorização das duas outras expressões pelos meios de comunicação em
geral. Nas palavras de Chequer:
Sabe-se que a liberdade de expressão foi um grande avanço para o Estado Democrático
de Direito na luta contra governos tiranos e autoritários após a segunda guerra mundial.
Entretanto, mesmo sendo livre a disseminação de opiniões e ideias, o seu uso descabido e
irresponsável pode trazer prejuízos incalculáveis a terceiros, a proteção da segurança nacional,
a ordem, a saúde e a moral pública, dentre outros.
Visto isso, como que os tribunais Brasileiros lidam com os abusos a liberdade de
expressão, como, por exemplo, a disseminação de fake news? Seria a censura um ato correto
para tentar sanar o problema da vasta agilidade e propagação de conteúdos que ferem a
liberdade de expressão?
17
FERRAZ, Sérgio Valladão. Restrições às restrições à liberdade de expressão. In: VITORELLI, Edilson (Org.).
Temas atuais do Ministério Público Federal. 3. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Juspodvm, 2015, p. 125.
18
FAVERO, Sabrina. STEINMETZ, Wilson Antônio. Direito de informação: dimensão coletiva da liberdade de
expressão e democracia. In: Revista Jurídica Cesumar. V. 16, n° 3, Santa Catarina, p. 641. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.17765/2176-9184.2016v16n3p639-655>. Acesso em: 22 fev. 2021.
18
Este movimento de censura vem crescendo nos últimos anos, estando atrelada, dentre
outras coisas, a velocidade de disseminação de informações inverídicas, onde os tribunais
tentam frear o gigante lastro de fake news. Nos dias atuais, a vinculação de uma matéria
caluniosa por apenas dois dias pode tomar proporções mundiais, tornando, assim, um desafio
gigantesco para o Estado em controlar e contornar este problema.
A corte decidiu pelo entendimento que a liberdade de expressão não poderá ser
previamente censurada, entretanto, quando houver abusos deverão ser condenados, de forma a
posteriori, mediante direito de resposta e indenização, devendo ser o princípio da
proporcionalidade o crivo norteador para o uso correto da autonomia de manifestação
juntamente com a relação com outros direitos. Deve-se salientar, também, que, a liberdade de
expressão tem uma posição preferencial prima facie, mas não definitiva em relação a direitos
da personalidade de outrem.
Mas mesmo que a informação trazida seja verdadeira, não poderá o informante expor
ninguém ao ridículo e ferir algum direito personalíssimo, como, por exemplo, o direito à vida
privada, pois, além de tudo, é necessário respeito pelo informante. Importante salientar, também
que há uma importante ligação entre informação de interesse social, atrelada a conteúdos
informacionais com valores sociais necessários a vida em sociedade, em contraponto as
informações com interesse do social, conteúdos com estima popular em que não interferem em
nada na cidadania e vida democrática. Assim, mesmo estando o informante dotado de verdade
e fazendo jus a sua liberdade de expressão, não poderá o mesmo ferir o direito alheio de honra
e vida privada, por mais que a informação possa ser apreciada pela população.
Subtende-se, então, portanto, que deve haver ponderação entre liberdade de expressão
e demais princípios fundamentais constitucionais, como, por exemplo, o direito a
inviolabilidade da intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Além disso,
deve-se salientar que a informação deve ser veiculada com responsabilidade, haja vista que
ambas expressões de direito não são usadas de forma absoluta, havendo sempre ponderação
entre os demais princípios. A orientação que prepondera na jurisprudência do STF é conferir
uma preferência à liberdade de expressão e ao direito de informação na maioria dos casos em
que esses direitos conflitam com outros, como intimidade e vida privada, deixando o tribunal
para reprimir os abusos dessa prevalência de forma posterior, utilizando-se do direito de
resposta e indenização e até mesmo uma censura previa em casos extremos. 20
19
BARROSO, Luís Roberto. Colisão ente liberdade de expressão e direitos da personalidade. Critérios de
ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do código civil e da lei da imprensa. In: Revista de
Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 235, jan./mar. 2004, p. 19. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/45123>. Acesso em: 15 mar. 2021
20
O STF julgou procedente a ação para permitir a divulgação de biografias não autorizadas, dando uma
interpretação aos artigos 20 e 21 do Código Civil conforme a Constituição em consonância com a liberdade de
expressão da atividade intelectual. In: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4.815. Relatora Ministra Cármem Lúcia, julgamento: 10 jun. 2015. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/ paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10162709>. Acesso em: 8 mar. 2021.
20
Fato é, que a concessão dos meios de comunicação ao setor privado não acontece em
governos autoritários, os quais detêm o monopólio dos meios de comunicação e censuram as
opiniões distintas, visando sempre moldar a opinião pública aos interesses governamentais,
como bem define Farias:
21
BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
21
Desta forma, a expressão popular “informação é poder” nunca fez tanto sentido e, por
isso, o Estado ao não manter o monopólio dos meios de comunicação e concessionando os
veículos de comunicação à esfera privada, acaba-se entrelaçando-os aos interesses privados de
determinados grupos em detrimento a cidadania e ao interesse público.
Vale ressaltar que ter poder não está apenas atrelado a deter força política e/ou
financeira, pois possuindo conhecimento e o monopólio dos meios de comunicação abre-se a
possibilidade de influência no convencimento das pessoas, devido ao componente financeiro e
tecnológico que mantem as famílias concessionárias dos meios de comunicação. Apresentando-
se, assim, uma forma de possuir poder.
Deste modo, nota-se, que, atualmente a maioria dos meios de comunicação nacionais
estão nas mãos de determinadas famílias e seus patrocinadores são praticamente os mesmos.
Por isso, por mais que pareça contradizente, mas para garantir meios de comunicação plurais e
democráticos, o Estado deve intervir para efetivar a regulamentação dos meios de comunicação,
a fim de impedir que os veículos de imprensa virem monopólios com viés ideológico e que a
atuação privada dos meios de comunicação atenda os princípios constitucionais, bem como a
cidadania e ao interesse público.
22
FARIAS. Edilsom Pereira de. Colisão de direitos - a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a
liberdade de expressão e informação, 2000, p. 166-167.
22
23
FAVERO, Sabrina. STEINMETZ, Wilson Antônio. Direito de informação: dimensão coletiva da liberdade de
expressão e democracia. In: Revista Jurídica Cesumar, V. 16, nº 3, Santa Catarina, 2016, p. 651. Disponível
em: <http://dx.doi.org/10.17765/2176-9184.2016v16n3p639-655>. Acesso em: 14 jan. 2020.
24
Idem, p. 652.
23
mãos de um determinado grupos específicos, fazendo com que a informação seja livre, plural,
democrática e, sobretudo, garantindo a liberdade de expressão e direito de resposta.
Pode-se notar, que, durante toda a narrativa do presente trabalho, a informação tem um
viés social, desde que ela esteja atrelada ao interesse público e dotada de verdade subjetiva.
Sendo assim, para se manter o livre exercício da profissão de informar e o pleno exercício da
democracia é necessário que a imprensa mantenha o sigilo da fonte. Para isso, visto a
importância desse direito para a democracia, o constituinte colocou o direito ao sigilo das fontes
no rol dos direitos fundamentais, em seu artigo 5°, que está positivado da seguinte maneira:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional;25
Por esta garantia constitucional, o profissional ao ter acesso a uma informação, através
de sua fonte, deverá averiguar se há interesse público e veracidade dos fatos, após esta
checagem, espera-se que haja publicação dos fatos, sem nenhuma inquietação prévia sobre as
fontes e sua veracidade.
25
BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
24
Ademais, a origem da informação trazida pelo informante pode ser oriunda de fontes
ilícitas, como por exemplo, pela invasão de dispositivos celulares por hackers, crime previsto
no art. 154 - A, do Código Penal, sem prejuízo de outras condutas ilícitas. Mas, mesmo com a
suspeita da origem ilegal da sapiência, não poderá o jornalista ser inquietado pelo magistrado,
via quebra de sigilo telefônico, por exemplo, na tentativa de descobrir a origem da informação.
Entretanto, não se pode dizer o mesmo do responsável pela fonte da informação, pessoa essa
que apresentou o fato ao informante.
Assim, não poderá a justiça quebrar o sigilo telefônico do profissional, nem mesmo
apreender seus instrumentos de trabalho para buscar a veracidade dos fatos, como defende o
ministro do STF Celso de Melo:
[…] o sigilo da fonte corrobora uma garantia de ordem jurídica que, outorgada a
qualquer jornalista em decorrência de sua atividade profissional, destina-se, em última
análise, a viabilizar, em favor da própria coletividade, a ampla pesquisa dos fatos ou
eventos cuja revelação se impõe como consequência ditada por razões de estrito
interesse público. [...] Isso claramente significa que a prerrogativa concernente ao
sigilo da fonte, longe de qualificar-se como mero privilégio de ordem pessoal ou
estamental, configura, na realidade, meio essencial de concretização do direito
constitucional de informar, revelando-se oponível, em consequência, a quaisquer
órgãos ou autoridades do Poder Público, não importando a esfera em que se situe a
atuação institucional dos agentes estatais interessados. 26
26
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inq: 870 RJ. Relator Ministro Celso de Mello, Julgamento: 08 abr. 1996,
Publicação: DJU 15 abr. 1996. Disponível em: <http://com.br/jurisprudencia/14758836/inquerito-inq-870-rj-
stf>. Acesso em: 15 mar. 2021.
25
Desta forma, mesmo que se resguarde o sigilo da fonte, deverá a publicação estar
contida com o nome do profissional responsável e, em grande parte, o seu veículo de
comunicação, pois serão eles responsáveis civilmente por ela, em termos de responsabilidade
civil, na forma subjetiva, aos desencadeamentos da postagem, sendo totalmente ilegal a
publicação de informações sem disposição de quem é o responsável.
Por outro lado, o inciso XIV do art. 5° da CRFB/88 dispõe que apenas os profissionais
de informação detêm o privilégio em manter o sigilo da fonte, para o exercício profissional,
sem nenhuma menção as pessoas em geral. Com isso, levanta-se o questionamento se o direito
de sigilo das fontes seria um privilégio apenas da imprensa. Entretanto, há um entendimento
jurisprudencial, o qual vai de encontro com o pensamento doutrinário majoritário, de que a
constituição visa dar a todos as garantias constitucionais de liberdade de expressão, direito a
informação, preservação da liberdade de imprensa e de democracia. Há de se ressaltar também
para se trabalhar nos meios de imprensa não é necessário ser jornalista e qualquer que fosse a
quebra deste direito de sigilo da fonte interferiria na liberdade de informação e na liberdade de
imprensa.27
27
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.815. Relatora Ministra Cármem
Lúcia, julgamento: 10 jun. 2015. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=10162709>. Acesso em: 8 mar. 2021.
26
CAPÍTULO 2
Pode-se conceituar fake news como notícias públicas falsas feitas por veículos de
comunicação como se fossem informações tidas como reais. Esse tipo de texto, tem como
intuito, na grande maioria das vezes, dar veracidade a um fato mentiroso que visa prejudicar
um grupo específico ou uma determinada figura pública.28
Não se sabe, originariamente, quando surgiu o termo fake news para se remeter a
notícias inverídicas. Entretanto, o conceito desse tipo de conteúdo falso vem de séculos
passados, e não há um termo inicial dado como origem do mesmo. A expressão fake, de origem
do dialeto inglês, é considerada nova, segundo o dicionário inglês Merriam-Webster, pois,
anteriormente, no século XIX, o termo utilizado para tratar notícias inverídicas era “false
news”.29
Desta forma, as chamadas false news estão presentes na história a muito tempo, sem
nenhum termo histórico inicial, transformando-se, anos depois, em fake news, as quais tornaram
as grandes repercussões, em meio ao enorme potencial de persuasão que o material falso
28
CARVALHO, Mariana Freitas Canielo; MATEUS, Cristille Andrade. Fake news e desinformação no meio
digital: análise da produção científica sobre o tema na área de ciência da informação. Belo Horizonte,
nov. 2018, p. 5. Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/moci/article/view/1690>. Acesso em:
21 out. 2020.
29
Merriam-Webster. The real story of 'fake news'. The term seems to have emerged around the end of the 19th
century. Disponível em: <https://www.merriam-webster.com/words-at-play/the-real-story-of-fake-news#:~:
text=Fake%20news%20is%2C%20quite%20simply,%E2%80%9Cfalse%2C%20counterfeit%E2%80%9D)>.
Acesso em: 18 out. 2020.
27
adquiriu nos últimos anos, com a popularização da internet e das redes sociais atrelado a
facilidade de trocar informações e conteúdo em meio eletrônico, bem como preconiza a autora
Carolina Delmazo:
Cabe ressaltar que em momento algum o texto do PL expressa quais os conteúdos que
visa combater, podendo estar, assim, atrelando a legislação a achismos e suposições, o que
poderá violar direitos fundamentais, como, por exemplo, o direito de expressão dos brasileiros,
direito esse fundamental e constitucional, normativamente superior ao texto da possível redação
legal do PL que se tornará ordinária, em caso de promulgação.
30
DELMAZO, Caroline; VALENTE, Jonas C.L. Fake news nas redes sociais online: propagação e reações à
desinformação em busca de cliques. Media & Jornalismo [online]. São Paulo, 2018, vol. 18, n. 32, p. 155-169.
ISSN 1645-5681. Disponível em: <https://impactum-journals.uc.pt/mj/article/view/2183-5462_32_11>.
Acesso em: 21 out. 2020.
31
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei n° 2630, de 2020. PL das fake news. Disponível em:
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141944>. Acesso em: 15 mar. 2021.
28
Outrossim, devemos ressaltar que o PL, em seu art. 1°, inciso I, visa chancelar e atrelar
um novo comportamento “aos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada
que ofertem serviços ao público brasileiro com mais de 2.000.000 (dois milhões) de usuários
registrados”. Nota-se, então, que a lei somente poderá incidir em determinados provedores
específicos, os quais deverão de adequar ao novo ordenamento, em caso de promulgação do
PL, enquanto os demais ficariam isentos de adequação proposto pelo PL.
32
ROMÉRIO. Processo eleitoral: “fake news”. Publicado em: 11 fev. 2018. In: Instituto Brasileiro de Altos
Estudos de Direito Público. Disponível em: <http://www.altosestudos.com.br/? p=57033>.Acesso em: 19
nov. 2020.
29
Há de se notar, que, este universo de fake news é alimentado por pessoas de grande
influência, que contratam “equipes” especializadas nesse tipo de conteúdo, geralmente por
políticos em campanha eleitoral. Como bem preconiza Leonardo Cavalcanti:
Portanto, torna-se perceptível que as interferências das fake news nos processos
eleitorais são, em grande maioria, precedidas da disseminação de notícias falsas de forma
artificial, anteriormente financiadas por políticos ou seus adeptos visando prejudicar alguém ou
algum grupo político e obter vantagens a partir disso. Porém, o PL pouco discorre sobre o
problema e procurou se destinar a regulamentar a atuação dos provedores de redes sociais e de
serviços de mensageria privada no combate as fakes news em suas plataformas.35
33
SOUZA. Renato. Barroso diz que “milícias virtuais” precisam ser neutralizadas. In: Correio Brasiliense.
Política. Publicado em: 24 jul. 2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/
app/noticia/politica/2020/07/24/interna_politica,875128/barroso-diz-que-milicias-virtuais-precisam-ser-
neutralizadas.shtml>. Acesso em: 05 mar. 2021.
34
CAVALCANTE, Leonardo. FAKE NEWS. Memórias de mercenários. Correio Braziliense. 2019. Disponível
em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/04/30/interna_politica,752487/serie-
de-reportagens-do-correio-sobre-fake-news-ganha-premio-republica.shtml>. Acesso em: 18 out. 2020.
35
ALESSI. Gil. Empresários financiaram disparos em massa pró-Bolsonaro no WhatsApp diz jornal. In: El País.
São Paulo. Madri. Publicado em: 18 jun. 2019. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/18/
politica/1560864965_530788.html>. Acesso em: 05 mar. 2021.
30
Nessa mesma toada, foi editada em 1953 a Lei nº 2.083, anunciando o crime de abuso
da liberdade de imprensa, mencionado em seu art. 9º:
Ainda no século XX, todavia no ano de 1967, foi editada a Lei de Imprensa, que, da
mesma forma, regulamentava a liberdade de manifestação e pensamento dos jornalistas. Dentro
da sua estrutura, destacou-se o art. 16, que anunciava: “Publicar ou divulgar notícias falsas ou
fatos verdadeiros truncados ou deturpados, que provoquem: I- perturbação da ordem pública ou
alarma social”.38
36
BRASIL. Planalto. Decreto-Lei n° 24.776, 14 de julho de 1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D24776.htm>. Acesso em: 18 mar. 2021.
37
______. Planalto. Lei n° 2.083, de 12 de novembro de 1953. Lei da liberdade de imprensa. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L2083.htm>. Acesso em: 18 mar. 2021.
38
______. Planalto. Lei n° 5.250, de 09 de fevereiro de 1967. Lei de imprensa. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm>. Acesso em: 18 mar. 2021.
31
Antes mesmo de tal lei ser suprimida do ordenamento jurídico, os Ministros, à época
da análise da ADPF, Joaquim Barbosa, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e Ellen Gracie,
se posicionaram a favor de determinados pontos da Lei de Imprensa, como o art. 16 acima
mencionado. Os Ministros, em suas falas, alegavam a não incidência de censura, caso a Lei
5.250 fosse mantida na Carta Magna, pois a condenação de notícias falsas não havia trazido
malefício ao trabalho da mídia.39
39
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (plenário). Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
130 Distrito Federal. p. 174/188 e 269/290. Argte.: Partido Democrata Trabalhista - PDT. Argdo.(s):
Presidente da República e Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais - FENAJ. Relator: Min. Carlos
Britto. Brasília. 6 de novembro de 2009. Decisão do STF. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=605411>. Acesso em: 16 mar. 2021.
32
Tal artigo tornou-se o centro das atenções em uma nova discussão no Supremo
Tribunal Federal, sobre constitucionalidade, em observância ao art. 5º da CRFB. Já que sem o
advento de uma lei específica para combate à fake news, este ainda é o dispositivo legal vigente
para a retirada de publicações e mensagens falsas dos provedores. Caba ressaltar, também, que
a norma atual é considerada morosa para os dias atuais, pois o trâmite burocrático para
derrubada de informações falsas da rede é considerado lento, em tempos de internet.
Divulgar notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou corromper a
verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública, à economia
nacional, ao processo eleitoral ou que afetem interesse público relevante.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.
§ 1º Se o agente pratica a conduta prevista no caput valendo-se da internet ou de outro
meio que facilite a divulgação da notícia falsa:
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 2º A pena aumenta-se de um a dois terços, se o agente divulga a notícia falsa visando
a obtenção de vantagem para si ou para outrem.41
40
Ciborgues Sociais: sistema artificial responsável pela explanação de informações falsas em massa nos
provedores de internet. Estes bots se submetem a grupos com centenas ou milhares de contas, publicando um
mesmo conteúdo e manipulando algoritmos de redes sociais como Facebook e Twitter, inflando artificialmente
a relevância do tema, o que aumenta o seu alcance.
41
BRASIL. Planalto. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
33
fossem relacionadas à honra, mas que exalavam violência e agressão, por sua potencialidade
lesiva.
Inclusive, também em 2017, no rol das atribuições do Tribunal Superior Eleitoral, foi
criado, com a Portaria nº 949, o Conselho Consultivo sobre internet e Eleições, que visava
estudar as regras eleitorais, bem como a capacidade de persuasão da internet na vida dos
cidadãos, para que, através das análises, se chegasse à uma conclusão sobre o aprimoramento
das normas, no intuito do combater as fake news e os robôs disseminadores de notícias falsas
em grande volume.
Hoje temos uma realidade de uso constante da Internet como arma de manipulação do
processo político. E isso vem crescendo rapidamente, com a utilização, cada vez
maior, das chamadas Fake News. E essa é a realidade com que teremos de lidar e
combater no ano que vem.42
Já em junho de 2018, o novo Ministro do TSE, Luiz Fux, em discurso, a respeito das
campanhas eleitorais que: “Candidatos preferem destruir a honra alheia através de notícias
falsas por meio de redes sociais, em vez de revelar as próprias aptidões e qualidades”.
Sintetizando, desta forma, a onda de Fake News na internet, com o objetivo de manchar a
reputação dos adversários políticos do usuário da rede. Ainda alertou que criaria uma força
tarefa de inteligência e ação, integrada por agências de inteligência do governo aliadas às Forças
Armadas, empresas de mídia, Ministério Público, Polícia Federal, bem como especialistas de
todo o mundo, sendo sempre observada a liberdade de expressão do indivíduo.
Ressalta-se, ainda, que a Polícia Federal atuaria em conjunto com o Ministério Público
através do seu Grupo de Trabalho, criado especialmente para dar suporte aos órgãos que
combatem a divulgação de notícias falsas.
42
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Biblioteca digital do TSE. Painel 5 – Mídias sociais no cenário eleitoral.
In: I seminário do fórum internet e eleições - um desafio multidisciplinar. TSE. Brasília, DF. Publicado
em: mai. 2019, p. 126. Disponível em: <http://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/5981/
2019seminario_fake_news_eleicoes.pdf?sequence=8&isAllowed=y>. Acesso em: 16 mar. 2020.
34
Assim, no Brasil há normas e órgãos que combatem as Fake News, pois conforme o
art. 5º, V, da CRFB: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem”.43
Nessa toada, provavelmente, uma mera retratação não será o suficiente, devendo o
ofensor pagar uma indenização, atribuída pelo Poder Judiciário, conforme o caso concreto.
Já, segundo o CP (Código Penal), o autor de crimes contra a honra, aquele que
intencionalmente difamou, caluniou ou injuriou outro indivíduo, poderá ser detido, de 1 (um)
mês a 2 (dois) anos, pena esta somada ao pagamento de multa.45
Ressalta-se que, além do Código Penal, outras normas também instruem a sanção a ser
aplicada no caso de divulgação dolosa de Fake News, com penas restritivas de liberdade, como
o Decreto-Lei nº 4.766 e a Lei de Contravenções Penais.
43
BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
44
______. Planalto. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
45
Calúnia: art. 138 do CP- Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Difamação: Art. 139 do CP- Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Injúria: Art. 140 do CP - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
In: ______. Planalto. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
35
Divulgar notícia que possa gerar pânico ou desassossego público. Pena – reclusão, de
seis meses a um ano. E, caso as Fake News provoquem um perigo que não exista, o
art.41 da Lei das Contravenções Penais estabelece que: Provocar alarma, anunciando
desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou
tumulto: Pena – prisão simples, de quinze a seis meses, ou multa.46
Fica mais que evidente, desta forma, que as regulamentações das fake News poderão
auxiliar em uma disputa política mais honesta, com a eminente luta contra a disseminação de
conteúdos inautênticos em massa, atrelado a um financiamento prévio visando um benefício
para o determinado grupo político e os chamados cyborgs virtuais. Insta salientar, porém, que
o PL 2630 pouco aborda sobre os temas, mas visa dar aos provedores de redes sociais e de
serviços de mensageria privada encargos e poderes para o combate às fake news.
Se faz necessário, assim, expor, que o PL visa ser aplicada apenas para os provedores
de redes sociais e de serviços de mensageria privada que tenham ao menos 2.000.000 (dois
milhões de usuários), estando as outras instituições do meio, que não chegam ao mesmo número
de usuários, isentos de se encaixarem ao que suscita o PL.
Outro ponto importante a ser analisado é o fato de que o PL não tem capacidade de
regulamentar o tema por si só, apenas com o seu texto legal, haja vista que o projeto traz artigos
pouco específicas e muito genéricos, admitindo que os provedores de redes sociais e de serviços
de mensageria privada criem instituições de autorregulação voltadas à transparência e à
responsabilidade no uso da internet, com suas atribuições, além da criação de um conselho de
transparência e responsabilidade na internet, visando a criação de um código de ética a ser
seguido pelas instituições que deverão se adequar à lei.
46
BRASIL. Planalto. Decreto-Lei nº 4.766, de 1º de outubro de 1942. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
36
Insta frisar que o PL, ao se tornar uma lei vigente, irá vedar o uso e comercialização
de ferramentas externas com intuito de encaminhar mensagens em massa (sob ressalvas).
Art. 12. Os provedores de aplicação de internet submetidos a esta Lei devem garantir
o direito de acesso à informação e à liberdade de expressão de seus usuários nos
processos de elaboração e aplicação de seus termos de uso, disponibilizando
mecanismos de recurso e devido processo.
§ 1º Em caso de denúncia ou de medida aplicada em função dos termos de uso das
aplicações ou da presente Lei que recaia sobre conteúdos e contas em operação, o
usuário deve ser notificado sobre a fundamentação, o processo de análise e a aplicação
da medida, assim como sobre os prazos e procedimentos para sua contestação.
§ 2º Os provedores dispensarão a notificação aos usuários se verificarem risco: I – de
dano imediato de difícil reparação; II – para a segurança da informação ou do usuário;
III – de violação a direitos de crianças e adolescentes; IV – de crimes tipificados na
Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989;47
47
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei n° 2630, de 2020. PL das fake news. Disponível em:
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141944>. Acesso em: 15 mar. 2021.
37
se excluir o conteúdo, o que, às vezes, tornará ineficaz a exclusão da informação após todo o
trâmite do processo, pois a mensagem irá ser disseminada em grande escala em uma quantidade
de tempo razoável, durante todo o tempo que perdurar o processo. Para o grupo WhatsApp, o
ideal seria a exclusão prévia do conteúdo para depois ser aberto a possibilidade do usuário se
retratar.48
Já no que tange o processo eleitoral, o PL nos traz, em seu artigo 15, sobre a
obrigatoriedade dos provedores de rede social em fornecer ao público em geral o valor gasto
pelo candidato político ou coligação em suas publicações, o tempo de veiculação do conteúdo,
as características da audiência contratada, características do conteúdo veiculado na campanha
eleitoral e, a identificação do anunciante, seja por CPF, ID ou CNPJ.
Fica evidente, então, que o PL 2.630/2020 visa dar poderes e obrigações aos
provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada, com o objetivo de cumprir
com o que está, obviamente, disposto em seu texto.
48
BELLO. Pablo. Audiência pública: Lei das fake News. Publicado em: 14 jul. 2020. (1h03min). Canal
LIVRES, 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xktKe1wqDV8>. Acesso em: 05 mar.
2021.
38
Ademias, no ponto de vista eleitoral, podemos notar que as fake news afetaram o
processo das eleições no Brasil e nos Estados Unidos (como exemplo) com a disseminação em
massa de notícias falsas de forma automatizada, mediante investimento financeiro prévio a fim
de acabar com reputação dos candidatos opositores. Obviamente que a população também
ajudou a compartilhar Fake News em suas contas de WhatsApp, Facebook e outros aplicativos
de mensagens, mas o PL nem mesmo trouxe uma solução para restringir ainda mais o
compartilhamento das mesmas mensagens no o período eleitoral. Ao único dispositivo
específico para o período eleitoral foi obrigar os provedores de rede social a dispor informações
dos candidatos, financeiras e sobre a campanha ao público em geral, como já aludido acima.
39
CAPÍTULO 3
Observa-se que, para o Direito, o termo responsabilidade também está atrelado com
capacidade civil, sendo evidente que a incapacidade civil para determinados atos desobriga o
agente de uma possível indenização. A noção de responsabilidade como gênero, implica sempre
o exame da conduta voluntária violadora de um dever jurídico. O que não quer dizer, que, irá
desobrigar terceiro responsável pelo agente incapaz que praticou o ato ilegal a ser
responsabilizado.
O princípio da Lei do Talião, conhecido como reparação do “mal pelo mal”, “dente
por dente”, “olho por olho”, já denota uma forma de reparação do dano. Na realidade, o
49
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, responsabilidade civil, vol. IV, 6ª ed. São Paulo: Jurídico Atlas.
2002, p. 3.
40
princípio é de natureza humana, qual seja, reagir a um mal injusto perpetrado contra a pessoa,
a família ou o grupo social, polo dato de que a “sociedade primitiva” reagia com a violência.
Se faz evidente que a vontade em reaver o dano causado por outrem é o mais primordial senso
de justiça humano, como bem define Cavalieri Filho: “o anseio de obrigar o agente, causador
do dano a repara-lo inspira-se no mais elementar sentimento de justiça”. 50
Visto isso, no direito Romano surge então a Lex Aquilia, diploma responsável na época
Justiniana, onde no sistema romano de responsabilidade, utilizava o princípio ao qual se punia
a culpa por danos injustamente provocados, independente se havia entre as partes uma
obrigação preexistente.
Somente no século XVII, com a escola do Direito Natural, que a teoria da reparação
ganhou o critério do dano para haver reparação civil, na ocorrência de quebra no equilíbrio
patrimonial, sendo retirado o enfoque da culpa como fenômeno centralizador da indenização.
Pode-se, assim, definir a responsabilidade civil como uma obrigação de reparar danos
causados de forma ilegais, os quais geram prejuízos, desta eventual ação ou omissão, de forma
objetiva ou subjetiva, a depender da relação jurídica e de seus sujeitos. Esta reparação pode
advir de uma relação contratual ou extra contratual, bem como define Venosa:
50
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 45.
41
jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato, ou um negócio danoso. Sob
essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar no dever de
indenizar.51 (Grifo nosso)
Enfatiza-se, assim, que o dever de indenização pode estar ligado ao dano estritamente
financeiro ou até mesmo uma reparação moral, quando há danos causados aos direitos
personalíssimos do indivíduo e esta reparação se dá na forma subjetiva ou objetiva.
Haverá o dever de reparação civil de forma subjetiva sempre em que houver uma ação
ou omissão ilegal, onde o agente capaz age com culpa (negligência e/ou imperícia e/ou
imprudência) e, para fins do Direito Civil, engloba também as ações praticadas com dolo, que
em relação a indenização são idênticas as de culpa.
Fica notório que o ato ilícito na seara de responsabilidade civil subjetiva é a junção de
vontade (de uma pessoa capaz) juntamente com uma ilicitude. Se deste ato ilícito surgir algum
dano, abrirá a possibilidade de indenização, desde que comprovado o nexo causal do ato e do
dano.
Além do aspecto ligado à teoria do risco, muitas vezes a vítima de ato ilícito tem
dificuldades em comprovar a culpa do agente causador e, para garantir os princípios da
dignidade da pessoa humana, que, se faz necessária a possibilidade de haver a responsabilidade
civil sem culpa cada vez mais no nosso ordenamento. Por isso, o ordenamento e nossa
jurisprudência brasileira traz vários dispositivos remetendo aos casos, os quais incidem a
51
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, responsabilidade civil, vol. IV, 6ª ed. São Paulo: Jurídico Atlas.
2002, p. 1.
52
Ibidem, p. 9.
42
Assim, havendo algum dano, advindo por ato ilícito, de uma atribuição devida ou
prestada pelo Estado ensejará dever de indenização, havendo ou não culpa da administração,
seja ela direta ou indireta.
Portanto, para que haja a garantia de que princípios basilares da personalidade e dos
direitos humanos tenham efetividade no Brasil, se faz necessário que algumas relações jurídicas
sejam de caráter exclusivamente objetivo. Neste caso, apenas a conduta ilícita e o dano são
suficientes para haver a responsabilização do agente, abrindo, assim, a possibilidade de
reparação de forma direta, como bem define Venosa: “(...) A questão tem a ver com os princípios
da dignidade da pessoa humana do ofendido e da sociedade como um todo. Muito cedo se
percebeu no curso da história que os princípios da responsabilidade com culpa eram
insuficientes”.54
53
Art. 37 da CRFB/88. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
In: BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2021.
54
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, responsabilidade civil, vol. IV, 6ª ed. São Paulo: Jurídico Atlas.
2002, p. 12.
43
cível, no que diz respeito a indenizar o dano decorrente do ilícito criminal, vide art. 91, I do CP
(Código Panal) e art.63 do CPP (Código de Processo Penal). Como bem define Venosa:
Pode-se dar como exemplo uma sentença absolutória por insuficiência de provas na
vara penal, a qual não trará prejuízo algum ao processo cível, nem mesmo impedirá uma futura
indenização sob o ato em questão, o qual foi absolvido nos autos de natureza criminal.
Entretanto, havendo sentença absolutória no juízo penal, não terá a mesma influência
sobre a ação indenizatória civil, a qual deverá correr normalmente com processo de
conhecimento, revendo autonomamente toda a matéria probatória em seu bojo.
55
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, responsabilidade civil, vol. IV, 6ª ed. São Paulo: Jurídico Atlas.
2002, p. 16.
44
Além dos aspectos analisados, o direito Brasileiro abre a possibilidade de haver direito
de resposta e contraste aos fatos, como base de um sistema jurídico baseado na democracia e
no contraditório. Com isso, o pedido formal de desculpas compulsório nasce em no Brasil como
um norte a ser seguido em tempos de internet e influenciadores digitais (formadores de opiniões
nas redes de mensageria e conteúdo).
Por mais que a responsabilidade penal, atrelada a própria indenização pecuniária possa
trazer algum tipo de alento pessoal para vítima de uma difamação (honra subjetiva), seu nome,
carreira e reputação social (honra objetiva) ainda está gravemente ferida diante da sociedade
que em suma maioria não saberá dos desfechos processuais sobre o caso.
personalíssimos e atingir a imagem de grupos ou pessoas, para um determinado ganho, seja ele
financeiro, político, ideológico e etc.
Por esta situação, a disseminação de notícias inverídicas, dentre outras coisas, visa
ferir a honra e a credibilidade da vítima, a sua honra objetiva – sua visão perante a sociedade,
o nome e credibilidade social da vítima – ao ponto que seu emprego e atributos ficam totalmente
afetados, pois na maioria das vezes, as vítimas de fake news são pessoas públicas. Por isso a
manipulação da opinião pública gera, de forma indireta os parâmetros sociais, políticos,
financeiros e os costumes a ser utilizado pelas pessoas.
Por estas razões, a indenização a ser prestada por quem cria e dissemina fake news,
seja pessoa física ou jurídica, deve ser responsabilizada, não de maneira apenas vestigial, mas
de maneira severa, devido a gravidade do ato ilícito.
por mais difícil que seja, devido a constante interações internacionais geradas em meio
eletrônico e todos outros percursos ligados a hackers, vírus, fraudes e etc. Deve-se ressaltar,
também, que, o Brasil se encontra muito aquém legislativamente das necessidades normativas
necessárias para regulamentar às inteirações sociais via internet. Entretanto, o país já possuí
alguns dispositivos legais com real efetividade dentro dos tribunais. Um exemplo disso, é a Lei
12.965/14, a qual instituiu o Marco Civil da Internet.
A aludida lei veio à tona visando regular as tratativas jurídicas em meio cibernético,
pois os demais dispositivos normativos nacionais cíveis não estavam sendo suficientes para
uma real entrelace entre os “novos casos concretos” existentes. A partir da entrada em vigor do
dispositivo legal, a intenção seria a de que a internet não seria mais uma “terra de ninguém”.
Visto este entendimento, o STF, por meio do julgamento da ADI (Ação declaratória de
inconstitucionalidade) n° 4.815, no caso das biografias não autorizadas, juntamente com o
julgamento da ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) n° 130, no qual
declarou a Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa) não recepcionada pela CRFB/88, dando preferência
ao sistema de repressão posterior a postagem, em razão da conexão existente entre a liberdade
de expressão, pluralismo e a democracia, tendo em vista, que, a censura prévia de informações
considera-se um limitador da garantia fundamentais e basilares desses direitos constitucionais.
Com este entendimento, o Brasil passou a vedar qualquer tipo de censura prévia em
seu território, sendo certo, que, qualquer tipo de dano causado pelos conteúdos que forem
veiculados em território nacional seria reprimido, ressarcido e indenizado posteriormente.
Para a devida repressão aos danos causados por ilicitudes na informação veiculada, o
sistema jurídico brasileiro goza, além responsabilidade penal, de três importantes instrumentos,
são eles: a responsabilidade civil pela indenização por danos morais e materiais advindas pelo
47
nexo causal do ato ilícito, o direito de retratação, o direito resposta e o pedido compulsório e
formal de desculpas.
Frisa-se que o próprio Código Civil de 2002 dispõe, em seu art. 927 que, aquele que
por ato ilícito (art. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Sob este mesmo prisma, o art. 7° da mesma lei, 12.965/14, dispõe que a internet deve
ser um local de cidadania, onde seja assegurado o direito a intimidade e vida privada, o sigilo
de suas comunicações e dados, salvo por ordem judicial, segue a redação do art.7°:
Para que realmente seja garantida a liberdade de expressão e que seja assegurada a
inviolabilidade da vida privada, os provedores de conteúdo e mensageria devem ser
responsabilizados civilmente em específicos casos. Atualmente, os aludidos provedores
imputam danos em sede judicial apenas nos casos em que as empresas, notificados
judicialmente para derrubar o conteúdo, estando dentro da capacidade estrutural e técnica do
provedor, não o fizerem. Isso fará com que a mesma seja responsabilizada pelo dano, o qual
está persistindo continuamente, pela não derrubada do conteúdo e irá indenizar a vítima do
conteúdo falso, como bem positiva o art. 19 da lei 12.965/14:
por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial
específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do
seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo
apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.56 (grifo
nosso)
Anteriormente a este entendimento, trazida pela lei do Marco Civil da Internet, havia
o entendimento pacificado nos tribunais que os conteúdos considerados ilegais compartilhados
na rede de internet, ao serem denunciados, deveriam ser momentaneamente derrubados em 24
horas pelos provedores e, ao passar o prazo, a empresa deveria apurar sua licitude. Porém, a
censura destes conteúdos, por mais que de caráter provisório, poderiam acabar interferindo na
liberdade de expressão e na livre circulação de ideias e notícias, como bem expõe Barroso:
Pois bem, antes de abril de 2014, havia jurisprudência pacificada no sentido que o
conteúdo considerado e denunciado como ilícito por algum usuário tinha o prazo de
24 horas para ser retirado momentaneamente da plataforma, sendo que após esse
prazo, seria devidamente apurada a licitude ou ilicitude do conteúdo divulgado.
Entretanto, decisões neste sentido estavam sendo encaradas como risco à liberdade de
expressão e imprensa, uma vez que tais julgamentos podem acabar limitando a livre
circulação de ideias e notícias na sociedade.58
Fica evidente, assim, que a responsabilização judicial dos provedores está ligada
apenas a derrubada de conteúdos ilícitos e, com raras exceções, após o não cumprimento de
decisão judicial. Desta forma, casos de fake news devem se ater na busca pela responsabilização
56
BRASIL. Planalto. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 14 jan. 2021.
57
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será
responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de
seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais
de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal,
deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização
desse conteúdo.
In: BRASIL. Planalto. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 14 jan. 2021.
58
BARROSO, Luís Roberto. Colisão ente liberdade de expressão e direitos da personalidade. Critérios de
ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do código civil e da lei da imprensa. In: Revista de
Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 235, jan./mar. 2004, p. 19. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/45123>. Acesso em: 15 mar. 2021.
49
dos agentes causadores do dano e, desta forma, indenizar apenas aquele que exclusivamente
sofreu efetivamente o dano. Logicamente que não se deve esquecer de empresas, profissionais
e cibers-robôs especializados no compartilhamento em massa de notícias falsas.
Por estes motivos, torna-se evidente que a legislação atual busca de forma mais
contundente responsabilizar os agentes que responsáveis pela publicação conteúdo falso
gerado, ou perfis on line com grande poder persuasivo e de participantes nos provedores de
internet, do que os cidadãos que perfis tidos como “comuns” que compartilham a publicação
de maneira irresponsável.
Com isso, mesmo que a Constituição garanta aos informantes o sigilo da fonte, o
59
BARROSO, Luís Roberto. Colisão entre liberdade de expressão e direitos da personalidade. Critérios de
ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do Código Civil e da Lei da Imprensa. In: Revista de
Direito Administrativo, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, n. 235, jan./mar. 2004. p. 48. Disponível
em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/45123>. Acesso em: 15 mar. 2021.
50
divulgador em si, tem a obrigação identificar-se na publicação de conteúdo, bem como o veículo
de comunicação onde será publicado, ficando, assim, os responsáveis pelo material divulgado
facilmente identificáveis.
Porém, nos dias atuais, a responsabilização pelos conteúdos falsos não é tão simples
quanto parece. Atualmente, vários são os sites criados que veiculam informações sem nenhum
tipo de credibilidade e seriedade e, além do mais, não se importam se a informação prestada
está sem o nome do responsável pela publicação. Já é de grande número, os sites brasileiros
usados como ferramenta para as quadrilhas especializadas em divulgar em massa notícias fakes.
É muito difícil, pela via legislativa e judiciária, tentar suprimir esses sites e os
conteúdos trocados nos provedores de mensageria, ou até mesmo tentar “frear” o
compartilhamento em massa de algum conteúdo notificado como fake news, antes da decisão
judicial, sem ferir o direito basilar da liberdade de expressão. Desta forma, medidas
administrativas educacionais poderiam ser um contribuinte para ao menos amenizar o
problema. Outra medida a ser tomada, seria a responsabilização civil mais severa àquela pessoa
que compartilhou a informação falsa, possibilidade esta não trazida pelo PL 2630/2020 e nem
em voga pela lei do Marco Civil da Internet.
Por outro lado, muito severa seria uma punição a quem compartilhou informações via
provedor de mensageria sem mesmo ter a capacidade cognitiva de saber se o conteúdo é real
ou não. Um exemplo comum disso seria um parente, que no grupo de família repassa mídias,
receitas, documentos e notícias recebidas de outros grupos, as vezes nem lendo o conteúdo, mas
apenas a manchete da notícia, e repassando-a.
Conclui-se, então, que a responsabilidade civil por fake news, recaí, na maioria das
vezes, ao agente causador da informação. Muito pouco se responsabiliza àquela pessoa que
compartilhou a informação falsa em grupos de mensageria, pois, na prática, é difícil achar até
um precedente sobre nos tribunais brasileiros. Com isso, pode-se notar, que, a responsabilidade
51
civil por danos causados pelo conteúdo inverídico não atrapalha as demais sanções oriundas da
responsabilidade penal (subtópico 2.2), além da possibilidade de retratação e pedido de
desculpas compulsório trazidos pelo ordenamento.
No Brasil, como em outros países, fake news é um assunto totalmente em voga, onde,
a globalização do mundo, a inovação digital, a adesão e o acesso em massa das pessoas ao uso
da internet, tudo isso ligado as facilidades contemporâneas na troca na troca de arquivos,
conteúdos, mensagem e diálogos, torna o tema muito complexo e de difícil legislação. Por isso,
atualmente, praticamente todos os países, nos quais é livre a navegação na internet, têm
problemas com disseminação em massa de notícias falsas.
Não há hoje um país que seja exemplo na política ao combate a fake news
democraticamente, seja por via legislativa ou mesmo com uso de políticas públicas de
enfrentamento.
Visto isso, por mais que o problema de veiculação de falsas notícias seja antigo, hoje,
ele se mostra em uma nova roupagem, devido o advento da internet e a troca de informações
em massa. Deve-se levar em conta, também, que a forma com que a informação é contada
influencia em muito nas questões sociais e no uso de poder por poderosos, fazendo com que os
meios tradicionais de informação estejam nas mãos de grupos específicos.
Porém, por mais que a enfermeira conseguisse na via judicial ser indenizada por danos
morais, a postagem ilícita no Facebook não foi devidamente apagada, pois segundo o STJ, a
interessada não trouxe o URL da localidade da publicação e, neste caso, tornaria muito difícil
o provedor localizar o conteúdo da lide. Fato este que deixou o conteúdo continuar a ser
compartilhado normalmente pelas pessoas, expondo ainda mais a imagem da vítima em todo
Brasil.
É surpreendente que uma corte do alto escalão do judiciário brasileiro permita que a
imagem e a honra de um cidadão brasileiro sejam expostas, por um fato mentiroso, sob o
argumento de que a vítima não trouxe o URL da publicação. O acontecimento absurdo é tido
como o entendimento jurisprudencial e majoritário do STJ, como podemos notar pela emenda:
60
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível: AC 0320439-
85.8.21.7000. Resp. Décima Oitava Câmara Cível. Publicação: 21/09/2020. Julgamento: 22/05/2020. Relator
Nelson José Gonzaga. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/930028102/apelacao-
civel-ac-70083485300-rs>. Acesso em: 05 mar. 2021.
53
No caso, o réu acusa a jornalista, via Twitter e também em uma Live, via YouTube,
imputando a profissional de ter mantido relações sexuais para obter informações precisas e
publicá-las, bem como atribuiu a promoção da profissional em seu emprego devido à
quantidade de fake news publicadas envolvendo o presidente da república, Jair Bolsonaro.
O deputado, por meio de contestação, nem mesmo tentou comprovar a veracidade dos
fatos publicados referente a jornalista, onde, apenas alegou que havia no caso ilegitimidade
passiva, pois o mesmo gozava de imunidade parlamentar (art. 53 da CRFB/88), por ser
deputado federal. O pedido preliminar foi devidamente rechaçado pelo juiz ad quem, pois a
imunidade parlamentar não tem caráter absoluto e muito menos coíbe a responsabilidade pelos
atos praticados sem nenhum vínculo com seu mandato parlamentar, como no presente caso.
61
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação cível n° 70083485300. Comarca de Porto
Alegre. Relator: Des. Nelson José Gonzaga. Publicado em: 21 set. 2020. Disponível em: <https://tj-
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/930028102/apelacao-civel-ac-70083485300-rs>. Acesso em: 15 mar. 2021.
62
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Ação de Indenização Por Danos Morais n° 1048998 -
75.2020.8.26.0100. Juiz de Direito: Luiz Gustavo Esteves; Órgão Julgador: 11ª Vara Cível do Foro de São
Paulo – SP; Julgamento: 20/01/2021. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/processos/283110098/
processo-n-10 48998-7520208260100-do-tjsp>. Acesso em: 05 mar. 2021.
54
Bolsonaro, pai do réu, e que esta mesma declaração foi veiculada pela página
pessoal do requerido no Twitter. Narra, ainda, que o requerido imputou à
requerente conduta de publicar fake news em 2018 e de tentar se insinuar
sexualmente à Hans River para ter acesso ao seu laptop e conseguir materiais
prejudiciais ao seu genitor. Ademais, alegou que o requerido, em seu Twitter,
publicou que a autora obteve uma promoção no veículo de imprensa a qual
trabalha, pela obtenção de êxito na publicação diversas fake news até então.
Sustenta, ainda, sobre os danos individuais e reparação do dano ao pagamento de
indenização pelas declarações do réu. Discorre acerca da trajetória profissional da
requerente e da conduta do requerido dos fatos no contexto da ofensa, outrossim,
requer a procedência da demanda para condenar o requerido ao pagamento de
indenização por danos morais acrescidos de juros de mora desde o ato ilícito e
correção monetária.
2. o requerido ofertou resposta na forma de contestação, fls. 113/136, arguindo, em
preliminar, ilegitimidade passiva e, no mérito, apresenta esclarecimentos a
respeito da conduta do requerido, aduzindo que somente reproduziu informação
colhida em depoimento em comissão parlamentar de inquérito sem a intenção de
ofensa. Discorre acerca de fls. 165 publicidade dos polos da ação, da culpa de
terceiros, da ausência do dever em indenizar e sustenta sobre a imunidade
parlamentar. Requer improcedência da ação.
A preliminar em contestação foi afasta, dada a incidência da imunidade prevista no
artigo 53, da Constituição da República, já que ela não é absoluta, não alcançando
eventuais ofensas praticadas sem qualquer relação com o mandato parlamentar em
exercício.
3. Como se sabe, nenhum direito é absoluto, nisso, incluindo o direito de livre
manifestação e pensamento. Em outras palavras qualquer comportamento humano
deve guardar respeito aos limites do direito de outra pessoa.
O réu ao postar/transmitir em sua rede social que a autora teria praticado fake news e,
como resultado, obtido uma promoção em seu trabalho, bem como que teria se
insinuado sexualmente a terceira pessoa, no exercício de sua profissão, por certo,
transbordou tais limites, ofendendo a honra daquela, colocando em dúvida,
inclusive, a seriedade do seu trabalho jornalístico e de sua empregadora.
Afinal, não é possível que um comportamento que o próprio ordenamento jurídico
tipifica, em tese, como crime contra a honra possa ser admitido como lícito.
O requerido, ocupando cargo tal importante no cenário nacional – sendo o deputado
mais votado na história do país, conforme declarado na contestação – e sendo filho do
atual Presidente da República, por óbvio, deve ter maior cautela nas suas
manifestações, o que se espera de todos aqueles com algum senso de responsabilidade
para com a nação, em especial, nesse momento tão sensível pelo qual passamos, com
notícias terríveis sendo divulgadas pela imprensa todos os dias, muitas das quais, diga-
se de passagem, poderiam ter sido evitadas, com o mínimo de prudência das figuras
públicas, sem divulgação, aqui sim, de fake news.
4. Pedido inicial parcialmente deferido pelo tribunal, condenando o réu, em decisão
do juízo a quo, em indenizar a autora no valor de R$ 30.000 (trinta mil reais),
conjuntamente com o pagamento de honorários sucumbenciais e demais custas
processuais.63
63
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Ação de Indenização Por Danos Morais n° 1048998 -
75.2020.8.26.0100. Juiz de Direito: Luiz Gustavo Esteves; Órgão Julgador: 11ª Vara Cível do Foro de São
Paulo – SP; Julgamento: 20/01/2021. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/processos/283110098/
processo-n-10 48998-7520208260100-do-tjsp>. Acesso em: 05 mar. 2021.
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repercussão, até mesmo a nível nacional, pois as notícias inverídicas foram postadas em
provedores de internet e, assim, ganharam grandes proporções, devida a quantidade de acessos
e ao compartilhamento em massa dos conteúdos mentirosos. Observa-se, também, que a honra
objetiva das duas vítimas foi gravemente molestada, ao ponto de colocarem a suas carreiras em
cheque.
Portanto, devido a grande proporção tomada por uma publicação nos dias atuais e a
gravidade que isso pode gerar ao ser atribuído a notícias falsas, mostra a necessidade de uma
legislação específica para tentar frear e punir mais severamente as fake news no Brasil.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho abordou os malefícios da dissipação das fake news, bem como a
iniciativas legislativas para tentar limitá-las. Ocorre que, como abordado, a linha entre a
divulgação de notícias falsas e a liberdade de expressão é muito tênue, o que faz com que o
Poder Legislativo dobre o cuidado ao abordar tal tema. Há de se proteger e aplicar os princípios
delineados na Carta Magna. No Projeto de Lei elaborado pelo Senador Ângelo Coronel, existem
certos pontos que contradizem o explicitado no Marco Civil da Internet, na Lei Geral de
Proteção de Dados e em demais legislações. A própria investigação para se chegar no autor da
difamação, calúnia, ou injúria, é envolta por uma polêmica, pois, nos dias atuais, a internet
segue a ideia de minimização da coleta de dados, para que os usuários das redes sociais tenham
liberdade em suas conversas e perfis. O PL 2.630/2020 defende que, para o Poder Judiciário
chegar ao infrator, sejam capturas uma série de mensagens, de diversas pessoas, que sequer
cometeram qualquer crime ou contravenção.
Assim, mesmo que a derrubadas às notícias falsas chegue em boa hora, principalmente
no que diz respeito às eleições e honra dos candidatos, é imprescindível cautela na publicação
do texto do PL 2.639/20, uma vez que ordenamento jurídico não regula a conduta de robôs,
todavia de vidas. Cabe ressaltar que já existem ferramentas brasileiras que regulem os falsos
boatos, não se tratando, porém, de uma sociedade refém de regras comportamentais. Mostra-se
inviável que algum tipo de regulamento permeie o subconsciente dos indivíduos, reprimindo-
os de cometer determinadas ações. Desta forma, o caminho mais fácil para a não propagação
das fake news é individual, devendo, cada cidadão, pesquisar a fonte do que se diz e
compartilha, em prol do bem comum e, consequentemente, do Estado.
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REFERÊNCIAS
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