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ISSN 0104-3072

R E V I S T A

NACIONAL

EDIÇÃO 109
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA VOL. XIX - Nº4 - AGO/SET 2011

Saúde bucal
do trabalhador
ISSN 0104-3072

E
. . .D. . I. .T. . O
. . .R. . I. .A. . L.
R E V I S T A

NACIONAL
Da Odontologia do Trabalho à
saúde bucal do trabalhador
Revista da Associação
Brasileira de Odontologia

Corpo Científico

U
ma importante mudança de para-
digma tem ocorrido na Odontologia
Presidente
brasileira que se dedica à promoção
Newton Miranda de Carvalho
da saúde bucal no ambiente do trabalho e
Diretor científico às suas implicações na qualidade de vida do
Fernando Luiz Tavares Vieira trabalhador, nos resultados da empresa e em
todo o desenvolvimento da nação. Os menos
Secretário executivo de mil cirurgiões-dentistas da Odontologia
Claudio Heliomar Vicente da Silva do Trabalho, especialidade recente, mas de
importância cada vez mais reconhecida,
Conselho consultivo vêm redefinindo as relações de trabalho nos
Carlos de Paula Eduardo diversos espaços que estão ocupando, com o
Edmir Matson foco na saúde bucal do trabalhador.
Geraldo Bosco Lindoso Couto A Odontologia do Trabalho passa por transformações tão dinâmicas
Heitor Panzeri quanto aquelas ocorridas na organização do trabalhador desde a Revolução
José Mondelli Industrial. Ao longo de todo esse período, profissionais de diversas áreas
Luciano Loureiro de Melo da saúde se dedicaram a compreender o processo de saúde e doença de um
Maria Carméli Correia Sampaio grupo específico de pessoas em sua relação com o trabalho, desenvolvendo
Maria Fidela de Lima Navarro alternativas de intervenção para o alcance de resultados positivos para todas
Ney Soares de Araújo as partes envolvidas. Nesse cenário, o cirurgião-dentista da área expande
Nilza Pereira Costa seus conceitos para além do vínculo causal entre a doença e agentes de
risco específicos, passando a considerar toda a subjetividade envolvida
Orivaldo Tavano
nas ocorrências odontológicas no ambiente de trabalho.
Orlando Ayrton de Toledo
Essa subjetividade encontra-se nos mecanismos dos processos de
Roberto Vianna
produção, no espaço que o trabalhador ocupa na teia social, no conjunto
Salete Maria Pretto das suas próprias subjetividades – crenças, conceitos, valores, princípios
Tatsuko Sakima – e no contexto histórico em que estamos. Por ser o trabalho um organi-
zador da vida social, o cirurgião-dentista da Odontologia do Trabalho é
A Revista ABO Nacional é uma publicação também agente de construção das relações sociais que definem a história
bimestral da ABO Nacional. Sede admi- da humanidade.
nistrativa da entidade: Rua Vergueiro,
É essa visão humanista da Odontologia que a especialidade enfo-
3153, conjs. 82 e 83 - Vila Mariana - São
Paulo - SP - CEP 04101-300 - Telefax.
cada nesta edição da Revista ABO Nacional nos apresenta. Foco que,
(+55 11) 5083.4000. Web: www.abo.org. infelizmente, falta a muitos empregadores e ao poder público, ainda em
br / E-mail: abo@abo.org.br débito com a sociedade no que diz respeito a políticas que fortaleçam o
Adress to correspondence: Rua Vergueiro, cuidado odontológico no ambiente do trabalho e incluam a especialidade
3153, conjs. 82 e 83 - São Paulo - SP - na composição dos serviços especializados em saúde do trabalhador e
Brasil - CEP 04101-300 segurança do trabalho.
Web: www.abo.org.br Muito se avançou desde as condições subumanas em que trabalhavam
os homens, mulheres e crianças que entregaram sua dignidade à expansão
Registrada no Instituto Brasileiro de Infor- da indústria nos séculos 18 e 19, mas ainda há importantes capítulos des-
mação em Ciência e Tecnologia (IBICT), sob sa história a serem escritos. Novos tempos virão! Nós, trabalhadores da
o Número Internacional Normalizado para Odontologia, estamos construindo um futuro sem as lacunas que ainda se
Publicações Seriadas (ISSN) 0104-3072. impõem à promoção da saúde bucal do trabalhador na atualidade.
A Revista ABO Nacional está indexada nas
bases de dados Bibliografia Brasileira de Odon-
Newton Miranda de Carvalho
tologia (BBO) e Literatura Latino-americana Presidente da ABO Nacional
e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs).

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 193


A
. . P. .R. E
. .S. E
. . N. .T . A. .Ç. Ã
. .O.

Missão Prêmio Colgate – Suas páginas não só divulgam a


produção científica brasileira como chamam a atenção
A Revista ABO Nacional tem como missão promover a para a sua função social, como aconteceu, em especial,
atualização técnico-científica profissional da comunidade na série de reportagens sobre Saúde Bucal pu­blicada
odontológica nacional e internacional, através da em 2006, premiada por abordar o tema de forma mul­­
publicação de artigos científicos inéditos. tidisciplinar e socialmente responsável. Em 2008, o
assunto voltou a ser tratado em nova série de reportagens,
Objetivo dessa vez enfocando o Futuro da Odontologia.

A Revista ABO Nacional tem como objetivo publicar Força institucional – A abordagem van­guardista da
artigos inéditos nas categorias de pesquisa científica Revista ABO Nacional também foi responsável pela
e relatos de caso(s) clínico(s). Artigos de revisão da formulação de políticas públicas, como aconteceu após a
literatura, bem como matérias/reportagens de opinião, publicação da reportagem “A Odontologia chega à UTI”,
só serão aceitos em caráter especial, mediante convite do em 2007, que deu origem a projeto de lei que obriga a
Conselho Editorial Científico. inclusão de cirurgiões-dentistas nas equipes das UTIs
dos hospitais brasileiros.
Histórico Mais recentemente, em 2009, reportagem da revista
abordando o tabagismo como epidemia global que precisa
Lançada em 1993 por Pedro Martinelli - Há 17 ser combatida através de medidas de saúde pública levou
anos, desde seu lançamento, quando revolucionou as a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) a consultar
publicações científicas de Odontologia ao mesclar a a ABO sobre estratégias para engajar a Odontologia
publicação de trabalhos científicos a reportagens sobre nacional em suas campanhas.
temas da área, a Revista ABO Nacional é referência Após chegar à sua 100ª edição, em março de 2010, a
no mercado editorial odonto­ lógico. Registrada com Revista ABO Nacional orgulha-se de não só registrar
o International Stan­ d ard Serial Numbers (ISSN) a história da Odontologia brasileira, mas também de
0104-3072, que a coloca no catálogo internacional de ajudar a construí-la.
publicações seriadas, é indexada no Lilacs e BBO deste
1998, e tem qualificação equiparada à da maior parte das Indexação
publicações odontológicas brasileiras pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior A Revista ABO Nacional está indexada nas bases de
(Capes): Qualis B. O desenvolvimento de seu padrão dados Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO) e
editorial coincide com o próprio desenvolvimento da Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da
Odontologia e da promoção da saúde bucal na população. Saúde (Lilacs).

ranhos (CRB4/1384). Imagens: Fotoabout. produtos e serviços das empresas anun-


Expediente E-mail: rsm@fotoabout.com. Diagrama­ ciantes, as quais estão sujeitas às normas
ção/artes: Edita/Rafael Aguiar. Diretor de de mercado e do Código de Defesa do
Produção e Redação: Edita Comunicação Produção Gráfica: Joaquim R. Lourenço. Consumidor.
Integrada - Alameda Santos, 1398 - 8º conj. Publicidade: GSenne - Tel.: (+11)4368.5678,
87. Telefax (+11) 3253.6485. CEP 01418- e-mail: gsenne@gsenne.com.br; MN Design É permitida a reprodução dos artigos não
100. São Paulo (SP) - Brasil. E-mail: edita@ (+11) 2975.3916. Impressão: Darthy Editora científicos desde que citada a fonte. Os
editabr.com.br Diretores: Joaquim R. Lou- e Gráfica Ltda. Tiragem: 30 mil exemplares. artigos científicos ficam sujeitos à autori-
renço e Zaíra Barros. Editora responsável: zação expressa dos autores.
Zaíra Barros (MTb:8989). Editor assistente: Os conceitos e opiniões emitidos em artigos
Diego Freire (MTb: 49614).Repórteres: assinados são de inteira responsabilidade dos Solicita-se permuta – Requests exchan-
Antonela Tescarollo (MTb: 41547), Antonio autores e não expressam necessariamente a ge – Si solicita lo scambio – Se solicita
Júnior (MTb:56580). Revisão: Bia Ferreira. posição da ABO Nacional. Publicidade: a canje – On demande l’ èchange – Wir
Revisor bibliográfico: Manoel Augusto Pa- ABO Nacional não se responsabiliza pelos bitten um Austausch

194 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


197 ODONTOLOGIA DO TRABALHO 221 Pesquisa científica 237 Pesquisa científica
Qualidade de vida no trabalho Resistência de união entre uma Odontologia e Doenças
resina composta e uma liga Sexualmente Transmissíveis -
198 labor dentistry metálica com diferentes tipos de Qual o maior risco de infecção
Quality of life at work tratamento superficial entre cirurgiões-dentistas, sexo ou
acidente ocupacional?
Bond strength between composite
199 A saúde bucal do trabalhador resin and metal alloy with Dentistry and Sexually Transmitted
different surface treatments Diseases - What is the greatest risk
of infection among dentists, sex or
202 Interfaces sociais Gilberto Duarte Filho occupational accident?
Alberto Noriyuki Kojima
204 Riscos ocupacionais no Alfredo Mikail Melo Mesquita Francisco Artur Forte Oliveira
consultório Renato Sussumu Nishioka Clarissa Pessoa Fernandes
Rodrigo Maximo de Araujo Renata Mota Rodrigues Bitu Sousa
Silvana Machado Simas Paulo César de Almeida
Fabrício Bitu Sousa
227 Pesquisa científica
208 Prótese oculopalpebral: técnica 243 Pesquisa científica
Instruções aos autores
de confecção e aspectos Análise tomográfica entre a
Instructions to authors
biopsicossociais - Relato de caso conformação pré e pós-cirúrgica
Artigos CIENTÍFICOS clínico do sistema de canais radiculares
Scientific Articles utilizando o sistema ProTaper®
Oculo-palpebral prosthesis: Universal rotatório e manual -
210 Pesquisa científica confection technique and Estudo in vitro
Obliteração do canal pulpar do biopsychosocial aspects - Case
incisivo central superior esquerdo report Tomographic analysis between
de uma paciente jovem após the conformation pre and post-
trauma - Acompanhamento Silvana Maria Orestes-Cardoso surgical root canal system using
clínico-radiográfico Kylma Cristina da Silva the universal system ProTaper®
Fernando Luiz Tavares Vieira rotary and manual - Study in vitro
Pulp canal obliteration of upper Mirella Emerenciano Massa
left central incisor of a young Raul Costa Farias
patient after trauma - Monitoring 232 Pesquisa científica Sandra Maria Alves Sayão Maia
clinical-radiographic A influência do preparo cervical na
adaptação do instrumento apical 248 Pesquisa científica
Marina Sena Lopes da Silva Sacchetto inicial no tratamento endodôntico Osteotomia e odontossecção -
José Jeová Siebra Moreira Neto de raízes mesovestibulares de Quando realizá-las em cirurgias de
Isaurinda Lima Lopes molares inferiores terceiros molares superiores retidos
Fernanda Matias de Carvalho
Influence of cervical preflaring in Osteoctomy and tooth section -
the adaptation of the initial apical When should be used in upper
215 Pesquisa científica file in endodontic treatment of the third molar surgery
Estudo comparativo entre mesiobuccal roots of mandibular
Nimesulida-betaciclodextrina e molars Tiago Estevam de Almeida
Meloxicam no pós-operatório de Jesus Saavedra Junior
exodontias de terceiros molares Georgina Agnelo de Lima André Luis Ribeiro Ribeiro
mandibulares - Estudo piloto Gisele Cruz Camboim Alexandre Meloti Dottore
Natália Sotero Machado Paulo Yataro Kawakami
Comparative study between Ana Paula Veras Sobral
Nimesulide-cyclodextrin and Paulo Maurício Reis de Melo Júnior 253 PAINEL
Meloxicam on postoperative HIGHLIGHTS
surgical extraction of mandibular 255 AGENDA
third molars - Pilot study DENTAL CALENDAR

Liza Porcaro de Bretas


Fernanda Oliveira de Paula INDEXADA
Karina Lopes Devito
BBO 1998
Neuza Maria Souza Picorelli Assis Capa Lilacs 1998
Celso Neiva Campos Rafael Aguiar/Edita

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D iret o ria ab o N aci o nal
Conselho Fiscal Nacional (CFN) Diretor científico da Revista ABO Nacional
Efetivos: José Silvestre/SP, José Barbosa Porto/ Fernando Luiz Tavares Vieira/PE
CE, Alberto Tadeu do Nascimento Borges/AM
Coordenadoria Geral da UniABO
Suplentes:Rafael de Almeida Decúrcio/GO,
Coordenador: Sérgio Freitas Pedrosa/DF
Patrícia Meira Bento/PB, Luiz Gonçalves Melo/
Vice-coordenador: Egas Moniz de Aragão/PR
Associação Brasileira de Odontologia - ABO PE, Hamilton de Souza Melo/DF
Secretário-geral: Inácio da Silva Rocha/RJ
Nacional, registrada no Conselho Nacional Serviço
Social sob nº 110.006/54, em 12 de janeiro de Vice-presidentes Regionais Conselho Nacional de Saúde
1955. Filiada à FDI e à Fola/Oral. Norte: Luiz Fernando Varrone/TO Efetivo: Geraldo Vasconcelos/PE
Nordeste: Tiago Gusmão Muritiba/AL
Conselho Executivo Nacional (CEN) Assembleia Geral
Sudeste: Osmir Luiz Oliveira/MG
Presidente: Newton Miranda de Carvalho/MG Presidente: Luiz Fernando Varrone (TO)
Sul: Nádia Maria Fava/SC
Vice-presidente: Manoel de Jesus R.Mello/CE
Centro-oeste: Jander Ruela Pereira/MT
Secretário-geral: Marco Aurélio Blaz Vasques/RO
1ª secretária: Daiz da Silva Muniz/AP
Tesoureiro-geral: Wesley Borba Toledo/DF Diretor do Departamento de Avaliação
1o tesoureiro: Carlos Augusto J. Machado/MG de Produtos Odontológicos (Dapo)
Suplentes: Dilto Crouzeiles Nunes/RS Oscar Barreiros de Carvalho Jr./SP
Paulo Murilo Oliveira da Fontoura Jr./RJ Lucila
Janeth Esteves Pereira/PA
Júlio Medeiros Barros Fortes/PI

A B O N O S E S T A D O S
ABO/Acre ABO/Maranhão ABO/Rio de Janeiro
Pres. Stanley Sandro da Silva Mendes Pres.Marvio Martins Dias Pres. Paulo Murilo O. da Fontoura
R. Marechal Deodoro, 837, s.4 Av. Ana Jansen,73 Rua Barão de Sertório,75
69900-210 - Rio Branco - AC 65051-900 - São Luiz - MA 20261-050 - Rio de Janeiro - RJ
Telefax(+68) 3224.0822 Tel. (+98) 3227.1719/Fax 3227.0834 Tel.(+21)2504.0002 /Fax 2504.3859
ABO/Alagoas ABO/Mato Grosso ABO/Rio Grande do Norte
Pres. Tiago Gusmão Muritiba Pres. Luciano Castelo Moraes Pres. Pedro Alzair Pereira da Costa
Av.Roberto M. de Brito, s/n.-Jatiuca Rua Padre Remeter, 170 Rua Felipe Camarão, 514
57037-240 Maceió - AL 78008-150 - Cuiabá - MT 59025-200 - Natal - RN
Telefax(+82) 3235.1008 Telefax(+65) 3623.9897 Tel.:(+84) 3222.3812/Fax: 3201.9441
ABO/Amapá ABO/Mato Grosso do Sul ABO/Rio Grande do Sul
Pres. Daiz da Silva Nunes Pres. Paulo Cezar R. Ogeda Pres. Flávio Augusto Marsiaj Oliveira
Rua Dr.Marcelo Cândia, 635 CP 635 Rua da Liberdade, 836 Rua Furriel L. A. Vargas, 134
68906-510 - Macapá - AP 79004-150 Campo Grande - MS 90470-130 - Porto Alegre - RS
Tel. (+96) 3244.0202/Fax 3242.9300 Telefax (+67)3383.3842 Tel.:(+51) 3330.8866/Fax: 3330.6 932
ABO/Amazonas ABO/Minas Gerais ABO/Rondônia
Pres. Alberto Tadeu do N. Borges Pres. Carlos Augusto Jayme Machado Pres. Antonio Carlos Politano
Rua Maceió, 863 Rua Tenente Renato César, 106 Rua D.Pedro II, 1407
69057-010 - Manaus - AM 30380-110 - B.Horizonte - MG 78901-150 - Porto Velho - RO
Tel.(+92) 3584.5535/3584.6066 Tel. (+31) 3298.1800/Fax 3298.1838 Tel.: (+69) 3221.5655/Fax: 3221.6197
ABO/Bahia ABO/Roraima
ABO/Pará
Pres. Antístenes Albernaz Alves Neto Pres. Galbânia Policarpo de Sá
Pres. Lucila Janeth Esteves Pereira
R.Altino Serbeto Barros, 138 Rua D.Pedro II, 1407
Rua Marquês de Herval, 2298
41825-010 - Salvador - BA 69301-130 - Boa Vista - RR
66080-350 - Belém - PA
Tel.(+71) 2203.4066/ Fax 2203.4069 Tel. (+95) 3224.0897/ Fax 3224.3795
Tel. (+91) 3277.3212/Fax 3276.0500
ABO/Ceará ABO/Santa Catarina
Pres. José Barbosa Porto ABO/Paraíba
Pres. Patrícia Meira Bueno Pres. Murilo Ferreira Lima
R. Gonçalves Lêdo, 1630 Rua Dom Pedro I, 224 - Capoeira -
60110-261 - Fortaleza - CE Av. Rui Barbosa,38
58040-490 - João Pessoa - PB 88090-830 - Florianópolis- SC
Tel.(+85) 3311.6666/Fax 3311.6650 Telefax (+48) 3248.7101
Telefax(+83) 3224.7100
ABO/Distrito Federal ABO/São Paulo
Pres. Hamilton de Souza Melo ABO/Paraná Pres. José Silvestre
SGAS 616 - lote 115-L/2 Sul Pres. Osiris Pontoni Klamas Rua Dr. Olavo Egídio, 154 - Santana
70200-760 - Brasília - DF Rua Dias da Rocha Filho, 625 02037-000 - São Paulo - SP
Tel.(+61) 3445.4800/Fax 3445.4848 80040-050 - Curitiba - PR Tel.: (+11) 2950.3332/Fax: 2950.1932
Tel.(+41)3028.5800/Fax 3028.5824
ABO/Espírito Santo ABO/Sergipe
Pres. Armelindo Roldi ABO/Pernambuco Pres. Martha Virgínia de Almeida Dantas
R. Henrique Rato, 40 - Fátima Pres. Luiz Gonçalves de Melo Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 404
29160-812 - Vitória - ES Rua Dois Irmãos, 165 49015-230 - Aracajú - SE
Telefax(+27) 3337.8010 52071-440 - Recife - PE Tel: (+79) 3211.2177 Fax: 3214.4640
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ABO/Goiás ABO/Tocantins
Pres. Jorivê Sousa Castro ABO/Piauí Pres. Luiz Fernando Varrone
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74325-110 - Goiânia - GO Rua Dr. Arêa Leão, 545 - SUL 70105-020 - Palmas - TO
Tel.(+62) 3236.3100/Fax 3236.3126 64001-310 - Teresina - PI Tel.: (+63) 3214.2 246/Fax: 3214.1659
Tel.(+86) 3221.9374

196 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


ODONTOLOGIA DO TRABALHO
...................................

Qualidade de
vida no trabalho
Com foco na saúde bucal do trabalhador, a especialidade Odontologia
do Trabalho tem contribuído para o aumento da produtividade
individual, dos resultados das empresas e do bem-estar coletivo

Por Diego Freire

A pesar de alcançar a estatura de especialidade odonto-


lógica em 2001, por meio de resolução do Conselho
Federal de Odontologia (CFO), a Odontologia do
Trabalho, que tem como objetivo a busca permanente da
compatibilidade laboral e a preservação da saúde bucal
antecipação dos riscos ocupacionais e consequente pre-
venção de manifestações bucais das doenças.
Diante disso, o entendimento dos riscos à saúde do
complexo bucomaxilofacial e das implicações das doenças
e condições odontológicas nas questões laborais ultra-
do trabalhador, tem suas origens teóricas registradas na passam a identificação epidemiológica e a catalogação
literatura científica pelo menos desde a década de 60. de doenças, colocando o cirurgião-dentista que se dedica
De lá para cá, a área reuniu peculiaridades relacionadas à saúde bucal do trabalhador passos à frente de diversas
à complexidade de seu campo de atuação e à sua inter- outras discussões da prática odontológica. Isso porque a
disciplinaridade, agregando às práticas de saúde integral saúde no ambiente de trabalho acompanha os capítulos
conceitos de gestão, análise, planejamento, execução, de lutas e transformações na história da humanidade e
avaliação dos serviços, programas e projetos para saúde nas complexas relações com o modo de produção vigente,
bucal, além de avaliações técnicas e auditoria, trazendo através das dinâmicas da força de trabalho humana. Para
ao público a que se destina - a classe trabalhadora – a a cirurgiã-dentista do Trabalho Ana Cláudia de Souza
oportunidade de promoção de saúde bucal por meio da Melo, presidente da seção pernambucana da Associação

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 197


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

Brasileira de Odontologia do equipe multidisciplinar de saúde convertido em diminuição do absen-


Trabalho e coordenadora da ocupacional, demonstrar as várias teísmo por causas odontológicas e
especialização em Odontologia doenças sistêmicas que têm sua acidentes de trabalho, aumento da
do Trabalho do Centro de Pós- primeira manifestação na boca, produtividade e lucratividade da em-
-Graduação em Odontologia por meio de exames odontoló- presa e fidelização do trabalhador.
no Recife, o trabalho na área gicos admissionais e periódicos Para tanto, Ana Cláudia preconiza
tem contribuído para diminuir obrigatórios, complementares que “manter um sistema estatístico
a distância entre os avanços aos exames de saúde realizados eficiente das necessidades bucais
odontológicos e a população. “A pela área médica. Segundo a dos trabalhadores é relevante no le-
Odontologia, histórica e cultu- Organização Mundial de Saúde vantamento epidemiológico das do-
ralmente, é tida como uma pro- (OMS), cerca de 20% das faltas enças ocupacionais e na prevenção
fissão elitista, tecnicista, de alto ao trabalho no setor industrial das mesmas, dando oportunidade ao
custo e focada apenas no dente; estão vinculadas a problemas de cirurgião-dentista, ao médico e ao
porém, observamos nos últimos saúde bucal. Para Ana Cláudia, enfermeiro de atuarem em parceria
anos mudanças que levaram a trata-se de um problema cultural. no propósito único que é a saúde do
profissão a se voltar mais para “No mundo globalizado, os novos trabalhador”.
o social e o coletivo, investindo paradigmas de qualidade total, Os benefícios trazidos pela
na promoção integral da saúde. produtividade, ‘just in time’ e ou- Odontologia do Trabalho vão
Nesse enfoque, a Odontologia do tros tantos, incorporados aos pro- além do trabalhador, chegando
Trabalho ganha abrangência na gramas das empresas, têm em seu ao poder público, à previdência e
saúde do trabalhador, visto que ideário a busca de mecanismos de à empresa, considerando-se que
os problemas bucais, frequen- controle da produção, induzindo o doenças bucais não registradas
temente, provocam desconforto trabalhador a um comportamento ou subestimadas levam a estima-
físico e emocional, além de mais competitivo e individualista, tivas e planejamentos de políticas
causar prejuízos à saúde geral, consequentemente descuidando públicas e privadas de combate
diminuindo a produtividade dos cada vez mais de sua saúde.” pouco efetivos. A importância da
empregados nas suas funções e Nesse cenário, programas de especialidade levou à criação do
possibilitando acidentes de tra- qualidade de vida no trabalho têm Projeto de Lei 422/07, em trami-
balho pela falta de concentração se apresentado como o mote das tação nas comissões do Congresso
e automedicação, empresas ditas saudáveis, que já Nacional, que modifica os artigos
além de contribuir incorporaram a filosofia de que o 162 e 168 da Consolidação das
para o absenteís- homem é peça fundamental no siste- Leis do Trabalho (CLT), tornando
mo”, considera. ma de produção e patrimônio maior obrigatórios também os exames
Cabe ao cirur- da empresa, sendo o investimento na odontológicos admissionais, pe-
gião-dentista do tra- promoção de saúde e na prevenção riódicos e demissionais, suprindo
balho, integrado à de doenças, acredita a especialista, lacuna existente na legislação.
“Empresas empreendedoras
e com visão de futuro já estão
l a b o r d e nt i st ry investindo na saúde bucal dos seus
funcionários, entendendo os benefí-
Quality of life at work cios que trazem para a organização”,
observa Ana Cláudia. A cirurgiã-

F
-dentista do Trabalho reforça o
ocusing worker’s oral health, the Labor Dentistry coro de especialistas para quem a
specialty has contributed to increase individual especialidade representa promoção
productivity, companies’ results and the collective well- de saúde bucal, qualidade de vida
being. In this edition, you can read interviews of the no trabalho e sustentabilidade.
dental specialists Ana Cláudia de Souza Melo, president of the “Pensar a Odontologia do Trabalho
Brazilian Association of Labor Dentistry (from Pernambuco dessa forma é construir resultados
State), and Ricardo Silva, Labor Dentistry coordinator of contribuindo não só para o desen-
Brazilian Dental Association, Bahia Section.  volvimento da empresa, mas sim
de toda uma sociedade.”

198 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

A saúde bucal do trabalhador


Doenças ocupacionais das gengivas, dos dentes e das demais estruturas da boca
possuem especificidades intimamente relacionadas às condições de trabalho e à
maneira como se dá a atenção odontológica no exercício profissional

Odontologia do Trabalho da ABO/


BA, é por conta disso que as ações
do campo da Odontologia do Traba-
lho voltam-se para a prevenção dos
agravos no ambiente do trabalho
e propiciam a articulação de uma
educação permanente para grupos
de trabalhadores, com o objetivo
de minimizar as consequências
das atividades desenvolvidas que
podem acarretar algum agravo à
saúde. “As condições de trabalho,
as características dos processos pro-
dutivos e outros fatores que fazem
parte do ambiente de trabalho in-
terferem diretamente na qualidade
da saúde bucal dos trabalhadores e,
consequentemente, na sua saúde
geral”, diz.
Norma regulamentadora do

É
Programa de Prevenção de Riscos
de amplo conhecimento ambientais que possam constituir Ambientais publicada em 1978 e
do cirurgião-dentista que risco à saúde bucal no local de atualizada em 1994 orienta sobre
as doenças do complexo trabalho, em qualquer das fases do “os agentes físicos, químicos e
estomatognático são, em processo de produção; planejamen- biológicos existentes nos ambientes
sua maioria, de causa multifatorial, to e implantação de campanhas e de trabalho que, em função de sua
envolvendo em seus fatores de risco programas de duração permanente natureza, concentração ou inten-
doenças sistêmicas como diabetes para educação dos trabalhadores sidade e tempo de exposição, são
melito tipo I e II, frequência do con- quanto a acidentes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do
sumo de carboidratos, fumo e álco- doenças ocupacionais e educação trabalhador”. Mas Silva lembra que
ol e tipo de microbiota da cavidade em saúde, e organização estatística relatos sobre a existência de asso-
bucal, entre outros elementos.Além de morbidade e mortalidade com ciações potenciais entre exposições
de toda essa gama de interações, o causa bucal e investigação de suas ocupacionais e alterações do sistema
cirurgião-dentista que se ocupa da possíveis relações com as ativida- estomatognático são conhecidas
saúde bucal do trabalhador precisa des laborativas. Dessa forma, a boca há ainda mais tempo. “Bernardino
considerar fatores específicos do pode apresentar manifestações con- Ramazzini (1633-1714), conhecido
ambiente de trabalho. sequentes de agravos, afecções ou como o pai da Medicina do Trabalho,
Segundo a Resolução 25/2002 doenças do exercício profissional. fez referências às consequências
do CFO, as áreas de competência Para o cirurgião-dentista e pesqui- bucais decorrentes de exposições
para atuação do especialista em sador Ricardo Silva, mestre em ocupacionais em livro publicado em
Odontologia do Trabalho in- Deontologia e Odontologia Legal 1700. Simpsom, em 1919, publicou
cluem, entre outras: identificação, pela Universidade de São Paulo estudo sobre a presença de erosão
avaliação e vigilância dos fatores (USP) e coordenador do curso de dentária e inflamação gengival

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 199


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

revisada por Silva, observa-se


uma predominância dos agentes
químicos, orgânicos e inorgânicos
entre os principais responsáveis por
alterações bucais de origem ocu-
pacional, como lesões da mucosa
bucal, doença periodontal, altera-
ções salivares e sintomas bucais
referidos, como dor, xerostomia e
ardor, entre outros. Alguns estudos
apontam forte relação entre doen-
ças bucais e atividades desenvol-
vidas por trabalhadores expostos a
CD Ana Cláudia de Souza Melo poeiras de açúcar e de farinha, mas CD Ricardo Silva
com algumas limitações em suas
conclusões devido a fatores como
em operários de uma fábrica de tamanho das amostras, condução ocupacionais e seus agravos à
explosivos. Schour e Sarnat (1942) dos exames diagnósticos, medida complexidade das estruturas da
elaboraram uma detalhada revisão de efeito, falta de detalhamento da cavidade bucal. “É urgente um
da literatura analisando as manifesta- estratégia de avaliação da medida melhor direcionamento nesse con-
ções bucais de origem ocupacional.” de exposição, tempo de exposição texto para que haja uma melhor
Além de doenças bucais decor- e modelo de predição - descon- perspectiva na condição de saúde
rentes de exposições ocupacionais, sideração de fatores de risco so- bucal do trabalhador”, defende.
podem também ocorrer acidentes ciocomportamentais importantes.
de trabalho envolvendo as estrutu- Silva observa ainda que, segundo Higiene ocupacional
ras bucais e, ainda, manifestações autores como Teles, Costa e Silva e Para a Organização Mundial
bucais de doenças ocupacionais Silva (2009), “apesar de se estudar da Saúde (OMS), a higiene ocu-
de natureza sistêmica. Segundo a há muito tempo a relação entre pacional tem entre seus objetivos
literatura científica e observações as exposições ocupacionais e as determinar e combater, no am-
empíricas relatadas por Silva, a ex- alterações na cavidade bucal, ain- biente de trabalho, todos os riscos
posição a agentes mecânicos como da existe pouco conhecimento da químicos, físicos, biológicos e psi-
pregos, fios de costura, grampos de equipe de saúde bucal sobre o nexo cossociais de reconhecida e presu-
cabelo, lápis e outras pequenas peças causal entre ambiente de trabalho mida nocividade; conseguir que o
ou ferramentas é apontada como e consequências odontológicas”. esforço físico e mental, exigido de
responsável por tipos característicos É de extrema importância que cada trabalhador para o exercício
de desgaste dentário. Ele também o cirurgião-dentista faça parte da do trabalho, esteja adaptado às
chama a atenção para a ocorrência equipe de saúde ocupacional, de suas necessidades e limitações
de abrasão dentária em trabalhado- forma regulamentar, para que o técnicas, anatômicas, fisiológicas
res expostos a grandes partículas grupo, de maneira interdisciplinar, e psicológicas; adotar medidas
de poeira, sopradores de vidro e conheça o campo da Odontologia eficazes para proteger as pessoas
músicos que utilizam instrumentos do Trabalho, podendo oferecer que sejam especialmente vulnerá-
de sopro. Entre os agentes físicos, estratégias de promoção de saúde veis às condições prejudiciais do
predominam as altas temperaturas, e prevenção, além de diagnosticar, ambiente de trabalho e reforçar
as variações de pressão atmosférica rapidamente, alguma alteração na sua capacidade de resistência;
e as várias formas de radiação, as- saúde do trabalhador e relacioná- descobrir e corrigir as condições
sociadas, respectivamente, a lesões -la com seu ambiente laboral, de trabalho que possam deterio-
de mucosa e doença periodontal, quando for o caso. rar a saúde dos trabalhadores, de
alterações em restaurações dentárias Mas Silva considera que ainda modo a garantir que os índices de
e dor intensa, lesões da mucosa bu- existem lacunas no desenvolvi- mortes ocasionadas pelo exercício
cal, xerostomia, alterações ósseas e mento de políticas que assessorem do trabalho não seja superior ao do
cárie de radiação. a saúde bucal do trabalhador conjunto da população; orientar a
Ainda segundo a literatura no que diz respeito aos riscos administração das empresas e os

200 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

trabalhadores no cumprimento enfermidades bucodentárias deve proteção individual; educação dos


de suas responsabilidades com a se basear em quatro princípios trabalhadores acerca da necessida-
proteção e a promoção da saúde; fundamentais: “aplicação de de de uma higiene bucal adequada;
aplicar nas empresas programas medidas de higiene ocupacional avaliação meticulosa da cavidade
de ação sanitária que englobem e Medicina Preventiva, incluindo bucal e dos dentes quando forem
todos os aspectos de saúde, o que o controle do meio ambiente do realizar exames admissionais e
ajudará o serviço público de saúde trabalho, análise dos processos de periódicos e detecção precoce e
a elevar os padrões mínimos de produção, eliminação dos perigos tratamento de todas as enfermida-
saúde e coletividade. ambientais e, quando necessário, des bucodentárias, sejam ou não
utilização de equipamento de de origem ocupacional”.
Riscos aditivados
Em 2007, a American Confe- Tabela 1: Atividades desenvolvidas por trabalhadores e os riscos
rence of Governmental Industrial ocupacionais para a saúde bucal. Adaptado de Nogueira (1972);
Hygienists (ACGIH ) classificou a Aznar e Nava (1988); René Mendes (2003); Álvare
sacarose nos valores adotados para Perigo ou fator Dano a Trabalhadores
a concentração média ponderada de de risco saúde bucal sujeitos
10 mg/m³ como corrosivo dentário.
As concentrações químicas podem Provadores de bebidas
Hiperemia acentuada, e de alimentos quentes;
ter efeitos deletérios e nocivos mais Necrose da mucosa dos Metalúrgicos e siderúrgicos
Altas
exacerbados quando o trabalhador temperaturas
lábios e gengivas, Lesões expostos a altas temperaturas;
leucoplásicas, Lesões ceramistas; panificadores;
for exposto a diferentes tipos de neoplásicas trabalhadores de fornos em
agentes químicos. Por conta disso, usinas de açúcar
a ACGIH salienta que há vários
Alterações moderadas da Trabalhadores de
modos possíveis de interação das Baixas
mucosa: Artrites temporo-
temperaturas frigorífico
substâncias químicas em uma mandibulares
mistura. “O efeito aditivo ocorre
Lesões acentuadas das estruturas
quando o efeito biológico com- bucais: Gengivite simples;
binado dos componentes é igual Periodontite de evolução rápida; Pintores de diais luminosos
Radiações Queda dos dentes; Necrose do (tintas a base de sulfureto
à soma de cada um dos agentes ionizantes rebordo alveolar; Desgastes de zinco radioativo);
isoladamente. O sinergismo ocorre ósseos intensos; Fratura do operadores de raios X
quando o efeito combinado é maior maxilar inferior, Perfuração dos
seios paranasais
que a soma dos efeitos de cada
um dos agentes. O antagonismo Irritação das vias aéreas Indústria de explosivos;
superiores (rinites); Respiração Indústrias de celulóide -
ocorre quando o efeito combinado é bucal; Xerostomia (redução Indústria de agentes de limpeza;
menor. Quando duas ou mais subs- Névoas Ácidas da saliva); Ressecamento da Indústrias tintas; Indústria
mucosa; Erosão dentária;
tâncias perigosas tiverem efeitos Perda total do esmalte; Dentes
de produção de fertilizantes
e detergentes; Indústria
toxicológicos similares sobre o sis- afunilados; Coloração amarelada; vidreira; Indústria metalúrgica,
tema orgânico ou órgão, deverão ser Redução de tamanho dos dentes; siderúrgica e fábrica de baterias
Dentes quebradiços
considerados, em primeiro lugar, os
Hemorragia Gengival;
seus efeitos combinados, e não os Estomatite; Hálito e Gosto Indústrias químicas;
Benzeno
efeitos que teriam individualmente. Benzólico, Osteomielite dos Indústrias siderúrgicas
maxilares; Xerostomia
Na ausência de informações con-
trárias, substâncias diferentes que Tuberculose (Bacilo de Koch
lesões nas áreas de língua,
produzem o mesmo efeito sobre a mandíbula, maxilar, lábios, Profissionais da área da
saúde e atingem o mesmo órgão Exposição a processos alveolares, gengiva e Saúde que tenha contato
ou sistema devem ser consideradas Bactérias mucosa jugal, podendo também com os aerossóis (espirro,
atingir a região da faringe, tosse e ingestão)
como aditivas”, orienta a ACGIH. amígdalas e cavidade nasal)

Trabalhadores expostos
Diretrizes Bruxismo, Atrição dentária; Redução a alto nível de estresse
A Organização Internacional resultantes de da dimensão vertical (profissionais de saúde,
estresse no dos elementos dentários; policiais militares,
do Trabalho (OIT) salienta que trabalho Disfunções de ATM trabalhadores da construção
todo programa de prevenção das civil, limpadores de vidros)

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 201


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

Interfaces sociais
A Odontologia do Trabalho, ao se ocupar de um dos pilares de uma
sociedade saudável, eleva a saúde bucal do trabalhador à condição para o
desenvolvimento social e exige do cirurgião-dentista entendimento ainda
mais amplo do exercício odontológico e de suas implicações

saúde bucal; todos os empregados


admitidos na empresa devem ser
submetidos a exames odontoló-
gicos; os prontuários devem ser
preenchidos corretamente e ficar à
disposição também da área médica;
os serviços odontológicos devem
comportar pessoal qualificado, e
se responsabilizar pela qualidade
dos tratamentos executados; os
cirurgiões-dentistas do serviço
odontológico industrial devem ter
conhecimento da rotina e realidade
dos processos industriais bem como
estar atentos às doenças bucais
oriundas da atividade laboral”.
Segundo Ricardo Silva, mestre
em Deontologia e Odontologia
Legal pela USP, outras justificati-

A
vas ainda podem ser relacionadas
saúde do trabalhador é São conhecidas as repercussões em defesa da implantação de ser-
assunto da Constituição indesejáveis das doenças bucais viços odontológicos destinados ao
Federal Brasileira, que em relação ao bem-estar dos indi- segmento dos trabalhadores. Entre
regulamenta o campo - o que evi- víduos, ao comprometimento do elas: possibilidade de detecção
dencia sua importância para todo seu desempenho profissional e aos precoce de lesões relacionadas
o bem-estar social. A Lei Orgânica distúrbios de natureza comporta- ao câncer de boca das manifes-
da Saúde (8080/90), em seu artigo mental resultantes da insatisfação tações bucais dos portadores do
6º, parágrafo 3º, regulamenta os com a condição bucal. Já em 1942, vírus HIV e de outras doenças
dispositivos constitucionais sobre a American Dental Association de relevância vital; aumento da
a saúde do trabalhador por meio de (ADA) publicou proposta para os satisfação da força de trabalho
ações de vigilância epidemiológica serviços odontológicos nas unida- (cerca de 60% do tempo de vida
e sanitária, garantindo a promoção e des industriais norte-americanas. ativa é despendido no emprego ou
proteção da saúde do trabalhador e a Entre outros, os tópicos da proposta local de trabalho), e alcance de
recuperação e reabilitação daqueles orientam que “a indústria deve posição favorável das representa-
submetidos a riscos e agravos cau- organizar seu serviço odontoló- ções sindicais e dos trabalhadores
sados pelo trabalho, em empresas gico visando assegurar cuidados em geral, que consideram ser o
públicas e privadas. Em 2006, a eficientes aos empregados que ambiente de trabalho adequado
OMS salientou que os trabalhadores necessitam de tratamento; todos para o desenvolvimento de ações
representam a metade da população os empregados devem ter acesso à de promoção de saúde. Diante
global e contribuem fortemente para assistência odontológica; o serviço disso, o pesquisador enfatiza a
os valores sociais e econômicos da odontológico deve dedicar parte do importância de se analisar con-
sociedade contemporânea. tempo a atividades educativas em cretamente a epidemiologia e a

202 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

patologia dos problemas bucais Contribuições para o serviço exposições ocupacionais são
associados ao trabalho, “estudan- público e privado comuns. Isso expressa a falta de
do o impacto que possam causar Se as condições bucais se integração entre a Odontologia e
na qualidade de vida, trazendo à vinculam às condições  gerais de a saúde pública em geral e, mais
tona novos elementos na análise saúde, e são consideradas quando especialmente, entre as  práticas de
da causalidade das doenças e dos se discutem as incapacidades saúde bucal e o campo da saúde do
motivos da sua maior ocorrência que atingem os trabalhadores, a trabalhador”, explica Silva. Assim,
e manutenção em determinados promoção da saúde bucal torna-se torna-se necessária a incorporação
segmentos da sociedade”. um meio potencial de combate dos profissionais de Odontologia
ao desconforto, dor e sofrimento nas equipes de saúde e segurança
Absenteísmo por associados às doenças bucais, do trabalhador e o deslocamento
motivos odontológicos convertendo-se em estratégia do foco de atenção da boca para o
Absenteísmo laboral é o termo importante na redução do impacto indivíduo, e deste para o coletivo,
utilizado na literatura para, gene- dessas doenças no processo de em sua complexidade social.
ricamente, indicar o não compa- viver humano. “O conhecimento Para Silva, ainda há muito o que
recimento inesperado ao trabalho, sobre riscos ocupacionais para a se fazer nesse sentido. “Hoje, não se
em especial aquele de caráter saúde bucal do trabalhador é ainda faz uma Odontologia do Trabalho
repetitivo. Ele gera aumento de incipiente, e a sua disseminação, voltada para a identificação epide-
custos, pois, além da concessão de precária, seja no meio acadêmico, miológica, para a catalogação ou
auxílio-doença, ocasiona diminui- seja entre os profissionais de ser- prevenção das doenças, mas sim de
ção de produtividade  e eficiência, viços, mesmo para aqueles  que uma maneira usual, simplesmente
assim como aumento de problemas trabalham em indústrias, onde curativa”, lamenta.
administrativos, o que compromete
a engrenagem industrial.
Os fatores odontológicos que
acarretam ausências ao trabalho
têm sido de interesse crescente Origens
para os setores público e priva-

A
do, especialmente em razão do A história da saúde do trabalhador teve
contexto econômico competitivo início na Inglaterra, na primeira metade
e produtivo da sociedade. Segundo do século 19, com a Revolução Industrial,
Silva, estudos demonstram que
denominada na época como Medicina
a dor orofacial pode alterar a
qualidade de vida mais do que
do Trabalho. Naquele momento, o consumo da
outras condições sistêmicas, força de trabalho, resultante da submissão dos
como úlceras, diabetes e pressão trabalhadores a um processo acelerado e desumano
alta. “Indivíduos nessa condição de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de
vivenciam grandes mudanças no tornar inviável a sobrevivência e reprodução do
seu dia a dia, incluindo dias de próprio processo. A tecnologia industrial evoluiu de
trabalho perdidos, ficando isola- forma acelerada, traduzida pelo desenvolvimento de
dos em casa, evitando os amigos processos industriais e equipamentos e pela síntese
e a família, preocupando-se com de novos produtos químicos, simultaneamente ao
as condições bucais, indo ao con-
rearranjo de uma nova divisão internacional do
sultório odontológico, tomando
medicamentos e evitando certos
trabalho. Surge nesse contexto a saúde ocupacional,
alimentos. Os problemas bucais sobretudo dentro das grandes empresas, com o traço
constituem uma incapacidade da da multidisciplinaridade, a organização de equipes
atividade produtiva, com efeitos progressivamente multiprofissionais e a ênfase na
sobre a capacidade de trabalho e a higiene industrial, refletindo a origem histórica dos
qualidade de vida, além do prejuí- serviços médicos e o lugar de destaque da indústria
zo para o empresário e, em última nos países industrializados.
instância, para a sociedade.”

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 203


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

Riscos ocupacionais no consultório


Como trabalhador, o cirurgião-dentista também está exposto a riscos
relacionados ao seu ambiente de trabalho e ao exercício de sua profissão

A Odontologia é uma profissão pontuada por


fatores de risco, e os profissionais envolvi-
dos em seu exercício precisam estar atentos
a condições de conforto, segurança e eficiência
como todos os outros. Faz parte de potenciais
a prática odontológica. Sendo assim, é importante
avaliar as medidas necessárias à proteção de todos
os profissionais desse ambiente de trabalho.

Riscos físicos
riscos ocupacionais de um consultório Os riscos físicos aos quais os profissionais da
odontológico uma grande variedade Odontologia estão mais comumente expostos estão
de agentes físicos, químicos, bio- relacionados a iluminação, radiação, ruído, calor,
lógicos, ergonômicos, sociais e ventilação e agentes mecânicos.
ambientais. Essas condições
podem ser identificadas e os Iluminação – No consultório odontológico, a
riscos ocupacionais e os pro- iluminação é um agente físico causador de transtornos
blemas relacionados à saúde do ao profissional quando não projetada adequadamente.
cirurgião-dentista, minimizados. A influência da iluminação pode causar, se for pobre
Os problemas ocupacionais da em intensidade ou rica em ofuscamento, dores de
profissão do cirurgião-dentista dizem cabeça, desordens nervosas, miopia, astigmatismo,
respeito àqueles que envolvam a sua fadiga do nervo óptico, insensibilidade da retina e
saúde e a de seus auxiliares durante até mesmo perda total da visão.

204 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

Radiação – Existem dois


tipos básicos de radiação: as
ionizantes (raios X) e as não
ionizantes, que são aquelas que
produzem calor (infraverme-
lho e ultravioleta). Do ponto
de vista prático, deve haver
providências para limitar a
exposição dos pacientes e da
equipe de trabalho à radiação
X. Tais providências incluem
o uso de aparelhos modernos
de raios X, a execução de ra-
diografias de alta qualidade,
o uso de filmes mais sensíveis
e a certeza de uma capacidade
ótima de uma interpretação ra-
diográfica. Nenhuma exposição
aos raios X deve ser permitida
sem que se espere proporcionar
beneficio ao paciente. Sempre
que um tecido vivo é exposto
à radiação ionizante, há certo
dano, que pode ser reparado ou
não. O dano de cada radiação
subsequente se soma ao dano da radiação é absorvida pelo vel onde, além de equipamentos
não reparado. Uma correta uti- elemento a ser restaurado, outra adequados, também exista uma
lização dos raios X deve sempre é dispersada para estruturas temperatura normal e um ar
levar em consideração a prote- vizinhas e o restante é refletido saudável. Quando o profissional
ção do paciente, do operador para o operador. Tal fato deve não tem sensação de frio ou
e das áreas adjacentes, sendo ser levado em consideração, calor, diz-se que há conforto
que é de responsabilidade do pois pode ocasionar reações térmico. As condições reco-
cirurgião-dentista a cargo do fototóxicas e fotoalergênicos mendáveis para o consultório
aparelho de raios X ter certeza nos olhos e pele do operador. odontológico, em que nossos
de que a exposição está em corpos estão adaptados ao calor,
nível satisfatoriamente baixo. Ruído – O ruído faz parte são de 20 a 24° C, com umidade
Os indivíduos irradiados podem das condições insalubres que relativa de 40 a 60%. Entre as
apresentar eritema, alterações necessitam de uma avaliação medidas para se evitar o calor
de contagem sanguínea, ulce- qualitativa e quantitativa. O no ambiente de trabalho estão:
rações, esterilidade, canceriza- cirurgião-dentista está exposto reduzir as fontes de produção
ção, diminuição da longevidade a várias fontes de ruído, como de calor, os esforços físicos por
e morte. Os quadros se manifes- compressores de ar, sugadores meio do trabalho em equipe e
tam lentamente sem que possam de alta potência e turbinas de alta reduzir a jornada de trabalho;
ser percebidos na maioria dos rotação. As alterações provoca- planejar o ambiente de trabalho
casos. O período latente dessas das por um alto nível de ruído de forma a garantir uma boa
lesões é de 10 a 15 anos após causam reações que podem ser ventilação; repor a água perdida
as primeiras exposições. Com passageiras ou, em alguns casos pela transpiração; aumentar a
relação à luz ultravioleta, utili- mais graves, irreversíveis. velocidade do ar, se a temperatu-
zada para a polimerização das ra deste for mais baixa que a da
resinas, dependendo do ângulo, Calor – O rendimento nor- pele; utilizar vestuário adequa-
da distância e do espectro da mal em um consultório exige um do; procurar fazer alimentação
luz do fotopolimerizador, parte ambiente de trabalho confortá- e higiene adequados.

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O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

Ventilação – Ventilação é o Mercúrio – De todos os ris- com vazamento, a remoção de


processo de renovação de ar. O cos químicos, o mais importante restaurações de amálgamas sem
fim fundamental da ventilação e mais perigoso é o acarretado refrigeração adequada, existên-
seria controlar a pureza do ar. pelo mercúrio. Há mais de um cia de fendas no piso do local de
Entretanto, com a ventilação século o mercúrio tem sido trabalho, emprego de fontes de
simples, controla-se somente sua utilizado na prática odontoló- calor próximas ao mercúrio, re-
velocidade e distribuição. Para que gica por sua capacidade de se síduos de amálgama removidos
se possa controlar a velocidade, a unir a metais (amalgamar), seu ou de seus excessos deixados
temperatura e a umidade do ar, é baixo custo e sua rápida fixação nas cuspideiras, resíduos não
necessário ar condicionado. Num na reparação dos dentes. Os armazenados adequadamente
regime de clima quente, em am- profissionais de saúde bucal e a volatilização produzida du-
bientes de temperatura elevada, há são expostos aos vapores de rante a condensação. Os riscos
redução de velocidade das reações mercúrio, que, mesmo em con- do mercúrio podem ser minimi-
e diminuição da agilidade mental centrações baixas, provocam zadas seguindo as normas ade-
do profissional, aumentando as alterações nos sistemas bioló- quadas, executando um sistema
possibilidades de acidentes e er- gicos do corpo, estabelecendo de gestão que permita reduzir
ros, além de afetar grandemente a desde quadros denominados a concentração de mercúrio na
produtividade do trabalho. micromercurialismo até, em área de trabalho, minimizando
exposições mais acentuadas, o contato entre o mercúrio e o
Agentes mecânicos – Vários hidrargismo. O micromercu- profissional e seus auxiliares,
tipos de problemas mecânicos rialismo produz, basicamente, além de dar o correto destino
podem ocorrer ao cirurgião- alterações na esfera afetiva da aos restos de amálgama.
-dentista e seus auxiliares du- personalidade, como depressão
rante os diversos procedimentos leve, irritabilidade, labilidade Látex – Entre as doenças
odontológicos, como partículas emocional, diminuição da li- observadas em cirurgiões-den-
de tártaros atingindo os olhos bido, lentidão dos processos tistas está o eczema de contato
durante a raspagem coronal, mentais, ansiedade, anorexia através do látex ou dos múltiplos
cortes com instrumentos afiados e insônia. Já o hidrargismo aditivos utilizados no processo
e perfurações com agulhas ou corresponde a uma intoxicação de fabricação da luva cirúrgica
instrumentos pontiagudos. Tais aguda mais severa, caracteriza- (estabilizadores, plastificantes,
problemas podem resultar em da por tremores finos que podem corantes, antioxidantes, fungici-
graves lesões, levando inclusive evoluir para convulsão, perda das e bactericidas). A dermatite
ao afastamento do profissional. de apetite, depressão, fadiga, na região das mãos é um proble-
insônia, dor de cabeça, ulcera- ma ocupacional na Odontologia
Riscos químicos ções e pigmentação escura da associado ao uso contínuo das
Os principais riscos quími- mucosa bucal, perda de dentes, luvas de proteção. Essas luvas
cos em um consultório odontoló- alterações no comportamento podem exacerbar uma dermatite
gica envolvem mercúrio, látex, social, desordens da fala, dimi- de contato, aumentando a proba-
produtos da clínica odontológica nuição do campo visual e gosto bilidade de reações adversas aos
e produtos de limpeza. Irritações metálico na boca. Seu vapor demais componentes da luva.
nos olhos e vias respiratórias pode ser absorvido pela pele ou
têm sido associadas à exposi- pelas vias respiratórias, tendo Riscos biológicos
ção a substâncias voláteis de seu componente ativo uma alta Todas as pessoas envolvidas
resina, produtos de limpeza e afinidade pelo tecido nervoso. em um atendimento odontológi-
reveladores e fixadores de raios Para o cirurgião-dentista e co estão sujeitas à contaminação
X, incluindo procaína, sabões, seus pacientes, a exposição por vírus, bactérias e fungos,
eugenol, formalina, fenol e ou- aos vapores de mercúrio tem que podem causar diversas
tros desinfetantes. Reações ao como fontes o derramamento enfermidades. As principais
monômero de metil metacrilato acidental, a torção com o lençol infecções virais de reconhe-
e matérias de impressão (elas- de camurça para remoção do ex- cida transmissão ocupacional
tômeros) também têm sido foco cesso de mercúrio do amálgama, na prática odontológica são:
de pesquisas. os amalgamadores mecânicos hepatites A, B, C, D e E; Aids

206 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011


O D O NT O L O G I A D O T R A B A L H O

(HIV); herpes; gripe, rinovírus


e adenovírus; vírus coxsackie;
papilomavírus humano; vírus
linfotrópico humano I; rubéola;
sarampo e parotidite virótica.
Entre as infecções bacterianas
encontram-se: tuberculose,
sífilis, blenorragia (gonorreia),
difteria e legionelose. Com
relação aos fungos, os mais
presentes no dia a dia da clí-
nica são: Candida, Fusarium,
Cadosporium, Alternaria e Pe-
nicillium. As principais vias de
disseminação dos microrganis-
mos patogênicos são: o sangue
do paciente infectado; gotículas
de aerossol contendo saliva, se-
creções do periodonto e dente;
contato direto com o paciente
e equipamento contaminados,
e aerossol emitido pelas peças
de mão contaminadas por mi-
crorganismos.

Riscos ergonômicos
Os riscos ergonômicos abran- o melhor atendimento clinico grupos de resíduos biológicos
gem: instalação, modelo e idade à população. A edição 102 da e químicos. O grupo biológico
dos equipamentos; fluxograma Revista ABO Nacional tratou inclui resíduos que possuam
da clínica; pessoal auxiliar; jor- do assunto em toda a sua com- agentes biológicos ou outros
nada de trabalho; repetitividade plexidade, e pode ser acessada que se apresentem contamina-
e monotonia. A ergonomia tem na íntegra no Portal da ABO dos por eles, que possam trazer
como objetivo racionalizar o tra- (www.abo.org.br). riscos à saúde pública e ao meio
balho, possibilitando ao profis- ambiente, como secreções,
sional a eliminação de manobras Riscos sociais excreções e outros fluídos or-
não produtivas, permitindo-lhe Os riscos sociais se referem gânicos quando coletados; ma-
produzir mais e melhor dentro à relação do profissional com teriais descartáveis utilizados;
da menor unidade de tempo, com pacientes, protéticos, auxiliares, peças anatômicas; materiais
menos estafa, maior produtivi- órgãos da classe, administrado- perfurocortantes contamina-
dade e maiores rendimentos, ao res de convênios e o isolamento dos, etc. Já o grupo químico
mesmo tempo em que dá maior dentro do consultório. abrange resíduos que apresen-
conforto e segurança ao pacien- tam risco à saúde pública e ao
te. Essa nova maneira de encarar Riscos ambientais meio ambiente devido às suas
a Odontologia fez com que as Os principais riscos ambien- características químicas, como
empresas passassem a produzir tais odontológicos são referen- resíduos inflamáveis e corrosi-
equipamentos que atendem às tes ao lixo hospitalar e ao esgoto vos; medicamentos vencidos,
especificações ergonômicas, do consultório. De acordo com contaminados, interditados e
tanto em sua construção como o Conselho Nacional do Meio parcialmente utilizados; anti-
na combinação de seus diversos Ambiente, os resíduos gerados microbianos e hormônios sin-
elementos, permitindo à clas- em consultório odontológico téticos; mercúrio e amálgamas;
se odontológica atingir a sua que apresentam riscos ao meio saneantes e domissanitários, e
finalidade, que é proporcionar ambiente são classificados em reveladores de filmes.

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 207


208 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Instruções aos autores


A Revista ABO Nacional é uma O idioma do texto pode ser o portu- unidades comuns de medida.
publicação bimestral da Associação guês (neste caso, com título, keywords e As notas de rodapé são indicadas
Brasileira de Odontologia, dirigida à abstratc em inglês); ou inglês, desde que por asteriscos e restritas ao indispen-
classe odontológica e aberta à publica- tenham título, palavras-chave e resumo sável.
ção de artigos inéditos nas categorias de traduzidos para o português, pelo autor.
pesquisa científica e relatos de caso(s) Exige-se declaração assinada pelo Ética
clínico(s). Artigos de revisão da litera- autor e coautore(s), responsabilizando
tura, bem como matérias/reportagens se pelo trabalho, constando nome, en- Estudos que envolvam seres hu-
de opinião, só serão aceitos em caráter dereço, telefone e e-mail do autor que manos ou animais, ou suas partes,
especial, mediante convite do Conselho ficará responsável pela correspondência bem como prontuários e resultados de
Editorial Científico. (Declaração de Responsabilidade), em exames clínicos, devem estar de acordo
Os artigos devem ser enviados à duas vias (original e cópia). Recomenda- com a Resolução 196/96 do Conselho
sede administrativa da Revista ABO -se que os autores retenham cópia em Nacional de Saúde e seus complemen-
Nacional (Rua Dois Irmãos, 165, Re- seu poder. tos. É necessário o envio do documento
cife/PE, CEP 52071-440) impressos Os artigos devem ser digitados comprobatório desta legalidade aprova-
em uma cópia, rubricadas suas páginas (fonte Times New Roman, corpo 12) e do pelo Comitê de Ética em Pesquisa
pelo autor principal, e em CD (mídia im­pressos em folha de papel tamanho da Unidade, o qual deve ser citado no
digital) com os arquivos de texto e ima- A4, com espaço duplo e margens laterais texto do item Material e Métodos ou
gens gravados em Word for Windows de 3 cm, e ter até 15 laudas com 30 linhas Relato de Caso, conforme a categoria
e JPEG, respectivamente. cada (incluindo ilustrações). do trabalho, fazendo constar um Termo
As ilustrações (fotografias, tabelas, de Consentimento Livre e Esclarecido
Apresentação quadros, gráficos e desenhos), limitadas (TCLE) do paciente.
dos artigos até o número máximo de 10 e citadas no
texto do trabalho; devem ser apresenta- Preparo do trabalho
Os artigos devem ser inéditos, das em folhas separadas e numeradas,
não sendo permitida a sua apresenta- em algarismos arábicos. Cada tipo de 1.Página de identificação: Deve
ção simultânea em outro periódico. ilustração deve ter a numeração própria conter o título do artigo e subtítulo em
Reservam-se os direitos autorais do sequencial de cada grupo. As legendas português e inglês (conciso, porém
artigo publicado, inclusive de tradu- das fotografias, desenhos e gráficos informativo); nome do(s) autor(es) e
ção, permitindo-se, entretanto, a sua devem ser claras, concisas e localizadas coautor(es), indicando em nota de ro-
reprodução como transcrição e com abaixo das ilustrações, precedidas de dapé a titulação máxima e uma única
a devida citação da fonte (Declaração numeração correspondente. filiação por autor, sem abreviaturas.
de Transferência de Direitos Autorais). As fotografias/imagens devem ser Ex.: Professor Associado da Universi-
Todos os artigos são analisados enviadas impressas (dimensão 12 x 9 dade Federal de Pernambuco ou Doutor
pelo Conselho Editorial Científico, que cm, em papel fotográfico brilhante e con- em Odontopediatria pela Universidade
avalia o mérito do trabalho. Aprovados traste correto) e digitalizadas (arquivos de São Paulo. Incluir o endereço eletrô-
nesta fase, os artigos são encaminhados JPEG - 300 DPIs - gravados em CD). nico de cada um. Abaixo do título deve
ao Conselho Consultivo (revisão por As tabelas devem ser numeradas, ser indicada a categoria do trabalho, e,
pares), que, quando necessário, indica consecutivamente, em algarismos ará- no caso de ser baseado em Trabalhos
as retificações que devem ser feitas bicos. As legendas das tabelas e quadros de Conclusão de Curso/ Mono­gra­fias /
antes da edição. devem ser colocadas na parte superior Dissertação ou Tese, informar e colocar
Quando houver mais de cinco auto- das mesmas. Não traçar linhas internas o nome da instituição e o ano da defesa.
res, justificar a efetiva contribuição de horizontais ou verticais. As notas expli- Resumo/Abstract : Deve apresen-
cada um deles. cativas devem vir no rodapé da tabela. tar-se em um texto de 250 palavras, con-
Os artigos devem atender à política Para unidades de medida, usar tendo o objetivo, o método, os resultados
editorial da Revista e às instruções aos somente as unidades legais do Siste- e as conclusões do trabalho. Utilizar o
autores, baseadas no Uniform Requi­ ma Internacional de Unidades (SI). verbo na terceira pessoa do singular e
rements for Manuscripts Submitted Quanto às abreviaturas e símbolos, na voz ativa. Não deve incluir citações
to Biomedical Journals (estilo Van- utilizar somente abreviaturas padrão. bibliográficas. Os resumos dos artigos
couver), elaborado pelo International O termo completo deve preceder a originais devem conter informação
Committee of Medical Journal Editors abreviatura quando ela for empregada estruturada constituída de: Introdução
(ICMJE). pela primeira vez, salvo no caso de – Material e Métodos – Resultados –
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 209

Conclusões. Para outras categorias, o INTRODUÇÃO correspondente às referências. Ex:


formato do resumo deve ser o narrativo. RELATO DE CASO A prótese adesiva foi introduzida há
Abstract em inglês para os trabalhos em DISCUSSÃO poucas décadas3.
português, ou em português ou espanhol CONCLUSÃO(ÕES) Citar os nomes dos autores no texto
caso o texto principal seja apresentado AGRADECIMENTOS com seus respectivos números sobres-
em inglês. REFERÊNCIAS critos e data entre parênteses só quando
Palavras-chave/Keywords: identifi- for necessário enfatizá-los. Quando
cam o conteúdo dos artigos. Consultar REFERÊNCIAS houver dois autores, mencionar ambos
os Descritores em Ciências da Saúde ligados pela conjunção “e”; se forem
(DeCS/Bireme), disponíveis em www. No máximo em número de 30. mais de três, cita-se o primeiro autor
bireme.br/decs, e Medical Subject He- Devem ser numeradas de acordo com a seguido da expressão et al. Ex: Loe et
adings do Index Medicus. ordem em que foram mencionadas pela al.2 (1965) comprovaram que o acúmulo
primeira vez no texto, de acordo com o de placa bacteriana está relacionado
Estrutura do texto estilo Vancouver, conforme orientações com o desenvolvimento da gengivite.
fornecidas pelo International Commit- Citação de citação (apud) e comu-
A – Trabalho de Pesquisa Cien- tee of Medical Journal Editors (ICMJE). nicação pessoal devem ser citadas no
tífica Disponível em: www/nlm.nih.gov/bsd/ texto e indicadas em notas de rodapé,
INTRODUÇÃO – Deve ser con- uniform_requi rements.html com asterisco, sem fazer parte da lista
cisa, explanar os pontos essenciais do Publicações com até seis autores, de referências.
assunto e o objetivo do estudo baseado citam-se todos; além de seis, acrescen-
em referências fundamentais. tar em seguida à expressão et al. CHECK LIST PARA ENVIO
MATERIAL E MÉTODOS – Os títulos dos periódicos devem
Descreve a seleção dos indivíduos que ser abreviados de acordo com o List 1. Manuscrito (01 original impresso
intervieram na pesquisa, incluindo os of Journals Indexed in Index Medicus rubricado em suas páginas pelo autor
controles e os métodos relacionados às (http://www.nlm.nih.gov/) principal e 01 CD com arquivos do
etapas da pesquisa. Exemplos: manuscrito gravados)
Os métodos e os equipamentos Artigo de periódico 2. Documento comprobatório da
(apresentar nome, cidade e país do fa­­­ Brinhole MCP, Teixeira R, Tosta M, legalidade ética do trabalho aprovado
bri­cante entre parênteses), bem como os Giovanni EM, Costa C, Melo JAJM, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
fármacos, incluindo os nomes genéricos et al. Intubação submental: evitando Unidade, conforme resolução 196/96
e produtos químicos, devem ser identi- a traqueostomia em cirurgia bucoma­ e suas complementares do Conselho
ficados no texto. xilo­facial. Rev Inst Ciênc Saúde. 2005 Nacional de Saúde do Ministério da
RESULTADOS – Apresentar os abr-jun; 23(2):169-72. Saúde, Termo de Consentimento Livre
resultados, sempre que possível, subdi- Artigo de periódico em formato e Esclarecido (casos clínicos)
vididos em itens e apoiados em gráficos, eletrônico 3. Formatação e apresentação do
tabelas, quadros e figuras. Abood S. Quality improvement ini- texto de acordo com as Instruções aos
DISCUSSÃO – Enfatizar os aspec- tiative in nursing homes: the ANA acts Autores
tos novos e importantes do estudo e não in an advisory role. Am J Nurs [serial on 4. Referências segundo estilo Van-
repetir em detalhes o que já foi citado the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug couver
em Introdução e Resultados. 12];102(6):[about 3 p.]. Available from: 5. Declaração de transferência de
CONCLUSÃO(ÕES) – Vincular www.nursingworld. org/AJN/2002/ direitos autorais (ver em www.abo. org.
as conclusões aos objetivos do estudo june/Wawatch.htm br)
e respaldadas pelos dados. Quando for Livro 6. Declaração de responsabilidade
conveniente, incluir recomendações. Newman MG. Carranza periodontia (ver em www.abo.org.br)
AGRADECIMENTOS – Quando clínica. 9ª ed. Rio de Janeiro : Guana-
necessários, devem ser mencionados os bara Koogan; 2004.
nomes dos participantes, instituições e/ Dissertação e Tese
ou agências de fomento (com número Ferreira TLD. Ultra-sonografia
do processo) que contribuíram para o – recurso imaginológico aplicado à
trabalho. Odontologia [dissertação de mestrado]
São Paulo: Faculdade de Odontologia Fale conosco
REFERÊNCIAS da Universidade de São Paulo; 2005. Dúvidas ou sugestões: Telefax
Citações no texto (+55 81) 3269.5576 / 3441.0678
B – Trabalho de relato de caso(s) No texto, identificar os autores E-mail: revista.abo@bol.com.br
clínico(s): em algarismos arábicos sobrescritos,
210 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Pesquisa científica

Obliteração do canal pulpar do incisivo central


superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma
- Acompanhamento clínico-radiográfico

Pulp canal obliteration of upper left central incisor of a young patient after trauma -
Monitoring clinical-radiographic

Marina Sena Lopes da Silva SacchettoI RESUMO


José Jeová Siebra Moreira NetoII Uma das complicações tardias que podem ocorrer em dentes que sofreram trauma é a
obliteração do canal pulpar (OCP). Essa condição torna o dente mais susceptível ao de-
Isaurinda Lima LopesIII senvolvimento de necrose pulpar. A conduta clínica após o diagnóstico de OCP não está
Fernanda Matias de CarvalhoIV bem definida. Enquanto alguns cirurgiões-dentistas optam pelo tratamento endodôntico
radical, outros elegem o acompanhamento clinicoradiográfico. Esse trabalho teve como
objetivo apresentar um caso clínico do elemento dentário incisivo central superior es-
querdo permanente de uma paciente jovem de 7 anos de idade com OCP após intrusão.
O tratamento de escolha foi o acompanhamento clinicoradiográfico e, 18 meses após o
diagnóstico, o dente continua apresentando vitalidade pulpar. Embora, os dentes que apre-
sentem obliteração do canal pulpar tenham maior risco de desenvolverem necrose pulpar,
o tratamento endodôntico profilático, nesses casos, não deve ser uma conduta de rotina.

Palavras-chave: Traumatismos dentários/complicações. Canal da polpa. Cavidade


pulpar/patologia.

ABSTRACT
One of the late complications that can occur on teeth that have suffered trauma is the
pulp canal obliteration (PCO). This condition makes the tooth more susceptible to the
development of pulp necrosis. The clinical management after the diagnosis of OCP is
not well defined. While some dentists opt for radical endodontic treatment, others prefer
the monitoring clinical-radiographic. This study aimed to present a clinical case of tooth
upper left central incisor of a young patient of 7 years of age with OCP after intrusion.
The treatment of choice was the monitoring clinical-radiographic and, 18 months after
diagnosis, the tooth continues to show vitality’signs. Although, teeth showing pulp canal
obliteration are at greatest risk of developing pulp necrosis, endodontic prophylactic
treatment in such cases should not be a routine practice.

Keywords: Tooth injuries/complications. Dental pulp cavity/pathology.

INTRODUÇÃO de OCP em dentes que apresentam o


Após o trauma, a polpa de um ápice aberto no momento do trauma,
dente pode sofrer três tipos de reação: em relação aos dentes que apresentam
I Especialista em Odontopediatria pela Escola sobreviver, sofrer necrose ou sofrer o ápice fechado.
de Aperfeiçoamento Profissional da Associa- obliteração1. A obliteração é caracterizada pela
ção Brasileira de Odontologia, Seção Ceará A obliteração do canal pulpar pode deposição de tecido duro no espaço do
(EAP-ABO/CE).
II Professor Doutor Adjunto I da Disciplina de
ser vista como uma resposta à restrição canal radicular4. Geralmente, a deposi-
Odontopediatria, Departamento de Clínica ao suporte neurovascular da polpa ção avança em uma direção coronoa-
Odontológica, Universidade Federal do Ceará levando a um aumento da deposição pical: o primeiro sinal radiográfico é a
(UFC). de dentina2. diminuição da câmara pulpar seguido
III Especialista em Odontopediatria pela EAP-
-ABO/CE.
Essa condição é mais comum após por um gradual estreitamento do canal
IV Mestranda do Programa de Pós-Graduação extrusão, luxação lateral e intrusão3. Es- radicular. A OCP pode ser parcial, limi-
em Odontologia da UFC. tudos mostram que há maior frequência tada à parte coronária do dente, ou total,

Sacchetto, Marina Sena Lopes da Silva et al. Obliteração do canal pulpar do incisivo central
superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma - Acompanhamento clinicoradiográfico
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 211

ocupando a parte coronária e radicular3. que após o acidente não apresentou


Quanto aos aspectos clínicos, os sintomas sistêmicos como dor de ca-
dentes com OCP são descritos como beça, náusea ou perda de consciência.
mais escuros em relação aos elementos A paciente também não apresentava
adjacentes exibindo uma cor amarelada visão dupla, sinais de fratura do es-
devido à diminuição na sua translucên- queleto facial ou sensibilidade ao frio
cia causada pela maior espessura de ou ao calor; entretanto apresentava Fig. 1 - Fotografia inicial.
dentina sob o esmalte5. Além disso, os sangramento nasal.
dentes com OCP podem não responder Ao exame clínico, foi diagnostica-
ao teste de vitalidade pulpar ou respon- da intrusão leve nos elementos 11 e 21
der de forma tardia6. e laceração e contusão do lábio inferior
Estudos sugerem que dentes per- (Figura 1). Não foram diagnosticadas
manentes com OCP apresentam alte- fraturas dentárias. Os elementos 11 e 21
rações patológicas periapicais; e com não responderam ao teste de vitalidade
o decorrer do tempo, poderão resultar (ao frio e ao calor), apresentavam mo-
em necrose pulpar7. bilidade, sem alteração de mudança de
O tratamento de dentes permanentes cor. Foi realizada contenção semirrígida Fig. 2 - Radiografia inicial.
com OCP é controverso. Alguns autores e radiografia periapical (Figura 2).
afirmam que o tratamento endodôntico Após 15 dias, a paciente retornou
deve ser realizado tão logo a obliteração para retirada da contenção e reavalia-
é diagnosticada; e sugerem que o dente ção clínica. Os elementos dentários
obliterado deve ser considerado um 11 e 21 não apresentavam mudança
foco potencial de infecção, no qual o de cor, não respondiam ao teste de
tratamento tende a ficar cada vez mais vitalidade pulpar e apresentavam
difícil com o aumento da calcificação4. mobilidade grau 1. A contenção foi
Outros afirmam que o tratamento retirada e a paciente foi orientada a
endodôntico deve ser realizado apenas retornar para controle periódico. O
Fig. 3 - Radiografia 30 dias após o trauma.
em casos de necrose pulpar. Segundo primeiro retorno foi realizado após Nota-se ausência de alterações periapicais.
a literatura, a média de necrose, em 15 dias (Figura 3) e não foi detectada
dentes com OCP, é relativamente baixa alterações ao exame clinicoradio-
variando de 1% a 13%; onde muitos gráfico. Seis meses após o trauma,
tratamentos seriam feitos de forma a paciente foi submetida a um novo
desnecessária3-5,8,9. exame de rotina. Verificou-se que os
A proposta do presente artigo foi elementos 11 e 21 encontravam-se
descrever um caso clínico no qual em posição dentro dos padrões de
uma paciente de 7 anos de idade teve o normalidade; sem alterações peria-
incisivo central superior esquerdo obli- picais (Figura 4).
terado após uma intrusão diagnosticada Dezoito meses pós-trauma, foi
como leve. Apesar de muitos estudos realizado o exame de controle de ima- Fig. 4 - Radiografia seis meses após o trauma.
relatarem um aumento na possibilidade gens, com sugestão de obliteração no Nota-se a ausência de alterações periapicais.
de necrose pulpar em dentes obliterados canal pulpar do elemento 21 (Figura
após trauma, o tratamento de escolha foi 5). O elemento 11 não apresentava essa
o acompanhamento clinicoradiográfico condição. Ambos não responderam ao
periódico. teste de vitalidade pulpar e não tinham
alteração de cor; assim como não foram
RELATO DE CASO detectadas lesões periapicais.
Paciente de 7 anos de idade, sexo A paciente retornou ao Centro de
feminino, compareceu ao Centro de Traumatismo Buco-dentário da UFC
Traumatismo Buco-dentário da Univer- para reavaliação seis meses após o
sidade Federal do Ceará com história diagnóstico de OCP. Na avaliação cli-
de traumatismo dentário ao brincar na nicoradiográfica, não foram registradas Fig. 5 - Radiografia 18 meses após o trauma.
gangorra do colégio. A mesma relatou novas alterações (Figura 6). Nota-se a presença de OCP no elemento 21.

Sacchetto, Marina Sena Lopes da Silva et al. Obliteração do canal pulpar do incisivo central
superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma - Acompanhamento clinicoradiográfico
212 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Radiograficamente, a OCP pode


ser dividida em parcial, quando a
parte coronária da câmara pulpar não
está nitidamente visível, enquanto a
parte radicular do canal está ainda
visível; ou total, quando a câmara
pulpar e canal radicular estão di-
ficilmente diferenciáveis ou não
diferenciáveis 3,11. No caso clínico
apresentado, a obliteração foi total:
câmara pulpar sem visibilidade; além
de o canal radicular encontrar-se com
Fig. 6 - Radiografia 6 meses após o Fig. 10 - Radiografia 4 anos após o trauma dificuldades de ser diferenciado.
diagnóstico de OCP. (30 meses após o diagnóstico de OCP). Em relação às características clí-
Nota-se ausência de alterações periapicais.
nicas, autores relatam que os dentes
com OCP tendem a apresentar alte-
Foram realizados novos exames rações na cor da coroa2,5,13. A coroa,
de controle 18 meses e 30 meses após que em caso de necrose pulpar geral-
o diagnóstico de OCP. Os elementos mente torna-se acinzentada, no caso
11 e 21 (acometidos pelo trauma) da OCP pode tornar-se amarelada.
e 12 e 22 (para controle) foram Outra característica é a diminuição
submetidos aos testes de vitalidade ou ausência de resposta aos testes de
(frio e calor) sendo que os elementos vitalidade pulpar devido ao excesso
12 e 22 reagiram positivamente aos de tecido duro no conduto radicular5,6.
Fig. 7 - Foto 18 meses após o diagnóstico testes de vitalidade, enquanto que os No caso apresentado, o elemento 21
de OCP. Nota-se ausência de diferença de elementos 11 e 21 não responderam não respondeu ao teste de vitalidade
cor entre os dentes 11 e 21.
aos mesmos testes. Nenhum desses pulpar, mas, até a última avaliação,
elementos apresentou alteração da não foi diagnosticada mudança na
coloração na coroa dentária (Figura coloração da coroa.
7 e Figura 9). Não foram observadas Em relação ao prognóstico de
alterações na leitura das imagens radio- dentes com OCP alguns autores con-
gráficas (Figura 8 e Figura 10). A pa- cordam que esses dentes têm maior
ciente continua em acompanhamento. chance de desenvolverem necrose
pulpar quando comparados a dentes
DISCUSSÃO não obliterados, e que a ocorrência
A obliteração do canal pulpar é de lesões periapicais aumenta com o
a deposição de tecido duro ao longo passar dos anos14,4,8,15. Isso se deve,
do espaço do canal radicular. Embora provavelmente, a novas injúrias
essa deposição ocorra naturalmente causando necrose isquêmica da polpa
Fig. 8 - Radiografia 18 meses após o
por toda a vida10, pode ser acelerada devido à ruptura dos poucos vasos
diagnóstico de OCP. Nota-se ausência de devido a várias causas como cárie, sanguíneos existentes. Bauss, Ro-
alterações periapicais. doença periodontal 11 , autotrans- bling, Rabman e Kiliaridis12 (2008)
plante 1, terapias ortodônticas 12 e, acrescentam que dentes com OCP
principalmente, devido aos traumas3. parcial têm um melhor prognóstico
Os traumas que mais ocasionam quando comparados aos dentes com
OCP são a extrusão, luxação lateral OCP total, em detrimento de a obli-
e intrusão, principalmente em dentes teração ocorrer primeiro na câmara
com o ápice aberto2,3,5. No presente pulpar; enquanto o canal radicular
caso, a obliteração ocorreu após e provavelmente o forame apical
uma leve intrusão do elemento 21 e somente mostram um leve estreita-
Fig. 9 - Foto 30 meses após o diagnóstico de
OCP. Vista por vestibular. Nota-se a mesma o mesmo apresentava o ápice aberto mento. Assim, ocorre somente uma
coloração entre os elementos 11 e 21. no momento do trauma. limitada constrição dos vasos apicais

Sacchetto, Marina Sena Lopes da Silva et al. Obliteração do canal pulpar do incisivo central
superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma - Acompanhamento clinicoradiográfico
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 213

permitindo uma suficiente perfusão deve ser avaliada a questão estética. possibilidade do elemento dentário
pulpar. O autor acredita que o tratamento vir a perder a sua vitalidade no de-
Outros fatores que favorecem o endodôntico é indicado também correr dos anos pós-trauma8.
aparecimento de necrose pulpar em nos casos de dentes com OCP com
dentes com OCP são: 1- o grau de coloração escurecida. Essa seria a CONCLUSÃO
formação radicular na hora da injúria: única maneira de realizar o clarea- A OCP é uma possível conse-
é mais comum em dentes que possuem mento interno da coroa2. Robertson5 quência tardia do trauma dental.
a raiz completamente formada e fora- (1998) concorda que o tratamento Embora os dentes que apresentam
me apical estreito; 2- intensidade da endodôntico seria uma vantagem para obliteração pulpar tenham maior risco
injúria: injúrias severas causam mais o tratamento estético, mas afirma de desenvolverem necrose pulpar, o
necrose; 3- rapidez de calcificação que quando instituído em um dente tratamento endodôntico profilático
após a injúria: dentes com calcifi- permanente jovem e não completa- não deve ser uma conduta de rotina.
cação rápida da polpa após injúria mente desenvolvido, essa conduta A melhor conduta frente a esses
traumática têm maiores chances de clínica pode acarretar fraturas radi- dentes é o acompanhamento clínico
sofrer necrose pulpar8,14,16. culares cervicais. O autor acredita e radiográfico periódico.
Existem várias opiniões sobre que quando o tratamento endodôntico
qual conduta seguir frente a um dente é realizado profilaticamente, pode
REFERÊNCIAS
com OCP e ausência de lesão peria- ocorrer intervenções desnecessárias
1. Chappuis V, von Arx T. Replanta-
pical. Isso se deve à maior chance cujos elementos não seriam passíveis tion of 45 avulsed permanent tee-
desses dentes desenvolverem necrose de necrose. th: a 1-year follow-up study. Dent
pulpar; e a crescente dificuldade, na A grande maioria dos autores dis- Traumatol. 2005 Oct;21(5):289-96.
realização do tratamento endodôntico corda das afirmações anteriormente 2. de Cleen M. Obliteration of pulp
nos canais pulpares progressivamen- citadas. Para eles, a intervenção canal space after concussion and
te mais obliterados. endodôntica só deve ser feita em subluxation: endodontic conside-
Alguns autores acreditam que a dentes com OCP se, após acom- rations. Quintessence Int. 2002
terapia endodôntica deve ser feita panhamento, surgirem alterações Oct;33(9):661-9.
3. Andreasen FM, Zhijie Y, Thom-
rotineiramente, independente da perirradiculares. Os mesmos após
sen BL, Andersen PK. Occurren-
presença de lesão periapical. Para estudos e acompanhamento perce- ce of pulp canal obliteration after
esses autores além desses dentes beram que o número de dentes com luxation injuries in the permanent
terem maior chance de necrose; a OCP que sofrem necrose pulpar é dentition. Endod Dent Traumatol.
espera poderia tornar o tratamento relativamente pequeno; e a terapia 1987 Jun;3(3):103-15..
mais difícil devido à crescente cal- endodôntica realizada nesses dentes 4. Amir FA, Gutmann JL, Witherspo-
cificação da polpa, caso a necrose poderia ser extremamente difícil e on DE. Calcific metamorphosis: a
fosse diagnosticada4. desnecessária. Além disso, a terapia challenge in endodontic diagnosis
Neville, Allen, Damm e Bououot10 endodôntica pode, ocasionalmente, and treatment. Quintessence Int.
2001 Jun;32(6):447-55.
(2004) afirmam que além da análise não levar à cura3-5,8,14,15,17.
5. Robertson A. A retrospective eva-
radiográfica deve ser feito o teste de No presente caso, a conduta esco- luation of patients with uncompli-
vitalidade pulpar. Se esse teste for lhida frente ao dente com OCP foi o cated crown fractures and luxation
negativo, o tratamento endodôntico acompanhamento, já que se concor- injuries. Endod Dent Traumatol.
deve ser realizado independente da dou que a média relatada nos casos 1998 Dec;14(6):245-56.
presença de lesão periapical. Sendo de dentes com OCP que desenvolve- 6. Moreira Neto JJS, Godim JO.
positivo, deve-se acompanhar através ram necrose pulpar é relativamente Traumatismo dentário: protocolo
de exames adequados, a evolução baixa; não justificando o tratamento de atendimento. Fortaleza: Pou-
dos sinais e sintomas do elemento endodôntico profilático. Além disso, chain Ramos; 2007.
7. Oginni AO, Adekoya-Sofowora
dentário envolvido. Tal opinião não não foram diagnosticadas alterações
CA. Pulpal sequelae after trauma
condiz com o que afirma a maioria periapicais. Até o presente momento, to anterior teeth among adult Ni-
dos autores pesquisados. Para eles, o 4 anos após o trauma; 30 meses após gerian dental patients. BMC Oral
referido teste não é um método seguro o diagnóstico de OCP, os exames Health. 2007 Aug 31;7:11.
para diagnosticar necrose pulpar em clinicoradiográficos não registraram 8. Jacobsen I, Kerekes K. Long-
dentes com OCP5,6,8. sinalização de necrose. Entretanto, -term prognosis of traumatized
Cleen2 (2002) relata em seus estu- faz-se necessário alargar o período permanent anterior teeth showing
dos que além da análise radiográfica, de acompanhamento em virtude da calcifying processes in the pulp

Sacchetto, Marina Sena Lopes da Silva et al. Obliteração do canal pulpar do incisivo central
superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma - Acompanhamento clinicoradiográfico
214 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

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Guanabara Koogan; 2004. 14. Andreasen FM, Andreasen JO. Endod J. 1998 Sep;31(5):367-71.
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12. Bauss O, Röhling J, Rahman A, 15. Robertson A, Andreasen FM, Berge- Endereço para correspondência:
Kiliaridis S. The effect of pulp nholtz G, Andreasen JO, Norén JG. Marina Sena Lopes da Silva Sacchetto
obliteration on pulpal vitality of Incidence of pulp necrosis subse- E-mail: marinaslopes@yahoo.com.br

anunc 21x14 FINAL.pdf 1 28/06/11 11:48

Sacchetto, Marina Sena Lopes da Silva et al. Obliteração do canal pulpar do incisivo central
superior esquerdo de uma paciente jovem após trauma - Acompanhamento clinicoradiográfico
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 215

Pesquisa científica

Estudo comparativo entre Nimesulida-betaciclodextrina


e Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros
molares mandibulares - Estudo piloto

Comparative study between Nimesulide-cyclodextrin and Meloxicam on postoperative


surgical extraction of mandibular third molars - Pilot study

Liza Porcaro de BretasI RESUMO


Fernanda Oliveira de PaulaII Objetivos -O objetivo deste estudo controlado e duplo-cego foi avaliar o pós-operatório
de exodontias de terceiros molares em relação à sintomatologia dolorosa, edema facial
Karina Lopes DevitoIII e limitação de abertura bucal com administração pré e pós-operatórias de nimesulida-
Neuza Maria Souza Picorelli AssisIV -betaciclodextrina ou meloxicam. Material e Métodos - Trinta pacientes com indicação
Celso Neiva CamposV de exodontia de terceiros molares mandibulares foram divididos em dois grupos - A e B.
Os pacientes de ambos os grupos receberam pré-medicação oral: Grupo A - nimesulida-
-betaciclodextrina 400 mg; e Grupo B - meloxicam 15 mg. A intensidade da dor (ID) foi
expressa por pacientes em uma escala visual analógica. O edema facial (EF) e limitação
de abertura bucal (LAB) foram objetivamente mensurados. Resultados - Para ID, apesar
da dor de baixa intensidade ter sido relatada em ambos os grupos não foram observadas
diferenças estatisticamente significantes (p>0,05). Assim como, no EF e LAB não foram
observadas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos (p>0,05). Conclusões -
Pode-se concluir que a administração pré e pós-operatória de nimesulida-betaciclodextrina
ou meloxicam apresentaram os mesmos resultados no controle da ID, EF e LAB.

Palavras-chave: Cirurgia bucal. Dente serotino/cirurgia. Terceiro molar. Anti-inflamatórios.

ABSTRACT
Objective - The aim of this controlled and double-blind trial was to evaluate the postoperative
pain, swelling and trismus after oral surgery with a pre-emptive/post-surgery regimen of
nimesulide and meloxicam. Material and Methods - Patients undergoing mandibular third
molar extraction surgery were allocated to 2 groups, A and B. Both groups received oral
premedication: Group A - nimesulide-betaciclodextrine 400 mg; and Group B - meloxican
15 mg. Patients scored their pain intensity (PI) on a visual analogue scale. Facial swelling
(FS) and mouth opening limitation (MOL) were objectively measured. Results - Although
low PI has been related in both groups, the results compared among the 2 groups with
no statistical significance (P>0,05). Conclusions - Nimesulide- betaciclodextrine and
meloxican show the same results in control of PI, FS and (MOL).

Keywords: Surgery, oral. Molar, third/surgery. Anti-inflammatory agents.

I Aluna do Mestrado em Clínica Odontológica INTRODUÇÃO organismo e sua intensidade é


da Faculdade de Odontologia, Universidade
O pós-operatório da exodontia proporcional ao trauma tecidual
Federal de Juiz de Fora (UFJF).
II Mestre em Clínica Odontológica pela Facul- de terceiros molares mandibulares local 3-5 . Assim, a prescrição de
dade de Odontologia, da UFJF. impactados envolve dor, edema local anti-inflamatórios não esteróides
III Doutora em Radiologia Odontológica pela e limitação da abertura bucal1. Fatores (AINEs) faz-se necessária quando as
Universidade Estadual de Campinas. Pro-
que contribuem para esta situação são manifestações inflamatórias superam o
fessora Adjunta, da UFJF.
IV Doutora em Odontologia Restauradora pela numerosos e complexos, mas eles se benefício do processo de regeneração
Universidade Estadual Paulista. Professora originam principalmente do processo tecidual6. Vários debates têm sido
adjunta da Faculdade de Odontologia, da UFJF. inflamatório iniciado pelo trauma realizados a respeito dos possíveis
V Doutor em Clínica Odontológica pela
cirúrgico1,2. efeitos colaterais dos anti-inflamatórios
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Professor Associado da Faculdade de O processo inflamatório é um e seu uso indiscriminado. Irritações
Odontologia, da UFJF. mecanismo de defesa natural do gástricas, alterações no mecanismo de

Bretas, Liza Porcaro de et al. Estudo comparativo entre Nimesulida-betaciclodextrina e


Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros molares mandibulares - Estudo piloto
216 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

coagulação, insuficiência renal, são no local. Os critérios de exclusão terceiros molares, Classe I e Posição
alguns dos efeitos adversos relatados7,8. englobaram história de reação alérgica A, segundo a classificação de Pell e
As ciclooxigenases (COX) são a medicamentos, sangramento ou Gregory14. As cirurgias foram realizadas
glicoproteínas diméricas integrais ulceração gastrointestinal, doenças com procedimentos de osteotomia e
da membrana, encontradas cardiovasculares e renais. As mulheres odontosecção de acordo com protocolo
predominantemente no retículo grávidas também foram excluídas do técnico cirúrgico 8,18. Realizada a
endoplasmático, sendo encontradas em estudo. O termo de consentimento exodontia, os sítios cirúrgicos foram
pelomenosduasisoformas:COX1 eCOX2. livre e esclarecido foi assinado pelos irrigados com soro fisiológico resfriado
ACOX1 é constitutivamente expressa em pacientes que aceitaram submeter-se e suturados. Após a cirurgia, os
muitos tecidos, principalmente do trato ao estudo. Estes foram orientados a pacientes foram orientados a seguir a
gastrointestinal. A COX2 é uma enzima não utilizar qualquer agente analgésico prescrição recebida anteriormente em
induzível e responsável pelo aumento da ou tranquilizante anteriormente à envelope lacrado, fazendo ingestão dos
formação de prostaglandinas em sítios cirurgia15,16 anti-inflamatórios correspondentes aos
de inflamação9,10. Na consulta inicial os pacientes grupos A e B. Foram também prescritos
Nimesulida-betaciclodextrina e foram divididos em dois grupos, A e B, para todos os pacientes, antibiótico
meloxicam sãoAINEs preferencialmente recebendo um envelope, previamente (Amoxicilina 500 mg, 3 vezes ao
inibidores de COX2, sendo drogas identificado por um pesquisador não dia, durante período de sete dias) e
viáveis para o uso clínico4,11. Para envolvido com o estudo, contendo medicação de resgate (Paracetamol 750
estes compostos, entretanto, tem sido a medicação anti-inflamatória pré mg), somente se necessário, desde que
difícil atribuir a relação de segurança e pós-operatória e a posologia da nunca em um período inferior a 4 horas
gastrointestinal apesar da preferencial droga correspondente ao grupo. antes das consultas para avaliações.
inibição de COX2, uma vez que em doses No grupo A (n=15) os pacientes Todos os pacientes foram
terapêuticas também reduzem a atividade foram pré-medicados via oral com acompanhados nos períodos de 24 e
de COX110. nimesulida-betaciclodextrina 400 48 horas após a cirurgia. Foram feitos
Embora tenham sido realizados mg (Maxsulid®, Farmasa, São Paulo, exames clínicos pelos pesquisadores,
muitos estudos relacionados com a ação Brasil) aproximadamente 60 minutos ainda sem conhecer o grupo a que
das drogas anti-inflamatórias, incluindo antes da cirurgia, e no pós-cirúrgico um pertenciam os pacientes, sendo avaliada
sua ação analgésica preemptiva9,12-14, comprimido a cada 12 horas durante dois a intensidade da dor (ID), necessidade
existem poucas informações comparativas dias, num total de cinco comprimidos. de medicação de resgate, edema facial
da administração pré-operatória No grupo B (n=15) os pacientes foram (EF) e limitação de abertura bucal (LAB).
de nimesulida-betaciclodextrina e pré-medicados com meloxicam 15 mg A avaliação foi realizada através de
meloxicam na remoção cirúrgica de (Inicox®, Farmoquímica, Rio de Janeiro, dados registrados em um formulário
terceiros molares. Brasil) aproximadamente 60 minutos elaborado pelos pesquisadores, contendo
O objetivo deste estudo controlado e antes do procedimento cirúrgico e, uma escala visual analógica (EVA) com
duplo-cego foi avaliar o pós-operatório posteriormente, administrado uma 10 centímetros de comprimento, para
de exodontias em relação à intensidade vez ao dia durante dois dias, num quantificação da ID. Os pacientes
dolorosa, edema facial e limitação total de três comprimidos. Todos os foram orientados a indicar a (ID),
de abertura bucal com administração pacientes foram medicados com anti- marcando um ponto na escala graduada
pré e pós-operatória de nimesulida- inflamatórios, uma vez que eticamente com extremidades 0 (zero) e 10 (dez)
betaciclodextrina ou meloxicam. não poderia haver um grupo no qual os correspondentes às graduações “sem
pacientes recebessem placebo. dor” e “pior dor” nos períodos de 24h
MATERIAL E MÉTODOS As cirurgias foram realizadas por e 48h após a cirurgia19-21. Foram ainda
Após aprovação do protocolo um pesquisador do Serviço Especial obtidos dos pacientes relatos sobre a
de pesquisa pelo Comitê de Ética de Cirurgia Oral da Universidade necessidade de utilização de medicação
da Universidade Federal de Juiz de Federal de Juiz de Fora, sob anestesia de resgate.
Fora (CEP-UFJF 959-005.2007), local dos nervos alveolar inferior, Para avaliar o edema pós-operatório,
foi realizado estudo controlado e lingual e bucal com prilocaína a 3% as medidas pré-operatórias realizadas
duplo-cego sendo selecionados 30 contendo felipressina 0,03 UI/ml17. A imediatamente antes da cirurgia foram
pacientes com idade entre 18 e 30 mesma técnica cirúrgica foi empregada consideradas como base de comparação
anos, com indicação de exodontia de para todos os pacientes, uma vez (grupo controle) com aquelas realizadas
terceiros molares mandibulares e com que foi utilizada uma amostra por nos períodos de 24 e 48 horas. Tais
ausência de processo inflamatório conveniência, onde foram selecionados medidas faciais foram obtidas a partir

Bretas, Liza Porcaro de et al. Estudo comparativo entre Nimesulida-betaciclodextrina e


Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros molares mandibulares - Estudo piloto
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 217

foi relatada pela maioria dos pacientes


em ambos os grupos (Tabela 1). Na
comparação dos grupos A e B observou-
se que no período de 24h a dor de baixa
intensidade foi relatada por 86,6% dos
pacientes do grupo A e 60% do grupo
B. A mesma intensidade foi relatada
no período de 48 horas em 93,3% dos
pacientes do grupo A e 86,6% do grupo
B. Os demais pacientes de ambos os
grupos relataram dor de intensidade
média. Não houve registro da dor de
alta intensidade. No entanto, não foram
observadas diferenças estatisticamente
significantes entre os grupos A e B
Fig. 1 - Medida 1: sínfise - ângulo mandibular (linha preta); Medida 2: asa do nariz - ângulo (p>0,05).
mandibular (linha vermelha).
A medicação de resgate não foi
necessária para a maioria dos pacientes
de pontos anatômicos marcados com submetidos ao teste não-paramétrico de ambos os grupos sendo utilizada por
azul de metileno: asa do nariz, da de Mann-Whitney utilizando o SPSS 13,3% no grupo A e 40% no grupo B,
sínfise mandibular e ângulo mandibular. versão 13.0 (SPSS Inc, Chicago, USA). não havendo, entretanto, diferenças
Foram consideradas duas medidas: 1. O nível de significância considerado estatisticamente significantes na
Sínfise - ângulo mandibular e 2. ângulo foi de 5%. comparação dos grupos (p>0.05).
mandibular - asa do nariz (Figura 1). As Diferenças entre as medidas
distâncias entre os pontos anatômicos RESULTADOS faciais pré-operatórias (controle) e as
foram obtidas através do uso de um A análise estatística foi realizada realizadas nos períodos pós-operatórios
fio de sutura, e transferidas para uma considerando 30 pacientes: grupo A analisados indicaram o edema facial
régua graduada em milímetros, definida (n=15) e grupo B (n=15). Não foram naquele período (Tabela 2). Na medida
como padrão. Essas mensurações foram observadas diferenças estatísticas entre 1 (sínfise – ângulo mandibular) em
realizadas novamente nos períodos 24 os grupos quanto a dados demográficos ambos os grupos não houve diferenças
e 48 horas após a cirurgia. como sexo, idade e lado submetido estatisticamente significantes nos
A medida da abertura bucal foi à cirurgia. O tempo médio dos períodos analisados em relação às
obtida imediatamente antes da cirurgia procedimentos cirúrgicos realizados medidas pré-operatórias (p>0,05).
(grupo controle) através da mensuração foi de 69,40 minutos. Também na avaliação do edema
da distância interincisal (distância, em Nos períodos pós-operatórios na medida 2 (asa do nariz – ângulo
milímetros, entre os ângulos mesiais analisados a dor de baixa intensidade mandibular) não houve diferenças
incisais de incisivos centrais superiores
e inferiores direitos, na posição de Tabela 1- Intensidade dolorosa nos períodos analisados.
máxima abertura bucal) utilizado um
paquímetro Willis. Da mesma forma, A B p
novas medidas foram realizadas nos 24h 1,87±1,5 3,3±2,4 0,089
períodos de 24 e 48 horas após a cirurgia 48h 1,47±1,3 2±1,2 0,126
com finalidade avaliar a limitação da
abertura bucal15. Valores correspondem às médias ± desvio padrão.

Análises estatísticas foram


realizadas para comparar os dados Tabela 2 - Medida 1 nos períodos analisados.
coletados de ambos os grupos. Para
A B p
comparação de dados nominais,
como a necessidade de medicação de 24h 1,61±0,3 2±1,2 0,126
resgate, foi realizada análise estatística 48h 2,92±0,5 3,3±0,6 0,106
descritiva e teste qui-quadrado. Os
Valores correspondem às médias ± desvio padrão.
demais dados como ID, EF e LAB foram

Bretas, Liza Porcaro de et al. Estudo comparativo entre Nimesulida-betaciclodextrina e


Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros molares mandibulares - Estudo piloto
218 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

fármaco é destituído da maioria dos


Tabela 3 - Medida 2 nos períodos analisados.
efeitos adversos de outros AINEs,
A B p apresentando melhor tolerabilidade
24h 1,8±0,5 1,5±0,4 0,206 gastrointestinal. Seu mecanismo de
ação envolve a redução da síntese
48h 3,0±0,6 2,8±0,7 0,935 de radicais livres que causam
Valores correspondem às médias ± desvio padrão. lesão tecidual, sendo considerado
um poderoso agente antioxidante,
Tabela 4 - Distâncias interincisais nos períodos analisados. uma propriedade anti-inflamatória
i m p o r t a n t e 11 , 2 5 . A a s s o c i a ç ã o
A B P
nimesulida-betaciclodextrina forma
24h -1,2±0,7 -1,1±0,6 0,08 complexos de inclusão, potencializa
48h -1,4±0,7 -1,5±0,7 0,07 a solubilidade, estabilidade e
biodisponibilidade do fármaco26.
Valores correspondem às médias ± desvio padrão.
Meloxicam, um oxicam, é
igualmente classificado como um anti-
inflamatório inibidor preferencial de
estatisticamente significantes entre os estão de acordo com o fato de que a COX-2, embora estudos confirmem
períodos analisados e as medidas pré- medicação de resgate foi utilizada sua ação sobre COX1 quando em altas
operatórias (Tabela 3). pela minoria dos pacientes de ambos concentrações12,13,27. Este bloqueio
As distâncias interincisais nos os grupos sendo utilizada por 13,3% seletivo lhe confere bons resultados
períodos pós-operatórios analisados no grupo A e 40% no grupo B. terapêuticos, com mínimos efeitos
demonstraram-se reduzidas em Ambas as drogas tem seus adversos9.
relação às medidas pré-operatórias, efeitos iniciados na primeira hora Para avaliação clínica do edema
não havendo, entretanto, diferenças após a administração. Assim, neste facial no pós-operatório o método
estatisticamente significantes entre os experimento, foi realizada sua utilizado neste estudo caracteriza-
grupos A e B (Tabela 4). administração pré-cirúrgica de forma se por ser não-invasivo, simples
que houvesse o tempo necessário e facilmente reproduzível, além
DISCUSSÃO para uma adequada absorção e de fornecer dados numéricos para
Na comparação dos grupos quanto estabelecimento de níveis séricos determinação de alterações do
à intensidade da dor relatada pelos suficientes para cobrir todo o contorno dos tecidos moles. Os
pacientes não se observou diferenças transoperatório e permanecer, ainda, resultados sugerem que ambos
estatisticamente significantes, sendo após o efeito do anestésico local9,11-13. os medicamentos foram eficazes
que a dor de baixa intensidade foi a Todos os pacientes foram medicados no controle do edema pós-
mais prevalente em ambos os grupos. com anti-inflamatórios, uma vez que operatório, porém sem diferenças
Embora idealmente o objetivo das de acordo com princípios bioéticos estatisticamente significantes em
medicações fosse eliminar a dor por não poderia haver um grupo no qual ambos os grupos, nos períodos de 24
completo, quando avaliada através os pacientes recebessem placebo, e 48 horas após a cirurgia (p>0,05).
da utilização de uma escala visual ficando privados dos benefícios da Tais resultados estão de acordo com
analógica (EVA) com 10 centímetros medicação. estudos previamente realizados
de comprimento, pacientes com Nimesulida é um anti-inflamatório sobre a ação nimesulida 11,12,25 e
dor pós-operatória de pontuação não esteroidal pertencente à classe meloxicam 9,13,15,27 em relação a
inferior a 3 cm, classificada como das sulfonamidas, apresentando outras medicações anti-inflamatórias
dor de baixa intensidade, seria ações anti-inflamatórias, analgésica indicadas após cirurgias bucodentais.
considerada satisfatória21-23. No grupo e antitérmica, sendo eficiente No que diz respeito à limitação
A (nimesulida-betaciclodextrina) na redução da dor aguda como de abertura bucal nos dois períodos
os pacientes relataram menor em pós-operatórios de cirurgias pós-operatórios, os resultados
intensidade dolorosa em relação ao bucodentais. Sua ação anti- mostraram que não houve diferença
grupo B (meloxicam), entretanto, inflamatória ocorre através da estatisticamente significativa em
não foram observadas diferenças inibição preferencial da enzima comparação com as medidas pré-
estatisticamente significantes entre indutiva COX2, com baixa atividade operatórias em ambos os grupos
os grupos (p>0,05). Tais dados sobre COX1, consequentemente, este (p>0,05). Estes resultados estão

Bretas, Liza Porcaro de et al. Estudo comparativo entre Nimesulida-betaciclodextrina e


Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros molares mandibulares - Estudo piloto
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 219

de acordo com pesquisas que 7. Hamerschlak N.Nishioka SA, 15. Almendros-Marqués N, Alaejos-
analisaram este parâmetro no pós- Sheinberg M. Debate em medici- -Algarra E, Quinteros-Borgarello
operatório13,19,28. na: a controvérsia da questão dos M, Berini-Aytés L, Gay-Escoda C.
antiinflamatórios. Einstein. 2005; Factors influencing the prophylac-
3(1): 56-7. tic removal of asymptomatic im-
CONCLUSÃO 8. Del Tacca M.; Colucci R.; Fornai pacted lower third molars. J Oral
Com base nos dados coletados M.; Blandizzi C. Efficacy and to- Maxillofac Surg. 2008; 37 (1):29-
podemos concluir que nimesulida lerability of Meloxicam, a COX-2 35.
e meloxican apresentaram ação preferential Nonsteroidal Anti-In- 16. Benediltsdóttir IS, Ann Wenzel,
satisfatória na redução da intensidade flammatory Drug: a review. Clin Jens K. Petersen, HanneHintze.
da dor, edema facial e na limitação Drug Invest. 2002; 22(12): 799- Mandibular third molar removal:
da abertura bucal pós-operatória. 818. Risk indicators for extended opera-
9. Aoki T, Yamaguchi H, Naito H, tion time, postoperative pain, and
Portanto, ambas as medicações são
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E-mail: lilipb_odonto@yahoo.com.br
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Meloxicam no pós-operatório de exodontias de terceiros molares mandibulares - Estudo piloto
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 221

Pesquisa científica

Resistência de união entre uma resina


composta e uma liga metálica com diferentes
tipos de tratamento superficial

Bond strength between composite resin and metal alloy with different surface
treatments

Gilberto Duarte FilhoI RESUMO


Alberto Noriyuki KojimaII Este estudo comparou a resistência de união da interface metal/resina composta
Alfredo Mikail Melo MesquitaIII com diferentes tratamentos de superfície metálica. Material e Método: Trinta e três
padrões de acrílico foram fundidos em CoCrMo com 25 X 3 X 0,5mm (ISO 9693).
Renato Sussumu NishiokaIV As amostras foram divididas em três grupos de acordo com os tratamentos de su-
Rodrigo Maximo de AraujoV perfície: Grupo A – microesferas retentivas (150µm) + jateamento com partículas
Silvana Machado SimasVI de 110µm de óxido de alumínio + primer para metal + três camadas de opaco para
resina composta; Grupo B (controle) – jateamento com partículas de 110µm de óxi-
do de alumínio + primer para metal + três camadas de opaco para resina composta
e o Grupo C – jateamento com partículas de 110µm de óxido de alumínio + duas
camadas de opaco para porcelana + condicionamento ácido (10% ácido hidroflu-
orídrico) + silano + agente de união, e após, usando uma matriz, uma camada de
resina composta (8 x 3 x 1mm) foi aplicada. O ensaio de flexão de três pontos foi
usado a uma velocidade constante de 0,5mm/min. Os dados foram submetidos à
análise estatística one way ANOVA e o teste Tukey (a = 5%). Resultados: A análise
descritiva dos dados estatísticos (kgf) para os Grupos A, B e C foram (3.167±0.483),
(0.858±0.157) e (1.602±0.262) respectivamente. Os resultados mostraram que os
valores de resistência à flexão para todos os grupos diferiram estatisticamente
(p<0.001) entre eles. Conclusão: Os resultados mostraram que os maiores valores de
resistência de união foram obtidos com o tratamento de superfície usado no Grupo A.

Palavras-chave: Resinas compostas. Ligas metalocerâmicas. Propriedades físicas.


Materiais dentários. Teste de materiais.

ABSTRACT
The present study compared the bond strength of the composite resin-metal interface
with different treatments on the metal. Material and Method: Thirty three acrylic
patterns were casted in CoCrMo with 25 X 3 X 0,5mm (ISO 9693). All metallic
specimens were divided in three groups according to the surfaces treatments: Group
A – retentive microballs (150µm) + sandblasting with aluminum oxide particles
110µm (Al2O3) + metal primer + one layer of opaque resin; Group B (control)
- sandblasting with aluminum oxide particles 110µm (Al2O3) + metal primer +
three layers of opaque resin and Group C – sandblasting with aluminum oxide par-
ticles 110µm (Al2O3) + two layers of opaque porcelain + acid conditioning (10%
I Mestre em Prótese Dentária, Universidade hydrofluoric acid gel for 4min) + silane + bonding agent. After, using a matrix,
Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp). one layer of composite resin (8 x 3 x 1mm) was applied. The three-point flexural
II Professor Assistente Doutor da Disciplina de test was used at a cross-head speed of 0,5mm/min. These data were submitted to
Prótese Parcial Fixa, da Unesp. one way ANOVA and Tukey´s test (a = 5%). Results: Descriptive statistics data
III Mestre e Doutor em Prótese Dentária, Unesp. (kgf) for groups A, B and C were (3.167±0.483), (0.858±0.157) and (1.602±0.262)
IV Professor Adjunto da Disciplina de Prótese respectively. The results showed that mean flexural strength values for all groups
Parcial Fixa, da Unesp. differ statistically (p <0.001) among them. The values of group A were signifi-
V Professor Assistente Doutor do Departamento cantly higher than the group B and C. Conclusion: The results showed highest
de Prótese Dentária, da Unesp. values of bond strength were obtained with surface treatment used in A group.
VI Especialista em Prótese Dentária. Aluna do
Programa de Aperfeiçoamento Profissional Keywords: Composites resins. Metal ceramic alloys. Physical properties. Dental
Continuado (Proac), da Unesp. materials. Materials testing.

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
222 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

INTRODUÇÃO adesivo Shofu (Japan), para reter 900ºC. Após esse período, foram
O uso de resinas como revestimento microesferas de resina de 150 μm4,11. realizadas as fundições12 em uma
estético de infraestruturas metálicas Para a aplicação do adesivo, as onze máquina de fundição por indução
é comum na confecção de próteses barras foram posicionadas paralela- modelo Ducatron3.
dentais1. A união entre esses dois ti- mente umas às outras sobre uma placa A liga metálica à base de CoCrMo
pos de substratos diferentes pode se de vidro. Duas tiras de fita adesiva (Wirobond C - BEGO) para prótese
dar de várias maneiras2. Hoje em dia, foram fixadas, sendo uma em cada fixa foi utilizada para a fundição dos
enfatiza-se o método químico pela sua extremidade das barras, delimitando 33 padrões. O resfriamento dos blocos
facilidade de uso e seus bons resultados centralmente 8 mm para a aplicação com as fundições ocorreu sobre a
de resistência de união exibidos após do adesivo. As microesferas foram bancada de trabalho até a temperatura
os ensaios mecânicos3. dispensadas com o auxílio de uma ambiente. As estruturas metálicas
O sucesso da restauração dental caneta para esta finalidade. A efeti- foram jateadas com pó de óxido de
depende, da retenção da resina sobre a vidade da aplicação das microesferas alumínio de partículas de 110mm e
infraestrutura, das propriedades físicas, foi verificada pelo uso de uma lupa pressão de 3 bar por 30 segundos
químicas e mecânicas dos materiais4,5, que permitia um aumento de 16X. para a eliminação do revestimento
pois estão em contato permanente Trinta e três padrões em acrílico residual e da camada de óxido.
com meios bastante agressivos como foram montados separadamente, Um gabarito para manter uma
a placa bacteriana, saliva, ou refluxo sendo onze em cada anel para fun- distância constante entre a ponta
gástrico, sendo necessário desenvolver dição. Três anéis de silicone, com jateadora e as barras metálicas foi
sua resistência ao desgaste e à corro- capacidade máxima para 180 gra- usado e as mesmas foram separadas
são3, principalmente durante a função mas, foram usados para a inclusão das “traves” por meio de discos de
mastigatória quando são submetidas à dos padrões. Na base formadora de carborundum e usinadas e acabadas.
cargas desordenadas e diferentes ciclos cadinho de cada anel foi fixado um As estruturas metálicas foram
térmicos. Por propriedades mecânicas conduto de alimentação em forma de acondicionadas em um aparelho de
também entendemos resistência à “trave”. Nessa “trave” foram fixados ultrassom (Vitasonic II, Vita Zahna-
forças de flexão6 : uma mordida exa- onze padrões os quais formaram um fabrik- Alemanha) para serem limpas
geradamente forte poderia gerar uma ângulo de 45º. com um banho de álcool isopropílico.
trinca ou até mesmo uma fratura como Esse conjunto padrões e trave As 22 barras que não receberam
resultado de uma resistência inadequa- receberam a aplicação de um redutor a aplicação de microesferas foram
da do material7,6. de tensão superficial por aspersão, divididas aleatoriamente em dois
A maioria dos estudos8,9 examinou sendo a secagem realizada com ar grupos iguais e receberam os seguin-
a interface resina/metal frente a ensaios comprimido de uma seringa tríplice. tes tratamentos de superfície antes
de cisalhamento e tração. Entretanto, O revestimento usado para a inclusão da aplicação da resina composta
uma carga de flexão de 3 ou 4 pontos foi o do tipo fosfatado Heat Shock microhíbrida: Primer para metal
pode influenciar no padrão de falha ou que foi preparado na proporção de (pincelado uma única vez sobre a
aproximar-se das condições intraorais8,9. 41ml de líquido + 4ml de água para área padronizada para aplicação da
O presente estudo teve como pro- 180 gramas de pó. Inicialmente o resina composta) + três camadas de
pósito avaliar a resistência de união ao pó foi incorporado ao líquido e uma opaco para resina composta. Cada
ensaio de flexão entre uma resina com- espatulação mecânica e a vácuo camada foi pincelada e depois foto-
posta e uma liga com diferentes tipos (20psi) por 30s com 425rpm em polimerizada por um minuto em uma
de tratamento de superfície metálica. uma espatuladora Polidental A300 unidade fotopolimerizadora Resilux.
foi realizada. Essas amostras formaram o Grupo B,
MATERIAL E MÉTODO Após vinte minutos do término considerado grupo controle por seguir
De acordo com a norma ISO da inclusão de cada anel foram re- o tratamento de superfície metálica
969310 foram confeccionadas trinta movidos, base formadora de cadinho preconizado pelo fabricante da resina
e três barras de acrílico poliestireno e anel de silicone. O conjunto bloco composta utilizada neste trabalho
com medidas de 25 X 3 X 0,5 mm, de revestimento com os padrões in- (Figura1).
que serviram de modelos padrão. cluídos foi levado a um forno para Duas camadas de opaco para por-
Para obter retenção mecânica para fundição (EDG) o qual já se encon- celana (cada camada foi queimada em
o revestimento estético, onze das trava pré-aquecido a temperatura de um forno para cocção de porcelanas
trinta e três tiras receberam, em uma 800ºC sendo mantido por 30 minutos (Pasta Wash Opaque, Vita Omega
de suas faces, a aplicação do líquido após o alcance da temperatura de 900, Vita Zahnafabrik- Alemanha) à

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 223

temperatura de 900°C por 5 minutos) O ensaio mecânico está representado


+ condicionador ácido para porcelana na Figura 4, seguindo as recomen-
(ácido hidrofluorídrico - Dentsply dações da ISO 9693 para este tipo
a 10% por 4 min.) + Silano – Por- de análise.
celain Primer – BISCO (uma única Após as separações das uniões,
camada foi pincelada e aguardou-se as superfícies foram analisadas por
Fig. 1 - Tratamento de superfície do Grupo B.
a secagem por 1min) + agente de meio de uma lupa estereomicroscó-
união (uma única camada de Single pica Stemi 2000-C (Karl Zeiss) com
Bond Adhesive - 3M foi pincelada 30X de aumento para se determinar
e fotopolimerizada por 1 minuto. o tipo de falha ocorrida.
Essas amostras formaram o Grupo Os dados foram submetidos,
C ( Figura 2). mediante o programa computacio-
As barras metálicas com micro- nal STATISTIX (2003, versão 8.0,
esferas (150µm) para a retenção da Analytical Software Inc.), aos se-
resina composta receberam o primer guintes testes estatísticos: (i) análise
Fig. 2 - Tratamento de superfície do Grupo C. para metal (uma camada) e três cama- de variância (ANOVA, 1 fator) One-
das de opaco para resina composta. -Way com nível de significância de
Essas amostras formaram o Grupo 5%, numa abordagem paramétrica;
A (Figura3). (ii) teste de comparação múltipla
Um único operador aplicou a re- de Tukey.
sina composta usando um dispositivo
que funcionou como uma matriz, o RESULTADOS
Fig. 3 - Tratamento de Superfície do Grupo A.
que padronizou a área de aplicação Nesta pesquisa foi avaliada a
em 8x3x1mm. influência da variável independente,
A resina composta teve um tempo (fator) tratamento da superfície metá-
de polimerização de três minutos. Os lica, sobre a variável dependente (res-
corpos-de-prova, depois de prontos, posta adesiva) no ensaio de flexão.
foram submetidos ao ensaio mecâni- As condições experimentais foram
co de flexão de três pontos em uma três: 1ª - Mecânico; 2ª - Químico;
máquina de ensaios universal (Emic 3ª - Opaco Cerâmico.
DL 2000 - São José dos Pinhais - PR) Os valores de média e desvio
com uma célula de carga de 50N e padrão das condições experimentais
Fig. 4 - Teste de flexão de três pontos. velocidade constante de 0,5mm/min. tiveram representação gráfica (gráfi-
co de colunas) por meio do programa
computacional STATISTICA (2000,
versão 5.5, StatSoft, Inc.).
Neste item os dados originais
obtidos no ensaio de flexão foram
submetidos à análise estatística des-
critiva e a inferencial.
A estatística descritiva dos
mesmos é apresentada na Tabela 1
e representada mediante o gráfico
de coluna, média e desvio padrão
(Figura 5).
Na análise inferencial pretendeu-
-se testar a hipótese de igualdade
entre os grupos, quanto a resistência
à flexão após diferentes tratamentos.
Para testar essa hipótese, proposição
de nosso estudo, foi efetuado o teste
Fig. 5 - Média e desvio padrão dos dados de flexão (em MPa), segundo os grupos. da análise de variância (ANOVA, One

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
224 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

propriedades mecânicas melhoradas em


Tabela 1 - ANOVA para os dados (MPa) obtidos no ensaio de flexão.
comparação às ligas básicas utilizadas
Efeito gl SQ QM Razão F p-valor para essa finalidade8.
Entre grupos 2 30,5581 15,2790 140,00 0,001* O grupo B observou o sistema
adesivo entre metal e resina. Em re-
Resíduo 30 3,52717 0,1091
lação à união química, os modernos
Total 32 33,8298 p<0,05 sistemas de união utilizam resinas
gl – graus de liberdade contendo monômeros quimicamente
ativos, ou seja, moléculas caracteri-
SQ – soma de quadrados zadas por apresentarem radicais com
QM – quadrado médio propriedades específicas, que podem
se ligar quimicamente à camada de
óxidos na superfície de ligas básicas
Way). O resultado do teste ANOVA (1 cie altamente microretentiva sugerindo ou aos elementos metálicos nobres13. O
fator) está apresentado na Tabela 1. que qualquer adesão da resinosa seria primer para metal para ligas de CrCo e
Por meio do teste de comparação devida a uma capacidade de molha- NiCr pode ser usado para aumentar a
múltipla de Tukey (5%) verificou-se, mento dessa superfície microjateada resistência de união entre a resina e o
em termos de resistência adesiva, e uma capacidade em formar uniões metal no caso de fraturas de Próteses
que os três tratamentos diferiram químicas. O monômero adesivo se liga Parciais Removíveis, aumentando a
estatisticamente entre si. O mecânico quimicamente aos óxidos presentes na força de união nos reparos e melhorando
foi o mais resistente que os demais liga microjateada15. a longevidade das Próteses Parciais
tratamentos. Não foi utilizado tratamento térmico Removíveis17.
das ligas, embora tal procedimento A natureza dos componentes dos
DISCUSSÃO favorece a formação de uma camada substratos empregados e a distribuição
Neste estudo avaliou-se a resis- de óxidos2 que reagem quimicamente de forças que resultam do ensaio de
tência de união entre metal e resina com os monômeros das resinas, favo- flexão interferem na análise do compor-
observando a eficácia de três me- recendo a união entre esses materiais. tamento resina-metal. No meio bucal
canismos distintos: grupo A usando Os tratamentos de superfície como seria improvável que as forças fossem
microesferas (retenção mecânica) ataque eletrolítico, ataque químico e aplicadas diretamente na interface e sim
grupo B de controle e grupo C usando jateamento com partículas de óxido de na própria resina, onde as condições do
técnica adesiva. alumínio resultam em irregularidades ensaio de flexão simulariam àquelas
Os mecanismos para união entre na superfície e são responsáveis pela ocorridas in vivo. Clinicamente forças
metal e resina constam de retenção retenção mecânica, enquanto que os de flexão ocorreriam sobre próteses
mecânica, (artifícios mecânicos silanos e os primers para metal promo- parciais1,18.
retentivos, como alças, pérolas, vem união exclusivamente química, e A resistência de união variou entre
cristais) 13 , sistemas químicos, e as técnicas como oxidação controlada, os sistemas testados dependendo da me-
mecânico-químicos. Para melhorar a eletrodeposição de estanho e deposição cânica da união e a eficácia de diferentes
adesividade entre compósitos e ligas, de sílica por jateamento convencional sistemas dependendo da sua habilidade
usa-se desde ataque eletrolítico até ou pela utilização de equipamentos es- de resistir a forças mecânicas para ga-
condicionadores químicos, aplicação pecíficos constituem-se em tratamentos rantir a adesão da resina à infraestrutura
de adesivo, primer e técnicas para que promovem tanto retenção mecânica metálica19. Pode-se controlar o módulo
tratamento da superfície do metal14. quanto união química15. O jateamento de flexão de uma resina composta para
O tratamento da liga de CrCoMo é uma prática mais eficaz que apenas revestimento metálico, sem diminuição
constou de jateamento de pó de óxido o ataque químico nas superfícies me- da resistência à flexão, pela escolha de
e banho de álcool isopropílico em tálicas, obtendo-se uma maior união materiais com carga20.
aparelho de ultrassom. Para assegu- de adesão16. O manuseio dos materiais também
rar melhor união da resina ao metal Foram utilizadas ligas de cromo pode introduzir problemas à restaura-
é comum fazer-se um tratamento de (CoCrMo) porque apresentam elevada ção. A diferença observada na espessura
superfície do metal. Existem duas téc- resistência mecânica, alto módulo de da camada de opaco e na sua adaptação
nicas: o microjateamento com óxido de elasticidade, baixa densidade, baixo sobre as esferas de retenção no Grupo
alumínio e microesferas de retenção. O custo e superior resistência a corrosão A poderia influenciar o comportamento
microjateamento promove uma superfí- que as ligas de NiCr3, assim como do material de revestimento estético,

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 225

uma resina fotopolimerizável para uso Quanto ao modo de fratura, foi on fracture toughness and flexural
laboratorial – Resilab durante os testes impossível determinar onde as falhas strength of light-cured composites.
mecânicos de flexão. A molhabilidade se iniciaram. Embora haja relatos Dent Mater. 1996 Nov;12(6):328-
32.
do opaco resinoso sobre a liga utili- sobre união resina/metal, a correlação
7. Geis-Gerstorfer J, Sauer KH, Päs-
zada (CoCrMo, Wirobond C, BEGO) de resultados é limitada por causa das
sler K. Ion release from Ni-Cr-
também poderia atuar sobre a película, diferentes metodologias, materiais e -Mo and Co-Cr-Mo casting alloys.
resultando em uma camada porosa15,1. condições para comparações diretas. A Int J Prosthodont. 1991 Mar-
Ainda, no Grupo A, a presença de esfe- necessidade para um ensaio padroniza- -Apr;4(2):152-8.
ras retentivas e um primer para metal, do com um grande número de amostras 8. Dudek RP. Non precious Alloys:
sistema recomendado por Thompson deve ser a base para futuros trabalhos in an update. In: Preston JD. Pers-
et al.21 (1985) e Barzilay et al.2 (1988) vitro. As limitações dos testes in vitro pectives in Dental Ceramics - Pro-
os quais usaram os ensaios de tração também devem ser consideradas, pois ceedings of the Fourth Internatio-
e cisalhamento respectivamente para cada teste envolve diferentes cargas nal Symposium on Ceramics. Gb.
Chicago: Quintessence Publishing
verificar as resistências de união entre e aplicações. Os testes mecânicos
Co. Inc.; 1988. p. 85-92.
resina e metal, podem deixar uma es- permitem apenas uma aproximação
9. Kountouras CG, Howlett JA, Pe-
pessura variável de opaco e as falhas simplificada para comparar forças de arson GJ. Flexural and thermal
ocorreriam, frequentemente, na junção aplicação geradas durante a mastiga- cycling of resins for veneering re-
opaco/resina, como aconteceu neste ção. Os resultados desses testes podem movable overlay dentures. J Dent.
trabalho, exceção feita aos topos das confirmar a eficácia de vários sistemas, 1999 Jul;27(5):367-72.
esferas nas quais a espessura da camada mas somente a pesquisa in vivo poderia 10. ISO 9693. Metal-ceramic dental
de opaco falhou na superfície da liga. prever o sucesso clínico. restorative systems. Geneva: Inter-
A aplicação da resina composta national Organization for Standar-
obedeceu a uma espessura máxima de CONCLUSÃO tization; 1999.
11. Kelly JR, Rose TC. Nonprecious
2mm9,22 com o auxílio de um dispositivo Os resultados deste trabalho de-
alloys for use in fixed prosthodon-
para este procedimento, ficando dentro monstraram que os sistemas de retenção
tics: a literature review. J Prosthet
de padrões aceitáveis. estudados podem melhorar a adesão de Dent. 1983 Mar;49(3):363-70.
O Grupo C onde o opaco cerâmico resinas em infraestruturas metálicas 12. Taggart WH. A new accurate me-
foi usado, da mesma forma como para antes da sua aplicação sendo que o thod of making gold inlays. Dent
aplicação de cerâmica sobre uma in- método com microesferas (Grupo A) Cosmos. 1907 Nov; 49(11):1117-
fraestrutura metálica, a resistência de apresentou os melhores resultados. 21.
união conseguida foi melhor do que 13. Almilhatti HJ. Influência de trata-
aquela com o uso apenas do primer para REFERÊNCIAS mentos superficiais e termocicla-
metal e opaco resinoso, preconizado 1. Ishijima T, Caputo AA, Mito gem na resistência da união resina/
R. Adhesion of resin to casting metal [tese]. Araraquara: Univer-
pelo fabricante da resina composta
alloys. J Prosthet Dent. 1992 sidade Estadual Paulista, Faculda-
(Grupo B). Esse sistema foi escolhido
Apr;67(4):445-9. de de Odontologia de Araraquara;
tendo-se em vista a possibilidade da boa 2004.
2. Barzilay I, Myers ML, Cooper LB,
resistência de união ser associada a uma Graser GN. Mechanical and che- 14. Di Francescantonio M, de Olivei-
baixa infiltração da resina composta em mical retention of laboratory cured ra MT, Garcia RN, Romanini JC,
suas bordas. composite to metal surfaces. J Pros- da Silva NR, Giannini M. Bond
A antiga ideia da retenção mecânica thet Dent. 1988 Feb;59(2):131-7. strength of resin cements to Co-Cr
associada ao atual conceito de retenção 3. Asgar K. Melting and casting of and Ni-Cr metal alloys using adhe-
química sugeriu que esta combinação alloys. NIH Conference Procee- sive primers. J Prosthodont. 2010
pode levar a melhores resultados de dings: Alternatives to gold alloys Feb;19(2):125-9.
in dentistry. January 1977. ps 166- 15. Duarte FG. Avaliação da resistên-
resistência de união entre metal/resina.
185. cia de união entre ligas de CoCrMo
A otimização da união entre a resina e
4. Anusavice KJ. Phillips Materiais e uma resina composta microhíbri-
o metal pode ser alcançada pela asso- dentários. 10ª ed. Rio de Janeiro: da ao ensaio de tração [tese]. São
ciação de retenção mecânica provida Guanabara Koogan; 1998. José dos Campos: Universidade
por abrasão de partículas de óxido de 5. Phillips RW. Skinner’s science of Estadual Paulista, Faculdade de
alumínio com retenção química do dental materials. 8th ed. Philadel- Odontologia; 2005.
metal condicionado, principalmente phia: Saunders; 1986. 16. Denizoğlu S, Hanyaloğlu CS, Ak-
aqueles que contêm monômeros fun- 6. Miyazaki M, Oshida Y, Moore BK, sakal B. Tensile bond strength of
cionais derivados do ácido fosfórico23. Onose H. Effect of light exposure composite luting cements to metal

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
226 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

alloys after various surface tre- tems. J Prosthet Dent.1997 impact of cavity depth and expo-
atments. Indian J Dent Res. 2009 Aug;78(2):136-45. sure time. Oper Dent. 2000 Mar-
Apr-Jun;20(2):174-9. 20. Kakuta K, Urapepon S, Miyagawa -Apr;25(2):113-20.
17. Banerjee S, Engelmeier RL, Y, Ogura H, Yamanaka M, Sucha- 23. Almilhatti HJ, Giampaolo ET, Ver-
O’Keefe KL, Powers JM. In vitro tlampong C, Rittapai A. Develop- gani CE, Machado AL, Pavarina
tensile bond strength of denture re- ment of metal-resin composite res- AC, Betiol EA. Adhesive bonding
pair acrylic resins to primed base torative material. Part 4. Flexural of resin composite to various Ni-Cr
metal alloys using two different strength and flexural modulus of alloy surfaces using different metal
processing techniques. J Prostho- metal-resin composite using Ag-In conditioners and a surface modifi-
dont. 2009 Dec;18(8):676-83. alloy particles as filler. Dent Mater cation system. J Prosthodont. 2009
18. Orchard NA, Howlett JA, Davies J. 2002 Jun;21(2):181-90. Dec;18(8):663-9.
EH, Pearson GJ. Adhesive composite 21. Thompson VP, Grolman KH, Liao
resins for artificial teeth: a laboratory R. Bonding of adhesive resins to
investigation of bond strength to a various nonprecious alloys [Abs- Data de recebimento: 07/01/2011
cobalt-chromium alloy. Biomate- tract]. J Dent Res. 1985;64:314. Data de aceite: 11/10/2011
rials. 1997 Jul;18(13):935-8. 22. Yap AU. Effectiveness of poly- Endereço para correspondência:
19. Kourtis SG. Bond strengths merization in composite restora- Silvana Machado Simas
of resin-to-metal bonding sys- tives claiming bulk placement: E-mail: silvana-simas@uol.com.br

Filho, Gilberto Duarte et al. Resistência de união entre uma resina composta e uma liga metálica com diferentes tipos de tratamento superficial
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 227

Pesquisa científica

Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e


aspectos biopsicossociais - Relato de caso clínico

Oculo-palpebral prosthesis: confection technique and biopsychosocial aspects -


Case report

Silvana Maria Orestes-CardosoI RESUMO


Kylma Cristina da SilvaII O presente estudo teve por objetivo descrever a técnica de confecção de uma pró-
Fernando Luiz Tavares VieiraIII tese oculopalpebral em resina acrílica termopolimerizável, visando à reabilitação
biopsicossocial de um paciente atendido no Serviço de Prótese Bucomaxilofacial da
Mirella Emerenciano MassaIV Universidade Federal de Pernambuco. O passo a passo da reabilitação foi descrito,
introduzindo-se as modificações preconizadas pelos autores à técnica convencional
de confecção de uma epítese facial em material aloplástico rígido. Os autores con-
cluem que, apesar das recentes pesquisas em busca de novos materiais com melhores
propriedades e dos avanços na área da engenharia genética para confecção de órgãos
artificiais, a resina acrílica ainda tem suas indicações na reabilitação facial.

Palavras-chave: Prótese maxilofacial. Implante de prótese maxilofacial. Reabili-


tação. impacto psicossocial.

ABSTRACT
The present study aimed to describe the technique of making a prosthetic eyelid in
thermicpolymerized acrylic resin, trying to reach the biopsychosocial rehabilitation
of a patient treated in the Maxillo-Facial Prosthodontics Department of Federal
University of Pernambuco. The process of rehabilitation was described step-by-step,
introducing the changes advocated by the authors to the conventional technique
of making a facial alloplastic materials epitese drive. The authors conclude that,
despite recent research in search of new materials with improved properties and
advances in genetic engineering for production of artificial organs, acrylic resin
still has its indications in facial rehabilitation.

Keywords: Maxillofacial prosthesis. Maxillofacial prosthesis implantations. Reha-


bilitation. Psychosocial impact.

INTRODUÇÃO placa de couro oval, na qual era pintada


Ao longo da história do homem so- a anatomia da região oculopalpebral.
bre a terra, ocorreram várias tentativas Posteriormente, na primeira metade do
de restaurar aloplasicamente a região século XX, com o desenvolvimento dos
facial. Escavações arqueológicas deram materiais acrílicos, as próteses ocula-
o testemunho da existência de múmias res tornaram-se muito mais versáteis,
I Professora do Departamento de Prótese e egípcias com olhos, narizes e orelhas resistentes e confortáveis, podendo ser
Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal artificiais. As civilizações dos maias e moldadas e adaptadas às irregularidades
de Pernambuco (UFPE). Doutorado pela astecas também utilizavam pedras pre- da cavidade anoftálmica obtendo-se,
Université de Paris VII (France).
II Aluna do 10º período do Curso de Odontologia
ciosas para adornar a cavidade orbitária consequentemente, resultados cosmé-
da UFPE. em máscaras como símbolo de adoração ticos finais muito mais apurados e o
III Professor do Departamento de Prótese e aos deuses. Já no século XVI, o médico seu uso tornou-se muito mais prático e
Cirurgia Buco-Facial da UFPE. Doutorado francês Ambroise Paré (1509-1590) seguro, visto que os materiais utilizados
pela Universidade de Pernambuco (UPE).
IV Professora do Departamento de Prótese e
criou o Ecblefaron, um disfarce carac- eram inertes e não tóxicos aos tecidos
Cirurgia Buco-Facial da UFPE. Doutorado terizado por um aro metálico que con- biológicos. Esses avanços científicos
pela UPE. tornava a cabeça e terminava em uma e tecnológicos culminaram nas atuais

Cardoso, Silvana Maria Orestes et al. Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e aspectos biopsicossociais. Relato de caso clínico.
228 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

próteses faciais muito mais satisfatórias propriedades que apresenta: menor em assinar o Termo de Consentimento
do ponto de vista biopsicossocial1-4. custo, facilidade no manuseio, maiores Livre e Esclarecido.
Devido à demanda de se recons- durabilidade e estabilidade de cor9,21,22.
tituir artificialmente a anatomia facial Além do material a ser utilizado Técnica de confecção da prótese
alterada, surgiu a necessidade de se para confecção das próteses oculopal- oculopalpebral
criar a especialidade de Prótese Bu- pebrais, deve-se levar em consideração Moldagem e modelo facial
comaxilofacial, que tem como obje- o meio de retenção das mesmas. Elas Foi confeccionado um modelo fa-
tivos principais o planejamento e a podem ser retidas por meios mecânicos cial em gesso pedra tipo III (Herodent
confecção das diferentes modalidades (armação de óculos), adesivos e ana- ®
- Vigodent, Rio de Janeiro – RJ –
de prótese para as perdas teciduais tômicos (cavidades naturais ou cirúr- Brasil), a partir da moldagem da face
que acometem a face, restabelecen- gicas). Um meio de retenção bastante com hidrocolóide irreversível (alginato
do, consequentemente, a morfologia utilizado atualmente são os implantes Jeltrat® – Dentsply, Petrópolis – RJ –
estética da face, a fim de assegurar osseointegrados extraorais, os quais Brasil), manipulado em consistência
a manutenção de funções essenciais, aumentam a retenção, a estabilidade e mais fluida do que a recomendada pelo
tais como: respiração, fonação e mas- propiciam translucência marginal18,23,24. fabricante para melhor escoamento e
tigação3, 5, 6. Isto posto, o presente estudo teve fidedignidade na reprodução da ana-
Os fatores etiológicos mais fre- por objetivo descrever o passo a passo tomia da região de interesse, o qual
quentemente associados às muti- da técnica de confecção de uma prótese foi utilizado tanto como modelo de
lações/más-formações faciais são, oculopalpebral, visando a reabilitação estudo (para uma melhor visualização
respectivamente: congênitos, traumá- biopsicossocial de um paciente aten- das dimensões da lesão e profundidade
ticos intencionais e acidentais, pato- dido na clínica de Prótese Bucoma- da cavidade anoftálmica) quanto de
lógicos infecciosos e neoplásicos6-9. xilofacial da Universidade Federal de trabalho (para a escultura das pálpebras
Quando esses fatores atingem espe- Pernambuco. e locação da prótese ocular - Figura 2).
cificamente a região oculopalpebral,
por exemplo, faz-se necessária, mui- RELATO DE CASO Obtenção da ceroplastia da pálpebra a
tas vezes, a realização de cirurgias Paciente J. E. N, de 64 anos, do partir da duplicação da prótese antiga
mutiladoras, sendo, usualmente, pre- sexo masculino, leucoderma, natural do Considerando-se que o paciente já
conizada a exenteração, a qual consis- Recife, procurou a Clínica de Prótese era usuário de prótese facial, a técnica
te, além da perda do globo ocular, em Bucomaxilofacial do Curso de Odon- utilizada para a escultura das pálpebras
remoção de ambas as pálpebras, exi- tologia da Universidade Federal de foi mista. A primeira etapa consistiu em
gindo, por conseguinte, reabilitações Pernambuco (UFPE), com objetivo de se reproduzir em cera nº. 7 (Lysanda
cirúrgicas e/ou protéticas3,5,10,11. substituir uma prótese óculo-palpebral, ®
­- Lysanda produtos odontológicos
Ressaltando-se, no contexto deste confeccionada em material flexível LTDA. – São Paulo – SP – Brasil) a
estudo, apenas as reabilitações protéti- (silicone) há dois anos, em outra clí- antiga prótese, a partir de moldagens
cas oculopalpebrais, é possível afirmar nica de Prótese Bucomaxilofacial, em separadas de suas superfícies anterior e
que elas têm por objetivo, além de decorrência de cirurgias mutiladoras posterior em alginato, para se realizar,
proteger a lesão, restaurar a estética, (enucleação do globo ocular e anci- posteriormente, os ajustes e a adapta-
a qual, por sua vez, poderá interferir loblefaria das pálpebras) devido a um ção no paciente. Na segunda etapa, as
satisfatoriamente na qualidade de vida tumor maligno, de natureza histopa- ceroplastias das superfícies anterior e
do indivíduo12-20. tológica desconhecida pelo paciente, posterior da futura prótese foram unidas
As próteses oculopalpebrais podem com início na região mesial da pálpebra e em seguida, foi realizada a abertura
ser confeccionadas em materiais flexí- inferior esquerda, e posterior metástase palpebral e a reprodução na cera, com
veis como o silicone, o qual proporciona para o globo ocular. A queixa principal espátula Lecron (Golgran Ind. e Com.
boa estética, devido à flexibilidade e estava relacionada a motivos estético de Instrumental Odontológico LTDA.
facilidade de reproduzir determinadas (descoloração da prótese) e funcional - São Caetano do Sul – SP- Brasil), da
características, tais como: cor e textura (falta de adaptação da mesma e irrita- anatomia da região palpebral (Figuras
da pele. Apesar de os materiais flexíveis ção traumática na pele que recobria a 3 e 4). A parte posterior da prótese, que
apresentarem algumas propriedades cavidade anoftálmica, após uso prolon- fica em contato com a cavidade, foi
melhores comparativamente aos ma- gado - Figura 1A-D). Em relação ao moldada com poliéter (Impregum ™
teriais rígidos, a utilização da resina estado de saúde geral, nada digno de Soft® - 3M ESPE – Sumaré – SP – Bra-
acrílica para confecção de epíteses nota pode ser observado. Quanto aos sil) para melhor adaptação à cavidade
faciais ainda tem a sua indicação pelas aspectos éticos, o paciente concordou anoftálmica do paciente (Figura 4).

Cardoso, Silvana Maria Orestes et al. Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e aspectos biopsicossociais. Relato de caso clínico.
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 229

Figura 2 - Moldagem e modelo facial.


A) Escoamento do alginato na face; B) Figura 6 - Inclusão da ceroplastia e
Figura 1 - Avaliação inicial do paciente. A) Embricamento do alginato à camada acrilização da prótese. A) Inclusão em
Vista em norma frontal do paciente com de gesso com pelotas de algodão (seta gesso da escultura das pálpebras; B)
a prótese antiga em silicone; B) Close da vermelha); C) Modelo de estudo e de trabalho. Inclusão em gesso da parte posterior da
prótese antiga; C) Vista em norma frontal do ceroplastia. C) Peças da prótese acrilizada;
paciente sem a prótese; D) Close da lesão. D) Prova da prótese palpebral no paciente.

Confecção do globo ocular


O passo seguinte consistiu na confec-
ção da prótese ocular individualizada em
resina acrílica termopolimerimerizável
– RATP (Clássico ® – Clássico LTDA.
– Campo Limpo Paulista – SP – Brasil).
Figura 3 - Duplicação da prótese antiga. A)
Após pintura com tinta aquarela (Pentel Inclusão da prótese em alginato; B) Molde em
®
- Pentel do Brasil LTDA. - Diadema – SP alginato da prótese; C) Vazamento da cera nº 7
– Brasil) e inclusão do disco pintado em no molde; D) Modelo da prótese em cera. Figura 7 - Coloração, caracterização
extrínseca e montagem da prótese óculo-
base e calota pré-fabricadas para obtenção palpebral. A) Coloração com tinta aquarela
da íris protética individualizada (Figura e caracterização com fios de lã acrílica para
5A), os sucessivos procedimentos foram obtenção de vasos sanguíneos; B) Teste
no paciente da coloração e caracterização
realizados: a) esculpiu-se em cera branca extrínseca; C) Caracterização extríseca
para escultura (Cerafix®– Man. e Com. de protegida com camada de resina acrílica
ceras para moldes Ltda.– Pradópolis – SP termopolimerizável incolor; D) Prótese
concluída com cílios.
– Brasil) o corpo escleral, adaptando-o ao
contorno interior das pálpebras (Figura
5B); b) locou-se a íris na ceroplastia do Figura 4 - Escultura da prótese e moldagem
corpo escleral; c) incluiu-se a ceroplastia de precisão da cavidade anoftálmica. A)
Mensuração da rima palpebral com compasso
em gesso pedra tipo III; d) obteve-se a de ponta seca; B) Escultura das pálpebras
coloração da esclera de acordo com o olho em cera nº 7; C) Adaptação das pálpebras em
remanescente; e) entulhou-se a RATP; cera no paciente; D) Moldagem com poliéter
da cavidade anoftálmica.
após um tempo de cura de 12 horas,
para eliminação do monômero residual,
procedeu-se ao ciclo de polimerização;
f) realizou-se a caracterização da esclera
(com polímeros coloridos da Clássico®
e fios de lã acrílica); g) acabamento e
polimento da prótese ocular (Figura 5C).

Coloração intrínseca, inclusão e acrili-


zação da prótese palpebral
Figura 5 - Confecção do globo ocular e Figura 8 - Locação da prótese óculo-
A RATP (Clássico®) utilizada para coloração intrínseca. A) Prova da cor da íris palpebral no paciente. A) Paciente com
confecção das pálpebras, apesar de ser da individualizada; B) Ceroplastia do corpo prótese antiga em silicone; B) Paciente
cor da pele, precisou da adição de outros escleral conforme a concavidade interna com a prótese nova em resina acrílica
das pálpebras; C) Prótese ocular acrilizada, termopolimerizável; C) Paciente em perfil
polímeros (resina acrílica – Clássico®) caracterizada e polida; D) Teste da cor da lateral com a nova prótese; D) Prótese
com diferentes pigmentações de cor. pele no paciente. concluída.

Cardoso, Silvana Maria Orestes et al. Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e aspectos biopsicossociais. Relato de caso clínico.
230 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Através do método de tentativas, um total com resina autopolimerizável incolor é que a aplicabilidade desses avanços
de 11 testes de cores foi feito para se obter e as superfícies anterior e posterior da na clínica odontológica ainda é muito
a coloração mais compatível com a cor prótese oculopalpebral são unidas com restrita. A partir dessas considerações,
da pele do paciente (Figura 5D). resina autopolimerizável da cor da pele. a questão a ser colocada é: por que
Após a seleção da coloração intrínse- Para se obter uma prótese mais natural, insistir em relatar um caso de paciente
ca, as seguintes etapas foram realizadas: a) cílios artificiais (Pro Art®-Av. das Nações reabilitado proteticamente através de
inclusões das ceroplastias das pálpebras e Unidas- São Paulo- SP-Brasil) são fixados prótese oculopalpebral confeccionada
superfície posterior, individualmente, em com cola, entre as pálpebras e o globo em resina acrílica termopolimerizável,
muflos nº 6 preenchidos com gesso pedra ocular (Figura 7). principalmente, quando o paciente já era
tipo III (Figuras 6A e B); b) eliminação portador de uma prótese confeccionada
da cera; c) entulhamento e a prensagem Locação da prótese no paciente e reco- em material flexível (silicone)?
manual da RATP da cor da pele; d) ciclo de mendações de higienização e uso Em que pesem as limitações de or-
polimerização, após um período de cura No momento em que a prótese é lo- dem econômica e pessoal, visto que as
de 24 horas; e) acabamento da superfície cada no paciente (Figura 8), este recebe conquistas acima mencionadas, além de
anterior e acabamento e polimento da instruções de uso quanto à higienização estarem muitas delas em fase de experi-
superfície posterior da prótese palpebral da mesma, recomendando-se a lavagem e mentação, e as disponíveis não estarem
(Figuras 6 C e D). a escovação da prótese, pelo menos uma ainda acessíveis à maioria da população,
vez ao dia, com escovas de cerdas macias, existem também fatores associados ao
Coloração e caracterização extrínseca água e sabão neutro. Recomenda-se que, paciente, como por exemplo: a) desejar
das pálpebras acrilizadas pelo menos uma vez ao dia, ele lave e uma prótese mais durável do que aquelas
Para uma melhor caracterização, os escove a prótese com escovas de cerdas confeccionadas em materiais flexíveis; e
traços faciais nas pálpebras acrilizadas macias, água e sabão neutro. A cada seis b) não querer se submeter a cirurgias para
foram acentuados com brocas do kit de meses é feita a proservação e desinfecção colocação de implantes extraorais, por
acabamento de superfícies oclusais da da mesma com soluções de hipoclorito de estar em fase de observação clínica e não
k
G Sorensen (Barueri – SP – Brasil). Em sódio a 2%, as quais devem ser realizadas está preocupado com resultados estéticos
decorrência da dificuldade de se obter a pelo cirurgião-dentista. muito satisfatórios. Além dos motivos
tonalidade da pele do paciente apenas supracitados, existe o inconveniente, no
com a coloração intrínseca, quando se DISCUSSÃO ensino da Prótese Bucomaxilofacial, de
utiliza a RATP, na maioria das vezes, Na década de 1930, a introdução das não estarem sendo reeditados trabalhos
faz-se necessário proceder à coloração resinas acrílicas na Odontologia trouxe sobre reabilitação protética facial com
e caracterização extrínseca. É com esta benefícios inquestionáveis para pacientes materiais clássicos, a exemplo da resina
finalidade que mais uma vez as superfícies que precisavam de reabilitações protéti- acrílica termopolimerizável.
anterior e posterior da prótese devem ser cas dentárias e/ou faciais. No entanto, Tendo em vista que o caso clínico
incluídas em gesso tipo III, previamente a é interessante observar que, apesar da apresentado é único na literatura porque,
este procedimento, realiza-se o desgaste pesquisa constante por novos materiais apesar de a técnica de confecção de próte-
de 1 a 2 mm no contorno anterior com mais estéticos e funcionais9,21,22; assim ses faciais ser milenar, cada autor, mesmo
pedras montadas, com o objetivo de como o aprimoramento dos implantes respeitando algumas etapas comuns,
se obter um espaço para a camada de extraorais18,23,24 para a retenção de próte- introduz modificações tanto na sequência
proteção em RATP incolor (consequen- ses faciais, estas resinas continuam sendo das mesmas como no emprego e com-
temente, novo ciclo de polimerização amplamente utilizadas, principalmente binação de diferentes tipos de materiais.
foi realizado), a qual deverá proteger a porque não se conseguiu um material No presente estudo, um dos exemplos é
coloração e caracterização extrínseca, com todos os requisitos necessários a utilização de poliéter após a ceroplastia
produzidas com tinta aquarela, resinas para suplantá-las. Por outro lado, é para moldagem mais precisa da parte
autopolimerizáveis coloridas, RATP importante salientar que os avanços que intracavitária e, consequentemente, me-
(Clássico®) com capilares para bases de estão sendo feitos, a partir dos anos 80 do lhor adaptação da prótese (Figura 4D).
dentaduras e cosméticos (Figura 7). século passado, graças a uma verdadeira Desse modo, comparativamente ao que
revolução científica e tecnológica no já foi publicado1,7, a descrição de casos
Acabamento das pálpebras acrilizadas campo da engenharia genética25, a qual como este mostra o quanto é possível
e montagem da prótese culminou em experimentos com animais introduzir modificações com o objetivo
Após desinclusão das pálpebras para a confecção de diferentes órgãos de aperfeiçoar a técnica de confecção para
acrilizadas, realiza-se novo acabamen- (narizes e orelhas); e em transplantes se atender a demanda estético-funcional
to. O globo ocular é fixado na prótese de regiões faciais em humanos, o fato do paciente.

Cardoso, Silvana Maria Orestes et al. Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e aspectos biopsicossociais. Relato de caso clínico.
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 231

Os autores também ressaltam a im- 6. Araújo Filho RCA, Cardoso MSO, plicações psicossociais em pacientes
portância da reabilitação através dessa Cardoso AJO, Pereira JRD, Souza com perda do globo ocular. Rev Cir
modalidade de prótese para os processos EHA, Macedo CB. Fatores etiológicos Traumatol Buco-Maxilo-fac. 2007 jan-
de reestruturação psicológica e reinserção das mutilações Buco-Maxilo-Faciais -mar; (7)1: 79-84.
em pacientes atendidos no serviço de 18. Antunes AA, Carvalho RWF, Lucas
social dos indivíduos atingidos, visto que
prótese buco da FOP/UPE. Odontol Neto A, Loretto NRM, Oliveira e Silva
muitos deles, devido à modificação da es- Clín-Científ. 2006 jul-set; 5(3): 203-6. ED. Utilização de implantes ósseointe-
tética, desenvolvem comportamentos es- 7. Rezende JRV. Fundamentos de prótese grados para retenção de próteses buco-
pecíficos associados à baixa autoestima, à buco-maxilo facial. São Paulo: Sar- -maxilo-faciais: revisão da literatura.
dificuldade nos relacionamentos pessoal e vier; 1997. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-fac.
interpessoal, à ansiedade, à depressão, ao 8. Mattos BSC, Montagna MC, Fernan- 2008 abr-jun; (8)2: 9-14.
isolamento social, entre outros 12,14-17,19, na des SC, Sabóia ACL. The pediatric 19. Cabral LGM, Martelli Júnior H, Leite
maioria das vezes, porque eles assumem patient at a maxillofacial service – eye DM, Sabatini Júnior, Freitas ABDA,
a identidade de uma pessoa estigmatizada prosthesis. Braz Oral Res. 2006 Jul- Miranda RT, et al. Perfil biopsicosso-
-Set; 20(3):247-51. cial de portadores de anoftalmia no
pela sociedade26. Nesse contexto, a Pró-
9. Araújo CR, Meyer GA, Souza IA. Pre- sul de Minas Gerais – Brasil. Arq Bras
tese Bucomaxilofacial para atingir seus valência de próteses buco maxilo fa- Oftalmol. 2008 nov-dez; 71(6): 855-9.
objetivos em termos de reabilitação, deve ciais na Faculdade de Odontologia da 20. Loretto NRM, Cardoso MSO, Cardoso
considerar o ser humano na sua totalidade Escola Bahiana de Medicina e Saúde SMO, Cardoso AJO, Morais LC. Impor-
biopsicossocial. Pública em Salvador, Bahia. Revista tância da reabilitação protética da região
Portuguesa de Estomatologia, Medi- óculo-palpebral: relato de caso. Odontol
CONCLUSÕES cina Dentária e Cirurgia Maxilofacial. Clín-Científ. 2008 abr/jun; 7(2): 151-5.
2009; 50(3):133-39. 21. Goiato MC, Mancuso DN, Sundefeld
Os autores concluem que, apesar das
10. Kovács AF. Cirurgia plástica ou re- MLMM, Gabriel MBM, Murakawa
recentes pesquisas em busca de novos construção protética na perda total do AC, Guiotti AM. Aesthetic and func-
materiais com melhores propriedades e conteúdo orbitário e do pavilhão au- tional ocular rehabilitation. Oral Onco-
dos avanços na área da engenharia gené- ricular. Rev Soc Bras Cir Plast. 2001 logy Extra. 2005 Sep; 41(8):162-4.
tica para confecção de órgãos artificiais, a maio-ago; 16(2):13-26. 22. Goiato MC, Vedovatto E, Mazaro
resina acrílica ainda tem suas indicações 11. Dias RB, Reis RC, Carvalho JCM. JVQ, Hamata MM, Gennari Filho H,
na reabilitação facial, pois contribui Estudo e análise de método de mensu- Falcón RM, et al. Técnicas de confec-
satisfatoriamente para a reconstrução da ração digital para escultura de prótese ción de prótesis faciales. Rev Cuba
imagem corporal alterada, melhorando a óculo-palpebral. Só Técnicas Estéticas. Estomatol. 2009 ene-mar; 46(1):1-12.
2006 out-dez; (3)3:74-8. 23. Goiato MC, Fernandes AU, dos Santos
autoestima do paciente, o que contribui
12. Botelho NLP, Volpini M, Moura EM. DM, Barão VA. Positioning magnets
para ajudá-lo no processo de reinserção Aspectos psicológicos em usuários on a multiple/sectional maxillofacial
na sociedade. de prótese ocular. Arq Bras Oftalmol. prosthesis. J Contemp Dent Pract.
2003 set-out; 66(5):637-46. 2007 Nov 1;8(7):101-7.
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lo: Panamed; 1987. oculo-palpebral. A propósito de un tes osseointegrados associados a siste-
2. Pina APS, Dias R. Implantes orbitá- caso clínico. RCOE. 2003 Sept-Oct; mas de retenção nas reabilitações com
rios e próteses oculares sua história e 8(5):553-61. prótese bucomaxilofacial: revisão de
evolução. Acta Oftalmológica. 2003; 14. Chang TL, Garrett N, Roumanas E, literatura. Pesq Bras Odontoped Clin
13:33-6. Beumer J. Treatment satisfaction with Integr. 2007 set/dez; 7(3): 331-6.
3. Simões FG, Reis RC, Dias RB. A espe- facial prostheses. J Prosthet Dent. 2005 25. Kolya CL, Castanho FL. Células-
cialidade de prótese bucomaxilofacial Sep; 94(3):275-80. -tronco e a odontologia. ConScientiae
e sua atuação na Odontologia. RSBO. 15. Chin K, Margolin CB, Finger PT. Ear- Saúde. 2007; 6(1):165-71.
2009 set; 6(3):328-31. ly ocular prosthesis insertion improves 26. Goffman E. Estigma: notas sobre a ma-
4. Gómez PM, Prótesis oculares: “una quality of life after enucleation. Opto- nipulação da identidade deteriorada.
mirada a las prótesis oculares”. In- metry. 2006 Feb; 77(2): 71-5. Rio de Janeiro: Zahar Editores; 1980.
vestigaciones Andina. 2010 mar; 16. Nicodemo D, Ferreira LM. Formulário
12(20):66-83. do perfil psicossocial do paciente anof-
5. Goiato MC, Mancuso DN, Fernandes tálmico com indicação de prótese ocu- Data de recebimento: 10/01/2011
AUR, Dekon SFC. Estudo sobre as lar. Arq Bras Oftalmol. 2006 jul-ago; Data de aceite: 11/10/2011
causas mais frequentes de perdas ocu- 69(4): 463-70. Endereço para correspondência:
lares. Arquivos em odontologia. 2004 17. Cardoso MSO, Araújo PGM, Cardoso Silvana Orestes Cardoso
jul-set; 40(3):207-86. AJO, Cardoso SMO, Morais LC. Im- E-mail: silvanaorestes@hotmail.com

Cardoso, Silvana Maria Orestes et al. Prótese oculopalpebral: técnica de confecção e aspectos biopsicossociais. Relato de caso clínico.
232 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Pesquisa científica

A influência do preparo cervical na adaptação do


instrumento apical inicial no tratamento endodôntico
de raízes mesovestibulares de molares inferiores

Influence of cervical preflaring in the adaptation of the initial apical file in


endodontic treatment of the mesiobuccal roots of mandibular molars

Georgina Agnelo de LimaI RESUMO


Gisele Cruz CamboimII Introdução - O presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência do preparo
Natália Sotero MachadoII cervical na determinação da menor discrepância entre o diâmetro do forame apical e o
instrumento apical inicial (IAI). Material e Métodos - A pesquisa foi realizada in vitro, em
Ana Paula Veras SobralIII 30 raízes mesovestibulares de molares inferiores humanos oriundos do Banco de Dentes da
Paulo Maurício Reis de Melo JúniorIV Universidade Federal de Pernambuco. As amostras foram divididas aleatoriamente em 3
grupos com 10 dentes cada: grupo 1 (grupo controle) composto por dentes sem ampliação
cervical; grupo 2, por dentes com ampliação cervical realizada com brocas Gates-Glidden
#2 e #1; e grupo 3, por dentes com ampliação cervical realizada com limas SX e S1 do
sistema Hand Protaper. Após determinação do IAI, as amostras foram analisadas em um
microscópio digital e as imagens posteriormente medidas através do software Proscope
HR. A diferença entre esses diâmetros foram obtidas em cada grupo e submetidas à análise
estatística. Resultados - A análise de variância não indicou diferença estatisticamente
significante entre os grupos (p=0,064). O teste complementar de Tukey evidenciou a maior
discrepância para o grupo que não recebeu o pré-alargamento (média: 0,07 ± 0,063). As
brocas Gates-Glidden e os instrumentos do sistema Hand Protaper foram estatisticamente
semelhantes (média: 0,03 ± 0,037 e 0,03 ± 0,027 respectivamente). Conclusões - Concluiu-
se que as brocas Gates-Glidden e os alargadores do sistema Hand Protaper utilizados
no preparo dos terços cervical e médio de canais radiculares apresentaram resultados
semelhantes na adaptação do IAI em canais mesovestibulares de molares inferiores.

Palavras-chave: Cavidade pulpar. Polpa dentária. Endodontia. Preparo do canal radicular/


instrumentação.

ABSTRACT
Introduction - This study aimed to evaluate the influence of cervical preparation in
determining the minor discrepancy between the diameter of the apical foramen and
initial apical file (IAI). Material and Method - The research was conducted in vitro at 30
mesiobuccal roots of human molars from the Bank of teeth of the Federal University of
Pernambuco. The samples were randomly divided into 3 groups of 10 teeth each: group 1
(control group) was composed of teeth without cervical enlargement; group 2, teeth with
cervical preflaring performed with Gates-Glidden drills # 2 and # 1; and group 3, teeth
with cervical preflaring performed with flare SX and S1 of the Hand ProTaper system.
After determining the IAI, the samples were analyzed using a digital microscope and the
images subsequently measured by the ProScope HR software. The difference between
these diameters were obtained in each group and subjected to statistical analysis. Results
- The analysis of variance indicated no statistically significant difference between groups
(p = 0.064). The Tukey’s test showed the largest discrepancy for the group that received
I Professora Adjunta de Endodontia da Uni- no pre-enlargement (average: 0.07 ± 0.063). Gates-Glidden drills and Hand ProTaper
versidade Federal de Pernambuco(UFPE). system were statistically similar (average: 0.03 ± 0.03 ± 0.037 and 0.027, respectively).
II Alunas de Graduação em Odontologia, da Conclusions - It was concluded that the Gates-Glidden drills and Hand ProTaper system
UFPE. used in the preparation of the cervical and middle thirds of root canals showed similar
III Professora Adjunta de Patologia Bucal da results in the adaptation of IAI in the mesiobuccal canals of mandibular molars.
Faculdade de Odontologia, da UFPE.
IV Professor Adjunto de Endodontia da Facul- Keywords: Dental pulp cavity. Dental pulp. Endodontics. Root canal preparation/
dade de Odontologia de Recife. instrumentation.

Lima, Georgina Agnelo de et al. A influência do preparo cervical na adaptação do instrumento


apical inicial no tratamento endodôntico de raízes mesovestibulares de molares inferiores
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 233

INTRODUÇÃO rior apresentando raiz mésio-vestibular forame apical. Nos grupos 2 e 3 o CRT
A meta principal do tratamento com rizogênese completa; ausência foi determinado de maneira similar,
endodôntico é limpar completamente e de tratamento endodôntico prévio; porém após a ampliação cervical com
modelar o sistema de canais radiculares. ausência de processos degenerativos; os instrumentos correspondentes a cada
E o seu sucesso é baseado no acesso a ausência de alterações morfológicas grupo de estudo.
câmara pulpar, na preparação do canal da cavidade pulpar; curvaturas entre Para a realização das ampliações
radicular e na obturação hermética, que 20 a 30°, medidas pelo método de cervicais empregando as brocas Gates-
deve evitar a infecção ou reinfecção1,2. Schneider4 (1971). -Glidden (grupo 2) foi utilizado o
O acesso apical a partir do pré- Neste estudo, todos os procedimen- motor X-Smart (Dentsply/Maillefer,
-alargamento cervical tem sido cada vez tos in vitro foram realizados por um Ballaigues, Suíça) em 800 rpm/min
mais investigado. Este procedimento único operador. Em todos os dentes, a com torque de 1,5 N/cm (#2) e 1.0 N/
visa eliminar interferências cervicais abertura da câmara pulpar foi realizada cm (#1).
das entradas do canal radicular, que utilizando broca esférica diamantada Para o grupo 3, foi obedecida a sequ-
representam um obstáculo ao livre número 1014 (KG Sorensen, São Paulo, ência de uso dos instrumentos manuais,
acesso dos instrumentos endodônticos Brasil) em alta rotação com refrigera- conforme orientação do fabricante
para a porção apical. No entanto, o ção. O desgaste compensatório para (limas SX e S1 com movimentos de
pré-alargamento das porções coronal eliminação de retenções na câmara rotação no sentido horário e anti-horário
e média do canal radicular tem sido pulpar foi realizado com brocas Endo-Z e rotação em 360°).
recomendado antes da determinação (Dentsply/Maillefer, Ballaigues, Suí- O limite para a ampliação cervical
do primeiro instrumento que se adapta ça), com a finalidade de proporcionar nos grupos 2 e 3 foi estabelecido pela
no comprimento de trabalho, a fim de um livre acesso à entrada dos canais diminuição de 5mm do comprimento
se obter um instrumento apical inicial radiculares. Seguindo-se de copiosa aparente do dente (CAD – 5mm) ou até
mais próximo do verdadeiro diâmetro irrigação/aspiração da câmara pulpar encontrar resistência.
apical anatômico e consequentemente, com 5 ml de hipoclorito de sódio na Após a utilização de cada instru-
um alargamento apical ideal3. concentração de 1%. mento, realizou-se irrigação/aspiração
Assim, o presente estudo teve por As 30 amostras foram divididas ale- dos canais radiculares com 5 ml de
objetivo avaliar, in vitro, a influência atoriamente em três grupos de estudo, hipoclorito de sódio na concentração
do preparo cervical, com diferentes com 10 dentes cada, descritos a seguir: de 1% (Phormula ativa, Recife, Brasil)
instrumentos endodônticos, na deter- Grupo 1: Dentes sem ampliação e inundação da câmara pulpar com a
minação do Instrumento Apical Inicial cervical; referida solução previamente ao uso
(IAI) em canais mesovestibulares de Grupo 2: Dentes com ampliação do instrumento seguinte.
molares inferiores, analisando a menor cervical, realizada com brocas Gates- A seleção do IAI (Instrumento
discrepância entre o IAI e o diâmetro -Glidden #2 e #1 (Dentsply/Maillefer, Apical Inicial) foi realizada no grupo 1
do forame apical. Ballaigues, Suíça); por meio de limas tipo K, 1a Série ou 2a
Grupo 3: Dentes com ampliação Série (Dentsply/Maillefer, Ballaigues,
MATERIAL E MÉTODOS cervical, realizada com limas SX e S1 Suíça), com 25 mm de comprimento,
O presente trabalho foi aprovado do sistema Hand Protaper (Dentsply/ introduzidas no interior do canal ra-
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Maillefer, Ballaigues, Suíça); dicular com movimentos oscilatórios
Universidade Federal de Pernambuco A determinação do comprimento no sentido horário e anti-horário,
(129/11). Foi realizada uma pesquisa de trabalho das amostras do grupo 1 sendo considerado o IAI, o primeiro
laboratorial transversal e quantitativa, foi realizada com uma lima tipo K#10 instrumento que transmitiu ao operador
in vitro, sendo a amostra composta por (Dentsply/Maillefer, Ballaigues, Suíça) a sensação tátil de estar ajustado no
30 raízes mésio-vestibulares de molares com 25 mm de comprimento. Esta foi CRT, previamente determinado. Nos
inferiores humanos oriundos do Banco introduzida em toda extensão do canal demais grupos, a determinação do IAI
de Dentes da Universidade Federal de mésio-vestibular até alcançar o forame foi realizada após a ampliação cervical.
Pernambuco (UFPE), armazenados em apical, ultrapassando-o em 1mm, sendo O CRT e o IAI de cada amostra
solução fisiológica para evitar a desidrata- este fato detectado visualmente. Deste foram registrados em planilha própria.
ção dos mesmos, à temperatura ambiente. comprimento, medido com auxílio de Na sequência, as limas correspon-
Os critérios de inclusão, comprova- régua milimetrada (Dentsply/Maillefer, dentes ao IAI de cada amostra foram
dos através de exame radiográfico com Ballaigues, Suíça), foi recuado 2 mm, fixadas coronariamente utilizando
incidência ortorradial ou vestíbulo-lin- obtendo-se assim o CRT (Comprimento cianocrilato de metila (Super Bonder,
gual foram: dente primeiro molar infe- Real de Trabalho), 1 mm aquém do Locite, São Paulo, Brasil).

Lima, Georgina Agnelo de et al. A influência do preparo cervical na adaptação do instrumento


apical inicial no tratamento endodôntico de raízes mesovestibulares de molares inferiores
234 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Tabela 1: Valores do menor diâmetro do canal radicular (MDCR), diâmetro do instrumento apical inicial (DIAI)
e o grau de desajuste do instrumento apical inicial (GDAI).
GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3
MDCR DIAI GDIAI MDCR DIAI GDIAI MDCR DIAI GDIAI
1 0,229 0,219 0,01 0,295 0,285 0,01 0,080 0,068 0,012
2 0,315 0,178 0,137 0,361 0,349 0,012 0,244 0,151 0,093
3 0,388 0,180 0.208 0,366 0,349 0,017 0,112 0,068 0,044
4 0,093 0,044 0,049 0,346 0,319 0,027 0,156 0,141 0,015
5 0,251 0,168 0,083 0,183 0,154 0,029 0,098 0,076 0,022
6 0,273 0,190 0,083 0,132 0,110 0,022 0,188 0,137 0,051
7 0,205 0,141 0,064 0,322 0,322 0,000 0,254 0,234 0,02
8 0,305 0,293 0,012 0,456 0,327 0,129 0,212 0,205 0,007
9 0,351 0,266 0,085 0,161 0,144 0,017 0,251 0,246 0,005
10 0,249 0,244 0,005 0,324 0,266 0,058 0,244 0,222 0,022

As raízes em estudo foram seccio-


Tabela 2: Valores do grau de desajuste do instrumento apical inicial, média e
nadas e separadas da raiz distal com
desvio padrão para cada elemento do fator de variação.
o auxílio de disco diamantado (KG
Sorensen, São Paulo, Brasil). Variáveis Sem Alargamento Gates-Glidden Hand Protaper p-valor*
Na sequência, a região apical foi Média ± DP Média ± DP Média ± DP
planificada até expor o canal radicular e GDIAI 0,07 ± 0,063 0,03 ± 0,037 0,03 ± 0,027 0,064
o instrumento, no comprimento de traba-
(*) ANOVA
lho, por meio da ação de lixas d’água em
uma sequência crescente de granulação:
#500, #600, #1200, #2000. Para comparação com mais de 2 A comparação entre as médias dos
Cada amostra foi posicionada com grupos foi utilizado o teste estatístico grupos das amostras não evidenciou
ápice voltado para a objetiva de um ANOVA com Post Hoc de Tukey. Já na diferença estatisticamente significante
microscópio digital (Digital USB Mi- avaliação de variáveis quantitativas (p=0,064) entre os dentes sem alargamen-
croscope Avantscope, Germany, Carl foi utilizado o Teste de Normalidade to e os dentes que receberam alargamento,
Zeiss) do Departamento de Energia de Kolmogorov-Smirnov. Sendo to- independente de qual tenha sido o ins-
Nuclear da Universidade Federal de dos os testes aplicados com 95% de trumento utilizado para tanto (Tabela 2).
Pernambuco (DEN). As imagens fo- confiança e as variáveis numéricas Entre os instrumentos utilizados
ram registradas digitalmente com um foram representadas pelas medidas para o alargamento cervical, ou seja,
aumento de 150x, em um monitor de 15 de tendência central e medidas de brocas Gates-Glidden e alargadores
polegadas. Foi realizada a mensuração dispersão. do sistema Hand Protaper, não houve
do menor diâmetro do canal radicular diferença estatisticamente significante,
e do IAI através de software próprio RESULTADOS pois os resultados da média do GDIAI
(Proscope HR) do microscópio, cali- Os resultados foram obtidos sub- foram iguais.
brado por meio de um fio de amarrilho traindo-se os valores do menor diâmetro As Figuras 1, 2 e 3, ilustram os re-
ortodôntico de 0,2 mm. do canal radicular (MDCR) dos valores sultados para cada grupo experimental:
Foi realizado o arquivamento destas medidos do instrumento apical inicial
imagens no computador e os valores (DIAI), na diagonal da secção transver- DISCUSSÃO
obtidos pelas mensurações foram enca- sal quadrada deste instrumento. Dessa Na endodontia, o objetivo do prepa-
minhados para análise estatística, reali- forma, obteve-se o grau de desajuste do ro do terço cervical e médio dos canais
zada através dos Softwares SPSS 13.0 instrumento apical inicial (GDIAI), o radiculares consiste na remoção de
para Windows (SPSS Inc.©, Chicago, qual é um número puro, ou seja, sem interferências dentinárias, promovendo
IL) e o Excel 2003 (Microsoft Corpo- unidade, instituído como variável do um desgaste anti-curvatura e com isto,
ration, Redmond, Estados Unidos). instrumento (Tabela 1). garantindo aos instrumentos endodôn-

Lima, Georgina Agnelo de et al. A influência do preparo cervical na adaptação do instrumento


apical inicial no tratamento endodôntico de raízes mesovestibulares de molares inferiores
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 235

ticos o livre acesso à porção apical do mais citados e consagrado na literatura


conduto radicular1. e por clínicos em geral. Devido à ine-
Segundo Wu et al.5 (2002), a de- xistência de pesquisas realizadas com
terminação do diâmetro apical, apenas o sistema Hand Protaper, consolidou-
com base na percepção táctil, parece ser -se o interesse científico em avaliar
um método empírico e não confiável. o desempenho desse instrumento no
No entanto, de acordo com Stabholz alargamento cervical.
et al.6 (1995), Contreras et al.7 (2001), Na maioria dos trabalhos
Souza e Reiss8 (2002), Tan e Messer9 consultados houve diferença estatis- Fig. 1 - Grupo 1 (sem alargamento
cervical) Fotomicrografia digital (150x)
(2002) e conforme os resultados de nos- ticamente significante (p<0,05) entre evidenciando um instrumento apical
so estudo pôde-se observar a eficiência os grupos com e sem alargamento inicial (lima tipo k #30) na área de
do pré-alargamento dos terços cervical cervical16,17,3,18. No presente trabalho, secção transversal a 1mm do ápice.
e médio dos canais radiculares como os resultados submetidos aos testes
fundamento técnico indispensável por estatísticos não mostraram diferença
favorecer a determinação do diâmetro significante entre as técnicas (p=0,064),
apical. Esta técnica permite um aumen- quando comparados os grupos com e
to no tamanho do instrumento apical sem alargamento. Mesmo assim, na
inicial que se adapta no comprimento análise descritiva, o grupo 1 (sem alar-
de trabalho e, com isto, reflete em gamento) apresentou a maior média de
menores valores de discrepância entre discrepância (GDIAI) entre o diâmetro
o instrumento e o diâmetro anatômico, anatômico no comprimento real de tra- Fig. 2 - Grupo 2 (alargamento com broca
Gates-Glidden) Fotomicrografia digital
independentemente do tipo de dente e balho a 1mm aquém do vértice apical (150x) evidenciando um instrumento apical
dos instrumentos utilizados. e o instrumento apical inicial (média: inicial (lima tipo k #35) na área de secção
Além disso, o pré-alargamento, 0,07mm ± 0,063) em relação aos grupos transversal a 1mm do ápice.
indiretamente, tem a vantagem de 2 e 3 (Gates-Glidden e Hand Protaper,
promover uma maior remoção das bac- respectivamente). Isso pode ser justifi-
térias tanto pelo fato da lima se adaptar cado devido a alguns fatores como: no
melhor no canal radicular, quanto por grupo sem alargamento o GDIAI teve
possibilitar um melhor acesso da solu- um intervalo de confiança grande em
ção irrigadora ao terço médio e apical. relação aos outros grupos ou a amostra
Isso foi demonstrado nos estudos de não ter sido suficiente.
Pecora et al.10 (2005) e Mickel et al.11 Assim como demonstrado nos
(2007), nos quais as amostras ava- estudos de Contreras et al.7 (2001) e Fig. 3 - Grupo 3 (alargamento com sistema
Hand Protaper) Fotomicrografia digital
liadas apresentaram uma diminuição Schmitz et al.17 (2008), neste trabalho (150x) evidenciando um instrumento apical
no número de colônias bacterianas também não foi encontrada diferença inicial (lima tipo k #35) na área de secção
após pré-alargamento, observando sua estatisticamente significante entre os transversal a 1mm do ápice.
importância para a limpeza de todo o instrumentos testados para o alarga-
diâmetro anatômico do canal radicular. mento cervical, havendo desempenho
Na prática, a possível realização semelhante entre Gates-Glidden e Hand
do alargamento excessivo dos terços Protaper (Gates-Glidden – Média: tados obtidos e análise da literatura
cervical e médio é preocupante, devido 0,03mm ± 0,037 / Hand Protaper – é possível inferir que o alargamento
à possibilidade de perfuração lateral Média: 0,03mm ± 0,027). Já Barroso cervical prévio à determinação do IAI
radicular e esta evidência norteou a et al.16 (2005), Pécora et al.10 (2005) deve ser realizado e que os grupos com
escolha dos tipos de instrumentos e Vanni et al.19 (2005) encontraram o pré-alargamento cervical apresenta-
testados em nosso estudo. Mesmo diferença estatisticamente significante ram menor grau de desajuste entre o
diante de resultados por vezes contra- entre os instrumentos particularmente tamanho do IAI e o diâmetro anatômico.
ditórios12, optou-se pela utilização das utilizados para o alargamento cervical, Portanto, o pré-alargamento promove
brocas Gates-Glidden, preconizada porém foram testados em outros gru- uma adaptação mais exata dos instru-
por Ferreira13 (2001), Macedo et al.14 pos dentários (pré-molares superiores, mentos no comprimento de trabalho e
(2003) e Machado et al.15 (2005), os incisivos centrais inferiores e molares uma determinação mais fiel do diâmetro
quais conferiram segurança para seu superiores, respectivamente). anatômico. Como consequência, uma
uso, além de ser um dos instrumentos Pelo exposto, com base nos resul- redução das chances de acidentes, da

Lima, Georgina Agnelo de et al. A influência do preparo cervical na adaptação do instrumento


apical inicial no tratamento endodôntico de raízes mesovestibulares de molares inferiores
236 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

formação de degraus, de deformações, PR. Does the first file to bind corres- 14. Skelton-Macedo MC, Cardoso RJA,
de condensação apical de debris, da pond to the diameter of the canal in the Bombana AC. Avaliação do desgaste
apical region? Int Endod J. 2002; 35: do terço cervical dos canais mésio-
perda da curvatura do canal radicular, da
264-7 -vestibulares de molares superiores
perfuração e da fratura de instrumentos,
6. Stabholz A, Rotstein I, Torabinejad submetidos a diferentes procedi-
além dos benefícios para o tratamento M. Effect of Preflaring on Tactile De- mentos de preparo de suas entradas.
endodôntico, proporcionando o melhor tection of the Apical. J Endod. 1995; J Bras Endod. 2003; 4(15): 317-23.
alcance de seus objetivos, limpeza e 21(2): 92-4. 15. Machado MLB, Antoniazzi JH, Ma-
conformação do canal radicular. 7. Contreras MAL, Zinman EH, Kaplan chado MEL. Ação dos instrumentos
SK. Comparison of the first file that fits rotatórios no preparo de canais radi-
CONCLUSÃO at the apex, before and after early fla- culares: desgaste anticurvatura. Rev
Com base na metodologia emprega- ring. J Endod. 2001; 27(2): 113-6. Assoc Paul Cir Dent. 2005; 59(3):
8. Souza LCL, Reiss C. Importância do 227-32.
da e nos resultados obtidos, foi possível
preparo prévio dos terços cervical e 16. Barroso JM, Guerisoli DMZ, Capelli
concluir que as brocas Gates-Glidden
médio no tratamento de canais radi- A, Saquy PC, Pecora JD. Influence of
e os alargadores do sistema Hand Pro- culares. Rev ABO Nac. 2002 fev/mar; Cervical Preflaring on Determination
taper utilizados no preparo dos terços 10(1): 52-7. of Apical File Size in Maxillary Pre-
cervical e médio de canais radiculares 9. Tan BT, Messer HH. The effect of ins- molars: SEM Analysis. Braz Dent J.
apresentaram resultados semelhantes trument type and preflaring on apical 2005; 16(1): 30-4.
na adaptação do Instrumento Apical file size determination. Int Endod J. 17. Schmitz MS, Santos R, Capelli A,
Inicial (IAI) em canais mesovestibu- 2002 Sept; 35(9): 752-8. Jacobovitz M, Spanó JCE, Pécora
lares de molares inferiores. 10. Pecora JD, Capelli A, Guerisoli DMZ, JD. Influence of cervical prefla-
Spano JCE, Estrela C. Influence of ring on determination of apical
cervical preflaring on apical file size file size in mandibular molars:
REFERÊNCIAS determination. Int Endod J. 2005; 38: SEM Analysis. Braz Dent J. 2008;
1. Busquim SSK, Santos M. Cervical 430-5. 19(3): 245-51.
shaping in curved root canals: compa- 11. Mickel AK, Chogle S, Liddle J, Hu- 18. Tennert C, Herbert J, Altenburger
rison of the efficiency of two endodon- ffaker K, Jones JJ. The Role of Apical MJ, Wrbas KT. The effect of cervi-
tic instruments. Pesqui Odontol Bras. Size Determination and Enlargement cal preflaring using different rotary
2002; 16(4):327-31. in the Reduction of Intracanal Bacteria. nickel-titanium systems on the accu-
2. Bartha T, Kalwitzki M, Lost C, Wei- JOE. 2007 Jan; 33(1): 21-3. racy of apical file size determination.
ger R. Extended apical enlargement 12. Franco AB, Jeronymob RD, Raldib J Endod. 2010; 36(10): 1669–72.
with hand files versus rotary NiTi fi- DP, Lage-Marquesb JL, Habitante SM. 19. Vanni JR, Santos R, Limongi O,
les. Part II. Oral Surg Oral Med Oral Análise do desgaste após preparo cer- Guerisoli DMZ, Capelli A, Pécora
Pathol Oral Radiol Endod. 2006 Nov; vical de canais mésio-vestibulares em JD. Influence of Cervical Preflaring
102(5):692-7. molares superiores. Rev Odonto Ci- on Determination of Apical File Size
3. Ibelli GS, Barroso JM, Capelli A, Spa- ênc. 2008; 23(2): 182-6. in Maxillary Molars: SEM Analysis.
nó JCE, Pécora JD. Influence of Cer- 13. Ferreira ECA. Avaliação da espessura Braz Dent J. 2005; 16(3): 181-6.
vical Preflaring on Apical File Size remanescente da parede dentinária dis-
Determination in Maxillary Lateral In- tal do terço cervical dos canais radicu-
cisors. Braz Dent J. 2007; 18(2):102-6. lares mesiais de 1o molares inferiores Data de recebimento: 05/07/2011
4. Schneider SW. A comparison of canal produzida por instrumentos rotatórios Data de aceite: 08/11/2011
preparations in straight and curved root acionados a motor (estudo comparati- Endereço para correspondência:
canals. Oral Surg Oral Med Oral Pa- vo in vitro) [tese]. Camaragibe: Facul- Georgina Agnelo de Lima
thol. 1971 Feb; 32(2): 271-5. dade de Odontologia de Pernambuco; E-mail: gagnelo@ig.com.br
5. Wu MK, Barkis D, Roris A, Wesselink 2001.

Lima, Georgina Agnelo de et al. A influência do preparo cervical na adaptação do instrumento


apical inicial no tratamento endodôntico de raízes mesovestibulares de molares inferiores
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 237

Pesquisa científica

Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis


- Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-
dentistas, sexo ou acidente ocupacional?

Dentistry and Sexually Transmitted Diseases - What is the greatest risk of infection
among dentists, sex or occupational accident?

Francisco Artur Forte OliveiraI RESUMO


Clarissa Pessoa FernandesII Objetivo - Avaliar atitudes e práticas de cirurgiões-dentistas frente às infecções HIV/Aids e
Renata Mota Rodrigues Bitu SousaIII Hepatite B, estabelecendo uma correlação entre riscos de transmissão ocupacional e sexual de
doenças infecciosas. Métodos - 318 cirurgiões-dentistas (CDs) responderam a questionários
Paulo César de AlmeidaIV autoaplicáveis e anônimos, abordando atitudes frente ao risco ocupacional e práticas sexuais,
Fabrício Bitu SousaV durante o III Congresso Internacional de Odontologia, realizado em 2009. Análise estatística
descritiva simples foi realizada. Resultados - Respectivamente, 32,0% e 26,8% relataram não
se sentir seguros em atender pacientes vivendo com HIV/Aids e o VHB (Vírus da Hepatite
B), o que atribuíram ao medo de infecção ocupacional. Aproximadamente 69% dos CDs já
se feriram com instrumentos perfurocortantes, no entanto apenas 24,8% procuraram algum
serviço especializado. Em se tratando de atitudes frente às práticas sexuais, 20,1% utilizaram
preservativo em todas as relações sexuais e 60,3% nunca utilizaram ou utilizaram apenas algumas
vezes. Conclusões - 0O0 alto índice de acidentes ocupacionais reportados e a insegurança
frente ao atendimento de pacientes vivendo com HIV/Aids e VHB, quando relacionados com
o baixo percentual de utilização de preservativos em todas as relações sexuais revelaram um
contexto de vulnerabilidade desfavorável para os CDs pesquisados.

Palavras-chave: Doenças Sexualmente Transmissíveis. Exposição ocupacional. Riscos


ocupacionais. HIV. Hepatite B. Comportamento sexual.

ABSTRACT
Objective - To evaluate attitudes and practices by dentists toward patients with HIV/AIDS and
hepatitis B, establishing a correlation between risks of occupational and sexual transmission of
diseases. Methods - 318 dentists answered to self-administered and anonymous questionnaires
about attitudes toward occupational risks and sexual practices, in the III International Congress
of Odontology, held in 2009. Descriptive statistical analyses were held. Results - Respectively,
32,0% and 26,8% reported feeling insecure to treat patients living with HIV/AIDS and the
HBV (Hepatitis B Virus), which was attributed to fear of acquiring occupational infection.
Approximately 69% of the dentists suffered percutaneous injury, however only 24,8% sought
specialized services for treatment. In regards the attitudes toward sexual practices, 20,1% used
condoms in all sexual relations and 60,3% never used or used only a few times. Conclusions
- The high index of percutaneous injury reported and the insecurity toward treating patients
living with HIV/AIDS and HBV, when related with the low percentage of use of condoms in
all sexual relations, reveled a context of unfavorable vulnerability of the dentists researched.
I Mestrando em Clínica Odontológica, Departa-
mento de Clínica Odontológica, Universidade Keywords: Sexually Transmitted Diseases. Occupational exposure. Occupational risks.
Federal do Ceará (UFC). HIV. Hepatitis B. Sexual behavior.
II Mestranda em Clínica Odontológica, Depar-
tamento de Clínica Odontológica da UFC.
III Mestre em Ciências – Área de Saúde Coletiva,
Departamento de Saúde Comunitária da UFC. INTRODUÇÃO atuação das profissões na área da saúde
IV Doutor em Saúde Pública. Professor Adjunto Ao longo das últimas três déca- direta ou indiretamente relacionadas
do Centro de Ciências da Saúde , Universidade das, a partir do aparecimento da Aids, com os órgãos genitais. Por este aspecto,
Estadual do Ceará (UECE).
V Doutor em Patologia Bucal. Professor Adjunto
observou-se uma transformação das os cirurgiões-dentistas também devem
de Estomatologia e Patologia Bucal, Depar- relações sexuais. Esse contexto deveria ser incluídos, afinal, a boca precisa ser
tamento de Clínica Odontológica da UFC. ser acompanhado por uma mudança na reconhecida como uma cavidade sexual

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
238 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

importante, e que tem estreita relação Ao mesmo tempo em que um con- Os dados foram coletados por meio
com a prevenção de Doenças Sexual- junto de estudos citados anteriormente já de questionário estruturado e autoapli-
mente Transmissíveis (DST), incluindo identifica a boca com um papel relevante cável. Além dos aspectos sóciodemo-
hepatite B e HIV/Aids. entre as práticas sexuais e transmissão gráficos: sexo, idade, especialidade/
Estudos indicam que sexo oral é uma de DST, outros ainda demonstram uma área de atuação e tempo de formado,
prática comum entre pessoas sexualmen- postura do profissional de resistência ao as principais questões incluíam atitudes
te ativas, e que vem se tornando mais atendimento clínico de pacientes com frente ao risco ocupacional, abordando
disseminada, tanto em relações entre doenças infectocontagiosas. Em vez de acidentes perfurocortantes e procura ao
homem e mulher como entre casais do expandir os conhecimentos sobre estas serviço especializado, como também
mesmo sexo de várias idades, incluindo patologias e poder melhor assessorar sobre práticas sexuais, frequência e
adolescentes1. o paciente no tocante ao tratamento e importância do uso de preservativos.
Nesta mesma direção, a Estoma- prevenção de reincidências, algumas Os achados foram agrupados em ta-
tologia também vem fomentando esta pesquisas têm dissertado sobre a baixa belas confeccionadas no software Office
temática na rotina do cirurgião-dentista. disponibilidade do cirurgião-dentista 2007 (Microsoft, USA) e análise esta-
A abordagem da sexualidade constitui- para o atendimento a pacientes portado- tística descritiva simples foi realizada.
-se um elemento importante que deve res de HIV, por exemplo, por desconhe- De acordo com os preceitos éticos,
ser incluído na anamnese de forma cimento, medo e preconceito diante de o estudo foi submetido e aprovado pelo
naturalizada, como parte do processo de uma possível infecção ocupacional14-16. Comitê de Ética em Pesquisa da Aca-
investigação e cuidados em saúde bucal2. Este estudo se propõe a avaliar ati- demia Cearense de Odontologia, sob
Outro aspecto que converge para tudes e práticas de cirurgiões-dentistas protocolo de número 93/2009. Todos
o reconhecimento da boca como uma relacionando parâmetros de risco ocupa- os participantes assinaram Termo de
cavidade sexual é a identificação de cional e risco de transmissão sexual das Consentimento Livre e Esclarecido.
patologias historicamente reconhecidas infecções pelos vírus HIV e VHB. Para
como restritas às genitálias, como por além das questões técnicas e das análises RESULTADOS
exemplo, o HPV. Estudos demonstram fisiopatológicas entre sexo e Odonto- A amostra final foi composta por 318
que os subtipos 6,11,16 e 18 do HPV, logia, pretende-se discutir também as cirurgiões-dentistas (CDs), com predomi-
geralmente encontrados nas genitálias, interfaces entre mitos e preconceitos em nância do sexo feminino (61,3%). A faixa
podem ser transmitidos sexualmente para torno dos verdadeiros riscos de infecção etária de profissionais com menos de 30
a mucosa oral3. Tais subtipos (16 e 18) por uma DST aos quais os/as cirurgiões- anos (55,3%) foi a prevalente e a média
estão relacionados com a transformação -dentistas/cirurgiãs-dentistas podem de idade foi de 32 anos, sendo a mínima
maligna, podendo estar associados ao estar expostos. 20 e a máxima 72 anos. Predominaram
surgimento do carcinoma de células os CDs com tempo de formado entre dois
escamosas de cavidade oral3. METODOLOGIA e cinco anos (31,1%) e com mais de 11
Com relação às práticas sexuais, O presente estudo, transversal e anos (29,8%), sendo a média de tempo de
apesar de ser bem conhecido o papel quantitativo, teve como universo 2.427 formado nove anos, com tempo mínimo
de transmissibilidade dos vírus HIV e cirurgiões-dentistas inscritos no III de nove meses e tempo máximo de 48
Hepatite B (VHB) através das relações Congresso Internacional de Odontologia, anos. Outras variáveis demográficas e
vaginal e anal, o sexo oral nem sempre em Fortaleza, Ceará, maio de 2009. O ta- ocupacionais estão dispostas na Tabela 1.
é considerado como prática de risco. No manho da amostra (n=318) foi calculado Quando os profissionais responde-
entanto, essa relação entre boca e DST utilizando-se a fórmula para população ram a perguntas que diziam respeito
está bastante estabelecida na literatura em finita, escolhendo-se a variável “conhe- a atitudes frente à infecção por Hids,
se tratando de Herpes, sífilis, gonorreia, cimento da doença”, com P=50%, haja 17,2% afirmaram que pacientes sabida-
HPV, e hepatites A*, B, C e D 3-8. Nos vista que esse valor proporciona um mente HIV positivos devem ser atendidos
últimos anos, a transmissão do HIV por tamanho máximo de amostra. A amos- em horários diferenciado dos outros no
essa via tem se tornado cada vez mais tra foi calculada considerando nível de consultório odontológico. Aproximada-
evidente, e diversos co-fatores como significância de 5% e o erro amostral de mente 32% não se sentiram seguros em
úlceras orais, sangramento gengival, 4%. Os cirurgiões-dentistas foram sele- atender pacientes portadores da doença,
feridas genitais e presença de outras cionados de forma aleatória, sistemática e 67,3% desses referiram o risco de
DST podem aumentar o risco de trans- na entrada dos fóruns, simpósios e cursos contaminação por via ocupacional como
missão1,9-13. do Congresso. principal causa.

*Hepatite A é transmitida frequentemente por via oral-fecal através de água e alimentos contaminados. Porém, contato oral-anal direto também pode transmitir a doença4.

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 239

No que diz respeito a atitudes frente


Tabela 1 - Distribuição do número de cirurgiões-dentistas segundo as variáveis
à infecção por VHB, 26,8% dos CDs
demográficas e ocupacionais, Fortaleza, CE, Maio/2009.
afirmaram não se sentir preparados para
atender um paciente portador do vírus. Variáveis n % Média ± DP
Desses, 33,7% atribuíram como causa
Idade (ano) 32 ± 10
o risco ocupacional de contaminação
durante o atendimento. <30 176 55,3
Com relação a acidentes ocupacio- 30-39 78 24,5
nais, 69,3% dos CD responderam que ≥ 40 59 18,5
já se feriram com instrumentos perfu-
Não informaram 5 1,5
rocortantes, no entanto, apenas 24,8%
procuraram algum serviço especializado.
O número de acidentes ocupacionais Tempo de formado (ano) 9 ± 10
relatados totalizou 336 com uma média <2 64 20,1
de 1,5 por pessoa. O instrumento mais
2-5 99 31,1
recorrente foi a agulha, responsável
por 55,6% desses acidentes (gengival – 6 - 10 47 14,7
36,0% e de sutura – 19,6%) (Tabela 2). > 11 95 29,8
Os CDs também responderam per- Não informaram 13 4,0
guntas que expressavam suas atitudes
frente às práticas sexuais. Quando per-
guntados sobre sua vida sexual, 91,2% Especialidade/Área de Atuação
dos profissionais afirmaram ter vida mais prevalentes
sexual ativa. Prótese 35 11,0
ATabela 3 mostra a frequência da uti-
Ortodontia 32 10,1
lização de preservativo por parte dos CDs
e seu uso nas diversas práticas sexuais. Clínica Geral 26 8,2
Em se tratando de transmissão sexual Endodontia 25 7,9
dos vírus VHB e HIV, 66,4% e 78,4% Saúde da Família (PSF) 15 4,7
dos profissionais, respectivamente,
consideraram ser esta uma via de alto Nota: Os valores n e as porcentagens se referem ao número de observações válidas para cada variável.
risco. Quanto ao uso do preservativo,
somente 20,1% utilizaram em todas as
relações sexuais, 32,7% não utilizaram Tabela 2 - Frequência de acidentes ocupacionais relatados por cirurgiões-
em nenhuma prática sexual e 60,3% -dentistas segundo instrumentos utilizados na prática odontológica.
nunca utilizaram ou utilizaram apenas Fortaleza, CE, Brasil, Maio/2009.
algumas vezes, apesar de 72,3% terem
reconhecido ser importante o uso do
Variáveis N %
insumo em todas as práticas.
Observou-se também que 79,2% dos Acidente ocupacional (instrumento)
informantes acharam importante o uso Agulha gengival 121 36,0
do preservativo em prática sexual oral, Agulha de sutura 66 19,6
mas apenas 25,6% afirmaram usá-lo
nessa prática. Alavanca 50 14,9
Cureta periodontal 35 10,4
DISCUSSÃO Broca 34 10,1
No presente estudo alguns dados
Bisturi 16 4,8
sugerem dificuldade de atendimento
a pessoas vivendo com HIV/Aids, Sindesmótomo 14 4,2
identificados neste artigo como mitos Total de acidentes ocupacionais 336 100,0
devido à inconsistência científica das
Nota: Os valores n e as porcentagens se referem ao número de observações válidas para cada variável.
justificativas relatadas pelos dentistas

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
240 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

no ambiente odontológico, enquanto


Tabela 3 - Frequência de utilização de preservativo por parte dos que para HIV é de aproximadamente
cirurgiões-dentistas e do uso do insumo nas diversas práticas sexuais. 0,3% na mesma situação24. No entanto,
Fortaleza, CE, Brasil, Maio/2009. o menor medo de infecção ocupacional
relacionado ao VHB pode ser atribuído
Variáveis N % à adoção de medidas de prevenção como
a vacinação (75,8%), apesar de que a
Usa preservativo em minoria realizou teste confirmatório de
Todas as relações 64 20,1 soroconversão (27,0%).
Algumas vezes 90 28,3 Desde 1987, foram criadas
Na maioria das vezes 38 11,9 medidas visando reduzir o risco de
contaminação profissional através da
Nunca usa 103 32,3 exposição a patógenos sanguíneos como
Não responderam/Não têm vida sexual 23 7,3 Vírus da Hepatite B (VHB), Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV) e Vírus
Práticas em que usa da Hepatite C (VHC), que devem ser
empregadas no atendimento de todos
Sexo oral 3 0,9 os pacientes, uma vez que nem todos
Sexo anal 33 10,3 os portadores desses micro-organismos
Sexo vaginal 99 31,1 podem ser identificados clinicamente.
Nenhuma 104 32,7 Essas medidas incluem o uso de Equi-
pamentos de Proteção Individual (EPIs),
Todas 70 22,0 como luvas, jaleco, óculos de proteção,
máscara e gorro25,26.
Nota: Os valores n e as porcentagens se referem ao número de observações válidas para cada variável.
O achado de que a maioria dos den-
tistas entrevistados (69,3%) já sofreu
(17,2%) que acreditam que pacientes apenas dois casos prováveis de infecção acidente ocupacional com instrumentos
que se declaram HIV positivos devem de CD** 19- 22. perfurocortantes denota práticas clínicas
ser atendidos em horários diferenciado O receio de contaminação ocupa- pouco seguras e provável comportamento
dos outros. Ao determinar as normas de cional entre os que relataram também de risco profissional. Segundo o Ministé-
biossegurança da clínica odontológica, despreparo no atendimento de pacientes rio da Saúde24, é essencial a utilização de
o Ministério da Saúde não faz nenhuma portadores do VHB (33,7%), vai de medidas apropriadas para prevenir lesões
referência à organização do processo de encontro a existência de medidas de pro- percutâneas, como ter máxima atenção
trabalho clínico diferenciado por conta do teção individual contra esse vírus, como durante a realização dos procedimentos
HIV, vez que sistemas de desinfecção e a vacinação, disponível gratuitamente odontológicos, evitando reencape de
esterilização eliminam riscos de infecção pelo Sistema Único de Saúde (SUS), agulhas com as mãos e utilização de dedos
cruzada e são eficazes para prevenir a que reduz consideravelmente o risco de como anteparo. Além disso, é importante
transmissão de patógenos no ambiente infecção***. o uso de recipientes adequados para o
odontológico17,18. Os dados acima, confrontados com descarte desses instrumentos.
Adicionalmente, o sentimento de a literatura14, sugerem que o preconceito Outro aspecto importante, e que não
despreparo de 32% dos profissionais mascara o risco em potencial, visto que ocorreu satisfatoriamente entre os entre-
para atender pacientes vivendo com HIV, a relação entre o medo de se infectar vistados, foi a procura por assistência no
atribuído em 67,3% ao medo de infecção, atendendo pessoas vivendo com HIV local de referência em infectologia mais
é incompatível com dados existentes na (67%) foi maior do que em relação a próximo para garantir um acompanha-
literatura nacional sobre o risco ocupa- portadores do vírus VHB (33,7%), o mento adequado imediato e minimizar
cional. Não há relatos de aquisição de que não se justifica, pois em termos de a possibilidade de aquisição de diversas
HIV por cirurgiões-dentistas através infectividade, o risco para VHB pode infecções27.
de acidentes ocupacionais no Brasil, e, variar de 30 a 40% em profissionais não Além disso, a notificação de aci-
em âmbito internacional, reportou-se vacinados após exposição percutânea dentes ainda é incipiente na área da

**O risco de aquisição de HIV após exposição ocupacional percutânea com sangue contaminado é de aproximadamente 0,3% e, após exposição de mucosa,
aproximadamente 0,09% 27.
*** Taxa de soroconversão pode chegar a 90-95%, confirmado após realização de teste sorológico anti-Hbs um a dois meses após o término do esquema vacinal completo, 3 doses.

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 241

Odontologia, assim a alta frequência A utilização de preservativo na prá- Percebe-se que, apesar de toda a
de subnotificações após acidente tica sexual oral foi baixa (25,6%) neste informação já veiculada sobre DST,
ocupacional, bastante relacionada ao estudo, apesar da maioria ter considerado incluindo HIV/Aids e Hepatites B e
desconhecimento dos riscos, resulta em importante o uso desse insumo. Como C, o conhecimento adquirido sobre os
escassez de dados oficiais que poderiam todas as práticas sexuais, sexo oral oferece patógenos e sobre o modo de transmissão
justificar o direcionamento de algumas risco de transmissão de HIV quando um ainda não permitiu uma mudança de
políticas públicas27. dos parceiros é sabidamente infectado, comportamento e atitude por parte dos
A aquisição do HIV, VHB e VHC quando o status de HIV é desconhecido profissionais para o uso do preservativo
em acidentes ocupacionais por parte para ambos, e/ou quando um parceiro não em todas as relações sexuais, bem como
dos profissionais de saúde não pode é monogâmico ou é usuário de drogas um atendimento clínico qualificado e
ser desconsiderada, porém essa via de injetáveis. A utilização de preservativos livre de preconceitos infundados.
transmissão representa pequena parcela ou outras barreiras entre a boca e genitália O que existe é uma dissonância entre
quando comparada às vias sexual e por podem reduzir significativamente o risco conhecimento e prática, intenção versus
uso de drogas injetáveis28. A transmissão de contrair HIV ou outras DST através ação, na qual cirurgiões-dentistas sabem
sexual do HIV e VHB é a principal via de sexo oral1. da importância do uso do preservativo,
de infecção no Brasil. Ela ocorre em todo Em estudo realizado com 2323 mas não o utilizavam como rotina em
o mundo e o seu risco eleva-se com o jovens de 18 a 29 anos, a exposição suas práticas sexuais e superestimavam
aumento no número de parceiros, anos oral teve associação independente com a transmissão ocupacional, mesmo
de atividade sexual, histórico de outra HIV, especialmente em casos em que tendo consciência de que esta forma de
doença sexualmente transmissível e havia feridas orais (OR 1,5 95% CI – transmissão é menos significativa que
prática sexual anal passiva23. 1,0-2,1)9. Wallace e colaboradores10, a transmissão sexual.
Neste estudo, a maioria (91,2%) dos apesar de não terem calculado risco Diante do exposto, convida-se a
cirurgiões-dentistas afirmou ter vida relativo, constataram em estudo com classe odontológica a uma reflexão: é
sexual ativa. Apesar de muitos conside- 3073 prostitutas que, quando relação coerente se perpetuar uma prática clínica
rarem a transmissão sexual do VHB e oral passiva era o ato sexual mais co- preconceituosa e ultrapassada? Poder-
HIV de alto risco, poucos participantes mum, 35,4% das prostitutas eram HIV -se-á quebrar paradigmas historicamente
(20,1%) relataram utilizar preservativo positivo, mas quando esse ato não era impostos na nossa profissão? Certamen-
em todas as relações sexuais (Tabela 3). o mais prevalente, 24,2% eram HIV te, diante das evidências científicas é
Esse dado é semelhante ao da pesquisa positivo. Concluíram dessa maneira que necessário transformar a prática clínica,
realizada pelo Ministério da Saúde em exposição oral está associada com ser e aproximar-se dos portadores de doen-
2008, que avaliou que a utilização de portador do vírus HIV, especialmente ças infecciosas, permitindo uma maior
preservativos em todas as relações para usuários de crack (p<0,0001). eficiência e maior abrangência de atua-
sexuais em população sexualmente Avaliar o risco exato de transmissão ção, acima de tudo, uma profissão com
ativa, nos 12 meses que antecederam a de HIV através de sexo oral é muito atitudes éticas e antidiscriminatórias.
pesquisa, foi de 25,5% 29. difícil, principalmente porque a maioria
Segundo o Centers for Disease dos indivíduos pratica sexo oral em CONCLUSÃO
Control and Prevention/CDC30 (2011) conjunto com outras formas de sexo, Os dados apontaram dificuldade no
o uso não contínuo do preservativo, como vaginal e/ou anal. Dessa maneira, atendimento de pacientes vivendo com
mesmo que na maioria das relações quando a transmissão acontece, é difícil HIV/Aids e Hepatite B, convergindo
sexuais, não impacta na prevenção, já determinar se ocorreu ou não como a preocupações que revelaram o des-
que contaminação pode ocorrer através resultado de sexo oral e isso pode gerar preparo no que se refere ao tratamento
de um único ato sexual com parceiro hesitação em se atribuir a transmissão odontológico desses. Observou-se um
infectado, ou seja, os demais grupos à prática oral na presença de riscos alto índice de acidentes com instrumentos
(maioria das vezes, poucas vezes e não simultâneos1,12. perfurocortantes aliados a pouca procura
uso) estão vulneráveis. Diante desses dados, percebe-se a por serviço especializado nesta situação,
Uso correto e consistente de ca- necessidade de se fazer uma avaliação e um baixo percentual de utilização
misinhas masculinas de látex pode concreta sobre as dificuldades diante de preservativos em todas as relações
reduzir (apesar de não eliminar) o de pacientes com doenças infecciosas. sexuais, revelando um contexto de pro-
risco de transmissão de DST. Porém, Se o risco de transmissão sexual dessas vável vulnerabilidade desfavorável dos
se os preservativos não são utilizados doenças é bem maior que o risco de cirurgiões-dentistas pesquisados para
corretamente, o efeito protetor pode transmissão ocupacional, há justificati- hepatite B e HIV/Aids, não apenas em
ser diminuído mesmo quando o uso é vas para medos e preconceitos diante do sua vida profissional, mas também no
constante30. atendimento desses pacientes? âmbito sexual.

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
242 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

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tract Tu.C.2673]. 21. Do AN, Ciesielski CA, Metler RP, Data de aceite: 08/11/2011
11. Page-Shafer K, Veugelers PJ, Moss AR, Hammett TA, Li J, Fleming PL. Occu- Endereço para correspondência:
Strathdee S, Kaldor JM, van Griensven pationally acquired human immunode- Francisco Artur Forte Oliveira
GJ. Sexual risk behavior and risk factors ficiency virus (HIV) infection: national E-mail: arturforte@ymail.com

Oliveira, Francisco Artur Forte et al. Odontologia e Doenças Sexualmente Transmissíveis - Qual o maior risco de infecção entre cirurgiões-dentistas, sexo ou acidente ocupacional?
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 243

Pesquisa científica

Análise tomográfica entre a conformação pré e pós-cirúrgica


do sistema de canais radiculares utilizando o sistema
ProTaper® Universal rotatório e manual - Estudo in vitro

Tomographic analysis between the conformation pre and post-surgical root canal
system using the universal system ProTaper® rotary and manual - Study in vitro

Raul Costa FariasI RESUMO


Sandra Maria Alves Sayão MaiaII Estudos demonstram que a instrumentação mecânica do sistema de canais radiculares
desempenha um importante papel nos princípios básicos do tratamento endodôntico, haja
vista, os inúmeros instrumentos e técnicas que têm sido desenvolvidos. O propósito deste
trabalho foi avaliar a modelagem dos canais radiculares distais dos molares inferiores e
palatinos dos superiores, após o uso de um mesmo sistema de instrumentos, o ProTaper,
movidos de forma manual e automatizada, utilizados com a abordagem coroa-ápice. Foi
realizado um ensaio clínico laboratorial, utilizando 40 dentes molares, sendo 20 superiores
e 20 inferiores. Antes e após a instrumentação foi realizada tomografia computadorizada
para comparação do diâmetro dos canais. Os resultados demonstraram que não houve
diferença estatisticamente significante quanto à instrumentação sob as duas táticas,
confirmando assim um sistema confiável de limas para tratamento de canais tanto com o
uso de motor eletrônico quanto de maneira manual.

Palavras-chave: Preparo de canal radicular/instrumentação. Tratamento do canal radicular.


Instrumentos odontológicos.

ABSTRACT
Studies have shown that mechanical instrumentation of the root canal system plays an
important role in the basic principles of endodontic treatment, there is seen, the many
tools and techniques that have been developed. The purpose of this study was to evaluate
the modeling of the distal root canals of mandibular molars and palatal of the upper, after
using the same system of instruments, ProTaper, moved from a manual and automated
use with the crown-down approach. We conducted a clinical laboratory, using 40 molar
teeth, 20 upper and 20 lower. Before and after instrumentation CT scan was performed
to compare the diameter of the channels. The results showed no statistically significant
difference in the instrumentation under the two approaches, confirming a reliable system
of files for processing both channels with the use of electronic engine and the manual way.

Keywords: Root canal reparation/instrumentation. Root canal therapy. Dental instruments.

INTRODUÇÃO com material obturador1,2. Os meios


A Endodontia é a especialidade mecânicos (instrumentos) assumem
da Odontologia que previne e cura importância fundamental durante
as enfermidades na polpa dental e o preparo biomecânico dos canais
tecidos periapicais. As patologias radiculares, uma vez que é através
irreversíveis, quer inflamatórias quer deles que realizamos a instrumentação
I Mestrando em Dentística pela Faculdade de infecciosas, quando diagnosticadas, que, após complementada com a
Odontologia São Leopoldo Mandic, Belo exigem o tratamento adequado que irrigação e aspiração de soluções
Horizonte (MG).
II Pós-doutora em Endodontia. Professora Ti-
consiste em esvaziar a cavidade pulpar, irrigadoras, nos permitirão atingir os
tular da Faculdade de Odontologia do Recife sanitizá-la e esculpi-la de modo a objetivos propostos por Schilder, isto
(FOR). permitir o seu posterior preenchimento é, a limpeza e modelagem do canal

Farias, Raul Costa et al. Análise tomográfica entre a conformação pré e pós-cirúrgica do sistema de
canais radiculares utilizando o sistema ProTaper® Universal rotatório e manual - Estudo in vitro
244 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

radicular3. O preparo do canal, por apresentando conicidades que variam


envolver limpeza e escultura, utiliza de 2,5% a 19%. Possuem comprimento
instrumentos cirúrgicos específicos, de 21 e 25mm e a guia de penetração
que podem ser propelidos manual, é inativa4-8. O objetivo do presente
pneumática e eletricamente. Para estudo é avaliar a modelagem dos
tanto, o preparo automatizado canais radiculares após o uso de um
(eletricamente) requer treinamento e mesmo sistema de instrumentos, o Fig. 1 - Instrumentos do kit ProTaper®
rotatório.
profundo conhecimento da anatomia ProTaper®, movido de forma manual
interna do órgão dental. Os sistemas e automatizada (Figura 2).
rotatórios, através do emprego de
instrumentos fabricados com liga METODOLOGIA
de níquel titânio (NiTi) associados Para realização deste experimento,
a motor, são usados com rotação foi utilizada uma amostra de 40 dentes
completa (360o)3. A instrumentação molares removidos cirurgicamente de Fig. 2 - Limas ProTaper® manuais.
rotatória representa atualmente uma humanos, independente do gênero e
verdadeira “evolução tecnológica com idade superior a 18 anos, doados
na Endodontia”, por possibilitar a ao acervo da Faculdade e concedidos
realização de tratamentos de canais posteriormente para esta pesquisa,
radiculares atresiados, retos e/ou por pacientes da clínica de cirurgia e
curvos de molares, de uma forma integrada da Faculdade de Odontologia
muito mais rápida. do Recife mediante a assinatura de
Em 2003, a Dentsply® Maillefer, um Termo de Consentimento Livre
lançou o sistema ProTaper ®, um e Esclarecido. Como critério de
conjunto de instrumentos que exclusão foram dispensados dentes
apresentam conicidade variada, que foram submetidos a um tratamento
Fig. 3 - Mesas de cera para o
permitindo que o instrumento trabalhe endodôntico anteriormente e dentes posicionamento dos elementos dentários.
em uma área específica do canal que não completaram a rizogênese.
durante o preparo coroa-ápice (Figura Neste ensaio clínico laboratorial
1)4. O Sistema ProTaper® Universal, realizou-se um estudo comparativo
aprimoramento do já citado, é composto entre as instrumentações dos canais
por seis instrumentos confeccionados procedidas pelas duas técnicas, os
em NiTi. Os três primeiros têm como quais tiveram todos os parâmetros
função proporcionar a modelagem dos de avaliação iguais, exceto pela Fig. 4 - Tomografia do elemento A6 antes da
terços cervical e médio dos canais variável motriz. Na tentativa de instrumentação endodôntica.
radiculares, sendo denominados de controlar possíveis variações de
Shaping files. Os demais têm a função instrumentação, todas as etapas desde
de finalizar o preparo do terço apical a seleção, preparo, armazenamento,
dos canais radiculares, sendo, portanto instrumentação e obturação dos
denominados de Finishing files. dentes, foram realizadas pelo mesmo
Os instrumentos responsáveis pelo pesquisador. Antes da primeira fase
preparo cervical e médio são divididos radiográfica, os elementos foram
em Shaping X (SX), Shaping 1 (S1) separados em quatro mesas de cera Fig. 5 - Motor X-Smart utilizado na
e Shaping 2 (S2). Os instrumentos utilidade divididas em (Figura 3): instrumentação rotatória.
de finalização do preparo do terço Mesa A (10 molares inferiores para
apical também se subdividem em instrumentação com ProTaper ®
Finishing 1 (F1), Finishing 2 (F2) manual); Mesa B (10 molares
e Finishing 3 (F3). A característica inferiores para instrumentação
mais marcante nestes instrumentos é com ProTaper ® rotatório); Mesa
a conicidade variada presente em um C (10 molares superiores para
mesmo instrumento. Por exemplo, o instrumentação com ProTaper ®
S1 apresenta diâmetro de ponta igual a manual); Mesa D (10 molares Fig. 6 - Tomografia do elemento A6 após da
0,19mm, parte ativa de 14 milímetros superiores para instrumentação com instrumentação endodôntica.

Farias, Raul Costa et al. Análise tomográfica entre a conformação pré e pós-cirúrgica do sistema de
canais radiculares utilizando o sistema ProTaper® Universal rotatório e manual - Estudo in vitro
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 245

finalidade a exploração do canal: uma


lima #10K em CAD (comprimento
aparente do dente) -2mm; em seguida,
irrigação, aspiração e preenchimento
do canal com o EDTA (Ácido
etilenodiaminotetracético) em gel e
a primeira lima do sistema ProTaper®
manual a qual foi a Sx, no CPT
(comprimento provisório de trabalho),
em movimentos oscilatórios, até
permitir giros contínuos e folgar
no interior do canal. Após o uso da
lima, foram realizadas nova irrigação,
aspiração e preenchimento do canal
Gráfico 1 - Média da conicidade segundo a avaliação e o tipo de lima no arco inferior
com o EDTA em gel. A odontometria
foi averiguada de forma direta: quando
a lima #10 ultrapassou o forame
apical e foi visualizada, recuou-se
1mm e a medida anotada. Após isso,
foram usadas as limas de modelagem
(shaper) S1 (anel roxo) e S2 (anel
branco) no CRT (Comprimento real de
trabalho) e, na sequência, utilizadas as
limas de acabamento (finishig) F1 (anel
amarelo), F2 (anel vermelho) e F3 (anel
azul). A escolha da lima de acabamento
quer F1, F2 ou F3 dependerá do ajuste
apical da lima manual do tipo K de
número correspondente às limas de
Gráfico 2 - Média da conicidade segundo a avaliação e o tipo de lima no arco superior acabamento ProTaper®.
A diferença entre as táticas manual
e rotatória consiste na utilização de
ProTaper® rotatório). Após a coleta, através de irrigação com hipoclorito de um motor elétrico, o qual determina o
limpeza, armazenamento e divisão dos sódio a 2,5%, em seringas descartáveis torque e a velocidade dos instrumentos
grupos, a primeira fase radiográfica 20ml (BD), inundando o canal e dentro do canal. Tais instrumentos
foi realizada, através de tomografia penetrando com uma lima tipo K #10 rotatórios foram usados em baixa
computadorizada de feixe cônico (Maillefer) até ficar ajustada ao forame rotação e acionados por motor elétrico
(Figura 4); para esta fase as quatro apical. Tal medida corresponde ao a uma velocidade que variou de 150 a
mesas (“a”, ”b”, ”c” e “d”) foram comprimento real do dente (CRD), 300 rpm (rotações por minuto) e um
colocadas umas sobre as outras para do qual recuou-se um milímetro, torque de 3 Newtons em um contra-
realização de apenas uma tomografia. obtendo-se assim, o comprimento real ângulo de 16:110. O motor utilizado foi
Os quarenta molares foram abertos de trabalho (CRT) por odontometria o motor elétrico endodôntico X-Smart
com pontas montadas, diamantadas visual direta. As medidas obtidas (Dentsply/Maillefer), desenvolvido
esféricas 1012 (KG SORENSEN), durante a medição do comprimento para os principais sistemas de
e a forma de contorno com a broca real de trabalho dos dentes e suas instrumentação rotatória do mercado
Endo-Z (Dentsply/Maileffer®), ambas referências foram anotadas. (Figura 5). A escolha do cone
sob alta rotação (Dabi Atlante). Inicialmente, executou-se a obturador foi definida através dos
Naquela ocasião, foram removidas irrigação dos canais radiculares com testes linear, visual (conemetria), táctil
as restaurações existentes e cárie nos hipoclorito de sódio a 2,5% (solução e radiográfica. Logo, procedeu-se a
elementos dentários. de Labarraque)9, depois a aspiração e obturação dos sistemas de canais,
Promoveu-se o esvaziamento inundação com a mesma solução sendo usando cone único cimentado com
do conteúdo dos canais radiculares que a primeira lima usada teve como o cimento Sealer 26 (Dentsply/

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canais radiculares utilizando o sistema ProTaper® Universal rotatório e manual - Estudo in vitro
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Tabela 1 - Média e desvio padrão da conicidade dos molares segundo o arco, DISCUSSÃO
avaliação e tipo de lima. A Odontologia vem se
Tipo de lima modernizando a cada dia: são muitos
Arco Avaliação Manual Rotatória Valor de p avanços tecnológicos em todas as
especialidades. A Endodontia por sua
Média ± DP (n, CV%) Média ± DP (n, CV%) vez, lança mão de sistemas de limas
Inferior Antes 0,94 ± 0,36 (13, 38,30) 1,09 ± 0,38 (11, 34,86) p(1) = 0,331 acionadas por motores elétricos. O
Depois 1,10 ± 0,44 (13, 40,00) 1,30 ± 0,37 (11, 28,46) p(1) = 0,246 sistema estudado na presente pesquisa
pode ser utilizado de duas formas:
rotatória ou manual. O sistema de
Superior Antes 0,78 ± 0,18 (10, 23,08) 0,90 ± 0,24 (10, 26,67) p(1) = 0,210 limas ProTaper® manuais tem o mesmo
Depois 1,08 ± 0,17 (10, 15,74) 1,13 ± 0,48 (10, 15,93) p(2) = 0,757 custo daquele de limas rotatórias, e
a mesma eficiência de corte como
DP = Desvio padrão; provadas em nosso trabalho, logo,
CV = Coeficiente de variação. a utilização do referido sistema é
(1): Através do teste t-Student com variâncias iguais.
ideal em países em desenvolvimento
(2): Através do teste t-Student com variâncias desiguais.
Obs.: a média e o desvio padrão foram expressos em mm e o coeficiente de variação, em percentual. e mesmo subdesenvolvidos. O modo
manual surgiu como uma alternativa
ao rotatório11. O “Hand ProTaper®
possui a mesma filosofia, indicação
Maillefer), levado aos canais com as igualdade de variâncias foi realizada e sequência daquele rotatório, só
espirais de lentulo e obturados com através do teste F de Levene. A que com um custo menor, pois a
seus respectivos cones de guta-percha digitação dos dados foi em planilha instrumentação é toda manual, não
F1, F2 ou F3 de acordo com o último do Excel (Microsoft Office 2007) e os havendo, portanto, a utilização do
instrumento “F” usado. Depois de cálculos estatísticos foram realizados motor elétrico.
cimentados os cones, procedeu-se através do programa SPSS (Statistical Em ensaio clínico laboratorial
o corte, a condensação vertical e o Package for the Social Sciences) na realizado em 60 raízes mesiais de
acabamento em nível cervical. Com a versão 15. A margem de erro utilizada molares inferiores, observaram
finalidade de simular um tratamento, na decisão dos testes estatísticos foi que o sistema rotatório ProTaper®
após as obturações, foram feitos os 5,0%. é um sistema seguro, visto que não
selamentos das aberturas cirúrgicas encontraram sequer um caso de
das coroas dentárias com óxido de RESULTADOS perfuração radicular12. A segurança
zinco e eugenol. Em seguida aos Na Tabela 1 apresentam-se a média desse sistema foi confirmada em
selamentos coronários, as tomografias e o desvio padrão da conicidade dos pesquisa que envolveu estudantes
computadorizadas de feixe cônico molares superiores e inferiores segundo tanto treinados quanto não treinados
dos elementos dentários foram feitas. o tipo de lima utilizado em cada uma anteriormente6,13-15. Demonstraram,
Foi traçada uma reta medindo 4mm das avaliações antes e depois da ainda, a facilidade e a simplicidade
a partir do forame apical, no sentido instrumentação. Desta tabela destaca- desse sistema por utilizar um número
coronário. Naquele limite, traçou-se se que: as médias da conicidade foram menor de limas 7,16 . No presente
outra reta, no sentido transversal, ou correspondentemente mais elevadas estudo tanto o uso do instrumento
mesodistal, a fim de se obter a medida quando utilizada a lima rotatória, manual quanto rotatório demonstrou
do diâmetro de cada canal, medidas em cada um dos arcos e avaliação, segurança e praticidade no preparo de
por meio do programa IcatVision® entretanto sem diferença significativa canais radiculares.
(Figura 6). Na análise dos dados em nenhum dos arcos e avaliações ao
foram obtidas as medidas estatísticas: nível de significância considerado CONCLUSÕES
média, desvio padrão e coeficiente (p > 0,05); A variabilidade expressa Não houve nenhuma diferença
de variação (Técnicas de estatística) através do coeficiente de variação significativa entre as duas táticas
e utilizados os testes estatísticos não se mostrou elevada desde que a operatórias utilizando a técnica.
t-Student com variâncias iguais e referida medida foi no máximo igual A instrumentação manual com o
de variâncias desiguais (Técnicas a 40,00%. Tais informações descritas sistema é viável e indicada para uso
de estatística inferencial). Ressalta- anteriormente podem ser melhor em serviços públicos e para países em
se que a verificação da hipótese de observadas nos Gráficos 1 e 2. desenvolvimento.

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canais radiculares utilizando o sistema ProTaper® Universal rotatório e manual - Estudo in vitro
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 247

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Endereço para correspondência:
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Sandra Maria Alves Sayão Maia
Bramante CM, Moraes IG, Bernardi- 13. Guelzow A, Stamm O, Martus P,
E-mail: sandrinhasayao@hotmail.com
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Pesquisa científica

Osteotomia e odontossecção - Quando realizá-las em


cirurgias de terceiros molares superiores retidos

Osteoctomy and tooth section - When should be used in upper third molar surgery

Tiago Estevam de AlmeidaI RESUMO


Jesus Saavedra JuniorII Introdução - A remoção de dentes retidos é o procedimento cirúrgico mais realizado por
André Luis Ribeiro RibeiroIII Cirurgiões Bucomaxilofaciais e, mesmo assim, permanece como um dos mais desafiadores.
Neste trabalho avaliou-se a necessidade de realização de osteotomia e odontossecção
Alexandre Meloti Dottore IV para a éxerese de terceiros molares superiores retidos. Métodos - Foram analisados 300
Paulo Yataro KawakamiIV casos cirúrgicos de 3º molares superiores retidos e avaliada a necessidade de osteotomia
e odontossecção para sua avulsão. Os autores basearam-se na classificação de Winter para
obtenção de um referencial e relacionaram às técnicas cirúrgicas necessárias para extração
em cada tipo de angulação. Resultados - Dentre as retenções mais comuns, a mesioangular
foi a que exigiu técnica mais laboriosa, necessitando de osteotomia em 73,3% dos casos.
Odontossecções não foram realizadas e osteotomias estiveram presente em 44% de todos
os casos. Encontrou-se 6 casos de retenções raras. Conclusão – Não houve necessidade
de odontossecções e osteotomias foram executadas em 44% das situações. Nas retenções
de maior prevalência, a mesioangular exigiu maior percentagem de osteotomias (73,3%),
seguido da distoangular (65,6%) e a vertical (19,6%).

Palavras-chave: Osteotomia. Terceiro molar/cirurgia. Dente impactado.

ABSTRACT
Introduction - The removal of teeth retained is the surgical procedure more performed by
Oral Maxilofacial surgeons and still remains as one of the most challenging. This article
focuses on the need for realization of odontosection, osteotomy for the excision of retained
up third molars. Methods - We analyzed 300 cases of surgical up 3rd molars retained and
assessed the need for osteotomy and odontosection for its avulsion. The authors were based
on the classification of Winter to obtain a reference and related to the surgical techniques
necessary to extract every kind of angle. Results - Among the most common retention to
mesioangular demanded that the technique was more laborious, requiring osteotomy in
73.3% of cases. Odontosection not been implemented and osteotomies were present in
44% of all cases. We found 6 cases of rare retentions. Conclusion - There wasn´t need for
odontosections and osteotomies were performed in 44% of cases. In the higher prevalence
retentions, the highest percentage of osteotomies was in mesioangular (73.3%), followed
by distoangular (65.6%) and vertical (19.6%).

Keywords: Osteotomy. Molar, third/surgery. Tooth, impacted.

I Graduado em Odontologia. Mestre em Ci-


rurgia Bucomaxilofacial pela Universidade
INTRODUÇÃO mas são pouco viáveis para 3º molares
de São Paulo ( USP). A retenção dental é assunto superiores.
II Cirurgião-dentista com Residência e Espe- controverso na literatura mundial, Sob ponto de vista cirúrgico, as
cialização em Cirurgia Bucomaxilofacial contudo, a remoção cirúrgica das extrações dos 3º molares superiores
pelo Hospital Municipal Tatuapé/SP “Dr.
Carmino Caricchio”.
unidades envolvidas é o procedimento são procedimentos viáveis, porém
III Mestre em Patologia Bucal pela Universidade mais indicado. Tratamentos alternativos tecnicamente difíceis, necessitando de
Federal do Pará. Professor de Cirurgia do podem ser executados para que se vise indicações precisas3.
Centro Universitário do Pará. favorecer a erupção dental, aguardar O 3º molar superior chama a
IV Cirurgião-dentista. Especialista em Cirurgia
Bucomaxilofacial pela Universidade de
sua erupção espontânea ou realizar atenção por ser o 2º em número de
Guarulhos (UNG). acompanhamento clínico-radiográfico retenções17, todavia, são relativamente
V Doutor em Periodontia pela UNG. de possíveis alterações patológicas, pouco estudados na literatura quando

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Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 249

comparados às demais unidades, e infratemporal possibilita riscos às MÉTODOS


conferindo uma falsa impressão quanto estruturas que por ela passam, podendo A metodologia utilizada obedece a
a real importância que se faz necessário ser traumatizadas por instrumentos, seguinte estrutura:
à sua remoção. micro-organismos e pelo próprio dente.
É relevante observar o índice Dentre os acidentes e complicações Considerações gerais
de retenção do 3º molar superior, potenciais, pode-se citar: a fratura O presente estudo foi realizado no
que alcança 20,28% dentre todos da tuberosidade 12 ; comunicação Centro de Especialidade Odontológica
os dentes nesta condição, ficando bucosinusal; deslocamento do dente São João da Prefeitura Municipal
atrás somente do 3º molar inferior para o interior do seio maxilar, de Guarulhos (SP), nos meses de
com 37,78% 17 . Investigando as tecidos moles13 ou fossas pterigóide e julho/2007 a junho/2008.
angulações em que se encontravam, infratemporal15; lesão de tecidos moles Os pacientes foram selecionados
dentre a classificação de Winter para por uso inadvertido do instrumental; após passarem por um prévio
terceiros molares superiores (Tabela hemorragias e infecções16; como as atendimento clínico-geral e então
1), a mesioangular, distoangular e principais e mais severas que podem encaminhados para a triagem do serviço
vertical foram responsáveis por mais ocorrer. de cirurgia. Neste momento, concluía-
de 99% das ocorrências, sendo as A cirurgia precisamente indicada se o diagnóstico e determinava-se o
demais inclinações responsáveis e em ocasião oportuna são critérios tratamento.
pelo restante, consideradas raras12. fundamentais para sua execução, Não foram analisados dados
Em estudo radiográfico de 1000 possibilitando um planejamento estatísticos a respeito do número de
pacientes, investigando-se o 3º adequado e certamente com excelentes retenções individuais, sexo, idade e raça
molar superior, foram encontradas as chances de obtenção de um resultado dos pacientes em virtude do objetivo do
seguintes angulações: vertical (15%), satisfatório. Para planejar uma cirurgia trabalho estar voltado para angulação do
mesioangular (37,5%) e distoangular de 3º molar superior, o cirurgião vê- terceiro molar superior e quais técnicas
(47,5%), não sendo relatados casos em se diante de duas principais questões: cirúrgicas seriam empregadas, tornando
outras posições5. remover ou não tecido ósseo e essas informações relevantes.
Muita atenção é conferida aos seccionar ou não o dente, visto que os
3º molares inferiores1,2,4,8-10, sendo demais passos cirúrgicos seguem um Considerações específicas
que, para os superiores têm-se determinado padrão e admitem pouca Para a realização do trabalho
preconizado uma adaptação da técnica, variação. Assim o presente trabalho foram selecionados exclusivamente 3º
demonstrando um interesse reduzido se propôs a avaliar a necessidade molares superiores retidos, e, em relação
pelo ato. Não obstante, considerações de osteotomia e odontossecção nas à técnica cirúrgica, a exodontia a fórceps
específicas à região posterior da maxila cirurgias de 3º molares superiores e não foi empregada, em vista da própria
(tuberosidade) e áreas circunvizinhas, classificá-las conforme sua angulação condição de retenção, inviabilizar o uso
fazem por merecer maiores estudos a segundo a classificação de Winter correto deste instrumento.
fim de se reduzir o número de acidentes (Tabela 1), objetivando conferir mais Dividiu-se em quatro as técnicas
e complicações. Estes, não são raros subsídios aos cirurgiões facilitando a cirúrgicas utilizáveis, em ordem
na literatura, sendo supostamente mais tomada de decisões. crescente de dificuldade, conforme o
comuns do que os casos relatados, seu emprego: Exodontia por elevadores
segundo a mesma6. (quando utilizadas exclusivamente),
Investigando as condições técnicas Tabela 1 - Classificação de por odontossecção, por osteotomia, por
sob ponto de vista anátomo-cirúrgico, Winter para os terceiros osteotomia associada a odontossecção.
o cirurgião ao operar um 3º molar molares superiores retidos A elevador foi o instrumento utilizado
superior, depara-se com um campo de para a luxação e avulsão dentária em
ação e visualização bastante restrito, 1- Vertical todas as técnicas.
exigindo-lhe destreza, experiência e Estas técnicas foram aplicadas para
2- Mesioangular
tato apurado. Um íntimo contato do cada classe de angulação dos dentes
dente com o seio maxilar é outro fator 3- Horizontal inclusos, conforme fossem ocorrendo
que aumenta o risco e dificuldade da 4-Distoangular até uma quantidade total de 300
cirurgia, sendo normalmente separados 5- Vestibuloangular terceiros molares superiores retidos.
por uma delgada lâmina óssea, que em Os pacientes selecionados, deveriam
6- Liguoangular
certos casos, pode até estar ausente. A obrigatoriamente possuir o 2º molar
proximidade com as fossa pterigóide 7- Invertido superior ipsilateral erupcionado e com

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superfície coronária que mantivesse


Tabela 2 - Incidência dos tipos de retenções dos terceiros molares
sua anatomia e o 3º molar superior
superiores segundo a classificação de Winter.
retido com a rizogênese completa ou
estar próximo dela (estágio 9 e 10 de Angulação Número de casos Percentagem
NOLLA), a fim de que a técnica não
fosse alterada pela incompleta formação 1-Vertical 153 51%
radicular. Nos casos selecionados, os 2- Mesioangular 45 15%
3º molares não poderiam apresentar 3- Horizontal 6 2%
alterações anatômicas aberrantes ou
4- Distoangular 96 32%
patologias associadas (excetuando-
se as pericoronarites), que por si só 5- Vestibuloangular - -
indicassem uma técnica cirúrgica 6- Linguoangular - -
específica. 7- Invertido - -
Os terceiros molares superiores
Total 300 100%
eram classificados conforme sua
angulação no prontuário do paciente,
sendo em seguida anotados os achados Tabela 3 - Frequência das técnicas cirúrgicas utilizadas.
cirúrgicos, que eram transferidos Técnica Número de casos Percentagem
também ao prontuário, indicando qual
das quatro técnicas supracitadas fora Elevador 168 56%
utilizada. Odontossecção - -
Sabendo-se das intercorrências Osteotomia 132 44%
transoperatórias, na qual uma técnica
mais simples (elevadores) inicialmente Osteotomia + odontossecção - -
eleita, necessitou de uma técnica mais
complexa (osteotomia), elegeu-se esta Tabela 4 - Incidência dos instrumentos usados para osteotomia.
última como a técnica utilizada na
Instrumento Número de casos Percentagem
classificação, por ser esta, a que logrou
êxito ao procedimento. Manual 114 86,40%
Brocas 18 13,60%
RESULTADOS
O presente estudo apontou a correlaciona a angulação do 3º molar o interior do seio maxilar do que de um
angulação vertical (51%) como a mais superior com a técnica cirúrgica alvéolo dental.
prevalente para os 3º molares superiores utilizada para sua remoção. Os 3º molares superiores são
retidos, seguido da distoangular (32%), dentes que conseguem completar
mesioangular (15%) e 2 casos em DISCUSSÃO sua erupção mais facilmente que os
posições pouco comuns, a angulação Não houve concordância com 3º molares inferiores, provavelmente
horizontal com 2% do total (Tabela 2). a literatura ao confrontar os dados por ausência de barreiras físicas
Em relação às técnicas cirúrgicas, sobre a incidência das retenções (ramo ascendente da mandíbula) e por
apenas duas foram utilizadas, a da (Tabela 2). A retenção vertical foi a estar em um osso de suporte menos
elevador e a da osteotomia. Não houve mais comum das angulações (51%), compacto. Isto pode explicar o grande
caso em que o seccionamento do responsável pela maioria dos casos, índice de retenções verticais (51%),
dente oferecesse melhoria na técnica sendo completamente contrário ao que possivelmente completariam seu
ou minimizar o trauma cirúrgico estudo de Fonseca5 (1956), no qual processo eruptivo. Todavia, estes ao
(Tabela 3). representa-se como a menos frequente. terminarem sua erupção, localizam-
As osteotomias eram realizadas por Observaram-se seis situações nas quais se em posição pouco desejável,
instrumentos de ação manual ou através os pacientes apresentaram os 3º molares funcionalmente desprovido, devido o
de brocas acionadas por instrumento superiores em posição horizontal, próprio posicionamento inadequado
rotatório em baixa rotação, e foram condição bastante indesejável, pois ou pela ausência de antagonista, com
distribuidas segundo a Tabela 4. em tal feito o 3º molar posicionou- dificuldades de higienização, sendo a
A Tabela 5 ilustra a resposta se ¨deitado¨ acima dos ápices dos 2º remoção profilática um fator de melhora
à proposição do trabalho, na qual molares, estando localizados mais para da saúde bucal do paciente14.

Almeida, Tiago Estevam de et al. Osteotomia e odontossecção - Quando realizá-las em cirurgias de terceiros molares superiores retidos
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 251

Tabela 5 - Incidência das técnicas cirúrgicas para as diversas angulações dos terceiros molares superiores encontrados.
Elevador Odontosecção Osteotomia Odontosecção Total
+ osteotomia

nº % Nº % Nº % Nº % nº %
Vertical 123 80,4 - - 30 19,6 - - 153 100
Mesioangular 12 26,7 - - 33 73,3 - - 45 100
Horizontal 0 0 - - 6 100 - - 6 100
Distoangular 33 34,4 - - 63 65,6 - - 96 100
Vestibuloangular - - - - - - - - - -
Liguoangular - - - - - - - - - -
Invertido - - - - - - - - - -

Os 3º molares superiores são de inclinação. Nestes, a osteotomia mais difícil extração, por necessitar
tecnicamente mais fáceis de serem devem ser criteriosa e amplamente de maior percentual de osteotomia
removidos quando posicionados em executadas, de preferência com (73,3%), seguido da distoangular
sentido distoangular, seguindo o instrumentos rotatórios de baixa (65,6%) e por último a vertical
vertical e por último o mesioangular12. rotação. A comunicação bucosinusal (19,6%).
Em nossos dados, a angulação que é praticamente inevitável e a avulsão 4- As osteotomias necessárias
requisitou de técnica mais simples do dente deve ser extremamente podem ser executadas por
(elevador) segundo o objeto de estudo controlado sob supervisão visual. Estas instrumentos manuais, na maioria
foi a vertical em 80,4% dos casos. ocorrências não implicam na formação dos casos.
Apenas a inclinação horizontal foi de fístula bucosinusal ou aumento
unânime em requisitar de osteotomia das complicações pós-operatórias,
REFERÊNCIAS
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A osteotomia deve ser sempre Ressaltamos que, para os 3º molares Odontosseção intermediária em retenção
realizada com cinzel a pressão manual8. superiores, todo e qualquer movimento atípica de terceiro molar inferior. Rev
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Apesar de alguns instrumentos não CONCLUSÕES 1987; 16(14): 385-90.
serem desenvolvidos para tal uso, Ciente dos resultados, obtivemos 4. Quee TA, Gosselin D, Millar EP,
foram adaptados com eficiência a esta importantes conclusões sobre a Stamm JW. Surgical removal of the
função na técnica por nós utilizada. execução ou não de osteotomias e fully impacted mandibular third mo-
Não notamos qualquer inconveniente odontossecções em cirurgias de 3º lar. The influence of the flap design
que pudesse levar risco ao paciente, molares superiores retidos: and alveolar bone height on the pe-
contraindicando seu uso. Os demais 1- Não houve necessidade de riodontal status of second molar. J
casos foram realizados com brocas odontossecções em cirurgias de 3º Periodont. 1985; 56(10): 625-30.
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cirúrgicas em baixa rotação. molares superiores.
dentaria em 1000 pacientes com
As retenções horizontais merecem 2- Aproximadamente metade dos exame radiográfico completo. Sel
bastante atenção por parte do cirurgião, casos necessitaram de osteotomia Odont. 1956; 11(59): 21-8.
pois somam o maior número de (44%). 6. Howe GL. Tooth removed from
condições adversas e em níveis mais 3- Dentre as retenções mais the lingual pouch. Br Dent J. 1958;
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Almeida, Tiago Estevam de et al. Osteotomia e odontossecção - Quando realizá-las em cirurgias de terceiros molares superiores retidos
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Data de aceite: 22/11/2011
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Endereço para correspondência:
das com micromotor e alta rotação on salivary microbiotal counts in
Tiago Estevam de Almeida
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E-mail: tiagobucomaxilo@hotmail.com
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Almeida, Tiago Estevam de et al. Osteotomia e odontossecção - Quando realizá-las em cirurgias de terceiros molares superiores retidos
Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 Rev. ABO Nac. 253

ABO Nacional:
95 anos de contribuições
para a Odontologia brasileira
F
undada em 1917 para incentivar
os cirurgiões-dentistas de todo o
Brasil a trilhar o caminho asso-
ciativo e, assim, fortalecer a profissão, a
ABO Nacional consolidou-se ao longo
dos anos como uma entidade com forte
presença e atuação que contribuiu para a
valorização da Odontologia, do profissio-
nal que representa e, consequentemente,
da saúde bucal da população. Em janeiro
de 2012, a ABO Nacional completa 95
anos de existência e a Revista ABO
Nacional aproveita a oportunidade para
contar um pouco dessa trajetória tão
bem-sucedida, que possui forte atuação 1929: um dos primeiros registros da história da ABO, no Rio de Janeiro

política, científica e institucional.


A entidade adotou oficialmente, em a proposta durante reunião do Conselho cria ainda um setor voltado a atividades
1949, o nome de Associação Brasileira Deliberativo, defendendo a designação culturais, serviços administrativos, labo-
de Odontologia (ABO Nacional). Em do termo “associação” como algo mais ratório físico-biológico, sociedade espe-
seu primeiro estatuto, no artigo 1°, está representativo e forte do que “união”. A cializada, biblioteca e arquivo de revistas,
escrito: “A Associação Brasileira de identidade foi cedida pela ABO/RJ, que museu odontológico e a instalação de um
Odontologia (ABO Nacional), suces- já utilizava desde 1943, quando deixou Hospital Dentário Modelo.
sora da União Odontológica Brasileira, de ser denominada Casa do Dentista Entre os serviços previstos para o
constituída em 22 de janeiro de 1949, na Brasileiro, existente desde 1937. A seção cirurgião-dentista está também um setor
cidade de São Paulo, é o órgão máximo carioca foi a única que não precisou mudar social e um departamento de beneficência,
da Odontologia Nacional, de caráter de nome e, ao mesmo tempo, a primeira nos moldes do existente na ABO/RJ da
científico e cultural, sem fins lucrativos, a automaticamente a se enquadrar na época, que amparava o CD idoso sem
tem caráter federativo e é composta por sistemática de padronização. recursos, e que era obrigado a trabalhar
Seções estaduais a ela associadas, tendo para se manter. Um forte indício de que a
personalidade jurídica, sede e foro na Em prol do CD ABO já nasceu uma entidade organizada
cidade de São Paulo.” Um dos primeiros registros, já com e articulada e que buscava integrar e re-
O que se tem conhecimento é que o nome ABO, em benefício do CD é o presentar a Odontologia em todo o País é
esta mudança foi aprovada no decorrer da Manifesto aos Cirurgiões-dentistas do o convite da posse da nova diretoria, em
2ª Semana Internacional de Endodontia Brasil, datado de 1944, que mostra uma 1944, que tinha definidos em seu Con-
Mário Badan, realizada em Poços de entidade preocupada em se estruturar selho Administrativo os Departamentos
Caldas (MG), com apoio da Associação melhor institucional e cientificamente, de Finanças, Publicidade, Científico,
Mineira de Odontologia - que depois para, além de se fortalecer, agregar mais Social, Expediente, Exterior, além de um
tornou-se ABO/MG. Paulo Amaral, en- cirurgiões-dentistas e oferecer mais ser- Conselho Legal com sete conselheiros e
tão presidente da entidade mineira lançou viços e benfeitorias a eles. O Manifesto representantes de diversos Estados.
254 Rev. ABO Nac. Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

Contribuição para a A ABO Nacional também conso- a importância institucional que estes
Odontologia brasileira lidou outro tipo de representação da eventos tinham.
Um fator importante para a constru- Odontologia, diante da imprensa e da Com o passar dos anos, a ABO Na-
ção e formação do que é a ABO Nacional opinião pública. Através do trabalho cional continuou promovendo eventos
hoje foi a capacidade de unir diferentes desenvolvido em assessoria de imprensa, de peso para a ciência odontológica
grupos, de diferentes realidades, em a entidade, seus diretores e consultores brasileira. Em 1981, realizou no Rio de
torno de interesses comuns. Assim, foi científicos tornaram-se fonte confiável Janeiro, e em 2010, em Salvador, o Con-
alcançada uma importante meta e também quando a pauta é saúde bucal em jornais, gresso Mundial da Federação Dentária
um dos principais motivos de sua força: rádios, revistas e TV, inclusive para che- Internacional (FDI). Outro destaque foi a
crescer até fincar sua bandeira associa- car a seriedade de outras informações realização, em São Paulo, do 1º Congresso
tiva em todos os Estados brasileiros, divulgadas. Internacional de Saúde Bucal em 1994,
chegando nos dias atuais a 321 células, quando se comemorava o Ano Mundial
entre 27 Seções e 294 Regionais em todo Congressos da Saúde Bucal (Veja calendário de 2012
o território brasileiro. Para valorizar e incentivar o aperfei- na pág. 255.)
A ABO Nacional continua bastante çoamento científico e a capacitação do
atuante nas questões políticas que en- profissional através de cursos, palestras, Selo ABO
volvem a Odontologia. Presença forte congressos, entre outros eventos, foram Em 1985, a ABO Nacional criou o
em Brasília, representantes da entidade criados dentro da ABO o Calendário Selo de Qualidade ABO para ser conce-
acompanham o andamento de projetos Oficial de Congressos e as Escolas de dido a escovas e fios dentais, dentifrícios
de lei que interferem na profissão do Educação Continuada da UniABO. Um e enxaguatórios bucais. Assim, encarou
cirurgião-dentista e na saúde bucal da dos primeiros congressos aconteceu em com coragem o desafio de ingressar na
população, mantendo contato com sena- 1947, em Pernambuco: o Congresso espinhosa área de normalização e controle
dores e deputados.Aentidade conquistou Brasileiro de Odontologia, naquela de qualidade, que ainda era privilégio de
uma vaga efetiva no Conselho Nacional época, já em sua quarta edição. Na oca- poucos especialistas internacionais. Com
de Saúde (CNS), instrumento que permite sião, a entidade nacional ainda realizou isso, a entidade ganhou respeito em todo o
o controle das políticas públicas de saúde uma reunião deliberativa para debater e mundo e a indústria brasileira de produtos
pela sociedade. definir diversas questões, evidenciando de higiene bucal foi estimulada a se apri-
morar e se adequar à realidade do País, se
colocando hoje entre as mais avançadas.
Fazendo história Junto com o selo foi criado o De-
partamento de Avaliação de Produtos
“Os 95 anos de história da ABO são um verdadeiro Odontológicos da entidade (Dapo)
patrimônio da Odontologia brasileira. As causas defendi- que verifica as normas de controle de
das pela entidade – entre elas, a valorização profissional, a qualidade que definem ou caracterizam
promoção da saúde bucal e o desenvolvimento científico e materiais e produtos por meio de ensaios
clínico da Odontologia – são também a razão pela qual o físicos (mecânicos), químicos e biológi-
jovem cirurgião-dentista escolhe essa tão nobre profissão, cos, avaliando características como pH,
cada vez mais reconhecida como de vital importância para o densidade, consistência, abrasividade,
bem-estar da população. Hoje, sustentada por esta história, espuma, entre outros. Estes ensaios são
a ABO desfruta de um amadurecimento que nos permite elaborados de maneira que os dados obti-
olhar para a frente e vislumbrar horizontes ainda melhores dos a partir deles possam ser interpretados
para o exercício odontológico. É um trabalho diário, em diversas frentes, da me- de modo que os materiais satisfatórios,
nor de nossas Regionais aos nossos representantes nas mais amplas instâncias de ou em conformidade, sejam valorizados
influência na sociedade. Estamos, mais uma vez, fazendo história.” e os insatisfatórios, descartados.
Inicialmente criado com as categorias
Newton Miranda de Carvalho, Prata, Ouro e Diamante, o Selo de Qua-
presidente da ABO Nacional lidade foi aprimorado, em 2011, com o
Selo ABO Premium.
N A C I O N A L 2 0 1 2

MARÇO JUNHO SETEMBRO


ABO Distrito Federal ABO Amazonas ABO Alagoas

Congresso Internacional de Congresso Alagoano de Odontologia


Odontologia da Amazônia 6 a 8 de setembro
27 a 30 de junho Maceió (AL)
Manaus (AM) Informações:
Informações: abo@aboal.org.br
14° Congresso Internacional de abo_am@vivax.com.br www.aboal.org.br
Odontologia do Distrito Federal
21 a 24 de março SETEMBRO
Brasília (DF) JUNHO ABO Mato Grosso do Sul
Informações: ABO Espírito Santo
abodf@abo-df.org.br
www.abo-df.org.br

Abril 3º Congresso Intenacional de


ABO Pernambuco 13° Congresso de Odontologia do Odontologia do Mato Grosso do Sul
Espirito Santo 18 a 21 de setembro
28 a 30 de junho Campo Grande (MS)
Vitória (ES) Informações:
Informações: aboms@terra.com.br
aboes@veloxmail.com.br www.aboms.org.br
www.aboes.org.br
OUTUBRO
JULHO ABO Bahia
ABO Rio Grande do Sul

21° Congresso Pernambucano


de Odontologia
12 a 15 de abril
Recife (PE) 16° Congresso Internacional
Informações: 19° Congresso Odontológico de Odontologia da Bahia
scdp@abo-pe.org Riograndense 26 a 30 de outubro
www.abo-pe.org 11 a 15 de julho Salvador (BA)
Porto Alegre (RS) Informações:
Informações: abo-ba@abo-ba.org.br
MAIO abo@abors.org.br www.abo-ba.org.br
ABO Ceará www.abors.org.br
NOVEMBRO
AGOSTO ABO Santa Catarina
ABO Rio Grande do Norte

4° Congresso Internacional de 5° Congresso Internacional de


Odontologia do Ceará 12º Congresso de Odontologia do Odontologia de Santa Catarina
23 a 26 de maio Rio Grande do Norte 22 a 26 de novembro
Fortaleza (CE) 23 a 26 de agosto Florianópolis (SC)
Informações: Natal (RN) Informações:
abo@abo-ce.org.br Informações: abosc@abosc.com.br
www.abo-ce.org.br aborn@aborn.org.br www.abosc.com.br
www.aborn.org.br

Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011 255


2011/2012

JANEIRO Abril JULHO


Dubai (Emirados Árabes Unidos) Barcelona (Espanha) Cabo Frio - RJ (Brasil)

Exposição e Conferência 13° Congresso Mundial de 59º Congresso Europeu de Pesquisa


Odontológica Árabe Odontologia a Laser em Cariologia
31 de janeiro a 2 fevereiro 26 a 28 de abril Junho de 2012
Centro de Convenções e Exposições Informações: Cabo Frio
de Dubai www.wfld-barcelona2012.com Infiormações: www.orca2012.com
Informações:
www.aeedc.com

ABRIL JUNHO AGOSTO


Cingapura (Cingapura) Rio de Janeiro (Brasil) Hong Kong (China)

Encontro e Exibição Odontológica IADR – Associação Internacional FDI’2012 – 100º Congresso


20 a 22 de abril de Pesquisa Odontológica Mundial de Odontologia
Informações: 20 a 23 de junho 29 de agosto a 1º de setembro
z.zielinski@koelnmesse.com.sg Rio de Janeiro Informações:
Infiormações: www.iadr.org congress@fdiwordental.org

256 Rev. ABO Nac. - Vol. XIX nº 4 - Agosto/setembro 2011

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