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Artigos
Modelos de hipertensão arterial
Rubens Fazan Jr., Valdo José Dias da Silva e Helio Cesar Salgado

Resumo foram destacadas: a renovascular que decorre da oclusão


parcial da artéria renal; a renopriva, como o próprio nome
Existe uma busca extenuante, por parte dos pesqui- indica; a perinefrítica que decorre da indução de fibrose
sadores, de um modelo experimental que possa melhor renal pelo envolvimento do rim com um abrasivo contido
caracterizar uma patologia tão importante para o ser por um tecido; e liberação do pedículo renal após algumas
humano como a hipertensão essencial. Dentre os modelos horas de oclusão total. O modelo de constrição (parcial ou
genéticos de hipertensão são analisados os ratos com total) da aorta abdominal examina os fatores mecânico e
hipertensão espontânea (SHR) e a cepa de ratos sensíveis heurohumorais na elevação da pressão arterial. Um modelo
à ingestão de sódio (Dahl). Entre os modelos de hipertensão descrito mais recentemente, que é examinado, é o do
neurogênica são discutidos aqueles que envolvem a lesão bloqueio da formação de óxido nítrico (NO) com o L-
do núcleo do trato solitário (NTS), e o da deaferentação NAME. E, finalmente, é apresentado o modelo de hiper-
sino-aórtica, associada, ou não, à desnervação das tensão induzida pelo tratamento com deoxicorticosterona
aferências cardiopulmonares. Entre as hipertensões renais associado à ingestão alta de sódio.

Palavras-chave: Hipertensão genética; Hipertensão renal; Hipertensão neurogênica; Óxido nítrico (NO); DOCA-sal.

Recebido: 12/12/00 – Aceito: 20/01/01 Rev Bras Hipertens 8: 19-29, 2001

A descrição de Hering em 19271 caracterizar uma patologia tão “quebra-cabeça” que é a hipertensão
de que a desnervação sino-aórtica importante para o ser humano, e que essencial do homem, ou, colocado em
aguda, em animais de experimentação, tem como característica uma origem uma linguagem mais técnica, contri-
induzia uma elevação da pressão multifatorial3. buindo para a montagem do “mosaico”
arterial, deu origem à hipótese de que A propósito, é esta origem multi- proposto por Page em 19494.
a disfunção do barorreflexo poderia fatorial que levou os pesquisadores a É interessante destacar dois
ser a causa da hipertensão essencial proporem, ao longo do tempo, os mais aspectos dos modelos de hipertensão
do homem2. Esta é, apenas, uma diversos modelos experimentais de experimental. O primeiro diz respeito
ilustração da busca extenuante, por hipertensão arterial, cada um deles ao estudo de um determinado modelo
parte dos pesquisadores, de um modelo envolvendo um ou mais mecanismos, quanto a sua fisiopatogenia, ou seja,
experimental que possa melhor contribuindo para a montagem do qual o mecanismo responsável pela

Correspondência:
Helio C. Salgado
Departamento de Fisiologia – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP
14049-900, Ribeirão Preto, SP
FAX: (0XX16) 633-0017 – E-mail: hcsalgad@fmrp.usp.br

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elevação da pressão arterial; por Nova Zelândia10. Entretanto, desde o função de uma insuficiência cardíaca
exemplo, hiperatividade simpática, desenvolvimento do SHR, por Okamo- congestiva15. Com relação à fre-
hiperatividade do sistema renina- to e Aoki em 19638, esta cepa, se não qüência cardíaca, esta se encontra
angiotensina (SRA), retenção de sódio, é o modelo mais estudado na literatura mais elevada que nos ratos WKY já
etc. Outro aspecto diz respeito à pertinente, certamente está entre os na 3a semana de vida e se corre-
elevação da pressão arterial, quando, mais estudados. A sua importância laciona, positivamente, com os níveis
independentemente do(s) mecanis- tem sido creditada à similaridade da de pressão atingidos até a 6a semana
mo(s) pelo(s) qual(is) a pressão arterial sua fisiopatogenia com a hipertensão de vida16. A taquicardia é considerada
se torna elevada. Este aspecto é essencial (primária) do homem. como resultado de um aumento na
importante para o estudo de reações Trippodo e Frohlich11, ao afirmarem freqüência intrínseca do marcapasso
adversas e/ou adaptativas ao estado que o SHR é um excelente modelo da cardíaco. É interessante que as
hipertensivo, como, por exemplo, hiper- hipertensão essencial do homem, o elevações precoces da freqüência
trofia cardíaca, barorreflexo, disfunção fazem com as seguintes ressalvas: 1) cardíaca nos SHR se constituem num
endotelial, etc. reconhecimento da improbabilidade de índice altamente preditivo da ocor-
Nesta revisão apresentaremos os que ambas as formas de hipertensão rência de hipertensão na população
principais modelos de hipertensão espontânea (rato e homem) sejam estudada16. Um achado consistente
arterial encontrados na literatura, desta- expressões idênticas de uma doença nos SHRs é o aumento da resistência
cando a sua importância quanto aos hipertensora determinada gene- periférica total 17 . Parece que as
seus aspectos fisiopatológicos e, tam- ticamente; 2) ambas têm origem pequenas artérias, arteríolas e, pos-
bém, quanto à sua evolução, ou seja, a poligênica e são influenciadas por sivelmente, os esfíncteres pré-ca-
curto (aguda) ou a longo prazo (crônica). fatores ambientais; 3) sendo o controle pilares sejam os principais respon-
Tendo em vista as limitações de cardiocirculatório multifatorial, certos sáveis pelo aumento da resistência
uma revisão desta natureza, particu- mecanismos pressores não se expres- vascular periférica11. Acredita-se que
larmente em termos de extensão, sam, necessariamente, em ambas as tanto processos ativos quanto estru-
recomendamos àqueles interessados situações. turais sejam responsáveis pelo au-
em uma abordagem mais ampla de Os SHRs começam a desenvolver mento da resistência periférica. Por
hipertensão arterial com 5 semanas exemplo, alteração da geometria
alguns modelos aqui apresentados, as
de vida, já apresentando um nível de vascular18, alterações da membrana
publicações de Carretero e Romero5,
pressão considerado como hipertensão celular da musculatura lisa vascular19
De Jong6, Ganten e De Jong7.
espontânea entre a 7a e a 15a semanas, ou então diminuição da densidade
atingindo um platô entre a 20a e 28a arteriolar da musculatura esque-
Hipertensão genética semanas, não havendo influência lética20. Estudos recentes21 mostraram
sexual nesse desenvolvimento 12 . que nos SHRs as alterações das pro-
Dentre os modelos de animais que Entretanto, fatores ambientais, tais priedades funcionais precedem o
desenvolvem hipertensão de origem como ingestão exagerada de sódio, desenvolvimento da hipertensão
genética, serão examinados o modelo estresse, alterações sociais e altera- arterial e que a redução da distensi-
de hipertensão espontânea no rato ções do ciclo claro/escuro, afetam o bilidade e complacência vascular nos
(SHR), desenvolvido por Okamoto e desenvolvimento da hipertensão. animais jovens resulta de uma hiper-
Aoki8, e o modelo desenvolvido por A hipertensão do SHR adulto está trofia da camada média, em vez de
Dahl 9, onde foram selecionados associada a um aumento da resistência alterações intrínsecas das proprie-
animais sensíveis ao sódio e que, periférica total e um débito cardíaco dades elásticas dos vasos.
portanto, desenvolvem hipertensão. normal ou diminuído 13 . Com o A importância dos fatores neurais
desenvolvimento da hipertensão no desenvolvimento do SHR foi
Hipertensão espontânea arterial, o SHR desenvolve uma demonstrada por meio da redução da
no rato progressiva hipertrofia cardíaca14. O pressão arterial, em resposta à ablação
débito cardíaco permanece em níveis cirúrgica ou farmacológica do sistema
O primeiro modelo de hipertensão normais com o progresso da hiperten- nervoso autônomo simpático, da pre-
espontânea no rato a ser desenvolvido são, até que nos estágios finais a venção do desenvolvimento da hiper-
não foi o rato espontaneamente hi- função cardíaca começa a ser com- tensão por imunossimpatectomia, da
pertenso (SHR), mas o modelo GH prometida, quando, então, o débito simpatectomia química e outros mé-
originado de uma cepa de ratos da cardíaco começa a reduzir-se em todos11. Existe, portanto, uma ampla

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documentação de uma hiperatividade estar envolvidas na gênese da hiper- uma alteração fundamentalmente
simpática no modelo SHR22. Entre- tensão. Entre elas, a atividade neural (central ou periférica). Os
tanto, a similaridade das respostas aumentada da Na-K ATPase de modelos de hipertensão neurogênica
(∆%) pressóricas e de resistência membranas, que, principalmente nos podem ser divididos, didaticamente,
periférica ao hexametônio entre os túbulos renais, poderiam dificultar a entre aqueles decorrentes de lesões
SHR e os normotensos Wistar-Kyoto, capacidade renal de excretar o ex- do sistema nervoso central e aqueles
sugere algum outro mecanismo, além cesso de sódio ingerido. Se este é um decorrentes da deaferentação dos ba-
do simpático, participando na manu- defeito primário, ou depende de algum rorreceptores arteriais (DSA), associada,
tenção da hipertensão arterial de SHR fator local ou circulante, tal como o ou não, à deaferentação dos receptores
jovens e velhos23. fator endógeno semelhante à ouabaína, cardiopulmonares (Figura 1). É impor-
ainda permanece por ser definido. Uma tante salientar esta forma didática de
outra possível alteração observada é caracterizar a hipertensão neu-
Hipertensão genética uma maior permeabilidade da mem- rogênica, visto que, tanto nas hi-
sal-sensível (ratos da brana celular ao vazamento de sódio, o pertensões de origem genética, como
cepa Dahl-rapp) que provoca um elevado conteúdo intra- por exemplo a linhagem GH men-
celular deste íon, dificultando o manu- cionada anteriormente, quanto em
Segundo Guyton24 a hipertensão seio tubular renal do mesmo, bem co- outros modelos de hipertensão crônica,
arterial pode resultar de um defeito na mo favorecendo um maior tônus vaso- uma grande parte da manutenção da
capacidade renal de excretar o sódio. constritor26. pressão arterial é feita predo-
Devido a este defeito primário, a A participação do SRA também minantemente por mecanismos neu-
pressão arterial se eleva até que a tem sido postulada neste modelo de rais, em contraposição aos animais
excreção de sódio seja aumentada de hipertensão, uma vez que o tratamento normotensos, nos quais este mecanis-
forma a reequilibrar o balanço entre a crônico com captopril foi capaz de mo não é predominante29.
ingesta e a excreção de sódio, sendo promover uma redução significativa A lesão do núcleo do trato solitário
este último determinante básico do da pressão arterial27. (NTS), região do sistema nervoso
volume de líquido corporal e da vole- A queda da pressão arterial após o central onde chegam as aferências
mia. Um aumento na ingesta de NaCl bloqueio dos receptores α-1-adrenér- barorreceptoras (Figura 1), induz, em
pode, assim, em um rim susceptível, gicos com prazosin sugere, também, ratos, uma hipertensão fulminante com
provocar uma hipertensão arterial. uma participação do sistema nervoso a morte dos mesmos por edema agudo
Com base em tais considerações, Dahl simpático na manutenção dos elevados de pulmão e insuficiência cardíaca30.
et al. em 19629 selecionaram a partir níveis pressores, principalmente nos Em espécies maiores, como o gato31 e
de endo-cruzamentos de ratos Spra- animais DS mais jovens27. o cão32, a lesão do NTS resulta num
gue-Dawley, e baseados nos níveis Por fim, um possível papel do NO nível pressórico não tão elevado, e a
pressóricos associados a uma dieta renal também tem sido considerado. pressão arterial retorna aos níveis
rica em sódio (NaCl a 8%), duas cepas Embora a produção renal de NO esteja normais em algumas semanas. Acre-
de animais: os ratos Dahl sal-sensíveis aumentada em resposta à sobrecarga dita-se que nestas espécies maiores
(DS) e os ratos Dahl sal-resistentes (DR). dietética de sódio em ratos DR, esta ocorra menor destruição de aferências
Os animais DS desenvolvem uma resposta é nitidamente atenuada em barorreceptoras, ocasionando menor
hipertensão arterial sistêmica após ratos DS, sugerindo algum defeito na via comprometimento do controle reflexo
serem submetidos a uma dieta da L-arginina-NO-GMPc renal nestes da pressão arterial, fazendo com que
hipersódica (NaCl a 8%), enquanto os animais. A suplementação oral crônica esta se eleve para níveis não tão altos.
animais DR conseguem manter os de L-arginina na dieta é capaz de res- Vale ressaltar que a associação da
níveis pressóricos dentro da nor- taurar a produção renal de NO e preve- lesão do NTS com a DSA produz, no
malidade, mesmo após submetidos à cão, uma hipertensão fulminante
nir a hipertensão arterial nos ratos DS28.
mesma dieta hipersódica 25 . Os semelhante àquela observada no rato32.
mecanismos da hipertensão genética Acredita-se que a hipertensão observada
sal-sensível dos ratos da cepa Dahl Hipertensão neurogênica nestes modelos deva-se a uma hipera-
não são ainda completamente conhe- tividade simpática, embora outros me-
cidos. Entretanto, algumas alterações A hipertensão neurogênica pode canismos humorais (vasopressina,
moleculares e bioquímicas têm sido ser definida como um aumento perma- catecolaminas adrenais e SRA) não
descritas nesses animais e poderiam nente da pressão arterial resultante de possam ser totalmente excluídos33.

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A DSA em cães não é uma tarefa pulmonares, o SRA estaria participando eliminação dos quimiorreceptores
fácil, entretanto, vários autores (c.f. da manutenção da hipertensão. mantém a grande labilidade da pressão
Persson et al.34) conseguiram manter O método de indução de hiper- arterial, porém, associada a um nível
uma hipertensão arterial crônica no tensão neurogênica no rato, pela DSA, franco de hipertensão38.
cão por meio da DSA (Figura 1). Entre- foi descrito por Krieger em196436, o É digno de nota que o modelo de
tanto, Cowley et al.35 questionam a qual se valeu das peculiaridades anatô- DSA é, também, um dos mais utilizados
pertinência da hipertensão arterial crô- micas do trajeto dos barorreceptores na literatura, para o estudo da regu-
nica induzida pela DSA no cão, atri- aórticos desta espécie, que a diferen- lação reflexa da pressão arterial e
buindo o aumento da pressão ao estresse ciava dos modelos mais utilizados à freqüência cardíaca, quando se quer
que os animais eram submetidos na época, como o cão e o coelho. A hipera- excluir conjuntamente os barorre-
hora da tomada da pressão arterial, e tividade simpática tem sido considerada ceptores aórticos e carotídeos.
que um registro pressórico mais como a principal causa da elevação
prolongado, por exemplo durante 24 aguda (primeiras 24 horas) da pressão
horas, e em condições de menor estresse arterial. Com o advento de técnicas Hipertensão de origem
para o animal, não indicava uma hiper- mais acuradas de registro da pressão renal
tensão apreciável, mas apenas uma arterial no rato, verificou-se que a
grande labilidade da pressão arterial. hipertensão decorrente da DSA, nesta A hipertensão renal experimental
Por outro lado, a associação entre a espécie, aparece nas primeiras 24 horas, pode ser dividida em dois tipos principais:
DSA e a desnervação dos barorrecepto- e que cronicamente o que se observa é (1) hipertensão renovascular, decor-
res cardiopulmonares induz, no cão, uma grande labilidade da pressão rente da obstrução parcial do fluxo
uma hipertensão crônica com registros arterial37, a qual se mantém em um sanguíneo para os rins; (2) hipertensão
da pressão arterial em condições nível muito próximo do normal. Um renopriva, produzida pela severa
“ideais”. Esses autores34 propõem que observação interessante no modelo de redução da função renal. Alguns
neste modelo, além da ausência dos DSA no rato é que a correção da modelos experimentais envolvem
barorreceptores artérias e cardio- hipoxemia causada pela concomitante ambos os tipos de hipertensão.

Superfície dorsal
Hipertensão renovascular
do bulbo
Em 1934, Goldblatt et al.39 mos-
NTS
traram uma elevação substancial da
INTEGRAÇÃO
BULBAR pressão arterial de cães, cujo su-
primento sanguíneo aos rins era
Mecanorreceptores reduzido por meio de clipes de prata
aórticos e carotídeos Mecanorreceptores Medula espinhal colocados na artéria renal39. Desde
cardiopulmonares CIL então, muitos modelos experimentais
EFERÊNCIA de hipertensão, baseados na redução
VAGAL
do fluxo sanguíneo renal, têm sido
desenvolvidos em várias espécies
EFERÊNCIA animais, recebendo o nome genérico
SIMPÁTICA
de hipertensão de Goldblatt.
Em cães, a constrição parcial de
uma artéria renal, com o rim contra-
lateral íntegro, resulta em um aumento
transitório da pressão arterial, que
retorna aos níveis de normalidade em
VASOS
poucas semanas. Entretanto, reduções
Figura 1 – Ilustração esquemática dos barorreceptores arteriais (aórticos e carotídeos) muito intensas no fluxo renal unilateral
e cardiopulmonares (mielinizados e não-mielinizados) e sua primeira sinapse no núcleo (maior que 50%) podem levar a esta-
de trato solitário (NTS) localizado na superfície dorsal do bulbo. Estão representadas, dos hipertensivos mais prolongados,
também, as eferências simpática para o coração e vasos (artéria e veia) e parassimpática sendo a severidade da hipertensão
para o coração. CIL= coluna intermédio lateral da medula espinhal. proporcional ao grau de obstrução da

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artéria renal40. Quando o rim contra- de renina plasmática do que ratos hi- hipertensão43. Isso provavelmente se
lateral ao da obstrução é removido, ou pertensos 1R1C. As alterações nos ní- deve a lesões vasculares no rim não
quando ambas as artérias renais são veis plasmáticos de angiotensina e aldos- ocluído durante o período de hiper-
parcialmente obstruídas, a pressão terona, na hipertensão de Goldblatt tensão (o rim isquemiado é protegido
arterial se eleva de maneira acentuada 2R1C ou 1R1C, ocorrem de modo dos efeitos deletérios da hipertensão,
e permanente. Em geral, o aumento similar às alterações da atividade da pois é perfundido com uma pressão
da pressão arterial se inicia poucos renina plasmática nesses modelos. Na sanguínea normal ou reduzida). A
minutos após a redução do fluxo renal, hipertensão de Goldblatt 2R1C, a hipertensão de Goldblatt tipo 1R1C
atingindo um platô em 2 a 3 semanas. concentração de renina no rim, cuja também pode ser revertida pela
Os ratos parecem desenvolver artéria está parcialmente ocluída, é 3 remoção do clipe da artéria renal44.
hipertensão renovascular mais facil- a 4 vezes maior que o normal dentro
mente que cães. A constrição de ape- de uma semana, enquanto no rim con- Oclusão e desoclusão do
nas uma artéria renal resulta em hiper- tralateral (não ocluído) os níveis de pedículo renal
tensão, independentemente da presen- renina são quase indetectáveis. A
ça ou ausência do rim contralateral. redução da pressão de perfusão e do Este é um modelo agudo de hiper-
Coelhos apresentam um grau de hiper- fluxo sanguíneo renal impostos pela tensão arterial renal, que tem sido
tensão à constrição de apenas uma constrição da artéria renal são, certa- muito útil para o estudo da hipera-
artéria renal intermediária entre as res- mente, o estímulo para o aumento da tividade do SRA no rato. O animal,
postas desenvolvidas por cães e ratos. produção de renina no rim isquêmico. sob anestesia, é submetido à nefrecto-
A hipertensão produzida pela cons- O desenvolvimento da hipertensão, mia direita e tem o pedículo renal
trição de uma artéria renal, com o rim com conseqüente aumento da pressão esquerdo comprimido contra a parede
contralateral íntegro (hipertensão de de perfusão e do fluxo sanguíneo renal, abdominal do flanco, por intermédio
Goldblatt tipo 2 rins, 1 clipe: 2R1C), bem como o aumento de renina cir- de cordonê, o qual é exteriorizado e
parece ter uma patogenia diferente da culante, explica a depleção de renina fixado no dorso, impedindo os fluxos
hipertensão produzida pela constrição do rim normal. A remoção do rim sanguíneos arterial e venoso para o
de uma artéria renal associada à remo- normal na hipertensão de Goldblatt rim, fazendo com que ocorra uma
ção do rim contralateral (hipertensão 2R1C leva a uma redução dos níveis exacerbada produção de renina, em
de Goldblatt tipo 1 rim, 1 clipe: 1R1C). de renina do rim parcialmente ocluído. um período de 6 a 7 horas. Após esse
A função renal, em termos de uréia e Embora a razão para esse fato não seja período, com os animais recuperados
creatinina sanguíneas bem como o totalmente compreendida, talvez a re- da anestesia e se movimentando
clearance de inulina ou p-aminopurato, moção do rim normal reduza a excre- livremente, o cordonê que oclui o
é completamente normal na hiperten- ção de sódio e a eliminação de água na pedículo renal é cuidadosamente
são de Goldblatt, tanto 2R1C como urina, levando a um aumento no volume seccionado, liberando, então, os fluxos
1R1C. do fluido extracelular, o que poderia sanguíneos arterial e venoso que levam
No rato com hipertensão de influenciar os níveis de renina do rim uma quantidade apreciável de renina,
Goldblatt 2R1C, a atividade de renina isquêmico. de origem renal, para a circulação,
plasmática um mês após a constrição A reversão da hipertensão de induzindo a uma elevação relativa-
da artéria renal está aumentada Goldblatt 2R1C pode ser obtida pela mente rápida (questão de minutos) e
(embora a renina plasmática, nesse remoção da constrição arterial ou pela mantida da pressão arterial, em
modelo de hipertensão, tenha uma retirada do rim com clipe42. Quando o decorrência da hiperatividade do SRA.
ampla faixa de distribuição, podendo clipe, ou o rim, é removido em ratos Para ilustrar a importância desse
ser normal em alguns ratos). Entretanto, com hipertensão crônica (mais de 2 modelo agudo de hipertensão arterial
a atividade da renina plasmática na meses de duração), geralmente a induzida pela hiperatividade do SRA,
hipertensão de Goldblatt 1R1C é com- pressão arterial não se reduz (pelo cita-se o trabalho de Krieger et al.45, o
pletamente normal quando comparada menos não até os níveis de norma- qual demonstrou, pela primeira vez,
a um rato controle com os 2 rins in- lidade). Entretanto, a remoção da que o bloqueio da enzima conversora
tactos, e reduzida em relação a um constrição e do rim contralateral no de angiotensina I em angiotensina II,
rato uninefrectomizado com a artéria animal hipertenso crônico 2R1C com um pentapeptídeo sintético (BPP5a)
renal contralateral não ocluída41. Em normaliza a pressão arterial, indicando administrado endovenosamente,
síntese, ratos com hipertensão de que o rim contralateral deve ser o normalizava a resposta hipertensora
Goldblatt 2R1C têm maior atividade responsável pela manutenção da pelo impedimento da formação de

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angiotensina II. Este trabalho, pioneiro, Hipertensão perinefrítica uma demonstração cabal da partici-
abriu as portas para o posterior desen- pação dos dois mecanismos – fatores
volvimento dos compostos que viriam a Page48 produziu uma hipertensão mecânico e renal – no desenvolvimento
ser administrados oralmente para o mantida, em cães, gatos e coelhos, e na manutenção da hipertensão
tratamento de pacientes hipertensos cobrindo os rins com uma substância arterial nesse modelo experimental.
por meio da inibição da enzima abrasiva e envolvendo-os com celo- Sabe-se, também, que se a coartação
conversora da angiotensina I em II. fane ou seda. Três a cinco dias após for realizada abaixo das artérias renais
esse envolvimento, o tecido renal rea- ou na crossa da aorta, a hipertensão
ge à substância estranha, formando crônica não se desenvolverá devido à
Hipertensão renopriva uma capa fibrocolagenosa que com- formação de ramos colaterais que
A nefrectomia bilateral em dife- prime o parênquima renal (perine- irão proporcionar uma irrigação ade-
rentes espécies, incluindo seres frite). Uma elevação da pressão arte- quada para os rins.
humanos, leva à hipertensão com rial ocorre três a cinco semanas após No rato, Selye e Stone52 descre-
lesões vasculares, especialmente se o procedimento cirúrgico. A compres-
veram uma técnica na qual a hiper-
a vida do animal, ou a do ser humano, são dos rins por uma faixa de seda em
tensão é produzida pela constrição
é prolongada após a remoção com- formato de “8” também produz
parcial da aorta, obtida por meio de
hipertensão arterial49. A hipertensão
pleta dos rins42,46. Esse tipo de hi- um fio de algodão formando um nó
perinefrítica pode ser revertida pela
pertensão é conhecido como reno- entre as artérias renais, e cujo grau
remoção cirúrgica da cápsula fibrosa
priva. A quantidade de proteína e de de constrição é definido por uma
que se forma ao redor dos rins. A
sódio na dieta, a quantidade de água haste metálica padronizada de acordo
compressão do parênquima renal
ingerida, bem como a remoção, ou com o peso do animal, a qual é retirada
certamente reduz o fluxo sanguíneo
não, da glândula supra-renal inter- após o nó no fio de algodão. Nessa
do órgão, o que pode produzir hiper-
ferem com a severidade da hiper- tensão por um mecanismo semelhante técnica, o ureter esquerdo é ligado a
tensão renopriva47. Em cães com ao da hipertensão renovascular fim de que uma hidronefrose não se
nefrectomia bilateral, a infusão de (Goldblatt); entretanto, um com- desenvolva. Uma modificação dessa
soluções eletrolíticas endovenosas ponente renoprivo provavelmente técnica, e que é bastante utilizada,
(principalmente contendo NaCl) esteja envolvido na fisiopatogenia da consiste na ligadura total da aorta
agrava a hipertensão. Entretanto, a hipertensão perinefrítica. entre as artérias renais53. Uma outra
hipertensão renopriva ocorre em cães variante bastante difundida é aquela
com volume sanguíneo e extracelular descrita por Beznáck54 e modificada
Coartação da aorta
normal ou diminuído, e níveis normais por Krieger55, que consiste de uma
de eletrólito séricos. Uma redução de mais de 50% da ligadura parcial da aorta com um
Ratos bilateralmente nefrectomi- luz da aorta, acima da emergência das cordonê, acima das artérias renais e
zados não desenvolvem hipertensão, artérias renais, induz uma importante abaixo do tronco celíaco, utilizando
entretanto, se esses animais ingerirem elevação da pressão arterial acima da uma agulha padronizada para limitar o
uma solução de NaCl 1% em vez de constrição. Por um longo tempo duas grau de constrição de acordo com o
água, os mesmos desenvolvem uma escolas se opuseram quanto ao me- peso do animal. Tanto a ligadura total
significativa hipertensão arterial47,43. canismo responsável pela elevação e quanto a parcial da aorta abdominal
A nefrectomia unilateral não causa manutenção da hipertensão arterial induzem a uma elevação súbita da
hipertensão nem lesões cardiovas- crônica induzida pela coartação da pressão arterial que se mantém croni-
culares. Entretanto, estados hiperten- aorta. Enquanto uma escola propunha camente. A ligadura parcial tem a
sivos de causas diversas são geral- que o efeito mecânico da oclusão da vantagem de permitir um desenvol-
mente mais graves em animais uni- aorta era o principal mecanismo res- vimento da hipertensão de forma mais
nefrectomizados. A remoção de um ponsável pela elevação da pressão gradual, de acordo com o interesse do
rim e de aproximadamente 2/3 do arterial, a outra escola argumentava pesquisador. Ambos os modelos são
outro é seguida por uma elevação que o fator renal era o principal considerados como dependentes da
lenta e gradual da pressão arterial, mecanismo envolvido (c.f. Salgado et hiperativação do sistema renina-angio-
cuja fisiopatogenia é a mesma da al.50). Entretanto, somente no final da tensina, além da participação do fator
hipertensão renopriva desencadeada década de 196051 que estudos em mecânico da constrição responsável
pela remoção completa de ambos os cães jovens com hipertensão crônica pelo aumento da impedância ao fluxo
rins. induzida pela coartação da aorta deram aórtico.

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Em nosso laboratório foi desen- grupos mostraram que a administração nervoso autônomo, têm demonstrado
volvida uma técnica de hipertensão oral crônica de um inibidor da NO uma hiperatividade simpática perifé-
arterial aguda, obtida pela constrição sintase, a L-nitro-arginina-metil-éster rica, a qual poderia, ao menos parcial-
parcial da aorta abdominal em ratos (L-NAME), promovia uma hiper- mente, contribuir para a elevação da
acordados56. Esse modelo de hiper- tensão persistente associada a uma resistência periférica e conseqüente
tensão arterial aguda (45 min) tem lesão renal, caracterizada por glomeru- hipertensão arterial 64,65,66 . Uma
sido bastante estudado em nosso loesclerose, isquemia glomerular e provável ação simpato-excitatória de
laboratório e mostrou que não só o infiltrado intersticial renal59,60. Nesse origem central também tem sido
fator mecânico e a angiotensina II são modelo, observa-se uma instalação proposta67.
responsáveis pela elevação da pressão rápida da hipertensão já nos primeiros O sistema renina-angiotensina
arterial, como também a vasopressina dias de tratamento e, dependendo da (SRA) também contribui, em parte,
desempenha um papel fisiopatológico. dose de L-NAME administrada, os para a hipertensão arterial no ani-
Essa vasopressina seria liberada, níveis pressóricos podem atingir mal tratado cronicamente com L-
possivelmente, devido à ativação das valores bastante elevados59. Essa NAME 68 . Tratamentos crônicos
aferências renais promovida pela hipertensão é associada a uma intensa com inibidores da enzima conver-
baixa pressão de perfusão dos rins, vasoconstrição periférica com con- sora da angiotensina, ou antago-
que sinalizariam ao sistema nervoso seqüente aumento da resistência nistas dos receptores AT1 da an-
central para sua liberação 50 . A vascular periférica59. Quanto ao débito giotensina, são capazes de prevenir
hipótese de que os elevados níveis de cardíaco, algumas evidências parecem a instalação ou reverter a hiperten-
angiotensina II observados nesse indicar uma redução do mesmo são e a lesão renal já estabelecidas,
modelo possam fazer com que esse durante a inibição crônica da NO sin- indicando uma participação do SRA
hormônio atravesse regiões do cérebro tase61. Associada à hipertensão obser- na gênese e manutenção dessa hi-
desprovida de barreira hematoen- va-se, também, acentuada taquicardia, pertensão.
cefálica, como o órgão subfornical, a qual é principalmente dependente de O balanço do sódio corporal parece,
ativando a liberação central de vaso- uma hiperatividade simpática, sem também, influenciar a hipertensão
pressina, não está totalmente descar- modificações na freqüência intrínseca associada ao bloqueio da NO sintase.
tada57. Vale ressaltar que esse modelo do marcapasso cardíaco62. O efeito Sobrecarga de sódio agrava, enquanto
também é muito útil no estudo da direto do L-NAME impedindo a síntese a sua restrição dietética previne o
regulação reflexa cardiovascular, endotelial do NO e, conseqüen- desenvolvimento da hipertensão e da
promovendo intensa ativação dos temente, atenuando a vasodilatação lesão renal. Embora o rato seja o
barorreceptores arteriais sem o efeito tônica é, seguramente, um importante animal predominantemente estudado
indesejado de anestésicos. mecanismo na gênese dessa hiper- nesse modelo de hipertensão, o
tensão experimental59. Entretanto, tal bloqueio da NO sintase promove
Hipertensão por inibição mecanismo parece ser mais impor- hipertensão também em outras
crônica do óxido nítrico tante na fase inicial de instalação espécies, como o cão e o camundongo.
dessa hipertensão, uma vez que a Neste último, o emprego de técnicas
O óxido nítrico (NO) desempenha mesma, após alguns dias, pode ser de knock-out para o gene da forma
um importante papel na regulação da revertida apenas parcialmente pela endotelial da NO sintase levou ao
resistência vascular sistêmica, exer- interrupção do tratamento. Da mesma desenvolvimento de hipertensão
cendo um efeito vasodilatador tônico. forma, após alguns dias de instalação sistêmica63.
Tal fato pode ser facilmente compro- da hipertensão, a co-administração As conseqüências dessa hiperten-
vado pela administração de antago- de L-arginina, o substrato natural da são para os órgãos-alvo também são
nistas da NO sintase (enzima respon- NO sintase, reduz apenas parcial- apreciáveis. Observa-se nefrosclerose
sável pela formação do NO), por via mente os níveis pressóricos ele- após algumas semanas de tratamento,
endovenosa, a qual produz um intenso vados59,63. Tais observações sugerem a qual parece ser prevenida por
aumento da pressão arterial em que outros mecanismos fisiopato- inibidores de ECA. Além disso, isque-
animais experimentais58. A primeira gênicos podem estar envolvidos na mia glomerular, necrose glomerular
descrição de uma hipertensão mantida, manutenção da hipertensão desse segmentar, infiltrado intersticial e
induzida pela inibição da formação de modelo experimental. alterações microvasculares podem ser
NO, foi feita, independentemente, por Trabalhos recentes, baseados em observadas nos rins dos animais
Ribeiro et al.59 e Baylis et al.60. Esses bloqueios farmacológicos do sistema hipertensos pelo L-NAME63.

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Em relação às alterações car- Hipertensão dependente de tensão se correlaciona, diretamente,


díacas, observa-se um fato curioso: mineralocorticóides com o teor total de sódio na dieta5.
o nível de hipertrofia é relativamen- Embora a fisiopatogenia desse mo-
te menor nesse modelo se compara- O primeiro modelo experimental delo de hipertensão ainda não seja
do a outros modelos de hipertrofia de hipertensão arterial induzida por completamente conhecida, a hiperten-
cardíaca com níveis pressóricos mineralocorticóides foi desenvolvido são pode ser devida a uma excessiva
similares. As razões para tal obser- por Selye52, em galinhas jovens subme- retenção de sódio e água, com conse-
vação não são ainda muito bem tidas ao tratamento com desoxicor- qüente aumento na volemia. Além do
conhecidas. Além disso, áreas fo- ticosterona. Posteriormente, verificou- mais, observa-se uma reduzida ativi-
cais de necrose miocárdica asso- se que adição de NaCl à água de dade da renina plasmática, o que é
ciadas a áreas de fibrose têm sido beber, bem como a remoção de um esperado num modelo de hipertensão
descritas 63 . rim, acentuava a hipertensão5. dependente de volume27.
A inibição crônica da NO sintase Ratos uninefrectomizados tratados A vasopressina parece ser essen-
também provoca lesões graves no cronicamente com acetato de deso- cial para a indução da hipertensão
SNC, tais como acidentes vasculares, xicorticosterona (DOCA) e NaCl a DOCA-Sal, principalmente em ani-
infartos medulares, disfunções mo- 1% na água de beber se tornaram um mais adultos. O efeito da vasopressina
toras e outras63. importante modelo de hipertensão é tanto periférico, induzindo vasocons-
Embora uma hipertensão similar dependente de volume (modelo DOCA- trição, como central, atuando em áreas
provocada pela inibição crônica da Sal). São utilizados, preferencialmente, hipotalâmicas relacionadas ao controle
NO sintase não seja conhecida em ratos jovens, uma vez que a suscetibi- do equilíbrio hidroeletrolítico27. Além
seres humanos, o estudo desse modelo lidade à hipertensão DOCA-Sal é maior disso, fatores endógenos semelhantes
experimental de hipertensão tem tra- nesses animais. Os animais nessas con- à ouabaína parecem, também, exercer
zido inúmeros avanços no conheci- dições desenvolvem uma hipertensão um importante papel, inibindo a Na-K-
mento do papel do NO na regulação severa, associada a nefrosclerose, ATPase, dificultando, assim, a excre-
cardiovascular, tanto em nível fisio- necrose miocárdica focal, miocardite e ção renal de sódio e favorecendo a
lógico quanto fisiopatológico. periarterite. A severidade da hiper- vasoconstrição periférica27.

Fazan Jr. R, Silva VJD, Salgado HC Rev Bras Hipertens vol 8(1): janeiro/março de 2001
27

Abstract depicted: one-kidney, one clip, two-kidney, one clip,


renoprival, and perinephritic hypertension; an acute
Experimental models of arterial hypertension model produced by unclamping one renal pedicle which
A tremendous effort has been devoted by the experts had been occluded during 6-7 hours is discussed as well.
in arterial hypertension in order to find an experimental In the model of coarctation (partial or total) of the aorta
model that better fits the essential hypertension in the it is examined the relative role played by the mechanical
human being. Among the genetic models of arterial factor of the constriction as compared to the neuro-
hypertension the spontaneously hypertensive rat (SHR) humoral (renin-angiotensin system and vasopressin)
and the Dahl salt-susceptible rat will be examined. factors in the development of hypertension. An expe-
Concerning the neurogenic hypertension it was selected rimental model described more recently, i.e production
the lesion of the nucleus tractus solitarius (NTS) as well of hypertension by means of the blockage of nitric oxide
as the sinoaortic deafferentation associated, or not, with synthase with L-NAME is also examined. Finally, the
the cardiopulmonary deafferentation. To address the experimental model of DOCA-salt is taken into
renovascular hypertension the following models were consideration as well.

Keywords: Genetic models of hypertension; Renal hypertension; Neurogenic hypertension; DOCA salt hypertension.

Rev Bras Hipertens 8: 19-29, 2001

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