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MONITORIZAÇÃO NÃO-INVASIVA DOS PARÂMETROS OXI-HEMODINÂMICOS

NAS DISFUNÇÕES CARDÍACAS AGUDAS

ELIEZER SILVA1-4, DANILO TEIXEIRA NORITOMI1, MARCELO PARK5,6

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2009;19(2):265-72


RSCESP (72594)-1784

Disfunção cardíaca aguda é uma das mais frequentes condi- NON-INVASIVE OXY-HEMODYNAMIC MONITORING IN ACUTE
ções clínicas encontradas em pacientes graves e está associ- CARDIAC DYSFUNCTION
ada a altas taxas de morbidade e mortalidade. Esses pacien-
tes desenvolvem quadros de hipoperfusão tecidual, cuja prin- Acute cardiac dysfunction is a highly prevalent clinical con-
cipal manifestação clínica é a síndrome da disfunção de dition associated with high morbidity and mortality. Tissue
múltiplos órgãos e sistemas. Monitorização hemodinâmica hipoxia is a frequent consequence of acute cardiac dysfunc-
efetiva deve englobar parâmetros macro (pressão arterial, tion, leading to cellular death and multiple organ failure. An
débito cardíaco) e micro (avaliação da oxigenação tecidual). effective monitoring strategy should involve the evaluation
Atualmente, há tecnologias disponíveis que permitem reali- of parameters related to macro (blood pressure and cardiac
zar essa monitorização de maneira não-invasiva ou minima- output) and micro hemodynamics (tissue perfusion parame-
mente invasiva. Nesta revisão descreveremos as tecnologias ters). Nowadays, there are multiple available tools to per-
disponíveis para uso clínico, geralmente em ambiente de te- form this monitoring strategy in a non-invasive (or minimally
rapia intensiva. invasive) manner. In this review we have described the most
Descritores: Perfusão. Monitorização hemodinâmica. Cho- available tools.
que cardiogênico. Débito cardíaco. Acidose. Key words: Perfusion. Monitoring, hemodymanic. Shock,
cardiogenic. Cardiac output. Acidosis.

1
Centro de Terapia Intensiva – Hospital Israelita Albert Einstein. – São Paulo, SP.
2
Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Câncer – USP – São Paulo, SP.
3
Serviço de Fisiologia Aplicada – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo – InCor/HC-FMUSP – São Paulo, SP.
4
Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina –
São Paulo, SP.
5
Unidade de Terapia Intensiva – Disciplina de Emergências do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo – HC-FMUSP – São Paulo, SP.
6
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sírio Libanês – São Paulo, SP.
Endereço para correspondência:
Eliezer Silva – Centro de Terapia Intensiva – Hospital Israelita Albert Einstein – Av. Albert Einstein, 627 – 5o andar –
Morumbi – São Paulo, SP – CEP 05651-901

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SILVA E et al.
Monitorização não-invasiva dos parâmetros oxi-hemodinâmicos nas disfunções cardíacas agudas

INTRODUÇÃO De forma interessante, no clássico estudo de Rivers et


al.10, os pacientes com sepse grave (definida como pacientes
As disfunções cardíacas agudas, especialmente o choque com lactato > 4 mmol/l) e pressão arterial sistólica maior
cardiogênico, estão associadas a elevadas taxas de morbida- que 100 mmHg tiveram mortalidade 25% maior que os paci-
de e mortalidade. Um mecanismo importante para a morte entes com choque séptico, situação que os autores intitula-
dos pacientes com choque cardiogênico é a má perfusão te- ram de choque críptico. Um achado similar, mas em pacien-
cidual, que, por sua vez, é o gatilho para a síndrome da dis- tes com choque cardiogênico, foi o do estudo SHOCK, em
função de múltiplos órgãos e sistemas.1 Com exceção das que pacientes com boa perfusão periférica e hipotensos (PAs
estratégias de reperfusão coronária, poucas modalidades te- < 90 mmHg) na apresentação hospitalar tiveram mortalida-
rapêuticas mostraram-se eficazes nesse cenário.2 de menor que a dos pacientes normotensos mas com perfu-
A insuficiência cardíaca aguda ou crônica agudizada é são periférica lentificada.5
uma das doenças mais comumente encontradas na prática
médica, em especial em unidades de emergência e unidades Enchimento capilar
de terapia intensiva (UTI).3 A despeito de o diagnóstico clí- A avaliação do tempo de reenchimento capilar após bre-
nico de choque cardiogênico necessitar a presença de hipo- ve período de isquemia causada pela dígito pressão é uma
tensão sistólica menor que 90 mmHg, por vezes a presença forma usada com frequência no exame físico de pacientes
clínica e laboratorial de hipoperfusão tecidual, associada a internados na UTI ou no reconhecimento de pacientes críti-
evolução com disfunções de múltiplos órgãos em pacientes cos em unidades de emergência. Existem vários fatores cau-
com diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda,4 caracteri- sadores de confusão, como a temperatura ambiente à qual a
za uma entidade com prognóstico adverso, que é a insufici- pele é exposta. Em pacientes com lesão pulmonar aguda em
ência cardíaca com déficit perfusional.5 ventilação mecânica, a dígito pressão é uma ferramenta bas-
Tradicionalmente, o cateter de artéria pulmonar é indicado tante útil na avaliação da eficácia da circulação.13
nessas situações para monitorização hemodinâmica.2 Entretan-
to, evidências recentes em diversos cenários clínicos, inclusive Fluxo urinário
insuficiência cardíaca descompensada,6 questionam o benefí- O débito urinário é classicamente utilizado para monitori-
cio clínico associado a seu uso.7,8 Nos últimos anos vêm sendo zação da perfusão orgânica. Nos dias atuais, o conhecimento
desenvolvidas tecnologias capazes de aferir o débito cardíaco do comportamento dos rins nas situações de choque e dos dese-
continuamente e de maneira pouco invasiva. Além dos monito- nhos da possível fisiopatologia da insuficiência renal aguda nessa
res de débito cardíaco, na atualidade, outras ferramentas labo- síndrome nos fez perceber que o fluxo urinário reduzido, que
ratoriais nos permitem avaliar a perfusão tecidual.4,5 não melhora durante a reanimação hemodinâmica, pode não
Dessa maneira, temos a nossa disposição, atualmente, vári- expressar a melhora da macro-hemodinâmica.14
as ferramentas para avaliar determinados aspectos perfusionais
das disfunções cardíacas agudas, descritas na Tabela 1. MONITORES NÃO-INVASIVOS DE
DÉBITO CARDÍACO
MONITORIZAÇÃO CLÍNICA DA
PERFUSÃO TECIDUAL Atualmente diversas tecnologias podem ser empregadas

Pressão arterial
No paciente com síndrome do choque, a pressão arterial Tabela 1 - Avaliação da perfusão na disfunção cardíaca aguda
sistêmica é a primeira variável para avaliação da terapia agu-
Parâmetro Ferramenta
damente empregada. A pressão arterial média sistêmica é a
força motriz para perfusão tecidual, o que não significa, po-
Avaliação clínica da perfusão Enchimento capilar,
rém, que a perfusão aumentará indefinidamente com o au- pressão arterial,
mento progressivo da pressão arterial média sistêmica. Pres- fluxo urinário
são arterial média de 65 mmHg é suficiente para manter per- Débito cardíaco Monitores não-
fusão tecidual adequada para os pacientes com choque sép- invasivos de débito
tico,10,11 e provavelmente níveis mais baixos (até 85-90 mmHg cardíaco
de pressão sistólica) podem ser igualmente eficazes em pa- Fluxo tecidual ΔPCO2
cientes com choque cardiogênico.12 Relação oferta/consumo de O2 SvO2, lactato, SBE

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para monitorização não-invasiva (ou minimamente invasi- a angulação correta em relação à aorta, especialmente em
va) do débito cardíaco na prática clínica15. Descreveremos pacientes despertos e não submetidos a ventilação invasiva.
as características dos principais métodos disponíveis para uso Sabe-se que a aplicação desse método requer uma curva de
clínico. aprendizado por parte da equipe assistencial. O aparelho mais
estudado é o CardioQ (Deltrex Medical, Chichester, Reino
REINALAÇÃO DE CO2 Unido).

Derivado da lei de conservação das massas, o princípio ANÁLISE DE CONTORNO DE PULSO


de Fick diz que a quantidade total de captação ou liberação
de uma substância por um órgão é o produto do fluxo san- A pressão arterial é resultado da interação entre o volu-
guíneo para esse órgão pela diferença de concentração arte- me de sangue ejetado pelo coração a cada batimento (volu-
riovenosa dessa substância. me sistólico) e as características do sistema arterial. Essa in-
É possível calcular o débito cardíaco utilizando-se o prin- teração vem sendo descrita por meio de modelos complexos
cípio de Fick para o CO2 e o pulmão: cada vez mais precisos e constituem a base para os monito-
CO = VCO2/(CvCO2 - CaCO2) res de débito cardíaco baseados em análise de contorno de
Um circuito de reinalação parcial é utilizado intermiten- pulso da PA invasiva (radial ou femoral). Tradicionalmente
temente nesse monitor para se estimar a CvCO2 e, com isso, esses equipamentos também dispõem de uma calibração ex-
dispensar a necessidade de um acesso venoso central. terna dada por diluição transpulmonar. Essa calibração deve
O monitor que utiliza esse princípio mais estudado é o ser feita intermitentemente e visa a fornecer um débito car-
NICO (Novametrix Medical Systems Inc., Wellingford, Es- díaco (e volume sistólico) conhecido para contrapor-se ao
tados Unidos). obtido pela curva de PA. Assim, intermitentemente, têm-se
Esse método apresenta concordância aceitável com a TD, as características arteriais que serão aplicadas sobre os pró-
porém alguns inconvenientes fazem com que tenha uso limi- ximos batimentos continuamente até nova calibração.
tado na UTI16. Em primeiro lugar, o método requer que o Mais recentemente foi lançado no mercado um aparelho
paciente esteja em ventilação mecânica invasiva controlada que dispensa essa calibração, lançando mão de um algorit-
e tolere estavelmente um período de 3 minutos de reinalação mo para obtenção das características arteriais e, por conse-
parcial de CO2. Além disso, pacientes com alta proporção de guinte, o volume sistólico19.
shunt pulmonar podem ter uma medida errônea do débito No sistema PiCO, a calibração intermitente se dá por ter-
cardíaco. Finalmente, trata-se de um método de mensuração modiluição transpulmonar, o mesmo princípio utilizado pelo
intermitente e que não fornece dados adicionais além do va- CAP (termodiluição), porém em um território diferente: in-
lor numérico do débito cardíaco. jeção em VCS e “leitura” em artéria periférica (femoral). Feita
essa calibração, o sistema fornece o VS batimento-a-bati-
DOPPLER ESOFÁGICO mento, utilizando um algoritmo próprio de análise de con-
torno de pulso. Como todas as técnicas baseadas em contor-
A técnica de medição de fluxo por meio do Doppler pode no de pulso, a qualidade da curva da PA invasiva é funda-
ser utilizada continuamente através de uma sonda esofágica. mental. Especificamente nesse método, dá-se preferência à
Essa sonda, quando em posição correta, pode medir a velo- artéria femoral20.
cidade do fluxo continuamente através da aorta descenden- Além da medida de débito cardíaco, o sistema PiCO é
te, que constitui grande parte do débito cardíaco. Medindo- capaz de fornecer uma estimativa da água torácica extravas-
se ou estimando-se (de acordo com o aparelho) o diâmetro cular, ou seja, uma possível quantificação do grau de edema
da aorta, pode-se calcular o volume ejetado a cada batimen- pulmonar. Essa medida já foi validada contra técnicas gravi-
to. métricas diretas e pode ser interessante para manejo clínico.
Esse método é acurado, contínuo (batimento-a-batimen- No sistema LiDCO, a calibração intermitente se dá por
to) e fornece alguns indicativos indiretos de pré e pós-carga meio da diluição transpulmonar de lítio, que é injetado em
e responsividade a volume17,18. Além disso, o Doppler esofá- uma veia central ou periférica e captado em um sensor espe-
gico é um dos métodos com maior número de trabalhos de- cial locado em uma artéria periférica21.
monstrando resultados clínicos associados a seu uso. O dispositivo FloTrac (Edwards Lifescience Corporati-
A principal desvantagem do método deve-se ao inconve- on, Irvine, Estados Unidos) é único no sentido de dispensar
niente e à dificuldade de se manter a sonda no esôfago e com calibração, ou seja, baseia-se unicamente na análise da cur-

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va de PA invasiva. Por esse motivo, é muito prático, bastan- fase inicial, a terapêutica guiada por SvO2 se mostrou eficaz
do um simples acesso arterial com boa qualidade (radial ou em reduzir a mortalidade desses pacientes10. No entanto, após
femoral) para que se tenha a medida de débito cardíaco. Seu fase de ressuscitação e instalação de disfunções orgânicas,
monitor (Vigileo) comporta a entrada do cateter venoso com desafios de DO2 acompanhadas de nenhuma modificação na
oximetria contínua da mesma empresa (PreSep). Sua acurá- TEO2 ou na SvO2 significarão, de um ponto de vista fisiopa-
cia ainda é questionável quando comparada à TD, embora tológico (não necessariamente clínico), ganho terapêutico,
estudos feitos com a versão atualizada do algoritmo apre- pois não haverá aumento de consumo de oxigênio (ou apro-
sentem resultados melhores19. veitamento celular de oxigênio)
Estudos recentes sugerem que a análise da saturação ve-
MARCADORES DE PERFUSÃO TECIDUAL nosa obtida a partir da veia cava superior, denominada satu-
ração venosa central (SvCO2), pode, mesmo com limitações,
Classicamente os marcadores sistêmicos de perfusão te- substituir a análise da SvO2, tornando-se uma alternativa atra-
cidual são a saturação venosa mista e a saturação venosa ente quando se buscam estratégias menos invasivas ou em
central de oxigênio, lactato sérico, déficit de bases e gradi- ambientes fora da terapia intensiva10.
entes venoarteriais de PCO2. Por sua vez, os marcadores re- A saturação venosa de oxigênio pode ser obtida por meio
gionais são restritos à mensuração do CO2 tecidual (gradi- da análise seriada de gasometrias venosas ou de modo contí-
entes tecido-arteriais de PCO2) e, mais recentemente, à visu- nuo, com a utilização de cateteres com reflexão de infraver-
alização direta da microcirculação. melho.

SATURAÇÃO VENOSA MISTA E SATURAÇÃO LACTATO


VENOSA CENTRAL DE OXIGÊNIO
A dosagem dos níveis séricos de lactato é um dos melho-
A saturação venosa mista, colhida na artéria pulmonar, res indicadores disponíveis para avaliar o metabolismo celu-
expressa de modo indireto o consumo de oxigênio pelos te- lar em pacientes graves, mesmo sabendo que a interpretação
cidos de todo o corpo. A SvO2, que reflete adequada relação desse teste nem sempre é direta. Contudo, reconhece-se que,
entre oferta e consumo de oxigênio, está em torno de 70% e apesar da complexidade das vias bioquímicas relacionadas à
valores inferiores a esse, em geral, estão associados ao com- cinética do lactato sanguíneo, este tem se mostrado melhor
prometimento da DO2 (principalmente em condições de bai- preditor prognóstico que as variáveis derivadas da oxigena-
xo fluxo). Por outro lado, elevações da SvO2 estão associa- ção tecidual, como a oferta e o consumo de oxigênio25.
das à presença de shunts teciduais, ao aumento do conteúdo Assim, é imperativa a correta interpretação dos níveis sé-
arterial de oxigênio, ao consumo reduzido de oxigênio pelos ricos do lactato, especialmente nos pacientes graves, para
tecidos e, principalmente, à elevação do débito cardíaco22. que se possam elucidar os mecanismos fisiopatológicos que
Na prática clínica, elevações da SvO2 correspondem quase produziram sua elevação.
que inteiramente a aumento de fluxo. Dessa forma, SvO2 A concentração normal de lactato no sangue é menor que
basicamente corresponde a um marcador indireto de fluxo. 2 mmol/l (18 mg/dl). Inúmeras condições podem concorrer,
Baseado nessa premissa, SvO2 baixa não é, per se, um mar- simultaneamente ou não, para hiperlactatemia. Em linhas
cador de disóxia e falência energética, mas sim marcador de gerais, hipóxia tecidual, sepse (pode aumentar local ou sis-
baixo fluxo e de alta taxa de extração de oxigênio (TEO2)23. temicamente), infusão de adrenalina ou aumento da carga
Somente quando o fluxo é inadequado a ponto de se atingir simpática (aumenta a glicólise), deficiência de tiamina (co-
a DO2 crítica é que a baixa SvO2 poderá representar disóxia. fator da piruvato desidrogenase), alcalose (por estimular a
Pacientes com disfunção cardiovascular crônica, estáveis (in- fosfofrutoquinase, enzima que controla a velocidade da gli-
suficiência cardíaca congestiva), apresentam adequado sta- cólise), disfunção hepática e intoxicação por nitroprussia-
tus-performance em suas atividades diárias de vida, apre- to (pelo acúmulo de cianeto que bloqueia o citocromo a3
sentando altas TEO2 e reduzidas SvO2 (50-55%), com lacta- da cadeia respiratória) podem elevar os níveis séricos de
to normal e sem nenhuma evidência de choque oculto24. lactato.
Depreende-se que a análise do débito cardíaco e da SvO2 Do ponto de vista fisiopatológico, hipóxia tecidual au-
deve ser complementada com análise metabólica concomi- menta os níveis de lactato por aumentar a glicólise anaeró-
tante, como medidas do lactato e déficit de bases. No entan- bia (para manter a produção energética celular mais próxima
to, em um estudo bastante citado com pacientes sépticos em do normal). A síndrome de choque é a grande responsável

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nessa situação. lises fisiopatológica e clínica são mais complexas. Em virtu-


A sepse pode causar hiperlactatemia por hipóxia tecidu- de da interação de vários componentes fisiopatológicos con-
al, principalmente nas fases iniciais do choque séptico, por correndo para hiperlactatemia e os mesmos oscilarem em in-
inibição da piruvato desidrogenase, enzima que inicia a oxi- tensidade dependendo do estágio da doença, a interpretação
dação do piruvato na mitocôndria, e por glicólise aumenta- clínica dos níveis de lactato merece alguns cuidados. Pri-
da, seja por aumento da demanda metabólica seja por des- meiro, nas fases iniciais de ressuscitação desses pacientes,
carga adrenérgica. É discutido atualmente se o principal me- possivelmente encontraríamos hipóxia tecidual e dependên-
canismo de hiperlactatemia nos pacientes com choque dis- cia do consumo em relação à oferta de oxigênio. Assim, du-
tributivo-séptico e hiperdinâmico é de fato decorrente da hi- rante as primeiras 48-72 horas em que o lactato sérico se
póxia tecidual, ao invés da chamada hiperlactatemia de es- mantém elevado, o prognóstico, em geral, não é bom. Em
tresse, não diretamente relacionada à hipóxia. No entanto, contrapartida, após essa fase, em que o débito cardíaco foi
situações de hipoperfusão global ou regional que levem à restaurado, a saturação venosa mista de oxigênio supera 65%
hipóxia deverão ser sempre descartadas. e, habitualmente, o comportamento da oferta e do consumo
O lactato gerado nos tecidos pode ser extraído pelo fíga- de oxigênio são imprevisíveis. O lactato sérico pode ser nor-
do e convertido a glicose (via gliconeogênese) ou pode ser mal mesmo na vigência de disfunção orgânica galopante. Em
utilizado como substrato primário para oxidação (fonte de outras palavras, o poder prognóstico do nível sérico do lac-
energia). tato (uma vez que este pode ser normal) perde em acurácia.
Ainda na avaliação da hiperlactatemia, devemos dividir No entanto, independentemente do mecanismo prepon-
a síndrome do choque em duas categorias fisiopatológicas: derante (hipóxia tecidual, inibição da piruvato desidrogena-
1) síndromes de baixo fluxo, em que se observa débito car- se, diminuição da depuração hepática, entre outros), a hiper-
díaco deprimido e que ocorrem no choque cardiogênico, hi- lactatemia sinaliza atividade patológica, servindo como guia
povolêmico e obstrutivo; e 2) síndromes com alto fluxo, nas de resolução do processo (principalmente nas fases iniciais).
quais o débito cardíaco está elevado, destacando-se os cho- Assim, nesses pacientes o nível sérico de lactato é especial-
ques séptico, anafilático e secundário à insuficiência adrenal mente útil nas fases iniciais, devendo ser analisado com cau-
aguda. tela, posteriormente, na evolução clínica desses pacientes.
Nas síndromes de baixo fluxo, o principal componente Vale destacar que o valor isolado do lactato sérico é de
fisiopatológico da hiperlactatemia é a hipóxia tecidual. As- menor utilidade que a evolução dessa variável ao longo do
sim, em associação à hiperlactatemia, há concomitância de tempo é de maior utilidade clínica. Os níveis séricos de lac-
achados que traduzem baixa oferta de oxigênio aos tecidos. tato não podem e não devem substituir a avaliação clínica
Em primeiro lugar, observam-se sinais clínicos de baixa per- completa e o tratamento não deve ser guiado unicamente
fusão tecidual, como alteração do nível de consciência, di- pelos níveis séricos do lactato. A combinação dessa mensu-
minuição da diurese e do enchimento capilar, e, posterior- ração com outras (diferença venoarterial de dióxido de car-
mente, hipotensão arterial. Do ponto de vista laboratorial, bono, por exemplo) pode ser mais informativa.
encontra-se aumento do déficit de base (BE), da diferença
arteriovenosa de oxigênio (CaO2 - CvO2) e venoarterial de Déficit de bases
dióxido de carbono (PvCO2 - PaCO2), bem como diminuição Conforme exposto anteriormente, quando há desequilí-
da saturação venosa mista de oxigênio, que obedece a um brio entre oferta e consumo de oxigênio há também anaero-
paralelismo com a queda do débito cardíaco. biose, hiperlactatemia e acidose. A intensidade dessa acido-
Ainda nessa fase, observa-se uma dependência estrita do se pode ser estimada por meio do excesso de bases, obtido a
consumo em relação à oferta de oxigênio. É notória a obser- partir da gasometria arterial.
vação de hiperlactatemia persistente nesses pacientes como O déficit de bases tem se mostrado superior ao valor do
sinal de mau prognóstico, principalmente pelo vínculo fisio- pH para avaliação da reversão da acidose metabólica e para
patológico entre hiperlactatemia e hipóxia tecidual persis- predição de complicações secundárias à acidose. Além dis-
tente, um dos “motores” da disfunção de múltiplos órgãos. so, existe intima relação entre déficit de bases, hipovolemia
Outro dado ainda peculiar a esse grupo de pacientes é que o e mortalidade em pacientes em estado de choque.
lactato sérico persiste em níveis elevados nos pacientes que Smith et al.27 demonstraram, em uma população de 148
não atingem débito cardíaco elevado (diferente do que acon- pacientes clínicos e cirúrgicos admitidos em UTI, que a pre-
tece durante o choque séptico)26. sença na admissão de BE < - 4 mmol/l e/ou lactato sérico
Nas síndromes de alto fluxo (choque distributivo), as aná- superior a 13 mg/dl apresentava sensibilidade de 80% e es-

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pecificidade de 59% como marcador de mortalidade. A pre- têm testado diferentes mecanismos de hipóxia e concluíram
sença concomitante dessas duas variáveis na admissão na que o mecanismo fundamental de aumento do ΔCO2 é a len-
UTI se associou a maior mortalidade (50% x 15%; p < 0,0001) tificação do fluxo (hipóxia isquêmica).29
e a maior requerimento de suporte inotrópico (31% x 4,5%; Outra maneira de inferir metabolismo anaeróbio utili-
p < 0,0001).27 Depois de adequadamente interpretado, pode zando o ΔCO 2 é por meio da análise conjunta do quocien-
ser considerado marcador de choque oculto. A presença de te respiratório. Como destacado anteriormente, a oxida-
lesão renal aguda instalada pode prejudicar tal interpreta- ção de nutrientes consome O2 e produz CO2. O consumo
ção, visto que, independentemente da etiologia da lesão re- de O2, como descrito anteriormente, pode ser inferido pela
nal, o BE pode estar negativo apenas por um déficit na ex- equação: VO2 = DC x C (a-v)O2. Já a produção de CO2 pode
creção de ácidos tituláveis, e não por hipoperfusão.28 ser inferida por equação similar: VCO2 = DC x C(a-v)CO2, ou
seja, a produção de CO2 em litros por unidade de tempo re-
DIFERENÇA VENOARTERIAL DE CO2 presenta o que foi produzido nos tecidos a cada ciclo cardí-
aco, durante determinado espaço de tempo. O quociente res-
A diferença venoarterial de dióxido de carbono (ΔPCO2) piratório representa a porcentagem do consumo total de oxi-
é a diferença entre a PCO2 no sangue venoso, colhida na gênio que gera CO2: VCO2/VO2. Em uma dieta habitual, o
artéria pulmonar (PvCO2), e arterial (PaCO2). Assim: ΔPCO2 quociente respiratório está em torno de 1. Matematicamente é o
= PvCO2 - PaCO2. Em condições fisiológicas, o valor nor- mesmo que DC x C(a-v)CO2 /DC x C(a-v)O2 ou C(a-v)CO2/C(a-v)O2.
mal do ΔPCO2 varia de 2 mmHg a 5 mmHg. Como discutido anteriormente, Ca ou CvCO2 (conteúdo de
Do ponto de vista fisiológico, a oxidação de nutrientes CO2) ~~ PCO2, temos que quociente respiratório = ΔPCO2/
consome O2 e produz CO2 e H2O. Dessa maneira, 1 g de C(a-v)O2. Se levarmos em consideração que o metabolismo ana-
glicose, lipídio ou proteína consome O2 e produz CO2 e H2O. eróbio se caracteriza por diminuição do VO2, o quociente res-
Na sequência, o CO2 produzido pelos tecidos tomará as se- piratório aumentará quando anaerobiose estiver presente. Em
guintes direções: um recente estudo retrospectivo, envolvendo 89 pacientes,
1. Como é altamente solúvel em membrana lipídica, rapida- foi demonstrado que valores do quociente respiratório su-
periores a 1,4 prediziam a presença de lactato superior a
mente difundir-se-á para o interior dos eritrócitos. Em pre-
18 mg/dl, com valor preditivo e negativo de 86% e 80%,
sença da enzima anidrase carbônica, reage com a H2O, for-
respectivamente.30
mando H2CO3 e, por conseguinte, HCO3. Assim, 70% do CO2 Deve-se utilizar ΔPCO2 no contexto da avaliação da per-
estão na forma de ânions bicarbonato, principalmente no in-
fusão tecidual como marcador de adequação do débito car-
terior dos eritrócitos.
díaco às necessidades metabólicas do organismo, ou seja, a
2. Cerca de 10% são transportados em solução física, dissol- diferença venoarterial de CO2 é inversamente proporcional
vidos no plasma.
ao débito cardíaco. ΔPCO2 normal significa que o débito
3. Os restantes 20% são transportados na forma de compos-
cardíaco está sendo suficiente para “lavar” todo o CO2 pro-
tos carbaminos, principalmente Hb, a carboxi Hb. duzido pelos tecidos periféricos.
Mediante algumas condições de estabilidade, o conteú-
Uma das mais importantes características do ΔPCO2 é
do de CO2 do sangue pode ser aceito como proporcional à
sua precocidade em se alterar, visto que se altera muito antes
pressão parcial de CO2 nesse meio: Ca ou vCO2 ~
~ PCO2. Como da pressão arterial, da frequência cardíaca e do lactato. De
a variável PaCO2 ou PvCO2 é fácil de ser obtida à beira do
modo prático, podemos afirmar que aumento do ΔPCO2 pode
leito, podemos avaliar o comportamento dessa medida ao
sugerir que o débito cardíaco não está sendo suficientemen-
longo de possíveis intervenções. Iremos observar que toda te alto para suprir as necessidades metabólicas globais. Em
vez que o fluxo sanguíneo e, portanto, DO2, se reduz, há
situações de suspeita de hipóxia tecidual, o aumento do
imediato aumento na PvCO2 ou tecidual. Isso acontece por
ΔPCO2 pode ser uma ferramenta a mais para orientar o mé-
um de dois motivos: retardo ou alentecimento no tempo de dico a adotar medidas para aumentar o débito cardíaco. Em
trânsito do sangue pelos tecidos levando à prejudicada re-
pacientes com ΔPCO2 aumentado, a diminuição desse gradi-
moção do CO2 ou produção anaeróbia de CO2. Esta última
ente após intervenção terapêutica pode inferir indiretamente
acontece quando, em vigência de hipóxia grave, o meio aci- o aumento do débito cardíaco e seu impacto positivo no me-
dótico, rico em NADH+H (como descrito anteriormente),
tabolismo global. É possível ainda, usando esse mesmo raci-
reage com o bicarbonato intersticial e plasmático, formando
onal, utilizar o gradiente tecido-arterial de CO2 por meio da
CO2. Adicionalmente, diminuição na eliminação pulmonar tonometria gástrica. Assim, gradiente alargado significa bai-
de CO2 acarretará maiores níveis de PCO2. Vários estudos

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xo fluxo tecidual em relação à produção de CO2 ou DO2. cia da ventilação alveolar sobre essa PCO2 tecidual utiliza-
se o PCO2-gap, isto é, PCO2 gástrico - PCO2 arterial. Gradi-
Gradientes tecido-arteriais de PCO2 – capnometria ente elevado, acima de 10 mmHg, indica diminuição da per-
tecidual fusão da mucosa gástrica, o que em vários estudos apresen-
Conforme exposto anteriormente, a distribuição do flu- tou correlação com mau prognóstico. Um ponto fraco da
xo sanguíneo nos estados de choque não é uniforme, bem capnometria a ser considerado é a possível interferência do
como não é uniforme sua redistribuição durante o período efeito Haldane sobre o aumento da diferença tecido-arterial
de ressuscitação. Há distribuição irregular do fluxo sistêmi- de PCO2. Em vigência de um meio tecidual oxigenado, como
co e as alterações induzidas por drogas vasoativas sistêmi- pode acontecer durante ou após a fase de ressucitação, o CO2
cas não encontram, necessariamente, correspondência regi- perde afinidade pela Hb, diminuindo a formação de carba-
onal. mino-hemoglobina – efeito Haldane. Nesse sentido, por
O território esplâncnico possui um sistema de irrigação exemplo, o efeito Haldane é o grande responsável pela ex-
que é altamente sensível a condições de hipofluxo e hipóxia. creção de CO2 nos pulmões. Nos tecidos, com o prejuízo na
A hipoperfusão da mucosa esplâncnica ocorre precocemen- formação de carboxiHb, aumenta-se a porcentagem de CO2
te durante estados de choque, e sua restauração é posterior à dissolvido e PCO2 tecidual. O efeito final seria elevação da
de outros órgãos. Com o advento da tonometria gástrica e de diferença tecido-arterial de CO2.
seu melhor entendimento fisiológico e fisiopatológico (pro- A capnometria sublingual, por ser metodologicamente
dução e depuração do CO2 tecidual e sua relação com flu- mais simples que a tonometria gástrica, tem sido avaliada
xo), pode-se verificar, à beira do leito, o comportamento do em alguns estudos com bons resultados.31
fluxo da mucosa gástrica, trazendo a conceituação de distri-
buição do fluxo sanguíneo inter e intraórgãos.31 CONCLUSÕES
A tonometria gástrica permite a mensuração da PCO2 de
mucosa gástrica, que possui íntima relação com fluxo local. Atualmente dispomos de diversas tecnologias que per-
O CO2 tecidual só aumenta, de forma patológica, quando mitem uma monitorização capaz de avaliar, de maneira não-
não há relação linear entre produção e fluxo. Dessa forma, invasiva, os diversos aspectos fisiopatológicos envolvidos
qualquer queda da perfusão tecidual, nesse território, seria nas disfunções cardíacas agudas. O conhecimento dessas tec-
sinalizada por aumento do CO2 tecidual (“percebido” pela nologias e suas aplicações específicas é fundamental para o
tonometria). profissional envolvido no tratamento dessa condição clíni-
Assim, utiliza-se hoje a mensuração da PCO2 da mucosa ca. Nesta revisão apresentamos as bases para esse entendi-
gástrica como indicativo de fluxo. Para descartar a influên- mento.

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