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Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS CARDIOLÓGICAS

36: 145-150, abr./dez. 2003 Capítulo I

CHOQUE CIRCULATÓRIO: DEFINIÇÃO,


CLASSIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

CIRCULATORY SHOCK: DEFINITION, CLASSIFICATION, DIAGNOSIS AND TREATMENT

Bruno Ganem Siqueira1 & André Schmidt2

1
Pós-graduando. 2Docente. Divisão de Cardiologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
CORRESPONDÊNCIA: Prof. Dr. André Schmidt. Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Divisão de Cardiologia Departamento de Clínica Médica.
Campus Universitário - USP. CEP: 14048-900 Ribeirão Preto – SP -. Fone: (16) 602-2599 – e-mail: aschmidt@fmrp.usp.br

SIQUEIRA BG & SCHMIDT A. Choque circulátório: Definição, classificação, diagnóstico e tratamento. Medi-
cina, Ribeirão Preto, 36: 145-150, abr./dez. 2003.

RESUMO - Procede sucinta revisão, procurando abordar, de forma sistematizada e prática, a


classificação, diagnóstico e tratamento do choque circulatório. São essencialmente enfatizados
aspectos conceituais, além de achados clínicos, hemodinâmicos e metabólicos, para melhor
caracterização dos estados de choque. Procura-se fundamentar, ainda, princípios básicos da
reposição volêmica e intervenções farmacológicas mediante o uso de vasopressores,
cardiotônicos e vasodilatadores.

UNITERMOS - Choque. Vasoconstritores. Vasodilatadores. Choque Cardiogênico

1- INTRODUÇÃO tóxicas, maior afluxo de substâncias nocivas aos teci-


dos, ativação de mecanismos agressores e redução
O choque circulatório faz parte da via final, dos mecanismos de defesa.
comum de inúmeras doenças fatais, contribuindo, por- Para a caracterização e o diagnóstico do es-
tanto, para milhões de mortes em todo o mundo. tado de choque circulatório, há a necessidade da
Trata-se de síndrome clínica, caracterizada pela presença de hipotensão (absoluta ou relativa) e sinais
incapacidade do sistema circulatório em fornecer oxi- e/ou sintomas de inadequação da perfusão tecidual,
gênio e nutrientes aos tecidos, de forma a atender suas explicitados e discutidos adiante.
necessidades metabólicas. É o conceito de choque que
mostra uma importante relação entre metabolismo e 2- CLASSIFICAÇÃO
hemodinâmica. Assim, um quadro circulatório, carac-
terizado por alto débito cardíaco, pode não ser ade- A classificação do choque circulatório obede-
quado para suprir as necessidades metabólicas numa ce a uma finalidade estritamente didática, tendo em
situação de hipermetabolismo. Por outro lado, um bai- vista que a maioria dos quadros de choque mostra mais
xo débito cardíaco pode ser adequado para uma situa- de um componente em sua evolução (Tabela I):
ção de hipometabolismo. • Hipovolêmico - caracterizado por baixo volume
Outro aspecto relevante é que nem todos os intravascular, relativo a sua capacitância, ou seja,
danos teciduais, resultantes do choque advêm da hipovolemia relativa ou absoluta. O volume contido
hipóxia, mas, também, podem decorrer da baixa ofer- no compartimento intravascular é inadequado para
ta de nutrientes, reduzida depuração de substâncias a perfusão tecidual.

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• Cardiogênico - existe limitação primária no de- necessidade de identificarmos a presença de hipo-


sempenho cardíaco, decorrente de interferências tensão arterial (pressão arterial sistólica (PAS)
sobre o inotropismo e/ou cronotropismo. A função < 90mmHg, pressão arterial média (PAM) < 60mmHg
de bomba do coração é insuficiente para manter o ou queda maior que 40mmHg na PAS), associada a
débito cardíaco em níveis compatíveis com as ne- sinais e sintomas de inadequação da perfusão
cessidades metabólicas. tecidual (Tabela II). A história clínica deve ser dire-
• Obstrutivo - resulta de bloqueio mecânico ao flu- cionada à procura da etiologia, fornecendo, assim, sub-
xo sangüíneo na circulação pulmonar ou sistêmica. sídios para a terapêutica mais adequada e eficaz des-
• Distributivo - caracterizado por inadequação en- sa síndrome clínica.
tre a demanda tecidual e a oferta de oxigênio por uma A avaliação laboratorial é essencial para a ava-
alteração na distribuição do fluxo sangüíneo. Dessa liação da oferta de oxigênio e sua adequação para o
forma, temos tecidos com fluxo sangüíneo elevado metabolismo tecidual. A saturação venosa central, de
em relação à necessidade e outros com fluxo san- oxigênio (SvO2) retrata a medida do balanço entre a
güíneo elevado em termos numéricos, mas insufici- oferta sistêmica e a demanda tecidual de oxigênio,
ente para atender às necessidades metabólicas. tornando-se muito importante na avaliação e acompa-
nhamento da resposta terapêutica. Os quadros hipo-
3 – DIAGNÓSTICO dinâmicos aumentam o tempo de trânsito das hemácias
na microcirculação, fazendo que a SvO2 torne-se bai-
O diagnóstico de choque circulatório é eminen- xa por aumento da extração de O2. Por outro lado, a
temente clínico, baseando-se, portanto, numa boa SvO2 eleva-se em estados com uma captação tecidual
anamnese e exame físico. Para seu diagnóstico, há a deficiente de O2 ou por um quadro hiperdinâmico.

Tabe la I - Clas s ificação do choque circulatório

Hipovolê mico
- Sangramentos volumosos (politraumatizados, ferimentos com armas de fogo ou arma branca)
- Perda excessiva de líqüidos (diarréia, vômitos, poliúria, queimaduras extensas e febre)
- Seqüestro de líqüidos em tecidos inflamados (pancreatite, peritonite, colite, pleurite)
- Drenagem de grandes volumes de transudatos (ascite, hidrotórax)

Cardiogê nico
- Miopático (depressão função sistólica)
Infarto agudo do miocárdio
Miocardiopatia dilatada
Depressão miocárdica no choque séptico
- Mecânico
Regurgitação mitral, aguda
Ruptura do septo interventricular
- Arrítmico

Obs trutivo
- Tamponamento cardíaco
- Tromboembolismo pulmonar maciço
- Hipertensão pulmonar, importante (primária ou Eisenmenger)

D is tributivo
- C hoque séptico
- C hoque neurogênico (trauma raquimedular, traumatismo craniano)
- C hoque endócrino (hipotireoidismo, hipocortisolismo)
- Anafilaxia (reação de hipersensibilidade a drogas ou contato com substâncias)
- Síndrome vasoplégica, pós- circulação, extracorpórea.

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Choque circulátório: Definição, classificação, diagnóstico e tratamento

Tabe la II - M anife s taçõe s clínicas do choque circu-


grande valor em formas iniciais, sem grande reper-
latório (adaptado de B.C.M acie l & J.A. M arin-Ne to. cussão clínica e/ou hemodinâmica.
M e dicina, Ribe irão Pre to, outubro/de ze mbro 1992) (11) O diagnóstico do tipo de choque circulatório
pode ser baseado na determinação de variáveis he-
Cho que hipo dinâ mic o (frio ) modinâmicas através da monitorização hemodinâmica
(b a ixo d é b ito , a lta re s is tê nc ia va s c ula r p e rifé ric a ) invasiva, com o uso do cateter de Swan-Ganz, con-
• P r o s t r a ç ã o , a n s ie d a d e forme sumarizado na Tabela III.
• Hip o te ns ã o
• Ta q uic a r d ia
• P uls o filifo r me 3- TRATAMENTO
• P e le : fr ia , p á lid a , c ia nó tic a
A sistematização do atendimento inicial é fun-
• S ud o r e s e
damental, de modo que o diagnóstico das anormalida-
• Ta q uip né ia
• S e d e , ná us e a s , vô mito s
des e seu tratamento sejam feitos passo-a-passo, numa
• O ligúr ia , a núr ia
seqüência lógica, fazendo com que as prioridades se-
• I nq uie tud e , a p r e e ns ã o , c o nfus ã o jam as mesmas para qualquer tipo de choque.
• I nc o ns c iê nc ia ( fa s e ta r d ia )
3.1- Medidas iniciais
Cho que hipe rdinâ mic o (que nte ) Dá-se prioridade sempre ao “ABC” onde a le-
(a lto d é b ito , b a ixa re s is tê nc ia va s c ula r p e rifé ric a ) tra “A” (do inglês airway) corresponde ao acesso às
• P r o s tr a ç ã o , a ns ie d a d e vias aéreas, de modo a mantê-las pérvias e protegi-
• Hip o te ns ã o ( nã o a c e ntua d a ) das contra obstrução por corpos estranhos ou queda
• Ta q uic a r d ia da língua, aspiração brônquica de conteúdo gástrico,
• P uls o a mp lo sangue, fragmentos de dentes, etc.
• P e le : q ue nte , c o m r ub o r A letra “B” corresponde à respiração (do in-
• Aus ê nc ia d e s ud o r e s e
glês breathing), devendo ser mantida a adequada
• O ligúr ia , d iur e s e mo d e r a d a
ventilação e oxigenação do paciente. A ventilação
• F e b r e , c a la fr io s
mecânica deve ser instituída, quando a ventilação por
• Hip e r ve ntila ç ã o
acessórios não invasivos (cateteres nasais e másca-
• I nq uie tud e , a p r e e ns ã o , c o nfus ã o , c o ma ( r a r o )
ras específicas) não for suficiente. O suporte ventila-
tório mecânico reduz ainda as necessidades metabóli-
A determinação do lactato sangüíneo constitui- cas do paciente, por reduzir o trabalho respiratório,
se em marcador de agressão tecidual secundária à permitindo a redistribuição do fluxo sangüíneo para
hipóxia ou a diferentes agentes tóxicos. Assim, níveis áreas hipoperfundidas.
de lactato normais representam uma oferta de O2, Em seguida, dá-se prioridade à letra “C” (do in-
adequada para as necessidades metabólicas, não ha- glês, circulation) que corresponde à manutenção da cir-
vendo necessidade, portanto, de metabolismo anaeró- culação, e deve-se sempre, dar atenção para as causas
bico para a produção de energia. Tal medida ainda responsáveis pela instabilidade hemodinâmica, de modo
não é rotina na maioria dos serviços, mas pode ser de a procurar um tratamento definitivo para o problema.

Ta b e l a I I I - Va ri á v e i s he mo d i nâ mi c a s e re s p i ra t ó ri a , no s d i v e rs o s t i p o s d e c ho q ue c i rc ul a t ó ri o .
D C = d é b i t o c a r d í a c o ; R V P = r e s i s t ê n c i a v a s c u l a r p e r i f é r i c a ; P C P = p r e s s ã o c a p i l a r p u l mo n a r ;
PVC = pre s s ão ve nos a ce ntral; SvO2 = s aturação ve nos a ce ntral de oxigê nio.

Tipo de choque DC RVP PCP PVC SvO2

Hipov olêm ico Baixo Alta Baixa Baixa Baixa

C ardiogênico Baixo Alta Alta Alta Baixa

Obst rut iv o Baixo Alta Baixa Alta Baixa

Dist ribut iv o Alto Baixa Alta, normal ou baixa Alta, normal ou baixa Alta

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Juntamente com medidas de restabelecimento potensão, aumentar o volume urinário e melhorar o


e manutenção da circulação (reposição volêmica e estado mental; sempre atentar para a deterioração da
agentes vasopressores, vasodilatadores ou inotrópicos) oxigenação e aparecimento de crepitações pulmona-
devem ser adotadas medidas definitivas para corrigir res, que possam sugerir congestão pulmonar (aumen-
o estado de choque, conforme a etiologia encontrada: to da pressão capilar pulmonar; aumento da pré-car-
1. Cardioversão elétrica para as taquiarritmias. ga do ventrículo esquerdo).
2. Uso de marcapasso transcutâneo ou transvenoso O tipo de líqüido utilizado na reposição irá de-
para as bradiarritmias. pender da natureza da perda e da intensidade da mes-
3. Uso de trombolíticos no infarto agudo do miocárdio ma (Tabela IV). A reposição volêmica pode ser feita
e tromboembolismo pulmonar. com cristalóide (ringer simples, ringer lactato, soro
4. Pericardiocentese ou pericardiotomia no tampona- fisiológico) e/ou colóides (sangue e seus derivados,
mento cardíaco. albumina, dextranas e aminos naturais e sintéticos).
5. Drenagem torácica no pneumotórax hipertensivo. Os cristalóides apresentam uma capacidade de ex-
6. Uso de antibióticos e drenagem cirúrgica de ab- pansão volêmica bem menor que a dos colóides, já
cesso para o tratamento da infecção no choque que apenas ¼ do volume infundido permanece no in-
séptico. travascular. O uso de sangue está reservado para gran-
des perdas (> 30% do volume sangüíneo total). Em
3.2- Reposição volêmica geral, procura-se manter o hematócrito em 30% e a
Independente da etiologia do choque circulató- taxa de hemoglobina em 10 g/dL. Pacientes jovens,
rio, a manutenção de pressões de enchimento ventri- geralmente, têm condições de suportar taxas meno-
cular, em níveis adequados para produzir um débito res (até 5 a 7g/dL.), seguindo a tendência mundial de
cardíaco efetivo, é o objetivo fundamental a ser per- evitar expô-los aos riscos das transfusões sangüíneas.
seguido. Não apenas a hipovolemia é uma das causas Na ausência de insuficiência e estenose valvares
mais comuns de choque, com, também, ela pode exis- importantes, embolia pulmonar, aumentos de resistên-
tir em determinadas fases de todos os tipos de cho- cia vascular pulmonar e disfunção ventricular esquer-
que, incluindo o cardiogênico e o distributivo. Conse- da, a medida da PVC permite estimar a pressão de en-
qüentemente, uma “ressuscitação” volêmica inicial chimento do ventrículo direito (VD), constituindo-se
faz-se necessária para expandir o volume intravascu- numa maneira prática, rápida e econômica de estimar
lar (aumentar o retorno venoso), visando corrigir a hi- o grau da volemia de paciente, guiar a administração

Tabe la IV - Pe rda e s timada de s angue , bas e ada e m parâme tros clínicos , obs e rvados na avaliação inicial do
pacie nte com choque he morrágico (adaptado do manual do curs o Advanced Trauma L i fe Support , organizado
pe lo Colé gio Ame ricano de Cirurgiõe s ).

Clas s e I Clas s e II Clas s e III Clas s e IV

Perda Sangüínea (mL) até 750 750- 1500 1500- 2000 >2000

Perda sangüínea (% volume sangüíneo) até 15% 15- 30% 30- 40% >40%

Freqüência cardíaca < 100 >100 >120 >140

Pressão arterial normal normal diminuída diminuída

Freqüência respiratória 14- 20 20- 30 30- 40 >35

Diurese (mL/h) >30 20- 30 5- 15 desprezível

ansiedade
Estado mental ansiedade leve ansiedade e confusão confusão e letargia
moderada

Reposição volêmica cristalóide cristalóide cristalóide e sangue cristalóide e sangue

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Choque circulátório: Definição, classificação, diagnóstico e tratamento

de líqüidos e a necessidade ou não do uso de drogas cia cardíaca severa, na dose de ataque de 50 µg/Kg
vasoativas. A cateterização da artéria pulmonar, mé- (10 min) e manutenção de 0,375 a 075 µg/Kg/min.
todo mais refinado, através do cateter de Swan-Ganz,
fornece informações precisas acerca do débito car- 3.4 – Agentes vasopressores
díaco (DC), pressão de enchimento do VE e pressão
“capilar pulmonar” (PCP), consumo (VO2) e oferta 3.4.1 – Noradrenalina
(DO2) de oxigênio. Entretanto, é uma técnica bastan- Mediador adrenérgico natural, com potente efei-
te onerosa, exigindo local apropriado, equipe bem trei- to constritor venoso e arterial (alfadependente) e mo-
nada e equipamento de alto custo, devendo ser reser- desto efeito inotrópico positivo (beta1 dependente). A
vada como guia para terapêutica, principalmente, em noradrenalina aumenta, predominantemente, a pres-
situações de choque circulatório com disfunção ven- são arterial pela elevação da resistência vascular sis-
tricular e choque do tipo distributivo, causado por têmica e pode não melhorar, ou até diminuir o débito
endotoxinas. cardíaco. É utilizada, principalmente, no choque sépti-
Deve-se enfatizar a necessidade de eliminar a co e em condições de choque refratário. Pode ser útil
hipovolemia e assegurar pressão de enchimento ven- no choque cardiogênico por infarto agudo do miocárdio,
tricular otimizada, por administração de líqüidos, antes porque aumenta pressão na raiz da aorta, melhorando
da instituição do tratamento com drogas vasoativas. perfusão coronária. Necrose tecidual pode ser obser-
Isto, porque, nessas condições, a eficácia das mes- vada, se ocorrer extravasamento para o subcutâneo.
mas aumenta, a dose necessária diminui e os efeitos Dose usual de 0,03 a 2 µg/Kg/min. O uso dessa droga
adversos tornam-se menos importantes. deve ser visto como uma medida temporária e a dose
deve ser reduzida ou a administração, descontinuada
3.3 – Agentes inotrópicos assim que possível.
3.3.1- Dobutamina 3.4.2 - Dopamina
Apresenta efeito predominante, betaadrenérgico, Percussor imediato da noradrenalina na via bios-
responsável por sua ação inotrópica positiva e vasodi- sintética das catecolaminas. Estimula diretamente re-
latadora periférica, discreta, aumentando o débito car- ceptores alfa e betaadrenérgicos, ao mesmo tempo em
díaco e diminuindo a resistência vascular periférica. que promove liberação de norepinefrina endógena. Do-
Não libera norepinefrina endógena, induzindo menos ses baixas (1 a 3 µg/Kg/min) têm efeito basicamente
taquicardia, arritmias e isquemia miocárdica do que a dopaminérgico (aumento do fluxo renal). Doses inter-
dopamina e noradrenalina. Não tem efeito vasodilata- mediárias (3 a 10 µg/Kg/min) têm efeito, principalmen-
dor, renal, mas o volume urinário e o fluxo renal parecem te, beta-estimulante (inotrópico positivo) e doses > 10
aumentar igualmente em comparação com a dopamina, µg/Kg/min tem efeito alfa-estimulante (aumento da
sugerindo que o aumento da perfusão renal, secundá- resistência vascular periférica). Devido a sua maior difi-
ria ao aumento do débito cardíaco, é o mais importante culdade de titulação de dose/efeito desejado, tal amina
determinante da manutenção da função renal. A dose vasoativa tem sido menos usada. Assim sendo, ao se
usual de dobutamina é de 3 a 20 µg/Kg/min. Nao deve desejar obter um efeito agonista sobre os receptores
ser usada com pressão sistólica abaixo de 90 mmHg, adrenérgicos alfa e beta, a melhor opção seria o uso
já que pode promover a diminuição da resistência vas- de noradrenalina e dobutamina, respectivamente.
cular periférica e pressão sistêmica por sua interação
com receptores betaadrenérgicos vasculares. 3.5 – Vasodilatadores
3.3.2 – Inibidores da fosfodiesterase 3.5.1 – Nitroprussiato
A amrinona e o milrinona são drogas de uso Vasodilatador balanceado (arterial e venoso),
parenteral que têm efeitos hemodinâmicos, semelhan- não indutor de taquifilaxia, com rápido início de ação,
tes aos da dobutamina, apresentando ação inotrópica, usado em situações emergenciais, em que se observa
positiva, por inibição do fosfodiesterase (aumento de aumento da pressão de enchimento do ventrículo es-
AMPc, intracelular). A milirinona (mais comumente querdo como insuficiência mitral aguda (disfunção ou
usada) é mais potente e possui menor efeito pró-arrít- ruptura de músculo papilar) ou ruptura de septo-
mico que a amrinona. Pode ser usada isolada ou asso- interventricular pós-IAM. Só deve ser usado em pa-
ciada com a dobutamina, em paciente com insuficiên- cientes com pressão arterial sistólica > 90mmHg. Além

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da hipotensão, pode desencadear taquicardia reflexa, palmente, em pacientes com etiologia isquêmica. Ini-
piora da isquemia miocárdica e intoxicação por tiocia- cia-se com 10 µg/min, aumentando-se 10 µg/min a cada
nato (uso prolongado ou insuficiência renal). A dose 5 min até a dose máxima de 100 µg/min.
deve variar entre 0,25 a 10 µg/Kg/min. Em suma, a abordagem diagnóstica e terapêu-
tica do choque circulatório deve levar em conta uma
3.5.2 - Nitroglicerina anamnese detalhada, pois os diagnósticos etiológico e
Vasodilatador predominantemente venoso, além do tipo de choque prevalente devem ser feitos de modo
de vasodilatador coronário. Extremamente útil em a orientar terapêuticas definitivas, que, quando insta-
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, que ladas precocemente, aumentam as chances de rever-
cursam com sinais de congestão pulmonar e princi- são do quadro.

SIQUEIRA BG & SCHMIDT A. Circulatory shock: Definition, classification, diagnosis and treatment. Medicina,
Ribeirão Preto, 36: 145-150, apr./dec.2003.

ABSTRACT: This is a brief, systematic and applied review of the classification, diagnosis and
treatment of patients with circulatory shock. Conceptual aspects and clinical, hemodynamic and
metabolic findings are specially emphasized providing a better shock characterization and
understanding. Finally, basic principles of volume expansion and pharmacological interventions
(vasopressor and cardiotonic agents, vasodilators) are rationalized.

UNITERMS - Shock. Vasoconstrictor Agents. Vasodilator Agents. Shock, Cardiogenic.

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