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ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

CAPÍTULO 2
Anestesia em Microcirurgia

Marco Polo Baptista


Luiz Carlos Bastos Salles
Silvana Moté da Rocha Baptista

INTRODUÇÃO Nossa experiência adquirida a partir de 1982 na Clínica


SOS-Mão e no Centro de Microcirurgia Reconstrutiva do
A cirurgia microvascular é um procedimento cirúrgico que Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quan-
cresceu rapidamente desde o relato do primeiro reimplante do se sabia muito pouco sobre a fisiopatologia do retalho e
realizado por Chen Chung Wei, em 1962, sendo mesmo con- sobre como a anestesia poderia contribuir para o sucesso ou
siderada por muitos como uma especialidade. A despeito dos fracasso da cirurgia, levou-nos a buscar uma abordagem
recentes avanços, uma abordagem anestésica dita ideal ainda anestésica baseada no conhecimento que se tinha em cirurgi-
está para ser definida. Existem proponentes para uma grande as de longa duração, que era o caso das microcirurgias na-
variedade de técnicas e agentes farmacológicos, como: quela época. Estes princípios básicos são:
• anestesia geral; • evitar a hipóxia;
• anestesia regional (bloqueios) simples ou contínua; • evitar a hipotensão;
• anestesia geral combinada com bloqueios; • evitar a hipocapnia;
• uso de drogas que afetam a coagulação, a adesividade • combater agressivamente a hipotermia.
plaquetária e a viscosidade sanguínea;
Estabelecemos, então, uma série de regras visando à ma-
• drogas vasodilatadoras de curta e longa duração; nutenção de parâmetros vitais os mais próximos do fisiológi-
• técnicas de hemodiluição normo ou hipervolêmica. co possível. Assim buscamos:
Com freqüência, vasos sanguíneos de 1 a 4 mm de diâme- • o controle contínuo da pressão arterial e da volemia,
tro interno são anastomosados. Apesar destas dimensões, es- evitando-se a todo custo a hipotensão e hipovolemia;
sas estruturas inserem-se na categoria de vasos de resistência • o controle da ventilação para prevenir a hipocapnia, a
e possuem grande quantidade de músculos lisos em suas pa- hipóxia e o desequilíbrio ácido-base;
redes. Interessante notar que o termo microvascular refere-
se ao uso de um microscópio e não à microcirculação. • o controle cuidadoso da temperatura central, visando a
minimizar a hipotermia, cujos efeitos deletérios para a
Espasmos podem resultar do manuseio e da estimulação
circulação no retalho serão abordados com mais deta-
pelo frio ou por atividades reflexas que contribuem para
lhes adiante;
comprometer o resultado da cirurgia. Convém ressaltar que,
embora os vasos no retalho transplantado estejam denerva- • o posicionamento do paciente com a finalidade de se
dos, eles ainda respondem com espasmos quando submetidos evitar lesões por compressão e facilitar a expansão
a estímulos físicos e sob influência humoral. pulmonar.

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CAPÍTULO 2 11
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

Para que a anestesia possa influenciar de modo efetivo o 3. doenças cardiovasculares congênitas, isquêmicas,
sucesso da microcirurgia, particularmente aquelas com micro- valvulares, insuficiência cardíaca, arritmias, doenças
anastomoses de vasos, é crucial que a administração dos pro- vasculares e tolerância a exercícios;
cedimentos anestésicos seja fundamentada nos conhecimentos 4. condições pulmonares afetadas pelo fumo, hiper-rea-
atuais sobre a fisiologia e a fisiopatologia da circulação. tividade pulmonar, DPOC etc.;
5. condições neurológicas, processos periférico e central,
AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA incluindo as condições cerebrovasculares;
6. doenças gastrintestinais;
Avaliação pré-operatória dos pacientes que serão subme-
tidos a uma cirurgia microvascular ou de nervos periféricos 7. doenças endócrinas;
não difere daquela realizada em pacientes programados para 8. condições hematológicas como coagulopatias, anemia;
outros tipos de cirurgias. Considerações especiais devem ser deve-se, principalmente, perguntar pelo tempo de san-
feitas em pacientes de emergência, geralmente candidatos a gramento quando o paciente sofre algum acidente ou
reimplante de algum segmento amputado. quando é submetido à extração dentária;
O objetivo primordial da avaliação pré-operatória é au- 9. experiências anestésicas e cirúrgicas prévias;
mentar a segurança do procedimento, diminuindo a morbida- 10. tempo de jejum caso a avaliação ocorra no dia da
de e a mortalidade intra e pós-operatória. A história clínica, cirurgia.
o exame físico e os testes laboratoriais, quando indicados,
provêem as bases do tratamento de qualquer anormalidade
encontrada e permitem um planejamento prévio e lógico da EXAME FÍSICO
anestesia.
O exame físico deve constar no mínimo de:
Nos últimos anos, a avaliação pré-anestésica vem sofren-
do mudanças substanciais em seus paradigmas. A história 1. sinais vitais como pressão arterial, pulso, freqüência
clínica do paciente, a anamnese criteriosa e uma cuidadosa respiratória, temperatura, peso e altura;
revisão dos sistemas orgânicos formam a pedra angular da 2. observação de hábitos, biótipo e possíveis anormalida-
avaliação pré-operatória (APO) (Tabela 2.1). des no segmento superior;
3. vias aéreas; deve-se observar a dentição, a forma do
ANAMNESE maxilar e da mandíbula e a abertura da boca;
4. pescoço, mobilidade, distância mento-tireóide, posição
Da história clínica devem constar, no mínimo, detalhes da da traquéia;
história patológica pregressa, tratamentos realizados e estado 5. pulmões, ausculta bilateral pesquisando ruídos
atual dos seguintes itens: anormais;
1. alergia a medicações, comidas, frutas, látex e alérge- 6. coração, ausculta dos sons cardíacos pesquisando ritmo
nos ambientais; e freqüência, presença de galope, murmúrios, desdobra-
2. efeitos colaterais de medicações; mento de bulhas, carótidas e distensão venosa jugular;

Tabela 2.1
Protocolo de Exames Pré-operatórios

Estado Físico Condições Exames

ASA I • < 50 anos • Hemoglobina e hematócrito


• de 51 a 60 anos • + ECG
• 60 anos • + creatinina e glicemia
• acima de 75 anos • + RX do tórax

ASA II • Qualquer idade • Hb/Ht + exames conforme a doença associada


• Com doença cardiovascular • Hb/Ht, ECG, RX,
• Em qualquer idade • Creatinina e eletrólitos se usar diuréticos
• Com diabetes • + Glicemia e HbA1c

ASA III, IV e V • Exames de ASA II + exames de acordo com a(s) doença(s) associada(s)

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ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

7. sistema nervoso, estado mental, habilidade sensório- A hemoglobina glicosilada (ou a frutosamina) responde
motora e nervos cranianos. melhor a esta questão e deve sempre ser solicitada quando
houver história de diabetes.

EXAMES LABORATORIAIS Solicitar quando houver:


• história de diabetes;
Os testes laboratoriais de rotina não precisam ser realiza-
dos, com exceção do hematócrito e dos níveis de hemoglo- • história de hipoglicemia;
bina para cirurgias microvasculares devido à previsão de • tratamento com corticosteróide em curso;
sangramento e possível transfusão. Exames laboratoriais de-
• doenças adrenais e pancreáticas.
vem ser solicitados somente se a história clínica o indicar.

Eletrólitos
Exames Laboratoriais e Principais Condições
em que Devem ser Solicitados para Pacientes Solicitar quando for detectada a presença de:
Candidatos à Cirurgia Microvascular • pacientes com doença renal conhecida;
Hemoglobina e Hematócrito • doenças endócrinas;

São os únicos parâmetros de rotina que medimos em ci- • arritmias malignas;


rurgia com microanastomoses de retalhos livres. Estes dados • uso de medicações, digitálicos, diuréticos.
serão usados para calcular a perda sanguínea intra-operatória
e a subseqüente reposição com concentrado de hemácias.
Creatinina ou Uréia
Algumas das condições que justificam sua solicitação:
• procedimentos associados com moderado ou grande Não há necessidade de analisar os dois parâmetros. Pedi-
sangramento (microcirurgias, por exemplo); mos preferencialmente a creatinina por ser mais sensível na
indicação da capacidade de depuração renal.
• pacientes com história de doenças hematológicas;
• diagnóstico ou sintomas consistentes com sangramen- Solicitar quando a história indicar:
tos mesmo ocultos (dispnéia, fadiga etc.); • doenças hipertensivas;
• neoplasias. • doenças renais;
• terapia com diuréticos;
Contagem de Células Brancas • doenças endócrinas e metabólicas;
Solicitar quando a história clínica indicar: • grande perda de líquidos.
• suspeita de infecção em curso;
• anemia aplástica; Coagulograma
• hiperesplenismo; Solicitar quando houver:
• neoplasias. • história clínica de tendência a sangramento anormal;
• uso terapêutico de anticoagulantes;
Contagem de Plaquetas • suspeita de doença hepática ativa.
Solicitar quando houver: Testes de coagulação não são previsores de sangramen-
to intra-operatório e não devem ser pedidos rotineiramente se
• história anormal de hemorragia, púrpura, neoplasia, não houver história clínica que os indiquem.
anemia perniciosa, anemia aplástica, hiperesplenismo.

EAS
Glicemia ou Hemoglobina Glicosilada (HbA1c) de
Preferência Solicitar uando a história médica indicar:

A glicemia representa um retrato do estado glicêmico no • sintomas consistentes de infecção do trato urinário;
momento da coleta do sangue. E no dia da cirurgia? • imunossupressão em curso.

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CAPÍTULO 2 13
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ELETROCARDIOGRAMA • ASA II quando não há alteração sistêmica leve ou mo-


derada, causada pela doença cirúrgica ou por outro
Não há benefícios em se obter um ECG em pacientes as- processo patológico. Por exemplo, a hipertensão arterial
sintomáticos, que não possuem fatores importantes de risco bem controlada, a diabetes controlada, a obesidade leve,
cardíaco para doenças coronárias e que têm menos de 45 (ho- a gestação, da história de asma e extremos de idade (<
mens) ou menos de 55 (mulheres) anos de idade. 1 ou > 70 anos);
O ECG, ou mesmo o encaminhamento do paciente a um • ASA III, quando há grave alteração sistêmica, de qual-
cardiologista, só é necessário se algum destes sinais e sinto- quer causa, com limitação da atividade, mas não inca-
mas estiverem presentes: pacitante. Por exemplo, angina, infarto com menos de
• dor no peito; seis meses, HAS mal controlada, obesidade mórbida,
asma, DPOC;
• sintomas de angina ou equivalentes;
• ASA IV, quando há grave alteração sistêmica, de qual-
• sintomas de ICC ou equivalentes;
quer causa, incapacitante e que representa perigo à vida.
• história de HAS; Por exemplo, angina instável, ICC, insuficiências respi-
• diabetes; ratória e hepática;
• história ou sintomas de disritmias; • ASA V, quando o paciente está moribundo, com pouca
chance de sobrevida, mas é submetido à cirurgia em
• história de infarto do miocárdio; última instância.
• história de cansaço; Com este conceito de Estado Físico (ASA) podemos apre-
• idade ≥ 45 anos homens ou ≥ 55 anos mulheres; sentar uma tabela com os exames que solicitamos de acordo
• história de fumo; com as condições especificadas na segunda coluna.

• necessidade de cirurgia vascular;


• cansaço após exercícios ou dor torácica. SUMÁRIO
A avaliação pré-operatória com o registro da história clí-
Raio X de Tórax nica e a realização do exame físico. Testes laboratoriais po-
dem ser solicitados sempre que houver necessidade de
Raio X deve ser solicitado quando: subsídios para otimizar o preparo do paciente que será sub-
• condições médicas coexistentes assim o indicarem, iden- metido à anestesia para cirurgia microvascular.
tificadas pela história e pelo exame físico; A correlação entre o procedimento cirúrgico e os proces-
• quando especificamente necessário por razões cirúrgi- sos fisiopatológicos apresentados pelo paciente é mais bem
cas ou manuseio pós-operatório. realizada pelo anestesiologista. A abundância de evidências
Algumas das condições médicas que justificam a solicita- indica que exames laboratoriais de rotina pouco contribuem
ção do RX: para os resultados e podem mesmo conduzir a condutas iatro-
gênicas por causa de testes com resultados falso-positivos ou
• doenças cardíacas (ICC, congênitas e outras);
falso-negativos que são ignorados. Entretanto, qualquer tes-
• doenças pulmonares; te que possa ajudar o anestesiologista a esclarecer ou confir-
• imunossuprimidos; mar um diagnóstico aparente que surgiu durante a história
clínica ou por ocasião do exame físico está indicado e deve
• fumantes com mais de 55 anos (considerar o risco cirúr-
ser obtido sem qualquer hesitação.
gico).
A American Society of Anesthesiology (ASA) criou uma
classificação do estado físico do paciente que é adotada uni- MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE
versalmente, inclusive pela grande maioria dos cardiologistas.
Os recentes avanços no conhecimento da fisiologia e fi-
De acordo com esta classificação, dizemos que os pa- siopatologia dos pacientes anestesiados permitiram a criação
cientes: de diversos monitores que produzem informações importan-
• ASA I quando não há alteração orgânica, fisiológica, tes para os anestesiologistas. Recursos mais avançados, como
bioquímica ou psiquiátrica. O processo patológico que medida do débito cardíaco por método não-invasivo, bioim-
indica a cirurgia é localizado e não vinculado a uma pedância transtorácica, ecocardiografia transesofágica e ou-
doença sistêmica; tros, ainda não estão disponíveis em todos os centros

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ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

cirúrgicos, mas somos partidários de que havendo disponibi- CONTROLE DO FLUXO SANGUÍNEO PARA O
lidade, os mesmo devem ser usados. RETALHO
Rotineiramente usamos os seguintes equipamentos:
Ao longo dos últimos anos, o aperfeiçoamento das técni-
• ECG com seis derivações; cas microcirúrgicas, bem como uma melhor compreensão do
• pressão arterial não-invasiva automática; fluxo sanguíneo através do retalho ou do segmento transplan-
tado, permitiu um aumento significativo nos bons resultados
• oximetria de pulso;
das cirurgias microvasculares.
• capnografia; Porém as causas mais comuns de falhas estão relaciona-
• termômetro eletrônico esofagiano e/ou timpânico; das com:
• sonda vesical. • trombose arterial;
Reservamos as monitorizações invasivas para as ocasiões • vasoespasmo;
especiais, como, por exemplo, quando se prevê sangramentos • trombose venosa.
rápidos e abundantes, quando é aconselhável o acompanha-
As causas destas falhas ainda necessitam de melhor escla-
mento do equilíbrio ácido-base ou em pacientes de emergên-
recimento. Recentes avanços sugerem lesão do endotélio com
cia com sinais de baixo débito cardíaco. Nestes casos,
conseqüente prejuízo na formação de NO (óxido nítrico),
complementamos a monitorização básica com: provavelmente devido à Injúria de Reperfusão.
• cateterização de uma artéria para medida da pressão A Injúria ou Síndrome de Reperfusão é um fenômeno
arterial direta e colheita de sangue arterial para exames; que promove distintos graus de danos tissulares relacio-
• cateterização de uma veia central, preferencialmente a nados ao processo de reperfusão abrupta do leito vascu-
veia jugular interna; lar isquêmico.
• e em casos muito especiais, cateterização da artéria pul- Outros fatores relacionados à hemodinâmica e reposição
monar (Swan-Ganz) para avaliação da pressão de enchi- de fluidos, como hipotensão, vasoconstrição periférica e ede-
mento ventricular. ma intersticial do retalho ou do segmento reimplantado, con-
tribuem de forma significativa para o insucesso da cirurgia.

CONDUÇÃO DA ANESTESIA
TRANSPORTE DE OXIGÊNIO
As estratégias adotadas durante a anestesia são, de lon-
ge, muito mais importantes que a escolha da técnica anes- Simplificadamente, podemos dizer que o transporte de
tésica. Todo e qualquer procedimento que vise a obter uma oxigênio pode ser expresso como o produto do fluxo sanguí-
neo pelo conteúdo de oxigênio no sangue arterial.
razoável perfusão do retalho ou do reimplante deve ser im-
plementado.
Embora os retalhos livres sejam escolhidos com o pe- TO2 = (Fs*CaO2)
dículo vascular de maior calibre possível, o suprimento
sanguíneo após o implante ou reimplante é menor do que
Não há ainda, nenhum método comprovadamente eficaz
antes da retirada do retalho. Estudos de Wang e col. mos-
em aumentar seletivamente o transporte de oxigênio para os
traram de forma consistente que a perfusão capilar no mús- retalhos e/ou segmentos reimplantados, mas o aumento glo-
culo pós-isquêmico é de somente 55% do valor básico bal do mesmo, provavelmente, melhora o fluxo sanguíneo.
pré-isquêmico.
O transporte de oxigênio pode ser aumentado pela:
Há três eventos que ocorrem com freqüência durante a
anestesia e que interferem de forma maléfica na circulação • manutenção do volume circulante, administrando-se
vascular e microvascular. São eles: fluidos intravenosamente;
• hipovolemia; • mantendo-se a resistência vascular sistêmica baixa pela
vasodilatação;
• hipotermia;
• mantendo-se o inotropismo cardíaco pela administração
• hipotensão. de drogas.
A hipotermia e a hipovolemia são, de longe, os mais Durante a administração de fluidos, o débito cardíaco au-
nocivos em cirurgias microvasculares conforme veremos menta à medida que ocorre aumento do retorno venoso, e a
adiante. vasodilatação reflexa reduz o pós-carga.

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CAPÍTULO 2 15
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

Se a carga de fluidos é realizada com colóides, a hemodi- Esses conhecimentos da fisiopatologia da hipovolemia
luição resultante irá reduzir a viscosidade sanguínea e, con- nos conduz a uma outra lei física de grande importância no
seqüentemente, produzirá melhora do débito cardíaco e do controle clínico do paciente microcirúrgico. Trata-se da lei de
fluxo de sangue para a microcirculação. Poiseuille-Hagan:
Volemia e pressão arterial sistêmica estão intimamente
relacionadas, mas é importante considerá-las como entidades
independentes, que desempenham papéis distintos embora
Onde:
interdependentes.
Lei de Poiseuille-Hagan ∆P = gradiente de pressão ou “cabeça de
A volemia é muito importante, provavelmente mais do pressão”
que a pressão arterial quando estamos falando em perfusão ∆P.π.R4
P= η = viscosidade do fluido
8.η.L
do retalho. Por exemplo, tentativas de aumentar a circulação R = raio do vaso
em retalhos cutâneos aumentando-se a pressão arterial (per-
L = comprimento do vaso
fusão hipertensiva) foram infrutíferas, provavelmente, por
causa da vasoconstrição reflexa provocada pela distensão
miogênica induzida pela hipertensão.

O enunciado dessa lei declara que o fluxo através de um


Uma das leis físicas que governam o fluxo sanguíneo no vaso é proporcional ao gradiente de pressão e à quarta potên-
retalho é a de La Place: cia do raio e inversamente proporcional à viscosidade do flui-
do e ao comprimento do vaso.
Observem que o fluxo através de vasos é proporcional à
quarta potência do raio para uma determinada viscosidade e
Lei de La Place gradiente de pressão. Assim, um aumento na dilatação do vaso
Onde P é a pressão intralumin
2T produzirá um aumento significativo no fluxo através dos va-
P= T é a tensão da parede vascular e
R R é o raio do vaso sos e a cabeça de pressão necessária para manter o vaso dila-
tado será menor. Por outro lado, se a vasoconstrição ocorrer,
levará a uma brutal diminuição no fluxo, proporcional à quarta
potência do raio (R4) ocasionando isquemia do retalho.
A viscosidade desempenha também um importante papel,
A lei de La Place nos mostra que a pressão para que haja embora menor que o raio (h1 comparado com R4). A visco-
fluxo através de um vaso é inversamente proporcional ao raio. sidade sanguínea não é constante por todo sistema vascular e
Logo, a pressão para perfundir os vasos dilatados de um re- diminui à medida que os vasos vão-se tornando menores. Por-
talho é significativamente menor do que aquela necessária tanto, medidas que evitem aumentar a viscosidade sanguínea,
para a perfundir os vasos constritos. e já adiantando, a hipotermia que é a grande vilã nessa área,
devem ser tomadas desde o início da cirurgia.
A hipovolemia desencadeia uma série de reações autonô-
micas sendo a primeira e a mais importante a liberação de Com esses conceitos em mente, independentemente do
neurohormônios e cininas cuja funções são a diminuição tipo de anestesia escolhida, podemos estabelecer uma série
do raio e aumento da tensão da parede dos vasos, produzindo de cuidados que descreveremos a seguir.
um aumento da Resistência Vascular Sistêmica (RVS) que por
sua vez inicia diversas reações hemodinâmicas tais como:
CUIDADOS COM A VOLEMIA
• aumento do trabalho cardíaco;
• aumento da freqüência cardíaca; DIRETRIZES PARA HIDRATAÇÃO — ANTES, DURANTE E
• aumento do consumo de oxigênio; DEPOIS DA CIRURGIA
• aumento da hipotermia; 1. O primeiro passo consiste em estimar a volemia do
• acidose; paciente, ou seja, o total de sangue circulante naque-
le paciente. Conseguimos isso multiplicando o peso do
• aumento da viscosidade sangüínea etc. paciente por um valor constante. Esse valor é 80 para
Todas essas alterações contribuem para o aparecimento de crianças até 3 anos de idade e 70 para crianças acima
tromboses venosas e/ou arteriais ocasionando o retorno do de 3 anos e para adultos de ambos os sexos. Por
paciente ao centro cirúrgico, para revisão da anastomose ou, exemplo: adulto com 70 kg. Volemia estimada será
infelizmente, para a retirada do retalho. 70 x 70 = 4.900 mL.

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16 CAPÍTULO 2
ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

2. Em seguida calculamos a necessidade horária de líqui- Supondo um paciente de 70 kg com 10 horas de jejum que
dos. Achamos que a fórmula de Holliday ou regra dos será submetido a uma cirurgia de transplante de Grande Dor-
4:2:1, conforme alguns preferem chamar, atende per- sal (médio porte):
feitamente aos nossos objetivos. • necessidade horária = 109 mL/kg/hora;
De acordo com essa regra:
• déficit ocasionado por 10 horas de jejum = 1.090 mL;
• volume de reposição de perdas insensíveis 280 mL/hora
(70 kg x 4 mL/hora);
Para os dez primeiros quilos de peso corporal 4 mL/kg
• distribuir a reposição da seguinte forma:
De 11 a 20 kg 2 mL/kg
– 1a hora: necessidade horária + ½ do déficit + perdas
De 21 kg em diante 1 mL/kg insensíveis 109 + 545 + 280 = 934 mL;
– 2a hora: necessidade horária + ¼ do déficit + perdas
Exemplo: necessidade horária de um adulto pesando 70 kg.
insensíveis 109 + 272,5 + 280 = 661,5 mL;
– 3a hora: necessidade horária + ¼ do déficit + perdas
insensíveis 109 + 272,5 + 280 = 661,5 mL;
Primeiros 10 kg = 10 x 4 = 40 mL
– 4a hora em diante: necessidade horária + perdas in-
de 11 a 20 kg = 10 x 2 = 20 mL
sensíveis 109 + 280 = 389 mL.
de 21 a 70 kg = 49 x 1 = 49 mL
Simplificando:
Total da necessidade horária = 109 mL
1a hora: infundir 934 mL
Esse paciente precisaria de 109 mL/hora para manter a
homeostasia se não estivesse sendo operado e estivesse em 2a hora: infundir 662 mL
repouso. 3a hora: infundir 662 mL
Como o paciente está sendo operado, é necessário repor, 4ª hora em diante infundir 389 mL ou quanto seja neces-
além da necessidade horária, as perdas insensíveis, e com- sário para se obter diurese de pelo menos 1 mL/kg/hora.
pensar o deslocamento de fluidos para o 3o espaço que sem- Estas soluções devem ou podem ser infundidas para se
pre ocorre em maior ou menor grau em pacientes submetidos conseguir estes resultados:
à cirurgia. Recompomos essas perdas da seguinte forma:
• ringer lactato;
• ringer 3;
• soro fisiológico (solução de cloreto de sódio a 0,9%).
Cirurgia de pequeno porte ou com 2 mL/kg de líquidos
sangramento abaixo de 200 mL Atenção: o soro glicosado (solução de glicose a 5% em
água) não deve ser usado de rotina nem antes nem durante e
Cirurgia de médio porte ou com 4 mL/kg de líquidos nem depois da cirurgia pelas seguintes razões:
sangramento entre 200 e 1.000 mL
1. a glicose é captada pelo fígado deixando livre a água
Cirurgia de grande porte ou com 6 mL/kg de líquidos que se distribui por todos os compartimentos do orga-
sangramento acima de 1.000 mL nismo, principalmente o extracelular e o intracelular,
deixando desta forma de contribuir para manter a vo-
lemia e, dependendo da quantidade infundida, produz
edema celular e diurese com possível ocorrência de
desidratação osmótica, impedindo a monitorização
Agora só nos falta calcular o déficit de jejum pré-opera- correta do débito urinário;
tório, ou seja, o tempo de jejum multiplicado pela necessida-
de horária. Finalmente, com esses dados podemos cuidar da 2. o estresse anestésico-cirúrgico produz o aumento da
hidratação do nosso paciente de forma bastante satisfatória. produção de catecolaminas, cortisol, hormônio do cres-
cimento e glucagon que possuem a propriedade de di-
O principal monitor da hidratação conforme aqui descri-
minuir a produção e a eficácia da insulina circulante.
ta é o débito urinário. O volume de líquido infundido estará
adequado sempre que se obtiver um débito urinário de 1 a 2 Dificilmente um paciente desenvolve hipoglicemia no intra
mL/kg/hora e, toda vez que esta meta não for atingida, deve- ou no pós-operatório a menos que seja criança ou diabético em
mos reavaliar as condições clínicas do paciente e/ou recalcu- uso de qualquer agente hipoglicemiante. Nesses casos, a glice-
lar a hidratação. mia deve ser dosada no intraoperatório de hora em hora e, se

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CAPÍTULO 2 17
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

houver necessidade, a glicose deve ser adicionada ao Ringer a formação de hematomas na área de anastomose dos pedí-
ou ao soro fisiológico. Nunca soro glicosado puro. culos, a redução do edema intersticial e a otimização da vis-
cosidade do sangue.
Como desvantagem, cita-se com freqüência o custo finan-
REPOSIÇÃO COM SANGUE E SUBSTITUTOS ceiro. Porém, devemos lembrar que o custo da transfusão de
A reposição com cristalóide pode ser eficaz para manuten- uma unidade de concentrado de hemácia é bastante semelhante
ção do volume circulante, mas não para manter a viscosida- à infusão de um frasco de albumina. E ainda, se considerarmos
de e a capacidade de transporte de oxigênio para os tecidos. que as transfusões de hemácias serão reduzidas, podemos di-
Além disso, é necessário um volume enorme de cristalóides zer que a relação custo/benefício é altamente favorável.
para se compensar a perda sanguínea. Por exemplo, são ne-
cessários quase 5 L de Ringer para compensar a perda de
Dextrans e Gelatinas
1 L de sangue.
Considerando-se que não raramente em microcirurgias As gelatinas parecem não ter ação sobre a hemostasia, o
presenciamos perdas acima de 2.000 mL de sangue, necessi- que as tornariam uma opção vantajosa sobre os outros expan-
taríamos de mais de 10.000 mL de cristalóide para a reposi- sores sintéticos. Entretanto, a depressão imunorreativa na
ção desta perda. Deste volume infundido pelo menos 8.000 concentração de fibronectina no plasma tem causado alguma
mL estarão distribuídos pelo extracelular, ocasionando ede- preocupação, pois há evidências de alterações clínicas rele-
ma intersticial, o que certamente não beneficiará a perfusão vantes com o uso deste expansor. Mais preocupante ainda é
pelo retalho ou pelo segmento reimplantado. a relativa freqüência com que ocorre a liberação de histamina
e de reações anafilactóides.
Embora os cristalóides possam ser usados com seguran-
ça na substituição do plasma perdido na maioria dos traumas Os Dextrans 40 e 70 estão associados com reações alér-
cirúrgicos de pequeno ou médio porte, o risco de hipovelimia gicas, mas menos comumente que as Gelatinas. A ação pro-
pós-operatória e edema generalizado é menor com o uso de longada, acúmulo no sistema reticuloendotelial, reações
colóides. alérgicas (embora relativamente raras) e aumento na tendên-
Para que isso não aconteça, lançamos mão de expansores cia a sangramento durante a cirurgia limitam o uso destes
plasmáticos com mínima ou nenhuma interferência na coagu- expansores na prática clínica e particularmente em cirurgias
lação sanguínea, e de concentrado de hemácias. microvasculares. O hidroxi-etil-amido de baixo peso molecu-
lar apresenta algumas vantagens sobre os Dextrans e as Ge-
Expansores plasmáticos: latinas e deve ser usado preferencialmente a estes sempre que
• albumina em Ringer lactato; estiver disponível.
• dextrans e gelatinas;
• hidroxi-etil-amido (hexastarch 6%, pentastarch); Hidroxi-etil-amido
• concentrado de hemácias em soro fisiológico.
É um expansor plasmático que acreditamos que deve ser
preferido aos antigos Dextrans e/ou Gelatinas, pois, ao con-
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DOS EXPANSORES trário destes, possui mínima ou nenhuma interferência com a
coagulação sanguínea quando usado em doses clinicamente
PLASMÁTICOS recomendáveis. Reações alérgicas são bastante raras e, mes-
mo quando ocorrem, suas conseqüências são de menor gravi-
Albumina
dade comparadas as das Gelatinas e dos Dextrans; parece que
A adição de dois frascos de albumina a 20% (80 mL) o hidroxi-etil-amido é tão efetivo quanto a albumina na ma-
de 420 mL de Ringer lactato cria uma solução conhecida nutenção do volume plasmático.
como “Ringer Albuminado”, cujas propriedades oncóticas É barato, mas tem limitações como: o volume total que
e osmóticas são altamente favoráveis à manutenção do pode ser administrado não deve ultrapassar a 1.000 mL em
volume circulante. adultos; a permanência na circulação por pouco mais de 24
Cada mililitro desta solução equivale a 4 mL de sangue horas e a dependência do rim para sua eliminação.
perdido. Esta propriedade permite que se reduza a quantidade
de sangue transfundido em cirurgias de grande porte.
CONCENTRADO DE HEMÁCIAS
Outras vantagens do uso de albumina como expansor são
a total ausência de contaminação virótica, a ausência de rea- Sua principal ação não é como expansor, já que cada uni-
ções adversas anafilactóide ou anafilática, a não interferência dade possui apenas uma quantidade muito pequena de plas-
com a coagulação sanguínea portanto, a não contribuição com ma. O transporte de oxigênio para os tecidos e a retirada de

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18 CAPÍTULO 2
ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

CO2 dos tecidos dependem da presença de uma concentração Assim, podemos permitir uma perda de 1.220 mL de
adequada de hemoglobina que julgamos ser no mínimo de 9 sangue e ainda teremos um hematócrito de 32%. Porém, es-
g/dL, correspondente a 28% de hematócrito. trategicamente, devemos começar a reposição com concen-
Desvantagens: apesar do tremendo avanço nos cuidados trado de hemácias quando as perdas se aproximarem de
com a coleta e da realização de exames minuciosos visando 15% da volemia (cerca de 680 mL), pois sabemos que esta
a eliminar a possibilidade de transmissão de doenças infec- perda continuará no pós-operatório. Não raramente encon-
ciosas, a “janela imunológica” de algumas doenças virais pre- tramos 500 mL ou mais de sangue nos reservatórios dos dre-
cisa ser levada em consideração. Além disto, a transfusão de nos de sucção a vácuo e a hipovolemia no pós-operatório
sangue pode ser considerada como um transplante tissular contribui fortemente para o aparecimento de tromboses ve-
que pode, embora raramente, provocar reações adversas de nosas e arteriais.
origem imunológica. O objetivo da infusão de líquidos em cirurgias microvas-
Vantagens: apesar das desvantagens, na maior parte das culares é de manter o volume circulante de forma a se obter
vezes, a transfusão de hemácias é imprescindível em micro- uma otimização do fluxo sanguíneo e o transporte de oxigê-
cirurgia. Em nossa experiência, grande parte dos insucessos nio para todos os tecidos, particularmente para os retalhos li-
em cirurgias com microanastomose vascular (65%) está rela- vres e os segmentos reimplantados.
cionada com hematócrito abaixo de 28%. Logo, apesar das A escolha dos fluidos a ser administrado é muito impor-
desvantagens, quando a perda de sangue ultrapassa a 20% da tante uma vez que os retalhos e segmentos amputados apre-
volemia estimada, deve-se iniciar a infusão de concentrado de sentam alto risco de desenvolverem edema devido à falta de
hemácias repondo-se cada mililitro de sangue perdido com 1 drenagem linfática e de absorver o edema intersticial decor-
mililitro de concentrado de hemácias. rente da reposição excessiva com cristalóides.
Finalmente, queremos enfatizar que, ao término das anas-
tomoses microvasculares, a pressão arterial e a temperatura
RESUMO DA ESTRATÉGIA PARA REPOSIÇÃO VOLÊMICA
central devem estar o mais perto possível do normal, para
1. Calcular a necessidade hídrica conforme descrito aci- garantir adequada pressão de perfusão.
ma e proceder à infusão mantendo registro apurado da
quantidade de líquido infundido.
HIPOTERMIA
2. Monitorar o débito urinário e adequar o volume infun-
dido ou a velocidade de infusão de modo a se obter no EFEITOS ADVERSOS DA HIPOTERMIA
mínimo 1 mL/kg/hora de urina.
3. Calcular o volume de sangue circulante multipli- A hipotermia é uma iatrogenia das mais nocivas para
cando-se o peso por 70 ou 80 conforme explicado qualquer paciente em qualquer especialidade cirúrgica, po-
anteriormente; rém, em cirurgias microvasculares, pode significar a diferen-
ça entre o sucesso ou o fracasso na viabilidade do retalho ou
4. Calcular a quantidade de sangue que o paciente pode do reimplante.
perder e ainda assim manter um hematócrito mínimo
que garanta uma boa perfusão tissular, bom transpor- A redução do fluxo sanguíneo para o retalho é provavel-
te de O2, e viscosidade baixa. mente o resultado de diversos fatores:

Para se calcular o volume de perda de sangue que pode- • vasoconstrição;


mos permitir para se obter um determinado hematócrito, de- • aumento do hematócrito;
vemos usar a fórmula abaixo: • aumento da agregação das hemácias;
• aumento da diurese;
Onde: • aumento da viscosidade plasmática e do sangue total.
Hi - Hf VSP = Volume de Sangue Perdido
VSP = VolEst* VolEst = Volume de sangue O efeito vasoconstritor do frio ocorre mesmo em tecidos
DHt
circulante estimado denervados. Além disso, o sangue frio que irriga a pele e o
Hi = Hematócrito inicial
centro vasomotor aumentam o tônus vasomotor devido ao
Hf = Hematócrito final
∆Ht = Média dos hematócritos estímulo autonômico protetor desencadeado.
Volume de sangue circulante estimado = 65 * 70 = 4.550 mL A hipotermia durante anestesia e cirurgia é caracterizada
Hematócrito inicial = 42% por uma queda rápida da temperatura central (37o C). Esta
Hematócrito final (aquele mínimo que permitiremos) = 32% queda é de 0,8 a 1o C na primeira hora de anestesia seguida
Logo: 42 -32
VSP = 4550 * VSP
por uma diminuição linear contínua da temperatura até atin-
37 gir aproximadamente 34o C quando, então, temos uma fase de

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CAPÍTULO 2 19
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

estabilidade térmica indicando que a produção iguala-se à per- • aumento da viscosidade sanguínea (3% para cada grau
da de calor. Celsius);
É significativamente importante sabermos que a pequena • aumento do hematócrito (2% a 3% para cada grau Cel-
variação na temperatura central (que deve sempre estar a 37o sius) por conta principalmente da diminuição do volu-
C) de apenas 0,2o é suficiente para desencadear reações au- me circulante;
tonômicas reflexas que basicamente são vasoconstrição ou • seqüestro de leucócitos.
vasodilatação periférica.
Ocorre também uma redução importante na atividade dos
Diversos estudos têm indicado que os efeitos adver- fatores de coagulação na cascata de coagulação já que as en-
sos imediatos e tardios da hipotermia moderada sobre a zimas envolvidas na cascata são temperatura-dependentes.
função de vários órgãos são conseqüência da excessiva
estimulação simpática, da alteração da atividade plaque-
tária, da alteração do sistema imunológico com dificulda- SHIVERING
de de cicatrização e facilitação de infecções locais e
sistêmicas, e pelo aumento do catabolismo protéico no Este é um termo da língua inglesa de difícil tradução, em
pós-operatório. nossa opinião, pois shivering não é simplesmente tremor,
mas, sim, uma síndrome desencadeada pelo Sistema Nervo-
so Autônomo, que dispara uma série de processos visando a
SISTEMA CARDIOVASCULAR restabelecer a temperatura central de 37o C.
A resposta adrenérgica à hipotermia é significante. Níveis Embora seja um mecanismo de defesa, a relação custo/
elevados de norepinefrina podem ser detectados no pós-ope- benefício é negativa e o shivering deve e pode ser evitado. E
ratório de pacientes moderadamente hipotérmicos. todos os pacientes, principalmente em cirurgia microvascu-
lar, devem receber tratamento agressivo para solução do pro-
O sistema cardiovascular responde com um aumento da blema, pois há razões de sobra para acharmos que esta
resistência vascular sistêmica (RVS), aumento do pós-carga, síndrome pode contribuir de modo bastante eficaz para o
aumento da viscosidade sanguínea e diminuição do débito aparecimento de tromboses arterial e venosa.
cardíaco. Em resumo: todos os ingredientes necessários para
o insucesso da cirurgia microvascular. Se o shivering é um mecanismo de defesa, por que com-
batê-lo?
O sistema cardiovascular é afetado mesmo por uma pe-
quena queda na temperatura central. Em pacientes de alto ris- Porque:
co, uma temperatura central menor que 35o C está associada • aumenta a freqüência cardíaca;
com uma incidência duas a três vezes maior no aparecimento • aumenta a pressão arterial média;
isquemia miocárdica e de taquicardia ventricular no pós-ope-
ratório tardio. • aumenta o consumo de O2 pelo miocárdio e demais te-
cidos;
• aumenta a RVS e o pós-carga;
COAGULAÇÃO
• aumenta a produção de ácido láctico;
A coagulação é significativamente afetada pela hipoter- • aumenta a produção de CO2.
mia contribuindo para um aumento no sangramento e conse-
Em resumo, aumenta o trabalho cardíaco, a taxa meta-
qüente aumento na necessidade de hemotransfusão. Há fortes
bólica, a necessidade global de oxigênio. Diminui o fluxo
evidências de que a alteração na coagulação é a principal res-
sanguíneo para os tecidos periféricos devido à intensa vaso-
ponsável pelo sangramento “em lençol”, que, de maneira qua-
constrição e provoca acidose metabólica e respiratória. Enfim,
se oculta, é responsável por grande parte das transfusões intra
o shivering pode ser um desastre para o retalho.
e pós-operatórias.
O melhor tratamento é a profilaxia, conforme explicado
Eis alguns dos distúrbios hematológicos ocasionados pela
mais adiante. Porém, se o shivering ocorrer, o paciente deve
hipotermia:
ser aquecido ativamente e pequenas doses de meperidina,
• trombocitopenia por seqüestro visceral; cerca de 20 mg a cada injeção, podem ser usadas no combate
• disfunção plaquetária; aos efeitos adversos.
• diminuição do fator V; Há muito mais a ser dito sobre os efeitos adversos da hi-
potermia, mas acreditamos que, para os propósitos deste ca-
• redução dos níveis de tromboxane a2; pítulo, o que já foi exposto é suficiente para que toda equipe
• aumento da fibrinólise; esteja envolvida na prevenção e no tratamento da hipotermia.

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20 CAPÍTULO 2
ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA • fontes radiantes de calor por lâmpadas de infraverme-


HIPOTERMIA lho;
• manta térmica.
A hipotermia intra-operatória ocorre independente do tipo
Os colchões térmicos com água quente circulante são ine-
de anestesia. Tanto na anestesia geral como nas regionais, a
hipotermia precisa ser evitada e tratada após a sua instalação. ficazes em pacientes com mais de 10 kg de peso. Se não hou-
ver outro recurso, então o colchão térmico deve ser colocado
Algumas medidas devem ser tomadas baseadas no conhe- sobre o paciente e não por baixo dele.
cimento da etiologia da hipotermia intra-operatória e todas
dependem, para sua implementação, da colaboração da equi- As lâmpadas de infravermelho, ou qualquer outro fonte de
pe de cirurgiões. Isso porque algumas destas medidas podem calor radiante, podem aquecer somente uma pequena área
de superfície corporal tornando o método pouco eficaz.
causar desconforto, como, por exemplo, manter a sala de ope-
rações com temperatura em torno de 22o C, a menos que se A manta térmica ou sistema convectivo de ar aquecido-
disponha de algum sistema de aquecimento ativo. forçado é o mais eficaz dos métodos disponíveis para preven-
ção da hipotermia em todas as faixas etárias. Apesar da baixa
É imprescindível o uso de termômetro monitorando a
capacidade calorífica do ar (1 J/g/oC) e da baixa densidade
temperatura central. O sensor do termômetro deve ser colo-
cado o mais perto possível do compartimento central. Os sí- do ar (1,2 g/L), os dispositivos de ar-forçado aquecido trans-
tios mais comumente usados são o esôfago, justo ao coração ferem uma grande quantidade de calor para o paciente por
causa do alto fluxo de ar quente gerado.
e a membrana timpânica.
Estes dispositivos podem reverter a hipotermia intra-ope-
ratória que ocorre com a indução da anestesia e prevenir ou-
ESTRATÉGIAS SUGERIDAS tras perdas cutâneas de calor posteriormente.
1. Sabemos que a queda inicial da temperatura central
com a indução da anestesia é devida à redistribuição POSICIONAMENTO DO PACIENTE E
interna do calor corporal (sangue quente do compar- PREVENÇÃO DA NECROSE POR PRESSÃO
timento central afluindo para o compartimento perifé-
rico frio). Logo, o aquecimento da pele já durante o O posicionamento do paciente na mesa de cirurgia deve
período de pré-indução previne ou minimiza o rápido ser objeto de cuidadosa atenção, particularmente nos proce-
declínio da temperatura central que surge com a indu- dimentos de longa duração.
ção da anestesia geral ou regional.
As duas complicações mais comuns relacionadas ao po-
2. Infundir líquidos aquecidos. A transfusão de uma úni- sicionamento do paciente são:
ca unidade de concentrado de hemácias a 4o C ou de
• necrose por pressão;
um litro de cristalóides a 20o C (temperatura comu-
mente encontrada nos centros cirúrgicos) é capaz de • neuropatia periférica.
reduzir a temperatura central em cerca de 0,25o C. O As neuropatias mais freqüentes que podem ocorrem por
aquecimento dos fluidos é crítico em situações de causa do posicionamento incorreto são:
transfusões maciças.
• nervo ulnar, compressão na região do epicôndilo;
3. Cobrir toda a área que não precise ficar exposta (pre-
venção passiva). Cobertores de algodão, sacos plásti- • plexo braquial, estiramento por abdução excessiva do
cos e lençóis de papel podem reduzir a perda de calor braço;
em até 30%. O tipo de material usado na cobertura das • nervo obturador, excessiva flexão do quadril;
áreas expostas não é tão importante quanto cobrir a
• nervo safeno, compressão contra suporte metálico das
maior área possível.
pernas;
4. Aquecimento cutâneo ativo previne a perda de calor
• nervo femoral, angulação excessiva das coxas;
intraoperatória, produz um balanço positivo do fluxo
térmico e aquece ativamente o paciente. A disponibi- • nervo fibular comum, compressão lateral do joelho.
lidade de sistemas de aquecimento ativo, como, por Observação constante do paciente, planejamento cui-
exemplo, a manta térmica de ar aquecido-forçado, per- dadoso no posicionamento e acolchoamento adequado
mite que os cirurgiões possam trabalhar em salas com das partes proeminentes são essenciais para a profilaxia
temperaturas mais confortáveis. destas iatrogenias.
Os principais sistemas de aquecimento ativo são: O colchão que cobre a mesa de cirurgia deve ser suficien-
• colchão térmico com água aquecida; temente macio. Um suporte macio de espuma sintética, tra-

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CAPÍTULO 2 21
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

vesseiro ou rodilha, deve ser usado para prover conforto e necessidade de otimização da circulação do retalho livre e do
estabilidade à cabeça e ao pescoço. Alopecia tem sido descri- segmento reimplantado durante e após a cirurgia.
ta como conseqüência do repouso da cabeça em superfícies A escolha da técnica anestésica e das drogas que serão
rígidas por longo tempo. usadas deve levar em conta a duração prevista da cirurgia, as
Lesões nervosas periféricas podem ocorrer mesmo em condições clínicas do paciente, a natureza do retalho, o local
posição supina. O nervo mais comumente lesado é o ulnar do implante e o tipo de defeito a ser reconstruído, como tam-
seguido do plexo braquial. Acolchoamento dos cotovelos bém a preferência pessoal do anestesiologista.
com espuma de borracha sintética podem proteger o nervo
A anestesia regional é raramente usada em transferências
ulnar na sua posição mais superficial, látero-medial ao epi-
de retalhos, exceto quando tanto a área doadora quanto a re-
côndilo. Os braços não devem ser abduzidos mais do que 90o
para evitar lesões por estiramento do plexo braquial. ceptora se encontram nas extremidades inferiores. Os blo-
queios de membros superiores são usados por alguns centros,
No decúbito lateral, roletes macios devem ser colocados mas não há, até o presente, nenhuma pesquisa clínica contro-
por baixo da axila dependente para prevenir compressão vas- lada que indique que o bloqueio regional apresente alguma
cular. A coluna cervical deve ser mantida em posição neutra vantagem sobre a anestesia geral em termos de otimizar o
por meio de um apoio adequado na cabeça. A proeminência fluxo sanguíneo para o retalho ou de segurança para o paci-
malar dependente deve ser devidamente acolchoada para evi- ente. Além de não ser superior à anestesia geral, de não au-
tar lesões por pressão. mentar a segurança e de não contribuir para a normotermia,
Abdução prolongada dos braços pode resultar em lesões apresenta a desvantagem do desconforto para o paciente que
do plexo braquial por estiramento; portanto, é muito impor- deverá permanecer imóvel por, às vezes, várias horas. Por
tante que toda a equipe esteja ciente sobre a possibilidade isso, em nosso Serviço, na Clínica SOS-Mão no Rio de Ja-
desta lesão e, tão logo seja possível, os braços devem ter a neiro, a anestesia geral é padronizada.
abdução reduzida. É útil e desejável a modificação da posi-
Ainda há muito a ser definido com respeito à anestesia
ção dos braços em freqüentes intervalos. Um travesseiro
para cirurgia microvascular. As discussões sobre anestesia geral
deve ser colocado entre os joelhos para aliviar a pressão nas
versus anestesia regional, monitorização invasiva versus não-
áreas de contato.
invasiva, o uso ou não de drogas vasoativas outras que não os
A vigilância constante do anestesiologista, a verificação anestésicos gerais continuam sendo debatidas.
freqüente da cabeça, ombros e braços permitirá a correção de
qualquer desvio de posicionamento do paciente antes que Este trabalho teve uma abordagem pessoal da equipe de
uma lesão por pressão possa ocorrer. anestesiologista da Clínica SOS-Mão, desenvolvido em mais
de 22 anos de experiência com este tipo de cirurgia.
Os conceitos que foram descritos nos conduziram para
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS uma técnica anestésica satisfatória tanto para nós, anestesio-
logistas, quanto para os cirurgiões com quem trabalhamos,
Atenção especial aos pacientes que foram submetidos à
satisfação decorrente dos bons resultados que são obtidos no
cirurgia microvascular deve ser dada no pós-operatório já que
nosso centro de microcirurgia reconstrutiva e cirurgia da
a circulação através no retalho livre e/ou no segmento reim-
plantado é reconhecidamente vulnerável nas primeiras 48 mão. E, até que evidências por um método superior sejam
horas. Após este período, problemas no fluxo sanguíneo di- apresentadas, continuaremos usando a abordagem descrita
minuem acentuadamente. neste trabalho e apresentada aqui na esperança de que seja de
alguma utilidade no planejamento estratégico da anestesia
Cuidados com a manutenção da volemia, da temperatura neste pacientes.
e o controle da dor devem ser equivalentes ao padrão adota-
do durante a cirurgia.
Alguns retalhos, particularmente os compostos que con- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
tenham osso e músculo, continuarão sangrando no pós-ope- 1. Baron JF, De Kegel D, Prost AC et al. Low molecular weight hydroxe-
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tolerability of 2 plasma substitutes used as vascular loading solutions
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A administração de anestesias para cirurgias microvascu- 4. Bombail-Girard D et al. Comparative study of the efficacy and tolera-
lar envolve não somente as dificuldades decorrentes da lon- bility of 2 plasma substitutes used as vascular loading solutions during
ga duração de alguns procedimentos como, também a plasma exchange. Ann Med Intern 1990; 141:611.

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22 CAPÍTULO 2
ANESTESIA EM MICROCIRURGIA

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CAPÍTULO 2 23
MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA

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24 CAPÍTULO 2

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