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Pedro Lucas Cariri Moura – 3º Período

FMIT – Faculdade de Medicina de Itajubá, 2020/2


Semana 2 – 22/08/2020
Sistemas Orgânicos Integrados III – SOI III, APG.
Problema 1 – 22/08/2020 (A) 24/08/2020 (F)

Problema 3 - Mudança Necessária


Estudar as causas da hipertrofia cardíaca e suas consequências
Citas as doenças associadas a hipertensão (síndrome metabólica)

REVISÃO DO CICLO CARDÍACO

Imagem 1. Fluxograma da Fisiologia Cardíaca. Fonte: Sanarflix [Acessado 23/08/2020, às 10:54.


https://bityli.com/nNKbP]

20 milhões de pessoas afetadas


CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA
A CMH é caracteriza por hipertrofia do miocárdio, Doença autossômica dominante – uma hipertrofia
enchimento diastólico insuficiente e – em um terço concêntrica, ela tem uma dilatação da espessura,
dos casos – obstrução do fluxo de saída ventricular. causada pela mutação em genes dos sarcômeros.

O coração fica pesado e hipercontrátil, suas pare- Hipertrofia miocárdica na ausência de causas car-
des estão espessadas. Na MCH, a função sistólica díacas, metabólicas, sistêmicas ou sindrômicas, des-
geralmente está preservada, mas o miocárdio não cantando-se estenose aórtica e a hipertensão.
relaxa e, portanto, apresenta disfunção diastólica
primária. Critérios diagnósticos
Doença cardiovascular monogênica mais comum. Espessura > 15 mm
Espessura > 13 mm
122 países
1 caso a cada 200-500 pessoas
Quando relacionados com familiares com história Quando há sobrecarga de pressão, a força con-
familiar de cardiomiopatia hipertrófica. trátil precisa aumentar, ela pode ter diversas fontes,
como por exemplo:
Fisiopatologia Hipertensão arterial;
Estreitamento de uma valva.
Os mecanismos que influenciam a hipertrofia cardí-
aca envolvem, pelo menos, dois tipos de sinais: Além disso, há aumento na tensão na parece. Os
miocardiócitos da parede cardíaca são submeti-
Desencadeantes mecânicos – como o estira-
dos a maior trabalho e se hipertrofiam na tentativa
mento;
de manter o fluxo e, conforme a lei de Laplace (T =
Desencadeantes tróficos – que tipicamente são
PR/2t, em que T = tensão, P = pressão na cavidade,
mediadores solúveis que estimulam o cresci-
R = raio da cavidade e t = espessura da parede),
mento celular, como fatores de crescimento e
diminuir a tensão.
hormônios adrenérgicos.
Enquanto isso, o volume da cavidade fica mantido
Esses estímulos acionam as vias de transdução de
ou, às vezes, discretamente diminuído. Ou seja, não
sinais que levam à indução de vários genes, os
é o comprimento da célula que aumenta, mas sua
quais, em torno, estimulam a síntese de numerosas
espessura, refletindo um aumento nos sarcômeros “em
proteínas celulares, incluindo fatores de crescimento
paralelo”, conhecida como hipertrofia concêntrica.
e proteínas estruturais.
Caso o miocárdio não tenha força para manter o
O resultado é a síntese de mais proteínas e miofila-
fluxo, há o acúmulo de sangue na cavidade, ge-
mentos por célula, o que aumenta a força gerada
rando uma dilatação.
com cada contração, permitindo que a célula al-
cance melhor desempenho. Essa é uma situação em que há sobrecarga de vo-
lume, que acontece também em outras doenças com
Independente dos mecanismos da hipertrofia, ela fi-
mau funcionamento do miocárdio:
nalmente alcança um limite depois do qual o au-
mento da massa muscular não pode mais compen- Bombeamento não efetivo (p. ex., miocardite);
sar a sobrecarga. Insuficiência valvar.

Quando isso acontece, ocorrem várias alterações Nessa situação, as células se hipertrofiam, tentando
“degenerativas” nas fibras miocárdicas, das quais as manter o fluxo e diminuir o estresse na parede, mas
mais importantes são a fragmentação e a perda a espessura é normal ou mesmo diminuída, assim
dos elementos contráteis das miofibrilas. como a dos cardiomiócitos, que sofrem aumento do
seu comprimento, com predomínio de adição de
Existem limites finitos da vascularização para suprir
sarcômeros dita “em série”.
adequadamente as fibras aumentadas, das mito-
côndrias para suprir o trifosfato de adenosina (ATP) Essa ocorrência, não muito apropriadamente, é de-
ou da maquinaria biossintética para produzir as nominada hipertrofia excêntrica, pois, neste caso,
proteínas contráteis ou outros elementos do citoes- apesar de ocorrer hipertrofia dos cardiomiócitos, a
queleto. cavidade ventricular é dilatada e suas pessoas dis-
tanciam-se igualmente de seu centro geométrico.
O resultado dessas alterações é a dilatação ven-
tricular e, finalmente, a falência cardíaca, uma se- Há casos em que a dilatação e a hipertrofia não
quência de eventos que ilustram como uma adap- se distribuem igualmente por todo o ventrículo – em
tação ao estresse pode progredir para lesão celu- geral, quando há perda de cardiomiócitos de uma
lar funcionalmente significativa, caso o estresse não região da parede.
seja atenuado.
Hipertrofia corresponde a uma alteração no meta-
A hipertrofia cardíaca é uma resposta a situações bolismo celular. Para que tal mudança ocorra,
locais ou sistêmicas que requerem alteração na ainda que fatores neuro-hormonais interfiram, o pa-
força contrátil. pel principal é do estímulo mecânico, que é de al-
gum modo convertido em sinais bioquímicos.
O acréscimo de sarcômeros por célula continua
sendo considerado o principal mecanismo de au- Nas células, ocorre a reprogramação, levando à
mento da massa cardíaca, tanto no crescimento expressão coordenada de genes envolvidos na sín-
normal quanto em situações patológicas. tese de mais componentes do sistema contrátil.
Em qualquer tipo de hipertrofia, a vascularização A hipertrofia cardíaca compensatória patológica
do órgão também aumenta, mantendo-se em geral, está correlacionada com a mortalidade maior; de
a proporção numérica capilar/fibra miocárdica. fato, a hipertrofia cardíaca é um fator de risco in-
dependente para morte súbita cardíaca.
Ainda que isso ocorra, como o volume dos miocar-
diócitos está aumentando, pode haver carência re- Por outro lado, a hipertrofia por sobrecarga de vo-
lativa do aporto de sangue (isquemia relativa). lume induzida pelo exercício físico aeróbico regular
(hipertrofia fisiológica) normalmente é acompa-
Essas ocorrência pode causar morte de pequenos nhada de aumento na densidade capilar, com re-
grupos de células e, posteriormente, surgir inúmeros dução da frequência cardíaca e da pressão arte-
focos de fibrose intersticial. rial em repouso.

Imagem 2. Representação esquemática dos padrões de hipertrofia miocárdica do ventrículo esquerdo. Na


hipertensão arterial, a hipertrofia é uniforme na parede ventricular e no septo interventricular. Fonte: BRASILEIRO
FILHO, G. Bogliolo - Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016

ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NOS IDOSOS diferentes, a MCH é basicamente um distúrbio das


proteínas do sarcômero.
1) Diminuição do número das células miocárdicas,
por necrose, apoptose e, possivelmente, também Dessas mutações, a que afeta o gene da cadeia
por redução na eventual reposição por células pesada da B-miosina é a mais comum, seguida pela
de reserva; mutação do gene da proteínas C, que se liga à
2) Acúmulo de lipofuscina, devido ao dano oxida- miosina do gene da troponina T – 70-80% dos ca-
tivo acumulado no passar dos anos, em geral sos.
com hipotrofia celular;
3) Perda de células do sistema de condução, fa- O ponto comum nessas mutações é que todas elas
cilitando a ocorrência de arritmias; afetam proteínas do sarcômero e aumenta a ativa-
4) Aumento de colágeno, por deposição contínua; ção dos miofilamentos. Como resultado, ocorre hi-
5) Aumento de gordura no miocárdio e no epicár- percontratilidade dos miócitos, com aumento con-
dio; comitante do uso de energia e equilíbrio energético
6) Calcificação nas valvas (dos folhetos na aór- líquido negativo.
tica e do anel na mitral) ou acúmulo de material
mucoide (proteoglicanos) são frequentes; MORFOLOGIA
7) Aumento da circunferência do órgão, especial- É caracterizada pela hipertrofia maciça do mi-
mente das valvas arteriais. ocárdio sem dilatação ventricular. Classica-
mente, há um espessamento desproporcional do
PATOGENIA
septo ventricular em relação à parede do ven-
A maior parte dos casos de MCH é causado por trículo esquerdo – hipertrofia septal assimétrica,
mutações de sentido trocado (missense) em um dos em 10% dos casos há hipertrofia concêntrica.
vários genes que codificam as proteínas do apare-
lho contrátil. Em corte longitudinal, observa-se que a cavidade
ventricular perdeu sua forma arredondada a
Embora tenham sido identificadas mais de 400 mu- ovoide habitual e está comprimida, com forma se-
tações causadoras da doença em nove genes melhante a uma banana.
A presença de uma placa no endocárdio da via induzido pelo álcool também podem aliviar a obs-
de saída do ventrículo esquerdo e de um espessa- trução da via de saída.
mento na válvula anterior da valva atrioventricular
esquerda reflete o contato dessa válvula com o A MCH é a causa mais importante da morte súbita
septo durante a sístole ventricular; essas alterações cardíaca. Em quase um terço dos casos de morte
se correlacionam com a obstrução funcional da via súbita cardíaca de atletas com menos de 35 anos,
de saída do ventrículo esquerdo. a causa subjacente é a MCH.

As características histológicas distintas da MCH são SÍNDROME METABÓLICA


a hipertrofia acentuada dos miócitos, o desarranjo
aleatório dos miócitos (e das miofibras) e a fibrose É definida pela existência de pelo menos duas das
intersticial. seguintes condições:

Obesidade;
Características Clínicas Resistência à insulina;
Dislipidemia – LDL elevada e HDL reduzida;
Embora a MCH possa surgir em qualquer idade, ela Hipertensão;
normalmente se manifesta durante o estirão de cres- Hipercoagulabilidade;
cimento pós-puberal. Estado Inflamatório – que pode ser desencade-
ado por liberação de citocinas dos adipócitos.
Os sintomas clínicos podem ser mais bem compreen-
didos no contexto das anomalias funcionais: A dislipidemia, a hiperglicemia e a hipertensão são
fatores de risco para doenças cardíacas, por outro
Caracterizado pela hipertrofia maciça do ven-
lado, a hipercoagulabilidade sistêmica e o estado
trículo esquerdo que paradoxalmente fornece
pró-inflamatório podem contribuir para a disfunção
volume sistólico acentuadamente reduzido.
endotelial e/ou trombose.
Essa condição ocorre como consequência do en-
Em pacientes com síndrome metabólica, a presença
chimento diastólico deficiente e da redução global
de diabetes tipo 2 e obesidade é o melhor fator
do tamanho da câmara.
preditivo de fibrose grave e progressão da do-
25% dos pacientes apresentam obstrução dinâmica ença.
ao fluxo de saída do ventrículo esquerdo provo-
A resistência à insulina resulta do acúmulo de trigli-
cada pela válvula anterior da valva atrioventricular
cerídeos nos hepatócitos por pelo menos um dos
esquerda.
três mecanismos:
O débito cardíaco reduzido e o aumento secun-
Oxidação de ácidos graxos prejudicada;
dário da pressão venosa pulmonar provocam dis-
Aumento da síntese e da captura de ácidos
pneia aos esforços e sopro sistólico de ejeção ás-
graxos;
pero.
Diminuição da secreção hepática da lipoprote-
A combinação de hipertrofia maciça com aumento ína do colesterol de muita baixa densidade.
das pressões no ventrículo esquerdo e artérias in-
Essa expressão é aplicada a uma constelação de
tramurais comprometidas leva com frequência à is-
achados dominados pela obesidade visceral, que
quemia do miocárdio (com angina), mesma na au-
são acompanhados por resistência insulínica, into-
sência de doença arterial coronariana concomi-
lerância à glicose e fatores de risco cardiovascula-
tante.
res como, por exemplo, hipertensão e perfis lipídicos
PRINCIPAIS PROBLEMAS CLÍNICOS anormais.

Fibrilações atriais e ventriculares;


Formação de trombos murais; CARDIOPATIA HIPERTENSIVA SISTÊ-
Endocardite infecciosa da valva atrioventricu- MICA (ESQUERDA)
lar esquerda;
O Framingham Heart Study estabeleceu de maneira
ICC;
inequívoca que até mesmo a hipertensão leve
Morte súbita.
(acima de 140/90 mmHG), se prolongada por
A maioria dos pacientes melhora com um tratamento tempo suficiente, leva à hipertrofia do ventrículo es-
que estimula o relaxamento do ventrículo; a excisão querdo.
parcial cirúrgica ou o infarto do músculo septal
Diagnóstico anomalias estruturais dos sarcômeros recém-agru-
pados e porque o suprimento vascular é inade-
Os critérios para diagnóstico da cardiopatia hiper- quado para satisfazer as demandas da massa mus-
tensiva sistêmica são: cular aumentada.

Hipertrofia do ventrículo esquerdo na ausência Dependendo da gravidade e da duração da con-


de outra patologia cardiovascular (p. ex., este- dição, da causa subjacente da hipertensão e da
nose valvar); adequação do controle terapêutico, os pacientes
História ou evidências patológicas de hiperten- podem:
são.
Ter vida longa e morrer de causas não relacio-
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS nadas;
Desenvolver cardiopatia isquêmica progressiva
A cardiopatia hipertensiva compensada normal- em decorrência dos efeitos potencializadores
mente é assintomática; suspeita-se de sua presença
da hipertensão sobre a aterosclerose coronari-
apenas quando a pressão arterial está elevada ana;
nos exames físicos de rotina ou quando o ECG re- Sofrer lesão renal progressiva ou acidente vas-
velam hipertrofia do ventrículo esquerdo. cular encefálico;
Desenvolver insuficiência cardíaca progressiva.
Em alguns pacientes, ela é diagnosticada quando
surge fibrilação atrial – decorrente do aumento do O risco de morte súbita cardíaca também está au-
átrio esquerdo e/ou ICC. mentando. O controle eficaz da hipertensão pode
impedir o desenvolvimento ou levar à regressão da
Os mecanismos que levam à insuficiência cardíaca
hipertrofia cardíaca e dos riscos que a acompa-
ainda não são totalmente compreendidos; prova-
nham
velmente os miócitos hipertróficos não se contraem
de modo eficiente, possivelmente por causa das .

Figura 3. Cardiopatia hipertensiva. A. Cardiopatia hipertensiva sistêmica (esquerda). A parede do ventrículo


esquerdo exibe um espessamento concêntrico acentuado que reduz o lúmen dessa câmara. O átrio e o ven-
trículo esquerdos estão à direita nessa vista das quatro câmaras do coração. Há um marca-passo no ventrículo
direito (seta). Note também a dilatação do átrio esquerdo (asterisco) causada pela rigidez do ventrículo
esquerdo e pelo relaxamento diastólico deficiente, que provocam sobrecarga de volume no átrio. B. Cor pul-
monale crônico. O ventrículo direito (mostrado à esquerda nessa foto) está bastante dilatado e hipertrofiado,
com a parede livre espessada e as trabéculas hipertrofiadas. A forma e o volume do ventrículo esquerdo estão
distorcidos por causa do aumento de tamanho do ventrículo direito. Fonte: KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.;
MITCHELL, R. N. Robbins. Patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2013.
HÁBITOS DE VIDA
Na ausência de perda ponderal e de modificações
no estilo de vida, as pessoas com síndrome meta-
bólica estão em risco significativo de desenvolvi-
mento de diabetes do tipo 2 manifesto, sublinhado
a importância da obesidade para a patogenia
dessa enfermidade.

OBESIDADE
A obesidade central está associada à resistência à
insulina e hiperinsulinemia, que são características
importantes do diabetes tipo 2 (anteriormente co-
nhecido como diabetes não insulino-dependente).

Especula-se que o excesso de insulina, por sua vez,


pode desempenhar um papel na:

Retenção de sódio;
Expansão do volume de sangue;
Produção excessiva de noradrenalina;
Proliferação de células do músculo liso.

REFERÊNCIAS
1. BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo - Patologia. 9. ed.
Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016.

2. KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; MITCHELL, R.


N. Robbins. Patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.

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