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CHOQUES •Oligúria

• Exame da pele (temperatura, turgor, enchimento


O choque é definido como um estado de hipóxia capilar)
celular e tecidual devido à redução do fornecimento • Frequência cardíaca:
de oxigênio, ao aumento do consumo de oxigênio, à • Taquicardia é mais comumente
utilização inadequada de oxigênio ou a uma encontrada, geralmente em estados de hipovolemia
combinação desses processos. Isso ocorre mais => tentativa de aumentar o DC e a DO2
comumente quando há insuficiência circulatória • Bradicardia: transtorno fisiológico severo e
manifestada como hipotensão (ou seja, redução da um risco de colapso cardiovascular iminente
perfusão tecidual); entretanto, é fundamental • Frequência cardíaca:
reconhecer que um paciente em choque pode • Diminuição da FC a um desafio hídrico sugere
apresentar-se hipertenso, normotenso ou hipotenso. hipovolemia
O choque é inicialmente reversível, mas deve ser • Lembrar das condições que limitam o aumento da
reconhecido e tratado imediatamente para evitar a FC no choque: betabloqueadores, dano medular
progressão para disfunção orgânica irreversível. alto e marcapasso
“Choque indiferenciado” refere-se à situação em
que o choque é reconhecido, mas a causa não é • Temperatura:
clara • Hipotermia sugere um transtorno
Durante o choque, as cadeias inflamatória e de fisiológico severo e está associado a arritmias, lesão
coagulação podem ser ativadas em áreas de renal e coagulopatias
hipoperfusão. Células hipóxicas do endotélio • Reaquecimento leva a um aumento da
vascular ativam leucócitos, que se ligam ao VO2 que pode se sobrepor a uma DO2 inadequada
endotélio e liberam substâncias diretamente lesivas
(p. ex., espécies de oxigênio reativas, enzimas
proteolíticas) e mediadores inflamatórios (p. ex.,
citocinas, leucotrienos, fator de necrose tumoral).
Alguns desses mediadores se ligam a receptores da
superfície celular e ativam o fator nuclear kapa B Em adultos com quadro de choque, a pressão
(FNκB), que leva à produção de citocinas arterial sistólica tipicamente é menor que 90 mmHg
adicionais e também de óxido nítrico (NO), um ou a pressão arterial
potente vasodilatador. Choque séptico pode ser média é menor que 70 mmHg, com taquicardia
mais pró-inflamatório do que outras formas de associada.
choque devido às ações de toxinas bacterianas, A combinação de tempo de enchimento capilar > 2
especialmente endotoxina. segundos, livedo e diminuição da temperatura da
pele pode predizer baixo índice
Manifestações clínicas……………………………. cardíaco e, em última análise, choque com
• Estado mental especificidade de 98% e sensibilidade de 12%.
• Circulatório: Outros estudos mostraram que o tempo de
• Coração enchimento capilar > 3 segundos é associado com
• Taquicardia piora da perfusão tecidual (motting) e pior
• Arritmias prognóstico.
• Hipotensão
• Sistêmica
•Alteração do pulso jugular
•Pulsos periféricos assimétricos
• Respiratório
•Taquipnéia
•Cianose
• Renal
Existem três janelas de perfusão tecidual, que perda para o terceiro espaço (pancreatite aguda,
identificam os danos que o choque causou no obstrução intestinal), queimaduras, hipertermia.
organismo (Figura 6):
Pele: pele fria e úmida, cianose, palidez, livedo, Fisiopatologia
tempo de enchimento capilar prolongado, gradiente Na fase compensatória, o organismo tenta manter a
temperatura central-periférica (> pressão arterial e o fluxo sanguíneo para os órgãos
7°C = má perfusão periférica). vitais. Isso ocorre por meio de mecanismos de
Rim: débito urinário < 0,5 mL/kg/h. vasoconstrição, liberação de hormônios e aumento
Sistema nervoso central: estado mental alterado, da frequência cardíaca. Esses mecanismos são
que inclui torpor, desorientação e confusão. importantes para manter a homeostase e garantir
Vale ressaltar a importância da análise de outras que os órgãos vitais recebam a quantidade adequada
disfunções orgânicas não avaliadas pelas três de sangue.
janelas descritas, visto que refletem também
as consequências do choque no organismo. A No entanto, se a perda de volume sanguíneo não for
avaliação por sistemas facilita a identificação das corrigida, o organismo entra na fase
disfunções: descompensatória. Nessa fase, ocorre hipoperfusão
Respiratório: dispneia, uso de musculatura tecidual generalizada. Essa fase leva a uma redução
respiratória acessória, hipoxemia, relação na oferta de oxigênio e nutrientes para os tecidos.
PaO2/FiO2 < 400. Isso pode levar à disfunção de múltiplos órgãos,
Cardiovascular: hipotensão, taquicardia, incluindo os rins, fígado e pulmões.
hiperlactatemia.
Hepática: icterícia, encefalopatia, aumento de Além disso, a acidose metabólica e o aumento da
bilirrubinas. produção de radicais livres podem causar lesões
Hematológica: sangramentos, petéquias, teciduais e disfunção celular. Se a hipoperfusão
alargamento de RNI, plaquetopenia. persistir, o organismo entra na fase irreversível.
Essa fase é caracterizada por lesões teciduais e
disfunção orgânica grave. Quando o corpo está
nessa fase, a recuperação completa pode ser difícil e
muitas vezes há um risco elevado de mortalidade.

Outra complicação comum do choque


Choque Hipovolêmico hipovolêmico é a ativação do sistema de
É o tipo mais frequente de choque e é causado por coagulação, que pode levar à formação de trombos
débito cardíaco inadequado devido à redução do e à disseminação intravascular da coagulação. Essa
volume sanguíneo. complicação pode agravar a hipoperfusão tecidual e
• Maioria das formas de choque tem componente de aumentar o risco de mortalidade.
hipovolemia resultante da diminuição da pré carga
• Resposta simpática reflexa com aumento da FC, Classificação do choque hipovolêmico
da contratilidade e da RVP O choque hipovolêmico é uma condição médica
grave que pode ser classificada de diferentes
Hemorrágico: pode ser relacionado ao trauma, em formas, dependendo da causa subjacente, do grau
que há hipovolemia devido a perda de sangue e de perda de volume sanguíneo e do tempo decorrido
destruição tecidual. Ou não relacionado ao trauma, desde o início do quadro. Aqui estão algumas das
como ocorre no sangramento espontâneo por principais classificações do choque hipovolêmico:
coagulopatia ou iatrogênico, hemoptise maciça e
hemorragia digestiva.
Não hemorrágico: perda de volume pelo trato
gastrointestinal (diarreia, vômitos), rins (excesso de
diurético, estado hiperosmolar hiperglicêmico),
diminuição da resistência vascular e alteração do
tônus vagal.
Choque anafilático: a anafilaxia está associada a
mecanismos imunológicos (IgE mediado –
alimento, inseto, látex – ou não IgE mediado –
omalizumab, infliximab) e não imunológicos
(exercício, frio, radiocontraste), todos levando à
degranulação de mastócitos e/ou
basófilos. Pode acometer diversos sistemas
Choque Cardiogênico (cardiovascular, respiratório, pele, trato
O choque cardiogênico é uma condição médica gastrointestinal e sistema nervoso central), no
grave que ocorre quando o coração não consegue entanto, o choque e a obstrução de via aérea são as
bombear sangue suficiente para atender as principais causas de morte.
necessidades do corpo. Choque por cianeto e por monóxido de carbono:
Principais causas de choque cardiogênico: choque por disfunção mitocondrial. No primeiro
• Causas: IAM, cardiomiopatias, obstrução da saída caso, o paciente possui O2, mas não consegue
do VE, anomalias do enchimento ventricular, utilizá-lo por bloqueio da fosforilação oxidativa
insuficiência valvar aguda, arritmias e defeito pelo cianeto. No segundo caso, além desse
ventricular septal mecanismo, o monóxido de carbono tem muita
•DC diminuído (IC <2.2L/min/m²) e PAOP afinidade pela hemoglobina, dificultando sua
aumentada ligação ao oxigênio.
(>18 mmHg) Choque endócrino: crise addisoniana (insuficiência
•Diagnóstico através de ECG e ecocardiograma adrenal devido à deficiência mineralocorticoide) e
coma mixedematoso podem estar associados à
Choque Distributivo hipotensão e a estados de choque. Em estados de
A má perfusão tecidual é resultado de vasodilatação deficiência mineralocorticoide, a vasodilatação
periférica global que leva a redução acentuada da pode ocorrer devido ao tônus vascular alterado e à
pressão de enchimento capilar, comprometendo o hipovolemia mediada pela deficiência de
fornecimento de oxigênio pelos capilares. aldosterona. Os doentes com tireotoxicose podem
O débito cardíaco encontra-se preservado, já que desenvolver insuficiência cardíaca de alto débito e,
não há problema com o coração nem com o volume com a progressão da doença, esses pacientes podem
circulante. desenvolver disfunção sistólica do ventrículo
Choque distributivo esquerdo ou taquiarritmias, levando à hipotensão.
É caracterizado por vasodilatação periférica grave • Função cardíaca deteriora em estágios mais
com queda da resistência vascular sistêmica. tardios tendo um padrão de choque cardiogênico na
Choque séptico: a sepse é definida como resposta sepse tardia;
desregulada do hospedeiro à infecção, resultando • Hiperdinâmico com DC aumentado e RVP
em disfunção orgânica com risco de morte. Choque diminuída
séptico e sepse com necessidade de terapia • Hipovolemia relativa e DC diminuído
vasopressora e presença de níveis elevados de inicialmente que aumenta após a reposição
lactato (> 2 mmol/L ou > 18 mg/dL), apesar da volêmica
ressuscitação volêmica adequada. É o tipo mais
comum de choque distributivo e tem mortalidade Choque Obstrutivo
estimada em 40 a 50%. É causado principalmente por causas extracardíacas
Choque neurogênico: ocorre geralmente em vítimas que culminam em insuficiência cardíaca. As causas
de traumatismo cranioencefálico grave e lesão da de choque obstrutivo podem ser divididas em duas
medula espinhal, sobretudo se esta for acima de T6, categorias:
levando à interrupção das vias autonômicas, com Vascular pulmonar: a maioria dos casos de choque
obstrutivo é devido a insuficiência ventricular
direita decorrente de tromboembolismo pulmonar Aumento da pressão intratorácica: pneumotórax
hemodinamicamente significativo (TEP) ou hipertensivo, ventilação mecânica com altos valores
hipertensão pulmonar grave (HP). Nesses casos, o de PEEP.
ventrículo direito falha, porque é incapaz de gerar Obstrução extrínseca ou de estruturas adjacentes ao
pressão suficiente para superar a alta resistência coração: síndrome da veia cava superior, tumores
vascular pulmonar. Se o paciente não apresenta mediastinais.
disfunção de VD, o choque não pode ser explicado Estágios do Choque
pelo TEP e outras causas devem ser pesquisadas. • Choque precoce (compensado)
Em pacientes com hipertensão pulmonar • Choque progressivo
preexistente e disfunção do VD, isquemia, (descompensado)
sobrecarga de volume ou hipoxemia devem ser • Choque Irreversível
evitadas, pois esses insultos podem resultar em Fluidorresponsividade
disfunção ventricular direita crônica agudizada, É a capacidade do coração de aumentar seu volume
resultando em colapso cardiovascular. sistólico em resposta a expansão volêmica
Mecânica: apresentação clínica similar ao choque
hipovolêmico, pois o distúrbio fisiológico primário
é uma diminuição da pré-carga, em vez da falha da
bomba (p. ex., redução do retorno venoso ao átrio
direito ou enchimento inadequado do ventrículo
direito). Causas mecânicas de obstrução de choque
incluem: pneumotórax hipertensivo, tamponamento
pericárdico, pericardite constritiva e cardiomiopatia
restritiva.
O mecanismo e a etiologia do choque podem ser
claros a partir da anamnese e do exame físico. Por
exemplo, choque após trauma provavelmente será
TRATAMENTO
hipovolêmico, mas choque cardiogênico, choque
Os suportes hemodinâmico e ventilatório precoce e
obstrutivo ou mesmo choque distributivo também
adequado de pacientes em choque são essenciais
podem ocorrer, sozinhos ou em combinação,
para evitar piora clínica, SDMOS e morte. O
causados por condições como tamponamento
tratamento do choque deve ser iniciado enquanto se
cardíaco ou lesão da medula espinal. Assim,
investiga a etiologia que, uma vez identificada,
ressalta-se que a maioria dos pacientes com choque
deve ser corrigida rapidamente.
frequentemente tem uma combinação de
mecanismos. A seguir, apresentamos um algoritmo
adaptado que auxilia no diagnóstico diferencial do
tipo predominante de choque
Achados sugestivos de choque obstrutivo:
turgência de jugular sem edema pulmonar.
Causas de choque obstrutivo
O choque obstrutivo é uma emergência médica que
ocorre quando o fluxo sanguíneo é bloqueado por
um obstáculo mecânico, impedindo o correto
funcionamento do coração e dos órgãos. As causas
mais comuns de choque obstrutivo incluem:

Tamponamento cardíaco: trauma, uremia, câncer,


doenças autoimunes, tuberculose.
Obstrução do débito de VD: embolia pulmonar,
hipertensão pulmonar aguda.
O atendimento do paciente em choque deve ser concentrado de plaquetas, aférese de plaquetas
realizado em sala de emergência, e, a menos que o (corresponde a seis concentrados de plaquetas de
choque seja rapidamente revertido, um cateter um único doador), plasma fresco congelado
arterial deve ser inserido para monitorar a pressão (contém todos os fatores de coagulação e todas as
arterial invasiva, além de um cateter venoso central proteínas do plasma) e crioprecipitado (contém os
para drogas vasoativas. É importante salientar que, fatores VIII, XIII, fibrinogênio e vWF).
se houver indicação de iniciar drogas Resumindo
vasoconstritoras, estas podem ser iniciadas em um Cristaloides
acesso venoso periférico calibroso, até que se <2L - Clássica;
obtenha um cateter venoso central com segurança. >2L - lactato.
Vale lembrar também que drogas vasoativas sem Acesso venoso periférico
ação vasoconstritora como dobutamina, 2 Arteriais
nitroglicerina e nitroprussiato de sódio não 1 venoso central
necessitam de acesso venoso central.
Para entendermos a abordagem geral do choque, Em seguida, devemos definir qual é o tipo e a
devemos nos lembrar de quais são os principais quantidade de solução que devem ser utilizados em
componentes do DO2 (oferta de O2) e do VO2 cada tipo de choque.
(consumo de O2), como descrito na seção de Choque hemorrágico
fisiopatologia. Para todo tipo de choque, devemos A administração de cristaloides pode levar a
raciocinar no sentido de otimização da relação DO2 coagulopatia por diluição dos fatores de
× VO2. coagulação, além de hipotermia. O ATLS (10ª
Otimização da pré-carga edição) recomenda a administração de 1 L de
Cristaloides: há dois tipos básicos de cristaloides – cristaloide inicialmente, seguida de
a solução salina clássica (soro fisiológico) e as hemocomponentes, caso o paciente mantenha-se
soluções balanceadas (Ringer lactato, PlasmaLyte). hipotenso.
Essa recomendação se baseia no fato de que a Choques hemorrágicos graus III e IV já são
administração agressiva de solução salina clássica indicações de ressuscitação com hemocomponentes
resulta em maior taxa de acidose metabólica no trauma.
hiperclorêmica e piores desfechos renais (injúria Vale lembrar o conceito de “ressuscitação
renal aguda e necessidade de diálise). Por outro hipotensiva” ou “hipotensão permissiva”, em que se
lado, o uso de Ringer lactato está mais associado a almeja uma pressão arterial sistêmica (PAS) >
alcalose metabólica (o lactato é metabolizado em 80-90 mmHg até que haja o controle do foco de
bicarbonato no fígado) e hiponatremia. sangramento. Para isso, evita-se uma ressuscitação
Colóides: Apesar desse benefício teórico, vários volêmica agressiva. No entanto, esse conceito não é
ensaios clínicos randomizados e metanálises aplicado para TCE grave, visto que a hipotensão
falharam em demonstrar superioridade dos coloides pode piorar a perfusão cerebral.
em relação aos cristalóides. Nos pacientes com choque hemorrágico grave,
Albumina: vale ressaltar que a albumina deve ser devemos acionar o protocolo de transfusão
evitada no contexto de trauma cranioencefálico maciça, em que administramos ácido
(TCE), pois culminou em maior mortalidade, tranexâmico em até 3 h do trauma, além de
quando comparada aos cristalóides. Pacientes concentrado de hemácias, plaquetas e plasma
cirróticos, que possuem hipoalbuminemia, redução fresco congelado na proporção de 1:1:1.
do volume intravascular e sobrecarga volêmica total Choque não hemorrágico: A exceção a esta regra é
(distribuída pelo terceiro espaço e leito o choque séptico, no qual o Ringer lactato se
esplâncnico), talvez se beneficiem de ressuscitação mostrou superior ao soro fisiológico, como
volêmica com albumina a 20 a 25% demonstrado pelo estudo SMART 2018.
Amidos (“starches”): devem ser evitados. A quantidade de cristalóide preconizada na
Hemocomponentes: os principais utilizados no sepse, por exemplo, é de 30 mL/kg nas primeiras
tratamento do choque são concentrado de hemácias, 3 horas. No entanto, esse valor não deve ser
seguido ao pé da letra, mas, sim, servir apenas Otimização do débito cardíaco
como um guia. O ideal é administrar pequenas Dobutamina é o agente inotrópico mais utilizado
alíquotas (250-500 mL) de cristalóides EV, para o aumento do débito cardíaco, apresentando
reavaliando o paciente à beira do leito (pressão efeitos em receptores beta-1 e beta-2- adrenérgicos.
arterial, tempo de enchimento capilar, diurese, Uma dose inicial de apenas 2 mg por kg por minuto
ausculta pulmonar), o que guiará a administração de pode aumentar substancialmente o débito cardíaco.
novas alíquotas. Doses maiores que 20 mcg por kg por minuto
A maioria só pode ser avaliada se o paciente estiver geralmente oferecem pouco benefício adicional. A
entubado e com condições ótimas de ventilação e dobutamina tem efeitos limitados sobre a pressão
sedação. Para pacientes em ventilação espontânea, o arterial, embora possa causar hipotensão quando
mais usado é a elevação passiva de pernas, iniciada, devido ao efeito beta-2, sobretudo em
representada. pacientes hipovolêmicos.
PÓS CARGA
Em pacientes com hipotensão persistente após Otimização da oxigenação
ressuscitação volêmica, a administração de A administração de O2 suplementar deve ser
vasopressores é indicada. Porém, a tendência é iniciada precocemente, para aumentar o
iniciar as drogas vasoativas mais precocemente, fornecimento de oxigênio aos tecidos e prevenir
enquanto a ressuscitação volêmica está em hipertensão pulmonar.
andamento. Em seguida, devemos providenciar uma A oximetria de pulso pode não ser confiável,
pressão arterial invasiva para monitorização da devido à vasoconstrição periférica e, portanto, a
pressão arterial média e um cateter venoso central gasometria arterial é fundamental.
para administração de drogas vasoconstritoras. Pacientes com dispneia grave, hipoxemia, acidemia
Norepinefrina é o vasopressor de primeira grave e persistente ou com rebaixamento do nível
escolha nos quadros de choque, exceto no de consciência são elegíveis para
anafilático, em que a epinefrina é superior. ventilação mecânica invasiva.
A dopamina atua em diferentes receptores .
adrenérgicos, a depender da sua dose. Quando Antes de intubar, devemos otimizar a
menor que 5 mcg/kg/min, possui efeito em hemodinâmica do paciente, para evitar piora da
receptores dopa; quando a dose está entre 5 e 10 pressão arterial e da perfusão periférica após a
mcg/kg/min, possui efeito beta predominante; intubação orotraqueal. Ainda no sentido de evitar
quando maior que 10 mcg/kg/min, predomina o hipotensão, o ideal é utilizar sequência rápida de
efeito alfa. Como possui muitos efeitos adversos, intubação com etomidato ou quetamina EV,
sobretudo arritmias, é pouco usada hoje em dia, associados a um bloqueador neuromuscular, como
sendo reservada para situações de bradiarritmias succinilcolina ou rocurônio EV. Um detalhe
instáveis, como uma ponte para o marca-passo relevante é que a dose dos indutores no paciente
transvenoso. chocado deve ser reduzida.
Suporte transfusional
De maneira geral, recomenda-se manter um alvo
de hemoglobina (Hb) acima de 7 g/dL, sendo
indicada transfusão de concentrados de
hemácias se estiver abaixo desse nível. Para
cardiopatas o alvo passa a ser Hb acima de 8 a
8,5 g/dL.
É importante salientar que no choque hemorrágico,
Sugerimos o uso de vasopressina como segunda
como já discutido neste capítulo, realizamos a
droga em pacientes com quadro de choque séptico,
ressuscitação volêmica com concentrados de
já em uso de noradrenalina, que mantêm hipotensão
hemácias, se o paciente estiver hipotenso,
arterial e que não apresentam depressão miocárdica
independentemente dos níveis de Hb. Ademais, se
importante associada.
tiver indicação de acionamento do protocolo de
transfusão maciça, outros hemocomponentes são
indicados, como concentrados de plaquetas e
plasma fresco congelado.
Redução do VO2
Outro ponto importante é a redução do consumo
periférico de oxigênio. Para isso, devemos nos
atentar para alguns detalhes:
Evitar hipertermia (antitérmicos, se necessário).
Controlar a dor (analgésicos, se necessário).
Reduzir a ansiedade (ansiolíticos, se necessário).
Reduzir o trabalho respiratório (ventilação
mecânica, quando indicada, e esta deve ser bem
ajustada, evitando assincronias).

Sempre que apresentar uma ou mais condições


clínicas que sugira inadequação na pré-carga
associada a hipoperfusão tecidual
O desenvolvimento de dispositivos portáteis de 1. Hipotensão PAS<100mmHg ou PAM< 65mmHg
polarização espectral (OPS) e sua imagem está ou <40mmHg da PAS basal
fornecendo novos meios de visualizar diretamente a 2. Oligúria / azotemia (IRA inicial): diurese <
microcirculação e avaliar os efeitos de intervenções 30ml/h ou <0,5ml/kg/h
sobre o fluxo da microcirculação. A espectroscopia 3. Taquicardia >100bpm
infravermelha é uma técnica que utiliza luz 4. Hiperlactatemia >2mmol/L
infravermelha para determinar o nível de oxigênio 5. Extremidades mal perfundidas - escala de
nos tecidos a partir das frações de oxi-hemoglobina moteamento
e desoxihemoglobina. 6. Desmame de vasopressores
Uma análise das alterações na saturação de 7. Otimização em pacientes cirúrgicos de alto risco
oxigênio nos tecidos durante um breve episódio de
isquemia no antebraço pode ser usada para
quantificar a disfunção microvascular. Tais
alterações pioram o prognóstico e várias
intervenções terapêuticas têm sido mostradas como
tendo um efeito sobre essas variáveis da
microcirculação. Porém, não se sabe ainda se a
terapia dirigida por monitoramento da
microcirculação pode melhorar os desfechos,
quando comparada ao monitoramento clínico.
Sepse é uma síndrome definida como resposta corrente sanguínea (15%) e trato geniturinário
inflamatória desregulada a uma infecção, levando a (14%).
disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas. A sepse pode ter origem na comunidade, ser
Sepse ocorre quando a liberação de mediadores nosocomial ou associada a cuidados de saúde.
pró-inflamatórios em resposta a uma infecção O estudo SOAP relatou uma prevalência quase
excede os limites do local da infecção, levando a igual de infecções bacterianas Gram-positivas e
uma resposta inflamatória sistêmica e generalizada, Gram Negativas entre pacientes com sepse, com
que acarreta lesão celular e disfunção orgânica. Staphylococcus aureus (Gram-positivo) e espécies
O tratamento da sepse deve ser realizado em duas de Pseudomonas e Escherichia coli
frentes: tratamento da infecção e terapia de suporte (Gram-negativas) sendo os organismos mais
às disfunções orgânicas. frequentemente identificados.
A antibioticoterapia deve ser iniciada
precocemente, idealmente na primeira hora após a
identificação da sepse, e direcionada para o foco
suspeito da infecção.
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO
Sepse é uma síndrome clínica caracterizada por
alterações biológicas, fisiológicas e bioquímicas no
hospedeiro, culminando em disfunção no
funcionamento de órgãos e sistemas, secundária à
resposta inflamatória desregulada a uma infecção.
Diferentemente do antigo conceito de infecção
generalizada, entende-se atualmente que o foco da
infecção pode estar localizado em apenas um órgão,
como o pulmão; no entanto, é a resposta do
organismo para combater o agente infeccioso que
provoca uma resposta inflamatória sistêmica
descontrolada, não regulada e autossustentável
responsável pela lesão celular e disfunções
orgânicas atribuídas à sepse. Aceita-se ainda que a
sepse faz parte de um continuum de gravidade, que
se inicia na infecção não complicada, perpassa a
sepse, o choque séptico e culmina na síndrome de
disfunção de múltiplos órgãos (SDMOS) e morte.
Os critérios diagnósticos de sepse têm evoluído
com o passar dos anos:

A causa mais comum de sepse é pneumonia. Além


do pulmão, outros focos são abdome (20%),

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