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Choque, Eletrólitos e Fluidos

Introdução A tarefa de administrar o volume - Costuma ser uma complicação da


sanguíneo dos pacientes é um dos fardos mais septicemia ou infecção generalizada
desafiadores dos cirurgiões e, com frequência, - Mortalidade entre 20-50%
requer o controle completo da entrada e da o janela de atuação é curta
saída de fluidos e de eletrólitos na - Sua fisiopatologia se deve a uma sucessão
presença de perda sanguínea. Exige: de eventos, desencadeados pela infecção:
o Infecção
- atenção constante
o Ativação de células imunes
- titulação e terapia para perda de fluidos
- observação da condição inicial do paciente o Resposta inflamatória intensa
- entendimento da dinamicidade do corpo o Liberação de substâncias que agem
humano e da mudança constante do no leito dos vasos sanguíneos,
estado dos fluidos diminuindo a sua permeabilidade
- alta dependência do tempo para a o Maior extravasamento de sangue e,
administração correta do volume consequentemente, menos sangue
sanguíneo oxigenado chegando aos tecidos
- saber a diferença entre desidratação, o Hipovolemia  Hipotensão
anemia, hemorragia e super-reanimação o Choque
- Em resumo, há uma ineficiência do
Corpo Humano Predominantemente composto por processo de distribuição de oxigênio,
água, que reside nos espaços intravasculares configurando um quadro de choque
(passiveis de controle humano), intracelulares e séptico
interstiticiais (ou terceiros). Sendo que essa água - Outros exemplos de choque distributivo:
se move entre esses espaços de maneira o SIRS (Síndrome da Resposta
dependente de muitas variáveis. Inflamatória Sistêmica)
 2 ou mais dos 4 critérios
Choque ------------------------  temperatura > 38,3º ou
 Condição de falência circulatória <36º
ameaçadora à vida  FC > 90 bpm
 Perfusão inadequada dos tecidos  FR > 20 bpm ou PaCO2
 Diminuição da disponibilidade de oxigênio <32 mmHg ou necessidade
para diferentes partes e estruturas do de ventilação mecânica
corpo humano  leucócitos >12.000 ou
 Estado de oxigenação insuficiente dos <4.000 ou >10% de formas
tecidos imaturas
 Pode ser causado por diversos motivos, o Choque neurogênico
tendo diferentes origens fisiológicas e o Choque anafilático
anatômicas: o Choque induzido por drogas e
o geralmente, associado ao mau toxinas
funcionamento do sistema o Choque endócrino
cardiorrespiratório
Choque Hipovolêmico ou Hemorrágico
o desde circulatórios à neurológicos
o comprometendo a correta perfusão - Resultado de ferimentos ou sangramentos
dos tecidos em grandes vasos
 Principais causas: hemorragias - A causa mais comum é hemorragia, ou
(hipovolemia), IAM (parada cardíaca) e seja, perda considerável de sangue
hipotensão - O sangue perdido pode ir tanto para o
meio externo quanto para cavidades
Subtipos Nomeados de acordo com a causa corporais
original desencadeadora do choque, sendo os - Isso leva há um déficit de fluidos e
principais: eletrólitos, interferindo no correto
funcionamento do sistema circulatório
Choque Distributivo
- Há diminuição do volume de sangue que
- Origem do quadro está em uma chega ao coração, limitando a quantidade
distribuição ineficiente de oxigênio
de sangue que é direcionada aos tecidos, - Em geral, causado por lesão na medula
tornando ineficiente a oferta de oxigênio (estrutura nervosa que distribui os
comandos para todo o organismo)
Crianças: tendem a compensar de maneira mais - Há, portanto, prejuízo na função
fácil, porque o seu corpo apresenta maior cardiorrespiratória e limitação da
composição de água. Porém, quando oxigenação
descompensa, tem um processo rápido.
Idosos: não compensam bem, após grandes
perdas de volume sanguíneo. Apresentam uma
habilidade de recrutar fluido não tão boa, já que
suas reservas cardíacas são menores.

- Inicialmente, em resposta a hemorragia,


numa tentativa de minimizar o
sangramento, o paciente desenvolve uma
bradicardia relativa (frequência cardíaca
menor do que 100 batimentos/minuto
com pressão sistólica menor do que
90mmHg), somente evoluindo para
taquicardia posteriormente
- Hemorragia arterial:
o evolução rápida
o espasmos e trombose da artéria
seccionada ou lacerada
o resulta em hipotensão rápida,
antes mesmo da perda de grandes
quantidades de sangue
- Hemorragia venosa:
o mais lenta
o o corpo humano compensa e, por
vezes, grandes quantidades de
sangue são perdidas antes de a
hipotensão acontecer Manifestações Clinicas de Choque Variam com a
etiologia e com o estágio de apresentação.
Choque Cardiogênico Incluem:
 Hipotensão
o absoluta (PAS<90 e PAM<65)
o relativa (PAS diminui >40)
o ortostática (queda de >20 na PAS
- Pode ser: ou >10 na PAD com o paciente em
o extrínseco, como no pé)
tamponamento o profunda (vasopressor-
o intrínseco, por falha da bomba dependente)
causada por infarto, falha cardíaca  Taquicardia
geral ou contusão o sintoma compensatório mais
- Deve se ao mau funcionamento do precoce nos pacientes
coração, que é a bomba propulsora de  Oligúria
sangue oxigenado até os tecidos  Alteração do estado mental
- Associado geralmente a infarto agudo do o devido a perfusão cerebral
miocárdio diminuída ou encefalopatia
- Incorreto funcionamento do coração  o inicia com agitação e pode evoluir
Diminuição do bombeamento de sangue para confusão ou delirium e, mais
 Limitação da distribuição de oxigênio gravemente, para obnubilação e
pelo corpo coma
 Taquipneia
Choque Neurogênico
o mecanismo compensatório precoce Abordagem Inicial Multidisciplinar
o sobretudo, em pacientes com
1. Estabilização de via aérea
acidose metabólica
2. Garantia de acesso venoso calibroso
 Pele fria, pegajosa e cianótica
a. para reposição de líquidos
o graças a vasoconstrição periférica,
(cristaloides)
que visa manter a perfusão b. restaurar a perfusão tecidual
adequada de órgãos vitais c. geralmente, realizado o periférico
o avaliada pelo mottling score ou intraósseo (tíbia proximal, tíbia
 avalia a perfusão tecidual distal ou manúbrio esternal)
por aspectos da pele d. acesso venoso central é restrito
 score de 1 (nível patelar) a 5 para casos em que o periférico não
(acima da raiz da coxa) é possível e para pacientes que
 quanto mais alto, maior a necessitam de infusão de grandes
letalidade volumes de fluidos ou infusão
prolongada de vasopressores
3. Monitorização constante
a. necessidade de intervenção
imediata ou precoce?
4. Pesquisa minuciosa da causa do choque

Pacientes com síndrome da angustia respiratória


ou instabilidade hemodinâmica podem ser
intubados (evitando drogas que podem causar
hipotensão, como propofol e midazolam), a não
 Aumento do tempo de enchimento capilar ser que haja suspeita de pneumotórax
 Acidose metabólica hipertensivo, o qual deve ser drenado.
 Hiperlactatemia

Condições que Necessitam de Medidas Salvadoras


Avaliação Diagnóstica Inicial
Choque Anafilático
1. Suspeição do Estado de Choque:
paciente com sinais e sintomas sugestivos  Suspeitar em casos de hipotensão, estridor
dessa condição clinica inspiratório, edema facial e oral, urticária
2. Confirmação do Estado de Choque e história recente de exposição à alérgenos
3. Estabilização Clinica  Administrar epinefrina intramuscular
4. Investigação do Fator  Outros fármacos usados são:
Desencadeante: o anti-histaminicos (difenidramina e
- História Clinica ranitidina)
- Exame Fisico o nebulização
- Eletrocardiograma o corticoides (metilprednisolona)
- Laboratório: lactato sérico, função
hepática e renal, enzimas cardíacas Pneumotórax Hipertensivo
e peptídeo natriurético atrial,
 Suspeitar em pacientes com: taquipneia,
hemograma, estudo de coagulação,
dor pleurítica unilateral, murmúrio
D-dimero e gasometria arterial
vesicular diminuído ou abolido,
- Imagem: RX de tórax e de abdome;
hipertimpanismo, veias do pescoço
TC de crânio, coluna vertebral,
distendidas, desvio traqueal e fatores de
tórax, abdome e pele; USG point-
risco
of-care
 Não é necessário radiografia de tórax
 Realizar descompressão de alivio seguida
de drenagem torácica
Tamponamento Cardíaco
 Suspeitar em pacientes com dispneia,  Se não houver contraindicação, buscar a
taquicardia, hipotensão, elevação da hipotensão permissiva (manter a PAS
pressão venosa jugular, abafamento de entre 80-100 mmHg, idealmente 90
bulhas cardíacas, pulso paradoxal e fatores mmHg)
de risco  Quantidade:
 Realizar ECO ou USG à beira leito, antes o cuidado com hemodiluição
de pericardiocentese o o total de volume a ser infundido é
 Lembrar da Tríade de Beck: hipotensão, determinado pela etiologia do
estase de jugular e abafamento das bulhas choque
cardíacas  cardiogênico
Instabilidade Hemodinâmica no Choque  500 a 1000 ml
Hipovolêmico  hipovolêmico
 3a5L
 Paciente com história de trauma e sem  além da necessidade
exteriorização do sangramento merecem de hemoderivados
um FAST, para identificar possíveis o concentrado
hemorragias internas (corrigidas de hemácias
cirurgicamente, quando presentes) (30ml),
 Sem história de trauma, deve-se suspeitar plasma
de rotura da aorta ou hemorragia fresco
gastrointestinal congelado e
Choque Séptico plaquetas (1
para cada kg
 Suspeita de infecção do paciente)
 Antibioticoterapia o proporção
o precoce de 1:1:1
o intravenosa  transfusão maciça
o escolher a classe de acordo com a o transfundir
suspeita diagnóstica ou 100% da
empiricamente volemia do
Outras Condições paciente ou
mais que
 Arritmias 10CH, 50%
 IAM da volemia
 Dissecção aguda da aorta ascendente em 3 horas
 Embolia pulmonar ou 4
 Crises adrenais unidades em
 Picadas de inseto 1 hora
 contenção do
sangramento
Suporte Hemodinâmico o torniquetes
o compressão
- Fluidos intravenosos e vasopressores direta
- Intuito de manter a pressão arterial media o casos
em torno de 65-70 mmHg
refratários:
- Iniciar com fluidos e, quando eles não são
ácido
efetivos, administrar vasopressores
tranexâmico
Fluidos Intravenosos (dose de
ataque: 1g IV
 Tratamento de primeira linha para diluída em
hipotensão e choque inespecífico 250 ml de
 Em bólus, com fluido aquecido a 39º SF, correr
 Mantido até que a pressão arterial e a em 10
perfusão tecidual sejam aceitáveis minutos e 1g
de
manutenção
a cada 8 o inotrópicos
horas) o vasodilatadores
 Fluido ideal:  Agem sobre os seguintes receptores:
o incerto o alfa 1 – vasoconstrição de artérias e
o mais usados – cristaloides, como veias, contração do musculo liso
Ringer Lactato (preferido por ser dos vasos e aumento da resistência
mais fisiológico) e Soro Fisiológico vascular periférica
0,9% (contem cloro, o que pode o alfa 2 – contrabalanço de alfa 1,
levar a acidose hiperclorêmica) tendo poucos efeitos
hemodinâmicos
Vasopressores
o beta 1 – aumenta frequência
 Necessária em pacientes com choque cardíaca e contratilidade
refratários a ressuscitação volêmica miocárdica
o ou seja, naqueles que os fluidos o beta 2 – vasodilatação, diminuição
intravenosos não foram capazes de da resistência vascular periférica e
estabelecer níveis aceitáveis de broncodilatação
pressão arterial e de perfusão o vasopressina (V1)
tecidual
Vasopressores
 Prejudiciais em pacientes com hemorragia
ou choque hipovolêmico - Aumentam a resistência vascular
 Mais usados: periférica, por meio de aumento do tônus
o agonistas adrenérgicos vascular
 norepinefrina - Noradrenalina:
 dose inicial de 8-12 o age sobre os receptores alfa 1
mcg/min, IV (principal) e beta 1
o agentes inotrópicos o escolhida em choque distributivo
 dobutamina o dose de 0,01 a 3 mcg/kg/min
 dose inicial: 0,5-1 - Vasopressina:
mcg/kg/min o análogo do ADH
 mais em choque o age no receptor de vasopressina
cardiogênico, em o efeito potente de vasoconstrição
associação com o usado em choque refratário, em
norepinefrina (usada para associação com a noradrenalina
compensar a diminuição da o dose de 0,01 a 0,06 UI/min
resistência vascular
- Adrenalina
periférica causada pelas
o atua nos receptores alfa 1, beta 1 e
doses baixas de
beta 2 (broncoconstrição)
dobutamina)
o importante vasoconstritor e
também inotrópico
o escolhida em choque anafilático ou
Drogas Vasoativas choque séptico (segunda linha)
 Efeitos vasculares periféricos, pulmonares o dose de 1 a 10 mcg/min
e cardíacos
Inotrópicos
 Alta potência
 Efeito rápido e curto - Aumentam a contratilidade cardíaca, ou
 Resposta dose dependente seja, aumentam a força de contração do
 Usadas com devida monitorização do coração
paciente - Dobutamina
o Pressão Arterial – oscilometria ou o atua nos receptores beta
pressão arterial invasiva o aumenta a contratilidade e a
o Débito cardíaco – ecocardiograma frequência cardíaca
ou cateter de artéria pulmonar ou o promovem vasodilatação nos vasos
controle de pulso sanguíneos
 Três grupos: o escolha na disfunção miocárdica,
o vasopressores ou seja, no choque cardiogênico
o dose de 2,5 a 20 mcg/kg/min
- Levosimedam
o pouco usada
o aumenta a sensibilidade da tropina
C ao cálcio
o dose de 12 a 14 mcg/kg/em bólus +
0,05 a 2 ccg/kg/min
- Milrinona
o inibe a fosfodiesterase,
aumentando o cálcio intracelular
o potente vasodilatador do sistema
arterial e venoso
o dose de 0,5mcg/kg/em bólus +
0,25 a 0,75 mcg/kg/min
Vasodilatadores
- Diminuem a resistência vascular
periférica, por meio da diminuição do
tônus vascular
- Nitroprussiato de sódio
o aumenta o oxido nítrico,
diminuindo o tônus vascular e a
resistência vascular periférica
o aumenta o debito cárdiaco, por
diminui a pos-carga
o dose de 0,5 a 5 mcg/kg/min

Fluidos
Cristalóides Mais usados
 Soro fisiológico a 0,9%
o não balanceado
 Ringer Lactato
 Plasmalyte
Coloides
 Albumina
 Sintéticos (dextranas e gelatinas)

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