Você está na página 1de 26

SUMÁRIO

1. Introdução e Definição.............................................. 3
2. Mecanismos desencadeantes .............................. 4
3. Características básicas da REMIT........................ 5
4. Conceitos importantes.............................................. 8
5. Alterações Viscerais.................................................. 8
6. Fases da Resposta ao Trauma.............................. 9
7. Resposta Endócrina e Metabólica ao trauma ..... 12
8. Resposta Imunológica ao trauma.......................18
9. Componentes biológicos do trauma ................21
10. Consequências da hipotermia na REMIT.....22
11. Suporte Nutricional...............................................23
Referências Bibliográficas .........................................25
REMIT 3

1. INTRODUÇÃO E justamente ao conjunto de reações


DEFINIÇÃO de natureza endócrina, metabó-
lica e imunológicas desenvolvidas
Agressões deflagradas contra o or-
pelo organismo para tentar manter
ganismo humano, independente da
a homeostasia em circunstâncias re-
causa ou mecanismo, mobilizam
lacionadas, como já mencionado, a
um complexo conjunto de respostas
traumas de etiologias diversas e de-
que são iniciadas imediatamente e
sencadeadas por vários componen-
que se mostram fundamentais para
tes, tais quais como perda sanguínea,
a manutenção da homeostase e da
lesão tecidual, ansiedade e dor.
vida. Sendo assim, não importa se a
agressão está relacionada com a in- Estímulos nociceptivos constituem
tencionalidade que impele o trauma os gatilhos essenciais para dar iní-
como, por exemplo, o que se verifica cio a tal resposta, variando de acordo
no ato cirúrgico ou se resulta de uma com o tipo de trauma e da qualidade
casualidade relacionada a acidentes do mecanismo desencadeante.
diversos dos quais poderão resultar A fim de alcançar seu objetivo pri-
em processos hemorrágicos e aco- mordial, a REMIT precisa desencade-
metimentos teciduais diversos. Além ar estratégias que visem a geração
disso, também integram o escopo de de energia, a manutenção de um
elementos indutores de resposta or- volume efetivo intravascular, além
gânica a ação de endotoxinas e o em- de hipermetabolismo. Assim, torna-
prego de aparelhos para sustentação -se premente a necessidade de pro-
da vida. mover estabilidade hemodinâmica,
Dessa forma, a chamada “REMIT” preservação do aporte de oxigênio,
(Resposta Endócrino, Metabólica e mobilização de substratos calóricos
Imunológica ao Trauma) refere-se (glicose), além da redução da dor e
manutenção da temperatura.
REMIT 4

VIAS ORGÂNICAS DE RESPOSTA AO TRAUMA E


SUAS REPERCUSSÕES PARA O ESTABELECIMENTO DA HOMEOSTASIA

TRAUMA

+ + +

VIAS ENDÓCRINAS VIAS METABÓLICAS VIAS IMUNOLÓGICAS

MANUTENÇÃO DO VOLUME MANTER FORNECIMENTO DE MANTER A REGULAÇÃO DA


INTRAVASCULAR ENERGIA NEUTRALIDADE

HOMEOSTASIA

A sobrevivência do paciente depende intensidade do trauma gera impactos


da qualidade do atendimento a qual, e repercussões diretamente relacio-
por sua vez, relaciona-se com o reco- nados com a magnitude e a exten-
nhecimento quanto à magnitude do são da resposta a ser efetuada pelo
trauma e a capacidade de resposta organismo.
orgânica, afinal é possível controlar Um exemplo bem claro disso pode
as respostas ao trauma, modulando ser observado quando se trata de pa-
as vias involuntárias dos respectivos ciente submetido a operação eletiva,
órgãos efetores. em comparação com o paciente víti-
ma de lesão por trauma acidental.
2. MECANISMOS
DESENCADEANTES SE LIGA! As características peculiares
de cada trauma irão definir ou modular
Como exposto anteriormente, vá- a forma como a resposta será efetuada.
rios componentes podem atuar de-
sencadeando as reações ao trauma,
destacando-se lesão tecidual, per- No trauma acidental não existe
da sanguínea, ansiedade e dor. A um planejamento, de modo que os
REMIT 5

eventos se sucedem de forma não 3. CARACTERÍSTICAS


controlada. Os agravos resultam em BÁSICAS DA REMIT
lacerações, esmagamentos e avulsões
Perda de células corporais
que normalmente estão associados a
marcante contaminação. A perda con- • Lise do protoplasma celular: O
sequente de volume sanguíneo ge- trauma gera perda de estrutura fí-
ralmente é significativa, conduzindo a sica e de sangue, logo destruição
um déficit de perfusão que, se prolon- celular/tissular.
gado, pode provocar danos à célula e
morte tecidual. Acompanhando tudo • Perda de Eletrólitos intracelulares:
isso, temos dor, excitabilidade e medo lise do protoplasma gera perda de
intensos, justificando uma resposta eletrólitos intracelular, como K+
orgânica mais exuberante. que tem uma maior concentração
intracelular do que extracelular ([K]
O trauma tecidual eletivo decorren- intra>[K]extra).
te de uma cirurgia obedece a proto-
colos, configurando procedimentos • Balanço Nitrogenado Negati-
orientados de forma calculada, plane- vo: Nitrogênio proteico é utilizado
jada e monitorizada. Nessa perspec- para função plástica de renovação
tiva, embora a cirurgia eletiva cause e crescimento, o balanço é sempre
dor, suprima a ingestão de alimentos positivo. Nas fases iniciais do trau-
e comumente leve à ressecção de ór- ma esse balanço é negativo pois
gãos e tecidos, o tratamento perio- esse nitrogênio é usado para com-
peratório se reveste de importância, bustão e não para síntese proteica,
uma vez que promove meios para o que dificulta o processo de cica-
atenuação das eventuais reações que trização e anabolismo.
possam ocorrer. Consequentemente, • Incapacidade de síntese proteica:
as respostas fisiológicas à cirurgia pelos motivos citados acima.
eletiva são de menor magnitude, me-
nor morbidez e mortalidade do que • Aumento da Xantinuria: Decorre do
no trauma acidental. catabolismo proteico, isto é, indica
aumento do consumo de proteína.

RELEMBRANDO! A resposta ao stress


tem como finalidade manter e/ou res- CONCEITO! Diz que há balanço nitroge-
taurar a homeostasia, nomeadamente a nado negativo quando há maior consu-
estabilidade hemodinâmica, a preserva- mo protéico do que produção. No contex-
ção do aporte de oxigênio, a mobilização to da REMIT, aminoácidos utilizados na
de substratos calóricos (glicose) e final- gliconeogênese hepática não têm o seu
mente a diminuição da dor e a manuten- grupamento amino utilizado, sendo este
ção da temperatura. excretado na urina na forma de uréia.
REMIT 6

Conservação de liquido Alteração na regulação da


extracelular neutralidade
•  absoluta na excreção de Na+: A • É efetuada através dos rins e dos
eliminação de sódio implica na eli- pulmões.
minação de água, então todas as
• Tendência inicial à alcalose: magni-
reações que implicam na elimina-
tude do trauma vence a capacidade
ção de sódio são revertidas pelo
de resposta do organismo. (Lem-
organismo ou são eventualmente
bre-se da sequência O H A H).
diminuídas no sentido de tentar
preservar água. Ocorre também  ◊ Oxidação do citrato trans-
do teor de Na+ na saliva e no suor. fundido (transformado em
bicarbonato).
•  [Na+] urinário.
◊  íons Hidrogênio: hiperventi-
• Incapacidade relativa da excreção lação  excreção aumentada
de NaHCO3. de CO2.
• Acidúria. ◊ Aldosteronismo pós traumáti-
co: sistema renina-angiotensi-
•  Reabsorção Na no íleo distal
na-aldosterona.
◊ Hiperventilação.
Alteração nas fontes de energia
Discreta Hiperglicemia/Hipoinsuline- Desenvolvimento posterior de
mia: hipoinsulinemia mantem a hiper- acidose
glicemia por conta da diminuição da
perfusão  metabolismo anaeróbico. • Decorrente da diminuição da per-
Gliconeogênese: mobilização de pro- fusão tissular e acumulo de ácido
teína muscular. lático.

•   catecolaminas: hipermetabolismo.
IMPORTANTE! lactato é um marca-
•  ácidos graxos plasmáticos livres: dor de hipoperfusão celular, constituin-
transformação do tecido adiposo. do um fator prognóstico para pacientes
com SIRS e sepse. Quanto mais tempo
•  quociente respiratório para oxi- o paciente apresenta níveis séricos ele-
vados, maior a chance de evolução para
genação de gorduras.
Insuficiência de múltiplos órgãos.
REMIT 7

LISE DO PROTOPLASMA ↓ ELETRÓLITOS


CELULAR INTRACELULARES
PERDA DAS CÉLULAS
CORPORAIS
BALANÇO NITROGENADO COMPROMETIMENTO DA
NEGATIVO SÍNTESE PROTEICA
↑ XANTINÚRIA

QUEBRA PROTÉICA

↓ EXCREÇÃO DE Na+ ↓ Na+ URINÁRIO


CONSERVAÇÃO DO ↑ REABSORÇÃO DE
LÍQUIDO EXTRACELULAR Na+ NO ÍLEO DISTAL
COMPROMETIMENTO DA
ACIDÚRIA
EXCREÇÃO DE NaHCO3

REMIT
HIPOINSULINEMIA/
CARACTERÍSTICAS HIPERGLICEMIA
GLICONEOGÊNSE
BÁSICAS
HIPERMETABOLISMO/
↑ CATECOLAMINAS HIPERATIVIDADE
ORGÂNICA
ALTERAÇÕES NAS
FONTES DE ENERGIA
↑ ÁCIDOS
GRAXOS LIVRES

↓ QUOC. RESP. PARA


↓ PERFUSÃO TISSULAR ↑ ÁCIDO LÁTICO
OXIDAÇÃO DE GORDURAS

ALTERAÇÕES NA
TENDÊNCIA INICIAL DESENVOLVIMENTO
REGULAÇÃO DA
À ALCALOSE POSTERIOR À ACIDOSE
NEUTRALIDADE
REMIT 8

4. CONCEITOS corporal magra. É característico


IMPORTANTES da resposta à lesão e pode deter-
minar uma série de complicações,
• Catabolismo - Descreve destrui- na dependência da intensidade da
ção tecidual, especialmente a de- perda proteica.
gradação de proteínas da massa

QUADRO – Complicações e mortalidade associadas à perda de


massa corporal magra após trauma

Massa corporal Complicações Mortalidade associada


magra - % do total (Relacionadas com perda de massa magra)

Perda de 10% Diminuição da imunidade, aumento da infecção 10%

Perda de 20% Diminuição da cicatrização, fraqueza, infecção 30%

Confinamento ao leito, escaras de decúbito,


Perda de 30% 50%
pneumonia, incapacidade para cicatrizar feridas

Perda de 40% Morte, usualmente por pneumonia ±100%

Metabolic response to trauma – Medeiros, Aldo Cunha; Filho,


Antônio Medeiros Dantas - J Surg Cl Res – Vol. 8 (1) 2017:56-76

• Anabolismo - Descreve a sínte- normal, implicando num grande


se tecidual, em particular a síntese aumento na demanda de energia.
de proteína da massa magra, que
é essencial para a cicatrização das
feridas e para os mecanismos de 5. ALTERAÇÕES
defesa pós-trauma. A atividade VISCERAIS
anabólica crescente é crítica para o • Pulmonares: alterações da mecâni-
controle da resposta ao trauma. ca ventilatória e nas trocas gasosa.
• Hipermetabolismo – Significa um • Cerebrais: alterações na perfusão/
aumento na atividade metabóli- oxigenação.
ca, além da resposta metabólica
REMIT 9

• Cardiovasculares:  débito cardíaco. • Hormônios principais: Adrenérgi-


cos e corticoides.
• Renais: Tendência à hipoperfu-
são renal - transferência de parte •  níveis de glucagon, ADH, al-
do volume intravascular que resta dosterona, GH e tiroxina e ní-
para os pulmões, coração e cére- veis de insulina.
bro. diurese  oligúria  anúria.
• Gastrointestinais:  absorção e Consequências:
perfusão.
• Retenção de H2O, Na+, NaHCO3
• Eliminação de K+, ureia e fosfato
6. FASES DA RESPOSTA
AO TRAUMA •  catabolismo lipídico e proteico
(balanço nitrogenado negativo –
Primeira Fase – Catabólica
excreção de ureia)
Caracterizada pela progressiva ele-
• Gliconeogênese
vação do nível de catecolaminas, va-
soconstricção periférica e diminuição • Lise do protoplasma celular
da temperatura corporal, provocadas
desde o estresse emocional da ad-
Repercussões clínicas:
missão hospitalar, anestesia, ato ope-
ratório até o período pós-operatório • Febre
de dois a quatro dias.
• Taquicardia
• Dor
Objetivos:
• Oligúria
Regular a osmolaridade, promovendo
a eliminação do lixo catabólico e pro- • Sonolência
dução de energia por novas fontes. • Perda da libido
• Imobilidade
Caraterísticas:
• Inapetência
• Resposta inicial do organismo ao
trauma  tentativa de restabele- • Amenorreia
cimento da homeostase.
• Duração: 1 a 5 dias dependendo
da capacidade de resposta do in-
divíduo e da magnitude do trauma.
REMIT 10

Segunda Fase - Anabólica recuperação do apetite e desejo de


reintegração ao meio.
Tem como principal característica a
volta à normalidade dos hormônios
aumentados na fase catabólica, res- Lipogênica:
saltando-se o retorno da insulinemia
Ganho ponderal – principalmente à
a seus níveis normais.
custa de tecido adiposo (anabolismo
lipídico), balanço nitrogenado normal
Objetivos: e normalização das funções vitais.
Pode durar de meses a anos.
Reconstrução plástica, cicatrização
de feridas e consolidação de suturas.

Etapas:
• Glicogênica
• Lisogênica

Glicogênica:
Balanço nitrogenado
positivo, aumento da
força muscular, aumen-
to do peso, ingestão
e absorção normais,
REMIT 11

MAPA MENTAL – TRANSIÇÃO DA FASE CATABÓLICA PARA ANABÓLICA

FASE FASE
CATABÓLICA ANABÓLICA

RETENÇÃO DE ÁGUA, LISE DO RECONSTRUÇÃO RECUPERAÇÃO


Na+ e NaHCO3 PROTOPLASMA PLÁSTICA DO APETITE

CATABOLISMO
FEBRE BALANÇO
PROTÉICO
• SUPORTE GANHO DE PESO NITROGENADO
VENTILATÓRIO POSITIVO
OXIDAÇÃO DE • REPOSIÇÃO
TAQUICARDIA
ÁCIDOS GRAXOS DE FLUÍDOS
• SUPORTE RECUPERAÇÃO DA
NUTRICIONAL CICATRIZAÇÃO MASSA E FORÇA
DOR GLICONEOGÊNESE MUSCULARES

ELIMINAÇÃO
OLIGÚRIA
DE UREIA, P e K
REMIT 12

7. R ESP OSTA ENDÓCRINA e efetividade da insulina, induz alte-


E METABÓLICA AO rações metabólicas, cujo principal ob-
TRAUMA jetivo parece ser a maior utilização de
ácidos graxos. Nesta fase ocorre mo-
As respostas hormonais ao estresse
bilização da glicose e gorduras, hiper-
são moduladas e cuidadosamente
glicemia, aumento sérico de ácidos
controladas por ciclos de feedback.
graxos livres, glicogênese e lipólise.
Além disso, os mediadores peptídi-
cos do SNC que normalmente funcio- Assim, caso algum ponto dessas
nam como neurotransmissores po- vias apresente lesão, a REMIT não é
dem atingir concentrações no plasma deflagrada.
que lhes permitem funcionar como
hormônios. SE LIGA! É através do Sistema Nervoso
Autônomo (SNA) que podemos contro-
A resposta endócrino é ativada por lar as respostas dos doentes ao stress
estímulos neurais nociceptivos perifé- cirúrgico, modelando a resposta invo-
ricos a partir do local lesado. O impul- luntária dos respectivos órgãos efetores.
so segue ao longo das vias nervosas A resposta neuroendócrina do organis-
somatossensoriais e autonômicas até mo depende do ato cirúrgico, extensão
do traumatismo tecidual, técnica anes-
ao hipotálamo. O estímulo aferente
tésica / analgésica, susceptibilidade pró-
para o sistema nervoso central pode pria do doente e condição pré-operatória.
ser transmitido através de mecanis-
mo neural ou humoral. Após o pro-
cessamento central dos estímulos
aferentes, o hipotálamo inicia as res-
postas eferentes através de duas vias
distintas. Uma rápida, o eixo autonô-
mico-adrenal, que liberta catecola-
minas, ADH, renina e al-
dosterona, e cujo principal
objetivo é a manutenção
do fluxo sanguíneo e o su-
primento de energia para
órgãos vitais. Outra, de
atuação mais lenta, o eixo
hipotálamo-hipofisário,
que através da liberação
de hormônios esteroides e
da diminuição da secreção
REMIT 13

Cortisol
MODULADORES DA RESPOSTA NEURO-
ENDÓCRINA AO TRAUMA Após os traumatismos físicos veri-
fica-se uma característica elevação
dos níveis sanguíneos de cortisol, que
é paralela ao aumento do hormônio
corticotrófico (ACTH), sendo que o
RESPOSTA retorno aos níveis fisiológicos depen-
NEUROENDÓCRINA
de do quão extensa é a lesão.
O cortisol mobiliza aminoácidos da
musculatura esquelética para servir
de substrato para gliconeogênese,
ELEMENTOS cicatrização de feridas e para síntese
MODULADORES
hepática de proteínas de fase aguda
(fibrinogênio, ceruloplasmina, prote-
CARACTERÍSTICAS
ína C-reativa, etc.), diminui a glico-
DO ATO CIRÚRGICO
gênese e aumenta a gliconeogênese
EXTENSÃO DO hepática e age no tecido adiposo, faci-
TRAUMA TECIDUAL litando a lipólise pelas catecolaminas.

SUSCEPTIBILIDADE
DO PACIENTE CORTISOL NA REMIT

Estímulo ao catabolismo hepático de proteínas


CONDIÇÕES DO PACIENTE
NO PRÉ-OPERATÓRIO Inibição da síntese proteica
Lipólise
TÉCNICA ANESTÉSICA/ Inibição da secreção de insulina
ANALGÉSICA Gliconeogênese
Prejuízo à cicatrização
Tabela 2. Efeitos do cortisol na REMIT

EFEITOS DO CORTISOL NA REMIT

SÍNTESE PROTÉICA - + GLICONEOGÊNESE

SECREÇÃO DE - + CATABOLISMO
CORTISOL
INSULINA HEPÁTICO DE AA

CICATRIZAÇÃO - + LIPÓLISE
REMIT 14

Catecolaminas (Adrenalina e stress, incluindo aumento da ade-


Noradrenalina) são plaquetária, fibrinólise diminu-
ída e promoção de um estado de
A ativação do eixo autonômico-adre-
hipercoagulabilidade.
nal pelo trauma acarreta acentuada
elevação dos níveis plasmáticos de
noradrenalina, adrenalina, as quais Glucagon
parecem correlacionar-se com a in-
tensidade do trauma cirúrgico. É liberado pelas células alfa do pân-
creas endócrino através de estímulos
A nível cardiovascular, o acréscimo da simpáticos e pela hipoglicemia. A ele-
atividade simpática generalizada re- vação do glucagon persiste até que
sulta em aumento da frequência car- o doente se restabeleça. Na fase hi-
díaca, da pressão arterial e do volume permetabólica do trauma, o glucagon
de ejeção. Estas ações condicionam exerce um potente efeito na glicoge-
por sua vez um aumento do trabalho nólise e na gliconeogênese hepática,
cardíaco e um aumento do consumo sinalizando os hepatócitos para pro-
de oxigênio pelo miocárdio. duzirem glicose a partir dos estoques
Em adição, a função de todos os ór- de glicogênio hepático e de outros
gãos e vísceras incluindo o fígado, o precursores.
pâncreas e o rim são modificados quer Os efeitos metabólicos do glucagon
diretamente pela inervação simpática são semelhantes aos das catecola-
quer pela circulação de catecolami- minas, resultando num aumento da
nas. Assim observa-se um aumento produção de glicose, com redução de
da glicogenólise, gliconeogênese e sua utilização periférica, culminando
lipólise, estimulação da secreção da em hiperglicemia.
renina e ADH e inibição da secreção
de insulina.
A nível do aparelho respiratório verifi- Insulina
ca-se um aumento da frequência res- Liberada pelas células beta do pân-
piratória e broncodilatação, o que leva creas, sua secreção e ações são inibi-
ao aumento do volume minuto. das na fase aguda pós-trauma, pela
De um modo geral, há relaxamento ação das catecolaminas e cortisol.
de todo o músculo liso e contração O grau de hipoinsulinemia correlacio-
dos esfíncteres nos aparelhos diges- na-se com a gravidade e a extensão
tivo e genito-urinário. do trauma. Como resultado, haverá
Além disso, foram descritas altera- insulinemia desproporcionalmente
ções da coagulação na resposta ao baixa com relação à glicemia. A con-
sequência da hipoinsulinemia é que a
REMIT 15

glicemia tende a manter-se elevada e rapidamente após o trauma, normali-


os doentes não suportam grandes re- zando-se em 4 dias em média. Suas
posições de glicose, surgindo uma si- ações são osmorreguladoras, vasoa-
tuação semelhante ao diabetes. Nos tivas e metabólicas. Provoca reabsor-
pacientes previamente diabéticos ção de água livre dos túbulos distais
existe um agravamento desta condi- e coletores dos rins, vasoconstricção
ção no pós-operatório. esplâncnica intensa em casos de he-
A insulina é o principal hormônio ana- morragia e hipovolemia súbitas, bem
bolizante, promovendo o armaze- como estimulação da gliconeogênese
namento de glicose e ácidos graxos, hepática.
assim como a deposição de aminoá-
cidos nas proteínas musculares. IMPORTANTE! ADH e aldosterona são
os hormônios diretamente envolvidos na
resposta hipotalâmica mediada por cho-
IMPORTANTE! No REMIT ocorre  que hipovolêmico, na tentativa de man-
relação insulina/glicemia pela diminui- ter o volume arterial efetivo por meio da
ção da insulina e pelo aumento dos ní- reabsorção de água.
veis séricos de cortisol, catecolaminas e
glucagon.
Hormônio do Crescimento – GH
Aldosterona Ocorre estimulação da secreção des-
se hormônio, relacionada com a hi-
Liberada pela região cortical das su-
poglicemia do jejum pós-traumático,
prarrenais, a aldosterona contribui
baixa de ácidos graxos séricos, hipo-
para baixar os níveis de potássio sé-
volemia, aumento dos níveis de ami-
rico. Durante a fase pós-traumática
noácidos e ACTH. Sua concentração
provoca a troca do potássio e hidro-
permanece levada por 24 horas e aos
gênio plasmático pelo sódio, reten-
poucos retorna ao normal.
do esse elemento, contribuindo para
a retenção da água e reabsorção de As principais consequências são:
bicarbonato e, consequentemente, • aumento da glicemia por inibição
para o aumento da volemia. de transporte no fígado e no mús-
culo esquelético.
Hormônio Antidiurético – ADH • elevação de ácidos graxos no
Nos casos de grandes traumas, sua plasma.
secreção chega a elevar-se 50 ve- • estimulação da lipólise.
zes, em especial no início da aneste-
• potenciação das catecolaminas.
sia e das operações. Os níveis caem
REMIT 16

• acúmulo de nitrogênio pela síntese


proteica nos músculos e no fígado. RESUMO! Alterações endócrinas da
resposta ao trauma e seus efeitos
metabólicos:
SE LIGA! A ação preponderante do
•  ADH: retenção de água.
GH no metabolismo proteico é anabó-
lica e no dos carboidratos e lipídios é •  Aldosterona: retenção de Na+ e
catabólica. excreção de K+.
•  Cortisol:  síntese proteica e 
catabolismo hepático de aminoáci-
Hormônios Tireoidianos dos   catabolismo proteico e da
excreção de ureia.
Os hormônios T3 e T4 estimulam o •  Catecolaminas: Hipermetabolis-
consumo de oxigênio pelos tecidos mo;  catabolismo hepático de ami-
metabolicamente ativos. Como resul- noácidos, liberação de aminoácidos
tado, ocorre um aumento da produ- pelos músculos e gliconeogênese 
 catabolismo proteico e da excre-
ção de calor e do estado metabólico. ção de ureia.
Existe uma associação entre a ativi- •  Glucagon: estímulo à gliconeogê-
dade hormonal tireoidiana e as cate- nese, glicogenólise e à liberação de
colaminas. A adrenalina e a noradre- ácidos graxos do tecido adiposo.
nalina aumentam o metabolismo. Os •  GH:  lipólise.
hormônios tireoidianos aumentam o •  Insulina: liberação de AA dos
número e a afinidade dos receptores músculos, hiperglicemia e liberação
de ácidos graxos do tecido adiposo.
beta-adrenérgicos no coração e au-
mentam a sensibilidade do coração à
ação das catecolaminas.
REMIT 17

DIAGRAMA RESUMIDO DOS PRINCIPAIS EVENTOS QUE CONSTITUEM A REMIT


ESTÍMULO AFERENTE

REMIT

DOR
ESTÍMULO
MEDO
NOCICEPTIVO ÁREA TRAUMATIZADA
ANSIEDADE
PERIFÉRICO
AGENTES ANESTÉSICOS
JEJUM
CENTRO HIPOTALÂMICO
RECONHE- FEBRE
CIMENTO E IMOBILIZAÇÃO
ORGANIZAÇÃO
GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

↑ ALDOSTE- ↑ CATECO- ↑ GLUCAGON


↑ ADH ↑ ACTH ↓ INSULINA ↑ GH ↑ TIROXINA
ENDÓCRINA

RONA
RESPOSTA

LAMINAS

CORTISOL

LIBERAÇÃO
RETENÇÃO
INIBIÇÃO CATABOLISMO LIBERAÇÃO DE ÁCIDOS
RETENÇÃO DE Na+ / GLICONEO- GLICOGE-
DA SÍNTESE HEPÁTICO DE AA DOS GRAXOS
METABÓLICA

DE H20 EXCREÇÃO GÊNESE NÓLISE


RESPOSTA

PROTÉICA DE AA MÚSCULOS DO TECIDO


DE K+
ADIPOSO

CATABOLISMO PROTEICO/
HIPERGLICEMIA
↑ EXCREÇÃO DE UREIA
REMIT 18

• Mediadores anti-inflamatórios:
SE LIGA! A resposta neuroendócrina e IL-4, IL-10, IL-11, IL-13, Fator de
metabólica ao trauma cirúrgico, quando crescimento transformador-ẞ.
exacerbada, pode levar a consequências
deletérias para o organismo, exigindo
uma grande reserva funcional dos prin-
cipais sistemas orgânicos. A duração e a
No pós-operatório e em decorrência
magnitude da resposta são diretamen- do trauma acidental, fraturas e cho-
te proporcionais ao trauma cirúrgico e que hemorrágico, uma significativa
ao desenvolvimento de complicações, depressão das funções imunológicas
como a sepse. A anestesia loco-regional
com anestésicos locais, inibe a resposta de origem celular e humoral tem sido
neuroendócrina ao estresse traumático descrita. Consequentemente, há um
e cirúrgico e pode influenciar positiva- grande risco de complicações sép-
mente o prognóstico.
ticas após o choque que se segue a
essas condições adversas. Podem
8. RESPOSTA ser observadas as seguintes altera-
IMUNOLÓGICA AO ções das funções imunológicas espe-
TRAUMA cíficas e não específicas:

O componente inflamatório da lesão


envolve a liberação local de citocinas Funções imunes específicas:
e a ativação sistêmica de cascatas • Linfopenia, diminuição da prolife-
humorais envolvendo complemento, ração das células B e T.
eicosanoides e fatores ativadores de
plaquetas. Esses mediadores promo- • Diminuição da atividade das célu-
vem a cicatrização das feridas pela las natural killer.
estimulação da angiogênese, migra- • Baixa produção de linfocinas (IL-2,
ção de leucócitos e de fibroblastos. IL-3).
A resposta imunológica ao trauma • Aumento da produção de IL-4 e
grave começa minutos depois da IL-10.
agressão e é caracterizada pela ati-
vação imediata dos monócitos. Esta
ativação provoca o aumento da sín- Funções imune não específicas:
tese e liberação de vários mediadores
• Monocitose.
inflamatórios.
• Aumento da IL-6.
• Mediadores pró-inflamatórios:
TNF-α, IL-1, IL-6, IL-8 • Depressão da função dos
granulócitos.
REMIT 19

Ação das Citocinas • síntese de albumina, preparação


para aumento da produção oxi-
As citocinas, que são produzidas tan-
dante dos neutrófilos.
to pelas células endoteliais do local
da lesão, quanto por diversas células • Ativação de células endoteliais e
imunes do organismo, exercem im- neutrófilos  neutrofilia.
portantes efeitos na resposta ao trau-
• Síntese de colágeno.
ma. As que desempenham os papéis
mais importantes na regulação da • Induz GM-CSF (síntese de
resposta metabólica ao trauma são: macrófagos).
• Fator de necrose tumoral-α (TNF-α) • Ação sistêmica: febre, aumento da
contaagem plaquetária, etc.
• Interneucina-1 (IL-1)
• Ações mediadas principalmente
• Interleucina-2 (IL-2)
por outros agentes inflamatórios,
• Interleucina-6 (IL-6) como PGE2 e NO.
• Interferon (IFN)
TNF
Esses polipeptídeos produzidos pelo • Fonte principal: macrófagos.
organismo em resposta ao trauma ou
• síntese de IL-2,6,8.
à necrose tecidual, bacteremia ou en-
dotoxemia, induzem respostas adap- • Sistêmicos: anorexia, ativação da
tativas e respostas adversas. Quanto cascata de coagulação, edema ce-
maior a lesão produzida pelo trauma, lular, lesão hepatocelular. Media-
maior a produção de citocinas. dor fundamental no choque endo-
tóxico em animais.

Citocinas pró-Inflamatórias • Estimula a liberação de neutrófi-


preponderantes na REMIT los e sua marginação. Promove
transformação de monócitos em
IL-1 macrófagos.
• Fonte principal: macrófagos, mo- • Efeitos fisiológicos preponde-
nócitos, linfócitos B, T, células NK, rantes e superponíveis da IL-1 e
PMN, queratinócitos, fibroblastos, TNF = febre, cefaleia, anorexia, 
células endoteliais, enterócitos. ACTH, hipercortisolemia,  níveis
• síntese de citocinas pró inflama- plasmáticos e nitrito e nitrato, HAS,
tórias (IL- 1,2,6,8), PCR. neutrofilia, neutropenia transitória,
REMIT 20

 níveis plasmáticos de proteínas • Utilizada no tratamento de cicatri-


de fase aguda, hipoferremia. zes hipertróficas e queloide.
• produção e a ligação cruzada do
IL-6 colágeno.
• Induz a febre, promove a matura- • colagenase.
ção e diferenciação de células B,
estimula o eixo hipotálamo-pituitá- SE LIGA! As citocinas que primeiro se
ria adrenal, induz a síntese hepáti- elevam e orquestram a resposta infla-
ca de proteínas de fase aguda. matória são TNF alfa, IL-1, IL-6, interfe-
rons e fatores estimulantes de colônia.

IL-2
Citocinas anti-Inflamatórias
• Estimula produção de células T e B preponderantes na REMIT
ativadas (estimula síntese de anti-
corpo), citotoxicidade de células IL-4
NK (ativação), estimula a secreção • Inibe a ativação do macrófago, ini-
de citocinas por células NK; poten- bindo assim a proliferação de fibro-
te estimulador de proliferação de blastos e a formação de colágeno.
fibroblastos (ativação de linfócitos).
• Promove crescimento e diferencia-
ção de células B.
IL-8
• Quimiotático para neutrófilos e IL-10
linfócitos, estimula o surto oxi-
• Inibe secreção de citocinas pró-in-
dativo por neutrófilos e promove
flamatórias por macrófagos.
angiogênese.

Proteínas da fase aguda


IFN-γ
São proteínas produzidas pelo fígado,
• Promove liberação de TNF, IL-1 e
cuja concentração plasmática se eleva
IL-6.
ou diminui como resposta a estímulos
• capacidade fagocítica de macró- inflamatórios como lesão traumática
fagos (ativa macrófagos) e infecção. Proteínas de fase aguda
• Promovem a diferenciação de T servem como marcadores de lesão
CD4 em TH1 e inibe a deTH2. tecidual ou estados inflamatórios.
• Fibrinogênio: auxilia no reparo.
REMIT 21

• Proteína C monoclonal: é produzi- Componentes metabólicos secundá-


da nos hepatócitos e indica a pre- rios ao trauma são:
sença de processo infeccioso ou
• Alterações endócrinas
inflamatório. É identifica em 8h e
tem seu pico em 48h. • Alterações hemodinâmicas
• Anti-proteases (alfa-1 antitripsina • Infecção
e alfa-2 macroglobulina): previnem • Insuficiência de Múltiplos Órgãos.
ampliação do dano causado pela
liberação de enzimas provenientes
de tecidos lesados. Componentes Associados: Não
decorrem diretamente pelo trauma,
• Ceruloplasmina: antioxidante.
mas sua atuação influencia de for-
ma positiva ou negativa na evolução
9. COMPONENTES pós-traumática. Pode potencializar
BIOLÓGICOS DO TRAUMA a ação do componente primário, ou
eventualmente bloquear a ação do
Componente primário: depende di-
componente secundário.
retamente da força físicas sobre os
tecidos e da magnitude da destruição Existem quatro tipos distintos:
tissular provocada pelo trauma. É o • Alterações no ritmo alimentar.
processo de lesão tissular decorrente
das forças físicas sobre o tecido. Pode • Imobilização prolongada.
ser caracterizado por perda da inte- • Perdas hidroeletrolíticas extra
gridade do tegumento, podendo ge- renais.
rar perdas sanguíneas e edema trau-
mático. Ex: lesão por projétil, incisão • Doenças intercorrentes.
cirúrgica.
Componente secundário: reações
de adaptação ou complicações indu-
zidas pelos componentes primários.
REMIT 22

ESQUEMATIZAÇÃO DA FISIOPATOLOGIA DO TRAUMA OPERATÓRIO

TRAUMA
OPERATÓRIO

Atuação das forças físicas

Primário
Lesão de tecidos
Lesão de órgãos específicos
Associados
Jejum
Imobilização
Secundários Perdas extra-renais
Alterações hemodinâmicas Doenças intercorrentes
Alterações endócrinas
Infecções
Falências orgânicas

Alterações do meio interno

Recuperável Irrecuperável

Sobrevivência Morte
Fonte: Clínica Cirúrgica, 2008.

10. CONSEQUÊNCIAS DA
HIPOTERMIA NA REMIT
• Diminuição da capacidade de agre-
gação plaquetária, aumentando a
possibilidade de sangramento.
• Hipoperfusão da microvasculatura
predispondo à acidose.
• Dificuldade de metabolização de
drogas.
REMIT 23

hospitalar ou da realização de uma


SE LIGA! A tríade da morte consiste na operação.
presença de três quadros importantes
em um paciente lesionado: coagulopa-
Déficits nutricionais associam-se a
tia, acidose e hipotermia. Quando esse maior tempo de internação hospita-
quadro já está instalado é muito difícil lar, maiores índices de complicações
de reverter e é, consequentemente, as- pós-operatórias e mortalidade. A te-
sociado a uma mortalidade elevada, e,
portanto requer uma vigilância elevada rapia nutricional perioperatória tem
e uma ação rápida. Todos os três com- papel fundamental na melhora dos
ponentes individualmente aumentam resultados clínicos
a probabilidade de morte. No entanto,
quando todos os três ocorrem em con- Pode ser realizada pela via enteral
junto, um pode, adicionalmente, piorar (TNE), parenteral (TNP) ou ambas. A
os efeitos dos outros causando o que é
TNE parece ser a opção preferencial
conhecido como “um ciclo vicioso, resul-
tando em morte”. no pós-operatório de pacientes trau-
matizados. A TNP deve estar reser-
vada a aqueles que estão incapazes
Medidas específicas para corrigir a de tolerar a terapia enteral ou como
hipotermia incluem controle da expo- complementação a mesma.
sição física, administração de líquidos
aquecidos e reaquecimento passi-
SE LIGA! A analgesia epidural contínua
vo com cobertores e dispositivos de a nível torácico diminui o íleos paralítico
ar forçado. A rápida identificação e após procedimentos abdominais. A eli-
controle do sangramento é vital para minação do íleos permite a introdução
preservar a temperatura normal. O precoce da nutrição entérica, fator im-
portante na diminuição do risco de com-
monitoramento contínuo da tempe- plicações infecciosas.
ratura é essencial para garantir que
a hipotermia leve não piore. No caso
de hipotermia moderada ou grave e A avaliação do status inicial da prote-
coagulopatia, pode ser necessário re- ína é uma das ferramentas diagnósti-
aquecimento central. cas utilizadas para avaliar a presença
de desnutrição. O status da proteína
é particularmente importante no pa-
11. SUPORTE ciente cirúrgico porque prediz a ci-
NUTRICIONAL catrização de feridas e complicações
No trauma, a terapia nutricional pre- cirúrgicas.
coce deve iniciar logo que houver es- • A albumina sérica tem a meia-vi-
tabilidade hemodinâmica, preferen- da mais longa em 18 a 20 dias e
cialmente, até 48 horas da admissão é o parâmetro mais utilizado. A al-
bumina sérica baixa (<2,2 g / dL)
REMIT 24

é um marcador de um estado ca- • A pré-albumina sérica (transtirreti-


tabólico negativo e um preditor de na) tem a meia-vida mais curta em
mau resultado. O estresse cirúrgi- 2 a 3 dias. A pré-albumina respon-
co, queimaduras, infecção, outros de rapidamente ao aparecimento
estresses agudos, doença hepá- de catabolismo ou inflamação e
tica e doença renal diminuem os aumenta rapidamente quando se
níveis séricos de albumina. Nem resolve. Em geral, as citocinas in-
a fome nem a suplementação têm flamatórias reduzem o nível de sín-
impacto nos níveis. tese de pré-albumina pelo fígado,
podem ser reduzidas com doenças
• A transferrina sérica tem uma
renais e hepáticas e também por
meia-vida intermediária de 8 a 9
vazamento capilar.
dias e reflete a resposta inflamató-
ria sistêmica recente. A transferri- • A proteína C reativa é um reagen-
na também reflete o status do fer- te de fase aguda. Pode ser usado
ro, e a baixa transferrina deve ser para ajudar a determinar se a al-
considerada um indicador do sta- bumina, a transferrina e a pré-al-
tus da proteína apenas na configu- bumina são reduzidas devido a um
ração do ferro sérico normal. processo inflamatório ou devido à
desnutrição.

VALORES NORMAIS DEPLEÇÃO


PROTEÍNA SÉRICA DEPLEÇÃO LEVE DEPLEÇÃO GRAVE
MÉDIOS MODERADA
Albumina (g/dL) > 3,5 3,0 – 3,5 2,1 – 3,0 < 2,2
Transferrina (mg/dL) > 180 150 – 180 100 – 150 < 100
Pré-albumina (mg/dL) > 15 10 – 15 5 – 10 <5
Tabela 3. Classificação da desnutrição segundo níveis de proteína sérica. Fonte: CARUSO, 2014.
REMIT 25

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Townsend Jr et al. Sabiston – Textbook of surgery – The biological basis of modern surgical
practice. 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
J.P. Desborough; The stress response to trauma and surgery; British Journal of Anaesthesia
85 (1): 109-17 (2000).
Hastings, J., Krepska, A., & Roodenburg, O. (2014). The metabolic and endocrine response to
trauma. Anaesthesia and Intensive Care Medicine, 15(9), 432–435. https://doi.org/10.1016/j.
mpaic.2014.06.012
Burton, D., Nicholson, G., & Hall, G. (2004). Endocrine and metabolic response to sur-
gery. Continuing Education in Anaesthesia, Critical Care & Pain, 4(5), 144–147. https://doi.
org/10.1093/bjaceaccp/mkh040
Jess P, Schultz K, Bendtzen K, Nielsen OH. Systemic inflammatory responses during lapa-
roscopic and open inguinal hernia repair: a randomized prospective study. Eur J Surg 2000;
166:540-544.
Rixen D, Siegel JH. Metabolic correlates of oxigen debt predict posttrauma early acute res-
piratory distress syndrome and the related cytokine response. J Trauma 2000; 49:392-403.
Bicudo, A.S. - Terapia nutricional precoce no trauma: após o A, B, C, D, E, a importância do F
(FEED) - Rev. Col. Bras. Cir. 2013; 40(4): 342-346
Gestosa Sandra; Alterações Endócrinas ao Stress, in Fundamentos de Anestesia em Orto-
pedia; 2006,16; 105-110.
Koo DJ, Chaudry IH, Wang P. Mechanism of hepatocellular dysfunction during sepsis: the
role of gut-derived norepinephrine. Int J Mol Med. 2000;5:457-65.
Clínica cirúrgica / editores Joaquim José Gama-Rodrigues, Marcel Cerqueira Cesar Machado,
Samir Rasslan. – Barueri, São Paulo: Manole, 2008.
CARUSO, Lúcia et al. Triagem e avaliação nutricional em adultos. Manual da equipe multi-
disciplinar de terapia nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São
Paulo-HU/USP, p. 15-21, 2014.
REMIT 26

Você também pode gostar