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Álgebra Linear e Geometria Analı́tica

4 - Espaços Vectoriais

Departamento de Matemática
FCT/UNL

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Programa

1 Matrizes
2 Sistemas de Equações Lineares
3 Determinantes
4 Espaços Vectoriais
5 Aplicações Lineares
6 Valores e Vectores Próprios
7 Produto Interno, Produto Externo e Produto Misto
8 Geometria Analı́tica

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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

Definição
Seja E um conjunto não vazio e K ∈ {R, C}. Suponhamos definidas duas
operações:
uma que designamos por adição em E que é uma operação binária:

+ :E × E → E
(a, b) 7→ a + b

outra operação, que denominamos multiplicação externa:

· :K × E → E
(α, u) 7→ α · u (ou simplesmente αu)

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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Definição
Dizemos que E , com estas duas operações, é um espaço vectorial sobre K ou que
(E , +, ·) é um espaço vectorial sobre K se
1 A adição tem as propriedades:
(A1 ) u + v = v + u.
(A2 ) (u + v ) + w = u + (v + w ).
(A3 ) Existe 0E ∈ E tal que para qualquer u ∈ E se tem
u + 0E = 0E + u = u.
(A4 ) Para cada u ∈ E existe−u ∈ E tal que u + (−u) = −u + u = 0E .
para quaisquer u, v , w ∈ E .
2 A multiplicação externa goza das seguintes propriedades:
(M1 ) α(u + v ) = αu + αv .
(M2 ) (α + β)u = αu + βu.
(M3 ) (αβ)u = α(βu).
(M4 ) 1u = u,
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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Definição
aos elementos de E chamamos vectores
aos elementos de K chamamos escalares
se K = C dizemos que E é um espaço vectorial complexo
se K = R dizemos que E é um espaço vectorial real

Exemplo
K é um espaço vectorial sobre K, com as operações usuais de adição
e multiplicação de elementos de K. Assim,
R é um espaço vectorial sobre R
C é um espaço vectorial sobre C.
Note que C é um espaço vectorial sobre R
mas R não é um espaço vectorial sobre C. (Porquê?)
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4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

Exemplo
Mm×n (K), com a operação de adição usual de matrizes e com a
operação de multiplicação de um elemento de K por uma matriz,
definidas no Capı́tulo 1, é um espaço vectorial sobre K.
Kn , com a operação usual de adição de n-uplos, dada por

∀(a1 ,...,an ),(b1 ,...,bn )∈Kn (a1 , . . . , an )+(b1 , . . . , bn ) = (a1 +b1 , . . . , an +bn )

e com a operação de multiplicação de um escalar por um n-uplo dada


por

∀α∈K ∀(a1 ,...,an )∈Kn α·(a1 , . . . , an ) = (αa1 , . . . , αan ),

é um espaço vectorial sobre K.

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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Exemplo
Kn [x], o conjunto de todos os polinómios na variável x, com coeficientes em
K, de grau menor ou igual a n, com n ∈ N0 , isto é,

Kn [x] = {an x n + · · · + a1 x + a0 : an , . . . , a1 , a0 ∈ K}.

Kn [x] com as operação de adição usual de polinómios, dada por


∀(an x n +···+a1 x+a0 ),(bn x n +···+b1 x+b0 )∈Kn [x]

(an x n + · · · + a1 x + a0 )+(bn x n + · · · + b1 x + b0 ) =

= (an + bn )x n + · · · + (a1 + b1 )x + (a0 + b0 )


e com a multiplicação usual de um escalar por um polinómio, dada por
∀α∈K ∀(an x n +···+a1 x+a0 )∈Kn [x]

α·(an x n + · · · + a1 x + a0 ) = (αan )x n + · · · + (αa1 )x + (αa0 ),

é um espaço vectorial sobre K.


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4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

Observação
Cn [x] é um espaço vectorial sobre R
Rn [x] não é um espaço vectorial sobre C.

Exemplo
Representamos por K[x] o conjunto de todos os polinómios na
variável x, com coeficientes em K (sem restrição do grau).
Podemos afirmar que K[x] , com as operações usuais de adição de
polinómios e de multiplicação de um elemento de K por um
polinómio, é um espaço vectorial sobre K.

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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Exemplo
A - o conjunto dos pontos do plano (ou do espaço).
−→
vector AB - o segmento orientado com origem no ponto A e extremidade
final no ponto B (A e B de A);
VA - o conjunto dos vectores aplicados com origem no ponto A.
VA com a adição dada pela regra do paralelogramo:
C D
. . . . . . . . . . . . . . . . . .
. .. .
1 .
−→ −→ −→   .. 
AB + AC = AD  .


. ..
-. .


A B
−→
e multiplicação externa que a cada real α e a cada vector AB associa o
−→ −→ −→
vector αAB cuja direcção é a do vector AB,o sentido é o de AB se α > 0 e
−→ → −
é o contrário se α < 0 (se α = 0 então AB = 0 ) e cujo comprimento é
−→ −→
kαABk = |α| kABk
é um espaço vectorial sobre R (isto é, um espaço vectorial real).
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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Proposição
Seja E um espaço vectorial sobre K e seja α ∈ K e u ∈ E . Tem-se:
1 O elemento neutro da adição em E é único ( representa-se por 0E );
2 Para cada u ∈ E , o oposto de u, para a adição em E é único (o
oposto para a adição de u ∈ E representa-se por −u);
3 α0E = 0E ;
4 0K u = 0E ;
5 (−1)u = −u.
6 Se αu = 0E então α = 0 ou u = 0E .
Dem. 1. Suponhamos que z e z 0 são ambos elementos neutros da adição em E .
Como z é elemento neutro, tem-se z + z 0 = z 0 . Por outro lado, como z 0 também
é elemento neutro, verifica-se que z + z 0 = z. Logo
z = z 0.

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4. Espaços Vectoriais Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades

4.1 Espaços Vectoriais: definição, exemplos e propriedades


Dem. 4. Como 0 = 0 + 0, tem-se 0u = (0 + 0)u e aplicando a propriedade
(M2 ) da Definição de Espaco Vectorial obtemos0u = 0u + 0u. Adicionando o
oposto de 0u a cada um dos membros da igualdade anterior concluı́mos que
0E = 0u.

5. Para demonstrar que (−1)u = −u basta verificar que (−1)u + u = 0E .


Atendendo a (M4 ) e a (M2 ) da definição de espaço vectorial tem-se
(−1)u + u = (−1)u + 1u = ((−1) + 1)u = 0u.
Por 3. desta proposição concluı́mos o que pretendı́amos.
6. Suponhamos que αu = 0E .
Tem-se um, e um só, dos seguintes casos: α = 0 ou α 6= 0.
Se α = 0 então o resultado está demonstrado.
Se α 6= 0 então α−1 existe. Da igualdade αu = 0E resulta
α−1 (αu) = α−1 0E ⇔ (α−1 α)u = 0E ⇔ 1K u = 0E ⇔ u = 0E ,

conforme pretendı́amos demonstrar.


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Notação
Sendo E um espaço vectorial, é usual designar o vector 0E por vector
nulo de E ou zero de E .
Para u, v ∈ E também se utiliza a notação u − v para representar o vector
u + (−v ).

Observação
1 Na Definição Espaço Vectorial a afirmação de que E é um conjunto

não vazio é redundante dado que E tem, pelo menos, o elemento 0E .


Tal elemento pode ser o único elemento de E .
2 Na definição de espaço vectorial também é redundante a afirmação de
que a adição é comutativa.(Porquê?)

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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais


Definição
Seja E um espaço vectorial sobre K. Um subconjunto F de E diz-se um
subespaço vectorial de E , ou simplesmente um subespaço de E , se F é
também um espaço vectorial sobre K com as operações nele naturalmente
definidas por ser subconjunto de E (a que chamamos as operações
induzidas pelas operações de E no conjunto F ).

Teorema
Seja E um espaço vectorial sobre K. Tem-se que F é um subespaço de E
se, e só se, satisfizer as condições seguintes:
1 F ⊆E
2 0E ∈ F (2’. ou F 6= ∅)
3 ∀u,v ∈F u+v ∈F
4 ∀α∈K ∀u∈F αu ∈ F
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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais

Dem. Suponhamos que F é um subespaço de E . Logo, por definição de


subespaço, verificam-se trivialmente 1, 3 e 4.
Para demonstrar 2 vejamos que se tem 0E = 0F e, portanto, 0E ∈ F .
Basta atender a que, se u ∈ F então u + 0F = u, e, como F ⊆ E , verifica-se
ainda que u + 0E = u. Assim

u + 0E = u + 0F .

Adicionando a ambos os membros da igualdade anterior o vector −u resulta que

0E = 0F .
Notemos que, como 0E ∈ F , se tem 2’.
Reciprocamente, suponhamos que 1, 2, 3 e 4 são satisfeitas.
Notemos que as propriedades (A1 ), (A2 ), (M1 ), (M2 ), (M3 ) e (M4 ) da definição
de espaço vectorial, sendo válidas para quaisquer elementos de E , também são
válidas para quaisquer elementos de F pois F ⊆ E .

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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais


Dem.
Assim, e como E é um espaço vectorial sobre K, para concluir que F é também
um espaço vectorial sobre K, temos apenas de demonstrar as propriedades (A3 ) e
(A4 ), isto é, que existe elemento neutro para a adição em F (o que está garantido
por 2) e que todo o elemento v ∈ F tem, em F , oposto para a adição.
Como, por 4, para qualquer v ∈ F , se tem (−1)v ∈ F e dado que −1(v ) = −v
para todo o elemento v ∈ E , concluı́mos,que
−v ∈ F ,
conforme pretendı́amos demonstrar.
Se forem satisfeitas 1, 2’, 3 e 4 concluı́mos analogamente que F é um espaço
vectorial. Temos apenas de garantir que, em F , existe elemento neutro para a
adição.
De 20 . F 6= ∅ resulta que existe u ∈ F . Por 4, tem-se 0u ∈ F .
Como u ∈ E e se verifica 0u = 0E , concluı́mos que
0E ∈ F .
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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais


Exemplos
Consideremos o espaço vectorial R2 . Facilmente se verifica que são subespaços de
R2 :

1 F = (x, y ) ∈ R2 : y = 0 = {(x, 0) : x ∈ R} (eixo OX )
2 G = {(0, y ) : y ∈ R} (eixo OY )

3 H = (x, y ) ∈ R2 : x = y (bissectriz dos quadrantes ı́mpares)

4 L = (x, y ) ∈ R2 : x = −y (bissectriz dos quadrantes pares)

 m ∈ R,
Para cada
5

Rm = (x, y ) ∈ R2 : y = mx (recta que passa na origem e tem declive m)
No entanto

1 Rm,b = (x, y ) ∈ R2 : y = mx + b , com m, b ∈ R, b 6= 0

(recta, com declive m, que não passa na origem)



2 M = (x, y ) ∈ R2 : x 6= y

não são subespaços de R2 . (Porquê?)


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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais


Exemplos
Consideremos o espaço vectorial Mn×n (K).
São exemplos de subespaços de Mn×n (K) o conjunto das matrizes de Mn×n (K):
1 Triangulares superiores;
2 Triangulares inferiores;
3 Diagonais;
4 Escalares;
5 Simétricas;
6 Hemi-simétricas;
7 Com a diagonal principal nula.
Não são subespaços de Mn×n (K) o conjunto das matrizes de Mn×n (K):
1 Invertı́veis;
2 Com a diagonal principal com pelo menos um elemento não nulo.
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4. Espaços Vectoriais Subespaços vectoriais

4.2 Subespaços vectoriais


Exemplos
Seja K[x] o conjunto dos polinómios, na variável x, com coeficientes em K.
O conjunto dos polinómios de K[x] de grau inferior ou igual a r , com
r ∈ N, é um subespaço de K[x].
O conjunto dos polinómios de K[x] de grau igual a r , com r ∈ N, não
é um subespaço de K[x].

Proposição (Subespaços triviais)


Se E é um espaço vectorial sobre K então E e {0E } são subespaços
vectoriais de E .

Observação
Os subespaços de E referidos na proposição anterior designam-se por
subespaços triviais de E , sendo iguais se, e só se, E = {0E }.
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Definição
Seja E um espaço vectorial sobre K e sejam u1 , . . . , ur elementos de
E .Dizemos que v ∈ E é combinação linear dos vectores u1 , . . . , ur se
existem escalares α1 , . . . , αr ∈ K (não necessariamente únicos) tais que

v = α1 u1 + · · · + αr ur .

Aos escalares α1 , . . . , αr chamamos os coeficientes da combinação linear e


a (α1 , . . . , αr ) a sequência dos coeficientes da combinação linear.

Exemplo
1. 0E é combinação linear de quaisquer vectores u1 , . . . , ur de um espaço
vectorial E pois
0E = 0u1 + · · · + 0ur .

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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Exemplos
2. Qualquer vector de R3 é combinação linear dos vectores
(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1) ∈ R3 pois

∀(a,b,c)∈R3 (a, b, c) = a(1, 0, 0) + b(0, 1, 0) + c(0, 0, 1).

3. Mais geralmente, qualquer vector de Kn é combinação linear dos


vectores
e1 , . . . , en
em que ei , i = 1, . . . , n, é o n-uplo com todas as componentes iguais
a 0, excepto a i-ésima componente que é igual a 1, i. e.,

e1 = (1, 0, . . . , 0),
e2 = (0, 1, 0, . . . , 0),
..
. ···
en = (0, . . . , 0, 1).
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Exemplo
4. Em R2 o vector (3, 3) é combinação linear dos vectores (1, 1), (2, 2). Os
coeficientes da combinação linear não são únicos pois
(3, 3) = 3(1, 1) + 0(2, 2),
(3, 3) = 1(1, 1) + 1(2, 2),
(3, 3) = 7(1, 1) + (-2)(2, 2).

De facto, é suficiente que em (3, 3) = α1 (1, 1) + α2 (2, 2) se tenha


α1 + 2α2 = 3.

Proposição
Seja E um espaço vectorial e u1 , . . . , ur elementos de E . O conjunto de
todas as combinações lineares dos vectores u1 , . . . , ur , isto é,
{α1 u1 + · · · + αr ur : α1 , . . . , αr ∈ K},
é um subespaço de E .
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado


Dem. Utilizemos o Critério de Subespaço Vectorial para justificar que
C = {α1 u1 + · · · + αr ur : α1 , . . . , αr ∈ K} é subespaço de E .
Trivialmente, tem-se C ⊆ E .
Atendendo a que 0E = 0u1 + · · · + 0ur , concluı́mos que 0E ∈ C.
Demonstremos que, para qualquer β ∈ K e quaisquer v , w ∈ C, se tem v + w ∈ C
e βv ∈ C.
Como v , w ∈ C, existem α1 , . . . , αr , β1 , . . . , βr ∈ K tais que
v = α1 u1 + · · · + αr ur e w = β1 u1 + · · · + βr ur .
Assim,
v + w = (α1 u1 + · · · + αr ur ) + (β1 u1 + · · · + βr ur )
= (α1 + β1 ) u1 + · · · + (αr + βr ) ur
pelo que v + w ∈ C.
Dado que
βv = β (α1 u1 + · · · + αr ur ) = (βα1 ) u1 + · · · + (βαr ) ur
tem-se βv ∈ C.
Logo C é subespaço de E .
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4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado


Definição
Sejam u1 , . . . , ur elementos de um espaço vectorial E . Chamamos
subespaço (de E ) gerado pela sequência (u1 , . . . , ur ) ou pelos vectores
u1 , . . . , ur ao conjunto de todas as combinações lineares dos vectores
u1 , . . . , ur . Tal subespaço é frequentemente denotado por hu1 , . . . , ur i, isto
é,
hu1 , . . . , ur i = {α1 u1 + · · · + αr ur : α1 , . . . , αr ∈ K}.
Se F = hu1 , . . . , ur i dizemos, ainda, que u1 , . . . , ur geram F ou que
u1 , . . . , ur são geradores de F ou que a sequência (u1 , . . . , ur ) é geradora
de F .

Exemplos
1. R3 = h(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)i.
2. Kn = he1 , . . . , en i sendo ei ∈ Kn o n-uplo com todas as componentes
nulas excepto a i-ésima componente que é igual a 1, i = 1, . . . , n.
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4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado


Exemplos
3. Quaisquer que sejam u1 , . . . , ur vectores de um espaço vectorial E
tem-se 0E ∈ hu1 , . . . , ur i
e, para i ∈ {1, . . . , r },
ui ∈ hu1 , . . . , ur i.
4. Mm×n (K) = hE11 , E12 , . . . , E1n , E21 , E22 , . . . , E2n , . . . , Em1 , Em2 , . . . , Emn i
em que Eij é a matriz de Mm×n (K) com todas as entradas nulas
excepto a entrada (i, j) que é igual a 1, i = 1, . . . , m, j = 1, . . . , n.
5. F = (a, b, c) ∈ R3 : a = 2b + c é um subespaço de R3 .


Observemos que
F = {(2b + c, b, c) : b, c ∈ R}
(2b + c, b, c) = b(2, 1, 0) + c(1, 0, 1)
e que
donde F = h(2, 1, 0), (1, 0, 1)i.
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Exemplos
6. Kn [x] = hx n , x n−1 , . . . , x, 1i pois

∀an x n +···+a1 x+a0 ∈Kn [x] an x n +· · ·+a1 x +a0 = an ·x n +· · ·+a1 ·x +a0 ·1.

7. Em R2 , considerem-se os vectores

(1, 0), (0, 1), (−1, 3), (−3, 4).

Tem-se
R2 = h(1, 0), (0, 1), (−1, 3), (−3, 4)i
R2 = h(1, 0), (0, 1), (−1, 3)i
R2 = h(1, 0), (0, 1)i
h(1, 0)i = {(x, 0) : x ∈ R} $R2 .

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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Definição
Um espaço vectorial E diz-se finitamente gerado se existem r ∈ N e
u1 , . . . , ur ∈ E tais que
E = hu1 , . . . , ur i.

Exemplos
São espaços finitamente gerados: Kn , Mm×n (K), Kn [x],VA ;
K[x] (o conjunto dos polinómios, na variável x, com coeficientes em
K, sem restrição ao grau) não é de dimensão finita.
Se K[x] tivesse dimensão finita
∃r ∈N ∃p1 (x),...,pr (x)∈K[x] K[x] = hp1 (x), . . . , pr (x)i .
Considerando k o máximo grau dos polinómios p1 (x), . . . , pr (x).
Qualquer polinómio com grau superior a k não se pode escrever como
combinação linear dos polinómios p1 (x), . . . , pr (x) e, portanto,
hp1 (x), . . . , pr (x)i$K[x] (contradição).

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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Proposição
Seja E um espaço vectorial e sejam u1 , . . . , ur e v1 , . . . , vs vectores de E .
Tem-se
1 hu1 , . . . , ur i ⊆ hv1 , . . . , vs i
se, e só se, para todo i ∈ {1, . . . , r }, ui é combinação linear dos
vectores v1 , . . . , vs .
2 hu1 , . . . , ur i = hv1 , . . . , vs i
se, e só se, para todo i ∈ {1, . . . , r }, ui é combinação linear dos
vectores v1 , . . . , vs e para todo j ∈ {1, . . . , s}, vj é combinação linear
dos vectores u1 , . . . , ur .
Dem. 1. Suponhamos que hu1 , . . . , ur i ⊆ hv1 , . . . , vs i .
Como, para qualquer i ∈ {1, . . . , r }, se tem ui ∈ hu1 , . . . , ur i ⊆ hv1 , . . . , vs i
concluı́mos que ui ∈ hv1 , . . . , vs i o que equivale a afirmar que ui é combinação
linear dos vectores v1 , . . . , vs .
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado


Dem. Reciprocamente, suponhamos que, para qualquer i ∈ {1, . . . , r }, o vector
ui é combinação linear dos vectores v1 , . . . , vs , ou
equivalentemente, que
ui ∈ hv1 , . . . , vs i , para i = 1, . . . , r .
Dado que hv1 , . . . , vs i é um subespaço podemos afirmar que
α1 u1 + · · · + αr ur ∈ hv1 , . . . , vs i ,
para quaisquer α1 , . . . , αr ∈ K. Assim, se u ∈ hu1 , . . . , ur i então u ∈ hv1 , . . . , vs i
e, portanto,
hu1 , . . . , ur i ⊆ hv1 , . . . , vs i .

2. Imediato, atendendo a 1
Proposição
Se u1 , . . . , ur são vectores de um espaço vectorial E e existe i ∈ {1, . . . , r }
tal que ui é combinação linear dos restantes r − 1 vectores então
hu1 , . . . , ui−1 , ui , ui+1 , . . . , ur i = hu1 , . . . , ui−1 , ui+1 , . . . , ur i.
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado


Se numa sequência de vectores existe um vector que é combinação linear dos
restantes, a proposição anterior permite afirmar que esse vector pode ser
“eliminado” dando origem a uma sequência que, apesar de ter um número de
vectores inferior, gera o mesmo subespaço que a sequência inicial.
Se uma sequência de vectores de E inclui o vector 0E , tal vector pode ser
“eliminado” da sequência que o subespaço gerado por esses vectores não se altera.

Proposição
Seja S = (u1 , . . . , ur ) uma sequência de elementos de um espaço vectorial E
sobre K e seja S 0 = (u10 , . . . , ur0 ) uma sequência que se obtém de S efectuando
uma transformação de um dos seguintes tipos:
(I) Troca de ordem na sequência dos vectores ui e uj , com i 6= j.
(II) Multiplicação do vector ui , i ∈ {1, . . . , r }, por α ∈ K \ {0}.
(III) Substituição do vector ui , i ∈ {1, . . . , r }, por ui + βuj , com j ∈ {1, . . . , r },
j 6= i e β ∈ K.
Tem-se hu1 , . . . , ur i = hu10 , . . . , ur0 i .
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4. Espaços Vectoriais Combinação linear de vectores e subespaço gerado

4.3 Combinação linear de vectores e subespaço gerado

Observação
De acordo com o resultado anterior, se tivermos m vectores de Kn e os
tomarmos como linhas de uma matriz A ∈ Mm×n (K), podemos efectuar
na matriz quaisquer transformações elementares sobre linhas, em número
finito, que o subespaço (de Kn ) gerado pelas linhas não se altera, isto é,se

→ A0
A −−(linhas)
−−−−−

então o subespaço gerado pelas linhas da matriz A é igual ao subespaço


gerado pelas linhas da matriz A0 .
Em particular, podemos transformar A numa matriz A0 em forma de
escada e garantir que as linhas não nulas de A0 geram o mesmo subespaço
de Kn que as linhas da matriz A.

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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Definição
Seja E um espaço vectorial. Sejam u1 , . . . , ur ∈ E , com r ∈ N.
Para r = 1, dizemos que a sequência (u1 ) ou que o vector u1 é
linearmente dependente quando u1 = 0E .
Para r ≥ 2 dizemos que (u1 , . . . , ur ) é uma sequência linearmente
dependente, ou que os vectores u1 , . . . , ur são linearmente
dependentes,quando pelo menos um dos vectores da sequência é
combinação linear dos restantes vectores.
A uma sequência (u1 , . . . , ur ) que não é linearmente dependente
chamamos linearmente independente e dizemos que os vectores
u1 , . . . , ur são linearmente independentes.
Observação
Dois vectores são linearmente dependentes se, e só se, um dos vectores é múltiplo
escalar do outro, isto é, se é igual ao produto de um escalar pelo outro vector.
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Exemplos
1 Em R3 , a sequência ((1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)) é linearmente independente.
2 Em Kn , a sequência (e1 , . . . , en ) é linearmente independente.
3 Em Mm×n (K), a sequência
(E11 , E12 , . . . , E1n , E21 , E22 , . . . , E2n , . . . , Em1 , Em2 , . . . , Emn ) é linearmente
independente.

4 No espaço vectorial F = (a, b, c) ∈ R3 : a = 2b + c , a sequência
((2, 1, 0), (1, 0, 1)) é linearmente independente.
5 Em Kn [x], a sequência (x n , x n−1 , . . . , x, 1) é linearmente independente.
6 Em R2 ,
((1, 0), (0, 1), (−1, 3), (−3, 4)) é uma sequência linearmente
dependente.
((1, 0), (0, 1), (−1, 3)) é uma sequência linearmente dependente.
((1, 0), (0, 1)) é uma sequência linearmente independente.
((1, 0)) é uma sequência linearmente independente.
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Teorema (Critério de Independência Linear)
Seja E um espaço vectorial sobre K e sejam u1 , . . . , ur vectores de E . Os
vectores u1 , . . . , ur são linearmente independentes se, e só se,a única forma
de escrever 0E como combinação linear dos vectores u1 , . . . , ur é tomando
todos os coeficientes da combinação linear iguais a zero, isto é, se, e só se,

α1 u1 + · · · + αr ur = 0E =⇒α1 = · · · = αr = 0.

Tal equivale a afirmar que os vectores u1 , . . . , ur são linearmente


dependentes se, e só se,existem α1 , . . . , αr ∈ K não todos nulos tais que

α1 u1 + · · · + αr ur = 0E .
Dem. Suponhamos que u1 , . . . , ur são linearmente dependentes e demonstremos
que existem α1 , . . . , αn ∈ K, não todos nulos, tais que
α1 u1 + · · · + αr ur = 0E .
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear

Dem. Se r = 1 então, por definição de dependência linear, tem-se u1 = 0E .


Logo, para qualquer α ∈ K \ {0}, verifica-se que αu1 = 0E , ficando demonstrado
o que se pretendia.
Suponhamos r ≥ 2. Por hipótese existe i ∈ {1, . . . , r } tal que ui é combinação
linear dos restantes r − 1 vectores. Sejam

α1 , . . . , αi−1 , αi+1 , . . . , αr ∈ K

tais que
ui = α1 u1 + · · · + αi−1 ui−1 + αi+1 ui+1 + · · · + αr ur .
Como

α1 u1 + · · · + αi−1 ui−1 + (−1)ui + αi+1 ui+1 + · · · + αr ur = 0E ,

concluı́mos o que pretendı́amos.

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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear

Exemplo
Em R4 , utilizemos o Critério de Independência Linear para determinar se a
sequência S = ((1, 1, 1, −1), (0, −1, 0, 2), (1, 0, 1, 1)) é linearmente
independente.
Se α1 (1, 1, 1, −1) + α2 (0, −1, 0, 2) + α3 (1, 0, 1, 1) = (0, 0, 0, 0) isto é, se
(α1 + α3 , α1 − α2 , α1 + α3 , −α1 + 2α2 + α3 ) = (0, 0, 0, 0) então


 α1 + α3 = 0
α1 − α2 = 0

.
α + α3 = 0
 1


−α1 + 2α2 + α3 = 0

A sequência S é linearmente independente se, e só se, o sistema


homogéneo anterior, AX = 0, tem apenas a solução (0, 0, 0), ou
equivalentemente, se este sistema é possı́vel determinado.
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Exemplo
Tal sucede se, e só se, a matriz  
1 0 1
 1 −1 0 
A= 
 1 0

1 
−1 2 1

r(A) = 3 = número de incógnitas.


verifica
Cálculos simples permitem concluir que r(A) = 2 e, portanto, a sequência
S é linearmente dependente.

Proposição
Seja E um espaço vectorial e sejam u1 , . . . , ur vectores de E . Os vectores
u1 , . . . , ur são linearmente independentes se, e só se,para todo o vector
que se possa escrever como combinação linear de u1 , . . . , ur (isto é, vector
de hu1 , . . . , ur i) os coeficientes da combinação linear são únicos.
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Proposição
Seja S = (u1 , . . . , ur ) uma sequência de vectores de um espaço vectorial E e seja
S 0 = (u10 , . . . , ur0 ) uma sequência que se obtenha de S efectuando um número
finito de transformações dos tipos (I), (II), (III) descritos anteriormente.
Tem-se, S é linearmente dependente (respectivamente, independente) se, e só se,
S 0 é linearmente dependente (respectivamente, independente).
Proposição
Seja E um espaço vectorial e sejam u1 , . . . , ur vectores de E linearmente
independentes. Se v ∈ E não é combinação linear dos vectores u1 , . . . , ur
tem-se:
1 u , . . . , u , v são linearmente independentes.
1 r
2 hu1 , . . . , ur i $ hu1 , . . . , ur , v i.

Dem. 1. Consideremos que v não é combinação linear dos vectores linearmente


independentes u1 , . . . , ur e demonstremos que u1 , . . . , ur , v são linearmente
independentes.
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4. Espaços Vectoriais Dependência e independência linear

4.4 Dependência e independência linear


Dem. Suponhamos que u1 , . . . , ur , v são linearmente dependentes e cheguemos
a uma contradição.
Se u1 , . . . , ur , v são linearmente dependentes então, pelo Critério de
Independência Linear, existem α1 , . . . , αr , αr +1 ∈ K, não todos nulos, tais que
α1 u1 + · · · + αr ur + αr +1 v = 0E .
Tem-se αr +1 = 0 ou αr +1 6= 0.
Se αr +1 = 0 então α1 u1 + · · · + αr ur = 0E e, como u1 , . . . , ur são linearmente
independentes, concluı́mos que α1 = · · · = αr = 0, o que contradiz a hipótese de
α1 , . . . , αr , αr +1 não serem todos nulos.
Se αr +1 6= 0 então, de α1 u1 + · · · + αr ur + αr +1 v = 0E , resulta
αr +1 v = (−α1 )u1 + · · · + (−αr )ur ,
ou ainda, v = −αr−1 −1
 
+1 α1 u1 + · · · + −αr +1 αr ur , o que contradiz a hipótese de
v não ser combinação linear dos vectores u1 , . . . , ur .
Logo os vectores u1 , . . . , ur , v são linearmente independentes.
2.(Exercı́cio)
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão


Definição
Seja E um espaço vectorial e (u1 , . . . , un ) uma sequência de vectores de E .
Dizemos que (u1 , . . . , un ) é uma base de E se é uma sequência geradora
de E e linearmente independente.
Convenciona-se que se E = {0E } então o conjunto vazio é base de E .

Observação
Em R2 , tem-se:
((1, 0), (0, 1)) é uma sequência geradora de R2 e é linearmente
independente.
((1, 0), (0, 1), (−1, 3)) é uma sequência geradora de R2 mas não é
linearmente independente.
((1, 1), (2, 2)) não é geradora de R2 e não é linearmente independente.
((1, 1)) não é geradora de R2 mas é linearmente independente.
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão


Proposição
Num espaço vectorial E finitamente gerado qualquer sequência geradora
de E tem um número de vectores superior ou igual ao número de vectores
de qualquer sequência linearmente independente.
Dem. Seja (u1 , . . . , ur ) uma sequência linearmente independente de vectores de
E e seja (v1 , . . . , vs ) uma sequência geradora de E .
Pretendemos demonstrar que s ≥ r .
Suponhamos que s < r e cheguemos a uma contradição.
Como u1 , . . . , ur ∈ E e E = hv1 , . . . , vs i, concluı́mos que
uj ∈ hv1 , . . . , vs i , j = 1 . . . , r .
Sejam aij ∈ K, i = 1, . . . , s, j = 1, . . . , r , tais que
u1 = a11 v1 + · · · + as1 vs
..
.
ur = a1r v1 + · · · + asr vs .
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão


Dem. Seja  
a11 ··· a1r
A=  ···  ∈ Ms×r (K).
as1 ··· asr

Como s < r , podemos afirmar que o sistema homogéneo AX = 0 é indeterminado


pois um sistema homogéneo é sempre possı́vel e, neste caso, tem-se
r(A) ≤ s < r = número de incógnitas.
Seja (α1 , . . . , αr ) ∈ Kr uma solução não nula de tal sistema, isto é,
   α1  
0

a11 ··· a1r
.   . 
 ···  ..  =  .. ,
as1 ··· asr
αr 0

ou equivalentemente,

 a11 α1 + · · · + a1r αr = 0
··· ,
as1 α1 + · · · + asr αr = 0

com α1 , . . . , αr não todos nulos.


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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão


Dem. Tem-se
α1 u1 + · · · + αr ur =
= α1 (a11 v1 + · · · + as1 vs ) + · · · + αr (a1r v1 + · · · + asr vs )
= (α1 a11 + · · · + αr a1r )v1 + · · · + (α1 as1 + · · · + αr asr )vs
= (a11 α1 + · · · + a1r αr )v1 + · · · + (as1 α1 + · · · + asr αr )vs
= 0v1 + · · · + 0vs = 0E ,
com α1 , . . . , αr não todos nulos. Pelo Critério de Independência Linear, chegamos
a uma contradição com a hipótese de (u1 , . . . , ur ) ser uma sequência linearmente
independente.
Proposição
Se um espaço vectorial E admite uma base com n elementos então todas
as bases de E têm n elementos.
Dem. Dado que o resultado é trivial para n = 0 consideramos n ≥ 1.
Suponhamos que B = (u1 , . . . , un ) e B 0 = (v1 , . . . , vp ) são bases de E .
0
Como B é uma sequência geradora de E e B é uma sequência linearmente
independente concluı́mos, pela Proposição anterior, que n ≥ p.
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Dem. Por outro lado, como B 0 é uma sequência geradora de E e B é uma


sequência linearmente independente, a Proposição anterior permite também
concluir que p ≥ n. Logo p = n.

Definição
Seja E um espaço vectorial que admite uma base com n elementos, n ∈ N.
Dizemos que E tem dimensão n e escrevemos dim E = n.

Observação
Como convencionámos que o conjunto vazio é base de E = {0E } então,
neste caso, dim E = 0.
Um espaço vectorial que como K[x] não é finitamente gerado diz-se de
dimensão infinita.

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Exemplos
1 dim Kn = n, dim Mm×n (K) = mn e dim Kn [x] = n + 1.

2 Se D é o conjunto das matrizes diagonais de Mn×n (K) então


dim D = n.

3 Se T é o conjunto das matrizes triangulares superiores de Mn×n (K)


então dim T = n + (n − 1) + (n − 2) + · · · + 1 = n(n+1)
2 .

4 C é um espaço vectorial sobre C, mas também é um espaço vectorial


sobre R. No primeiro caso, a sua dimensão é 1 e no segundo caso é 2.
(Porquê?) Escrevemos então dimC C = 1 e dimR C = 2.

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão


Exemplo
Seja F o subespaço de M2×2 (R) definido por
n  o
a a+b
F = b −b
: a, b ∈ R .

Tem-se
n     o D   E
1 1 0 1 1 1 0 1
F = a 0 0
+b 1 −1
: a, b ∈ R = 0 0
, 1 −1
.

Como nenhuma das matrizes geradoras de F é um múltiplo escalar da


outra, a sequência    
1 1 0 1
B= 0 0
, 1 −1

é linearmente independente e, portanto, é uma base de F . Logo

dim F = 2.
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Proposição
Seja E um espaço vectorial finitamente gerado. São equivalentes as
afirmações:
1 dim E = n.

2 Existe uma sequência geradora, com n vectores de E , e qualquer


sequência geradora de vectores de E tem, no mı́nimo, n elementos.

3 Existe uma sequência linearmente independente, com n vectores de E ,


e qualquer sequência linearmente independente de vectores de E tem,
no máximo, n elementos.

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Proposição
Seja E um espaço vectorial finitamente gerado. São equivalentes as
afirmações:
1 dim E = n.

2 Qualquer sequência geradora de E , com n vectores , é uma base de E .

3 Qualquer sequência linearmente independente, com n vectores de E , é


uma base de E .

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Proposição
Se S = (v1 , . . . , vs ) é uma sequência geradora de um espaço vectorial E
então existe uma subsequência de S que é uma base de E

Esquematicamente temos:

S é sequência −−−−−−−−−→
r etapas (∗) S 0 base de E
geradora de E

(∗) Em cada uma das r etapas “elimina-se” um vector da sequência que


seja combinação linear dos restantes.

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

4.5 Bases e dimensão

Teorema do Completamento
Se S = (u1 , . . . , ur ) é uma sequência linearmente independente de vectores
de um espaço vectorial E de dimensão n então existe uma base de E que
tem S como subsequência. Ou seja, existem vectores w1 , . . . , wn−r de E ,
com n − r ≥ 0, tais que
(u1 , . . . , ur , w1 , . . . , wn−r )
é uma base de E .
Esquematicamente tem-se:

S sequência −−−−−−−−−→
linearmente independente s etapas (∗∗)
s ∈ N0
S 00 é base de E
de vectores de E

(∗∗) Em cada uma das s etapas “acrescenta-se” um vector à sequência que


não seja combinação linear dos restantes.
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

Proposição
Seja E um espaço vectorial de dimensão finita. Tem-se:
1 Se F é um subespaço de E então dim F ≤ dim E .
2 Se F é um subespaço de E e dim F = dim E então F = E .

Proposição
Seja E um espaço vectorial e sejam u1 , . . . , un vectores de E . Tem-se,
(u1 , . . . , un ) é uma base de E se, e só se, todo o vector de E é combinação
linear dos vectores u1 , . . . , un e são únicos os coeficientes da combinação
linear

Definição
Seja E um espaço vectorial sobre K e (u1 , . . . , un ) uma base de E . Para
cada v ∈ E os escalares α1 , . . . , αn ∈ K, únicos, tais que
v = α1 u1 + · · · + αn un dizem-se as coordenadas de v na base (u1 , . . . , un )
ou, mais correctamente, dizemos que (α1 , . . . , αn ) é a sequência das
coordenadas de v na base (u1 , . . . , un ).
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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

Exemplo
(1, 0), (0, 1) é uma base de R2 . Se (a, b) ∈ R2 então, como

1

(a, b) = a(1, 0) + b(0, 1),


a sequência das coordenadas de (a, b) na base anterior é (a, b).
(0, 1), (1, 0) é também uma base de R2 . Em relação a essa base,

2

como
(a, b) = b(0, 1) + a(1, 0),
a sequência das coordenadas de (a, b) é (b, a).
B = (−1, 1), (0, 1) é também uma base de R2 . Determinemos a

3

sequência das coordenadas de (a, b) em relação a essa base.


 
−α1 = a α1 = −a
(a, b) = α1 (−1, 1) + α2 (0, 1) ⇔ ⇔ .
α1 + α2 = b α2 = a + b
Assim a sequência das
 coordenadas do vector (a, b) na base
B = (−1, 1), (0, 1) é (−a, a + b).

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4. Espaços Vectoriais Bases e dimensão

Exemplo
1 O vector que em relação à base
 
B = (−1, 2, 3), (0, 3, 4), (0, 0, 5)

de R3 tem a sequência de coordenadas (7, −1, 4) é o vector

7(−1, 2, 3) + (−1)(0, 3, 4) + 4(0, 0, 5) =


=(−7, 14, 21) + (0, −3, −4) + (0, 0, 20)
=(−7, 11, 37).

Definição
Designamos por base canónica de Kn , e representamos por b.c.Kn , a base
(e1 , . . . , en ) sendo ei , i = 1, . . . , n, o n-uplo com todas as componentes
nulas excepto a i-ésima componente que é igual a 1.

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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços

Teorema
Se F e G são subespaços de um espaço vectorial E então F ∩ G é, ainda,
um subespaço de E .
Dem. Demonstremos, utilizando o Critério de Subespaço Vectorial, que se F e
G são subespaços de E então o mesmo sucede a

F ∩ G = {u ∈ E : u ∈ F ∧ u ∈ G } .

Atendendo a que F ⊆ E e G ⊆ E podemos afirmar que F ∩ G ⊆ E .


Como 0E ∈ F e 0E ∈ G concluı́mos que 0E ∈ F ∩ G .
Sejam u, v ∈ F ∩ G e demonstremos que u + v ∈ F ∩ G .
Dado que u, v ∈ F ∩ G tem-se u, v ∈ F e u, v ∈ G .
Atendendo a que u, v ∈ F e F é um subespaço concluı́mos que u + v ∈ F . De
forma idêntica, dado que u, v ∈ G e G é um subespaço tem-se u + v ∈ G . Assim,
u + v ∈ F ∩ G.
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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Dem. Finalmente, sejam α ∈ K e u ∈ F ∩ G e demonstremos que
αu ∈ F ∩ G .
Dado que u ∈ F ∩ G , podemos afirmar que u ∈ F e u ∈ G . Como F
(respectivamente, G ) é um subespaço, concluı́mos que αu ∈ F (respectivamente,
αu ∈ G ). Logo αu ∈ F ∩ G .

Exemplo
Em R4 consideremos os subespaços
F = {(a, b, c, d) ∈ R4 : a − b = 0 ∧ a − b − d = 0}
G = {(a, b, c, d) ∈ R4 : b − c = 0 ∧ d = 0}
Sabemos então que
F ∩ G = {(a, b, c, d) ∈ R4 : a − b = 0 ∧ a − b − d = 0 ∧ b − c = 0 ∧ d = 0}
e, portanto,
F ∩ G = {(a, b, c, d) ∈ R4 : a = c ∧ b = c ∧ d = 0} = {(c, c, c, 0) : c ∈
R} =
{c(1, 1, 1, 0) : c ∈ R} = h(1, 1, 1, 0)i.
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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Processo para a determinação da intersecção de dois subespaços:
1 Obter um sistema (S1 ) (resp. (S2 )) de equações lineares cujo conjunto de
soluções é F (resp. G).
2 Considerar um sistema (S) constituı́do por todas as equações de (S1 ) e por
todas as equações de (S2 ).
3 O conjunto das soluções do sistema (S) é F ∩ G .
Ao contrário do que sucede com a intersecção de subespaços, a união de
subespaços pode não ser um subespaço, conforme ilustra o exemplo seguinte.
Exemplo
Em R2 , consideremos os subespaços

F = (x, y ) ∈ R2: y = 0 e G = (x, y ) ∈ R2 : x = 0 .
Tem-se F ∪ G = (x, y ) ∈ R2 : x = 0 ∨ y = 0 .
Logo
(2, 0) ∈ F ∪ G e (0, 3) ∈ F ∪ G
mas
(2, 0) + (0, 3) = (2, 3) 6∈ F ∪ G .
Departamento de Matemática (FCT/UNL) Álgebra Linear e Geometria Analı́tica 55 / 90
4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Proposição
Sejam F e G subespaços de um espaço vectorial E . Tem-se F ∪ G é um
subespaço de E se, e só se, F ⊆ G ou G ⊆ F .

Dem. Conforme já observámos, se F ⊆ G ou G ⊆ F então F ∪ G é um


subespaço de E .
Demonstremos que se F ∪ G é um subespaço de E então F ⊆ G ou G ⊆ F .
Suponhamos que F ∪ G é um subespaço de E , com F 6⊆ G , e justifiquemos que
G ⊆ F , isto é, que para todo v ∈ G se tem v ∈ F .
Como F 6⊆ G existe u ∈ F tal que u 6∈ G . Seja u ∈ F tal que u 6∈ G e seja
v ∈ G . Notemos que u, v ∈ F ∪ G e dado que, por hipótese, F ∪ G é um
subespaço de E podemos afirmar que u + v ∈ F ∪ G .
Assim u + v ∈ F ou u + v ∈ G . Não pode ter-se u + v ∈ G porque, nesse
caso, como v ∈ G e −v ∈ G , concluı́amos que (u + v ) + (−v ) = u ∈ G , o que é
uma contradição pois, por hipótese, u 6∈ G .
Logo u + v ∈ F . Como u ∈ F e, portanto, −u ∈ F , concluı́mos que
(−u) + (u + v ) = v ∈ F , conforme pretendı́amos demonstrar.
De forma
Departamento idêntica (FCT/UNL)
de Matemática se demonstra que
Álgebra see F
Linear ∪ G éAnalı́tica
Geometria um subespaço de E e G 6⊆ F 56 / 90
4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Definição
Sejam F e G subespaços de um espaço vectorial E . Chamamos soma dos
subespaços F e G ao conjunto

F + G = {u + v : u ∈ F ∧ v ∈ G } .
Proposição
A soma de dois subespaços de um espaço vectorial E é ainda um
subespaço de E .
Exemplo
Sejam E = R2 , F= (x, y ) ∈ R2 : y = 0 e G = (x, y ) ∈ R2 : x = 0 .
 

Tem-se F ∪ G = (x, y ) ∈ R2 : x = 0 ∨ y = 0 .

Assim, por exemplo, (2, 3)6∈(F ∪ G ) e, portanto, F ∪ G $R2 .


Mas F + G = R2 , pois com (x, 0) ∈ F e (0, y ) ∈ G temos

∀(x,y )∈R2 (x, y ) = (x, 0) + (0, y ).


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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Proposição
Seja E um espaço vectorial e F e G subespaços de E tais que
F = hu1 , . . . , ur i e G = hv1 , . . . , vs i.
Tem-se
F + G = hu1 , . . . , ur , v1 , . . . , vs i.

Exemplo
Sejam F = {(x, y , z) ∈ R3 : x = y + 2z} e G = h(1, 0, −1), (0, 3, 1)i.
Temos que F = {(x, y , z) ∈ R3 : x = y + 2z} = {(y + 2z, y , z) : y , z ∈ R}.
Como para quaisquer y , z ∈ R se tem (y + 2z, y , z) = y (1, 1, 0) + z(2, 0, 1),
concluı́mos que F = h(1, 1, 0), (2, 0, 1)i.
Dado que G = h(1, 0, −1), (0, 3, 1)i, pela proposição anterior, temos

F + G = h(1, 1, 0), (2, 0, 1), (1, 0, −1), (0, 3, 1)i.

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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços

Proposição
Seja E um espaço vectorial e sejam F e G subespaços de E . São
equivalentes as afirmações:

1 Se (u1 , . . . , un ) é uma base de F e (v1 , . . . , vs ) é uma base de G


então (u1 , . . . , un , v1 , . . . , vs ) é uma base de F + G .

2 F ∩ G = {0E }.

3 Se u, u 0 ∈ F e v , v 0 ∈ G são tais que u + v = u 0 + v 0 então u = u 0 e


v = v 0.

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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços

Definição
Sejam F e G subespaços de um espaço vectorial E .
Dizemos que E é a soma directa dos subespaços F e G e escrevemos

E =F ⊕G

se para cada w ∈ E existe um único par (u, v ) com u ∈ F e v ∈ G tal que


w = u + v.

Nestas condições dizemos que F (resp. G ) é um subespaço suplementar


de G (resp. F ) em E .

Dizemos ainda que o vector u é a projecção de w sobre F , segundo G e


que o vector v é a projecção de w sobre G , segundo F .

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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Proposição
Sejam F e G subespaços de um espaço vectorial E . São equivalentes as
afirmações:
1 E = F ⊕ G.
2 E = F + G e F ∩ G = {0E }.

Exemplo

Em R3 , consideremos os subespaços F = (x, y , z) ∈ R3 : y = 0 ,
G = (x, y , z) ∈ R3 : x = 0 ∧ y = z e H = (x, y , z) ∈ R3 : y = −z .
1 - Verifiquemos que F + G = R3 . De facto, é trivial que F + G ⊆ R3 .
Para demonstrar que R3 ⊆ F + G basta atender a que, para qualquer
(x, y , z) ∈ R3 , se tem (x, y , z) = (x, 0, z − y ) + (0, y , y ), com
(x, 0, z − y ) ∈ F e (0, y , y ) ∈ G .
Assim F + G = R3 .
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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços


Exemplo
2 - Analogamente se conclui que F + H = R3 pois,
para qualquer (x, y , z) ∈ R3 , se tem (x, y , z) = (x, 0, z + y ) + (0, y , −y ),
com (x, 0, z + y ) ∈ F e (0, y , −y ) ∈ H.
3 - Atendendo à Definição de soma directa, ou alternativamente à Proposição
anterior, podemos afirmar que para os subespaços F , G e H se tem
R3 = F ⊕ G mas a soma R3 = H + F não é directa.
Tem-se ainda R3 = H ⊕ G (verifique).
4 - Atendendo a que R3 = F ⊕ G e, como (2, 3, 1) = (2, 0, −2) + (0, 3, 3) em
que (2, 0, −2) ∈ F e (0, 3, 3) ∈ G , podemos afirmar que (2, 0, −2) é a
projecção de (2, 3, 1) sobre F segundo G e que (0, 3, 3) é a projecção de
(2, 3, 1) sobre G segundo F .
Analogamente, como R3 = H ⊕ G e (2, 3, 1) = (2, 1, −1) + (0, 2, 2) em que
(2, 1, −1) ∈ H e (0, 2, 2) ∈ G , podemos afirmar que (2, 1, −1) é a projecção
de (2, 3, 1) sobre H segundo G e que (0, 2, 2) é a projecção de (2, 3, 1) sobre
G segundo H.
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4. Espaços Vectoriais Intersecção, união e soma de subespaços

4.6 Intersecção, união e soma de subespaços

Proposição
Seja E um espaço vectorial de dimensão finita. Se F é um subespaço de E
então existe um subespaço G de E tal que

E = F ⊕ G,

isto é, todo o subespaço de um espaço vectorial de dimensão finita tem


um suplementar.
Dem. Seja n = dim E . Se dim F = 0, isto é, se F = {0E } então considere-se
G = E . Se dim F = n, isto é, se F = E então considere-se G = {0E }.
Suponhamos então que dim F = p, com 1 ≤ p ≤ n − 1.
Seja (u1 , . . . , up ) uma base de F . Pelo Teorema do Completamento existem
v1 , . . . , vn−p ∈ E tais que (u1 , . . . , up , v1 , . . . , vn−p ) é uma base de E .
Considerando G = hv1 , . . . , vn−p i podemos afirmar, que E = F + G e que tal
soma é directa.
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4. Espaços Vectoriais O Teorema das Dimensões

4.7 O Teorema das Dimensões


Proposição
Teorema das Dimensões
Se E é um espaço vectorial e F e G são subespaços de E de dimensão
finita então F + G e F ∩ G também têm dimensão finita e

dim(F + G ) = dim F + dim G − dim(F ∩ G ).

Observação
Se F e G são subespaços de um espaço vectorial E são equivalentes as
afirmações:
1 F ∩ G = {0E },
2 dim(F ∩ G ) = 0,
3 dim(F + G ) = dim F + dim G .
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4. Espaços Vectoriais O Teorema das Dimensões

4.7 O Teorema das Dimensões


Dem. Se F e G têm dimensão finita então o mesmo sucede a F + G . Como F
tem dimensão finita e F ∩ G é um subespaço de F , podemos afirmar que F ∩ G
tem dimensão finita.
Demonstremos que dim(F + G ) = dim F + dim G − dim(F ∩ G ) considerando três
casos.
1. F = {0E } ou G = {0E }.
Se F = {0E } então F + G = G e F ∩ G = {0E }. Logo
dim(F + G ) = dim G = dim F + dim G − dim(F ∩ G ).
A demonstração é análoga para G = {0E }.
2. F 6= {0E } e G 6= {0E } e F ∩ G = {0E }.
Seja (u1 , . . . , ur ) uma base de F e seja (v1 , . . . , vs ) uma base de G . Como
F ∩ G = {0E },
sabemos, por uma proposição anterior que a sequência (u1 , . . . , ur , v1 , . . . , vs )
é uma base de F + G e, portanto,
dim(F + G ) = r + s = r + s − 0
= dim F + dim G − dim(F ∩ G ).
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4. Espaços Vectoriais O Teorema das Dimensões

4.7 O Teorema das Dimensões


Dem. 3. F 6= {0E } e G 6= {0E } e F ∩ G 6= {0E }.
Sejam r = dim F , s = dim G e t = dim(F ∩ G ). Seja (w1 , . . . , wt ) uma base de
F ∩ G . Como (w1 , . . . , wt ) é uma sequência
linearmente independente de vectores de F ∩ G e, portanto, de vectores de F ,
pelo Teorema do Completamento existem y1 , . . . , yr −t ∈ F tais que
(w1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t )
é uma base de F .
Argumentos análogos permitem afirmar que existem vectores
z1 , . . . , zs−t ∈ G tais que (w1 , . . . , wt , z1 , . . . , zs−t ) é uma base de G .
Dado que
F = hw1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t i e G = hw1 , . . . , wt , z1 , . . . , zs−t i ,
podemos afirmar que
F + G = hw1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t , w1 , . . . , wt , z1 , . . . , zs−t i
= hw1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t , z1 , . . . , zs−t i .

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4. Espaços Vectoriais O Teorema das Dimensões

4.7 O Teorema das Dimensões


Dem. Utilizando o Critério de Independência Linear demonstremos que a
sequência (w1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t , z1 , . . . , zs−t ) é linearmente independente.
Sejam α1 , . . . , αt , β1 , . . . , βr −t , γ1 , . . . , γs−t ∈ K tais que

α1 w1 + · · · + αt wt + β1 y1 + · · · + βr −t yr −t +
+ γ1 z1 + · · · + γs−t zs−t = 0E .

Considerando u = α1 w1 + · · · + αt wt + β1 y1 + · · · + βr −t yr −t
= (−γ1 )z1 + · · · + (−γs−t )zs−t ,
podemos afirmar que u ∈ F ∩ G e, como F ∩ G = hw1 , . . . , wt i, existem
δ1 , . . . , δt ∈ K tais que
u = δ1 w1 + · · · + δt wt .
Dado que
u = α1 w1 + · · · + αt wt + β1 y1 + · · · + βr −t yr −t
= δ1 w1 + · · · + δt wt + 0y1 + · · · + 0yr −t

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4. Espaços Vectoriais O Teorema das Dimensões

4.7 O Teorema das Dimensões


Dem. e como (w1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t ) é linearmente independente, então

α1 = δ1 , . . . , αt = δt , β1 = 0, . . . , βr −t = 0.

Analogamente, como (w1 , . . . , wt , z1 , . . . , zs−t ) é linearmente independente, da


igualdade

α1 w1 + · · · + αt wt + 0y1 + · · · + 0yr −t + +γ1 z1 + · · · + γs−t zs−t = 0E ,

resulta α1 = · · · = αt = γ1 = · · · = γs−t = 0.
Assim a sequência (w1 , . . . , wt , y1 , . . . , yr −t , z1 , . . . , zs−t ) é linearmente
independente e, portanto, é uma base de F + G . Logo

dim(F + G ) = t + (r − t) + (s − t)
=r +s −t
= dim F + dim G − dim(F ∩ G ),

como pretendı́amos demonstrar.


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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4.8 Matrizes e Espaços Vectoriais

Nesta secção veremos como utilizar as matrizes para resolver os seguintes


problemas:
1 Determinar se uma sequência de vectores de E é linearmente
independente.
2 Determinar se um vector pertence ao subespaço gerado por uma dada
sequência de vectores.
3 Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência de
geradora.
4 Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência
linearmente independente, sendo conhecida a dimensão do espaço.
5 Verificar se duas sequências de vectores geram o mesmo espaço
vectorial.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4.8 Matrizes e Espaços Vectoriais

Recordemos que se A ∈ Mm×n (K) e

A −−(linhas)
−−−−− →B

então o subespaço gerado pelas linhas da matriz A é igual ao subespaço


gerado pelas linhas da matriz B e que as linhas de A são linearmente
independentes se, e só se, o mesmo suceder às linhas de B.

Proposição
As linhas não nulas de uma matriz em forma de escada são linearmente
independentes.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4.8 Matrizes e Espaços Vectoriais

Vejamos como, utilizando matrizes, respondemos facilmente aos problemas


anteriormente enunciados no caso do espaço vectorial Kn .

Seja F um subespaço de Kn e S = (u1 , . . . , up ) uma sequência de vectores


de F tais que F = hu1 , . . . , up i.

Seja A ∈ Mp×n (K) a matriz cuja linha i é ui , i = 1, . . . , p e seja A0 a


matriz em forma de escada equivalente por linhas a A.
u1
 
.. 
Sem exigências de rigor escrevemos 
 .  para representar a matriz cuja
up
linha i é ui , i = 1, . . . p.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

1. Determinar se uma sequência de vectores de E é linearmente independente.

0
1. A sequência
 S élinearmente independente se, e só se, A não tem linhas nulas,
u 1
. 
ou seja, r 
 ..  = p.
up

Exemplo
Considere-se a sequência de vectores de R4
S = (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3) .
 !
1 4 3 6
Tal sequência é linearmente independente se, e só se, r  0 0 0 2  = 3.
2 8 1 3
Como
     
1 4 3 6 −−−−−−−→ 1 4 3 6 1 4 3 6
−−−−−→
 0 0 0 2 l3 + (−2)l1  0
 0 0 2 l2 ←→ l3 0
 0 −5 −9  (f.e.)
2 8 1 3 0 0 −5 −9 0 0 0 2

concluı́mos que S é linearmente independente.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

2. Determinar se um vector pertence ao subespaço gerado por uma dada


sequência de vectores.

2. Determinar se um vector v pertence ao subespaço F de Kn é equivalente a


averiguar se v é combinação
 linear dos vectores da sequência S, geradora de F .

  u1
u1
. 
.   .. 

Isto é r 
 ..  = r   .
 u 
p
up
v
Exemplo


Seja F = (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3) .
Como vimos no exemplo anterior, a sequência
(1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3) é linearmente independente e, portanto,
 
Base de F = (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3) .

Determinemos se (1, 4, −2, −3) ∈ F , utilizando matrizes.


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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

2. Determinar se um vector pertence ao subespaço gerado por uma dada


sequência de vectores.

Note que
(1, 4, −2, −3) ∈ F
se, só se, (1, 4, −2, −3) se pode escrever como combinação linear dos
vectores
(1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3)
ou equivalentemente, se, e só se, as matrizes
 
  1 4 3 6
1 4 3 6  0 0 0 2 
A=  0 0 0 2  e C= 
 2 8 1

3 
2 8 1 3
1 4 −2 −3

têm a mesma caracterı́stica.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

2. Determinar se um vector pertence ao subespaço gerado por uma dada


sequência de vectores.

Vimos no exemplo anterior que r(A) = 3 e, como

     
1 4 3 6 1 4 3 6 1 4 3 6
 0 0 0 − −−−−→
2 l3 +(−2)l1  − −−−−→ −5 −9 
C = 2  0 0 0 2  0 0 −→
  
l ←→ l4 
−9  2

8 1 3 l4 +(−1)l1  0 0 −5  0 0 −5 −9 
1 4 −2 −3 0 0 −5 −9 0 0 0 2
   
1 4 3 6 1 4 3 6
−−−−−−−→ 0 0 −5 −
−9  −−−−→ 0 0 −5 −9  (f.e.),
l3 + (−1)l2  l ←→ l
0 3 4

 0 0 0 0 0 0 2 
0 0 0 2 0 0 0 0

concluı́mos que r(C ) = 3 e, portanto,

(1, 4, −2, −3) ∈ F .

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

3. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência de geradora.

3.a Uma base de F é constı́tuida pelas linhas não nulas de A0 , isto é, se
0 u1
 .. 
u1 .
   
 
 . us0
 
 ..
 −−−−−−→ 
 (linhas)  0

 (f.e.), (u10 , . . . , us0 ) é uma base de F .
 
up 
 ..


 . 
0

Exemplo
Consideremos o subespaço de R3 G = (1, −1, 0), (0, 1, 4), (2, −1, 4) e

determinemos uma base de G .


Tem-se
     
1 −1 0 −−−−−−−→ 1 −1 0 −−−−−−−→ 1 −1 0
A=  0 1 4 l3 + (−2)l1  0
 1 4 l3 + (−1)l2  0
 1 4  (f.e.).
2 −1 4 0 1 4 0 0 0

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

3. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência de geradora.

Logo, D E
G = (1, −1, 0), (0, 1, 4) .

Como a sequência  
(1, −1, 0), (0, 1, 4)

é geradora de G e é linearmente independente (note que os elementos da


sequência são as linhas não nulas de uma matriz em forma de escada)
então tal sequência é uma base de G , tendo-se dim G = 2.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

3. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência de geradora.

3. b As linhas não nulas de A0 são uma base de F . Tendo em consideração as


eventuais trocas efectuadas para obter A0 a partir de A, determinamos facilmente
uma subsequência de S que é uma base de F .

Exemplo
Se G = h(1, 2, −1), (2, 4, −2), (1, 5, 2)i então Tem-se
     
1 2 −1 −−−−−→ 1 2 −1 1 2 −1
l +(−2)l −− −−→
A=  2 4 2 1
2 l +(−1)l  0
3 1
0 0 l3 ↔ l2  0 3 3  (f.e.).
1 5 2 0 3 3 0 0 0

Analogamente ao exemplo anterior, uma base de G é ((1, 2, −1), (0, 3, 3))


mas também, tendo em atenção as trocas efectuadas, uma base de G é

((1, 2, −1), (1, 5, 2)).

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

3. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência de geradora.

Exemplo
3 : x = y + 2z e

Seja F

= (x, y , z) ∈ R

−1), (2, 0, 4), (0, 3, 1) . Vimos anteriormente
G = (1, 0, que
F + G = (1, 1, 0), (2, 0, 1), (1, 0, −1), (2, 0, 4), (0, 3, 1) .
Para obter uma base de F + G procedemos da seguinte forma:
1 1 0 1 1 0 1 1 0
     
2 0 1 −− −−−→ 0 −2 1 − −→ 0 −1 −1 −
→
l2 +(−2)l1 
l2 ↔l3 

1 0 −1 0 −1 −1 0 −2 1
 l +(−1)l 
 3 1   
 2 0 4 l4 +(−2)l1  0 −2 4   0 −2 4 
0 3 1 0 3 1 0 3 1
1 1 0 1 1 0
   
−−−−−→ 0 −1 −1 −−−−−→ 0 −1 −1
l3 +(−2)l2  l4 +(−2)l3 

0 0 3 0 0 3

l4 +(−2)l2   l5 +( 2 )l3  
l5 +3l2  3
0 0 6   0 0 0 
0 0 −2 0 0 0

Logo, uma base de F + G é  


(1, 1, 0), (0, −1, −1), (0, 0, 3) e também (1, 1, 0), (2, 0, 1), (1, 0, −1) .
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência linearmente


independente, sendo conhecida a dimensão do espaço.

4. Seja S 0 = (u1 , . . . , up ) uma sequência linearmente independente de vectores de


em subespaço F de Kn e seja s a dimensão de F . Seja S 0 = (w1 , . . . , ws ) uma
base de F . Se p < s, obtemos uma base de F ”acrescentando” s − p vectores a
S 0 , com a restrição de tais vectores pertencerem a F e a nova sequência ser
linearmente independente.
Ou seja, se 
w
  0 
w
1 1
..  −−−−−−→  .. 

 .  (linhas)  .  = W 0 (f.e.)
ws ws0
e  0 
u1 u1
 
..  −−−−−−→  .. 

 .  (linhas)  .  = U 0 (f.e.)
up up0
então considerem-se as s − p linhas de W 0 , (wi1 0
, . . . wi0s−p ) com pivôs em ı́ndice
de coluna distintos dos da matriz U 0 . Nestas condições a sequência
(u10 , . . . , up0 , wi1
0
, . . . wi0s−p ) é uma base de F .
0
Também é base de F a sequência (u1 , . . . , up , wi1 , . . . wi0s−p ).
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência linearmente


independente, sendo conhecida a dimensão do espaço.

Exemplo
Considere-se a sequência de vectores de R4
 
S = (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3) .

Como
     
1 4 3 6 −−−−−−−→ 1 4 3 6 1 4 3 6
−−−−−→
 0 0 0 2 l3 + (−2)l1  0
 0 0 2 l2 ←→ l3 0
 0 −5 −9  (f.e.)
2 8 1 3 0 0 −5 −9 0 0 0 2

concluı́mos que S é linearmente independente.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

4. Construir uma base de um espaço a partir de uma sequência linearmente


independente, sendo conhecida a dimensão do espaço.

Se acrescentarmos à sequência S, por exemplo, o vector (0, 1, 0, 0)


obtemos ainda uma sequência linearmente independente. Basta atender a
que se tem
     
1 4 3 6 1 4 3 6 1 4 3 6
 0 0 0 2 −−−−−−→ 0 0 −5 −9 −−−−−−→ 0 1 0 0 
B= (f.e.)
 
 (linhas)  (linhas)  
 2 8 1 3   0 0 0 2   0 0 −5 −9 
0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2

e r(B) = 4.

Como a sequência (1, 4, 3, 6), (0, 1, 0, 0), (0, 0, −5, 9), (0, 0, 0, 2) é
linearmente independente e tem 4 = dim(R4 ) vectores é uma base de R4 .
É também base de F (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3), (0, 1, 0, 0) .

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

5. Verificar se duas sequências de vectores geram o mesmo espaço vectorial.

5.Sejam (u1 , . . . , up ) e(v1 , . . . , vq ) sequências de vectores de Kn . Se


u1
 
 . −
 ..  −−−−−− → U 00 (f.e.r.)
(linhas)
up
,e
v1
 
 . −
 ..  −−−−−− → V 00 (f.e.r.)
(linhas)
vq
então hu1 , . . . , up i = hv1 , . . . , vq i se, e só se são iguais as linhas não nulas
das marizes U 00 e V 00 .
Exemplo
Determinemos se as sequências
((1, −1, 0), (0, 1, 4), (2, −1, 4)), ((1, 0, 4), (3, −2, 4)) e ((1, −1, 0), (0, 1, 1))
geram o mesmo subespaço de R3 .
Atendendo a que
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

5. Verificar se duas sequências de vectores geram o mesmo espaço vectorial.

       
1 −1 0 1 −1 0 1 −1 0 1 0 4
− −−−→ −−−→ − −−→
 0 1 4 l3 − 2l1  0 1 4 l3 − l2  0 1 4 l1 + l2  0 1 4  (f.e.r.),
2 −1 4 0 1 4 0 0 0 0 0 0

e
   −−→ 
1 0 4 −−−−→ 1 0 4 −1 1 0 4
3 −2 4
l2 − 3l1
0 −2 −8
l
2 2 0 1 4
(f.e.r.)
e    
1 −1 0 −−−→ 1 0 1
0 1 1
l1 + l2
0 1 1
(f.e.r.),

concluı́mos que

h(1, −1, 0), (0, 1, 4), (2, −1, 4)i = h(1, 0, 4), (3, −2, 4)i =
6 h(1, −1, 0), (0, 1, 1)i.

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Vimos que os problemas enunciados no ı́nicio desta secção podem ser


resolvidos utilizando matrizes, para E = Kn . O que sucede se E 6= Kn ?
Por exemplo, como resolver os problemas anteriores se

E = Kr [x] ou E = Mm×n (K)?

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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Observação
Para qualquer espaço vectorial E de dimensão n, se fixarmos em E
uma base B então a “correspondência”

f : E −→ Kn
u 7→ (β1 , . . . , βn )

que a cada vector u ∈ E associa a sequência das coordenadas de u na


base B (i.e. se B = (e1 , . . . , en ) então u = β1 e1 + · · · + βn en ) é uma
aplicação bijectiva.
A resolução de problemas envolvendo vectores de E = Kr [x] ou de
E = Mm×n (K) pode ser feita com vectores, respectivamente, de
Kr +1 ou de Kmn utilizando as sequências das coordenadas dos
vectores em causa em relação a uma base fixa B de E .
O mesmo raciocı́nio pode ser seguido para qualquer espaço vectorial
E de dimensão finita e assim continuar a utilizar as matrizes para
resolver os problemas.
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Exemplo
Em R3 [x], consideremos a sequência

S = x 3 + 4x 2 + 3x + 6, 2, 2x 3 + 8x 2 + x + 3 .


Verifiquemos que S é linearmente independente e determinemos uma base


de R3 [x] que tenha S como subsequência.
Considere-se em R3 [x] a base B = x 3 , x 2 , x, 1 . Em relação à base B, a


sequência das coordenadas de:


x 3 + 4x 2 + 3x + 6 é (1, 4, 3, 6),
2 é (0, 0, 0, 2),
2x 3 + 8x 2 + x + 3 é (2, 8, 1, 3).
Como vimos num exemplo anterior a sequência
 
S 0 = (1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3)

é linearmente independente
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Exemplo
e o mesmo sucede à sequência
 
(1, 4, 3, 6), (0, 0, 0, 2), (2, 8, 1, 3), (0, 1, 0, 0) .

O elemento de R3 [x] que na base B = x 3 , x 2 , x, 1 tem a sequência de




coordenadas
(0, 1, 0, 0) é 0x 3 + 1x 2 + 0x + 0 = x 2 .
Assim,
S = x 3 + 4x 2 + 3x + 6, 2, 2x 3 + 8x 2 + x + 3


é linearmente independente e

x 3 + 4x 2 + 3x + 6, 2, 2x 3 + 8x 2 + x + 3, x 2


é também linearmente independente. Como tem 4 = dim R3 [x] vectores é


uma base de R3 [x].
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Exemplo
Seja E um espaço vectorial tal que B = (e1 , e2 , e3 , e4 ) é uma base de E .
Verifiquemos que a sequência

S = (e1 + e2 + e4 , 2e1 + 2e2 + e3 + e4 )

é linearmente independente e “completemos” essa sequência de forma a


obter uma base de E , isto é, determinemos uma base de E que tenha S
como subsequência.
Em relação à base B a sequência das coordenadas de:
e1 + e2 + e4 é (1, 1, 0, 1),
2e1 + 2e2 + e3 + e4 é (2, 2, 1, 1).
Tem-se
−−−−−−−→
   
A = 12 12 01 11 l2 + (−2)l1 10 10 01 −11 (f.e.)
com
r(A) = 2
e, portanto, a sequência S é linearmente independente.
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4. Espaços Vectoriais Matrizes e Espaços Vectoriais

Exemplo
Dado que
     
1 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 1
−−−− −−−→ −1  −−−−−→
A0 =
 2 2 1 1  0 0 1 0 1 0 0 
(f.e.)
   
l + (−2)l1  l ←→ l3 
0 2 0 2
 
 0 1 0  0 1 0  0 0 1 −1 
0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1

e r(A0 ) = 4 podemos afirmar que


 
(1, 1, 0, 1), (2, 2, 1, 1), (0, 1, 0, 0), (0, 0, 0, 1)

é uma sequência linearmente independente.


Em relação à base B = (e1 , e2 , e3 , e4 ) a sequência de coordenadas de
(0, 1, 0, 0) é 0e1 + 1e2 + 0e3 + 0e4 = e2 ,
(0, 0, 0, 1) é 0e1 + 0e2 + 0e3 + 1e4 = e4 .
Logo, (e1 + e2 + e4 , 2e1 + 2e2 + e3 + e4 , e2 , e4 ) é linearmente
independente e como tem 4 = dim E vectores é uma base de E .
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