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Álgebra Linear e Geometria Analítica

Álgebra Linear e Geometria Analítica I


2020/21

Espaços vectoriais

Aula 14  Parte 2
FCUL  8/11/2021

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Espaços vectoriais

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Vectores do plano com origem num ponto xado

Seja V o conjunto dos vectores do plano com origem num ponto xo O .
Está denida
1 uma operação, chamada adição, entre vectores de V :
( u , v ) 7−→ u + v
∈V ∈V ∈V

A adição de vectores faz-se, geometricamente, pela regra do


paralelogramo (como sabem):

v
+
u
u

· v
O

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Vectores do plano com origem num ponto xado

2 uma operação, chamada multiplicação escalar, entre um número real e


um vector de V :
( α , u ) 7−→ αu
∈ R ∈V ∈V

u
1u 2u
−2 ·
O

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Vectores do plano com origem num ponto xado

Estas operações em V satisfazem as propriedades seguintes:


(A) Para quaisquer u, v , w ∈ V ,
(A1) u + v = v + u (comutatividade)
(A2) (u + v ) + w = u + (v + w ) (associatividade)
(A3) u + 0 = 0 + u = u (elemento neutro)
vector nulo
(A4) ∃u 0 ∈ V : u + u 0 = u 0 + u = 0 (existência de simétrico)
vector nulo

(E) Para quaisquer u, v ∈ V , α, β ∈ R,


(E1) (αβ)u = α(βu)
(E2) α(u + v ) = |αu {z
+ αv
}
(αu)+(αv )

(E3) (α + β)u = αu + βu
(E4) 1 · u = u

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Kn

Se n ∈ N e n > 2,

Kn = (x1 , x2 , . . . , xn ) : x1 ∈ K ∧ . . . ∧ xn ∈ K


n-uplo ordenado

Está denida
1 uma operação, chamada adição, entre elementos de Kn :
(a1 , a2 , . . . , an ) + (b1 , b2 , . . . , bn ) = (a1 + b1 , a2 + b2 , . . . , an + bn )

2 uma operação, chamada multiplicação escalar, entre um número de K


e um elemento de Kn :
α · (a1 , a2 , . . . , an ) = (αa1 , αa2 , . . . , αan )

Elemento neutro para a adição em Kn : 0 = (0, 0, . . . , 0)

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Kn

Estas operações em Kn satisfazem as propriedades seguintes:


(A) Para quaisquer u, v , w ∈ Kn ,
(A1) u + v = v + u (comutatividade)
(A2) (u + v ) + w = u + (v + w ) (associatividade)
(A3) u + 0 = 0 + u = u (elemento neutro)
vector nulo
(A4) ∃u 0 ∈ Kn : u + u 0 = u 0 + u = 0 (existência de simétrico)
vector de Kn

(E) Para quaisquer u, v ∈ Kn , α, β ∈ K,


(E1) (αβ)u = α(βu)
(E2) α(u + v ) = |αu {z
+ αv
}
(αu)+(αv )

(E3) (α + β)u = αu + βu
(E4) 1 · u = u

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Mm×n (K)

Está denida
1 uma operação, chamada adição, entre elementos de Mm×n (K):
[aij ] + [bij ] = [cij ] , onde cij = aij + bij
∈ Mm×n (K) ∈ Mm×n (K) ∈ Mm×n (K)

2 uma operação, chamada multiplicação escalar, entre um número de K


e uma matriz de Mm×n (K):

α · [aij ] = [bij ] , onde bij = αaij


∈K ∈M ∈ Mm×n (K)
m×n (K)

Elemento neutro para a adição em Mm×n (K): 0 = [aij ]m×n , onde aij = 0

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Mm×n (K)

Estas operações em Mm×n (K) satisfazem as propriedades seguintes:


(A) Para quaisquer A, B, C ∈ Mm×n (K),
(A1) A + B = B + A (comutatividade)
(A2) (A + B) + C = A + (B + C ) (associatividade)
(A3) A + 0 = 0 + A = A (elemento neutro)
matriz de Mm×n (K)
(A4) ∃A0 ∈ Mm×n (K) : A + A0 = A0 + A = 0 (existência de simétrico)
matriz de Mm×n (K)

(E) Para quaisquer A, B ∈ Mm×n (K), α, β ∈ K,


(E1) (αβ)A = α(βA)
(E2) α(A + B) = |αA {z
+ αB
}
(αA)+(αB)

(E3) (α + β)A = αA + βA
(E4) 1 · A = A

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Operações binárias
Conjunto A não vazio.

A × A = (a, b) : a ∈ A ∧ b ∈ A
Denição
Chama-se operação binária em A a qualquer aplicação de A×A em A:
uma aplicação f : A × A −→ A associa a cada par ordenado (a, b) de
elementos de A um único elemento de A, representado por f (a, b):
f : A × A −→ A
(a, b) 7−→ f (a, b)

Notação
Dada uma operação binária f : A × A −→ A no conjunto A e dados
a, b ∈ A, é habitual escrevermos a f b em vez de f (a, b).
Para representar operações binárias é habitual usar símbolos tais como
+, ×, ·, ∗, ⊕, ⊗,
Podemos assim escrever a + b, a × b, a · b, a ∗ b, a ⊕ b, a ⊗ b, a b
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Operações binárias
Exemplos :
São operações binárias:
a adição e a multiplicação em R.
a adição de vectores no conjunto dos vectores aplicados num ponto
xado.
a adição de vectores em Kn .
a adição de matrizes em Mm×n (K).
∗ : R × R −→ R adição em R

(a, b) 7−→ a ∗ b = a + b + 2ab


adição em R

∗ : R × R −→ R
(a, b) 7−→ a ∗ b = 5
e qualquer aplicação A × A −→ A que se quiser denir num
conjunto A qualquer não vazio.
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Operações binárias

Denição
Dada uma operação binária ∗ num conjunto A, dizemos que
∗ é comutativa se, para quaisquer a, b ∈ A,
a∗b =b∗a

∗ é associativa se, para quaisquer a, b, c ∈ A,


(a ∗ b) ∗ c = a ∗ (b ∗ c)

um elemento u∈A é elemento neutro para ∗ se, para qualquer a ∈ A,


a∗u =u∗a=a

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Operações binárias

Observação:
O elemento neutro, quando existe, é único.

Dem.:

Suponhamos que u e v são elementos neutros para ∗ .


Por u ser elemento neutro, tem-se ∀a ∈ A, u ∗ a = a.
Em particular, tomando a = v ,

u∗v =v

Por v ser elemento neutro, tem-se ∀a ∈ A, a ∗ v = a.


Em particular, tomando a = u ,

u∗v =u
Logo u = v .
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Operações binárias

Quando representamos uma operação binária pelo símbolo +,


chamamos-lhe adição.
Neste caso, ao elemento neutro, se existir, chamamos-lhe zero e
representamo-lo por 0, se não houver perigo de confusão.
Quando representamos uma operação binária pelo símbolo × ou pelo
símbolo ·, chamamos-lhe multiplicação.
Neste caso, podemos simplesmente escrever ab para representar
a×b ou a · b.

Já usávamos 0 para representar o elemento neutro da adição


no conjunto dos vectores aplicados num ponto xado;
em Kn ;
em Mm×n (K).

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Operações binárias
Denição
Dada uma operação binária + num conjunto A com elemento neutro, 0,
dados a, a0 ∈ A, dizemos que a0 é simétrico de a se
a + a0 = a0 + a = 0

Observação:
Se a operação + for associativa, o simétrico de a, quando existe, é único.

Dem.:

Suponhamos que a0 e a00 são simétricos de a.


Então a + a0 = a0 + a = 0 e a + a00 = a00 + a = 0.
Logo a0 = a0 + 0 (porque 0 é elemento neutro)
= a0 + (a + a00 )
= (a0 + a) + a00 (porque ∗ é associativa)
= 0 + a00
= a00 (porque 0 é elemento neutro)
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Operações binárias

Notação
Dada uma operação binária + num conjunto A com elemento neutro e
associativa, o simétrico de a ∈ A, se existir, representa-se por −a (vimos
que é único).

Assim, por denição,

a + (−a) = (−a) + a = 0

Notação
Escrevemos
a−b em vez de a + (−b).
−a + b em vez de (−a) + b .

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Multiplicação escalar
Conjunto A não vazio.

K × A = (α, a) : α ∈ K ∧ a ∈ A
Denição
Chama-se multiplicação escalar de K sobre A a qualquer aplicação de
K×A em A: K × A −→ A
A imagem do par (α, a) ∈ K × A é um elemento de A que habitualmente
se representa por α· a ou αa .

Exemplos :
Sendo V o conjunto dos vectores do plano com origem num ponto xado, a
multiplicação usual de um número real por um elemento de V dene uma
multiplicação escalar de R sobre V .
A multiplicação usual de um elemento de K por um elemento de Kn dene
uma multiplicação escalar de K sobre Kn :
α · (a1 , a2 , . . . , an ) = (αa1 , αa2 , . . . , αan )
A multiplicação usual de um elemento de K por um elemento de Mm×n (K)
dene uma multiplicação escalar de K sobre Mm×n (K):
α · [aij ] = [bij ], onde bij = αaij
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Espaços vectoriais

Nos exemplos anteriores, tais como Kn e Mm×n (K), há vários resultados


que são consequência das propriedades que as operações satisfazem e que
não dependem da natureza dos elementos (se são vectores, matrizes, . . . ).
Por isso, dene-se o seguinte.

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Espaços vectoriais

Denição
Seja V um conjunto não vazio e suponhamos que
◦ em V está denida uma operação de adição +;
◦ está denida uma multiplicação escalar de K sobre V .
Dizemos que V é um espaço vectorial ou espaço linear sobre K se
(A) (A1) a adição for comutativa;
(A2) a adição for associativa;
(A3) existir elemento neutro para a adição;
(A4) todo o elemento de V tiver simétrico;
(E) para quaisquer u, v ∈ V , α, β ∈ K,
(E1) (αβ)u = α(βu);
(E2) α(u + v ) = αu + αv ;
(E3) (α + β)u = αu + βu ;
(E4) 1 · u = u .

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Se K = R, dizemos que é um espaço vectorial real.

Se K = C, dizemos que é um espaço vectorial complexo.

Aos elementos de um espaço vectorial chamamos vectores.

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Exemplos :
O conjunto V dos vectores do plano com origem num ponto xado é,
como vimos, um espaço vectorial real considerando as operações
usuais de adição de vectores e de multiplicação escalar.
Kn é, como vimos, um espaço vectorial sobre K considerando as
operações usuais de adição de vectores e de multiplicação escalar.
Assim
◦ Rn é um espaço vectorial real;
◦ Cn é um espaço vectorial complexo.

Cn é um espaço vectorial real considerando as operações usuais de


adição de vectores e de multiplicação escalar.

Rn não é um espaço vectorial complexo considerando as operações


usuais de adição de vectores e de multiplicação escalar, porque αu ,
com α ∈ C e u ∈ Rn , nem sempre é um elemento de Rn (por exemplo
quando α = i e u = (1, 0, . . . , 0) ).

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Exemplos (cont.):
Mm×n (K) é, como vimos, um espaço vectorial sobre K considerando
as operações usuais de adição de matrizes e de multiplicação de um
escalar por matrizes.
Neste espaço vectorial, os vectores são as matrizes de Mm×n (K).

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Exemplos (cont.):
Seja R[x ] o conjunto dos polinómios na variável x de coecientes
reais.
R[x] munido da adição usual de polinómios e da multiplicação usual
de um número real por um polinómio é um espaço vectorial real.
Neste espaço vectorial, os vectores são os polinómios de R[x].

Seja Rn [x ] o conjunto dos polinómios na variável x de coecientes


reais de grau menor ou igual que n (n ∈ N xado).
Rn [x] munido da adição usual de polinómios e da multiplicação usual
de um número real por um polinómio é um espaço vectorial real.
Neste espaço vectorial, os vectores são os polinómios de Rn [x].

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Exemplos (cont.):
Seja F (R) o conjunto das funções de R em R.
I Podemos denir a adição em F(R) por:
dadas f : R −→ R e g : R −→ R,
f + g : R −→ R é denida por
(f + g )(x) = f (x) + g (x), para todo o x ∈ R.
I Podemos denir a multiplicação escalar de R sobre F(R) por:
dados α ∈ R e f : R −→ R,
αf : R −→ R é denida por
(αf )(x) = αf (x), para todo o x ∈ R.

F(R) munido desta adição e desta multiplicação escalar é um espaço


vectorial real.
Neste espaço vectorial, os vectores são as funções de F(R).
O vector nulo é a função que é constantemente igual a zero.

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Exemplos (cont.):
Seja C(R) o conjunto das funções contínuas de R em R.
Munido da adição em C(R) e da multiplicação escalar de R sobre C(R)
denidas como no último exemplo, C(R) é um espaço vectorial real.
Neste espaço vectorial, os vectores são as funções de C(R).
O vector nulo é a função que é constantemente igual a zero.

Se V for um conjunto com um único elemento, há uma única maneira


de denir uma adição em V e uma única maneira de denir uma
multiplicação escalar de K sobre V .
Deste modo, V é um espaço vectorial sobre K, a que se chama espaço
vectorial nulo.

O conjunto C = {(x, y ) ∈ R2 : x 2 + y 2 = 1} (circunferência de centro


na origem e raio 1) não é um espaço vectorial real considerando as
operações usais, porque, por exemplo,
(1, 0), (0, 1) ∈ C , mas (1, 0) + (0, 1) 6∈ C .
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