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A era das megalópoles: como as cidades do mundo se fundem

James Cheshire e Michael Batty


25 de nov de 2022(atualizado 25/11/2022 às 20h19)

Pesquisadores explicam o fenômeno das regiões muito povoadas e o que


esperar da expansão do tecido urbano nos próximos anos

Em 15 de novembro de 2022, uma menina chamada Vinice Mabansag, nascida


no Hospital Memorial Dr Jose Fabella em Manila (Filipinas) tornou-se –
simbolicamente – a oitava bilionésima pessoa do mundo. Desses 8 bilhões de
pessoas, 60% vivem em uma vila ou cidade. Até o final do século 21, as cidades
serão o lar de 85% dos 10 bilhões de habitantes que a Terra deve ter até lá.

As cidades não crescem apenas devido ao número de habitantes. Quanto mais


turistas um lugar recebe, mais serviços (transporte público, infraestrutura
energética, abastecimento de água) são necessários, mais governança é
requisitada e mais resiliente sua economia deve ser. Pode ser surpreendente,
então, saber que não existe uma definição única do que uma cidade realmente
é.

Nos tempos medievais, as cidades eram delimitadas por suas muralhas. E


mesmo no século 20, a ideia de limites de uma cidade ainda era válida. Hoje, se
o processo de urbanização ainda lembra as maiores metrópoles (Tóquio, São
Paulo, Nova York ou Mumbai), elas representam, no entanto, uma proporção
cada vez menor de todas as cidades do mundo.

Por outro lado, nos centros urbanos de crescimento mais rápido, como Lagos
(Nigéria), a extensão geográfica da jurisdição oficial de um prefeito geralmente
termina muito antes da população que ele serve. Sua economia, por sua vez,
muitas vezes está profundamente entrelaçada com as das cidades vizinhas.

O questionamento de onde traçar a linha entre o que é e o que não é uma cidade
– para não mencionar onde termina uma e começa outra – está ficando cada vez
mais difícil de responder. À medida que o mundo se move em direção à
urbanização total, os assentamentos estão se espalhando, fundindo-se uns aos
outros para criar o que os especialistas urbanos chamam de “megalópoles”.
Como as máquinas viram as cidades crescerem

A maior dessas megacidades já ultrapassa 60 milhões de pessoas. Na China, a


região da província de Guangdong em torno do estuário do Rio das Pérolas,
agora conhecida como Área da Grande Baía, funde efetivamente 11 cidades, de
Macau a Guangzhou, Shenzhen e Hong Kong.

Com uma população total de mais de 70 milhões de habitantes, a área conta


com 2 milhões de pessoas a mais do que toda a população do Reino Unido,
espremida em cerca de um quinto da área. Em termos econômicos, é igualmente
grande: com US$ 1,64 trilhão em 2018, seu PIB representa 11,6% do total da
China.

Enquanto isso, na costa oeste da África, o trecho de 600 km entre Abidjan, Costa
do Marfim e Lagos está se aproximando rapidamente. Especialistas preveem
que até 2100, essa aglomeração de nove cidades será a mais densamente
povoada do planeta, com até 500 milhões de pessoas.

As cidades só começaram a crescer de verdade em meados do século 18,


quando começamos a construir máquinas que nos levaram muito mais longe do
que qualquer tecnologia inventada até então. Pela primeira vez, as cidades -
Londres, em particular - passaram a ter populações maiores do que 1 milhão de
pessoas.

Algumas cidades, incluindo Chicago e Nova York, cresceram de forma vertical à


medida que as tecnologias da estrutura de aço e do elevador permitiram os
recursos necessários para erguer os primeiros arranha-céus, as “catedrais do
comércio”.

Com a invenção do automóvel, muitas cidades, como Los Angeles, cresceram


horizontalmente, apesar da ampla resistência à ideia de expansão urbana.

Algumas grandes cidades do mundo em desenvolvimento, incluindo Dar es


Salaam, na Tanzânia, e Nairóbi, no Quênia, cresceram para dentro. Aqui, a ideia
da cidade compacta baseada em transporte público e densidades residenciais
mais altas se enraizou.

Como o metaverso está redefinindo a cidade

A maioria das pessoas hoje vive em cidades médias e pequenas. Nós ainda
dependemos em grande medida do motor de combustão interna para nos
movermos entre diferentes atividades, geralmente em casa e no trabalho.
No entanto, nos últimos 50 anos, o advento dos computadores e das
comunicações em rede fez com que as pessoas pudessem viver a grandes
distâncias de seus colegas. Isso embaça os limites físicos de qualquer cidade.

Contar os habitantes de uma cidade e mapear seus limites geográficos são


apenas alguns dos aspectos a serem considerados ao definir o que é uma
cidade. A rede digital que agora cobre o planeta permite que os cidadãos de
qualquer cidade interajam com qualquer pessoa, em qualquer lugar, a qualquer
momento.

As cidades continuarão a crescer e a mudar fisicamente. Até o final do século


21, todos os lugares serão, sem dúvida, uma forma de cidade, mas o termo em
si provavelmente não desaparecerá. Em vez disso, seu significado mudará.

Em 1937, em um compêndio intitulado The City Reader, o historiador Lewis


Mumford argumentava que embora as cidades pudessem ser identificadas como
entidades físicas, elas eram lugares de interação social e de comunicação.

Isso ressoa fortemente com a noção de que no futuro não vamos mais pensar
nas cidades simplesmente como centros físicos distintos em uma paisagem
rural, mas como padrões de movimento digital, cruzando o planeta em muitas
escalas, desde a megacidade até o bairro local. Os limites não terão mais o
mesmo significado que tinham antes da primeira revolução industrial na Grã-
Bretanha em 1830.

Os estudiosos concordam que, à medida que as cidades crescem, geram


economias de escala que dominam cada vez mais seu crescimento econômico
e prosperidade. Evidências sugerem que o mundo urbano é ainda mais
complexo.

As cidades se assemelham cada vez mais a sistemas biológicos do que a


sistemas mecânicos, com redes de transporte estendendo-se para o interior ao
seu redor lembrando fractais arbóreos.

O mundo urbano emergente é muito diferente de tudo o que aconteceu antes.


Tentar determinar os limites físicos da cidade continua sendo importante. Mas
para descobrir como lidar com essa nova complexidade, no entanto, esses
limites podem ser muito superficiais.

Comentário do professor, para reflexão: Como essas transformações pelas quais


passam as cidades aumentam ou diminuem as desigualdades no ‘direito à
cidade’ de todos os que ali vivem – os cidadãos?

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