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POLÍTICA E
ELEITORAL
BRASILEIRA
Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Editoração
Luiz Fernando Ribeiro de Paiva
Raul Sérgio Reis Rezende
Revisão textual
Vanessa de Oliveira Passos
Diagramação
Andrezza de Cássia Santos
Projeto da capa
Jessica de Paula
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
Apresentação........................................................................................IX
Quando não olhamos para o passado, tudo que nos é apresentado parece
novo, maior, único. Títulos sensacionalistas apontam, paradoxalmente, que
algo é “nunca antes visto”, “o maior caso”, “nunca antes na história deste
país” e tantos outros. Ultimamente, vemos com frequência a utilização do
termo “polarização” em referência a nossa estrutura partidária e eleitoral,
sobretudo ao embate que ocorre na arena política brasileira. Ao juntar
os dois pontos anteriores, tornou-se comum vermos nos noticiários que
passamos pela “eleição mais polarizada de toda história”, tratando a
“polarização” como algo negativo e como se a história do Brasil não fosse
repleta de conflitos de classes econômicas, sociais e políticas, como se
as rachaduras que foram escancaradas no momento atual fossem novas,
que tivessem sido criadas recentemente.
E este livro pretende navegar com você por todo o aparato e histórico
que representa a nossa Estrutura política e eleitoral brasileira. Vertentes
teóricas da Antropologia, Ciência Política, História e Sociologia apontam
como uma estrutura é, ao mesmo tempo, diacrônica e sincrônica. A
Uniube XI
O autor e a autora.
Estrutura política e eleitoral
brasileira • Capítulo 1
Pensamento
marxiano,
sociedade,
economia e
política no
Brasil colonial
Filipe Moreno Horta
Introdução
Você sabia que “homem de bem” significa aquele que possui a virtude da política
e foi definido pelo iluminista francês Montesquieu (1973)? Sabia ainda que, nos
tempos da Monarquia, só poderia votar o homem que possuía posses, bens?
A Constituição de 1824 definiu que somente homens com renda líquida anual
acima de 200 mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego poderiam
votar e serem votados. Aqueles com renda de 100 mil réis estavam aptos a
votarem apenas para sua Paróquia, enquanto os mais abastados votavam
também para os representantes da Província e do Senado. Portanto, o “homem
de bem” do voto censitário recortava, principalmente, os homens acima de 25
anos, brancos, católicos, com renda mínima hoje que seria próxima a R$ 1
milhão, possivelmente proprietários de latifúndios e escravizados.
Objetivos
Qual a importância do núcleo familiar na constituição de uma
sociedade? Qual a relevância de se analisar um núcleo familiar na
constituição política de um Estado? Família, Estado e patriarcalismo
são conceitos utilizados frequentemente nas Ciências Humanas,
sobretudo nas Ciências Sociais e Ciências Sociais Aplicadas.
Esquema
1.1 Evolucionismo, materialismo histórico e a família
1.2 Da família monogâmica ao Estado
1.3 Economia, sociedade e política no Brasil colonial
1.3.1 A economia colonial
1.3.2 Escravidão e o clã patriarcal
1.3.3 Administração, organização militar e fazendária
1.4 Considerações finais
6 Uniube
1.1
Evolucionismo, materialismo histórico e a família
Saiba mais
Saiba mais
1.2
Da família monogâmica ao Estado
Saiba mais
1.3
Economia, sociedade e política no Brasil colonial
Para Caio Prado Júnior, a vida social e política foram determinadas pelo
sentido da colonização portuguesa. A criação de uma vasta empresa
comercial voltada à exploração dos recursos naturais, à qual se juntaram
três “raças” e culturas largamente díspares: “brancos europeus, negros
africanos, indígenas do continente” (PRADO JÚNIOR, 2009, p. 341). E
o que tornava a sociedade colonial uma estrutura organizada? Quais
eram os laços e as relações sociais que a formaram?
Portanto, para Caio Prado Júnior (2009), o “clã patriarcal” era a principal
unidade econômica, social e administrativa, fundada principalmente
no meio rural. Um dos aspectos a ser tomado em relação ao “clã
patriarcal” foi a relação sexual entre escravizados e colonizadores, que
estimulou o surgimento de novos personagens sociais que, em parte,
irão compor o contingente de homens livres da sociedade escravocrata,
indivíduos isolados e marginalizados, como os “tapuias”, “caboclos”,
“agregados”, “moradores de engenho”, “vadios” e tantos outros. Essas
“subcategorias” sociais compuseram a massa popular, situada nos
extremos sociais da Colônia ao Império, mas mantendo sempre as
características da antiga estrutura do sistema de produção colonial.
Conclui Caio Prado Júnior (2009), ao apontar que outro fato fundamental
da formação contemporânea da sociedade brasileira foi quando o
grande proprietário compra seu título e se aristocratiza. Assim, estão
reunidos todos “os elementos que constituem a base e a origem de
todas as aristocracias: riqueza, poder e autoridade. A que se unirá a
tradição, que a família patriarcal, com a autoridade política absoluta
do chefe, dirigindo e escolhendo os casamentos, assegura” (PRADO
JÚNIOR, 2009, p. 287).
1.4
Considerações finais
Resumo
Referências
BARBOSA, Alexandre Freitas. O mercado de trabalho antes de 1930: emprego e
“desemprego” na cidade de São Paulo. Novos Estudos – CEBRAP, São Paulo,
n. 80, p. 91-106, 2008.
MONTESQUIEU, Charles Louis de. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Pensamento
weberiano,
sociedade e
política no
Brasil imperial
(séc. XIX)
Filipe Moreno Horta
Introdução
Saiba mais
Objetivos
Estado, poder, violência e patrimonialismo são conceitos utilizados
frequentemente nas Ciências Humanas, sobretudo nas Ciências
Sociais e Ciências Sociais Aplicadas.
Esquema
2.1 Estado, poder e violência em Max Weber
2.2 Dominação pessoal e formação do Estado moderno brasileiro
2.2.1 Tropeiros e vendeiros: favores e serviços
2.2.2 Sitiantes: compadrio e poder político
2.2.3 Agregados e camaradas: ruptura da associação moral
2.2.4 Dominação patrimonial, administração e burocracia no Estado
2.3 Considerações finais
Maximilian Weber
2.1
Estado, poder e violência em Max Weber
Como alertado por Santos e Aidar (2018) , poder e dominação não são
sinônimos. Segundo Weber, poder é “a probabilidade de impor a própria
vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda resistência
e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade” (2015, v. 1, p.
33). Devemos observar que, além da capacidade de submeter alguém
àquele que executa a ação, o poder também é relacional – não à toa nos
leva às “relações de poder” em Michel Foucault, uma vez que o poder
não se possui por si só, se exerce, é ação e é relação – precisa estar em
movimento. Para Weber, só existe poder se há alguém para exercê-lo e
outro para ser submetido a ele, e os meios de alcançá-lo são diversos:
desde o emprego da simples violência até a propaganda
e o sufrágio por procedimentos rudes ou delicados:
dinheiro, influência social, poder da palavra, sugestão
e engano grosseiro, tática mais ou menos hábil de
obstrução dentro das assembleias parlamentares.
(WEBER, 2015b, p. 186).
2.2
Dominação pessoal e formação do estado nacional
brasileiro
TIPO DE
CATEGORIA O QUE ERAM LOCAL
DOMINAÇÃO
Fazendeiro Liderança política, econômica (latifundiário) e até militar (coronel da Guarda Nacional)
“Consciência de
indiferenciação”;
Habita as terras
Agregado Morador em terra alheia. dominação pessoal
do fazendeiro.
baseada em
associações morais.
Dominação pessoal
Em situação de Detentor de pequena
baseada na lealdade,
compadrio, o “afilhado” propriedade terra
na fidelidade, em
Sitiantes recebia favores em torno ou dentro
valores religiosos
econômicos do da propriedade
do batismo e pela
“padrinho” (o fazendeiro). do fazendeiro.
filiação política.
Saiba mais
Segundo Norberto Bobbio (1998), o termo autocracia não tem uma precisa
conotação histórica e não se refere a um sistema político concreto. Pode
se referir a um grau máximo de absolutismo e personalização do poder, tal
como o czarismo russo, mas também se refere a um governo absoluto e
com poder ilimitado sobre os súditos, tornando o seu chefe independente
mesmo de outros governantes dentro do território – ou seja, não divide seu
poder, diferentemente, por exemplo, de alguns monarcas que precisavam
compartilhar de seu poder com outros membros da aristocracia.
Saiba mais
2.3
Considerações finais
Resumo
Referências
AIDAR, Adriana Marques; SANTOS, Savio Gonçalves.
A política. In: Fundamentos de Filosofia e Sociologia.
Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018, p. 75-100.
Pensamento
weberiano,
política e
partido no Brasil
republicano
(1889-1930)
Filipe Moreno Horta
Introdução
Objetivos
Política, comunidade política, partido e partido político são conceitos
utilizados frequentemente nas Ciências Humanas, sobretudo nas
Ciências Sociais. E é um tema que está constantemente nos
nossos noticiários.
Esquema
3.1 Política, comunidade política e partido em Max Weber
3.2 O partido político
3.2.1 O chanceler Bismarck e a reconstituição alemã
3.3 Os partidos políticos no Brasil (1822-1930)
3.3.1 Do Primeiro ao Segundo Reinado (1822-1889)
3.3.2 A Primeira República (1889-1930)
3.4 Considerações finais
68 Uniube
Maximilian Weber
3.1
Estado, poder e violência em Max Weber
Saiba mais
Relembrando
Max Weber (2015) chama de partido legal aquele que possui uma
direção determinada por eleições, por estatutos e livre recrutamento.
As atividades cabem aos interessados políticos (apesar da existência
dos “interessados econômicos”), orientados por alguma ideologia e pelo
poder. O autor é taxativo ao afirmar que, apenas com o Estado legal e
com constituição representativa, os partidos adotaram a feição moderna
que atualmente possuem. Em um partido legal há:
Exemplificando
3.2
O partido político
Saiba mais
Relembrando
Saiba mais
3.3
Os partidos políticos no Brasil (1822-1930)
“Votantes”: cidadão
brasileiro a partir dos Cidadão brasileiro, a partir
Assembleia
Direto 25 anos e com renda dos 25 anos, com renda
Paroquial anual líquida mínima líquida anual de 200 mil réis.
de 100 mil réis
“Eleitores” da
Cidadão brasileiro, a partir
Província e o terço
Senado Indireto dos 40 anos, com renda
escolhido pelo
líquida anual de 800 mil réis.
Imperador
Quadro 3 – Presidentes do Brasil, com destaque para a idade e partido dos candidatos (1889-1930)
Mal. Deodoro
62 ─ Golpe
da Fonseca
Mal. Deodoro Eleição O Presidente
─ ─
da Fonseca indireta renuncia
Prudente J. de Eleição
53 PRP
Moraes e B. direta
Manoel F. de Eleição
57 PRP
Campos Salles direta
Francisco P. Eleição
54 PRP
Rodrigues Alves direta
Eleição O Presidente
Affonso A. M. Penna 59 PRM
direta falece
90 Uniube
Saiba mais
E a dominação do PRP não era por falta de concorrência. Além dos demais
partidos republicanos estaduais, tais como o baiano, o rio-grandense, o
catarinense e outros, havia ainda o Partido Democrático de São Paulo,
aliado da Aliança Liberal na tomada de São Paulo no golpe de 1930, o
Partido Libertador, o Partido Comunista, o Bloco Operário e Camponês
e outros partidos estaduais – ressaltando que, na “República Velha”, a
grande maioria dos partidos tinha abrangência estadual e não possuíam
organização a nível nacional, tal como é obrigatório hoje em dia.
Mal. Deodoro
─ ─ ─
da Fonseca
Floriano
Mal. Floriano Peixoto Militar ─
Peixoto/AL
Fac. Direito de
Nilo P. Peçanha Campos/RJ Advogado
Recife (1887)
Mal. Hermes
São Gabriel/RS ─
da Fonseca
Fac. Direito de
Wenceslau Braz P. G. Brasópolis/MG Advogado
São Paulo (1890)
92 Uniube
Fac. Direito de
Delfim Moreira da C. R. Cristina/MG Advogado
São Paulo (1890)
Fac. Direito de
Arthur da S. Bernardes Viçosa/MG Advogado
São Paulo (1900)
Fac. Direito de
Júlio Prestes Itapetininga/SP Advogado
São Paulo (1906)
3.5
Considerações finais
Resumo
Referências
ALMEIDA, Felipe. Partidos políticos. Dicionário Período Imperial. MAPA
– Memória da Administração Pública Brasielira, Arquivo Nacional. 24 fev.
2015. Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-
2/297-partidos-politicos-no-periodo-imperial. Acesso em: 30 maio 2021.
A República e
as alterações
no sistema
político: de
1930 ao auge do
Estado Novo
Adriana Marques Aidar
Introdução
Bem-vindos e bem-vindas!
Bons estudos!
Objetivos
• explicar acontecimentos relevantes entre o final do Império e
os anos da primeira República brasileira;
• descrever a política implementada no Brasil na década de
1930 e os impactos dela no conceito de cidadania;
• explicar o sistema político e eleitoral do Brasil durante os anos
do governo de Getúlio Vargas.
Esquema
4.1 Considerações sobre as décadas que antecederam 1930
4.2 A década de 1930: direitos, sistema político e eleitoral
4.3 O Estado Novo: controle social e o redimensionamento do
conceito de democracia
4.4 Considerações finais
4.1
Considerações sobre as décadas que antecederam 1930
Saiba mais
A Lei à qual José Murilo de Carvalho faz referência foi denominada de Lei Saraiva,
mas era, em verdade, o Decreto no 3.029, de 9 de janeiro de 1881, resultado de
um processo de reforma eleitoral. Conforme Christian Edward Cyril Lynch (2008,
p. 116), sobre as reformas que aconteceram ainda no Império:
A primeira campanha foi a da reforma eleitoral. Para os
liberais, era a introdução da eleição direta que regeneraria
o sistema representativo brasileiro. Acabando com as
fraudes eleitorais, a reforma fortaleceria a dependência
do governo em relação à Câmara dos Deputados,
acabaria com as intervenções do gabinete nas eleições e
com a necessidade de a Coroa periodicamente alternar
os partidos no poder. Numa palavra, a reforma eleitoral
renovaria o sistema político, permitindo a prática do
parlamentarismo à inglesa no Brasil.
O decreto já dizia logo em seu início: “art. 2º: E’ eleitor todo cidadão brazileiro,
nos termos dos arts. 6º, 91 e 92 da Constituição do Imperio, que tiver renda
liquida annual não inferior a 200$ por bens de raiz, industria, commercio ou
emprego”.[sic]
Uniube 103
Mas as limitações propostas eram bem maiores que só a renda líquida anual.
Também ficaram de fora do processo os analfabetos. Isso reduziu o conjunto
de eleitores para 1% da população brasileira (na época de, aproximadamente,
14 milhões de pessoas). Ainda conforme Lynch, tratava-se de um movimento
“privando os analfabetos do voto e excluindo os pobres restantes por meio da
elevação do censo pecuniário, os fazendeiros poderiam melhor coagi-los aos
rigores do trabalho rural – sob pena de expulsá-los da terra” (2008, p. 116).
Peço que você, neste momento, aproveite para refletir sobre como consideramos
a cidadania nos dias atuais. Será que muito mudou em relação a como nos
enxergamos dentro da ciranda política?
Uniube 107
Nesse período, ainda de acordo com Carvalho (2005), houve uma tentativa
de compreender quais foram os motivos que levaram a República a não
realizar a promessa de progresso e emancipação, bem como da falta de
êxito da política. No início desse processo é que acontece a Guerra de
Canudos e compreendê-la é relevante para entender o quão frágeis eram
as instituições na primeira República. Inclusive, conforme destaca Hamilton
de Mattos Monteiro (1990, p. 303) não se pode esquecer que “os dois
maiores movimentos de rebeldia em massa contra República Velha foram
os movimentos camponeses denominados Guerra de Canudos, na Bahia
(1897) e a Guerra do Contestado (1915), no Paraná”. Monteiro ainda destaca
um ponto bastante relevante. Ambos os conflitos foram capitaneados por
líderes carismáticos, com promessas de caráter salvacionista, figuras fortes
que, em alguma medida, remetiam aos coronéis. Estava-se trocando a
liderança, mas não o modus operandi do povo.
108 Uniube
Relembrando
Saiba mais
4.2
A década de 1930: direitos, sistema político e eleitoral
era regulada pelo Código para que fizessem parte da Assembleia Nacional
Constituinte (e, consequentemente, votassem conforme os interesses do
Governo Federal).
O Brasil do século XXI, ainda que conte com outros players, mantém o
Estado firmemente ligado aos interesses do agronegócio e dos grandes
latifundiários, o que demonstra ser a questão muito mais persistente do
que imaginariam os sujeitos do início do século passado.
4.3
O Estado Novo: controle social e o redimensionamento
do conceito de democracia
Foi um regime, ainda de acordo com Carvalho (2005), que usou com
bastante inteligência os recursos da propaganda (por meio da atuação
forte do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) não só para
o convencimento da população, a partir da construção de uma política
cultural do Estado (inclusive com o uso da música), mas também na
constituição de sujeitos coletivos como o operariado brasileiro. Sobre a
formação da consciência coletiva, inclusive, Maria Helena Capelato destaca:
122 Uniube
Como de praxe, havia uma espécie de toma lá, dá cá, nas relações
de Getúlio Vargas. Assim como ele foi o responsável pela ampliação
dos direitos trabalhistas e, com isso, ganhou a simpatia do operariado,
também o fez com os artistas o mesmo processo ao regulamentar o
exercício de profissões correlatas e os direitos autorais, por exemplo.
4.4
Considerações finais
Referências
CAPELATO, Maria Helena. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In:
DELGADO, Lucila Almeida Neves; FERREIRA, Jorge. O Brasil Republicano.
O tempo do Nacional Estatismo – do início da década de 1930 ao apogeu
do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
A estrutura
partidária
brasileira
entre golpes
(1945-1985) Filipe Moreno Horta
Introdução
Objetivos
Atualmente, a atuação de partidos políticos e a possibilidade de
golpes de Estado estão em alta nos noticiários. Assim como nós,
atualmente, outras brasileiras e brasileiros viveram isso em diveros
momentos do passado, tal como ocorreu em 1930, 1932, 1935,
1937, 1938, 1940, 1945, 1951, 1954, 1955, 1956, 1959, 1961 e
1964 – mas que, recentemente julgávamos estarmos livres de
tamanha ação retrógrada. Portanto, são objetivos deste capítulo:
Esquema
5.1 A 4ª República (1946-1967)
5.1.1 A anistia, o Código Eleitoral e a volta dos partidos e de
Vargas (1945-1951)
5.1.2 O suicídio de Vargas (1951-1954)
5.1.3 UDN combatendo o varguismo: a posse de JK (1955)
5.1.4 UDN combatendo o varguismo: o governo de João
Goulart (1961-1964)
5.1.5 Uma análise sobre o sistema partidário: o clientelismo e
a crise de 1964
5.2 A 5ª República (1967-1985)
5.2.1 Do AI-2 ao AI-5: a Arena e o MDB (1965-1968)
5.2.2 Retomada do pluripartidarismo e fim da Ditadura Civil-
Militar (1979-1985)
5.3 Considerações finais
Uniube 131
5.1
A 4ª República (1946-1967)
Saiba mais
Foi assim que surgiu o Partido Social Democrático (PSD), fundado por
interventores e burocratas em julho de 1945, tendo Getúlio Vargas como
primeiro presidente de sua comissão diretora. A capilaridade do PSD se
dava não só pelo fato dos interventores terem constituído o partido, mas
também pelos prefeitos, que eram os interventores a nível municipal e
indicados pelo interventor estadual. No mesmo sentido, em setembro de
1945, foi criado o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), cujo presidente
de honra era o próprio Getúlio Vargas, organizado entorno de servidores
do Ministério do Trabalho e ligados aos sindicatos. Com a perspectiva
de fazer frente ao Partido Comunista do Brasil (PCB), o PTB defendia a
ampliação da legislação trabalhista para o trabalhador da cidade e sua
expansão para o trabalhador do campo, assim como tratar da reforma
agrária e o direito à greve.
Saiba mais
Quadro 1 – Eleições presidenciais e as vitórias dos partidos varguistas, PSD e PTB (1945-1960)
Após a morte de Getúlio Vagas, seu vice, o paulista Café Filho (PSP),
assumiu e buscou apoio de setores da UDN para compor os ministérios
e do próprio brigadeiro Eduardo Gomes, alçado ao posto de ministro da
Aeronáutica. A eleição de 1955, ocorrida em outubro daquele ano, teve
a vitória do então governador mineiro Juscelino Kubitschek (PSD) e,
como vice João Goulart (PTB) – ambos considerados herdeiros políticos
de Getúlio Vargas, derrotando o general Juarez Távora, outro célebre
“tenentista” que havia sido o comandante da Escola Superior de Guerra
(ESG) e um dos apoiadores do golpe contra Getúlio em 1954, e que
agora era filiado à UDN e chefe do Gabinete Militar de Café Filho. Ou
seja, por mais que o golpe não tenha sido concretamente dado, militares
de alta patente que conspiraram diretamente para a queda de Getúlio
haviam chegado ao primeiro escalão do Executivo.
Dois dias após condecorar Che Guevara, Jânio acirrou ainda mais
a hostilidade com o partido aliado, a UDN, ao discursar sobre a
nacionalização da Hanna Mining Company, mineradora estadunidense
que explorava as jazidas de ferro no Vale do Paraopeba, Minas Gerais.
Quatro dias mais tarde, 25 de agosto, renunciou:
Fui vencido pela reação e assim deixo o governo [...]
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando,
nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que
subordinam os interesses gerais aos apetites e às
ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do
exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis
levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam,
até com a desculpa de colaboração. (QUADROS,
1961, p. 1).
5.2
A 5ª República (1967-1988)
Uma semana após a junta militar ser formada, foi publicado um Ato
Institucional, um decreto sem fundamentação jurídica e que não estava
previsto na Constituição de 1946. Os atos tinham por objetivo reforçar
os poderes do Executivo frente ao Legislativo e Judiciário, assim
também sobre a própria sociedade, estabelecendo os fundamentos
para a repressão e autoritarismo que ocorreriam.
Saiba mais
Durante a Constituição de 1946, o governo militar de Castelo Branco (1964-1967)
publicou quatro Atos Institucionais e promulgou mais de cento e noventa decretos
e leis. Sem contabilizar os Atos Complementares, que muitas vezes operaram
como emendas constitucionais, que chegaram a cento e cinco até junho de 1978.
Importante
Já a eleição para governador, que passou a ser indireta com o Pacote de Abril
de 1977, a Emenda Constitucional n° 8 definiu o Colégio Eleitoral como sua
forma de sufrágio: em cada estado, o Colégio era composto pelos deputados
estaduais e os delegados municipais indicados pelas Câmaras Municipais.
Esses eram escolhidos na proporção de um vereador e mais um por 200 mil
habitantes do município, sendo dois o número mínimo de delegados por cada
localidade. A EC manteve a votação direta para prefeitos e vereadores.
160 Uniube
Cargos eletivos
Ano do Senador,
Prefeito,
pleito Presidente e Governador e Deputado Federal Vice-Prefeito
Vice-presidente Vice-governador e Deputado
e Vereador
Estadual
Eleição direta Eleição direta Eleição direta
1962 —
07/10 07/10 07/10
Eleição
1964 — — —
indireta 11/04
Eleição direta Eleição direta
1965 — —
03/10 03/10
Eleição indireta Eleição indireta Eleição direta Eleição direta
1966
03/10 03/10 15/11 15/11
Eleição direta
1968 — — —
15/11
Eleição indireta Eleição direta
1969 — —
25/10 30/11
Eleição indireta Eleição direta
1970 — —
03/10 15/11
Eleição direta
1972 — — —
15/11
Eleição indireta Eleição indireta Eleição direta
1974 —
15/01 03/10 15/11
Eleição direta
1976 — — —
15/11 e 20/12
Eleição indireta Eleição indireta Eleição direta
1978 —
15/10 01/09 15/11
Eleição direta Eleição direta Eleição direta
1982 —
15/11 15/11 15/11
Eleição indireta Eleição direta
1985 — —
15/01 15/11
Eleição direta Eleição direta
1986 — Eleição direta 15/11
15/11 15/11
Eleição direta
1988 — — —
15/11
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (2021).
Uniube 161
DEPUTADOS
ELEIÇÃO SENADORES GOVERNADORES
FEDERAIS
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (2021).
162 Uniube
Logo o ditador general Ernesto Geisel, que havia dito que faria um
processo de transição lento, gradual e seguro para a redemocratização,
no dia 1º de abril de 1977 fechou o Congresso e, utilizando-se do AI-5,
fez uma série de reformas constitucionais nos quatorze dias seguintes,
chamadas de Pacote de Abril, de forma a minar a votação do MDB
(SANTOS, 1995):
5.3
Considerações finais
Resumo
Os derrotados nas urnas, como a UDN, assim como outros atores, por
sua ação ou inércia, forjaram o caminho do Golpe Militar de 1964 e que
perdurou até 1985. Da volta aos partidos em 1945, do bipartidarismo em
1966 e novamente o pluripartidarismo em 1979, vimos juntos o quanto o
Brasil de hoje é, também, o Brasil de 1930, o Brasil de 1945 e o Brasil de 1964.
Uniube 167
Referências
BENEVIDES, Maria Victoria. A UDN e o udenismo: ambiguidades do
liberalismo brasileiro (1945-1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
VILLA, Marco Antonio. Jango: um perfil 1945-1964. São Paulo: Globo, 2004.
Estrutura política e eleitoral
brasileira • Capítulo 6
Entre ditadura
e democracia:
vida política
e sistema
eleitoral
no Brasil
Adriana Marques Aidar
Introdução
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Chico Buarque
Objetivos
São objetivos deste capítulo:
Esquema
6.1 Direito eleitoral e eleições na contemporaneidade
6.1.1 Direitos políticos
6.2 Princípios do direito eleitoral
6.3 Partidos políticos
6.4 Sistema eleitoral
6.5 Considerações finais
6.1
Direito eleitoral e eleições na contemporaneidade
I – direitos políticos
II – princípios do direito eleitoral
III – partidos políticos
IV – sistema eleitoral
180 Uniube
6.2
Princípios do direito eleitoral
6.3
Partidos políticos
Nesse sentido, está claro que a CRFB atribuiu alta relevância a sua
participação no processo eleitoral, estabelecendo como critério de
elegibilidade a filiação partidária. E não só isso, mas garante autonomia
para definir sua estrutura interna, funcionamento, garantindo que seus
estatutos disciplinem suas normas de disciplina e fidelidade partidária.
Claro, essa autonomia partidária deve se ater aos parâmetros básicos
da Constituição “[…] especialmente o respeito à soberania nacional,
o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais
da pessoa humana” (BRANCO; MENDES, 2018, p. 1.218). Outras
limitações apresentadas pelo Texto Constitucional dizem respeito à
necessidade de organização nacional, vedação do recebimento de
recursos estrangeiros e proibição de organização em caráter paramilitar.
I – fundo partidário;
II – doações privadas de pessoas físicas ou outros partidos políticos;
III – alienação (compra e venda) de bens;
IV – eventos;
V – locação de bens;
VI – sobras de campanhas eleitorais anteriores;
VII – rendimentos de aplicações;
VIII – empréstimos de instituições financeiras; e
IV – Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). Importante
destacar que a prestação de contas é obrigatória para a manutenção
do registro do partido político, nos termos apresentados no art. 17, da
CRFB.
6.4
Sistema eleitoral
6.5
Considerações finais
Resumo
Referências
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito
constitucional. [e-book] 13. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. [e-book]. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
NICOLAU, Jairo. Eleições no Brasil: do império aos dias atuais. [e-book]. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012a.
NICOLAU, Jairo. Sistemas eleitorais. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012b.