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As TIC como paradigma do processo ensino/aprendizagem nas necessidades educativas especiais

Elisabete Morais

Resumo
Este trabalho versa sobre as TIC como paradigma do processo ensino/aprendizagem nas necessidades
educativas especiais, especialmente no domínio cognitivo. Apresenta uma revisão bibliográfica assente
em artigos da especialidade e parte da premissa de que as crianças, jovens e adolescentes utilizam as TIC
como elemento socializador. Deste modo, adquirem novas formas de aprendizagem, que nem sempre são
entendidas pela escola, e que muito tem feito para se adaptar a novos princípios de uma escola não para
todos, mas para cada um. Nesta tentativa da escola se adaptar e de implementar o PTE há necessidade de
se dar atenção à formação dos profissionais que leccionam com estes alunos, de modo a poderem fazer
uma abordagem construtivista da utilização das TIC nas NEE. Tenta verificar a hipótese de que as TIC
podem modificar a percepção de que os alunos com NEE têm de si mesmos, melhorar a sua auto-estima e
favorecer as aprendizagens sendo assim possível afirmarem-se como um paradigma no processo ensino-
aprendizagem no domínio cognitivo.

Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; TIC; NEE; Inclusão.

Abstract
This work bases itself on the ICT as a paradigm of the teaching-learning process in special needs
education, especially in the cognitive domain. It presents a literature review based on specialty items and
assumes that children, young people and adolescents use ICT as a socializing element. Thus, gaining new
ways of learning that are not always understood by the school that has done much to adapt itself to the
new principles of a school, not for everyone, but for each of them. In this school who is trying to adapt
and implement the TEP there´s the need to give attention and training to the professionals who teach these
students, so that they can make a constructionist approach to the use of ICT in SNE. Attempts to verify
the hypothesis that ICT can change the perception that pupils with SEN have of themselves improve their
self-esteem and encourage learning making it possible to assert itself as a paradigm in the teaching-
learning process in the cognitive domain.

Key Words: Teaching-learning; ICT; SNE; Inclusion.

Introdução
As TIC têm vindo a revolucionar o mundo em todas as áreas de atuação do homem. Portugal, parte da
aldeia global, assiste a esta revolução e tem vindo a criar condições para a implementação do Plano
Tecnológico de Educação (PTE) para que as escolas possam utilizar as tecnologias como ferramenta
pedagógica no processo ensino/aprendizagem.
Fora das escolas, as crianças, vão-se apropriando das tecnologias e fazem delas um universo de
socialização forçando a necessidade dos professores aprenderam mais que as teorias de aprendizagem de
Piaget ou de Vigotski. As escolas e os professores sentem necessidade de se adaptar às mudanças e
necessidades dos alunos que agora falam uma nova linguagem, muitas vezes incompreendida pelos
professores e pela família.
Simultaneamente, a visão sobre os alunos com necessidades especiais muda e passa de integração (olhar
para os alunos em função das suas capacidades) para a inclusão (ver as particularidades dos alunos)
nascendo assim um novo princípio: uma escola não para todos mas para cada um.
Com base nestes pressupostos perguntamo-nos se as TIC poderão ser um paradigma do processo
ensino/aprendizagem nas necessidades educativas especiais? Para esta pergunta levantamos a hipótese

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afirmativa de que as TIC podem baixar e até anular barreiras inibidoras da aprendizagem, pois o
entusiasmo que provocam nas crianças, adolescentes e jovens sobrepõe-se às baixas expetativas que os
alunos com necessidades educativas especiais (NEE) têm de si.
O nosso trabalho será elaborado pela metodologia bibliográfica, sendo a nossa pesquisa qualitativa.
Debruçar-nos-emos sobre dois artigos da especialidade:
1. Ribeiro, Almeida & Moreira (2010) autores do artigo intitulado “A utilização das TIC na Educação
de Alunos com Necessidades Educativas Especiais: resultados da aplicação piloto do inquérito
nacional a Coordenadores TIC/PTE”
2. Ribeiro & Fuentes (2013) autores do artigo “Inclusión Educativa a través de las TIC”.
Estruturamos o nosso trabalho em duas partes. A primeira parte é dedicada à apresentação da bibliografia
selecionada e a segunda parte à sua discussão crítica. A estrutura do trabalho contém ainda uma
introdução e uma conclusão.

Apresentação dos artigos


Ribeiro, Almeida & Moreira (2010), autores do primeiro artigo, citam Sancho & Hernandéz (2006) e
Valente e Osório (2007) para assinalar a importância das TIC no processo ensino/aprendizagem dado que
crianças e jovens vivem de forma natural um crescente contacto e atração pelas tecnologias. Apesar desta
afirmação retratam que estas vantagens nem sempre são aproveitadas pelas escolas, seja pela deficiente
formação inicial e formação continuada dos profissionais de ensino em especial dos professores do ensino
especial, seja pela falta de eficiência na gestão dos recursos tecnológicos existentes ou a existir nas
escolas.
Os autores referem ainda que Portugal, fazendo parte do mundo global, criou o Plano Tecnológico
Nacional (PTE) que ambiciona colocar o País no ranking europeu no quinto País mais modernizado
tecnologicamente. Para tal, o PTE assume-se como sendo um meio capaz de melhor a qualidade e os
resultados do ensino, velar pela igualdade de oportunidades e modernizar as escolas ligando-as em rede
pela internet de banda larga de alta velocidade, distribuir computadores pelas escolas de modo a existir
um rácio de dois alunos por computador e formar e certificar 90 % dos professores em TIC. O PTE em
união com a Declaração de Salamanca (1994) aporta algumas inquietações como a de se saber como
serão implementadas as TIC para a utilização dos alunos com NEE, que prioridade se está a dar na
formação aos professores sobre as TIC aplicada às NEE, qual é o apoio que o Coordenador das TIC está
efetivamente a dar aos docentes no que tange à formação em TIC e ainda como os professores do ensino
regular enfrentam o desafio da inclusão dos alunos com NEE.
Partindo da premissa de que os professores têm nas TIC um recurso importante enquanto ferramenta
pedagógica ou tecnologias de apoio, os autores realizaram um estudo de âmbito nacional para testar a
necessidade de formação para a utilização das TIC na educação de alunos com NEE e as condições de
trabalho nesta área.
Neste sentido, o público-alvo selecionado foram os professores de educação especial e de apoio educativo
e os coordenadores TIC/PTE. Estes últimos porque defendem que assume um papel preponderante ao
serem responsáveis positiva ou negativamente da utilização das TIC por estes alunos bem como pela
gestão dos recursos e pela formação em TIC dos docentes. A metodologia utilizada pelos autores parte de
uma suposição que serve de base ao levantamento de hipóteses a serem, ou não, confirmadas e que
conduzirão à generalização. A recolha de dados foi efectuada pelo método de inquérito por questionário
com perguntas fechadas cujas respostas foram validadas pelo processo de pilotagem.
Como conclusão do trabalho assinalam que reconhecem as vantagens das TIC nas práticas educativas
para os alunos com NEE mas que não basta por implementação do PTE apetrecharem-se escolas com
equipamento e programas informáticos pois sem profissionais capacitados acabam por não ser utilizados.
Concluem que apesar do esforço das autoridades educativas em centralizar recursos tecnológicos em
centros especializados, apetrechamento desses centros e distribuição de computadores portáteis aos
alunos com NEE, ainda há falta de recursos tecnológicos para os alunos com NEE nas escolas. Por seu
turno, os profissionais embora motivados precisam de mais qualificação na utilização das TIC como
ferramenta de acesso e participação dos alunos com estas necessidades e os Coordenadores TIC/PTE não
têm desempenhado a sua função de formadores dos docentes de Educação Especial e de Apoios

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educativos. Defendem a necessidade de mudança de atitude e mentalidade dos agentes envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais que, muitas vezes,
não são portadores de informação suficiente sobre as potencialidades da utilização das TIC como uma
ferramenta nas NEE.
Apontam ainda como conclusão de que a formação inicial em TIC dos profissionais é crucial, mas que, no
entanto, não deve ser descurada a formação contínua.
Ribeiro & Fuentes (2013), autores do segundo artigo, referem que as TIC desempenham um importante
papel no processo ensino-aprendizagem dos alunos com NEE pois, sem elas, veriam o seu acesso à
informação e à participação negado ou dificultado.
O artigo denota ser uma pesquisa bibliográfica que pela utilização do método indutivo leva os autores a
concluírem que a utilização das TIC influencia positivamente o processo ensino-aprendizagem facilitando
a vida dos estudantes com NEE, tornando atractiva a aprendizagem e permitindo a superação de barreiras
e possibilitando a sua inclusão. As barreiras que os estudantes com NEE enfrentam podem ser superadas
pela utilização das TIC como ferramenta pedagógica uma vez que concordam que mais que assistenciais
as TIC podem ser utilizadas em distintos âmbitos: do social, académico, cultural, económico, …
Apontam que, por exemplo, pela utilização de um simples computador podemos ampliar horizontes
culturais, estimular o desenvolvimento cognitivo, melhorar e potenciar a aquisição de habilidades e
conhecimentos que permitam afincar a auto-identidade e a concepção da realidade e do mundo. Todas
estas potencialidades das TIC não passam de potencialidades se não existir um factor humano mediador –
o professor.
Por fim concluem, estes autores, que é necessário encontrar-se um meio de capacitação de profissionais
da educação especial para assegurar uma resposta autêntica aos estudantes com NEE.
Os autores trazem ainda uma tabela resumo onde apontam as principais soluções TIC em função das
necessidades especiais destes alunos. Citando Correia (2005) e Rodrigues (2006) argumentam que o
conceito de educação inclusiva defende que aos alunos com NEE deve ser proporcionada a sua inserção
física, social e académica nas aulas, destacando que esta heterogeneidade entre os alunos é um factor
positivo no processo ensino-aprendizagem. Referem que estudos demonstram os benefícios da união da
educação com a tecnologia e concluem que esta união melhora a participação e o rendimento dos
estudantes que vivem o processo de inovação tecnológica com naturalidade. Assinalam que o apoio que
os alunos necessitam não é igual para todos. Alguns precisam de apoio permanente e outros apresentam
dificuldades de aprendizagem temporais como deficit de atenção, dificuldades na leitura-escrita ou
dificuldades de expressão. Citando Santos (2006) revelam que as TIC podem ser a ferramenta ao alcance
de alunos e professores para minimizar as necessidades individuais de cada aluno e promover a integração
social e educativa permitindo a superação de barreira e aquisição de habilidades.

Quadro 1 - Principais ideias dos artigos em análise


1º artigo 2ºartigo
Ribeiro; Almeida; Moreira (2010) Ribeiro & Fuentes (2013)
 As TIC são uma ferramenta importante para o  As TIC são uma ferramenta importante para o
processo ensino-aprendizagem dos alunos com processo ensino-aprendizagem, sendo
NEE; facilitadoras da eliminação ou diminuição de
barreiras que os alunos com NEE enfrentam;
 É imprescindível que os profissionais que
trabalham com os alunos com NEE tenham  Assinalam a importância e necessidade da
formação especializada e continuada para capacitação dos profissionais de ensino pois
tirarem partido das tecnológicas; só assim podem tirar partido da tecnologia que
é vivida pelas crianças e jovens com interesse
 Não basta legislar e criar programas como o e naturalidade;
PTE é necessário passar-se a uma atitude
proactiva especificamente os que têm a seu  Referem que a união da educação com a
cargo a implementação dos projetos e de zelar tecnologia influencia positivamente a
pela preservação e manutenção dos recursos; participação e o rendimento dos alunos com
NEE, sendo assim ferramentas facilitadoras da

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 Os Coordenadores TIC/PTE devem inclusão;
desempenhar a sua função de formadores;
 A existência de diferentes recursos
 Apesar dos esforços para a centralização dos tecnológicos permite apoiar de forma
recursos e apetrechamento das escolas ainda há diferenciada os alunos que não são iguais nem
falta de recursos tecnológicos e há escolas onde têm iguais necessidades
esses recursos são inexistentes.

Fonte: Nossa construção

Discussão crítica e conclusões


A ideia central dos artigos em análise é de que a inclusão dos alunos com NEE pode ser facilitada pela
utilização das TIC. No nosso entender, as TIC, quando utilizadas na prática educativa, proporcionam ao
aluno com NEE a possibilidade de uma maior integração, reforçando a igualdade e a sua inclusão
facilitando a comunicação e interação social entre os colegas, professores e restante comunidade
educativa.
É do conhecimento geral, que há já professores que utilizam as tecnologias da informação em atividades
com alunos com problemas de natureza cognitiva. Todavia este trabalho não é sistemático, generalizado
nem explora todas as potencialidades das TIC. Estas, reconhecidas como facilitadoras do processo
ensino aprendizagem, são descuradas, quer pelo fraco ou inexistente apetrechamento das escolas, quer
pela atitude passiva dos coordenadores TIC /PTE e falta de formação inicial e continuada dos
profissionais de ensino. De facto, a existência de políticas inclusivas é insuficiente para que as TIC sejam
utilizadas como potencial ferramenta de inclusão e desenvolvimento dos alunos com NEE.
Percebe-se claramente que os princípios estabelecidos pela Declaração de Salamanca (1994),
norteadores do PTE, estão longe de ser uma realidade. A política e a prática do ensino-aprendizagem
dos alunos com NEE revelam uma dialética que necessita de investimentos na formação dos docentes e
no apetrechamento das escolas.
Mas, vivemos numa sociedade que exige formas de educação em que a tecnologia desempenha um papel
importante na concretização de um novo paradigma educativo, por ser um veículo para a criação de
laços entre os alunos e a comunidade, promovendo efetivamente o desenvolvimento integral dos alunos
NEE e auxiliando na efetivação da visão de uma escola verdadeira inclusiva. O entusiasmo e apetência
que crianças, jovens e adolescentes demonstram pelas TIC, vão ser cruciais no nascimento e
desenvolvimento das TIC como paradigma do processo ensino-aprendizagem. Por sua vez, o professor
do Século XXI, precisa de se adaptar a esta lógica de comunicação dos alunos e aprender a navegar no
mundo das TIC.

Referências bibliográficas
Ribeiro, J., Almeida A., & Moreira, A. (2010, Julho). A utilização das TIC na Educação
de Alunos com Necessidades Educativas Especiais: resultados da aplicação piloto do
inquérito nacional a Coordenadores TIC/PTE. Revista Indagatio Didactiva, vol.2 (1),
94-124. Disponível em: http://revistas.ua.pt/index.php/ID/article/view/930/864.
(Acedido a 09 de Outubro de 2015).

Ribeiro, J., Fuentes, S. (2013, Dezembro). Inclusión Educativa a través de las TIC.
Revista Indagatio Didactiva, vol.5 (4), 147-160. Disponível em:
http://revistas.ua.pt/index.php/ID/article/view/2569/2436.(Acedido a 12 de Outubro
de 2015).

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