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Guinness

Sebenta de Histologia
Módulo II.II
2011-2012

Ana Dagge
Boa Noite,

São 3 da manhã e estou boquiaberta a tentar perceber como é que tive


paciência e tempo para escrever 150 páginas de resumos sobre uma cadeira em que
tudo é definido por diferenças nos tons de cor-de-rosa.

Os resumos foram feitos com base no Ross e na grande Rita Luz, esse ícone da
FML, e à custa de doses de cafeína pouco saudáveis. A quem estudar por aqui,
aconselho que vejam sempre que possível um dos livros recomendados e tenham à
mão um atlas ou o Iowa. De resto, só precisam de uma dose infinita de paciência e de
uma boa banda sonora.
Qualquer erro que detectem, é favor enviar um mail à gerência
(anadagge@campus.ul.pt).

Agradeço a todos os que foram insistindo comigo para eu ir fazer isto,


especialmente ao rapaz de Beja, famosíssimo vencedor de torneios de beer pong, que,
quando questionado sobre a qualidade dos presentes resumos, respondeu “estão  
bons, têm um aspecto bonito e tal”; à minha vizinha que anda há seis meses a ‘cantar’
ópera e a tentar tocar Adele e não consegue; ao Esmegma Fest e ao Joao_Carlos,
porque ainda me dói a barriga de tanto rir; ao João Gramaça, pelo épico nome de
praxe que deu o nome a esta sebenta; e, por último, ao Alex Turner, ao Zach Condon,
ao Matt Berninger, à Florence Welch, ao Bob Dylan, ao Josh Homme, ao Marcus
Mumford, à Régine Chassagne e a todos os outros que passaram horas infinitas
durante estes meses a cantar para mim e a tornar tudo isto um bocadinho mais
suportável.

Ana Dagge
(Pronuncia-se Dégue)

“The sea's only gifts are harsh blows and, occasionally, the chance to feel strong.”

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Índice

TECIDO EPITELIAL .......................................................................................................................... 6


EPITÉLIO GLANDULAR ................................................................................................................. 18
TECIDO CONJUNTIVO .................................................................................................................. 20
Tecido conjuntivo embrionário ............................................................................................... 20
Tecido conjuntivo propriamente dito ..................................................................................... 20
Matriz Extracelular .................................................................................................................. 25
Células do Tecido Conjuntivo .................................................................................................. 26
TECIDO CARTILAGÍNEO ............................................................................................................... 30
Cartilagem Hialina ................................................................................................................... 30
Cartilagem Elástica .................................................................................................................. 33
Fibrocartilagem ....................................................................................................................... 33
Condrogénese ......................................................................................................................... 34
Reparação da Cartilagem Hialina ............................................................................................ 35
Identificação Histológica ......................................................................................................... 36
TECIDO ÓSSEO ............................................................................................................................. 37
Matriz extracelular ou Osteóide ............................................................................................. 37
Células do Tecido Ósseo .......................................................................................................... 39
Ossificação............................................................................................................................... 41
TECIDO ADIPOSO ......................................................................................................................... 46
SANGUE ....................................................................................................................................... 49
Plasma – constituição .............................................................................................................. 49
Células do sangue .................................................................................................................... 50
Hematopoiese ......................................................................................................................... 57
Medula Óssea .......................................................................................................................... 61
TECIDO MUSCULAR ..................................................................................................................... 63
Músculo Esquelético ............................................................................................................... 63
Músculo Liso ............................................................................................................................ 67
Contracção Muscular .............................................................................................................. 68
Identificação Histológica ......................................................................................................... 71
TECIDO NERVOSO........................................................................................................................ 72
O Neurónio .............................................................................................................................. 72
Sinapse .................................................................................................................................... 74

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Transporte Axonal ................................................................................................................... 76
Neuroglia ................................................................................................................................. 77
Origem das células nervosas ................................................................................................... 81
Organização do SNP ................................................................................................................ 81
Organização do SNA ................................................................................................................ 82
Organização do Sistema Nervoso Central ............................................................................... 83
Tecido Conjuntivo do SNC – Meninges ................................................................................... 84
Barreira Hemato-Encefálica .................................................................................................... 85
Degeneração e Regeneração do SNP ...................................................................................... 85
SISTEMA CARDIOVASCULAR........................................................................................................ 87
Coração ................................................................................................................................... 87
Artérias e Veias ....................................................................................................................... 88
Linfáticos ................................................................................................................................. 93
Identificação Histológica ......................................................................................................... 94
SISTEMA IMUNITÁRIO ................................................................................................................. 97
Células do Sistema Imunitário................................................................................................. 97
Órgãos Linfóides ...................................................................................................................... 98
SISTEMA DIGESTIVO I: cavidade oral e estruturas associadas .................................................. 104
Cavidade Oral ........................................................................................................................ 104
Glândulas Salivares................................................................................................................ 109
SISTEMA DIGESTIVO II: Esófago e Tracto Gastrointestinal ....................................................... 113
Esófago .................................................................................................................................. 115
Transição Cárdio-Esofágica ................................................................................................... 116
Estômago ............................................................................................................................... 116
Intestino Delgado .................................................................................................................. 121
Intestino Grosso .................................................................................................................... 123
Recto e Canal Anal................................................................................................................. 125
SISTEMA DIGESTIVO III: Fígado, Vesícula Biliar e Pâncreas....................................................... 126
Fígado .................................................................................................................................... 126
Sistema Biliar ......................................................................................................................... 131
Vesícula Biliar ........................................................................................................................ 132
Pâncreas ................................................................................................................................ 133
SISTEMA RESPIRATÓRIO............................................................................................................ 135
Fossas Nasais ......................................................................................................................... 135

4
Faringe ................................................................................................................................... 137
Laringe ................................................................................................................................... 137
Traqueia ................................................................................................................................ 137
Brônquios .............................................................................................................................. 139
Bronquíolos ........................................................................................................................... 139
Alvéolos ................................................................................................................................. 140
PADRÕES CITOQUÍMICOS ......................................................................................................... 143

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TECIDO EPITELIAL

O tecido epitelial é um conjunto de células poliédricas, justapostas e funcionalmente


interligadas que recobrem a superfície corporal e as cavidades do organismo. Formam ainda a
porção secretora (parênquima) das glândulas e os seus ductos. Algumas células epiteliais
especializadas são receptores dos órgãos dos sentidos.
O tecido epitelial forma uma barreira selectiva que facilita ou inibe a passagem de
substâncias específicas.

Características
As células estão muito próximas e unidas por junções celulares.
Têm uma polaridade morfológica e funcional, apresentando três domínios: apical ou
livre, lateral e basal.
A superfície basal está unida a uma lâmina basal rica em proteínas e polissacarídeos.
Algumas células podem não ter um domínio apical livre, sendo por isso chamadas de
tecidos epitelióides (ex: células de Leydig, ilhéus de Langerhans, células luteínicas do ovário,
parênquima da glândula adrenal, lobo anterior da glândula pituitária).

Classificação
Os tecidos epiteliais são classificados de acordo com o número de camadas que os
constituem e de acordo com a forma das células da camada mais superficial.
Quanto ao número de camadas:
► Simples (uma só camada de células)
► Estratificado (duas ou mais camadas)

Quando à forma das células:


► Pavimentoso (o comprimento é superior á altura)
► Cubóide (as três dimensões são semelhantes)
► Cilíndrico (a altura é superior ao comprimento)

Podem ainda ser classificados pela especialização do domínio apical em: ciliados,
queratinizados, não queratinizados, etc.

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Simples Pavimentoso Endotélio
Mesotélio
Cápsula de Bowman
Cubóide Ductos das glândulas exócrinas
Superfície do ovário
Túbulos do rim
Folículos da tiróide
Cilíndrico Intestino delgado e cólon
Estômago
Vesícula biliar
Estratificado Pavimentoso Epiderme
Cavidade oral e esófago
Vagina
Cubóide Ductos das glândulas sudoríparas
Grandes ductos de glândulas exócrinas
Cilíndrico Grandes ductos de glândulas exócrinas

Categorias especiais
► Tecido epitelial pseudoestratificado – é aparentemente estratificado, mas
todas as células assentam na membrana basal. Ex: traqueia (com cílios),
epidídimo (com estereocílios).

► Epitélio de transição – epitélio estratificado com características morfológicas


que permitem a sua distensão. As células mais superficiais são arredondadase
e as células que se situam imediatamente abaixo têm forma de pêra e são
ligeiramente mais pequenas. Por último, as células da última camada são
muito pequenas. Limitado ao epitélio do trato urinário (urotélio).

Consoante a sua localização, os epitélios podem ter nomes específicos. O endotélio


está presente nos vasos sanguíneos e linfáticos, o endocárdio está presente nos ventrículos do
coração e o mesotélio é o epitélio das cavidades do organismo.

Funções do epitélio: secreção, absorção, transporte, protecção, receptores.

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Domínios das células epiteliais
Livre/Apical – direccionado para o exterior ou para o lúmen das cavidades.
Lateral – comunica com as células adjacentes.
Basal – assenta na lâmina basal.

Modificações do domínio apical


Estas modificações incluem a presença de enzimas específicas, canais iónicos,
proteínas transportadoras, microvilosidades, estereocílios e cílios.

Microvilosidades (1 a 3 micrómetros)
São projecções em forma de dedo de luva que podem ser pequenas e desordenadas
ou compridas, uniformes e muito próximas. Têm como função aumentar a área de absorção da
célula e o seu número depende da capacidade absortiva da mesma.
No intestino, tomam o nome de prato estriado e, nos tubos renais, de bordadura em
escova. Em condições ideias de observação, é possível distinguir no prato estriado uma ténue
estriação paralela ao eixo maior das células. Nos tubos renais, as microvilosidades são menos
concentradas do que no intestino, daí terem adquirido o nome de bordadura em escova.
Ambas as estruturas estão associadas a uma desenvolvida glicocálix, podendo ser evidenciados
com corantes que demonstram glicoproteínas.

As microvilosidades são constituídas por um núcleo com 20 a 30 filamentos de actina


cuja extremidade positiva está ligada à proteína vilina na porção mais distal e a extremidade
negativa está ligada à rede terminal na base da microvilosidade.
Os filamentos de actina estão ligados entre si por várias proteínas (fimbrina, espina,
fascina) que conferem suporte e rigidez à estrutura e estão ligados à membrana das
microvilosidades por miosina I.
A rede terminal é constituída por espectrina que faz a ancoragem da rede à membrana
da célula e por miosina II + tropomiosina que permitem o movimento passivo das
microvilosidades.

Estereocílios (120 micrómetros)


Estão presentes no epidídimo dos canais deferentes e nas células sensoriais do ouvido
interno.

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No primeiro caso, os estereocílios são muito longos e semelhantes a microvilosidades.
Apresentam um núcleo de actina associado a fimbrina. Têm ainda α-actinina que faz a união
entre dois esterocílios e está presente também na rede terminal.
No ouvido interno, os estereocílios são muito sensíveis à vibração (são
mecanoreceptores). Estão organizados em feixes que vão aumentando de tamanho e formam
uma estrutura em forma de escada. Os filamentos de actina estão unidos por espina e não
apresentam α-actinina. Possuem um mecanismo de renovação constante através da adição de
monómeros de actina na extremidade positiva e na sua remoção na extremidade negativa.

Cílios
Os cílios podem ser:
Móveis
Primários (ou monocílios)
Nodais

Os cílios móveis estão presentes na árvore tráqueo-brônquica, onde são responsáveis


pela eliminação de muco e bactérias. No microscópio óptico, são pequenas estruturas muito
finas  com  5  a  10  μm,  sendo visível uma banda mais escura na base dos cílios – os corpos basais
(visíveis individualmente no microscópio electrónico).

São constituídos por um axonema e por corpos basais.


O axonema é um núcleo de microtúbulos constituído por 9 pares dispostos em círculo
e por um par central (9+2).
Cada par é constituído por um microtúbulo A (13 protofilamentos de tubulina) e por
um microtúbulo B (10 protofilamentos de tubulina) que partilham uma parte da sua parede.
Têm  2  “braços”  de  dineína (proteína motora) em volta de cada par e pares adjacentes estão
ligados por nexina.

Os corpos basais são centros organizadores de microtúbulos e são constituídos por 9


porções de tripletos de microtúbulos arranjados em anel.

A actividade dos cílios é baseada no movimento dos microtúbulos uns em relação aos
outros, o que é permitido pela dineína. O par central de microtúbulos têm quinesina que
provoca um movimento de rotação dos microtúbulos responsável pela regulação da interacção
da dineína com os restantes microtúbulos e pela coordenação do sentido do movimento.

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Os cílios primários/monocílios são imóveis devido à ausência de proteínas motoras e
do par de microtúbulos central (9+0). Movem-se passivamente devido à acção de fluidos e,
geralmente, está presente apenas um por célula. Recebem estímulos químicos, osmóticos,
luminosos e mecânicos e geram sinais que são transmitidos à célula. São essenciais no controlo
da divisão celular.
Estão localizados nas células epiteliais dos túbulos renais, nas células vestibulares do
ouvido e no tracto biliar.

Os cílios nodais são imóveis (9+0) e têm um papel importante no desenvolvimento


embrionário, nomeadamente na determinação da simetria direita-esquerda. Possuem
quinesina e dineína que provocam movimentos de rotação no sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio.

Especializações do domínio lateral


A membrana lateral apresenta moléculas de adesão celular (CAM) que fazem parte de
especializações de junção que podem ser de três tipos: oclusivas (de oclusão), de adesão ou
comunicantes. A membrana lateral pode ainda apresentar invaginações que são responsáveis
por aumentar a área de contacto entre as células e que são particularmente desenvolvidas em
tecidos envolvidos no transporte de fluidos e iões.

Junções de oclusão: zonula ocludens ou tight junctions


São as estruturas mais apicais e formam uma faixa circunferencial em volta da célula.
Formam uma barreira selectiva entre células adjacentes, limitando o movimento de água e
outras moléculas pelo espaço intercelular. São ainda responsáveis por evitar a migração de
lípidos e proteínas entre as membranas apical e lateral, mantendo a integridade dos dois
domínios.

Ocludina 4 domínios transmembranares


Presente na grande maioria dos epitélios

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Claudinas 4 domínios transmembranares
Responsável por formar canais aquosos para a passagem de
pequenos iões

Junctional 1 domínio transmembranar


adhesion Pertencem à família das imunoglobulinas.
molecules (JAM) Formação de tight junctions entre células epiteliais e entre
estas e os monócitos em migração do espaço vascular para o
tecido conjuntivo.

Os domínios extracelulares destas proteínas formam uma estrutura em forma de fecho


que sela o espaço intercelular.
Os domínios intracelulares têm sequências de aminoácidos que atraem PDZ-domain
proteins (complexos proteicos) que incluem ZO-1, ZO-2 e ZO-3 e que se associam à ocludina e
aos filamentos de actina do citoesqueleto.

Tipos de transporte
► Transporte transcelular (transcitose) – tipo de transporte activo da membrana
apical para o citoplasma e do citoplasma para a membrana lateral (abaixo na
zonula ocludens) ou para a membrana basal.

► Transporte paracelular – é feito através da zonula ocludens e a quantidade de


moléculas transportadas depende da densidade da zonula ocludens,
nomeadamente da composição molecular e do número de canais aquosos
activos.

Junções de adesão
São responsáveis pela adesão entre células através da ligação do citoesqueleto de
células adjacentes. Estão situadas abaixo da zonula ocludens e podem ser de dois tipos:
Zonula adherens (fazem a ligação dos filamentos de actina)
Macula adherens /desmossomas (fazem a ligação dos filamentos intermédios)

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A principal função deste tipo de junção é a estabilidade mecânica do epitélio,
impedindo que as células se separem quando sujeitas a certos tipos de forças, bem como o
reconhecimento célula-a-célula. Têm ainda um papel na morfogénese e diferenciação
celulares.

Proteínas envolvidas:
CAM (moléculas de adesão celular)
O domínio extracelular interage com os de CAM de células vizinhas. Esta interacção
pode ser de dois tipos: homotípica, se ocorrer entre CAMs do mesmo tipo, ou heterotípica, se
ocorrer entre CAMs de tipos diferentes.
O domínio intracelular está ligado ao citoesqueleto.
Estas moléculas estão envolvidas na comunicação, diferenciação e reconhecimento
celular, na apoptose, respostas imunitárias, etc.

Existem 4 famílias de CAMs:

Caderinas Dependentes de cálcio


Interacções homotípicas
Associadas a cateninas que são responsáveis por fazer a ligação à actina
Conduzem sinais que regulam a divisão e o crescimento celular
Caderina-E: epitélios
Caderina-N: SNC, cristalino, músculo esquelético e cardícaco
Integrinas Constituídas por 2 glicoproteínas transmembranares
Interacções heterotípicas
Interagem com moléculas da matriz extracelular (colagénio, fimbrina,
fibronectina) e com os filamentos de actina e filamentos intermédios do
citoesqueleto
Selectinas Dependentes de cálcio
São expressas em células epiteliais e nos glóbulos brancos
Fazem o reconhecimento neutrófilo-endotélio que inicia a migração dos
neutrófilos pelo endotélio dos vasos sanguíneos
Superfamília das Regulam a adesão celular homotípica

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imunoglobulinas Existem vários tipos: ICAM (intercellular cell adhesion molecule), CCAM
(cell-cell adhesion molecule), VCAM (vascular cell adhesion molecule)…
Têm um papel na adesão celular, na metastização de tumores, na
angiogénese e nos processos inflamatórios.

Zonula Adherens
Formam um anel em volta da célula. São compostas por E-Caderina que está ligada, no
domínio intracelular, a catenina. O complexo E-caderina - catelina liga-se à vinculina e α-
catenina que por sua vez interagem com os filamentos de actina. O domínio extracelular está
ligado a cálcio, pelo que a remoção destes iões leva à dissociação da E-caderina.
No microscópio electrónico, o espaço intercelular é pouco denso. Abaixo da
membrana, é visível uma zona mais densa que corresponde aos complexos E-caderina -
catenina e às proteínas associadas.

Fascia adherens
São junções específicas do tecido muscular cardíaco que são semelhantes a zonula
adherens. Ao microscópio electrónico, apresentam um aspecto ondulado. Têm ZO-1.

Macula adherens / desmossomas


São junções muito fortes e que fazem a ancoragem de filamentos intermédios de
células adjacentes. Ao contrário das zonula adherens, não são contínuas ao longo de toda a
célula.
No lado citoplasmático da membrana, existe uma zona mais densa que corresponde a
placas citoplasmáticas onde estão ligados os filamentos intermédios e que são compostas por
desmoplaquina e placoglobina. Estas placas são responsáveis pela dissipação de forças.
O espaço intercelular apresenta, ao microscópio electrónico, uma banda mais densa
no meio que representa a porção extracelular de glicoproteínas: desmogleína e desmocolina
(membros da família das caderinas – são dependentes de cálcio). A porção citoplasmática
destas glicoproteínas interage com a desmoplaquina e com a placoglobina.

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Junções comunicantes: gap junctions ou nexus
Permitem a passagem de moléculas entre células adjacentes através de um conjunto
de canais transmembranares e poros, sendo importantes em tecidos com actividade
coordenada. Ao microscópio electrónico, são pontos de contacto entre células vizinhas.
Os canais são formados por dois conexões, um em cada uma das células adjacentes.
Cada conexão é constituído por 6 subunidades de conexina, sendo que, no total, cada canal
tem 12 conexinas organizadas de forma circular.
A interacção entre as conexinas pode ser homotípica se as moléculas passam
igualmente nos dois sentidos ou heterotípica se as moléculas passam mais rápido num dos
sentidos.
Mutações nos genes das conexinas estão associados a surdez e cataratas.

Especializações do domínio basal: membrana basal, junções célula-matriz e invaginações

Membrana basal
Não é visível em preparações de hemalúmen-eosina por ser muito fina e ficar corada
da mesma forma que o tecido conjuntivo adjacente (pode ser usada impregnação em prata). É
PAS-positiva, o que indica a presença de proteoglicanos. Forma uma camada mais escura e
muito fina entre o epitélio e o tecido conjuntivo.

O termo membrana basal inclui a lâmina basal e a lâmina reticular.


► A lâmina reticular é uma camada pertencente ao tecido conjuntivo formada por
colagénio tipo III (colagénio reticular).
► A lâmina basal ou lamina densa é uma camada de material mais denso entre o
epitélio e o tecido conjuntivo. Contém: laminina, colagénio tipo IV, proteoglicanos
e glicoproteínas. Entre a lâmina basal e a célula, existe uma camada mais clara
constituída por CAMs (fibronectina e receptores de laminina) que se denomina
lamina lucida.

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Conteúdo da lâmina basal:

Colagénio Tipo IV (50%) - isoformas deste tipo conferem especificidade à


lâmina basal associada a diferentes tecidos.
Tipo XV – estabilização dos músculos esquelético e cardíaco.
Tipo XVIII – vasos e epitélios.
Tipo VII – ancoragem da lâmina basal à lâmina reticular.
Lamininas Glicoproteínas constituídas por 3 cadeias polipeptídicas.
Importantes na iniciação da formação da lâmina basal.
Têm locais para ligação de receptores de integrina existentes no
domínio basal do epitélio.
Entactina Glicoproteína
Faz a ligação entre a laminina e a rede de colagénio IV
Liga-se a iões cálcio
Proteoglicanos Têm um carácter muito negativo, pelo que são muito hidratados
(dão volume à lâmina basal)
Regulam a passagem de iões

A adesão da lâmina basal ao tecido conjuntivo é feita por:


Colagénio tipo VII – faz um loop à volta do colagénio tipo III
Microfibrilhas – ancoragem das fibras elásticas
Projecções da lamina densa

Funções da lâmina basal:


► Ligação das células ao tecido conjuntivo
► Isolamento do tecido conjuntivo dos epitélios, nervos e tecido muscular
► Filtração
► Guia na regeneração de tecidos
► Impede a invasão tumoral
► Controlo das funções celulares por interacção com receptores das membranas
celulares

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Junções célula-matriz
Mantêm a integridade da interface célula-matriz. Podem ser adesões focais (envolvem
os filamentos de actina) ou hemidesmossomas (envolvem filamentos intermédios). Existem
ainda, no domínio basal, proteínas transmembranares da família das integrinas que interagem
com a lâmina basal.

Adesões focais
Fazem a interacção entre a lâmina basal e os filamentos de actina.
As proteínas transmembranares envolvidas são as integrinas que interagem, no
domínio intracelular, com α-actinina, vinculina, etc. que estão ligadas à actina. No domínio
extracelular, ligam-se a glicoproteínas da lâmina basal, nomeadamente a laminina e a
fibronectina.
As adesões focais são a base para a migração celular e são importantes na conversão
de sinais mecânicos, provenientes do meio exterior, em sinais bioquímicos que afectam a
actividade da célula (crescimento, migração, diferenciação, etc.).

Hemidesmossomas
Estão presentes em epitélios sujeitos a forças abrasivais, como a córnea, pele, mucosa
da cavidade bucal, esófago e vagina.
São semelhantes ao desmossomas. Na porção intracelular, têm uma placa
citoplasmática composta por proteínas da família das desmoplaquinas (plectina, BP230,
erbina) que se ligam aos filamentos intermédios. As proteínas transmembranares são as
integrinas.

Invaginações
Aumentam a superfície da membrana basal, permitindo a presença de um maior
número de proteínas transportadoras e canais, sendo muito importantes em células com um
transporte activo de moléculas, como os túbulos renais e alguns ductos das glândulas salivares.
Ao microscópio óptico, apresentam um aspecto estriado devido ao facto de as
mitocôndrias se posicionarem numa posição vertical no meio das invaginações (a presença de
mitocôndrias é importante no fornecimento de energia para o transporte activo que ocorre ao
longo da membrana).

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Renovação Epitelial
O turn-over celular é característico de cada epitélio. A renovação de celular ocorre por
divisões sucessivas das células estaminais do epitélio que estão localizadas em nichos. As
novas células vão empurrando as que se situam em camadas suprajacentes.

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EPITÉLIO GLANDULAR
É um tipo de epitélio com função essencialmente secretora e que se diferenciam como
glândulas.
As glândulas endócrinas e exócrinas originam-se por crescimento e diferenciação de
botões celulares existentes nos epitélios de revestimento.
As glândulas podem ser de dois tipos:
► Endócrinas – o produto (hormonas) é secretado para a corrente sanguínea
directamente; não existem ductos excretores.
► Exócrinas – o produto é secretado no tecido conjuntivo ou epitelial através de
um sistema de ductos.

Glândulas exócrinas
Apresentam 3 mecanismos de secreção:

Merócrina O produto é libertado por exocitose do domínio apical.


Ex: Glândulas salivares e pâncreas exócrino
Apócrina Juntamente com o produto é secretada uma pequena porção de
citoplasma e há destruição parcial da membrana apical.
Ex: Glândula mamária, glândulas ciliares (de Moll) no olho.
Holócrina Acumulação do produto no citoplasma da célula e libertação por
apoptose.
Ex: Glândulas sebáceas da pele

Classificação
As glândulas exócrinas podem ser unicelulares (ex: células caliciformes do intestino e
do tracto respiratório) ou multicelulares. Estas últimas podem ainda ser classificadas tendo em
conta as unidades secretoras (parênquima, ou seja, as células que produzem e libertam
substâncias) e os ductos excretores.

Com base nas unidades secretoras, as glândulas exócrinas podem ser:


► Tubulares (em forma de tubo)
► Acinares / alveolares (forma arredondada)

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► Mistas / tubuloalveolares (um tubo que termina numa dilatação em forma de
saco)

Com base nos ductos excretores, podem ser:


► Simples (não tem ramificações)
► Compostos (canais excretores ramificados)

Quanto ao tipo de secreção, as glândulas podem ser mucosas ou serosas.


As secreções mucosas são viscosas, ricas em glicoproteínas e glicolípidos (PAS-
positivas). Nas preparações de hemalúmen-eosina, o citoplasma não é visível porque o
conteúdo é perdido. O núcleo é alongado e periférico devido à acumulação de muco no
citoplasma.
Ex: células caliciformes, glândula submaxilar, células superficiais do estômago.

As secreções serosas são mais aquosas e ricas em proteínas. O núcleo das células é
redondo/oval, o citoplasma perinuclear é basófilo devido à abundância de retículo
endoplasmático rugoso e o citoplasma apical cora intensamente com eosina. Ex: pâncreas
exócrino.

No mesmo tecido, podem ser encontradas glândulas serosas e glândulas mucosas. Ex:
pâncreas, glândula parótida.

Glândulas Endócrinas
As moléculas secretadas podem actuar sobre células situadas longe do local de
secreção, sobre células vizinhas (acção parócrina) ou sobre a própria célula (autócrina).

Glândulas Mistas
Apresentam, simultaneamente, compartimentos endócrinos e exócrinos. Ex: pâncreas,
fígado.

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TECIDO CONJUNTIVO

O tecido conjuntivo tem origem mesodérmica e é constituído por células e matriz


extracelular (fibras e proteínas especializadas que constituem a substância fundamental).
Pode ser classificado em três categorias: embrionário, tecido conjuntivo
propriamente dito e especializado.

Tecido conjuntivo embrionário


A mesoderme é um folheto embrionário que origina quase todos os tipos de tecido
conjuntivo do organismo com excepção do da região da cabeça que tem origem na ectoderme,
a partir de células da crista neural.
A proliferação e diferenciação da mesoderme origina o mesênquima, um tecido
conjuntivo primitivo que por sua vez dá origem aos tecidos conjuntivos, aos músculos, ao
sistema vascular e urinário e às membranas serosas das cavidades.
Existem dois subtipos de tecido conjuntivo embrionário:
► O mesênquima que é constituído por pequenas células fusiformes que
possuem prolongamentos que contactam com outras células. Estes
prolongamentos têm gap junctions. O espaço extracelular tem pouco
colagénio devido ao facto de o feto estar pouco sujeito a stress físico.
► Tecido conjuntivo mucoso presente no cordão umbilical. A sua substância
fundamental é chamada de geleia de Wharton. As células fusiformes estão
mais separadas e são semelhantes a fibroblastos. Os prolongamentos são
pouco visíveis com hemalúmen-eosina.

Tecido conjuntivo propriamente dito


Tecido conjuntivo Características Localização

Laxo Fibras de colagénio finas e escassas; Mucosa dos órgãos


Maior quantidade de células; Epitélio glandular
Importante na difusão de oxigénio, Endotélio dos pequenos
dióxido de carbono e nutrientes entre vasos sanguíneos
os capilares e as células;
Local onde ocorre a resposta imunitária
e inflamatória, pelo que podem estar
presentes células imunitárias;

20
Denso irregular Grande quantidade de colagénio cujas Submucosa dos órgãos
fibras estão dispostas em várias ocos (como o tracto
direcções, o que confere ao tecido intestinal) onde permite a
elevada resistência mecânica sua distensão
Células são escassas e geralmente Pele, onde se chama
apenas estão presentes fibroblastos camada reticular da
Pouca MEC derme

Denso regular Pouca quantidade de MEC Tendões


Fibras de colagénio organizadas em Ligamentos
paralelo e muito próximas, o que Aponevroses
confere elevada resistência
As células que produzem as fibras
estão localizadas entre os feixes
paralelos de colagénio

Os tendões são estruturas que fazem a ligação entre os músculos e os ossos. Entre os
feixes de colagénio existem tendinócitos, que são fibroblastos com um aspecto estrelado. Os
tendões estão revestidos por uma camada de tecido conjuntivo no qual as fibras estão menos
organizadas. Prolongamentos desta camada dividem o tendão em feixes e contêm os vasos e
nervos responsáveis pela sua vascularização e inervação.
Os ligamentos são estruturas menos organizadas do que os tendões e são
responsáveis por ligar dois ossos. Alguns possuem mais fibras elásticas e menos colagénio pelo
que são chamados de ligamentos elásticos.
As aponevroses são constituídas por várias camadas de fibras e, em cada uma delas, as
fibras estão organizadas de forma paralela. Entre camadas vizinhas, as fibras formam ângulos
de 90º. Este tipo de arranjo está presente também na córnea, sendo responsável pela sua
transparência.

Constituição do tecido conjuntivo


O tecido conjuntivo é formado por colagénio, fibras reticulares e fibras elásticas, sendo
todas produzidas por fibroblastos.

Colagénio
É o composto mais abundante. As suas fibras são muito flexíveis e têm elevada
resistência à tensão. Coram com eosina e outros corantes ácidos.

21
As fibras de colagénio são constituídas por fibrilhas (subunidades) que se associam
“cabeça   com   cauda”.   A   resistência   é   causada   pelas   ligações   covalentes   entre   moléculas   de  
feixes diferentes.

Cada molécula de colagénio é constituída por:


► Tripla hélice de hélices-alfa
► A glicina aparece a cada três aminoácidos
► A sequência hidroxiprolina/hidroxilisina – glicina – prolina é frequente
► Hidratos de carbono associados
► 600-3000 aminoácidos

Existem 28 tipos de colagénio, sendo que os mais importantes são os 5 primeiros.

Tipo Localização Função


I Pele, osso, tendões, ligamentos, dentina, Resistência à tensão e ao
aponevroses, órgãos ocos (90% do colagénio estiramento
total do organismo)
II Cartilagem hialina e elástica, notocorda e Resistência a pressões
disco intervertebral intermitentes.
III Tecido conjuntivo laxo, tecido muscular liso, Forma fibras reticulares que
endoneuro, vasos sanguíneos e pele do feto confere um esqueleto para
células especializadas de
alguns órgãos
IV Lâmina basal dos epitélios, glomérulos do Barreira de filtração
rim
V Tecido conjuntivo do estroma Associado a colagénios tipo
I, XII e XIV para modular as
propriedades biomecânicas
das fibrilhas
VI Matriz cartilagínea que envolve os União dos condrócitos à
condrócitos matriz;
Associado ao tipo I
VII Fibrilhas de ancoragem da pele, olhos, útero Ligação da lâmina basal ao
e esófago tecido conjuntivo

22
Biossíntese de colagénio
Eventos intracelulares:
► Síntese de hélices-alfa no REr na forma de cadeias pro-α que apresentam longos
domínios carboxilo e amina.
► No lúmen do REr, sofrem várias modificações:
Remoção da sequência sinal da extremidade amina.
Hidroxilação dos resíduos de prolina e lisina. Este processo requer ácido
ascórbico (vitamina C) pois na sua ausência não se formam pontes de
hidrogénio.
Glicolização dos resíduos de lisina.
Formação da tripla hélice (excepto nas extremidades).
Formação de pontes de H e dissulfito intra e inter-cadeia.
Estabilização da cadeia por chaperones (hsp47) que previnem a formação de
agregados.
► O produto final é o pro-colagénio que é excretado

Eventos extracelulares:
► Remoção das extremidades amina e carboxilo por peptidases.
► Formação de fibrilhas por fibrilhogénese.
► Formação de ligações covalentes entre lisina e hidroxilisinas de cadeias diferentes.

O colagénio maduro é formado por vários tipos de colagénio e é sintetizado por


fibroblastos, que na cartilagem se chamam condrócitos e no osso são osteoblastos. O
colagénio da lâmina basal é produzido pelas células epiteliais.
A biossíntese de colagénio é regulada por factores de crescimento, hormonas e
citocinas, sendo que o factor de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e o factor de
crescimento β estimulam a sua produção e os glicocorticóides (hormonas esteróides) a
inibem.

Degradação do colagénio
Ocorre por duas vias principais: degradação proteolítica e degradação fagocítica.
A degradação proteolítica ocorre pela acção de metaloproteínases de matriz (MMP)
que são sintetizadas por fibroblastos, células epiteliais e células cancerígenas. As MMPs

23
incluem: colagenases (degradam os tipos I, II, III e X), gelatinases (degradam colagénio
desnaturado, laminina, fibronectina e elastina), estromalisinas (degradam proteoglicanos e
fibronectina), MMPs de membrana (produzidas por células cancerígenas), etc.
Geralmente, a estrutura em tripla hélice é resistente à degradação. A actividade das
MMPs pode ser inibida por inibidores específicos para estas enzimas, podendo vir a ser de
elevada importância no tratamento do cancro.

A degradação fagocítica ocorre no meio intracelular. Os macrófagos e fibroblastos


fagocitam os fragmentos de colagénio previamente degradados que são digeridos nos
lisossomas das células.

Fibras Reticulares
São compostas por colagénio tipo III (colagénio reticular), têm cerca de 20nm de
diâmetro e não coram com hemanlúmen-eosina. São PAS-positivas o que indica a presença de
grupos de glícidos.
Estão presentes no tecido conjuntivo em contacto com epitélios e rodeiam
adipócitos, pequenos vasos sanguíneos, nervos e células musculares. São ainda encontrados
em tecidos embrionários e nos primeiros estádios de reparação de tecidos e formação de
tecido cicatrizado, onde vai sendo substituído progressivamente por tipo I. Estão também
presentes nos tecidos hematopoiéticos e linfóides, nomeadamente no timo. Nestes tecidos,
são produzidos por células especiais, as células reticulares, que envolvem as fibras e as isolam
de outros componentes.
As fibras reticulares são geralmente produzidas por fibroblastos, excepto nos nervos
onde são produzidas pelas células de Schwann, na túnica média dos vasos e no músculo liso do
tubo digestivo.

Fibras Elásticas
São produzidas por fibroblastos e por células musculares lisas.
Possuem um núcleo de elastina e uma rede de microfibrilhas de fibrilina. A elastina
é rica em prolina e lisina e é hidrofóbica. A fibrilina-1 é uma glicoproteína que forma
microfibrilhas de 10-12nm de diâmetro e que permite a organização da elastina em fibras. A
sua ausência está associada à síndrome de Marfan caracterizada por uma elevada elasticidade
da pele.

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As fibras elásticas formam uma extensa rede tridimensional e entrelaçam-se com o
colagénio, limitando a distensão do tecido e impedindo  que  este  “rasgue”.
Estas fibras estão presentes nas cordas vocais e algumas artérias.

Matriz Extracelular
A matriz extracelular é uma rede que rodeia e suporta as células presentes no tecido
conjuntivo. Contém, além do colagénio, das fibras reticulares e das fibras elásticas, uma
grande variedade de proteoglicanos, glicosaminoglicanos e glicoproteínas não-colagenosas
(fibronectina e laminina). Estes três últimos componentes formam a substância fundamental
da matriz extracelular.

Funções da matriz extracelular:


► Suporte mecânico e estrutural
► Força de tensão
► Barreira biomecânica
► Regulação das funções metabólicas da célula
► Ancoragem das células por adesões célula-matriz
► Importante no desenvolvimento embrionário e diferenciação
► Retém factores de crescimento
► Informa a célula sobre a constituição do meio extracelular

Substância fundamental
É uma substância viscosa e límpida que, no microscópio óptico, tem uma aparência
amorfa. Nas preparações de hemalúmen-eosina, a substância fundamental é perdida, pelo que
só as células e fibras são visíveis.

Os glicosaminoglicanos são o composto mais abundante. São formados por uma longa
cadeia não ramificada constituída por dissacáridos (N-acetilgalactosamina ou N-
acetilglicosamina e ácido urónico). São sintetizados sob a forma de proteoglicanos e sofrem,
posteriormente, modificações. Estão carregados negativamente devido aos grupos sulfato e
carboxilo, o que faz com que tenham a capacidade de atrair água e formar um gel que permite
a difusão rápida de moléculas.

25
O ácido hialurónico é um glicosaminoglicano com algumas características especiais:
tem uma cadeia muito longa, consegue deslocar maiores quantidades de água, é sintetizado
por proteínas de membrana pelo que não sofre modificações após a tradução, não contém
sulfatos e não forma proteoglicanos. Estes, ao interagirem com o ácido hialurónico através de
proteínas específicas, formam agregados. É muito abundante na cartilagem conferindo-lhe
maior capacidade para resistir a choques e é um bom isolante devido à dificuldade que as
moléculas têm em difundir-se através dele.

As glicoproteínas não-colagenosas têm locais de ligação para as proteínas da MEC e


interagem com receptores de laminina e integrina das membranas celulares, pelo que são
responsáveis pela estabilização da MEC e pela ligação desta às células.
A fibronectina é a mais abundante. É um dímero de 2 péptidos iguais ligados por
ligações dissulfito. Possui locais de ligação para componentes da MEC (sulfato de heparina,
colagénio tipo I, II e III, fibrina, fibronectina, ácido hialurónico) e para a integrina, um receptor
membranar.
A laminina está presente na lâmina basal e possui locais de ligação para colagénio tipo
IV, heparina e para o receptor de laminina.
A osteopontina está presente no osso e liga os osteoclastos à superfície deste. É
importante na captação de cálcio.

Células do Tecido Conjuntivo

Constantes Que migram da corrente sanguínea


Fibroblastos e miofibroblastos Linfócitos
Mastócitos Neutrófilos
Células estaminais adultas Eosinófilos
Macrófagos Basófilos
Adipócitos Monócitos
Plasmócitos

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Fibroblastos
Responsáveis pela síntese de colagénio, fibras reticulares e fibras elásticas,
proteoglicanos, glicoproteínas, etc.
Quando corados com hemalúmen-eosina só o núcleo é visível. Têm uma forma
alongada ou em forma de disco. No microscópio electrónico, é possível ver o REr e o complexo
de Golgi bem desenvolvidos devido à elevada síntese proteica.
Se a preparação for feita durante uma fase de crescimento activo ou reparação de
tecido, os fibroblastos activados são maiores e mais basófilos devido ao aumento do REr.

Miofibroblastos
São alongados e possuem feixes de filamentos de actina associados a proteínas
motoras que atravessam a célula e lhe conferem capacidade contráctil. O local onde se ligam à
membrana chama-se fibronexus e serve é semelhante às adesões focais. Ao microscópio
electrónico, apresentam simultaneamente características de fibroblastos (REr e complexo de
Golgi abundantes) e de músculo liso (membrana nuclear irregular devido à contracção). No
entanto, contrariamente às células musculares lisas, não apresentam lâmina basal e estão
geralmente isoladas, podendo contactar com outros miofibroblastos através de gap junctions.

Macrófagos
São derivados de monócitos – células sanguíneas que migram para os tecidos e se
diferenciam.
É possível identificá-los ao microscópio devido à presença de um núcleo em forma de
rim, lisossomas abundantes, material ingerido por fagocitose e numerosas invaginações e
projecções.

A capacidade fagocítica dos macrófagos é evidenciada pela abundância de lisossomas,


invaginações e vesículas endocíticas. A presença de REr, RE liso e complexo de Golgi indicam
uma elevada síntese proteica necessária à digestão das substâncias fagocitadas, bem como
elevada actividade secretora. Os produtos podem ser secretados por via constitutiva ou
regulada (activada por fagocitose, complexos imunitários e libertação de sinais pelos
linfócitos). Os produtos incluem substâncias de resposta imunitária e inflamatória, proteases e
GAGases (degradam glicosaminoglicanos) que facilitam a migração dos macrófagos para os
tecidos.

27
Têm um importante papel na resposta imunitária. Apresentam à superfície um
conjunto de proteínas específicas – o complexo maior de histocompatibilidade II (MHC II). O
MHC permite a interacção com linfócitos CD4+. Quando os macrófagos fagocitam um
microrganismo, mostram à superfície os seus antigénios. Caso estes sejam reconhecidos pelos
linfócitos T, é desencadeada uma resposta imunitária. Devido a esta capacidade, são
denominadas células apresentadoras de antigénio (APC).
As células de Langhans são conjuntos multinucleados de macrófagos que fagocitam
grandes organismos.

Mastócitos
Células grandes e ovóides, com núcleo esféricos e citoplasma com grânulos que coram
com azul de toluidina porque contêm heparina (proteoglicano). Têm pouco REr, poucas
mitocôndrias e complexo de Golgi pouco desenvolvido.
Desenvolvem-se de células estaminais hematopoiéticas. Circulam no sangue na forma
de agranulócitos e, ao migrarem para os tecidos, produzem os grânulos. Possuem receptores
para as imunoglobulinas E, pelo que a ligação destas aos mastócitos desencadeia a libertação
dos grânulos e a consequente resposta alérgica.
Estão presentes na vizinhança de vasos sanguíneos (excepto no SNC para que o
cérebro e a medula estejam protegidos de eventuais reacções alérgicas), nos folículos
capilares, nas glândulas sudoríparas e sebáceas e no timo e órgãos linfóides (excepto o baço).

Os produtos secretados pelos mastócitos estão armazenados nos grânulos e incluem


mediadores de inflamação que podem ser pré-sintetizados ou recém-sintetizados:
► Histamina – aumenta a permeabilidade dos vasos, causa edemas, aumenta a
produção de muco na árvore tráqueo-brônquica, etc.
► Heparina – é um anticoagulante usado no tratamento de tromboses.
► Proteases de serina – induzem a apoptose de células vasculares nas áreas
ateroscleróticas.
► Factores que atraem neutrófilos e eosinófilos.
► CTC4 – libertado em choques anafiláticos; provoca a constrição dos
brônqueos.
► Tumos necrosis factor α.
► Prostaglandina D2
► Interleucina-5

28
Basófilos
São formados na medula óssea e libertados na corrente sanguínea. Secretam as
mesma substâncias que os mastócitos (excepto interleucina-5 e prostaglandina D2).

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TECIDO CARTILAGÍNEO

É um tecido conjuntivo especializado, composto por condrócitos e matriz extracelular.


A matriz extracelular (95% do volume) é sólida, moldável, resistente e é essencial para a
sobrevivência dos condrócitos devido à elevada concentração de glicosaminoglicanos e
colagénio tipo II que permitem a difusão de substâncias até eles. A elevada resistência do
colagénio, associada à hidratação dos proteoglicanos, confere à cartilagem uma elevada
resistência ao peso durante longos períodos de tempo.
A cartilagem pode ser dividida em três tipos: cartilagem hialina, cartilagem elástica e
fibrocartilagem.

Cartilagem Hialina
A matriz extracelular é amorfa e possui lacunas, pequenos espaços onde estão
situados os condrócitos. Possui uma capacidade de regeneração muito limitada e é o precursor
de ossos que de desenvolvem por ossificação endocondral.

Localização: Superfícies articulares


Traqueia
Brônquios
Laringe
Septo nasal
Extremidade esternal das costelas

Composição
Colagénio (15%)
Tipo II (principalmente)
Tipo XI (regula o tamanho das fibrilhas)
Tipo X (organização tridimensional)
Tipo IX (interage com os proteoglicanos)
Tipo VI (presente à superfície dos condrócitos)

Proteoglicanos (9%)

30
A substância fundamental contém 3 tipos de glicosaminoglicanos: ácido hialurónico,
condroitino sulfato e queratano sulfato. Estes dois últimos estão unidos a uma proteína para
formar um proteoglicano. Cada molécula de ácido hialurónico está ligada a vários
proteoglicanos, formando agregados carregados negativamente entre as fibrilhas de colagénio
que atraem moléculas de água.

Glicoproteínas não-colagenosas (5%)


Influenciam as interacções entre os condrócitos e a matriz. São marcadores da
degeneração da cartilagem.

Água (60-80%)
A água confere à cartilagem resistência e capacidade de resposta a variações da
pressão e permite a difusão de substâncias importantes para a nutrição dos condrócitos.

A regeneração da matriz extracelular depende da capacidade dos condrócitos


detectarem mudanças na sua composição. A pressão cria sinais mecânicos, químicos e
eléctricos que influenciam a actividade destas células. Com a idade, a composição da matriz
altera-se e os condrócitos deixam de ser capazes de responder a esses estímulos.

Condrócitos
Os condrócitos estão agrupados na cartilagem em grupos isógenos que correspondem
a células que se dividiram recentemente. À medida que vão produzindo matriz extracelular,
vão-se afastando.
Os condrócitos secretam, além das proteínas que compõem a matriz,
metaloproteinases que são responsáveis pela sua degradação.

Condrócitos activos têm:


► Citoplasma com zonas mais basófilas (mais escuras) que revelam uma elevada
síntese proteica;
► Citoplasma com zonas mais claras que correspondem ao Complexo de Golgi;
► No microscópio electrónico, são visíveis grânulos, vesículas, REr e
citoesqueleto abundantes.

Condrócitos inactivos têm:

31
► Complexo de Golgi mais pequeno;
► Elevado número de gotículas de lípidos;
► Então  “encolhidos”  devido  à  perda  do  conteúdo  lipídico  e  glicogénico  durante  
a preparação.

Os componentes da matriz extracelular não estão distribuídos uniformemente,


podendo distinguir-se 3 zonas baseadas na forma como coram:

Matriz capsular/pericelular É representada por um anel mais denso em volta de cada


condrócitos. Tem uma elevada concentração de
proteoglicanos, ácido hialurónico, glicoproteínas não-
colagenosas e colagénio tipo VI (faz a ancoragem do
condrócito à matriz).

Matriz territorial Rodeia os grupos isógenos e cora menos intensamente. Tem


maior quantidade de colagénio tipo II.

Matriz interterritorial Ocupa o espaço entre condrócitos e é a zona que cora de


forma mais clara, porque é a zona com menor quantidade de
proteoglicanos.

Pericôndio
Tecido conjuntivo denso composto por células semelhantes a fibroblastos que envolve
a cartilagem hialina, excepto nas superfícies articulares e nas superfícies onde ela contacta
com o osso. É constituído por duas camadas: uma camada mais externa fibrosa e uma mais
interna celular que origina condrócitos (é condrogénica).

A cartilagem articular pode ser divida em 4 camadas (de superficial para profundo):

32
Zona Superficial Muito resistente à pressão.
Condrócitos muito numerosos e achatados rodeados por colagénio
tipo II disposto em feixes paralelos

Zona Intermédia Condrócitos e as fibras de colagénio distribuídos de forma mais


irregular
Zona Profunda Condrócitos pequenos e redondos organizados em colunas
perpendiculares à superfície

Zona Calcificada Condrócitos muito pequenos


Matriz extracelular calcificada

Cartilagem Elástica
A matriz extracelular é semelhante à da cartilagem hialina mas possui também fibras
elásticas, apresentando por isso propriedades elásticas. Está rodeada por pericôndio, cora com
orceína e não calcifica.

Localização: Ouvido externo


Paredes do canal auditivo externo
Trompa de Eustáquio
Epiglote

Fibrocartilagem
É constituída por tecido conjuntivo denso regular e por cartilagem hialina.
Os condrócitos encontram-se dispersos entre as fibras, podendo ser solitários ou estar
reunidos em grupos isógenos. Os núcleos são arrendondados e existe menor quantidade de
matriz extracelular. Não existe pericôndio. São visíveis alguns núcleos alongados que não
pertencem a condrócitos mas sim a fibroblastos.
Este tipo de cartilagem é muito resistente à compressão e absorve os choques.

Localização: Sínfise púbica


Discos intervertebrais

33
Menisco do joelho
Alguns locais onde o tendão se une ao osso

Composição da Matrix Extracelular


Colagénio tipo I (típico do tecido conjuntivo)
Colagénio tipo II (típico da cartilagem)
A proporção dos tipos de colagénio varia consoante a localização e com a
idade (ao longo dos anos a quantidade de colagénio tipo II aumenta porque é
constantemente libertado pelos condrócitos)
Menor quantidade de proteoglicanos e água

Condrogénese
O processo de desenvolvimento dos condrócitos inicia-se por agregação de células
mesenquimais (ou ectomesenquimais da crista neural, no caso das cartilagens da cabeça). A
expressão do factor de transcrição SOX-9 diferencia estas células em condroblastos, que são
responsáveis pela segregação da matriz. Quando um condroblasto está completamente
rodeado por matriz extracelular passa a chamar-se condrócito.
As células mesenquimais que rodeiam os pontos de condrogénese originam o
pericôndio que envolve a cartilagem.
A regulação do processo de condrogénese é feita por proteínas da matriz extracelular,
por receptores nucleares, por moléculas de adesão, por factores de transcrição e por forças
biomecânicas exercidas sobre estas células.

O crescimento da cartilagem pode ocorrer por dois processos:


Crescimento aposicional – os condroblastos da camada condrogénica (mais
interna) do pericôndio sofrem mitoses sucessivas e originam condrócitos.

Crescimento intersticial – os condrócitos da região interna da cartilagem


dividem-se; as células-filhas ocupam primeiro a mesma lacuna da progenitora mas à
medida que vão depositando nova matriz afastam-se, provocando o crescimento da
cartilagem.

34
Reparação da Cartilagem Hialina
A cartilagem é incapaz de se regenerar devido à ausência de vascularização, à
imobilidade dos condrócitos e à sua limitada capacidade de divisão.
A regeneração só ocorre se a lesão afectar apenas o pericôndio. Nesta situação, a
reparação é feita por células pluripotentes localizadas neste tecido mas poucas células
cartilagíneas são produzidas. A reparação ocorre principalmente por produção de tecido
conjuntivo denso.
A reparação de cartilagem é feita por deposição de colagénio tipo I e formação de
cicatriz. Desenvolvem-se geralmente vasos sanguíneos na zona afectada que estimulam a
formação de tecido ósseo.
A cartilagem hialina é susceptível à calcificação em zonas que estão em contacto com o
osso nas articulações, no processo de ossificação endocondral e ao longo do envelhecimento.

35
Identificação Histológica

Cartilagem Hialina (Hemalúmen-eosina e orceína):


► Condrocitos localizados em lacunas
► Cápsula envolvente mais corada devido à presença de muitos glicosaminoglicanos
► As fibras da matriz confundem-se com a substância fundamental e dão à cartilagem
um aspecto amorfo
► A matriz tem glicosaminoglicanos sulfatados e por isso cora com corantes básicos
como a hematoxilina
► O pericôndio cora com eosina e apresenta núcleo alongados que correspondem aos
condroblastos e núcleo mais externos e menos evidentes de fibroblastos
► Existe uma camada mais clara entre o pericôndio e a matriz que corresponde a matriz
não-madura (possui menos grupos sulfatados e condrócitos imaturos menos visíveis)

Cartilagem Elástica (Hemalúmen-eosina e orceína):


► Fibras elásticas coradas a azul-escuro
► As zonas não coradas correspondem às lacunas
► Os condrócitos ocupam apenas parte das lacunas porque encolhem devido à perda
dos lípidos durante a preparação
► Na epiglote é visível uma camada de tecido conjuntivo acima e abaixo da cartilagem,
glândulas mucosas e tecido adiposo

Fibrocartilagem (Método de Mallory):


► Colagénio corado a azul-claro
► Aspecto fibroso
► Fibroblastos pouco numerosos e com núcleo mais pequenos e alongados
► Os condrócitos estão isolados ou em grupos isógenos e muito corados
► A matriz da cartilagem envolve directamente os condrócitos e é ligeiramente mais
clara

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TECIDO ÓSSEO
O tecido ósseo é uma forma especializada de tecido conjuntivo cuja matriz extracelular
se encontra mineralizada (o fosfato de cálcio encontra-se na forma de cristais de
hidroxiapatita). Tem como função o suporte e protecção dos órgãos, a inserção de músculos e
a reserva de cálcio e fósforo para a manutenção da homeostase do cálcio.

Matriz extracelular ou Osteóide

Colagénio tipo I (50%)

Proteoglicanos Conferem resistência ao osso


Retenção de factores de crescimento

Glicoproteínas não-colagenosas Osteonectina, osteopontina, sialoproteínas I e II


União das células e das fibras de colagénio à
substância fundamental

Proteínas dependentes de vitamina K Osteocalcina (captação de cálcio)


Proteína S
MGP (matrix Gla-protein)

Factores de crescimento TNF-α, PDGF-α, TGF-α


BMP (bone morphogenic protein) – induz a
diferenciação das células mesenquimais em
osteoblastos
Isoleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL-6)

A matriz tem lacunas onde se encontram localizados os osteócitos. Estes possuem


prolongamentos que penetram em canalículos que formam uma rede ao longo do osso. A
comunicação entre os prolongamentos de diferentes osteócitos é feita por gap junctions.

37
Periósteo
É uma cápsula que envolve os ossos, excepto nas superfícies articulares. Possui duas
camadas: uma externa fibrosa e uma interna celular com células osteoprogenitoras e que é
pouco definida nos ossos em crescimento.
É constituída por fibras de colagénio paralelas à superfície do osso e está fixo a este
pelas fibras de Sharpey (colagénio).

Endósteo
É uma camada de células que reveste as trabéculas do tecido esponjoso. Contem
células osteoprogenitoras, achatadas e muito alongadas, que se diferenciam em osteoblastos e
osteoclastos.

Medula Óssea Vermelha


Ocupa os espaços no tecido esponjoso. É formada por um conjunto de células
sanguíneas e por uma rede de fibras e células reticulares que lhes servem de suporte. Com a
idade, vai sendo substituída por tecido adiposo, passando a chamar-se medula amarela.

Classificação

Osso primário, esponjoso, trabecular ou medular


É formado por um conjunto de trabéculas ou espículas separados por espaços que
contêm a medula óssea.

Osso secundário, compacto ou cortical


É composto por colunas cilíndricas que constituem o sistema de Havers ou osteão.
Este sistema consiste em lamelas concêntricas em torno de um canal (canal de Havers), que
contém os vasos sanguíneos e linfáticos e os nervos. O seu eixo é paralelo ao maior eixo do
osso.
As lamelas que não rodeiam os canais de Havers constituem o sistema intersticial ou
lamelas intersticiais.
Os feixes neuro-vasculares comunicam entre si e com o periósteo e endósteo através
dos canais de Volkman que perfuram as colunas em ângulo recto com os canais de Havers.

38
Os osteócitos emitem prolongamentos situados em canalículos que ligam o canal
central às lacunas adjacentes.

Células do Tecido Ósseo

Células osteoprogenitoras
Diferenciam-se de células mesenquimais. A sua diferenciação em osteoblastos ocorre
através da expressão do factor de transcrição CBFA-1 (core binding factor alpha-1).
Estão localizadas na superfície interna e externa do osso compacto e têm uma forma
achatada, núcleo ovóide e são pouco coradas.

Osteoblastos
São células secretoras das proteínas que constituem a matriz.

Osteoblastos activos Forma poliédrica.


Formam agregados numa única camada ao longo da
superfície de formação do osso.
A matriz recém-secretada cora pouco e a matriz
mineralizada cora intensamente com eosina (os
osteoblastos parecem estar separados do osso por uma
banda mais clara que representa matriz não-mineralizada).
Citoplasma basófilo com grânulos PAS-positivos.
Complexo de Golgi bem desenvolvido (no microscópio
óptico corresponde a uma zona não corada junto do
núcleo).

Osteoblastos inactivos Células achatadas semelhantes a osteoprogenitores.

39
Osteócitos
Funções: Manutenção da matriz
Mecanotransdução
Síntese e degradação da matriz
Manutenção da homeostase do cálcio

Estas células ocupam lacunas e enviam prolongamentos por canalículos ao longo do


osso que não são visíveis com hemalúmen-eosina. São mais pequenos do que os osteoblastos
e têm menor actividade metabólica, bem como incapacidade de se dividirem.

Bone-Lining Cells
São as células presentes à superfície do osso e que formam o periósteo e o endósteo.
Têm como função o suporte nutricional dos osteócitos e a regulação dos movimentos de cálcio
e fosfato. Têm prolongamento que penetram nos canalículos.

Osteoclastos
São células multinucleadas localizadas em locais onde o osso está a ser removido,
dentro das lacunas de Howship. São acidófilos e têm uma reacção forte para a fosfatase ácida
devido ao elevado número de lisossomas. Derivam de células progenitoras de
granulócitos/macrófagos.

Os osteoclastos têm 3 domínios:

1. Bordadura em escova Região em contacto directo com o osso


Invaginações numerosas semelhantes a
microvilosidades
Secreção de enzimas hidrolíticas e protões
Endocitose dos produtos degradados
Cora com menos intensidade do que o resto da célula (é
uma zona mais clara junto à superfície do osso)
Na parte interna, existem mitocôndrias e lisossomas

40
2. Clear zone Porção de citoplasma adjacente à bordadura em escova
Local onde ocorre a reabsorção e degradação da matriz
Tem muitos filamentos de actina arranjados em forma
de anel à volta da célula
A membrana adjacente tem moléculas de adesão
responsáveis por unir o plasma à matriz calcificada

3. Zona basolateral Local onde ocorre a exocitose do material digerido


É onde se encontra o núcleo

Descalcificação e Reabsorção
Para iniciar a dissolução da matriz óssea é necessário fazer a acidificação da superfície
do osso. Os osteoclastos têm anidrase carbónica II que produz ácido carbónico a partir de
dióxido de carbono e água. O ácido carbónico por sua vez dissocia-se em bicarbonato e H+.
Estes protões são transportados para o exterior da célula por bombas de protões situadas na
membrana da bordadura em escova (ao mesmo tempo são transportados também iões cloreto
para manter a electroneutralidade). O ph desce para cerca de 4 ou 5. O bicarbonato em
excesso é removido por troca com iões cloreto na região basolateral.
Este ambiente ácido inicia a degradação do osso em iões cálcio, fosfato inorgânico e
água. Os osteoclastos libertam então vesículas com enzimas hidrolíticas (como
metaloproteinases) que degradam o colagénio e as restantes proteínas da matriz. Os produtos
degradados são absorvidos pelos osteoclastos.
Quando a reabsorção está completa, os osteoclastos entram em apoptose.

Ossificação

Existem dois processos de ossificação:


Intramembranosa (directamente a partir da diferenciação dos
osteoprogenitores) – ex: ossos achatados da base do crânio.
Endocondral (a partir de um modelo cartilagíneo) – ex: ossos dos membros, da
coluna vertebral e da pélvis.

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Ossificação Intramembranosa
Na 8ª semana de gestação, as células mesenquimais agrupam-se me locais específicos
e diferenciam-se em células osteoprogenitoras que expressam o factor CBFA-1. O novo tecido
torna-se mais vascularizado.
O citoplasma das células osteoprogenitoras torna-se basófilo e surge uma área não
corada que corresponde ao complexo de Golgi. Nesta fase, passam a chamar-se osteoblastos.
Estes secretam colagénio e outras proteínas de matriz. A matriz é mais densa do que o
mesênquima envolvente. Os osteoblastos vão-se separando e originam osteócitos. A matriz
calcifica e as espículas formadas vão aumentando de tamanho por crescimento aposicional até
se formar o osso.

Ossificação Endocondral
Na 12ª semana de gestação, as células mesenquimais agregam-se e diferenciam-se em
condroblastos por expressão dos factores de transcrição FGF (fibroblast growth factor) e BMP
(bone morphogenic protein). Os condroblastos produzem matriz cartilagínea e originam um
modelo cartilagíneo que aumenta de tamanho por crescimento aposicional e intersticial. As
células do pericôndio na região central da cartilagem originam osteoblastos e o tecido
conjuntivo adjacente torna-se funcionalmente em periósteo.
Nos ossos longos, forma-se uma camada de osso por ossificação intramembranosa na
diáfise que se denomina colar periostal.
Os condrócitos na região central da cartilagem ficam hipertróficos e sintetizam
fosfatase ácida que provoca a calcificação da matriz cartilagínea, levando à morte dos
condrócitos e à confluência das lacunas. Estes espaços são invadidos por vasos sanguíneos e
por células mesenquimais que se diferenciam em células osteoprogenitoras. Algumas células
estaminais hematopoiéticas acompanham os vasos e formam posteriormente a medula óssea.
Quando as células osteoprogenitoras entram em contacto com as espículas de cartilagem
calcificada originam osteoblastos que depositam osteóide, formando um centro de ossificação
primário (local onde se inicia a formação de osso na diáfise).

A cartilagem calcificada é basófila, cora a azul-claro com o método de Mallory e não


tem células. Por oposição, o osso é eosinófilo, cora a azul-escuro e tem osteócitos.

42
Crescimento do Osso
Em cada extremidade da diáfise, forma-se uma placa de cartilagem epifisária que
apresenta várias zonas (da mais distal para a mais proximal do ponto de ossificação primário):

Zona de Reserva Não há proliferação celular nem produção de matriz

Zona de Proliferação Os condrócitos dividem-se e organizam-se em


colunas
Produção de colagénio e outras proteínas

Zona de Hipertrofia Células cartilagíneas hipertrofiadas


Produção de colagénio I e X

Zona de Cartilagem Calcificada Degeneração dos condrócitos


Calcificação da matriz
Deposição de osso

Zona de Reabsorção Zona mais próxima da diáfise


Pequenos vasos sanguíneos com células
osteoprogenitoras

À medida que é depositado osso forma-se osso primário esponjoso que é


posteriormente substituído por osso compacto.
Pouco depois do nascimento, formam-se centros de ossificação secundários perto de
cada epífise. A única cartilagem que permanece está presente nas superfícies articulares e no
disco de crescimento epifisário, um disco transversal que separa a diáfise das epífises e que,
após o crescimento estar completo, se torna apenas numa linha vestigial formada por tecido
ósseo.
O crescimento do osso ocorre devido à propagação do disco epifisário. A sua espessura
permanece sempre constante. A formação de nova matriz cartilagínea provoca o afastamento
das epífises da diáfise levando ao aumento do comprimento do osso. A quantidade de
cartilagem produzida é igual à reabsorvida e esta é substituída por osso primário.
O aumento do diâmetro ocorre por crescimento aposicional entre as lamelas corticais
e o periósteo.

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A cavidade da medula óssea aumenta por reabsorção de osso ao nível da superfície do
endósteo.

Desenvolvimento do sistema de Havers (remodelação interna)


Os osteoclastos formam estruturas em forma de túnel por absorção do osso de forma
centrífugas, ou seja, do centro para a periferia. Estes túneis são ocupados por vasos e tecido
conjuntivo adjacente. Os osteoblastos depositam então tecido ósseo por lamelas sucessivas
num sentido centrípeto.
No adulto, a velocidade de reabsorção é igual à de deposição. Ao longo dos anos, a
reabsorção torna-se mais rápida, podendo levar à osteoporose.

Mineralização
A ligação do Ca2+ à osteocalcina da matriz leva ao aumento da sua concentração local.
Este aumento da concentração de cálcio estimula os osteoblastos e produzir fosfatase ácida
que aumenta a concentração de fosfato. Este por sua vez aumenta ainda mais a concentração
de Ca2+. O fosfato de cálcio acaba por cristalizar e deposita-se sob a forma de cristais de
hidroxiapatite.

Homeostase do Cálcio
A concentração fisiologia de cálcio situa-se entre 8,9 e 10,1 mg/dL.
A regulação da sua concentração é feita principalmente por duas hormonas com
efeitos contrários:

PTH (hormona da paratiróide) Aumenta os níveis de cálcio no sangue


Estimula a absorção de osso pelos osteoblastos e
osteoclastos
Diminui a excreção de cálcio nos rins e aumenta a
excreção do fosfato produzido na reabsorção
Aumenta a absorção de cálcio no intestino

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Calcitonina (hormona da glândula Diminui os níveis de cálcio no sangue (inibe o efeito da
tiroideia) PTH)

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TECIDO ADIPOSO
O tecido adiposo é um tipo de tecido conjuntivo especializado constituído por
adipócitos e que desempenha um importante papel na homeostase energética.
Existem dois tipos: tecido adiposo branco e o tecido adiposo castanho.

Tecido adiposo branco


Forma uma camada denominada panículo adiposo ou hipoderme no tecido conjuntivo
que se situa abaixo da pele e faz o isolamento térmico do organismo, evitando as perdas de
calor. Nas glândulas mamárias, faz o suporte do aleitamento através do fornecimento de
lípidos e energia para a produção de leite, bem como a síntese de factores de crescimento.
Localiza-se preferencialmente no grande epíploon, no mesentério, no espaço retro-
peritoneal, à volta do rim, na medula e entre outros tecidos, preenchendo o espaço entre eles.

Os adipócitos sintetizam e secretam hormonas, factores de crescimentos e citocinas:


► Leptina - hormona que inibe a fome e a perda de peso e estimula a taxa
metabólica, actuando ao nível de receptores do hipotálamo;
► Adiponectina;
► Angiotensina – uma produção excessiva desta hormona contribui para a
hipertensão que é um problema associado à obesidade;
► Hormonas esteróides.
Indivíduos obesos produzem uma quantidade excessiva destas substância o que pode
ter como consequências o desenvolvimento de diabetes e outros problemas metabólicos.

Diferenciação dos Adipócitos


Os adipócitos têm origem em células mesenquimais que expressam os factores de
transcrição PPARγ (peroxisome proliferator-activated receptor gamma) e RXR (retinoid X
receptor). Estes induzem a maturação de lipoblastos jovens que são alongados e possuem
vários prolongamentos. Ao longo do processo de diferenciação, o número de vesículas
aumenta, surgem pequenas gotículas de lípidos num dos pólos do citoplasma e forma-se uma
lâmina externa. Nos lipoblastos maduros, as gotículas de lípidos fundem-se numa só que
ocupa uma posição central no citoplasma, o núcleo é empurrado para a periferia e o RE liso é

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abundante. Como a gotícula de lípidos é única, estas células são denominadas adipócitos
uniloculares.

Estrutura do Tecido Adiposo


Os adipócitos são arredondados, podendo tornar-se poliédricos quando estão
compactados no tecido adiposo. O núcleo é achatado e periférico e o citoplasma forma um aro
à volta dos lípidos. Nas preparações histológicas, os lípidos são perdidos pelo que o tecido
adiposo é um conjunto de formas poliédricas sem conteúdo.
Entre o citoplasma e o conteúdo lipídico, existe uma camada de filamentos de
vimentina que separa os lípidos do conteúdo hidrofílico do citoplasma. O citoplasma
perinuclear contém o complexo de Golgi, ribossomas livres, microfilamentos, filamentos
intermédios e RE liso.
Este tecido é ricamente vascularizado. A impregnação por prata mostra que as células
estão rodeadas por colagénio reticular secretado pelos adipócitos.

Regulação do Tecido Adiposo


A quantidade de tecido adiposo é controlada por dois mecanismos.
O mecanismo a curto prazo é responsável pela regulação do apetite e do metabolismo
diário e tem por base duas hormonas peptídicas:

Grelina Produzida no estômago


Estimula o apetite
Actua sobre receptores do hipotálamo, aumentando a sensação
de fome
No síndrome de Prader-Willi esta hormona é produzida em
excesso, o que faz com que os doentes comam compulsivamente

Péptido YYY Produzido no intestino delgado


Indução a sensação de saciedade após uma refeição
Actua em receptores do hipotálamo que fazem a supressão do
apetite

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O mecanismo a longo prazo é controlado pela leptina, pela insulina, pela hormona da
tiróide, por glicocorticóides e por homonas da glândula pituitária. A insulina promove a síntese
lipídica pois estimula a produção de enzimas (sintase de ácidos gordos, acetil-CoA carboxilase)
e inibe a degradação de lípidos. A glucagina e a hormona do crescimento da glândula
pituitária, pelo contrário, estimulam a lipólise, bem como a norepinefrina.

Tecido Adiposo Castanho


As células do tecido adiposo castanho são multioculares (têm várias gotículas de
lípidos), têm muitas mitocôndrias com grande quantidade de citocromo c oxidase (que
confere, em parte, a cor castanha ao tecido) e um complexo de Golgi pouco desenvolvido, bem
como poucas quantidade de REr e liso. Nas preparações, o citoplasma é formado por vacúolos
vazios, devido à perda do conteúdo lipídico.
É muito vascularizado e está associado a fibras nervosas amielinizadas.

Este tipo de tecido é abundante do feto e no recém-nascido, onde é muito importante


para evitar hipotermia. Está localizado principalmente nas costas e nos ombros. Ao longo dos
anos, vai-se perdendo e, no adulto, está presente apenas à volta dos rins, perto dos grandes
vasos e em algumas regiões do pescoço, costas e tórax (mediastino).

O tecido adiposo castanho é uma fonte de calor para a manutenção da temperatura


corporal quando estimulado pelo sistema nervoso simpático. As mitocôndrias contêm UCP-1
que permite o fluxo de protões do espaço inter-membranar para a matriz mitocondrial sem
passar pelas ATPases. Assim, produz-se energia que é dissipada sob a forma de calor
(termogénese) sem que haja produção de ATP.
A actividade metabólica do tecido adiposo castanho é regulada principalmente pela
norepinefrina que estimula a lipólise.

Diferenciação
Os adipócitos do tecido adiposo castanho diferenciam-se de células mesenquimais por
expressão de factores de transcrição específicos que estimulam a síntese de UCP-1 (uncoupling
protein) que é essencial no metabolismo lipídico. O gene UPC-1 é também activado pela
norepinefrina.

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SANGUE
É um tecido conjuntivo fluido que circula no sistema cardiovascular. É constituído por
células e plasma e tem como funções:
► Transporte de oxigénio e nutrientes para as células
► Transporte de dióxido de carbono e produtos de excreção das células
► Transporte de hormonas e substâncias reguladores
► Manutenção da homeostase
► Participação nos processos de coagulação e termorregulação
► Transporte de agentes do sistema imunitário.

Um hematócrito é o volume de eritrócitos presentes numa amostra de sangue. Para


fazer essa contagem é centrifugada a amostra após a adição de anticoagulantes (heparina,
citrato) e é feito o cálculo da percentagem do tubo ocupado por eritrócitos e pelo total de
sangue. Nas mulheres esse valor deve ser de 35-45% e nos homens de 39-50%. Valores mais
baixos são indicativos de anemia. Os leucócitos e as plaquetas acumulam-se numa camada
muito fina entre o plasma e os eritrócitos chamada buffy coat.

Plasma – constituição

Água (91%) Solvente de várias substâncias (metabolitos, electrólitos,  proteínas…)


Manutenção da homeostase (mantém o pH óptimo e o osmolaridade para
o metabolismo celular)
Albumina Proteína principal
Síntese: fígado
Mantém a pressão osmótica entre o sangue e o líquido intersticial
A sua diminuição leva à acumulação de sangue nos tecidos
Transporta: hormonas, metabolitos (biliburrina)
Globulinas Imunoglobulinas (anticorpos ou γ-globulina)
Não-imunoglobulinas (fibronectina, lipoproteínas, factores de coagulação,
α e β-globulina):
Síntese no fígado
Mantêm a pressão osmótica
Transporte  de  ferro,  hemoglobina  …  

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Fibrinogénio Síntese: fígado
No processo de coagulação, origina a fibrina, uma proteína insolúvel que
forma uma rede impermeável que previne a perda de sangue.

Normalmente, as proteínas do plasma coram de forma homogénea com eosina nas


preparações de hemalúmen-eosina (H&E).
Ao plasma sem factores de coagulação chama-se soro.
A composição do fluido intersticial é igual à do plasma.

Células do sangue
As células do sangue incluem:
► Eritrócitos / glóbulos vermelhos
► Leucócitos /glóbulos brancos
► Plaquetas / trombócitos

Eritrócitos
São células anucleadas e praticamente sem organelos. São responsáveis pelo
transporte de oxigénio e dióxidos de carbono. Têm um diâmetro de 7,8μm e a forma de um
disco bicôncavo que maximiza a área de contacto da membrana com os gases e a
hemoglobina. Os eritrócitos têm uma grande capacidade de deformação.
O seu tempo de vida é de aproximadamente 120 dias. Após este período a maioria é
fagocitada por macrófagos na medula, baço e fígado e os restantes são destruídos na corrente
sanguínea e libertam hemoglobina.
Coram uniformemente com eosina devido à presença de hemoglobina.

Constituição da membrana:
Lípidos
Proteínas de membrana Domínio extracelular glicolizado
(glicoforina C, banda 3) Expressam antigénios específicos
A banda 3 liga-se ao citoesqueleto e à hemoglobina
Proteínas periféricas Formam uma rede na face citoplasmática da membrana
(espectrina, actina, banda São principalmente proteínas do citoesqueleto

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4.1 e 4.9, tropomiosina) Conferem propriedades elásticas ao eritrócito e são
responsáveis pela sua forma

Hemoglobina
É a proteína que faz o transporte dos gases. É constituída por 4 cadeias polipéptidicas
(α,  β,  γ,  δ)  cada  uma  delas  ligada  a  um  grupo  heme  com  ferro.
Existem vários tipos de hemoglobinas (Hb):
HbA 96%
α2 β2
HbA2 1,5-3%
α2 δ2
HbF Presente no feto
Tem maior afinidade para o oxigénio
α2 δ2

Leucócitos
Os leucócitos apresentam uma linhagem mielóide (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e
monócitos) e uma linhagem linfóide (linfócitos).

Podem ser divididos em dois grupos:


► Granulócitos: apresentam grânulos específicos e incluem neutrófilos,
eosinófilos e basófilos.
► Agranulócitos: linfócitos e monócitos.
Ambos os grupos de leucócitos apresentam grânulos azurófilos, inespecíficos ou
primários, que representam lisossomas. São os primeiros a surgir no desenvolvimento
(contêm  mieloproteinases,  hidrolases  ácidas,  proteínas  catiónicas  …)  e  têm  uma  cor púrpura.

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Neutrófilos
São o tipo de leucócitos mais numeroso e são maiores do que os eritrócitos.
Apresentam um núcleo multilobulado que é constituído por 2 ou 3 lobos unidos por
pontes de cromatina. Esta está organizada de forma a que a heterocromatina esteja em
contacto com o invólucro nuclear e a eucromatina esteja concentrada no centro do núcleo.
Nas mulheres, geralmente apresentam o corpúsculo de Bahr, que é um apêndice num
dos lóbulos que corresponde ao cromossoma x condensado.

Constituição dos grânulos:

Secundários/específicos Mais pequenos e numerosos


Têm fosfatase alcalina usada como marcador histoquímico (a
sua actividade é marcada por um depósito granular
acastanhado)
Libertam mediadores de inflamação e activadores de
complemento (resposta inflamatória)

Terciários Podem ter fosfatases ou mateloproteínases

Os neutrófilos são móveis e são as primeiras células a aparecer nos tecidos


danificados. A migração ocorre por interacção das selectinas da superfície dos neutrófilos com
receptores específicos das células endoteliais. Após esta ligação, são activadas integrinas e
moléculas da família das imunoglobulinas que permitem a emissão de pseudópodes que se
estendem entre as células do endotélio. A histamina e heparina libertada no local fazem a
abertura das junções intercelulares, permitindo a passagem do neutrófilo.
Estas células apresentam uma grande variedade de receptores membranares que
reconhecem organismos patogénicos e estranhos. Quando ocorre este reconhecimento, o
neutrófilo emite pseudópodes que envolvem o organismo e este é posteriormente digerido
pelas enzimas presentes nos grânulos. O material degradado é exocitado ou acumulado no
interior dos neutrófilos, pelos que estes acabam por morrer e acumulam-se, formando pus.

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Eosinófilos
Têm o memo tamanho dos neutrófilos. O núcleo é bilobulado.

Grânulos específicos Numerosos, largos e alongados


Têm um cristalóide constituído por proteína básica principal
(MBP) que lhe confere acidez
Proteína catiónica eosinófila, peroxidases, neurotoxinas,
histaminases, aryl-sulfatase,  colagenases  …  
Coram a vermelho brilhante com eosina e vermelho-tijolo
com o método de Romanowsky

Desenvolvem-se e maturam na medula e circulam no sangue. A migração para os


tecidos é mediada por quimiotaxia em resposta a produtos bacterianos e a produtos libertados
por linfócitos, basófilos e mastócitos (histamina, factor quimitático eosinófilo da anafilaxia).

Funções:
► Envolvidos em reacções alérgicas e inflamatórias. São activados por
interacção com IgG e IgA. A libertação da aryl-sulfatase e da histaminase
neutraliza a histamina e circunscreve o processo inflamatório.
► Eliminação de parasitas
► Destruição dos complexos antigénio-anticorpo.

Basófilos

Grânulos secundários Muito basófilos (cor muito escura) devido ao elevado teor de
sulfato
Grandes
Cobrem o núcleo
Contêm: heparina (anticoagulante), histamina (vasodilatador),
condroitino sulfato, IL-4, IL-13
Quando corados com azul de toluidina o corante muda para
vermelho

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A membrana tem receptores Fc para anticorpos IgE e CD40L que interage com os
linfócitos B levando ao aumento da produção de IgE. Libertam heparina que causa edema,
inchaço e vasodilatação.
As suas funções são semelhantes às dos mastócitos: libertam agentes vasoactivos e
estão envolvidos nas reacções alérgicas. Ambos derivam das mesmas células progenitoras. No
entanto, os mastócitos são maiores e contêm serotonina e 5-hidroxitriptamina.

Agranulócitos
Estas células apenas têm grânulos azurófilos (lisossomas) e o seu núcleo é redondo e
não-lobulado.

Linfócitos
Constituem 20-30% do total de leucócitos. Estão presentes tanto no sangue como na
linfa e podem ser: pequenos, médios ou grandes (linfócitos activados e linfócitos NK).
Linfócitos inactivos Pequenos
Núcleo esférico, muito corado (pode ter incisuras)
Poucos organelos
Citoplasma pálido basófilo
Razão núcleo/citoplasma elevada

Tipos de linfócitos:

Linfócitos T Diferenciam-se no timo


Têm TCRs (T-cell-receptors) compostos por duas cadeias: α  e  β
Marcadores específicos: CD2, CD3, CD5 e CD7
São classificados de acordo com a presença ou ausência de CD4
e CD8:
CD4+ (de ajuda) - induzem a resposta imunitária, ligam-
se a moléculas do MHC II apresentadas por macrófagos,
afectam a função dos linfócitos B e produzem
interleucinas que actuam de forma autócrina para
produzir mais CD4+.

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CD8+ (citotóxicos) – são os efectores primários;
secretam linfocinas e perforinas que levam à lise das
células infectadas.

Linfócitos B Produção de anticorpos


Expressem IgM, IgD e MHC II
Marcadores específicos: CD9, CD19, CD20, CD24

Linfócitos NK Programados para matar certos vírus e células tumorais


(natural killer) Secretam interferão γ
São maiores
Núcleo em forma de rim
Muitos grânulos
Marcadores: CD 16, CD56, CD94

Existem ainda mais dois tipos de linfócitos T:


► Células T supressoras – fazem a supressão da resposta imunitária.
► Células T gama/delta (γδ) – migram para os epitélios e constituem a primeira
linha de defesa.

Os linfócitos T e B não se distinguem ao microscópio óptico. Os linfócitos NK podem


ser identificados pelo tamanho, núcleo e presença de grânulos.

Monócitos
São os leucócitos de maior tamanho. Migram da medula para os tecidos e
diferenciam-se em células fagocíticas (macrófagos, osteoclastos, células de Kupffer do fígado,
microglia…).  O   núcleo   tem   incisuras   onde se localizam os organelos, têm pequenos grânulos
azurófilos e possuem maior quantidade de citoplasma do que os linfócitos.
O monócito-macrófago é uma célula apresentadora de antigénio com um importante
papel na resposta imunitária.

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Plaquetas/Trombócitos
São células derivadas de megacariócitos, células com vários conjuntos de
cromossomas que desenvolvem projecções citoplasmáticas que vão fragmentando a célula e
originam as plaquetas.
O citoplasma é granular e tem uma cor púrpura.

São constituídas por 4 zonas:

Periférica Membrana coberta por uma cama de glicocálix (glicoproteínas,


glicosaminoglicanos, factores  de  coagulação…)

Estrutural Microtúbulos, filamentos de actina, miosina (fazem o suporte da


membrana)
Mantêm a forma de disco da célula

De organelos Zona central


Mitocôndrias, peroxissomas, glicogénio, grânulos.
Os grânulos podem ser de 3 tipos:
α – fibrinogénio,  factores  de  coagulação,  PDGF  …  importantes  nas  
fases iniciais da reparação de vasos, na coagulação do sangue e na
agregação plaquetária.
δ (densos) – ATP, ADP, serotonina, histamina
γ (lisossomas) – envolvidos na reabsorção dos coágulos.

De membrana Apresenta dois tipos de canais importantes na regulação do Ca2+:


Sistema canicular da membrana
Sistema tubular denso
Apresente numerosas proteínas viradas para o meio extracelular

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Processo de coagulação

Libertação de serotonina
(vasoconstritor),
Adesão plaquetária no
tromboxane A2
local da lesão
(agregação plaquetária) e
factores de coagulação

Retracção das Conversão do


plaquetas e fibrinogénio em Formação do coágulo
restabelecimento da fibrina (coágulo primário
circulação secundário)

Destruição do coágulo Libertação de PDGF


por plasmina (circula que estimula a
na forma inactiva - proliferação de
plasminogénio) fibroblastos

Hematopoiese
É um processo contínuo que faz a manutenção do número de células em circulação no
sangue periférico. Ocorre na medula vermelha e nos órgãos linfóides (timo, baço).
No desenvolvimento fetal, a primeira fase da hematopoiese ocorre na terceira semana
de gestação com a formação de ilhotas hematopoiéticas no saco vitelino. No segundo
trimestre, desenvolve-se o fígado e o baço e, no 7º mês, é formada a medula óssea.

Células Estaminais Hematopoiéticas


Estas células diferenciam-se em todas as linhagens celulares do sangue, têm
capacidade de auto-renovação e contribuem para a regeneração de vários tecidos e órgãos.
Os marcadores específicos são: CD34+, CD40+, CD38- e Lin- (não têm marcadores
específicos que uma linhagem).

Originam 2 tipos de células:


► Progenitor mielóide comum (CPM)

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Progenitor de
megacariócitos/eritrócitos
Neutrófilos
CPM
Eosinófilos
Progenitor de
Basófilos
granulócitos/monócitos
Monócitos
Células dendríticas

► Progenitor mielóide comum - origina linfócitos e células dendríticas.

Eritropoiese

IL-3, IL-4
eritropoieitina Progenitor de GATA-1
CPM megacariócitos/eritrócito Pro-eritroblasto
s

Existem 5 precursores dos eritrócitos:

Pro-eritroblasto Grande
Núcleo esférico com nucléolo
Citoplasma basófilo devido aos ribossomas
Por mitoses origina eritoblastos basófilos

Eritroblasto basófilo Citoplasma muito basófilo (escuro)


Núcleo ligeiramente mais pequeno
Síntese de hemoglobina

Eritroblasto policromático Citoplasma basófilo (ribossomas coram com


hematoxilina) e acidófilo (hemoglobina cora com eosina)
Núcleo mais pequeno e acompanhado de vários

58
fragmentos (corpos de Howell-Jolly)

Eritroblasto ortocromático ou Núcleo pequeno e denso


normoblasto Citoplasma eosinófilo (hemoglobina) com cor
semelhante aos eritrócitos
Não tem capacidade de divisão
Extrusão do núcleo e passagem para o sangue

Reticulócito 1-2% da contagem de eritrócitos no sangue


Ainda possuem algum material nuclear residual

O processo de eritropoiese dura uma semana e é regulado pela eritropoietina


(hormona sintetizada no fígado em resposta à hipoxia).
Após os 120 dias de vida, os eritrócitos tornam-se senescentes e são degradados no
fígado, baço e medula. O ferro é libertado e vai para o baço onde é armazinado na forma de
ferritina. O restante é degradado pela biliburrina e excretado pela vesícula biliar.

As unidades de eritropoiese na medula chamam-se ilhotas eritroblásticas e são


constituidas por 1 ou 2 macrófagos rodeados por células progenitoras.

Granulopoiese

Progenitor de
neutrófilos

Progenitor de Progenitor de
CPM granulócitos/monócito basófilos
s

Progenitor de
eosinófilos

Fases:

Mieloblasto Núcleo grande e esférico com 3 a 5 nucléolos


Citoplasma agranular muito basófilo

59
Pró-mielócito Grânulos azurófilos (é a única células onde ocorre a sua produção)

Mielócito Produção dos grânulos específicos de cada linhagem

Metamielócito Núcleo em forma de rim


As fases seguintes são apenas observadas nos neutrófilos; o
metamielócito diferencia-se directamente em basófilos ou
eosinófilos maduros

Célula em bastão Núcleo em forma de ferradura com 2 a 4 lóbulos (neutrófilo


maduro)

Este processo dura cerca de duas semanas.


São produzidos 1011 neutrófilos por dia. Existe, na medula, uma reserva constante que
permite a sua rápida libertação em resposta a inflamações, infecções e ao exercício. Existe
uma outra reserva ao nível dos vasos (o grupo marginado) que adere ao endotélio através de
selectinas e tem a mesma quantidade de neutrófilos que existe em circulação.

Monopoiese

Os monócitos derivam da unidade formadora de colónias de monócitos-granulócitos. A


monopoiese é caracterizada por três fases:

Monoblasto Volumoso
Basófilo
Desenvolvimento progressivo do RE e complexo de Golgi

Pró-monócito Núcleo grande com cromatina descondensada


Citoplasma basófilo (ribossomas)
Grânulos primários

Monócito Deixam a medula logo após a sua formação

60
Circulam durante 3 dias no sangue e migram por diapedese para os tecidos de modo
aleatório.

Linfopoiese
Dois estágios precursores: linfoblasto e pró-linfócito.
Há uma diminuição progressiva do tamanho da célula. Os linfócitos B amadurecem na
medula e os linfócitos T amadurecem no timo. Ambos se deslocam posteriormente para os
órgãos/tecidos linfóides secundários.

Trombopoiese

Megacarioblasto Núcleo reniforme com vários nucléolos

Pró-megacariócito Aumento do volume


Citoplasma rico em grânulos azurófilos
Núcleo irregular

Megacariócito Núcleo multilobulado


Vários conjuntos de cromossomas

As plaquetas formam-se por invaginação e fragmentação do citoplasma. Na medula, os


megacariócitos lançam pseudópodes (pró-plaquetas) nos sinusóides que representam
conjuntos de plaquetas que se fragmentam na circulação.
A regulação é feita pela trombopoietina que é produzida no fígado.

Medula Óssea
É constituída por vasos sanguíneos em unidades especializadas, os sinusóides, e por
células hematopoiéticas. Os sinusóides são formados por endotélio simples pavimentoso,
lâmina basal e uma camada incompleta de células adventícias que enviam prolongamentos e
fazem o suporte das células sanguíneas.

61
As funções da medula são a hematopoiese, o armazenamento de ferro e a remoção
dos eritrócitos senescentes.
O estroma é constituído por fibroblastos, células reticulares, macrófagos, adipócitos
(energia) e MEC (colagénio tipo I e III, fibronectina, laminina, proteoglicanos).
O parênquima é formado pelas células hematopoiéticas.

62
TECIDO MUSCULAR

As funções são a geração de movimento e mudanças de forma e tamanho dos órgãos

Classificação:
► Músculo estriado:
o Visceral – presente nos tecidos moles (faringe, língua, esófago)
o Esquelético – está ligado ao osso; é responsável pelo movimento, manutenção
da postura e movimentos oculares (músculos extra-oculares)
o Cardíaco – presente na parede do coração e base dos grandes vasos.
► Músculo liso: presente nas vísceras, sistema vascular, músculos intrínsecos do olho e
no musculus erector pili.

Músculo Esquelético

Cada célula muscular (fibra muscular) é um sincício multinucleado. As fibras


musculares formam-se por fusão de pequenas células, os mioblastos, e têm forma de
polígonos de tamanho muito variável. O núcleo localiza-se imediatamente abaixo da
membrana celular (também chamada de sarcolema).

O tecido conjuntivo que rodeia as células é essencial na transmissão de formas e


continua-se, no fim do músculo, com o tendão ou com as fibras de colagénio que fazem a
ligação do músculo ao osso (fibras de Sharpey). É muito vascularizado e pode ser divido, de
acordo com as suas relações com as fibras musculares, em:
► Endomísio – envolve as células individualmente; apresenta pouca vascularização e
inervação.
► Perimísio – envolve feixes de fibras.
► Epimísio – envolve conjuntos de feixes; apresenta nervos e vasos de maiores
dimensões.

63
Tipos de músculo esquelético
O músculo é frequentemente classificado de acordo com a sua cor em fibras
vermelhas, brancas e intermédias.
Actualmente, a classificação é baseada na velocidade de contracção, na velocidade
enzimática da ATPase da miosina e no perfil metabólico, através de reacções que detectam a
actividade das enzimas NADH-TR e succinato desidrogenase.

Tipo I Grande quantidade de mitocôndrias, mioglobina e


(fibras vermelhas/oxidativas lentas) citocromo c (indica a realização de respiração
oxidativa);
Muito coradas na reacção para a actividade da
NADH-TR e da succinato desidrogenase;
Contracção lenta;
Resistentes à fadiga;
Menor tensão / força de contracção;
Actividade da ATPase é a mais lenta;
Presente nos músculos dos membros e do tronco
(movimentos lentos e grosseiros).

Tipo II Cor-de-rosa (in vivo);


(fibras brancas/glicolíticas rápidas) Menos mioglobina e mitocôndrias;
Poucas enzimas oxidativas;
Grande actividade anaeróbia;
Contracção rápida;
Pouco resistentes à fadiga devido à produção de
ácido láctico;
Velocidade rápida da ATPase;
Movimentos finos e precisos devido ao elevado
número de junções neuromusculares que permitem
um maior controlo por parte do sistema nervoso;
Presentes nos músculos extra-oculares e dos dedos.

64
Miofibrilhas e miofilamentos

Fibra Fascículo/
Miofilamentos Miofibrilhas Músculo
muscular Feixe

Miofilamentos
São polímeros de miosina II e actina, associados a proteínas. Estão rodeados pelo
retículo sarcoplasmático que está associado a glicogénio e mitocôndrias.
Numa preparação de hemalúmen-eosina, observam-se dois tipos de bandas: bandas A,
mais escuras e que representam o comprimento dos filamentos de miosina II; bandas I, mais
claras, que contêm apenas actina. Estas bandas são atravessadas por outras de grande
densidade, nomeadamente os discos Z (atravessam as bandas I - são o local de ancoragem dos
filamentos de actina) e as bandas H (atravessam as bandas A). Estas últimas são ainda
atravessadas pelas bandas M.
Na contracção, o sarcómero (região localizadas entre dois discos Z consecutivos) e as
bandas I e H diminuem de tamanho e a banda A mantém-se igual.

Filamentos de Actina
São constituídos por actina-G, tropomiosina e troponina.
A actina-G é um polímero de actina-F e tem uma estrutura em dupla-hélice. Apresenta
polaridade: tem uma extremidade positiva ligada aos discos Z e uma extremidade negativa que
se dirige à linha M.
A tropomiosina situa-se no espaço compreendido entre duas actinas-F.
Por último, a troponina é constituída por 3 subunidades globulares:
Troponina-C (TnC) – liga-se ao Ca2+
Troponina-T (TnT) – liga-se à tropomiosina
Troponina-I (TnI) – liga-se à actina.

Miosina II
É constituída por 4 cadeias leves, que incluem cadeias essenciais e reguladoras, e por 2
cadeias pesadas, cada uma das quais apresenta uma cabeça globular que se liga
simultaneamente à actina e ao ATP (apresenta uma ATPase).

65
Proteínas acessórias:
► Titina – ancoragem da actina aos discos Z.
► Alfa-actinina – forma os feixes paralelos de actina e faz a ancoragem aos discos z.
► Nebulina – está ligada aos discos Z e auxilia a alfa-actinina; principal modelo que
regula a forma e compriment dos filamentos de actina.
► Tropomodulina – está ligada à porção livre da actina e regula o seu tamanho.
► Desmina – liga os discos Z entre si e ao sarcolema.
► Miomesmina e proteína C – liga as miosinas entre si ao nível da linha M.
► Ditrofina – liga a laminina (presente no exterior da membrana) aos filamentos de
actina.

Desenvolvimento e Renovação

Os mioblastos diferenciam-se a partir de células mesenquimais presentes em cada


miótomo. Ao longo do desenvolvimento embrionário, os mioblastos expressam MioD, um
factor de transcrição que, em conjunto com os factores de regulação miogénica (MRF),
activam a transcrição dos genes necessários ao desenvolvimento muscular. Expressam ainda
mioestatina, uma proteína com efeito inibidor. Defeitos nesta proteína estão associados a um
desenvolvimento muscular excessivo.
Existem dois tipos de mioblastos. Os mioblastos jovens fundem-se originam miotubos
primários que têm uma forma tubular e apresentam vários núcleos centrais rodeados por
miofilamentos. Estes miotubos originam, por sua vez, as fibras musculares (os núcleos centrais
dos miotubos deslocam-se para a periferia, permitindo distinguir os dois tipos de células). Os
mioblastos maduros, por outro lado, originam miotubos secundários, que se formam apenas
nos locais onde há contacto directo destas células com terminações nervosas. Estes miotubos
apresentam pequeno diâmetro e uma maior quantidade de miofilamentos.

Entre o sarcolema e a lâmina externa, existem células-satélite, mononucleadas e com


uma grande densidade de cromatina. Apresentam uma função regenerativa, ainda que muito
limitada. Estas células são activadas após ocorrer uma lesão e expressam MRFs, dando origem
a mioblastos. No entanto, isto só ocorre caso a lâmina externa não seja danificada; caso
contrário, haverá apenas reparação por parte de fibroblastos, com formação de tecido
cicatrizado.

66
Músculo Cardíaco

O músculo cardíaco apresenta um arranjo semelhante ao esquelético.


Quando visualizadas ao microscópio óptico, as células musculares cardíacas
apresentam estruturas lineares muito densas perpendiculares às fibras – os discos
intercalares. Estes são responsáveis pela ligação de células adjacentes, apresentando vários
tipos de junções celulares:
► Desmossomas – impedem a separação das células durante a contracção.
► Fascia adherens – fazem a ancoragem dos filamentos de actina à membrana.
► Gap junctions – permitem a circulação de iões, sendo essenciais para a
capacidade das células cardíacas se comportarem como um sincício; estão
localizadas nas porções laterais dos discos Z.

Reparação
No músculo cardíaco, as células danificadas são substituídas por tecido conjuntivo,
havendo perda de tecido cardíaco. Apenas uma ínfima percentagem de células apresenta
capacidade de se dividir.

Músculo Liso

As células musculares lisas são alongadas e fusiformes e apresentam extremidades


afiladas. Estão presentes em várias estruturas viscerais como vasos sanguíneos, aparelho
digestivo, útero, bexiga,  músculo  ciliar  …  
As células estão ligadas entre si por gap junctions que permitem a passagem de
pequenas moléculas que regulam a contracção das fibras.
Em preparações de hemalúmen-eosina, o citoplasma fica corado devido à elevada
concentração de actina e miosina. O núcleo é alongado e está presente no centro da célula. Os
restantes organelos (mitocôndrias, REr, ribossomas, complexo de Golgi) estão localizados em
cada extremidade do núcleo.
Os miofilamentos do músculo liso estão ligados aos corpos densos. Estas estruturas
são responsáveis pela ancoragem da actina e filamentos intermédios ao sarcolema e fazem a
transmissão de forças do interior da célula para a sua superfície.

67
Os filamentos finos são constituídos por actina, tropomiosina e duas proteínas
específicas do músculo liso dependentes de cálcio. Não existe troponina.
Os filamentos espessos são constituídos por miosina II, que, ao contrário do que
acontece no músculo estriado, apresenta as cabeças globulares orientadas para cada lado do
filamento  (“side  polar”).

As proteínas acessórias são:


► MLCK (myosin light chain kinase) – inicia a contracção após activação do complexo
Ca2+-calmodulina.
► Calmodulina – regula a concentração de Ca2+ e activa a MLCK.
► Alfa-actinina – forma a estrutura dos corpos densos.

As células musculares lisas apresentam capacidade de secretar colagénio tipo IV e tipo


III (reticular), elastina e proteoglicanos.

Renovação, Reparação e Diferenciação


As células do músculo liso apresentam capacidade de divisão e diferenciação ao nível
de diversos órgãos (útero, vasos sanguíneos, estômago, cólon).
Estas células diferenciam-se de células mesenquimais e não apresentam factores de
transcrição específicos que lhes estejam associados.
Os fibroblastos podem desenvolver características de células musculares lisas
(miofibroblastos). Este processo pode ainda ocorrer em células epiteliais (células
mioepiteliais) ou ao nível de células do testículo que desenvolvem capacidade contráctil.

Contracção Muscular

Músculo esquelético
Envolve várias etapas:
1. A cabeça de miosina está ligada à actina e o ATP está ausente (rigor mortis)
2. O ATP liga-se à miosina, pelo que a afinidade desta para a actina diminui e a
miosina  “solta-se”.

68
3. Ocorre a desfosforilação do ATP a ADP e Pi, que permanecem ligados à miosina.
Este processo leva a uma torção da cabeça de miosina.
4. A miosina liga-se de forma fraca à actina. O Pi liberta-se, pelo que a afinidade entre
as duas moléculas aumenta. A cabeça de miosina, ao voltar à posição inicial, leva à
geração da força responsável pela contracção.

O retículo sarcoplasmático funciona como uma reserva de iões cálcio e a sua


membrana é rica em canais iónicos. O sarcolema apresenta várias invaginações, os túbulos T,
que possuem proteínas sensíveis à voltagem que afectam os canais de cálcio do retículo
sarcoplasmático.
O retículo sarcoplasmático e os túbulos T formam tríades.

O processo de despolarização inicia-se através de um estímulo nervoso que leva à


libertação de acetilcolina na junção neuromuscular. A acetilcolina provoca a despolarização da
membrana celular pela abertura dos canais de sódio. A despolarização ao nível dos túbulos T
activa as proteínas sensíveis à voltagem que, por sua vez, levam à abertura dos canais do
retículo sarcoplasmático e à libertação do cálcio. Estes iões ligam-se à TnC do complexo de
troponina, fazendo com que a TnI se dissocie. O local de ligação da miosina fica então
descoberto e a actina pode ligar-se à miosina.
O cálcio é rapidamente transportado de volta ao retículo sarcoplasmático por bombas
de cálcio dependentes de ATP.

Músculo Cardíaco

O cálcio do lúmen dos túbulos T é transportado para o sarcoplasma (citoplasma), o que


provoca a abertura dos canais de cálcio das cisternas adjacentes do retículo sarcoplasmático,
levando a uma libertação mais rápida de cálcio que inicia os passos seguintes da contracção
celular (semelhante ao que acontece no tecido muscular esquelético).
O início da contracção é ligeiramente mais lento do que no músculo esquelético devido
ao facto mencionado acima, mas também devido ao facto de a despolarização da membrana
durar mais tempo.
Os túbulos T e o retículo sarcoplasmático formam díades.

69
Músculo liso

A contracção pode ser activada por:


► Impulsos mecânicos, nomeadamente o estiramento muscular (leva à abertura
de canais iónicos)
► Despolarização por acção da epinefrina/norepinefrina.
► Estímulos químicos, através do uso de 2º mensageiros (como o IP3) que geram
um potencial de acção. O estímulo químico pode ser dado pela angiotensina II
e pela vasopressina, por exemplo.

As células do músculo liso possuem invaginações, as cavéolas, que têm uma função
semelhante aos túbulos T.
O aumento da concentração de iões cálcio activa a MLCK que fosforila e cadeia leve da
miosina levando à contracção das fibras. É necessária a presença de ATP.
No músculo liso, a hidrólise do ATP ocorre a 10% da velocidade a que ocorre no
músculo estriado, levando a uma contracção mais lenta, porque a cabeça de miosina fica
ligada durante mais tempo à actina.
A contracção pode propagar-se como uma onda pelo tecido, como nos movimentos
peristálticos do tracto gastrointestinal, ou pode ocorrer simultaneamente em todo o tecido.

A contracção é regulada através do sistema nervoso autónomo (por estimulação


simpática, parassimpática ou visceral) ou através de hormonas, nomeadamente a oxitocina e
ADH (produzidas pela glândula pituitária).
No músculo liso, as terminações nervosas e as fibras estão mais separadas e nem todas
as fibras estão em contacto com nervos.

70
Identificação Histológica

Tecido muscular esquelético


Núcleo periférico
Num corte longitudinal, apresenta bandas claras (I) e escuras (A)
Num corte transversal:
o Forma poliédrica
o Núcleo periférico
o O núcleo dos fibroblastos é mais pequeno e mais denso e é externo à
célula muscular.

Tecido muscular cardíaco


Num corte longitudinal:
Fibras horizontais
Discos intercalares mais densos
Binucleadas ou mononucleadas
Nucléolo visível

Num corte transversal:


Forma arredondada
Rodeadas por tecido conjuntivo
Núcleo central rodeado por miofibrilhas

Tecido muscular liso


Num corte longitudinal:
Feixes alongados
Núcleo circular
O tecido conjuntivo envolvente é mais escasso em núcleos.

Num corte transversal:


Núcleo alongado e ondulado

71
TECIDO NERVOSO

O tecido é constituído por neurónios e por células da glia ou neuroglia (células de


suporte).

Anatomicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em:


► Sistema nervoso central (SNC), que inclui o encéfalo e a medula;
► Sistema nervoso periférico (SNP), constituído pelos nervos cranianos, espinhais e
periféricos que conduzem impulsos para o SNC (nervos sensitivos ou aferentes) e do
SNC para a periferia (nervos motores ou eferentes).

Funcionalmente, é divido em:


► Sistema nervoso somático (SNS) responsável por controlar todas as acções voluntárias
e por inervar sensorialmente de todo o organismo, excepto os músculos liso e
cardíaco, as vísceras e as glândulas.
► Sistema nervoso autónomo (SNA) responsável por controlar as funções involuntárias
do organismo e por fazer a inervação das vísceras, glândulas e músculos liso e
cardíaco. O SNA pode ainda ser subdivido em sistema nervoso simpático,
parassimpáticos e entérico.

O Neurónio

Os neurónios podem ser classificados em:


Sensitivos ou Aferentes Receptores →SNC

Motores ou Eferentes SNC ou gânglios →  células/órgãos efectores

Interneurónios Comunicação entre os neurónios sensitivos e motores

Quanto ao número de prolongamentos, os neurónios podem ser:


Multipolares 1 axónio e 2 ou mais dendrites.
O impulso é conduzido das dentrites para o corpo celular e
desta para o axónio.

72
Ex: maioria dos neurónios motores e interneurónios

Bipolares 1 axónio e 1 dendrite.


São muito raros. Estão localizados principalmente nos
receptores dos sentidos, nomeadamente na retina do olho e
no gânglio do nervo auditivo.

Pseudounipolares Possuem um prolongamento comum que se divide perto do


corpo celular em dois axónios.
São maioritariamente nervos sensitivos localizados perto do
SNC.

Corpo Celular ou Pericário


Região do citoplasma que contém o núcleo e a maioria dos organelos. A porção de
envolve o núcleo denomina-se citoplasma perinuclear. Entre os organelos presentes
encontram-se ribossomas abundantes, mitocôndrias, complexo de Golgi, lisossomas, etc. O REr
é bem desenvolvido e está agrupado nos corpúsculos de Nissl que são visíveis em microscopia
óptica usando corantes básicos. Podem existir alguns organelos nas dendrites mas não no
axónio.

Dendrites
Recebem a informação de outros neurónios ou do meio envolvente e transportam-na
até ao corpo celular. São amielinizadas e têm maior diâmetro do que os axónios. Geralmente,
terminam em várias ramificações a que se dá o nome de árvore dendrítica. O citoplasma é
semelhante ao perinuclear.

Axónio
Envia a informação do corpo celular para outros neurónios ou células efectoras.
Apenas um por neurónio. Tem origem ao nível do cone de implantação, que se situa perto do
corpo celular, e não possui corpúsculos de Nissl. Entre o cone a o início da bainha de mielina
existe uma porção do axónio denominada segmento inicial. O axónio termina numa dilatação,
o botão terminal.
As moléculas são transportadas do corpo celular para o axónio através de transporte
axonal.

73
Quanto ao comprimento dos axónios relativamente à árvore dendritica, os neurónios
podem ser classificados em:
Golgi tipo I O axónio é maior do que as dendrites

Gogi tipo II O axónio termina perto do corpo celular, sendo menor do


que as dendrites.

Sinapse
Junções especializadas entre neurónios que facilitam a transmissão de impulsos entre
um neurónio pré-sináptico e um neurónio pós-sináptico. Podem ser classificadas
morfologicamente em:

Axodendríticas Axónio → Dendrite

Axossomáticas Axónio → Corpo celular

Axoaxónicas Axónio → Axónio

As sinapses podem ser químicas, através neurotransmissores que fazem a transmissão


unidireccional do impulso, ou eléctricas, através de gap junctions que permitem a passagem
que iões entre células (comuns nos invertebrados).

Numa sinapse existe sempre um neurónio pré-sináptico, a fenda sináptica e um


neurónio pós-sináptico.

Neurónio pré-sináptico
Possui inúmeras vesículas sinápticas com neurotransmissores que se fundem com a
membrana, libertando do seu conteúdo na fenda sináptica. A membrana adicionada por esta
fusão é removida posteriormente por formação de vesículas revestidas por clatrina.
No microscópio electrónico, é possível visualizar uma densidade pré-sináptica que
corresponde ao local onde as vesículas estão ancoradas e onde são libertados os
neurotransmissores.

74
Fenda sináptica
Espaço com 20-30 nm que separam os dois neurónios.

Neurónio pós-sináptico
Tem receptores de membrana específicos para os neurotransmissores.
No microscópio, é visível uma densidade pós-sináptica que representa proteínas com
várias funções, nomeadamente a tradução da ligação receptor-neurotransmissor num sinal
intracelular, a ancoragem de outras proteínas, etc.

Transmissão sináptica
A despolarização da membrana do neurónio leva à abertura dos canais de Ca2+ do
botão terminal do axónio. O fluxo destes iões provoca a fusão das vesículas sinápticas com a
membrana e a consequente libertação dos neurotransmissores na fenda sináptica. Este
libertação pode ocorrer também por porocitose (forma-se um canal ou poro entre a vesícula e
a membrana).
Os neurotransmissores atravessam a fenda sináptica ligam-se ao receptores pós-
sinápticos levando, por exemplo, à despolarização da membrana por abertura de canais
iónicos.
As acções pós-sinápticas geradas dependem dos receptores a que os
neurotransmissores se ligam. Assim, as sinapses podem ser excitatórias se os
neurotransmissores (ex: acetilcolina, serotonina, glutamina) provocam a abertura dos canais
de Na+ e a despolarização da membrana, ou inibitórias se os neurotransmissores (ex: glicina)
abrem canais de Cl- que hiperpolarizam (tornam mais negativa) a membrana, o que dificulta a
geração de um potencial de acção.

Neurotransmissores

Acetilcolina (Ach) Neurotransmissor do SNA.


Libertada por neurónios colinérgicos (simpáticos e parassimpáticos)
Os receptores pós-sinápticos são colinérgicos e dividem-se em duas
classes:
► Receptores Ach muscaríneos – presentes no coração, por exemplo

75
(estão associados à proteína G que leva a abertura de canais de K+
que causam hiperpolarização das membranas e uma consequente
diminuição da frequência cardíaca).
► Receptores Ach nicotínicos – existem no músculo esquelético e
estão associados a canais de Na+.

Substâncias inibidoras de Ach: curare (bloqueia os receptores


nicotínicos e leva à paralisia muscular), atropina (actua sobre os
receptores muscaríneos).

Catecolaminas Norepinefrina, epinefrina (adrenalina) e dopamina


Os neurónios são catecolaminérgicos. Os que usam epinefrina são
adrenérgicos e conseguem converter norepinefrina em epinefrina.
São libertadas por células dos SNC envolvidas na regulação do
movimento, atenção e humor. A epinefrina pode ser libertada pela
medula adrenal.
Serotonina Presente no SNC e entérico
Aminoácidos Ex: glutamato, aspartato, glicina
Óxido nítrico
Pequenos Ex:  substância  P,  hormonas  libertadas  pelo  hipotálamo,  neurotensina,  …
péptidos

Após a sinapse, os neurotransmissores geralmente voltam a ser transportados para o


neurónio pré-sináptico e são reutilizados. No entanto, alguns podem ser degradados por
enzimas específicas, como a acetilcolinesterase que é libertada pelas células musculares e
degrada a acetilcolina em ácido acético e colina. A colina é reutilizada. Alguns inibidores desta
enzima são usados para tratar myasthenia gravis (uma doença neuromuscular degenerativa).

Transporte Axonal
A síntese proteica ocorre exclusivamente no corpo celular porque é o único local do
neurónio onde se encontram as mitocôndrias necessárias para fornecer energia ao processo.
Após a síntese, as proteínas (neurotransmissores, principalmente) são transportadas até ao
axónio por transporte axonal.

76
Este transporte pode ser:
Anterógrado Corpo celular → Periferia
Proteína motora: quinesina

Retrógrado Periferia → Corpo celular


Proteína motora: dineína

Quanto à velocidade de transporte, pode ser:


Lento Exclusivamente anterógrado.
Transporte de substâncias estruturais (tubulina, actina)

Rápido anterógrado Transporte de organelos (RE, vesículas) e moléculas de


pequena massa como hidratos de carbono, aminoácidos,
nucleótidos e cálcio.

Rápido retrógrado Transporte do mesmo tipo de moléculas. É o caminho


seguido por toxinas e vírus que invadem o SNC.

O transporte dendrítico é muito semelhante ao axonal.

Neuroglia
No sistema nervoso periférico, a neuroglia é constituída por células de Schwann,
células satélite e algumas células associadas a órgãos específicos (ex: células de Müller na
retina).

Células de Schwann e Bainha de Mielina


Todos os axónios são envolvidos por células de Schwann que se desenvolvem da
crista neural por expressão do factor de transcrição Sox-10 e que, ao nível do SNP, produzem a
bainha de mielina que envolve os axónios mielinizados.
Os neurónios amielinizados são envolvidos por citoplasma das células de Schwann.
Estas são paralelas ao axónio e formam um canal que pode conter mais do que um neurónio. A
invaginação pode ser completa (forma um mesaxónio) ou incompleta.

77
A bainha de mielina isola o axónio do compartimento extracelular e permite a
condução rápida dos impulsos eléctricos. Está ausente ao nível das dendrites e do cone de
implantação.

Mielinização
Ocorre a formação de um mesaxónio por invaginação de um axónio numa célula de
Schwann. O mesaxónio gira sobre o axónio e envolve-o em camadas concêntricas de
membrana e citoplasma. As primeiras camadas não são compactas mas o citoplasma vai sendo
extrudido à medida que se formam mais camadas. Podem existir alguns locais onde o
citoplasma permanece, nomeadamente: a camada mais interna entre o axónio e a mielina, as
incisuras de Schimdt-Lanterman (porção de citoplasma entre duas camadas consecutivas; tem
lisossomas, corpos densos e pode ter mitocôndrias), o citoplasma perinodal e a camada mais
externa da bainha.
O número de camadas é determinado pelo axónio e a espessura da bainha de mielina
é determinada por um factor de crescimento, NGR1 (neuregulin), expresso no axolema
(membrana da célula) e que actua sobre as células de Schwann.
Entre duas células de Schwann há um espaço amielinizado, o nódulo de Ranvier, que
permite a condução saltatória do impulso nervoso. O espaço entre dois nódulos chama-se
internódulo.

Composição da Bainha de Mielina

Lípidos (80%) Isolamento eléctrico

Proteína básica mielínica (MBP) Está ligada à membrana plasmática


Presente no SNP e SNC

Proteína zero (P0) Estabiliza a membrana ao interagir com outras P0

Presente apenas no SNP


Proteína periférica mielínica (PMP22)

78
Células Satélite
São células cubóides que envolvem o corpo celular. Têm como funções a manutenção
do meio envolvente, o isolamento eléctrico e as trocas metabólicas. Estão presentes nos
gânglios (onde se agrupam os corpos celulares dos neurónios).
Em preparações de hemalúmen-eosina, só é visível o núcleo.

No sistema nervoso central, a neuroglia é constituída por astrócitos, oligodendrócitos,


microglia e epêndima. No desenvolvimento do cérebro a partir do tubo neural, estas células
direccionam os neurónios para os locais correctos.

Astrócitos
São células derivadas da neuroectoderme. Podem ser de dois tipos:
Protoplasmáticos Predominantes na substância cinzenta
Prolongamentos pequenos e numerosos

Fibrosos Predominantes na substância branca


Prolongamentos menos numerosos

Ambos os tipos possuem filamentos intermédios compostos por proteína ácida


fibrilhar glial (GFAP) que são usados para identificar os astrócitos através de anticorpos
específicos para esta proteína.
Os astrócitos fazem parte da barreira hemato-encefálica através de alguns
prolongamento (pés perivasculares) que terminam ao nível da lâmina basal dos capilares.
Cobrem ainda as porções não mielinizadas dos neurónios, mantêm os neurotransmissores na
fenda sináptica, revestem a membrana basal entre a pia mater e o SNC (formando a glia
limitante), regulam a concentração de potássio no meio extracelular, fazem a reparação do
tecido do SNC e conferem suporte mecânico.

Oligodendrócitos
Fazem a produção da bainha de mielina no SNC. São células pequenas com menos
prolongamentos do que os astrócitos. Cada oligodendrócito projecta vários prolongamentos

79
em forma de língua que envolvem uma porção do axónio e formam um segmento internodal.
O núcleo pode estar muito afastado do neurónio.

Existem algumas diferenças ao nível da bainha de mielina entre o SNP e o SNC.


► Os oligodendrócitos expressam proteínas diferentes, nomeadamente a proteína
proteolipídica e algumas glicoproteínas que substituem a P0 e a PMP22. A MBP é
comum e a sua deficiência causa doenças mielinizantes auto-imunes.
► As incisuras de Schimdt-Lanterman são menos numerosas uma vez que os astrócitos
também desempenham um papel no suporte dos neurónios.
► Os oligodendrócitos não assentam numa lâmina basal (ao contrário das células de
Schwann).
► A mielina de diferentes axónios pode entrar em contacto.
► Os nódulos de Ranvier são maiores, pelo que a condução saltatória é mais eficiente.
► Os neurónios amielinizados podem não estar envolvidos em células da glia.

Microglia
São células fagocíticas activadas em regiões onde correm danos. Pertencem ao
sistema mononuclear fagocitário do SNC e têm origem em células progenitoras de
granulócitos que invadem o SNC pelo sistema vascular.
O núcleo destas células é pequeno e alongado e, ao microscópio electrónico, são
visíveis alguns prolongamentos, lisossomas e vesículas.

Epêndima
Camada de células cubóides simples que revestem as cavidades do SNC (ventrículos e
canal raquidiano). Não são um epitélio porque a lâmina basal está ausente. O domínio basal
tem invaginações que interagem com os astrócitos adjacentes e o domínio apical possui
microvilosidades e cílios que fazem a absorção do líquido céfalo-raquidiano.
Ao nível dos ventrículos, fazem a produção de líquido céfalo-raquidiano e estão
associados a vasos sanguíneos, formando o plexo coroideu.

80
Origem das células nervosas

Os neurónios, os oligodendrócitos, os astrócitos e o epêndima têm origem ao nível do


tubo neural.
A microglia tem origem em células progenitoras de granulócitos. Expressam o factor
de crescimento CSF-1 produzido pelo tubo neural. São as únicas células do sistema nervoso
com origem mesenquimal e podem ser distinguidas das restantes por terem vimentina (um
constituinte dos filamentos intermédios)
Os gânglios formam-se por migração de células da crista neural para a futura
localização dos gânglios. Estas células desenvolvem prolongamentos que atingem as células-
alvo e os territórios sensitivos. Inicialmente, são produzidas mais células do que as necessárias
e aquelas que não têm um contacto funcional com o tecido-alvo sofrem apoptose. Assim, fica
garantido que todas as células estão em contacto com pelo menos um neurónio.

Organização do SNP
O corpo celular dos neurónios encontra-se no SNC ou em gânglios periféricos. Os
gânglios espinhais contêm os corpos celulares dos nervos sensitivos, das raízes posteriores dos
nervos espinhais e das fibras sensitivas dos nervos cranianos (V, VII, VII, IX e X). Os gânglios
pré-vertebrais, terminais e para-vertebrais têm os corpos celulares dos nervos motores do
SNA.

As fibras nervosas e as células de Schwann são mantidas em contacto por tecido


conjuntivo organizado em três componentes:

Endoneuro Envolve as fibras nervosas individualmente.


Contém fibrilhas de colagénio tipo III secretado pelas células de
Schwann, fibroblastos, mastócitos, macrófagos e capilares sanguíneos.

Perineuro Envolve feixes de fibras.


Contribui para formar a barreira hemato-neural que faz a manutenção
do ambiente iónico.
Possui receptores e enzimas necessárias ao transporte activo de

81
substâncias.
Pode ter uma ou mais camadas de células (características das células:
pavimentosas, lâmina basal em ambos os lados, contrácteis, possuem
filamentos de actina).
Células unidas por tight junctions.
Contém fibroblastos e alguns macrófagos.
Têm características de músculo liso (células contrácteis) e de tecido
epitelióide (lâmina basal e tight junctions).

Epineuro Tecido conjuntivo denso que envolve vários feixes de fibras


Está associado a tecido adiposo e capilares

Organização do SNA
O sistema nervoso autónomo conduz os impulsos involuntários para o músculo liso e
cardíaco e para as glândulas. É constituído por neurónios pseudounipolares cujo corpo celular
se encontra em gânglios e um dos prolongamentos é central enquanto o outro é periférico.
Os neurónios motores são normalmente acompanhados por neurónios sensitivos que
transmitem as sensações de dor até ao SNC.
O impulso do SNC é transmitido para os efectores viscerais por dois neurónios,
havendo uma sinapse ao nível dos gânglios autónomos (onde estão localizados os corpos
celulares dos neurónios pós-sinápticos) entre um neurónio pré-sináptico e 2 ou mais neurónios
pós-sinápticos.

Origem dos neurónios pré-


Gânglios
sinápticos
Região torácica Gânglios paravertebrais do
SN Simpático
Parte da região lombar tronco simpático
Nervos cranianos Gânglios viscerais (perto dos
SN Parassimpático
Região sagrada da medula (S2-S4) órgãos)

A adrenal medula tem um efeito semelhante ao do sistema nervoso simpático, visto


que ambos produzem epinefrina e norepinefrina. No entanto, o sistema nervoso simpático

82
actua directamente sobre efector enquanto que a adrenal medula liberta as substâncias na
circulação sanguínea.

O sistema nervoso entérico é constituído por neurónios situados nas paredes do


tracto gastrointestinal e que fazem o controlo dos movimentos muscular, secreções, fluxo
sanguíneo e processos imunológicos e inflamatórios que envolvem os órgãos do sistema
digestivo.
Pode funcionar independentemente do SNC, mas na digestão é necessária uma
interacção entre os três constituintes do SNA (o simpático e o parassimpático regulam as
secreções das glândulas e a contracção dos esfíncteres através de informações recebidas pelo
sistema nervoso entérico).
Existem interneurónios que integram a informação dos nervos sensitivos e geram um
arco reflexo ao nível dos neurónios motores que resulta, por exemplo, na contracção da
musculatura do cólon quando o estômago distende.
O sistema nervoso entérico organiza-se em dois plexos na parede dos órgãos: o plexo
mientérico ou de Auerbach (mais superficial) e o plexo submucoso ou de Meissner. As fibras
parassimpáticas do nervo pneumogástrico interagem com ambos os plexos.
As células nervosas entéricas não possuem células de Schwann ou células satélite –
têm apenas algumas células semelhantes a astrócitos.

Organização do Sistema Nervoso Central


O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, envolvidos por três meninges
e por líquido céfalo-raquidiano. O encéfalo, por sua vez, é constituído pelo cérebro, pelo
cerebelo e pelo tronco cerebral que contacta com a medula.

Os constituintes do SNC podem ser divididos em duas regiões:


► Substância cinzenta, que contém corpos celulares, axónios, dendrites e
neuroglia. É o local onde ocorrem as sinapses. Forma a camada externa do
encéfalo (o córtex cerebral) e alguns núcleos espalhados pelo cérebro e
cerebelo.
► Substância branca, que contém axónios, neuroglia e vasos sanguíneos. Ao
nível do tronco cerebral, rodeia os núcleos dos nervos cranianos que contêm
os corpos celulares dos neurónios motores.

83
Os núcleos dos neurónios e da neuroglia são envolvidos por um conjunto de axónios e
dendrites que forma o neurópilo.

O cerebelo é constituído por três camadas:


► Camada molecular, a mais externa. É pobre em células e tem grande
quantidade de fibras.
► Camada de células de Purkinje que são neurónios multipolares, piriformes e
com citoplasma basófilo contendo corpúsculos de Nissl.
► Camada granular, a mais interna, que possui células granulosas (pequenos
neurónios multipolares) e células Golgi tipo II.

A medula é uma estrutura cilíndrica que continua o tronco cerebral. Está dividida em
31 segmentos, estando cada um deles ligado a dois nervos espinhais.

Raiz anterior
Segmento Nervo Ramo anterior
da medula espinhal
Raiz posterior
Ramo posterior

A substância cinzenta apresenta a forma de uma borboleta a rodear o canal central


da medula e contém núcleos de corpos celulares de neurónios funcionalmente relacionados
(semelhantes a gânglios). A substância branca envolve a cinzenta.
Os cornos anteriores são zonas basófilas onde estão localizados os corpos celulares
do neurónios motores que inervam os músculo estriado.

Tecido Conjuntivo do SNC – Meninges


As meninges que constituem o SNC são, da mais externa para a mais interna, a dura
mater, a aracnóide e a pia mater.
A dura mater continua-se com o periósteo do crânio. Ao nível da medula, forma
uma estrutura tubular que a envolve. Contém os seios venosos.
A aracnóide forma trabéculas com a pia mater compostas por tecido conjuntivo
laxo e fibroblastos alongados. O espaço entre as duas camadas chama-se espaço

84
subaracnoideu e contém líquido céfalo-raquidiano e vasos sanguíneos. A pia mater é uma
camada muito fina.

Barreira Hemato-Encefálica
Forma-se muito cedo no desenvolvimento embrionário por contacto dos astrócitos
com as células endoteliais dos capilares. A barreira é formada por tight junctions entre as
células endoteliais e uma lâmina basal contínua que, em conjunto, formam vasos sanguíneos
impermeáveis. Os pés perivasculares dos astrócitos fazem a manutenção da barreira e da
homeostase, pois possuem canais de água que fazem a drenagem em caso de edema. Mantêm
ainda os níveis fisiológicos de potássio e libertam factores que aumentam as propriedades da
barreira e o conteúdo proteico das tight junctions.
O oxigénio, o dióxido de carbono e alguns lípidos conseguem atravessar livremente a
barreira. Pelo contrário, substâncias como a glicose, aminoácidos, nucleósidos e vitaminais
têm de ser transportadas activamente.
A membrana das células endoteliais possui enzimas que fazem a destruição de
metabolitos neurotóxicos.
Ao nível do 3º e 4º ventrículos, esta barreira está ausente para permitir que o SNC
tenha informações relativamente às substâncias em circulação no sangue e que não
atravessam os vasos capilares.

Degeneração e Regeneração do SNP


A degeneração de um axónio a jusante da lesão denomina-se degeneração
anterógrada ou de Wallerian e envolve vários passos:
Desintegração do axónio por desintegração do citoesqueleto.
As   células   de   Schwann   “desdiferenciam-se”   e   secretam   GGF (glial growth
factors) que levam à sua proliferação.
Remoção da bainha de mielina por macrófagos.
A barreira hemato-encefálica é destruída para permitir o recrutamento de
mais macrófagos.

85
A degeneração a montante chama-se degeneração traumática. O núcleo move-se para
a periferia do neurónio, número de corpúsculos de Nissl diminui e pode ainda ocorrer a
destruição do corpo celular.
A degeneração dos neurónios é sempre acompanhada de atrofia muscular.

A regeneração das células nervosas implica a formação de endoneural tubes


constituídos por células de Schwann. Estas organizam-se por colunas longitudinais
denominadas bandas de Bungner. O processo termina com a formação de um axónio.

Ao nível do SNC a regeneração não é possível devido ao facto de a destruição da


barreira hemáto-encefálica ser muito limitada pelo que são recrutados poucos macrófagos, o
que leva a uma remoção muito lenta da bainha de mielina. Além disso, os oligodendrócitos
entram em apoptose e os astrócitos produzem tecido cicatrizado.

86
SISTEMA CARDIOVASCULAR

Coração
As paredes do coração são constituídas por 3 camadas (de externo para interno):
epicárdio, miocárdio e endocárdio.

Epicárdio
É a camada visceral do pericárdio. É constituído por uma camada única de células
mesoteliais (epitélio simples pavimentoso) e tecido conjuntivo e adiposo.

Miocárdio
É o músculo cardíaco. É mais espesso ao nível dos ventrículos e tem uma fraca
capacidade de regeneração.
É constituído por:
► Células musculares de função contráctil – nas aurículas têm menos túbulos T,
menor diâmentro e libertam o péptido natriurético auricular que é libertado
em resposta ao estiramento e actua no rim estimulando a diurese e,
consequentemente, diminuindo a pressão arterial.

► Células do sistema cardionector – inclui os nódulos sinusal e aurículo-


ventricular, o feixe de His e os seus ramos esquerdo e direito e as fibras da
rede de Purkinje.

Células dos nódulos Mais pequenas que as células musculares envolventes


Poucas miofibrilhas
Não têm discos intercalares
Comunicação por desmossomas e junções
comunicantes
Núcleo central
Fibras de Purkinje Maior diâmetro do que as células envolventes
Podem ser binucleadas
Miofibrilhas periféricas
Núcleo maior e arredondado
Têm discos intercalares

87
PAS-positivas (muito glicogénio)
Citoplasma homogéneo com H&E
Mais resistentes à hipoxia
Não têm túbulos T

Endocárdio
Epitélio simples pavimentoso que recobre as cavidades do coração. Possui uma
camada subendotelial de tecido conjuntivo denso e fibras musculares lisas e uma camada
subendocárdica de tecido conjuntivo que tem as fibras de condução e que se continua com o
tecido conjuntivo do miocárdio.

Válvulas
As válvulas são constituídas por 2 camadas:
► Fibrosa – é a camada central de tecido conjuntivo denso irregular;
► Esponjosa – reveste a anterior de ambos os lados; constituída por tecido
conjuntivo laxo com fibras elásticas que conferem resistência às válvulas.

Artérias e Veias

São constituídas por 3 túnicas que variam consoante o tipo de artéria e de veias e que
são, do lúmen para o exterior:

Túnica íntima Endotélio


Lâmina basal (colagénio, proteoglicanos, glicoproteínas)
Camada subendotelial de tecido conjuntivo laxo

Túnica média Camadas concêntricas de músculo liso

Túnica adventícia Tecido conjuntivo denso: colagénio e fibras elásticas


Contém os vasa vasorum que fazem a nutrição das paredes dos vasos

Entre as túnicas íntima e média existe, por vezes, uma lâmina elástica interna
constituída por material elástico fenestrado. Entre as túnicas média e adventícia pode existir
uma lâmina elástica externa constituída por fibras reticulares, elastina e proteoglicanos.

88
Endotélio
É um tecido epitelial simples pavimentoso que recobre o lúmen dos vasos.
Funções:
► Barreira selectiva – é permeável a moléculas pequenas e lipossolúveis; as
restantes passam por transporte activo mediado por receptores ou através das
fenestras.
► Manutenção de uma barreira não-trombogénica através da libertação de
anticoagulantes e substâncias anti-trombogénicas.
► Modulação do fluxo sanguíneo e resistência vascular - secreção de
vasodilatadores (NO) e vasoconstritores (prostaglandina).
► Regulação da resposta imunitária – controla da interacção dos linfócitos com a
superfície endotelial (secreção de interleucinas e receptores específicos).
► Síntese de factores de crescimento e inibidores de crescimento.

A vasodilatação diminui a resistência vascular periférica e a pressão arterial. Ocorre


pela acção do NO, do stress metabólico e da prostaciclina (que também inibe a agregação das
plaquetas).
A vasoconstrição ocorre por contracção das fibras musculares lisas da túnica média
(acção da prostaglandina) e é responsável pelo aumento da resistência vascular periférica e da
pressão arterial.

Artérias
Podem ser de três tipos: elásticas (grande calibre), musculares (calibre médio) e
arteríolas (pequeno calibre).

Artérias elásticas (ex: aorta)


Nestas artérias, o fluxo sanguíneo é pulsátil: durante a sístole distendem e na diástole
“recolhem”.  As  fibras  de  colagénio  das  túnicas  média  e  adventícia  impedem  que  o  estiramento  
leve à ruptura do vaso.

Túnica íntima Endotélio + lâmina basal


Camada subendotelial de tecido conjuntivo laxo e músculo liso
Tight junctions e gap junctions

89
O factor de von Willebrand acumula-se nos corpos de Weibel-Palade
Existem organelos com selectina-P que faz o reconhecimento
neutrófilo-endotélio
Túnica média É a mais espessa
Tem elastina na forma de lamelas fenestradas e concêntricas que
aumentam de número com a idade e em indivíduos com pressão
arterial elevada
As fibras musculares lisas têm núcleos alongados e estão envolvidas por
lâmina basal
Não tem fibroblastos
Entre as fibras musculares existe colagénio e proteoglicanos
Túnica adventícia Camada de colagénio e fibras elásticas (mais desorganizada) – tecido
conjuntivo denso
Tem: fibroblastos, macrófagos, linfáticos, nervos, vasa vasorum

Artérias musculares
Fazem a distribuição do sangue segundo as necessidades do organismo. Possuem mais
tecido muscular e menos material elástico na túnica média.

Túnica íntima Camada mais fina


Tem uma lâmina elástica interna muito visível e de aspecto ondulado
que permite a distinção em relação às restantes artérias
Túnica média Mais células musculares que apresentam um núcleo fusiforme
Túnica adventícia Espessura igual à da túnica média
Possui uma lâmina elástica externa

Arteríolas
Fazem o controlo do fluxo que chega aos capilares por vasoconstrição e vasodilatação.

Túnica íntima Muito fina


Não tem lâmina elástica interna
Núcleos das células endoteliais alongados

90
Túnica média Uma ou duas camadas de células musculares lisas
Núcleos arredondados
Túnica adventícia Muito fina
Funde-se com o tecido conjuntivo adjacente

Capilares
Estes vasos não possuem camada muscular nem adventícia – são constituído apenas
por uma camada de células endoteliais que se apoiam numa lâmina basal.
Podem ser de três tipos: contínuos, fenestrados ou descontínuos.

Capilares contínuos
As células estão unidas por junções de oclusão, formando uma camada contínua.
A lâmina basal é também contínua.
Estão associados a perícitos ou células de Rouget: têm prolongamentos que envolvem
os capilares, a lâmina basal é contínua com a do endotélio, tem capacidade contráctil e o
núcleo é grande. Tem função de suporte, estabilidade e de transmissão de sinais químicos e
mecânicos. São regulados pelo NO e podem originar células endoteliais durante e
angiogénese.
Locais: SNC, pulmões e músculos.

Capilares fenestrados
A lâmina basal é contínua, mas existem fenestras entre as células. Estas fenestras
podem ter diagrama (intestino, glândulas endócrinas, tubos renais) ou não (glomérulos renais).
Presentes em locais com elevada troca molecular como o rim e o intestino.

Capilares descontínuos ou sinusóides


Tanto a lâmina basal como as células endoteliais são descontínuas. Os poros não têm
diafragma. Podem estar associados a macrófagos (como as células de Kupffer no fígado).
Locais: fígado, baço, medula, gânglios linfáticos.

Microcirculação – regulação do fluxo


A regulação do fluxo ao nível dos capilares é feita por várias estruturas. As
metarteríolas permitem o fluxo directo entre arteríolas e vénulas, sem que o sangue passe

91
pelos capilares. Possuem um esfíncter pré-capilar que permite ou impede a passagem do
sangue.
As derivações artério-venosas fazem também a comunicação entre arteríolas e
vénulas e a sua contracção envia o sangue para os capilares. Estas derivações funcionam como
termorreguladores da pele e estão presentes no tecido eréctil do pénis.
A actividade do músculo liso é regulada pelo SNA, por hormonas, pela concentração de
oxigénio, dióxido de carbono, nutrientes e ácido láctico.

Veias
As veias podem ser divididas em vénulas (que podem ser pós-capilares ou musculares)
e em veias de pequeno, médio e grande calibre.
No geral, as veias têm um lúmen maior do que as artérias e paredes mais finas.
Possuem válvulas semilunares que resultam de projecções da túnica íntima e que são
constituídas por uma camada de tecido fibroelástico rodeado de ambos os lados por endotélio.

Vénulas pós-capilares
São constituídas por endotélio e lâmina basal. São o local de acção dos agentes
vasoactivos (heparina, serotonina) que levam à migração dos leucócitos. Estão associados a
perícitos que comunicam com o endotélio por gap junctions.

Vénulas musculares
A túnica média tem 1 ou 2 camadas de músculo e a túnica adventícia é muito fina.

Veias de calibre médio (ex: radial, tibial)


A túnica íntima pode ter algumas fibras musculares. A túnica média é fina e constituída
por algumas camadas de tecido muscular, colagénio e fibras elásticas. A túnica adventícia é
mais espessa.

Veias de grande calibre


O limite entre a túnica íntima e a média não é muito visível. A túnica média é fina. A
túnica adventícia é a mais espessa e possui fibras musculares, colagénio e material elástico.

92
Estas fibras estão dispostas longitudinalmente e não circularmente como acontece nos
restantes vasos.

Grande Veia Safena


Esta veia possui algumas características particulares:
Túnica íntima Feixes longitudinais de fibras musculares
Lâmina elástica interna muito fina
Túnica média Feixes circulares de fibras musculares
Relativamente desenvolvida
Túnica adventícia Bastante desenvolvida
Feixes longitudinais de fibras musculares

Linfáticos
Os linfáticos fazem o transporte unidireccional da linfa até aos vasos sanguíneos. Esta
passa por gânglios linfáticos que fazem a sua filtragem.
Os capilares linfáticos têm paredes muito finas e com lâmina basal descontínua, o que
lhes confere grande permeabilidade. Têm uma camada subendotelial de colagénio IV e VI.
Os vasos maiores são constituídos por fibras musculares lisas e possuem válvulas
semelhantes às das veias mas a camada central possui reticulina.
O fluido move-se ao longo dos vasos por contracção dos músculos envolvente.
O sistema linfático está presente em todos os tecidos excepto: SNC, cartilagem, osso,
medula, timo, placenta, córnea e dentes.

93
Identificação Histológica

Parede ventricular (método de Mallory-Azan):


Superfície coberta por endotélio
Logo abaixo há uma camada de tecido conjuntivo subendotelial corado a azul
Fibras de Purkinje:
o No subendocárdio
o Maior diâmetro
o Núcleo central e maior do que as células musculares
o Discos intercalares
o Miofibrilhas estão marcadas como linhas mais escuras ao longo do citoplasma

Aorta (H&E):
Túnica íntima:
o Colagénio eosinófilo (cor-de-rosa mais escuro)
o Núcleos alongados de células musculares lisas
o Endotélio + tecido conjuntivo laxo
Túnica média:
o O material elástico não é visível
o Colagénio muito eosinófilo – aspecto ondulado
o Núcleos das fibras musculares corados de azul-arroxeado
Túnica adventícia:
o Tecido conjuntivo denso (aspecto mais compacto)
o Núcleos de fibroblastos
o Alguns vasos sanguíneos
o Muito corado

Aorta (iron hematoxylin and aniline blue):


Realça o material elastic
Fibras de colagénio a azul
Fibras elásticas a preto – na túnica médica estão situadas entre o colagénio e na
adventícia aparecem como pontos pretos porque as fibras são circunferenciais.

94
Artéria muscular (H&E):
Lamina elástica interna – é a zona mais clara entre o endotélio e o tecido conjuntivo
As fibras musculares da túnica média têm núcleos alongados

Artéria muscular  (Weigert’s  resorcin-fuchsin elastic stain preparation):


Lâminas elásticas interna e externa coradas de cor muito escura e muito irregulars
Túnica média (entre as duas lâminas elásticas): núcleos a roxo, citoplasma de cor
amarelo-acastanhado e com fibras elásticas.
Túnica adventícia: fibras de colagénio mais claras e fibras elásticas a roxo.

Arteríolas (H&E) – corte transversal:


Núcleo das células endoteliais redondo
Núcleo das fibras musculares alongados
Nos cortas longitudinais é ao contrário

Vénulas (H&E):
Camada muito fina de endotélio (núcleos alongados) e tecido conjuntivo
Lúmen de cor rosa claro e grande

Veias de calibre médio (H&E):


Túnica íntima – muito fina e mais corada
Túnica média – núcleos alongados e citoplasma basófilo
Túnica adventícia – fibroblastos (núcleo escuro) escassos e tecido conjuntivo

Grandes veias (H&E):


Túnica íntima – muito fina
Túnica média – fibras musculares circunferenciais
Túnica adventícia – é a maior; fibras longitudinais (é possível observarem-se os feixes).

Linfáticos (H&E):
Endotélio e tecido conjuntivo indistinguíveis
Válvulas: têm células endoteliais nas duas faces

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Linfáticos (Método de Mallory):
Rodeados por tecido conjuntivo denso corado a azul
Núcleos das células a cor-de-rosa
Podem aparecer vénulas com células sanguíneas no lúmen.

96
SISTEMA IMUNITÁRIO

Células do Sistema Imunitário


As principais células do sistema imunitário são os linfócitos B, T e NK. Existe ainda um
conjunto de células de suporte que incluem monócitos, macrófagos, neutrófilos, eosinófilos,
basófilos, células reticulares (no fígado, baço, gânglios), células dendríticas (no baço), células
retículo-epiteliais e as células de Langerhans da pele.
Algumas células podem ser identificadas pela expressão de marcadores específicos, os
cluster of differentiation (CD), através de métodos imunocitoquímicos.

Linfócitos T (imunidade célula-a-célula)


Constituem 60 a 80% dos linfócitos circulantes. Expressam CD3, CD5, CD7 e TCRs e são
classificados segundo a presença ou ausência de CD4 e CD8.

Linfócitos T CD4+ Podem ser subdivididos em células TH1 e TH2 tendo em


(de ajuda) conta a expressão de certas interleucinas e da interacção
que estabelecem com outras células
Linfócitos T CD8+ Matam células específicas (vírus, células tumorais, etc)
(citotóxicos)
Linfócitos T supressores Suprimem respostas imunitárias activando outras células
do sistema imunitário
Linfócitos T γ/δ Funcionam na primeira linha de defesa

Linfócitos B (imunidade humoral)


São 20 a 30% dos linfócitos circulantes. Produzem anticorpos (imunoglobulinas, Ig) que
participam na imunidade humoral. Expressam BCRs, MHC II, CD9, CD19 e CD20.

Linfócitos NK
5 a 10% dos linfócitos circulantes. Durante o desenvolvimento são programados para
atacar antigénios específicos. Libertam perforinas que induzem a apoptose celular. Expressam
CD16a, CD56 e CD94.

97
MHC (Complexo Maior de Histocompatibilidade)
São moléculas específicas (glicoproteínas) de uma célula ou tecido que são expressas à
sua superfície.
O MHC I está presente em todas as células nucleadas e nas plaquetas. Mostram à
superfície fragmentos dos péptidos sintetizados pela célula e apresentam-nos aos linfócitos T
CD8+.
O MHC II é expresso apenas as células apresentadoras de antigénio (APC) que
apresentam os fragmentos de péptidos estranhos ao organismo aos linfócitos T CD4+.
As APC incluem as células que fazem parte do sistema mononuclear fagocítico
(macrófagos, células de Kupffer, células de Langerhans, células dendríticas) e as células
retículo-epiteliais de tipo II e III.

Órgãos Linfóides
Podem ser divididos em órgãos linfóides primários (medula óssea e timo) e
secundários (gânglios, folículos linfóides, gânglios linfáticos, amígdalas, baço, etc). Estes
últimos são responsáveis pela diferenciação dos linfócitos para um antigénio específico e pela
activação das células de memória.

Tecido linfóide difuso


Está presente na lâmina própria (córion) das mucosas dos tractos gastrointestinal,
respiratório e genital e constitui o MALT (tecido linfóide associado às mucosas). Não possui
cápsula. Após o contacto com um antigénio, as células destes tecidos migram para os gânglios
linfáticos onde proliferam e se diferenciam, voltando à lâmina própria na forma de linfócitos B
ou T activados.

Folículos linfóides (ex: Placas de Peyer no intestino, apêndice ileo-cecal)


São acumulações de tecido linfóide não encapsulado. Podem ser primários, se forem
constituídos por pequenos linfócitos inactivos, ou secundários, quando os linfócitos se
começam a diferenciar.

Os folículos secundários possuem:

98
Centro germinativo Na zona central
Está corado menos intensamente devido ao facto de os
linfócitos se encontrarem em divisão pelo que a sua
cromatina está descondensada
Possui linfoblastos, plasmoblastos, células dendríticas
foliculares
A sua presença indica uma resposta imunitária

Coroa ou manto Camada em volta do centro germinativo


Constituída por linfócitos B imaturos e alguns linfócitos T
(principalmente entre folículos)
Cora mais intensamente

Amígdalas Palatinas
Tecido linfóide parcialmente encapsulado situado na entrada na orofaringe. Estão
cobertas por epitélio estratificado pavimentoso em continuidade com o da mucosa. Este
epitélio forma invaginações, as criptas palatinas, cujas paredes podem ser invadidas por
folículos linfóides nalgumas zonas. Têm uma cápsula de tecido conjuntivo denso que separa o
epitélio dos linfócitos. Não têm vasos aferentes, apenas eferentes.
As amígdalas palatinas formam com as amígdalas linguais, faríngeas e tubárias o anel
de Waldeyer.

Gânglios linfáticos
São órgãos linfóides secundários encapsulados. Têm uma função de filtragem da linfa.
O estroma é constituído por uma cápsula de tecido conjuntivo denso que origina
trabéculas (invaginações que invadem os gânglios) e por um retículo de células e fibras
reticulares que fazem a sustentação do tecido linfóide. As células reticulares produzem
colagénio tipo III e emitem prolongamento que envolvem essas fibras e as isolam.
Podem estar presentes células dendríticas, macrófagos e células dendríticas
foliculares. Estas últimas possuem vários prolongamentos entre os linfócitos B ao nível dos
centros germinativos que interagem com os complexos antigénio-anticorpo, sendo capazes de
apresentar o antigénio à sua superfície durante longos períodos de tempo.

99
Estrutura do parêquima:
Córtex É a porção mais externa, imediatamente abaixo da cápsula
Grande densidade de linfócitos
Apresenta folículos linfóides primários ou secundários de linfócitos B
apenas no córtex superficial
Entre a medula e o córtex superficial existe uma área sem folículos –
paracórtex

Medula Parte mais interna do órgão


Cora menos intensamente
Constituída por linfócitos B e plasmócitos agrupados em cordões
medulares separados por seios medulares
Os seios medulares drenam nos vasos eferentes

Filtração
Os vasos aferentes e as vénulas de endotélio alto drenam nos seios sub-capsulares
(entre a cápsula e o córtex). Daí, a linfa segue o seguinte trajecto:

Seios sub- Seios corticais Seios Vaso linfático


capsulares ou trabeculares medulares aferente

Os seios são constituídos por epitélio contínuo na porção em contacto com a cápsula e
epitélio descontínuo em contacto com o parênquima.

Vénulas de endotélio alto


Têm um epitélio simples cubóide ou cilíndrico. Drenam cerca de 90% dos linfócitos.
Estão localizadas ao nível do paracórtex e têm muitos canais de água que tornam a reabsorção
muito rápida. Os linfócitos abandonam a corrente sanguínea por diapedese: os T vão para o
paracórtex e os B para o córtex superficial.

100
Timo
Órgão linfóide primário situado no mediastino anterior, à frente dos grandes vasos,
responsável pela maturação dos linfócitos T. Desenvolve-se da endoderme da 3ª e 4ª bolsas
faríngeas por invaginações da porção ventral da 3ª bolsa que se fundem na linha média. Tem
um desenvolvimento máximo na infância, a partir da qual inicia um processo de involução (o
tecido linfóide é substituído por tecido adiposo, principalmente ao nível do córtex).

É constituído por 2 lobos. Está envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso
que invagina e forma trabéculas. A cápsula contém os vasos eferentes, nervos, fibroblastos,
células sanguíneas, mastócitos, macrófagos, etc.
O parênquima é constituído por um córtex e por uma medula.
O córtex é muito basófilo, sendo muito corado com H&E, e possui uma grande
densidade de linfócitos T que se vão dividindo e aproximando da medula, bem como
mastócitos que fazem a fagocitose dos linfócitos mal maturados. A medula possui menos
linfócitos e cora menos intensamente (os núcleos dos linfócitos são mais claros e têm uma
maior quantidade de citoplasma).

O timo é rico em células retículo-epiteliais. Estas têm características de células


reticulares (formam o estroma do timo) e epiteliais (junções celulares e filamentos
intermédios) e podem ser de 6 tipos, sendo que os primeiros três de localizam no córtex e os
últimos três na medula:

Tipo I Entre a cápsula e o córtex


Junções de oclusão que formam uma barreira protectora
Tipo II Fazem a compartimentalização do timo
Expressam MHC I e II
Tipo III Entre o córtex e a medula
Formam uma barreira
Expressam MHC I e II
Tipo IV Entre o córtex e a medula
Formam uma barreira
Tipo V Fazem a compartimentalização da medula
Núcleo muito menos corado do que o dos linfócitos

101
Tipo VI São os Corpúsculos de Hassal (existem apenas no timo, sendo uma
forma muito fácil de identificar o órgão)
Conjunto de células retículo-epiteliais arranjadas de forma
concêntrica
Núcleos achatados
Têm um papel na diferenciação dos linfócitos

Estas células podem ser identificadas pela técnica da imunoperoxidase usando


anticorpos para a ceratina (componente dos filamentos intermédios).

Barreira hemato-tímica
Constituída por endotélio contínuo com junções de oclusão e lâmina basal associado a
perícitos (ou células de Rouget) e a macrófagos (fagocitam antigénios que atravessem a
barreira). Existem ainda as células retículo-epiteliais de tipo I.

Educação tímica
Ocorre por estímulo de IL-4, IL-7 e interferão γ.
Na primeira fase, os linfócitos são duplamente negativos, não expressam CD4 nem
CD8 (CD2+ e CD7+). Depois, passam numa fase de duplo positivo (CD4+, CD8+, CD3+, TCR). As
células retículo-epiteliais tipos II e III apresentam-lhe então antigénios próprios e estranhos.
Caso o linfócitos não os reconheça, sofre apoptose; caso reconheça, é dirigido para a medula.
Nesta fase ocorre, assim, uma selecção positiva.
Na medula, ocorre então a selecção negativa: se os linfócitos reagirem contra o MHC
(ou seja, contra as próprias células do organismo) são eliminados; caso sejam funcionais,
diferenciam-se então em linfócitos CD4+ e CD8+ e são enviados para a circulaçao sanguínea.

Baço
Tal como acontece nos outros órgaos, é envolvido por uma cápsula que forma
trabéculas. Esta cápsula possui miofibroblastos que conferem ao baço uma capacidade
contráctil que lhes permite libertar eritrócitos (esta propriedade tem elevada importância
noutras animais).

O baço é constituído por polpa branca e polpa vermelha.

102
A polpa branca possui tecido linfóide. Com H&E, é basófila devido à heterocromatina
dos linfócitos. Uma das característica desta zona é a presença de artérias centrais (ramos da
artéria esplénica) que estão rodeadas por uma bainha linfóide peri-arterial constituída por
células B e algumas células T dispersas. Quando se forma um centro germinativo em volta da
artéria central e esta se situa no centro do mesmo, o folículo linfóide secundário chama-se
corpúsculo de Malpighi. À medida que a maturação decorre, a artéria vai ocupando uma
posição mais periférica e o folículo deixa de ter esse nome.
A polpa vermelha é rica em glóbulos vermelhos. Possui sinusóides separados pelos
cordões esplénicos ou cordões de Billroth que constituiem o estroma (têm fibras reticulares).
Os sinusóides são formados por células endoteliais muito alongadas com poucos pontos de
contacto. A lâmina basal é descontínua.

Circulação esplénica
Das artérias centrais, o sangue passa para as arteríolas peniciladas (na polpa vermelha)
e destas para capilares. Daqui, o sangue sai para o espaço entre os cordões de Billroth e é
exposto   a   macrófagos   que   fazem   a   sua   “limpeza”   e   volta   a   entrar   para   os   sinusóides.   Esta  
circulação é do tipo aberta, porque o sangue sai dos vasos e volta a entrar.

Funçoes do baço
O baço desempenha funçoes imunológicas e hematopoiéticas.

Imunológicas Apresentação de antigénios por APC


(na polpa branca) Início da resposta imunitária
Proliferação de linfócitos B e T
Remoção de antigénios da corrente
sanguínes

Hematopoiéticas Remoção de eritrócitos senescentes e


(na polpa vermelha) degradados
Remoção do ferro da hemoglobina
Eritropoiese (no feto)
Armazenamento de sangue

103
SISTEMA DIGESTIVO I: cavidade oral e estruturas associadas

Cavidade Oral
A cavidade oral é revestida por três tipos de mucosas:

Mucosa que reveste o palato duro e gengivas. O epitélio é estratificado pavimentoso


queratinizado e paraqueratinizado e a lâmina própria é constituída por tecido conjuntivo laxo
com vasos sanguíneos e nervos (alguns enviam terminações nervosas para o epitélio que
funcionam como receptores sensoriais e outras podem terminar ao nível dos corpúsculos de
Meissner); mais profundamente, existe uma camada de tecido conjuntivo denso. Ao nível do
rafe palatino e na gengiva, a mucosa adere ao osso e a camada reticular confunde-se com o
periósteo – não há submucosa.

Mucosa de revestimento. Existe ao nível dos lábios, pavimento bucal, gengiva, palato
mole e superfície ventral da língua. O epitélio é geralmente não-queratinizado e é constituído
por três camadas: stratum basale (camada única de células sobre a lâmina basal), stratum
spinosum (várias camadas de células) e stratum superficiale (camada mais superficial da
mucosa). A submucosa é constituída por colagénio e fibras elásticas, por glândulas salivares
acessórias ao nível da língua, lábios e bochechas e pode ainda ter glândulas sebáceas
associadas a folículos capilares e que se chamam Fordyce spots. Não existe submucosa na face
inferior da língua.

Mucosa especializada. Está associada ao sentido do gosto e possui papilas gustativas e


corpúsculos gustativos.

Tecido epitelial paraqueratinizado: as células epiteliais mais superficiais não perdem


os núcleos. Estes encontram-se altamente condensados e o citoplasma cora pouco
intensamente com eosina.

A mucosa oral é muito resistente a organismos patogénicos devido à presença de


células epiteliais, neutrófilos e da saliva que mantêm a higiene oral.

104
Lábio
O epitélio queratinizado da pele muda para epitélio estratificado pavimentoso
paraqueratinizado ou não-queratinizado, característico da mucosa oral. Apresenta três
regiões:
Cutânea
De transição (zona Ligeiramente queratinizado (ainda apresenta stratum
vermelha do lábio) granulosum)
Muito vascularizado e inervado
O tecido conjuntivo penetra no epitélio (pode ter
corpúsculos de Meissner)
Glândulas sudoríparas e sebáceas ausentes
Mucosa oral Epitélio mais espesso
O stratum granulosum desaparece e passam a ser visíveis
núcleos achatados à superfície

Língua
O músculo estriado da língua está organizado em feixes dispostos em três planos e
cada um deles está orientado em sentido perpendicular em relação aos outros. Esta
organização é exclusiva da língua e confere-lhe elevada flexibilidade e precisão de
movimentos.

A face dorsal é dividida pelo sulco terminal que tem a forma de um v aberto para a
frente. Anteriormente, existem 4 tipos de papilas:
Filiformes Mais pequenas e numerosas
Projecções cónicas e alongadas de tecido conjuntivo coberto
por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado
O vértice aponta para trás
Não tem corpúsculos gustativos
Função mecânica: aumentar a fricção entre o alimento e a
língua

105
Fungiformes Forma de cogumelo
Maiores do que as filiformes
Têm corpúsculos gustativos no epitélio estratificado

Circunvaladas 8 a 12 papilas localizadas imediatamente à frente do sulco


terminal (formam o v lingual)
Cada uma está rodeada por um sulco que contém corpúsculos
gustativos e onde se abrem as glândulas de von Ebner
(glândulas salivares linguais) que impedem, por acção
enzimática, a acumulação de resíduos alimentares nos sulcos

Folheadas Cristas paralelas separadas por fendas alinhadas


perpendicularmente ao grande eixo da língua
Localizadas nos bordos laterais da língua (deixam de ser visíveis
com a idade)
Têm glândulas serosas que se abrem nas fendas através de
pequenos ductos
Têm corpúsculos gustativos

Posteriormente ao sulco terminal, a língua apresenta nódulos linfáticos e tecido


linfóide difusos cujo conjunto forma a amígdala lingual.

A face ventral da língua é constituída por tecido epitelial estratificado pavimentoso


não-queratinizado e é mais regular.

Corpúsculos gustativos
São corpos ovais e pouco corados na espessura do epitélio, associados a fibras
nervosas também pouco coradas. Estendem-se até ao limite superior da cartilagem cricoideia.
Apresentam uma abertura na porção superior, o poro gustativo. São constituídos por três
tipos de células:
Células neuroepiteliais Mais numerosas
Alongadas em toda a espessura do corpúsculo
Têm microvilosidade na parte apical

106
Contactam com outras células e com células de suporte
por tight junctions (na parte apical)
Na base, sinapsam com neurónios aferentes do VII, IX e X
pares cranianos
Células de suporte São semelhantes às neuroepiteliais mas não fazem
sinapse com os neurónios
Células basais Pequenas células situadas na porção basal do corpúsculo
São células estaminais precursoras dos outros dois tipos
celulares cujo tempo de vida é de 10 dias

Paladar
As substâncias químicas contidas nos alimentos interagem com receptores localizados
nas células neuroepiteliais que reconhecem essas substâncias e enviam informações para o
cérebro, onde estas são reconhecidas como o gosto. Existem cinco estímulos básicos: doce,
salgado, amargo, ácido e umami (umami é uma palavras de origem japonesa que significa
"gosto  saboroso  e  agradável,  delicioso”). A acção molecular das substâncias químicas inclui a
passagem através de canais iónicos, o encerramento desses mesmos canais ou a interacção
com um receptor específico associado à proteína G.
O amargo, o doce e o umami são detectados por uma variedade de receptores
codificados pelos genes T1R e T2R que interagem com a proteína G.
No caso do ácido, o gosto é gerado por protões que se formam por hidrólise de
compostos ácidos. Estes protões bloqueiam os canais de potássio responsáveis por criar o
potencial de acção que causa a despolarização da membrana e entram nas células
neuroepiteliais, o que activa o canais de Ca2+ sensíveis à voltagem. O fluxo de cálcio gera um
potencial de acção nas células nervosas associadas aos corpúsculos gustativos.
No caso do salgado, o Na+ entra nas células neuroepiteliais por canais iónicos o que
causa a despolarização da membrana e a activação de canais de sódio e cálcio, levando à
estimulação das fibras nervosas.

Dentes
Os dentes são essenciais no processo de digestão.

107
São constituídos por uma porção projectada acima da gengiva (a coroa), e por uma ou
mais raízes que ocupam os alvéolos maxilares. A região de transição é o colo. Os dentes
possuem tecidos moles (a polpa que preenche a cavidade pulpar, a membrana periodontal
entre o cemento e o osso, e a gengiva) e tecidos duros (o esmalte, a dentina e o cemento).

Esmalte
O esmalte é a substância mais dura do organismo. É um tecido mineralizado, não
celular, que cobre a coroa dos dentes. Uma vez formado não pode ser substituído. É
constituído por hidroxiapatita (96-98%), a forma cristalizada do fosfato de cálcio.
É constituído por estruturas alargadas e hexagonais, os prismas do esmalte. Os cristais
de esmalte estão orientados de forma paralela ao eixo maior do prisma. Este possui estrias, as
linhas de Retzius, que evidenciam um crescimento rítmico do esmalte.

Cemento
É uma camada produzida por cementócitos (células localizadas na superfície do
cemento) que cobre a raiz dos dentes. É avascular.

Dentina
É um tecido calcificado com cerca de 70% de cálcio (mais do que no osso). É secretada
por odontoblastos que formam uma camada única de células cilíndricas que contorna a
cavidade pulpar. Estas células produzem a matriz orgânica da dentina, constituída por
glicoproteínas e colagénio.
É secretada, primeiro, sobre a forma de pré-dentina (forma não mineralizada).

Ligamento periodontal
É uma estrutura fibrosa que une o cemento ao osso alveolar e o dente à gengiva e
dentes vizinhos. É formando por tecido conjuntivo denso. As fibras de colagénio (fibras de
Sharpey) projectam-se da matriz do cemento e penetram na matriz do osso. É muito
vascularizada e enervada.

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Glândulas Salivares
Existem três glândulas salivares major de cada lado: a parótida, a submaxilar e a
sublingual. Existem ainda algumas glândulas menores localizadas na submucosa da língua,
lábios e palato.

Unidade secretora
As glândulas estão envolvidas por uma cápsula (excepto as menores) cujos septos as
dividem em lobos e lóbulos. Cada unidade secretora é formada pelo ácino, por um ducto
intercalar e por um ducto excretor. Os ácinos são estruturas em forma de saco constituídos
por células secretoras. Nas glândulas salivares, estes ácinos podem ser serosos, mucosos ou
mistos.

Ácinos serosos Células piramidais com domínio basal mais largo e domínio
apical (virado para o lúmen) mais estreito
REr, ribossomas e complexo de Golgi desenvolvidos
Grânulos zimogénicos (contêm as secreções) localizados no
domínio apical
Em preparações de H&E, o domínio basal cora com
hematoxilina devido ao REr e aos ribossomas e a região
apical cora com eosina devido aos grânulos

Ácinos mucosos Grande quantidade de grânulos mucinogénicos localizados


no domínio apical (conteúdo perdido na preparação)
Núcleo achatado contra a base da célula
O muco é armazenado em grânulos mucinogénicos e é
libertado após estímulo hormonal ou neuronal
Após a descarga, as células tornam-se semelhantes às
serosas

Ácinos mistos Nas preparações de H&E, as células serosas formam um


crescente seroso em volta das mucosas. Isto é um artefacto
da preparação em consequência do aumento do
mucinogénio durante a fixação da preparação, o que faz com
que   as   células   serosas   sejam   “empurradas”   da   sua   posição  

109
original. Na verdade, as células serosas e mucosas estão
intercaladas umas com as outras.

Associados aos ácinos estão células mioepiteliais. Estas localizam-se entre a


membrana basal das células epiteliais e a lâmina basal do epitélio, bem como na base dos
ductos. São importantes no movimento das secreções ao longo dos ductos excretores. Os
filamentos contrácteis coram com eosina e formam uma banda adjacente à membrana basal.

Canais excretores

Ductos
intralobulares Ductos
Ductos principais
(intercalados e interlobulares
estriados)

Ductos intercalados. Estão localizados no parênquima das glândulas (são


intralobulares) e epitélio é simples cubóide baixo e as células têm anidrase carbónica. Estas
secretam bicarbonato e absorvem Cl- do produto secretado pelas glândulas.

Ductos estriados. Estão localizados no parênquima das glândulas (são intralobulares) e


o epitélio é simples cubóide e torna-se gradualmente cilíndrico. A membrana basal tem
invaginações no meio das quais estão mitocôndrias. Esta especialização da membrana está
associada a reabsorção de Na+ e à secreção de K+ e bicarbonato. É reabsorvido mais sódio do
que a quantidade de potássio que é excretada, pelo que a secreção se torna hipotónica. São
mais desenvolvidos nas glândulas serosas.

Ductos principais. Abrem-se na cavidade oral. O epitélio vai-se tornando estratificado


ou pseudoestratificado cubóide/pavimentoso.

Parótida
As glândulas parótidas estão localizadas de cada lado, abaixo e à frente do pavilhão
auricular. São tubulo-alveolares compostas, exclusivamente serosas. Possuem ductos
estriados muito desenvolvidos. Apresenta uma grande quantidade de tecido adiposo, o que

110
permite fazer a sua distinção das restantes glândulas salivares. É atravessada pelo nervo facial.
O canal excretor principal é o canal de Sténon e abre-se entre o 1º e o 2º molares, no vestíbulo
bucal superior.

Submaxilar
As glândulas submaxilares estão localizadas de cada lado do pavimento bucal e
classificam-se como tubulo-alveolares compostas. São predominantemente serosas, mas
apresentam alguns ácinos mucosos com crescentes serosos. Os ductos estriados são menos
desenvolvidos. O canal excretor principal é o canal de Wharton que se abre no freio da língua.

Sublingual
Estão situadas anteriormente às submaxilares. São predominantemente mucosas, mas
apresentam alguns crescentes serosos. O ductos intercalares e estriados são curtos e a
unidade secretora pode ser tubular e não apenas acinar/alveolar. Os vários ductos excretores
abrem-se, geralmente, no pavimento bucal.

Saliva
As glândulas salivares produzem cerca de 1,200mL de saliva por dia, uma secreção
aquosa hipotónica que desempenha uma grande variedade de funções:
► Lubrificação da mucosa oral
► Dissolução de substância presentes nos alimentos que estimulam os
corpúsculos gustativos
► Digestão do amido, principalmente (possui amilase)
► Controlo das bactérias da mucosa oral através da lisozima, da lactoferrina e de
IgA
► Importante no desenvolvimento dos dentes devido ao conteúdo em cálcio e
fosfato.

Composição: água, proteínas, glicoproteínas (enzimas e anticorpos), electrólitos,


potássio, sódio, bicarbonato, cálcio, cloreto e ureia.

111
Caso a secreção de saliva seja estimulada pelo sistema nervoso parassimpático, a
secreção é mais rica em água. Caso seja estimulada pelo sistema nervoso simpático, o
conteúdo é mais rico em proteínas.

112
SISTEMA DIGESTIVO II: Esófago e Tracto Gastrointestinal

O canal alimentar tem a forma de um tubo vazio de diâmetro variável com a mesma
organização estrutural básica em todo o seu comprimento. A parede do tracto gastrointestinal
é formada por 4 camadas que são, do lúmen para a parte mais externa: mucosa (com a lâmina
própria e a camada muscular da mucosa – muscularis mucosae), submucosa, muscular
própria e serosa (que inclui, nos locais onda a parede está unida a outras estruturas, uma
camada adventícia).

Mucosa
O epitélio varia ao longo do tubo digestivo de acordo com as funções específicas de
cada zona. A mucosa tem 3 funções principais:

Barreira/Protecção Separa o lúmen do tracto gastrointestinal dos restantes órgãos;


Evita a entrada de antigénios, organismos patogénicos e outras
substâncias tóxicas;
Protege o órgão da abrasão provocada pelos alimentos (esófago);
Barreira permeável selectiva (tight junctions).
Absorção Absorção de água, nutrientes e electrólitos;
Área aumentada pela presença de válvulas coniventes, vilosidades
intestinais e microvilosidades;
Tem um glicocalix – glicoproteínas que se projectam da membrana
apical e providenciam uma superfície adicional de absorção.
Secreção Feita principalmente por glândulas:
o Mucosas (ou da mucosa) – prolongam-se para a lâmina
própria;
o Submucosas – os produtos são excretados directamente no
lúmen das glândulas mucosas ou são transportados através
de ductos;
o Externas – fígado e pâncreas.
Os produtos secretados fazem a lubrificação do tubo intestinal e a
protecção imunológica do mesmo.

113
Na lâmina própria, constituída por tecido conjuntivo de sustentação (laxo), estão
presentes as glândulas mucosas e capilares fenestrados que permitem a absorção. Está ainda
associado o tecido linfóide responsável pela barreira imunológica e que é constituído por
tecido linfóide difuso, nódulos linfáticos e eosinófilos, macrófagos e, por vezes, neutrófilos. No
conjunto, os primeiros dois formam o gult-associated lymphatic tissue (GALT). No íleon,
existem as placas de Peyer que ocupam quase toda a mucosa e lâmina própria.
A camada muscular da mucosa é a porção mais profunda desta camada e consiste em
células musculares lisas orientadas numa camada superficial longitudinal e numa camada
profunda circular. A sua contracção é independente dos movimentos peristálticos.

Submucosa
Esta camada contém os vasos sanguíneos de maiores dimensões, vasos linfáticos e os
plexos nervosos. Estes contêm fibras sensoriais de origem simpática, gânglios terminais
parassimpáticos e fibras nervosas parassimpáticas pré e pós-ganglionares. A porção
parassimpática destes plexos constitui o sistema nervoso entérico que pertence ao SNA e que,
na submucosa, toma o nome de Plexo de Meissner. A sua principal função é a inervação das
células musculares lisas do tracto alimentar e pode funcionar de forma independente do SNC.

Camada muscular própria


É constituída por uma camada interna de fibras circulares e uma externa de fibras
longitudinais. Entre as duas camadas existe uma pequena porção de tecido conjuntivo que
contém o Plexo Mioentérico ou Plexo de Auerbach.
A contracção da camada circular faz a compressão e a mistura dos conteúdos do
lúmen; a contracção da camada externa propaga esse conteúdo ao longo do tubo digestivo. No
conjunto, são efectuados os movimentos peristálticos na forma de ondas de contracção.
Na parede da porção proximal do esófago e em torno do canal anal (esfíncter externo
do ânus) existe músculo estriado nesta camada. No estômago, existe uma terceira camada de
fibras oblíquas mais interna. No intestino grosso, a camada longitudinal agrupa-se em três fitas
que constituem as ténias.
Em alguns locais, a camada circular torna-se mais espessa e forma esfíncteres ou
válvulas (esfíncter esofágico superior e inferior, esfíncter pilórico, válvula ileo-cecal, esfíncter
anal).

114
Serosa e Adventícia
A serosa é uma membrana constituída por tecido epitelial simples pavimentoso (o
mesotélio). Pode conter tecido adiposo. Algumas partes do tubo digestivo não têm serosa
(partes do intestino em contacto com a parede abdominal e que estão unidas a esta pela
adventícia).

Esófago
O esófago estende-se ao longo do pescoço e do mediastino e encaminha o bolo
alimentar da boca para o estômago. Num corte transversal, o lúmen está normalmente
colapsado e tem uma aparência irregular devido à presença de pregas longitudinais. Quando o
bolo alimentar passa pelo esófago, o lúmen distende.

Mucosa Epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado.


As células da camada basal são cubóides e o citoplasma é mais
basófilo. Existe uma maior densidade de núcleos devido à sua
capacidade proliferativa. Acima da zona basal, as células vão-se
tornando mais achatadas à medida que se aproximam do lúmen.
Lâmina própria semelhante à do restante tubo digestivo.
A muscular da mucosa é muito desenvolvida e apresenta duas
camadas (uma circular e uma longitudinal).

Submucosa Tecido conjuntivo denso irregular com vasos sanguíneos e linfáticos,


fibras nervosas e glândulas mistas que fazem a lubrificação do
esófago.
O tecido linfático é mais abundante nas porções proximal e distal (em
associação às glândulas).

Muscular própria O terço superior é constituído por músculo estriado em continuação


com o da faringe.
O terço médio tem uma mistura dos dois tipos de músculo.
O terço inferior tem apenas músculo liso.

115
Adventícia e serosa Recorberto em quase toda a extensão pela adventícia, excepto no
curto trajecto após a entrada na cavidade abdominal.

O esófago tem dois tipos de glândulas:

Glândulas próprias do esófago Na submucosa


Glândulas tubuloacinares, pequenas e compostas
Ducto excretor composto por epitélio estratificado
pavimentoso
Muco ligeiramente ácido para fazer a lubrificação da
parede.

Glândulas cardíacas Semelhantes às existentes ao nível do cárdia


Presentes na submucosa da porção terminal do esófago
Muco neutro que protege o esófago de possíveis refluxos
gástricos

Transição Cárdio-Esofágica
Ocorre, ao nível da transição entre o esófago e o estômago, uma mudança brusca do
epitélio que passa de estratificado pavimentoso (esófago) para simples cilíndrico (estômago).
A muscularis mucosae é contínua, mas bastante mais visível ao nível do esófago. A submucosa
e a muscular própria são também ininterruptas.

Estômago
É uma parte distendida do tubo digestivo responsável por misturar e fazer uma
digestão parcial dos alimentos, transformando-os no quimo que passa então para o intestino
delgado.
Histologicamente, o estômago é dividido em três partes: o cárdia (situado perto da
transição para o esófago), o piloro (na transição para o duodeno) e o fundo (que inclui a
restante porção do estômago).

116
Mucosa
A superfície interna do estômago é percorrida por numerosas pregas longitudinais,
mais proeminentes na região inferior. Ao longo da mucosa abrem-se numerosos orifícios
denominados fossetas gástricas ou fovéolas. Tanto a superfície do estômago como a das
fossetas gástricas são revestidas por um epitélio simples cilíndrico alto secretor de muco.
As glândulas são tubulares simples e produzem a barreira fisiológica protectora do
estômago. As células mucosas superficiais são cilíndricas e possuem grandes grânulos
mucigénicos na parte apical. Nas preparações aparecem tipicamente sem conteúdo, uma vez
que o muco é perdido na fixação e desidratação. No entanto, quando é preservado, os
grânulos coram intensamente com azul de toluidina (reflecte a presença de grupos aniónicos
nas glicoproteínas do muco) e são PAS-positivos.
O muco secretado tem uma aparência densa e viscosa, é insolúvel e adere à superfície
epitelial, protegendo-a da abrasão causada pelos alimentos. A sua elevada concentração de
potássio e bicarbonato protege a mucosa dos componentes ácidos do suco gástrico. O
bicarbonato torna o muco alcalino e este fica retido nas camadas mais profundas do
revestimento mucoso para que não entre imediatamente em contacto com o conteúdo do
estômago.
As prostaglandinas estimulam a produção de bicarbonato e aumentam a espessura do
revestimento, contribuindo para a protecção da mucosa.

No geral, não ocorre absorção ao nível da mucosa gástrica. No entanto, podem ser
absorvidos alguns sais, água e drogas lipossolúveis.

Glândulas Gástricas
Estão presentes ao longo de toda a mucosa excepto nas zonas ocupadas pelas
glândulas pilóricas e cardíacas. São glândulas tubulares simples ramificadas que se estendem
da base das fossetas gástricas até à camada muscular da mucosa.
São constituídas por três porções: istmo (localizado entre a fosseta e a glândula; local
onde ocorre a diferenciação das células estaminais), colo e base.

As glândulas gástricas produzem cerca de 2L de suco gástrico por dia. Este é


constituído por:

117
Ácido Clorídrico Concentração = 150 mmol/L
Confere ao suco um pH entre 1 e 2
Produzido pelas células parietais
Inicia a digestão proteica
Converte o pepsinogénio em pepsina
É bacteriostático (destrói bactérias) – no entanto, algumas
bactérias conseguem adaptar-se a este ambiente ácido

Pepsina Enzima proteolítica


É convertida do pepsinogénio (forma inactiva) produzido pelas
células peptídicas quando o pH é inferior a 5

Muco Camada protectora produzida por células mucosas

Factor intrínseco Glicoproteína secretada pelas células parietais


Liga-se à vitamina B12 e é essencial na sua absorção
A falta deste factor está associada à anemia perniciosa e à
deficiência de vitamina B12

Gastrina e outras Produzidas pelas células neuroendócrinas


hormonas

As glândulas gástricas são formadas por vários tipos de células: células mucosas do
colo, células principais (peptídicas ou zimogénicas), células parietais (ou oxínticas), células
neuroendócrinas e células estaminais.

Células mucosas do colo Localizadas na região do colo


Mais pequenas do que as células mucosas superficiais
Conteúdo menor de mucinogénio no citoplasma apical
Muco solúvel
Libertação de mucinogénio estimulada pelo X par craniano

Células principais Secretam pepsinogénio (pepsina inactiva) e uma lipase

118
Citoplasma basal basófilo (REr abundante) e citoplasma apical
eosinófilo (grânulos zimogénicos - contêm precursores
enzimáticos)

Células parietais Localizadas no colo entre as células mucosas


Células grandes, podem ser binucleadas, de forma
aproximadamente triangular em que o vértice está dirigido
para o lúmen e citoplasma mais eosinófilo
Núcleo esférico
O citoplasma cora com eosina e outros corantes ácidos
Possuem um sistema canalicular intracelular que comunica
com o lúmen da glândula e que tem numerosas
microvilosidades que aumentam nas células activas
Secretam HCl e o factor intrínseco

Células neuroendócrinas Espalhadas por toda a glândula mas mais significativamente na


base
Podem   ser   “fechadas”   (pequenas   células   que   assentam   na  
lâmina basal  e   que   podem  não  atingir  o  lúmen)  ou  “abertas”  
(têm um prolongamento que chega ao lúmen). Estas últimas
são quimiorreceptores primários.

Células estaminais / tronco Concentradas junto ao colo

O istmo e o colo aparecem pálidos devido à predominância de células mucosas do colo


e de células parietais. A base, onde existe maior número de células principais, cora mais
intensamente com H&E.

A secreção de HCl ao nível das células parietais é activada por três receptores
membranares: receptores de histamina H2, de gastrina e de acetilcolina M3. Após a ocorrência
do estímulo, há a produção de iões H+ no citoplasma das células parietais pela anidrase
carbónica. Estes são então transportados para o lúmen dos canalículos juntamente com Cl-,
levando à formação do HCl.

119
Glândulas cardíacas. Estão limitadas à região do cárdia. Compostas por células mucosas
arranjadas na forma de um epitélio simples cilíndrico cujo núcleo se encontra no domínio
basal. O lúmen é relativamente extenso. As suas secreções contribuem para a protecção do
esófago em relação ao refluxo gástrico. Composta principalmente por células secretoras de
muco e algumas células neuroendócrinas. O produto é libertado no fundo das fossetas
gástricas por ductos compostos por células cilíndricas e cujo citoplasma cora intensamente
com eosina (o que permite diferenciá-las das células mucosas).

Glândulas pilóricas. Estão localizadas ao nível do piloro e são tubulares ramificadas. As células
secretoras são semelhantes às células mucosas superficiais das glândulas gástricas e o lúmen é
muito reduzido. A função do muco é proteger a entrada do duodeno do ataque ácido da
pepsina e lubrificar a passagem do quimo.

Renovação epitelial no estômago


Tempo de vida:
Células mucosas superficiais 3 a 5 dias
Células parietais 150 a 200 dias
Células principais e neuroendócrinas 60 a 90 dias
Células mucosas do colo 6 dias

As células estaminais presentes no colo dividem-se e diferenciam-se. A maioria das


células produzidas origina as células mucosas superficiais que migram para a superfície do
lúmen do estômago. As restantes células migram para baixo em direcção à glândula gástrica.

Lâmina própria e camada muscular da mucosa


A lâmina própria é escassa e está presente apenas nos espaços que envolvem as
fossetas gástricas e as glândulas. O estroma é composto por fibras reticulares, fibroblastos e
células musculares lisas, bem como células do sistema imunitário.
A muscular possui, além da composição normal, algumas fibras musculares lisas que
auxiliam a secreção gástrica.

120
Submucosa
Tecido conjuntivo denso com quantidades variáveis de tecido adiposo e vasos
sanguíneos, bem como fibras e gânglios nervosos.

Muscular própria
É constituída por 3 camadas: uma camada externa longitudinal, uma camada central
de fibras circulares e uma interna de fibras oblíquas.

Intestino Delgado
É constituído pelo duodeno e pelo jejuno-íleon. O quimo entra no duodeno onde a
digestão continua pela acção das enzimas pancreáticas e da bílis do fígado. As enzimas,
principalmente dissacáridos e dipéptidos, acumulam-se no glicocalix das microvilosidades dos
enterócitos (células intestinais absortivas) e fazem a digestão dos hidratos de carbono e
proteínas. Há absorção de água e electrólitos.
A área de absorção é aumentada por válvulas coniventes ou de Kerkring (são
transversais e permanentes e estão ausentes na primeira porção do duodeno), vilosidades
intestinais (projecções da mucosa em forma de dedo entre as quais se situam as criptas de
Lieberkuhn ou glândulas intestinais) e microvilosidades (formam o prato estriados na
superfície dos enterócitos).

Mucosa
As vilosidades têm um núcleo de tecido conjuntivo laxo (é uma extensão da lâmina
própria) coberto por epitélio simples cilíndrico. Contém um vaso linfático central e fibras
musculares lisas cuja contracção leva ao movimento da linfa pelo vaso.
As criptas de Lieberkuhn são estruturas tubulares simples que se estendem da
muscularis mucosae até ao lúmen do intestino na base das vilosidades. O epitélio é simples
cilíndrico.
A lâmina própria rodeia as glândulas intestinais e possui folículos linfóides (GALT)
particularmente numerosos no íleon onde formam as placas de Peyer
A muscularis mucosae é constituída por duas camadas (uma circular e uma
longitudinal).

O epitélio simples cilíndrico é constituído por 5 tipos de células:

121
Enterócitos Células cilíndricas
Núcleo basal
Microvilosidades – prato estriado
Células caliciformes Produção de muco (mucina)
Aumentam em nº ao longo do intestino
Acumulação de grandes grânulos mucinogénicos
Domínio basal basófilo
Células de Paneth Na base das criptas
Citoplasma basófilo
Grânulos apicais eosinófilos (permitem identificar
células) com lisozima e fosfolipases
Primeira linha de defesa e regulação da flora intestinal
Células neuro-endócrinas Semelhantes às do estomago
Regulam a secreção e a motilidade gastrointestinais
Secretam  CCK,  secretina,  GIP  …  
Células M Células epiteliais que cobrem folículos linfóides e placas
de Peyer
Envolvem microrganismos e macromoléculas em
vesiculas endocíticas
São células transportadoras de antigénio – o conteúdo
das vesículas é esvaziado para o espaço intercelular
perto de linfócitos T CD4+

Existem ainda algumas células-tronco perto da base das criptas.

Os enterócitos possuem uma membrana basal com invaginações que aumentam a


superfície das células e o número de enzimas transportadoras que se situam nessa membrana.
Na absorção activa, as interdigitações afastam-se e aumentam o espaço intercelular onde se
acumulam solutos e solventes que aumentam a pressão hidrostática e causam o movimento
do fluido da lâmina basal para a lâmina própria.
Fixa à membrana existe fosfatase alcalina que está envolvida no transporte de cálcio.

A CCK e a secretina aumentam a actividade pancreática e inibe a secreção gástrica. A


GIP estimula a libertação de insulina e a motilidade gástrica e intestinal. As células neuro-

122
endócrinas produzem ainda somatostatina e histamina (hormonas parácrinas, com efeito
local).

Submucosa
É constituída por tecido conjuntivo denso e por tecido adiposo. No duodeno, existem
glândulas na submucosa, as glândulas de Brunner. Estas são tubulares ramificadas e células
secretoras com características zimogénicas e mucosas. As secreções elevam o pH para valores
entre 8,1 e 9,3 e são constituídas por glicoproteínas neutras e alcalinas que conferem o pH
óptimo para a actuação das enzimas pancreáticas.

Muscular Própria
O intestino delgado efectua dois tipos de contracção muscular: segmentação
(envolvem a camada circular) e peristaltismo (envolve as duas camadas musculares).

Intestino Grosso
O intestino grosso inclui o cego, o apêndice íleo-cecal, o cólon (ascendente, transverso,
descendente e sigmoideu), o recto e o canal anal. Todas estas porções têm a consituiçao
básica do canal gastrointestinal. No entanto, apresentam algumas características próprias:
► Ténias – 3 bandas mais espessas situadas na muscular própria (estão
ausentes no recto, canal anal e apêndice).
► Haustras – dilatações entre as ténias.
► Apêndices epiplóicos – projecções de tecido adiposo da serosa observados
na superfície do cólon.

Mucosa
Não apresenta válvulas coniventes nem vilosidades intestinais. Tem numerosas
glândulas tubulares simples (criptas de Lieberküns) que se estendem por toda a espessura da
mucosa. Estas glândulas têm epitélio simples cilíndrico, em continuidade com a superfície
intestinal. A sua principal função é a reabsorção de água e electrólitos e a sua morfologia é
semelhante à dos enterócitos do intestino delgado.
A eliminação dos resíduos sólidos é facilitada pela secreção de muco por numerosas
células caliciformes das glândulas intestinais. Estas células são muito mais numerosas do que
no intestino delgado.

123
O epitélio do intestino grosso contém os mesmos tipos de células do intestino delgado,
excepto as células de Paneth. As células absortivas são mais numerosas do que as células
caliciformes, apesar de esta diferença ir diminuindo pelo aumento das células caliciformes.

Renovação Celular
As células epiteliais têm origem em células-tronco presentes na base das glândulas.
Estas dividem-se e migram até ao lúmen. O tempo de vidas das células é semelhante às do
intestino delgado.

Lâmina Própria
Além dos componentes normais, apresenta:
► Uma espessa camada de colagénio e proteoglicanos logo abaixo da membrana
basal das células epiteliais e dos capilares fenestrados. Esta camada faz a regulação
do transporte de água e electrólitos do compartimento intercelular para o
compartimento vascular.
► Uma população de fibroblastos que se dividem e diferenciam na base das
glândulas, migrando posteriormente para o lúmen, onde as suas características
morfológicas e histoquímicas se tornam semelhantes às dos macrófagos.
► GALT muito desenvolvido. Os nódulos linfáticos estendem-se até à submucosa e
tem a função de proteger o intestino da grande quantidade de microrganismos e
produtos nocivos presentes no cólon.

Muscular Própria
Os feixes musculares das ténias do cólon penetram na camada circular mais profunda
em intervalos regulares. Esta segmentação permite a contracção independente de diferentes
segmentos do cólon. A muscular própria efectua dois tipos de movimentos: segmentação e
peristaltismo.

Submucosa e Serosa
Semelhantes ao restante tracto gastrointestinal.

Apêndice

A principal diferença é a presença de uma camada uniforme de fibras longitudinais na


muscular própria e de uma grande quantidade de tecido linfóide.

124
Cego
Semelhante ao restante cólon.

Recto e Canal Anal


O recto é a porção dilatada e distal do tracto gastrointestinal. Na sua porção superior
apresente pregas transversas e a mucosa é igual à do restante cólon.
A parte mais distal constitui o canal anal que tem cerca de 4cm e que termina ao nível
do ânus. A sua porção superior apresente colunas anais (de Morgagni) separadas pelos seios
anais. O canal anal pode ser dividido em três zonas, com base no seu epitélio:
► No terço superior, o epitélio é simples cilíndrico com características iguais às
do recto.
► No terço médio, existe uma zona de transição na qual o epitélio tem
características de epitélio simples cilíndrico e de epitélio estratificado
pavimentoso.
► No terço inferior, o epitélio é estratificado pavimentoso e continua-se com a
pele.

No canal anal, as glândulas podem atingir a submucosa e a muscular própria. Estas


glândulas tubulares produzem muco para a superfície anal. Existem ainda glândulas circum-
anais na pele que rodeia o ânus, bem como glândulas sebáceas e folículos capilares.
A muscular da mucosa desaparece no terço médio do canal anal. Neste ponto, a
muscular própria torna-se mais espessa e forma uma camada muscular circular que constitui o
esfíncter interno do ânus. O esfíncter externo é formado por músculo esquelético do períneo.

125
SISTEMA DIGESTIVO III: Fígado, Vesícula Biliar e Pâncreas

Fígado
O fígado é a maior massa glandular do organismo e o maior órgão abdominal. Está
envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo (cápsula de Glisson) e por uma camada de
peritoneu visceral, excepto nos locais onde contacta com o diafragma ou outros órgãos.
Anatomicamente é dividido em 24 lobos: direito, esquerdo, lobo quadrado e lobo
caudado (de Spiegel). A divisão funcional que corresponde à vascularização do fígado é mais
importante.
O desenvolvimento embrionário ocorre por invaginação do intestino primitivo para
formar um divertículo hepático. Este prolifera e origina os hepatócitos que irão formar o
parênquima. Uma parte do divertículo forma o canal colédoco e, a partir desta, é originada e
vesícula biliar e o canal cístico.

Fisiologia
Produção da maioria das proteínas que circulam no plasma:
Albuminas Manutenção do volume plasmático e da
pressão osmótica
Lipoproteínas Principalmente VLDLs (transporte de
triglicéridos)
Glicoproteínas Transporte de ferro, por exemplo
Protrombina e fibrinogénio Cascata de coagulação
Α-globulinas e β-globulinas Transporte de substâncias
Manutenção da pressão osmótica

Armazenamento e transformação de vitaminas:


Vitamina A É um precursor do retinal que é importante para a síntese de
(retinol) rodopsina no olho.
O fígado produz também RBP (retinol-binding protein) que se liga
ao retinol.
Vitamina D Importante no metabolismo do cálcio e fosfato.
Produzida também na pele durante a exposição solar.
Vitamina K Importante na síntese de trombina e factores de coagulação no
fígado.

126
Produzida também por bactérias da flora intestinal.

Armazenamento, metabolismo e homeostase do ferro: o fígado produz quase todas


as proteínas envolvidas no transporte do ferro (transferina, por exemplo). O ferro é
armazenado nos hepatócitos na forma de ferritina.

Degradação de drogas e toxinas: a maioria das drogas e toxinas são insolúveis em


água, pelo que, para serem eliminadas pelos rins, têm de passar primeiro pelo fígado
onde sofrem as alterações necessárias para que se tornem mais solúveis. Essas
alterações incluem: adição de grupos hidroxilo e carboxilo (fase I – oxidação) e
conjugação com a taurina ou glicina (fase II – conjugação).

Metabolismo: o fígado está envolvido no metabolismo da glicose (armazenada sobre a


forma de glicogénio), dos ácidos gordos (β-oxidação), do colesterol e de aminoácidos
não-essenciais. Produz ainda corpos cetónicos e ureia.

Produção de bílis: é um produto de excreção e uma secreção exócrina do fígado.

Vascularização
O fígado recebe sangue através da veia porta e da artéria hepática, ramo do tronco
celíaco. Ambos os vasos entram pelo hilo do fígado, pelo mesmo local por onde sai o canal
hepático.
A veia porta transporte 75% do sangue que chega ao fígado. Contém nutrientes e
material tóxico do intestino, células sanguíneas danificadas do baço e secreções endócrinas do
pâncreas e neuroendocrinas do tracto gastrointestinal. O sangue é pobre em oxigénio.
A artéria hepática transporte os restantes 25% do sangue e este é rico em oxigénio.
Ao nível dos sinusóides, o sangue de ambos os vasos mistura-se, pelo que o fígado
nunca recebe sangue completamente oxigenado. A artéria hepática, a veia porta e os canais
que formam o canal hepático distribuem-se de igual forma.
Os sinusóides estão em contacto íntimo com os hepatócitos e fazem a troca de
substâncias entre estes e o sangue. A partir dos sinusóides formam-se veiais hepáticas
terminais que drenam em veias sublobulares que formam então as veias supra-hepáticas.

127
Organização Estrutural
O fígado é formado por parênquima (hepatócitos), estroma, sinusóides e espaços de
Disse (espaços peri-sinusoidais).
Enquanto unidades funcionais, podem ser descritos três tipos de lóbulos: lóbulo
hepático, ácino hepático e lóbulo portal.

Lóbulo hepático Aproximadamente hexagonal


Conjunto de hepatócitos separados por sinusóides
No centro existe a vénula hepática terminal ou veia central para
onde convergem os sinusóides
Nos ângulos do hexágono encontra-se a tríade portal (ramos da
veia porta, da artéria hepática e do canal hepático) - espaços
porta
Limites pouco definidos devido à escassez de tecido conjuntivo
interlobular

Lóbulo portal Eixo constituído pelos canalículos biliares entre os lóbulos


hepáticos
Triangular: as margens são linhas imaginárias que unem as três
veias centrais mais próxima do canalículo biliar

Ácino hepático Forma de losango


Eixo menor: ramos terminais da tríade portal que se localizam
entre dois lóbulos hepáticos
Eixo maior: linha entre as duas veias centrais mais próximas do
eixo menor
É a unidade estrutural que melhor representa a estrutura
funcional do fígado

Nos ácinos hepático, distinguem-se três zonas funcionais nas quais os hepatócitos
desempenham funções diferentes:
Zona 1 Mais próxima do espaço porta
Recebe o sangue mais oxigenado
Recebe primeiro os nutrientes e toxina

128
Primeira zona a apresentar sinais morfológicos indicativos de obstrução
do canal biliar
Zona 2 Entre as duas outras zonas, limites pouco definidos
Zona 3 Mais próxima da veia central e mais afastada do espaço porta
Mais susceptível à isquémia

Sinusóides
O endotélio é fenestrado descontínuo sem diafragma. O fluxo sanguíneo vem dos
ramos terminais da veia porta e da artéria hepática, passa para o sinusóide e converge para a
vénula hepática central.
Estão associados às células de Kupffer que fazem parte do sistema mononuclear
fagocítico, logo derivam de monócitos. Têm prologamentos que envolvem os sinusóides,
podendo entrar no seu lúmen, e estão envolvidas na remoção de eritrócitos senescentes.

Entre o sinusóide e o domínio baso-lateral dos hepatócitos encontram-se os espaços


de Disse ou Peri-sinusoidal onde ocorrem as trocas metabólicas. Numerosas microvilosidades
entendem-se da superfície do hepatócito para o espaço de Disse, aumentando a área de
contacto entre os hepatócitos e o sangue. Como não há uma barreira entre o sangue e as
células (devido à descontinuidade dos sinusóides), este contacta directamente com as
membranas dos hepatócitos.
No espaço de Disse, além das células de Kupffer, existem ainda as células de Ito ou
células estreladas. Estas células têm origem mesenquimal e fazem o armazenamento de
vitamina A em gotículas de lípidos bem como a produção de matriz extracelular e colagénio
em condições patológicas, como a cirrose hepática. Nestas situações, diferenciam-se em
células com características de miofibroblastos e são responsáveis pela fibrose hepática. Ao
contraírem, aumentam a resistência vascular dos sinusóides levando ao aumento da
hipertensão portal.

O plasma que permanece nos espaços de Disse drena para os espaços de Mall
(espaços peri-portais) situados entre o estroma do espaço porta e os hepatócitos mais
externos. Daqui, o fluido entra nos capilares linfáticos.

129
Hepatócitos
Características principais 80% da população celular do fígado
Células grandes e poliédricas (6 faces)
Núcleos esféricos em posição central
Muitos são binucleados e tetraplóides
Dois ou mais nucléolos
Tempo de vida: 5 meses
Grande capacidade de regeneração
Citoplasma acidófilo

Os hepatócitos formam placas com apenas uma camada, pelo que cada célula está
exposta ao sangue em dois lados e anastomosam-se entre si, formado uma rede
tridimensional. Apresentam um domínio basal (que contacta com o espaço de Disse) e um
domínio ápico-lateral (que corresponde aos hepatócitos vizinhos e aos canalículos biliares).

Constituição dos hepatócitos:


Peroxissomas Grandes e numerosos
Grandes quantidades de peróxido de hidrogénio que é degradado
pela catalase a oxigénio e água – processo envolvido na
desintoxicação do álcool, por exemplo
RE liso Muito desenvolvido quando estimulado por drogas, toxinas e
outros componentes metabólicos
Contém enzimas envolvidas na degradação e conjugação de
toxinas e drogas e na síntese de colesterol
Complexo de Envolvido na secreção de bílis
Golgi
Lisossomas Identificados por métodos imunocitoquímicos
Armazenamento de ferritina (ferro)
Citoplasma Eosinófilo com agregados basófilos devido ao REr
Grânulos de lipofuscina em quantidades variáveis
Aspecto vacuolizado devido à acumulação de glicogénio (PAS-
positivo) e lípidos. Estes componentes são removidos durante a
preparação histológica

130
Sistema Biliar
Os canais biliares fazem a condução da bílis pelo fígado e até à vesícula biliar e são
capazes de alterar a sua composição em resposta a estímulos hormonais e nervosos.
Os colangiócitos são as células epiteliais dos canais biliares: têm poucos organelos,
estão unidas por tight junctions e possuem uma lâmina basal contínua. À medida que se
aproximam do hilo hepático, passam de cubóides a cilíndricas.

Canalículos Biliares
Os canalículos biliares são formados por sulcos situados na superíficie de hepatócitos
adjacentes que formam um canal para onde é drenada a bílis. Existem ATPases localizadas nas
membranas, o que sugere que o transporte da bílis seja um processo activo.
A bílis é transportada num sentido centrífugo para os canais de Hering, ou seja, da
vénula hepática terminal para a tríade portal (direcção oposta à do fluxo sanguíneo).
Os canais de Hering são constituídos por hepatócitos e colangiócitos e possuem
capacidade contráctil.

Canais
Canal de Canal intra- Canal hepáticos
Hering hepático interlobular (direito e
esquerdo)

Por vezes, existem, no tecido conjuntivo entre o fígado e a vesicula biliar, os canais de
Luschka que se abrem no canal cístico.
O canal hepático apresente as mesmas camadas do restante sistema digestivo,
excepto a muscularis mucosae.

Bílis
A bílis está envolvida na reabsorção de gordura e é usada pelo fígado como veículo
para a excreção de colesterol, biliburrina, ferro e cobre. A maioria dos componentes da bílis
são reciclados: 90% dos sais biliares são reabsorvidos no intestino e transportados de novo
para o fígado pela veia porta, sendo novamente reabsorvidos e secretados pelos hepatócitos;
o colesterol, a lecitina, a maioria dos electrólitos e da água são também reabsorvidos e
reciclados.

131
Regulação
O fluxo da bílis é controlado por regulação hormonal e nervosa. A taxa de sangue que
chega ao fígado exerce efeitos reguladores no fluxo biliar. A CCK e a gastrina, libertadas por
células neuro-endócrinas durante a digestão, aumentam o fluxo; hormonas esteroides
diminuem o fluxo. O sistema nervoso parassimpático aumenta também a secreção de bílis
uma vez que relaxa o esfíncter de Oddi e provoca a contracção da vesícula biliar.

Vesícula Biliar
A vesícula biliar é um fundo-de-saco em forma de pêra que está unido a face inferior
do fígado. Desenvolve-se do intestino primito através de uma invaginação do canal biliar
primitivo que liga o fígado ao intestino em desenvolvimento.
A vesicula recebe a bílis através do canal cístico. Tem como principal função o
armazenamento da bílis e a remoção de cerca de 90% da água que a constitui, aumentando a
sua concentração cerca de 10 vezes. As hormonas secretadas pelas células neuro-endócrinas
em resposta à presença de lípidos no duodeno estimulam a contracção o músculo liso da
vesícula, levando à libertação da bílis no duodeno.

Mucosa
A superfície da vesícula tem numerosas pregas. O epitélio é simples cilíndrico e
apresenta microvilosidades pouco desenvolvidas, adesões celulares que formam uma barreira
entre o lúmen e o espaço intercelular, mitocôndrias no citoplasma basal e apical e
invaginações laterais (onde existem ATPases que fazem o transporte de sódio e potássio.
A lâmina própria é rica em capilares fenestrados e pequenas vénulas, mas não possui
linfáticos, bem como um elevado número de células sanguíneas e linfócitos e glândulas
mucosas.

A parede da vesícula não tem muscularis mucosae nem submucosa.

Muscular própria
Esta camada tem numerosas fibras elásticas e de colagénio entre os feixes de músculo
liso. Estes estão orientados de forma desordenada, contrariamente ao que acontece no
restante sistema digestivo.

132
Por vezes, estão presente os seios de Rokitansky-Aschoff que resultam que
divertículos da mucosa que se desenvolvem em resposta à hiperplasia (crescimento excessivo
das células). É um local onde se podem acumular bactérias.

Serosa e adventícia
Externamente a muscular própria, existe uma densa camada de tecido conjuntivo que
contém vasos, linfáticos, nervos, fibras elásticas e tecido adiposo. Nos locais onde a vesícula
adere ao fígado, esta camada denomina-se adventícia; na restante superfície, chama-se
serosa.

Absorção
As células epiteliais fazem um transporte activo de Na+, Cl- e HCO3- através de ATPases
localizadas nas membranas laterais. Estas células têm também aquaporinas (AQP1 e AQP8)
que sugerem que estejam envolvidas tanto na absorção como na secreção de água.
O aumento da concentração de electrólitos causado pela absorção de água cria um
gradiente osmótico entre o espaço intercelular e o citoplasma e entre o espeço intercelular e o
lúmen da vesícula. A água passa então do citoplasma e do lúmen para o espaço entre as
células, devido ao gradiente osmótico. Este movimento de água e electrólitos cria uma pressão
hidrostática que leva à passagem de fluido do compartimento intercelular para s lâmina
própria e desta para os capilares fenestrados que lá se localizam.

Assim, a concentração final da bílis resulta do transporte activo de Na+, Cl- e HCO3- e do
transporte passivo de água através das aquaporinas.

Pâncreas
Glândula alongada constituída, anatomicamente, por uma cabeça, um corpo e um
colo. Contém dois canais excretores: um canal pancreático principal (de Wirsung) e um
acessório (de Santorini). O canal de Wirsung drena em conjunto com o canal colédoco no
duodeno através da ampola de Vater que está envolvida pelo esfíncter de Oddi.
O pâncreas tem uma fina cápsula de tecido conjuntivo da qual de destacam septos que
dividem o órgão em lóbulos mal definidos. O estroma é constituído por tecido conjuntivo que
envolve o parênquima, os canais, os vasos sanguíneos e os nervos.
O pâncreas tem função exócrina e endócrina que são da responsabilidade de duas
unidades funcionais diferentes:

133
Pâncreas exócrino Sintetiza enzimas necessárias à digestão que são
lançadas no duodeno
Pâncreas endócrino Sintetiza hormonas e glucagina que são libertadas no
sangue

Pâncreas Exócrino
As unidades secretoras são alveolares compostas e têm um epitélio simples formado
por células serosas piramidais cuja superfície basal é maior e a superfície livre (virada para o
lúmen) é mais estreita.
As substâncias produzidas são drenadas para os ductos intercalares que começam
dentro do próprio ácino. As células do ducto que estão localizadas dentro do ácino chamam-se
centroacinares e coram de forma muito clara comparando com as restantes células. As células
dos ácinos têm o citoplasma basal basófilo e o citoplasma apical acidófilo devido à presença de
grânulos de zimogénio.
As células serosas produzem os precursores das enzimas digestivas que só são
activados quando chegam ao lúmen do duodeno.

Sistema Excretor

Ductos inter-
Ductos lobulares Ducto
Intercalares Ductos intra- pancreático
(Epitélio lobulares (Epitélio principal ou
simples cúbico) simples acessório
cilíndrico)

Os ductos intercalares são revestidos por epitélio simples cúbico baixo que se torna
cilíndrico simples nos ductos de maior diâmetro.
As células que revestem os ductos intercalares secretam grandes quantidades de
fluido rico em sódio e bicarbonato que tem como função neutralizar a acidez do quimo e
estabelecer o pH óptimo para a actuação das enzimas pancreáticas.

Regulação
A regulação das secreções exócrinas do pâncreas é feita por duas hormonas: a
secretina (estimula e secreção de grandes quantidades de fluido com elevada concentração de
bicarbonato) e CCK, cholecystokinin (estimula a secreção de pró-enzimas).

134
SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório pode ser divido, funcionalmente, numa porção condutora


(fossas nasais, nasofaringe, laringe, traqueia e brônquios principais) e numa porção
respiratória (bronquíolos respiratórios, canais e sacos alveolares e alvéolos).
Anatomicamente, pode ser divido em vias respiratórias superiores (estruturas até á
nasofaringe) e em vias respiratórias inferiores.
A maioria da superfície das vias respiratórias é coberta por epitélio
pseudoestratificado cilíndrico ciliado.

Fossas Nasais
As fossas nasais estão divididas em 3 porções: o vestíbulo, a porção respiratória e a
área olfactiva.

Vestíbulo
Constituído pela parte exterior do nariz, estando coberto por um epitélio estratificado
pavimentoso em continuação com a pele. Possui vibrissas (pêlos) que impedem a passagem de
partículas bem como glândulas sebáceas.

Porção respiratória
Está coberta por uma mucosa respiratória cujo epitélio é pseudoestratificado
cilíndrico e possui cinco tipos de células: células ciliadas, caliciformes, em escova, de
Kutchitsky (neuro-endócrinas) e basais (ver traqueia). A lâmina própria é constituída por
tecido conjuntivo que adere ao periósteo o pericôndrio e possui células mucosas com
crescentes serosos e um rico pleno venosos superficial cuja função é o aquecimento do ar.
Os cornetos nasais desta porção das fossas nasais têm como função aumentar a área
de contacto com o ar e aumentar a turbulência deste, o que torna o seu aquecimento,
humidificação e remoção de poeiras mais eficazes.

Área olfactiva
A mucosa olfactiva apresenta, in vivo, uma coloração amarelada. É constituída por um
epitélio olfactivo pseudiestratificado e sem células caliciformes.

135
Células presentes no epitélio:
Neurónios olfactivos Bipolares
Região apical – desenvolve uma terminação bulbosa e
possui cílios num plano paralelo ao do epitélio
Região basal – origina um axónio amielinizado que se
junta a outros para formar, na lâmina própria, os feixes
nervosos que originam o nervo olfactivo

Células de sustentação São as mais numerosas


Núcleo mais apical do que as restantes células (permite
a sua distinção)
Microvilosidades na membrana apical
Grânulos de lipofuscina
Junções de adesão entre elas e os neurónios olfactivos
Função: suporte metabólico e físico

Células em escova Cilíndricas


Microvilosidades numerosas
Domínio basal em contacto (sinapsam) com as fibras
nervosas no trigémio – são células com funções
sensitivas

Células basais ou células- Pequenas e arredondadas


tronco Situadas perto da lâmina basal

Os sinais químicos (odorantes) ligam-se selectivamente a OBPs (odorant-binding


protein) localizados na membrana olfactiva. Os OBPs são proteínas solúveis produzidas pelas
células de suporte que funcionam como proteínas transportadoras dos odorantes até a
receptores olfactivos situados nas membranas dos cílios. Estes receptores pertencem à família
dos receptores associados à proteína G. Gera-se então um potencial de acção por fluxo de Na+
e Ca2+.
A lâmina própria do epitélio possui vasos sanguíneos e linfáticos, nervos amielinizados
e mielinizados.

136
Glândulas olfactivas de Bowman
São glândulas características da mucosa olfactiva. São tubulo-alveolares ramificadas,
os ductos são compostos por células cuboides e produzem uma secreção serosa que permite a
solubilização dos odorantes.

A identificação histológica da mucosa olfactiva é feita pela presença, na lâmina


própria, de neurónios olfactivos amielinizados associados a glândulas olfactivas.

Faringe
A faringe faz a comunicação da cavidade nasal com a laringe e da cavidade oral com o
esófago. Pode ser dividida em naosfaringe, orofaringe e laringo-faringe.
A nasofaringe tem um epitélio pseudoestratificado ciliado com células caliciformes,
possui tecido linfóide difuso e folículos linfáticos que constituem a amígdala faríngea.

Laringe
Porção tubular do sistema respiratório constituído por placas irregulares de cartilagens
hialinas e elásticas (epiglote e processos vocais das cartilagens aritenoideias). O epitélio da
laringe é estratificado pavimentoso nas cordas vocais e epiglote, tendo como função proteger
estas estruturas da abrasão provocada pelo ar. Abaixo do epitélio encontra-se o espaço de
Reinke (tecido conjuntivo denso irregular pouco vascularizado e sem vasos sanguíneos). O
resto da laringe tem epitélio pseudoestratificado cilíndrico e glândulas mistas.

Traqueia
A traqueia é um tubo curto e flexível que serve simultaneamente para a condução e
condicionamento do ar. Divide-se, no tórax, nos dois brônquios principais. O lúmen não
colapsa devido à presença de anéis cartilaginosos.
É constituída por 4 camadas: mucosa, submucosa, cartilagínea e adventícia.
Posteriormente, onde não existe cartilagem, possui uma camada de músculo liso (músculo
traqueal).

137
Mucosa
O epitélio é pseudoestratificado cilíndrico ciliado e é constituído por 5 tipos de
células:
Células ciliadas São as mais numerosas
Estendem-se por toda a espessura do epitélio
Imediatamente abaixo dos cílios, existe uma linha
eosinófila que corresponde aos corpos basais
Os cílios permitem o movimento do muco e a remoção de
partículas
Células mucosas Espalhadas entre as ciliadas
Possuem grânulos mucinogénicos
Células em escova Semelhantes às das fossas nasais
Células de Kulchitsky Células neuro-endócrinas
Visíveis com impregnação de prata
Grânulos com catecolamina, serotonina e calcitonina
Células basais
ou células-tronco

Lâmina própria. É constituída por tecido conjuntivo laxo com linfócitos, mastócitos,
eosinófilos, fibroblastos e tecido linfóide. A membrana basal tem uma aparência homogénea e
pálida, é constituída por fibras de colagénio situadas imediatamente abaixo da lâmina basal e
está espessada nos fumadores.

Submucosa
Está separada da mucosa por uma membrana elástica que não é visível em H&E. É
constituída por tecido conjuntivo laxo e possui tecido linfóide difuso e folículos linfáticos, vasos
sanguíneos e ácinos mucosos com crescentes serosos. Os ductos destas glândulas têm um
epitélio simples cubóide e atravessam a lâmina própria, libertando os seus produtos
(glicoproteínas, principalmente) na superfície epitelial. São mais numerosas na porção
posterior da traqueia.

138
Cartilagens
São anéis incompletos de cartilagem hialina em forma de C que permitem a
flexibilidade e permeabilidade da traqueia. Em idades avançadas podem ser parcialmente
substituídas por tecido ósseo.

Adventícia
Camada mais externa que cobre o músculo traqueal e as cartilagens.

Brônquios
Podem ser divididos em brônquios principais ou primários, lobares ou secundários e
segmentares ou terciários.
Têm 5 camadas:
Mucosa Epitélio pseudoestratificado cilíndrico
Composição semelhante à da traqueia
A membrana basal e a lâmina própria vão diminuindo de espessura
Muscular Camada circular de músculo liso
Nos brônquios maiores, a camada é contínua. Nos mais pequenos,
pode parecer descontínua devido ao seu arranjo em espiral
A sua contração regula o volume de ar
Submucosa Tecido conjuntivo laxo
Adipócitos e glândulas nos brônquios maiores
Cartilagem Placas irregulares em volta dos brônquios
Desaparecem nos brônquios com 1mm de diâmetro
Adventícia

Bronquíolos

Bronquíolos Bronquíolos
Bronquíolos terminais
(< 1mm) respiratórios

139
Os bronquíolos maiores têm epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado que vai
sendo substituído por epitélio simples cilíndrico à medida que o diâmetro diminui. As células
caliciformes vão desaparecendo e podem possuir um camada de músculo liso.

Bronquíolos terminais
O epitélio é simples cubóide. Possuem células de Clara, células ciliadas, uma camada
de tecido conjuntivo à volta do epitélio e uma camada muscular.
As células de Clara são células cilíndricas não-ciliadas com uma projeção apical
arredondada. Secretam uma proteína (CC16) cuja deficiência está associada a asma e doença
pulmonar obstrutiva crónica. Vão-se tornando mais numerosas à medida que o número de
células ciliadas vai diminuindo, ou seja, à medida que o diâmetro dos bronquíolos se torna
menor.

Bronquíolos respiratórios
O epitélio é simples cubóide e tem uma dupla função: condução e trocas gasosas.
Estes bronquíolos terminam em dilatações: os alvéolos.

Alvéolos
A principal função dos alvéolos é permitir as trocas gasosas, estando rodeados por
uma densa rede de capilares. Possuem uma área de cerca de 75m2.
Os canais alveolares têm uma forma alongada e possuem numerosos alvéolos que se
abrem ao longo das suas paredes. Os sacos alveolares são dilatações dos canais alveolares que
se abrem por sua vez em diversos alvéolos.

Parede alveolar
Constituída por um epitélio e por um tecido de suporte.
O epitélio possui células em escova (escassas) e dois tipos de pneumócitos:

Pneumócitos I 40% dos pneumócitos


Células pavimentosas que cobrem 95% da superfície alveolar
Unidos por junções de oclusão (barreira)
Não se dividem

140
Pneumócitos II 60%
Células cuboides que cobrem 5% da superfície alveolar
Secretam o surfactante
Citoplasma apical eosinófilo com grânulos que formam os
corpos lamelares
Células progenitoras do tipo I (possuem capacidade de
divisão)
Localizadas na união das paredes alveolares

O surfactante é constituído por fosfolípidos (o mais importante é o dipalmitoil


fosfatidilcolina), lípidos neutros e proteínas que se encontram nos corpos lamelares. Reduz a
tensão da interface ar-epitélio, impedindo o colapso dos alvéolos entre cada respiração. A sua
síntese ocorre após a 35ª semana de gestação e é modulada por várias hormonas (cortisol,
insulina,  prolactina…).
Possui ainda algumas proteínas hidrofóbicas como:
Proteína surfactante A A mais abundante
(SP-A) Regula a síntese e secreção de surfactante
Modula as respostas imunitárias
SP-B Adsorção e distribuição do surfactante
SP-C Orientação do dipalmitoil fosfatidilcolina
SP-D Liga-se a microrganismos e a linfócitos

O tecido de suporte dos alvéolos possui fibras reticulares, colagénio elastina e


fibroblastos. Envolve os vasos sanguíneos.

Macrófagos alveolares
Estão presentes nos septos alveolares e no espaço dentro dos alvéolos. Têm como
função a remoção de poeiras e microrganismos – pertencem ao sistema fagocítico
mononuclear (derivados de monócitos sanguíneos). Fagocitam ainda células sanguíneas em
caso de falência cardíaca, apresentado uma pigmentação acastanhada (outras consequências
de falência cardíaca incluem edema e hemorragias alveolares).
Após a fagocitose, a maioria migra para as vias aéreas e é removida pelo movimento
dos cílios e do muco. Outros são sequestrados pelos septos o que explica a cor negra
(pigmento antracótico) do parênquima pulmonar de pessoas em contacto constante com ar
contaminado.

141
Vasos sanguíneos e septo alveolar
A interface de espessura mínima entre o lúmen de um capilar e de um alvéolo é
formada por uma fina camada de surfactante, uma pneumócito tipo I e uma células
endotelial bem como as respectivas lâminas basais, que se encontram normalmente
fundidas.
A barreira tem duas porções: uma fina onde ocorrem as trocas gasosas e cuja
constituição é a mencionada anteriormente e uma espessa onde se acumulam os fluidos que
são drenados pelos vasos presentes nos bronquíolos terminais.
O septo alveolar pode ter poros alveolares de Kohn que permitem a circulação
colateral de ar entre os alvéolos em casos de obstrução de um bronquíolo.

Segmentação intra-pulmonar
Podem ser definidas duas estruturas:
Lóbulo alveolar – constituído por um bronquíolo terminal e pelo tecido
pulmonar associado; inclui bronquíolos respiratórios, canais e sacos alveolares
e os alvéolos.
Ácino pulmonar – porção do pulmão suprida por um bronquíolo respiratório.

142
PADRÕES CITOQUÍMICOS

Corantes: substâncias com a propriedade de associar selectivamente uma cor a elementos


celulares

Padrões citoquímicos: modelos nos quais a um corante se faz corresponder a coloração de


determinados elementos celulares.

Hemalúmen-Eosina
A hematoxilina é um corante indirecto, de acção progressiva, associado a um
mordente, o alúmen de potassio. Desta associação resulta uma laca, o hemalúmen.
Comportam-se como um corante básico e cora estruturas carregadas negativamente (ácidas)
de azul-arroxeado (ex: DNA, RNA).
Cora: o núcleo, o retículo endoplasmático rugoso e ribossomas (devido à elevada
concentração em DNA e RNA, respectivamente), organelos que apresentam basofilia.

A eosina é um corante directo mas de acção igualmente progressiva. Comporta-se


como um corante ácido e cora estruturas carregadas positivamente (básicas) de vermelho ou
rosa (ex: maioria das proteínas citoplasmáticas e algumas fibras da matriz extracelular)

Em termos gerais, a aplicação do hemalúmen-eosina em células animais cora os


núcleos de azul e o citoplasma de rosa ou vermelho.

Azul de Toluidina
É um corante básico que cora moléculas carregadas negativamente como os
glicosaminoglicanos de vermelho-púrpura.
Em alguns casos produz uma coloração distinta da sua própria cor (metacromasia).
Destacam-se metacromasias ao nível das granulações dos mastócitos existentes no tecido
conjuntivo do eixo das vilosidades intestinais e nos grânulos de secreção das células
caliciformes.
Os núcleos são corados duma forma ortocromática, ou seja, num azul transmitido pelo
próprio grupo cromóforo do corante.

143
Azul ciano
É um corante da mucina (composto pertencente a um grupo de glicoproteínas que são
as principais constituintes do muco). Certos tipos de mucina, mas não todos, são corados de
azul por este método (ex:cartilagem).
Pode ser usado em conjugação com outros métodos de coloração como H&E ou van
Gieson. Quando esta técnica é combinada com a de van Gieson, a cor deste corante torna-se
verde.

Ácido Periódico-Schiff (PAS)


O ácido periódico é um agente oxidante que quebra as ligações C-C dos grupos
1,2glicol, transformando-os em di-aldeídos. Os aldeídos resultantes podem assim combinar-se
com o reagente de Schiff.
Todas as substâncias que contêm estes grupos 1,2glicol, são PAS-positivas:
polissacáridos (glicogénio, amido, celulose) e glicoconjugados (glicolípidos, glicoproteínas e
glícidos fosforilados).
Estruturas PAS-positivas: prato estriado com o seu glicocálix, células caliciformes
devido à existência de mucina e a membrana basal pela presença da laminina.

Feulgen
É uma técnica específica para o DNA que cora de roxo mais ou menos intenso,
consoante o estado de condensação da cromatina.
A coloração pelo reagente de Schiff requer uma hidrólise moderada do DNA com ácido
clorídrico (expondo grupos aldeído livres nas moléculas de desoxiribose).
Os grupos aldeído dos ácidos nucleicos, combinam-se então com o reagente de Schiff
(composto por fucsina e ácido sulfuroso), originando-se uma côr púrpura arroxeada nos locais
onde existe DNA.

Verde de Metilo-Pironina
Par de corantes de acção directa e progressiva, que apresentam uma grande afinidade
para os ácidos nucleicos. O verde de metilo é um corante básico, que apresenta especificidade
para o DNA. A pironina também é um corante básico, mas que cora o RNA de vermelho.

144
Assim, os núcleos das células coram de roxo (verde + vermelho), enquanto o
citoplasma cora de vermelho.
Células com um grande conteúdo citoplasmático em RNA, como os plasmócitos
situados no eixo conjuntivo das vilosidades e as células epiteliais das criptas de Lieberkuhn, são
intensamente coradas pela pironina

Tricrómios
É uma mistura de 3 corantes. Esta técnica é uma das chamadas técnicas para o tecido
conjuntivo, já que é usada para demonstrar elementos do tecido de sustentação,
principalmente colagénio.
Existem dois grupos:
Van Gieson: cora colagénio de vermelho
Masson/Mallony/Cajal: coram colagénio de verde/azul

Tricrómio de masson
Azul: núcleos e outras estruturas basófilas
Verde/azul (dependendo de qual das variantes da técnica for utilizada): colagénio
Vermelho brilhante: citoplasma, músculo, eritrócitos, ceratina.

Van Gieson
Vermelho: colagénio
Azul: núcleos
Amarelo: eritrócitos e citoplasma

Quando usado em combinação com um corante para fibras elásticas (Weigert), a


elastina cora de azul/preto, para além dos resultados acima descritos. Essa técnica de
coloração é particularmente útil para vasos sanguíneos e pele.

Azan
Método para tecido conjuntivo, mas excelente para demonstração de detalhes
citológicos finos, especialmente no epitélio: os núcleos coram de vermelhor, o colagénio e as
membranas de azul e os músculos e eritrócitos de laranja/vermelho.

145
Giemsa
Método padrão para corar células sanguíneas e outros esfregaços de células. Os
núcleos coram de azul-escuro/violeta, o citoplasma de azul pálido e os eritrócitos de rosa
pálido.

Hematoxilina férrica
É a principal substância utilizada no método de Bharadway-Love. É um corante
indirecto, que recorre ao alúmen de ferro amoniacal em solução aquosa como mordente.
De acção regressiva, tem grande afinidade para proteínas, corando com maior
intensidade as mitocôndrias (cor negra).
Num procedimento de elevada diferenciação, destaca sobretudo lipoproteínas.

Método de Nissl e do azul de metileno


Utilizam a substância de Nissl para corar o retículo endoplasmático rugoso encontrado
nos neurónios.

Preto do Sudão e Tetróxido de ósmio


Evidenciam estruturas contendo lípidos, como a mielina, numa cor preto acastanhado.

Sais de prata
Este método demonstra as fibras de reticulina do tecido de sustentação, que se coram
de azul/preto por esta técnica. Os núcleos podem ser contra-corados em azul pela
hematoxilina ou em vermelho pelo corante vermelho neutro.

Métodos da prata e do ouro


Hoje em dia são ocasionalmente usados para demonstrar estruturas finas como
prolongamentos celulares, como nos neurónios, placas motoras terminais e junções
intercelulares. Dependendo do método utilizado, o produto final é preto, avermelhado ou
dourado.

146
Técnicas imuno-histoquímicas
Permitem identificar qualquer substância (antigénio), desde que haja anticorpos
disponíveis contra a mesma. Os anticorpos são produzidos através da injecção da substância
humana que se pretende distinguir noutro animal. Esse animal reconhece-a como estranha e
começa a produzir anticorpos contra o antigénio. Desse modo pode ser criada uma fonte
inextinguível, usando-se a tecnologia monoclonal.

Coloca-se um corte de tecido numa lâmina de vidro e uma solução de anticorpos é


colocada sobre a preparação. O anticorpo fixa-se ao antigénio e o excesso de anticorpos é
lavado, de modo que apenas as células que têm o antigénio têm o anticorpo fixado a si.

Para demonstrar a posição do anticorpo na célula existem vários métodos:


Método imunofluorescência: os anticorpos são previamente marcados com uma
substância fluorescente (fluoresceína) sendo identificado posteriormente com um microscópio
de fluorescência.
Método imunoperoxidase: os anticorpos são marcados com uma enzima, como a
peroxidase, que converte um substrato incolor num produto colorido.

Citoquímica de Enzimas
Caracteriza-se por uma identificação enzimática selectiva, recorrendo-se
habitualmente a cortes por congelação num crióstato para evitar a desnaturação proteica.

Fosfatase alcalina
A actividade da fosfatase alcalina apresenta-se associada a proteínas secretadas, sendo
ancorada no exterior da célula pelo glicocálix. Não existe, portanto, em lisossomas.
A sua concentração aumenta ao longo da vilosidade intestinal desde a sua porção
basal até à porção apical onde a coloração castanho/cinzento-escuro, mais intensa, denota um
papel na absorção intestinal.
Simultaneamente, demonstra a progressiva diferenciação que os enterócitos sofrem
no seu trajecto de migração da base para o topo das vilosidades.

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Fosfatase ácida
A actividade da fosfatase ácida apresenta-se predominantemente associada a enzimas
de degradação intracelular, embora possa encontrar-se associada ao glicocálix e, neste caso,
com marcação do prato estriado. Tal como acontece para a fosfatase alcalina, observa-se um
progressivo aumento da actividade fosfatase alcalina no prato estriado da base para o topo
das vilosidades.
Como esperado, o método determina a coloração dos lisossomas de castanho/laranja-
escuro.

148

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