Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Literatura
Potiguar
Curso de Especialização Literatura e Ensino
Literatura
Potiguar
Ficha técnica:
Unidade 1 05
Apresentando a unidade 05
1 momento inicial da produção literária no RN 06
2 Fundamentação teórica 09
3 A formação do sistema literário e os 13
tempos de transição
4 Atividade 20
5 Indicação de Leitura 21
Referências 23
Unidade 2 25
Apresentando a unidade 25
1 Fundamentação teórica 28
2 Atividade 37 37
3 Indicação de Leitura 38 38
Referências 23 40
Unidade 3 41
Apresentando a unidade 41
1 Fundamentação teórica 43
2 Atividade 51
3 Indicação de leitura 52
Referências 53
APRESENTANDO A UNIDADE
Objetivos de aprendizagem
5
1 MOMENTO INICIAL DA PRODUÇÃO LITERÁRIA NO RN
Impressa em forma de poemas,
Através do estudo das representações artigos, contos, crônicas, a
artístico-culturais do Rio Grande do Norte, literatura começa a existir no Rio
podemos identificar o momento, singular na Grande do Norte, de modo ainda
história da vida social e espiritual da cidade tímido, na segunda metade do século
do Natal, em que as manifestações literárias XIX. Conforme explica nosso mais
passam a figurar como integrantes do sistema importante historiador, tal
literário brasileiro (Humberto Hermenegildo de aconteceu num jornalzinho chamado O
Araújo). Recreio, que existia na capital e
circulou no ano de 1861. Foi o meio
A literatura brasileira tem início no impresso pioneiro a difundir, de
século XVI, a partir de manifestações modo sistemático, esse tipo de
isoladas, segundo propõe Antonio Candido manifestação cultural
(2007). Para ele, a “literatura propriamente
dita, [é] considerada aqui um sistema de obras
ligadas por denominadores comuns, que permitem Nessa época, destacam-se alguns nomes
reconhecer as notas dominantes de uma fase” importantes que se consolidaram na história
(CANDIDO, 1981, p. 31). Em nosso caso literária norte-rio-grandense como fundadores
particular, no Rio Grande do Norte, somente no de nossa produção literária. São eles: Segundo
século XIX é que as primeiras manifestações Wanderley, Nísia Floresta, Lourival Açucena,
surgirão, também de forma isolada, mas já Juvenal Antunes, Henrique Castriciano, Auta de
sinalizando para uma produção razoavelmente Souza e Ferreira Itajubá. Estes são os que mais
sistemática. Nesta primeira unidade, nossa se destacam. Do verso à prosa, esses autores
disciplina procura informar aos cursistas publicaram textos fundamentais para a
sobre o momento inicial da produção literária constituição de nosso cânone literário,
no Rio Grande do Norte. Para compreender esse confirmado pela inserção em várias antologias
momento de formação, esclarece-nos Gurgel e pela valiosa fortuna crítica da maioria
(2001, p. 32) que deles.
6
Entretanto, não se pode esquecer a principalmente da região do Vale do Açu. Sobre
produção literária oral, de caráter popular, ele, escreve Melo (apud CALDAS, 1984):
de poetas como Renato Caldas e Fabião das “Confessa que não saiu mais do Açu porque é
Queimadas, que, geralmente, são excluídos de como a carnaubeira: gosta do chão onde
nossas antologias, por considerarem como nasceu.” No que diz respeito a Fabião das
literária, apenas, a produção escrita. Em Queimadas, podemos afirmar que se tratava de
relação ao primeiro desses poetas, o autor de um legítimo poeta popular. Cantador, tocador
Fulô do Mato (1940), sabemos que era um de rabeca e bom improvisador, o poeta deve ser
admirador de Catulo da Paixão Cearense e reconhecido como o primeiro negro, descendente
escrevia versos que ficaram conhecidos como de escravos, que surge como representante das
“poesia matuta”, uma vez que constituíam manifestações literárias de caráter popular no
representações da vida interiorana, Rio Grande do Norte.
012/03/fabi25c325a3o.jpg?w=250&zoom=2.>>
0/cc3b3pia-de-dsc09719.jpg>>
7
Para esta disciplina, nossa abordagem específicos ou da relação que mantém com
histórico-crítica tem como referências outras.” Por isso, trataremos, não só nesta
principais os livros Informação da Literatura primeira unidade como também nas seguintes, do
Potiguar, de Tarcísio Gurgel, e Literatura do caráter específico que, com suas
Rio Grande do Norte – Antologia, de Constância singularidades, demarca o espaço e o tempo da
Lima Duarte e Diva Cunha de Macêdo. Essas literatura potiguar no âmbito do sistema
referências servirão de apoio à sistematização literário brasileiro.
do material didático de nossas aulas, para
que, com esse suporte, possamos ter um acesso
satisfatório ao conhecimento da produção
literária potiguar.
8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
considerando alguns traços de suas obras.
Com base na inter-relação que há entre
teoria, história e crítica literárias, Entretanto, essa divisão não impede que
busca-se delimitar um espaço de compreensão de compreendamos a nossa produção literária,
conceitos que permitam estabelecer um também, a partir da concepção de sistema
mapeamento do texto literário, concernente às literário, conforme a proposta teórica de
perspectivas de leitura. Para Bellodi e Candido (2007, p. 16), que afirma:
Gonçalves (2005, p. 27), “uma vez que, nos
estudos literários, Teoria, Crítica e História Entendo aqui por sistema a
tendem normalmente a uma interligação estrita, articulação dos elementos que
torna-se difícil trabalhar com a História da constituem a atividade literária
literatura como um campo independente, que regular: obras produzidas por autores
obedeceria apenas a postulados de natureza formando um conjunto virtual, e
diacrônica”. veículos que permitem o seu
relacionamento, definindo uma ‘vida
Para estudar a produção literária literária’: públicos, restritos ou
potiguar, escolhemos a seguinte divisão amplos, capazes de ler ou ouvir as
histórica, com base em períodos, estabelecida obras, permitindo com isso que elas
por Duarte e Macêdo (2001): o de formação, de circulem e atuem; tradição, que é o
transição, o modernista e o que corresponde às reconhecimento de obras e autores
vertentes contemporâneas. Então, ao optarmos precedentes, funcionando como exemplo
por essa divisão — que pretende desenhar um ou justificativa daquilo que se quer
quadro representativo da literatura fazer, mesmo que seja para rejeitar.
norte-rio-grandense — entendemos que tais
etapas não se reduzem a uma mera descrição de Essa concepção norteia os projetos
períodos dispostos ao longo do tempo. É, sim, críticos e históricos dos autores que já
uma tentativa de apresentar os autores que mencionamos, tanto Gurgel (2001) quanto Duarte
produziram em cada um desses momentos, e Macêdo (2001), que, à sua maneira,
9
desenvolvem suas propostas de reconstituição e
compreensão da produção literária potiguar.
É preciso, inicialmente, considerar a
“Na virada do século XIX e nos dois
Quadro 1: Períodos da história literária do RN
decênios iniciais do XX, o comportamento
das elites natalenses registra mudanças,
maneiras novas e corajosas de ver as
coisas, que iam de um novo conceito
político – a República – ao incremento de
diferentes formas de pensar a questão
literária, a ciência e o urbanismo.”
10
alguma forma, reúne material que pode ser
reconhecido como uma breve constituição de
nossas crítica e história literárias. Durante
o ano de 1889, Marinho empenha-se em efetivar
o registro do que se produz como literatura,
filtrando esse material com seu olhar
criterioso. Cavalcanti (2008, p. 36), em seu
discurso de posse na Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras, afiança:
“Antônio Marinho foi o maior crítico
norte-rio-grandense e a mais vigorosa
organização de pensador que jamais possuímos”.
Antônio Marinho ficou bastante conhecido como
Figura 5: Natal antiga vista da Ribeira
Fonte: tribuna do norte, 2021. um crítico polêmico, responsável, inclusive,
por questionar a obra poética e teatral de
Segundo Wanderley, quando este era,
Em se tratando do período de formação, incontestavelmente, o poeta mais prestigiado
pode-se dizer que as chamadas primeiras da cidade de Natal.
manifestações literárias em terras potiguares,
como enfatiza, de uma maneira geral, a crítica, Entretanto, há ainda a opinião de que
aparecem em forma de contribuição por Henrique Castriciano (1873-1947) teria sido o
intermédio de publicações jornalísticas, com a “primeiro a tentar sistematizar a literatura
colaboração permanente de escritores nos norte-rio-grandense” (DUARTE; MACÊDO, 2001, p.
veículos principais da imprensa local. Dessa 26). Tal tentativa teria surgido através da
forma, destaca-se como significativa a publicação de uma série de nove crônicas
atividade crítico-literária de Antônio Marinho intitulada Lourival e seu tempo, em que
(1878-1902), ao colaborar, com certa Henrique Castriciano aborda a vida e a obra do
frequência, na revista A Tribuna, onde, de poeta Lourival Açucena. Na verdade, o que vem
11
a ser, de fato, uma referência pertinente a A despeito da relevância dessa opinião,
esse esforço de sistematização acontece com é importante salientar que, no geral, a
Alma Patrícia, obra crítica fundamental de contribuição, em épocas diferentes, de
Câmara Cascudo. Infelizmente, a anunciada Antônio Marinho, Henrique Castriciano, Câmara
História da Literatura do Rio Grande do Norte Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo e Veríssimo
ficou apenas como uma promessa de nosso mais de Melo constituem referências relevantes
importante escritor, uma vez que esse projeto para a construção de uma historiografia
não se realizou. literária local, a partir de seus primeiros
ensaios críticos.
Contudo, segundo a opinião expressa por
Cirne (apud FERNANDES, 1976) na apresentação ***
do livro Por uma vanguarda nordestina, de
Anchieta Fernandes, somente na década de 60 do Apresentaremos agora um breve painel que
século XX é que surgem algumas contribuições possa expor, contextualmente, os autores e as
que podem ser aceitas como crítica literária. obras que têm a devida importância para o
Antes disso, o que havia não passava de mera momento de formação da literatura
crônica literária, resultado de vagas norte-rio-grandense. Aqui, selecionamos
impressões daqueles que colaboravam na esfera alguns desses escritores, apontando certos
jornalística local do início do século elementos literários e extraliterários
passado. Cirne considera que uma crítica necessários à caracterização dessas obras,
literária pautada pelo rigor universitário e situando-as no tempo.
apoiada em formação teórica só vai acontecer,
na década a que nos referimos anteriormente,
com a contribuição de poetas e pesquisadores
interessados ou vinculados à poesia concreta
(o grupo Dés) e ao poema processo.
12
3 A FORMAÇÃO DO SISTEMA LITERÁRIO E OS TEMPOS é publicado em 1927, por ocasião do centenário
DE TRANSIÇÃO do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte. A propósito, é interessante
De uma maneira geral, considera-se que observar que, justamente nesse ano, há o
Lourival Açucena (1827-1907) foi o primeiro lançamento do Livro de Poemas, de Jorge
poeta do Rio Grande do Norte. Melo (1972, p. Fernandes, marco do Modernismo
30, grifo nosso), contextualizando o poeta e a norte-rio-grandense.
cidade, revela-nos que
Graças a Câmara Cascudo, o poeta Lourival
Lourival Açucena, o primeiro poeta Açucena tem sua obra reunida em um volume
norte-rio-grandense, encarna uma intitulado Versos, cujos poemas não obedeciam
época de Natal antiga, em pleno século a uma unidade de estilo ou de escola,
XIX. Pequena cidade de Província, de podendo-se observar traços do modelo árcade,
gente ordeira e cristãmente pobre, além da marca comum do romantismo e de uma
Natal não tinha indústria. Acanhado, certa herança clássica. Sua produção poética
era o seu comércio. A elite dominante não desprezou as manifestações populares,
dos políticos (fazendeiros, encontrando-se em sua obra exemplos de algumas
agricultores, comerciantes) e quadras e de uma vertente satírica que se deve,
funcionários públicos constituíam a naturalmente, a uma influência significativa
sociedade do tempo. da cultura popular.
13
do famoso poema Elogio da Preguiça, que tem
sido incluído na maior parte das antologias de
literatura potiguar.
<<http://www.cascudo.org.br/noti
Câmara Cascudo, disponpivel em:
valer o mundo inteiro”. Porém, como apurado
cia/ver/163>>
aliunde feita por nós e consoante a qual o
ponto culminante da poesia juvenalesca seriam
os seus trenos de amor, muito embora a fama do
poeta se baseie, sobretudo, nas composições de
humorismo e sarcasmo” (SIQUEIRA, 2008, p. 53). Figura 6: Câmara Cascudo
14
Ao chegar à capital provinciana, torna-se a
figura mais requisitada e prestigiada nos
eventos culturais, como diz Gurgel (2001, p.
[...] no ensaio
39), “o centro das atenções literárias”.
citado, de A
Nessa agitação em torno da obra de Segundo
República, que
Wanderley, há uma enorme repercussão de,
circulou em 31 de
pelo menos, dois poemas do autor, O Naufrágio
dezembro de 1892,
do Vapor Baía e O Poeta e a Fidalga. Ainda
Castriciano, como
quanto à recepção de sua obra, Cascudo
vimos, chegara a
caracteriza Segundo Wanderley como “o nosso
ponderar: se o autor
condoreiro fora de tempo” (CASCUDO, 1998, p.
de ‘O naufrágio do
72), o que implica uma relação de
vapor Bahia’
deslocamento temporal entre os versos do
evoluísse para novas
poeta, de fatura condoreira, e o momento em
formas poéticas,
que ele produz sua obra.
poderia se tornar um
dos maiores líricos
O historiador enfatiza que, quando o
do país. A observação
autor de Recoltas Poéticas chegou à Bahia, o
diz respeito à
romântico Castro Alves já havia falecido e o
atitude inamovível do
condoreirismo já não tinha mais tanta força.
poeta criticado, que
Ao se referir a um texto publicado por
se revelava
Henrique Castriciano, Gurgel (2009, p. 166)
resistente a todo e
afirma que:
qualquer outro verso
que não fosse
romântico, mais que
isso: condoreiro.
15
Em 1910, após sua morte, são publicadas suas a obra de Segundo Wanderley, assim como sua
Poesias Completas, obra prefaciada por Gotardo atuação como responsável pela publicação do
Neto. livro Terra Natal, de Ferreira Itajubá, pela
divulgação em nível nacional do Horto, de Auta
Agora, passemos a explicitação do lugar de Souza e pela valorização da escritora Nísia
ocupado por Henrique Castriciano, no contexto Floresta. Em sua vida pública, atuou como
da literatura potiguar, nesse período de procurador geral, secretário de governo,
formação. Cascudo (2008, p. 46) afirma: deputado constituinte, vice-governador e ainda
como presidente do Congresso Legislativo do
Foi o primeiro escritor, literato, Estado. Sua obra poética é composta pelas
poeta, que conheci e com quem mais seguintes publicações: Iriações (1892), Ruínas
longamente privei. Tinha para ele, na (1898), Mãe (1899) e Vibrações (1903).
minha mocidade indagadora, o Henrique Castriciano era irmão da poeta Auta de
exercício da pesquisa letrada. Era Souza e do jornalista e político Eloy de Souza.
homem que viajara, lera, vivera, Vamos, então, conhecer, de forma breve, alguns
fundamentalmente diferente dos outros poetas representativos das fases de formação e
homens na cidade do Natal. Ninguém de transição da literatura potiguar.
mais poderia interessar-se pelos meus
trabalhos de rapaz atrevido, Figura 7: Auta de Souza e Horto
disputando canto no poleiro literário
da província.
16
Uma das vozes mais importantes da poesia CAMINHO DO SERTÃO
potiguar, Auta de Souza (1876-1901) publicou
um único livro, Horto, considerado pela A meu irmão João Câncio
crítica como um exercício poético que transita Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
entre o romantismo e o simbolismo. Mas, Vê-la através da mata. Nos caminhos
conforme estudo de Humberto Hermenegildo, a A sombra desce; e, sem achar descanso,
poeta macaibense deve ser lida como uma das Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
representantes do pós-romantismo na literatura
potiguar. Duarte e Macêdo (2001, p. 131) É noite já. Como em feliz remanso,
escrevem sobre a sua poesia que: “A veia Dormem as aves nos pequenos ninhos...
mística que os críticos costumam apontar na Vamos mais devagar... de manso e manso,
obra de Auta pode ser compreendida como uma Para não assustar os passarinhos.
busca de consolo e conformação, a revelar a
dolorosa tensão de um eu-lírico que anseia pela Brilham estrelas. Todo o céu parece
vida e se vê inevitavelmente arrastado para a Rezar de joelhos a chorosa prece
morte”. Que a noite ensina ao desespero e à dor...
Entretanto, além dessa sua feição
mística, a poeta enveredou pela abordagem de Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
outros temas. Dessa maneira, podemos ler o Turíbulo imenso para Deus eleva
soneto transcrito abaixo como um exemplo de uma O incenso agreste da jurema em flor.
lírica das mais bem sucedidas no trabalho fino
e minucioso da real expressão poética (SOUZA, 2009, p. 98)
norte-rio-grandense:
17
Em relação a Ferreira Itajubá
(1876-1912), que podemos denominar de mais um
<<http://4.bp.blogspot.com/-hTBM3ej-wc8/Tb
jPzNuOD4I/AAAAAAAAB8g/g4x5K2V5Dcw/s1600/Pa
romântico tardio em nossa história literária,
lmyra+Wanderley-Letras-in.verso.jpg.>>
seus livros são publicações póstumas.
Primeiramente, Terra Natal foi editado em
1914, e somente em 1927, publicou-se o volume
Poesias Completas, resultado do interesse de
Henrique Castriciano, que procurou reunir os
versos ainda inéditos, com os poemas já
editados anteriormente. A crítica costuma
ressaltar a figura do boêmio, afeito a serestas
nas noites enluaradas da província natalense,
sendo compreendido, algumas vezes, como um
poeta de viés popular. No entanto, Itajubá
revela-se um excelente sonetista, empreendendo Figura 8: Pamyra Wanderley
uma das obras líricas mais relevantes
produzidas em terras potiguares. Vejamos o que
diz Gomes (2008, p. 53): “Sabendo-se o quanto A respeito de Palmyra Wanderley
era inculto é que se avalia o seu poder (1894-1978), é interessante contemplar o que
sugestivo, a facilidade com que fazia um verso, diz Gurgel (2001, p. 52): “Poeta nitidamente de
a força com que sabia transmitir a Poesia, que transição, Palmyra usou sem reservas, do verso
jorrava dele como a água das fontes de livre e, embora nela estejam presentes sinais
improviso”. Mas esse poeta inculto, como de um romantismo retardatário – certamente
costuma afirmar a maioria da crítica ao mais próximos da poesia de Ferreira Itajubá, do
comentar seus versos, permanece na história que da do tio famoso – sua opção pelo novo é
como o patrono da cadeira número 19 da Academia clara”. Com efeito, em Palmyra, esse é um
Norte-rio-grandense de Letras. aspecto curioso a ser levado em consideração:
18
o fato de se colocar entre o que chamamos de linguagens, estruturada a partir de elementos
fase de transição e a modernidade, uma vez que da cultura local, permite que surja, em terras
sua obra oscila, em suas marcas estilísticas potiguares, uma literatura cujos valores são
mais visíveis, entre uma produção poética que peculiares aos traços dessa cultura e que se
evoca imagens românticas e algumas liberdades colocam como registros importantes para o
legadas pelas conquistas estéticas do conjunto da literatura brasileira.
modernismo. De Esmeraldas (1918) a Roseira
Brava (1929), seus dois livros de poesia,
opera-se, de forma manifesta, essa
ambivalência. É importante mencionar que a
poeta Palmyra foi uma das fundadoras da
Academia Norte-rio-grandense de Letras e que
Roseira Brava recebeu menção honrosa da
Academia Brasileira de Letras. Silveira (apud
ARAÚJO; PALHANO, 2017, p. 34). registra que a
poeta foi também jornalista, educadora,
religiosa e musicista, o que demonstra sua
ampla contribuição para a cultura potiguar.
Com base no estabelecimento da formação da
literatura norte-rio-grandense, pudemos
observar, nesta primeira unidade, que, entre
as primeiras manifestações e a fixação de um
cânone da história literária potiguar, temos
uma produção literária de fato. Tal produção
dá-se na dimensão de uma temporalidade tardia,
com retomadas de estilos de época da produção
literária nacional. Ainda assim, é possível
verificar como a diversidade de visões e de
19
4 ATIVIDADE
20
5 INDICAÇÃO DE LEITURA
5.1 Obrigatória
ALVES, A. Poesia submersa: poetas e poemas no RN:
1900-1950. Mossoró: Queima-Bucha, 2014.
ARAÚJO, H. H. Leituras sobre Câmara Cascudo. João
Pessoa: Ideia, 2006.
ARAÚJO, H. H. Pós-românticos no Rio Grande do Norte.
In: SILVA, L.; JOSELITA, B.; SILVA, F. I. Múltipla
palavra: ensaios de literatura. João Pessoa: Ideia,
2004, p. 94-104.
CANDIDO, A. Formação da Literatura Brasileira:
momentos decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.
CASCUDO, C. Alma Patrícia. 2. ed. Natal: Fundação José
Augusto, 1998.
DUARTE, C. L.; MACÊDO, D. C. L. Literatura do Rio
Grande do Norte. 2. ed. Natal: Fundação José Augusto,
2001. (Antologia).
Unidade 1
Leituras
21
6.2 Complementar
22
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, H. H. Leituras sobre Câmara Cascudo. João
Pessoa: Ideia, 2006.
ARAÚJO, H. H.; PALHANO, J. M. P. Palmyra Wanderley
entre trinta botões de uma roseira brava: estudo
crítico e seleção de poemas. Natal: EDUFRN, 2017.
BELLODI, Z. C.; GONÇALVES, M. T. Teoria da Literatura
“revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005.
CALDAS, R. Fulô do Mato. 6. ed. Natal: Clima, 1984.
CANDIDO, A. Iniciação à literatura brasileira. 5. ed.
Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2007.
CANDIDO, A. Formação da Literatura Brasileira:
Momentos decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
CASCUDO, C. História da Cidade do Natal. 4. ed.
Natal: EDUFRN, 2010.
CASCUDO, C. Nosso amigo Castriciano. Natal: EDUFRN,
2008.
CASCUDO, C. Alma Patrícia. 2. ed. Natal: Fundação
José Augusto, 1998.
CAVALCANTI, F. Antônio Marinho: esboço biográfico e
crítico. Natal: EDUFRN, 2008.
DUARTE, C. L.; MACÊDO, D. C. L. Literatura do Rio
Grande do Norte. 2. ed. Natal: Fundação José Augusto,
2001. (Antologia).
FERNANDES, A. Por uma vanguarda nordestina. Natal:
Fundação José Augusto, 1976.
GOMES, J. B. Retrato de Ferreira Itajubá. 2. ed.
Natal: Editora da UFRN, 2008.
23
GONZAGA, T. Literatura afrodescendente no Rio Grande
do Norte: de Fabião das Queimadas a Edgar
Borges-Blackout. Natal: 8 Editora, 2021.
GURGEL, T. Belle Époque na esquina: o que se passou
na República das Letras potiguar. Natal: Editora do
Autor, 2009.
GURGEL, T. Informação da Literatura Potiguar. Natal:
Argos, 2001.
MELO, V. Patronos e acadêmicos: academia
norte-rio-grandense de letras: antologia e biografia.
Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. 2 v.
SIQUEIRA, E. Um boêmio inolvidável. 2. ed. Natal:
Editora da UFRN, 2008.
SILVEIRA, M. G. B. Palmyra Wanderley, uma roseira nas
terras de Poty. In: ARAÚJO, H. H.; PALHANO, J. M. P.
Palmyra Wanderley entre trinta botões de uma roseira
brava: estudo crítico e seleção de poemas. Natal:
EDUFRN, 2017. p. 29-45.
SOUZA, A. Horto, outros poemas e ressonâncias. Natal:
Editora de UFRN, 2009. (Obras reunidas).
WANDERLEY, E. Poetas do Rio Grande do Norte. 2. ed.
Atualização e notas de Anchieta Fernandes. Natal:
Sebo Vermelho, 1993.
WANDERLEY, R. C. Panorama da poesia
norte-rio-grandense. Natal: Funcart, 2008.
24