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CONTEXTO HISTÓRICO

PENSAMENTO TEOLÓGICO
Introdução
O Cristianismo apostólico emergiu no I século AD como uma das facções do Judaísmo.1
Neste período a religiosidade judaica tornara-se destituída de sentido espiritual, por
terem feito das ordenanças do templo um fim em si mesmas. O sacerdócio por sua vez
corrompera-se pela “fraude, suborno e até pelo homicídio.”2 Contudo entre o povo
judeu percebia-se nesse período um movimento reavivalista da esperança messiânica.
Havia uma expectativa da vinda do Messias como um libertador da nação. Até mesmo
entre os gentios levantaram-se homens que, tendo acesso à Escritura, anunciaram o
Messias como o libertador do pecado.3
O Cristianismo primitivo surgiu como um movimento religioso com base no
cumprimento das profecias messiânicas. Havia um senso que a vinda do Messias estava
às portas e que chegara a plenitude do tempo (Gl 4:4), conforme previam as profecias de
Daniel 9:24-27.4 A liderança judaica, entretanto, se opôs à mensagem profética e
evangélica do Cristianismo e terminou por rejeitar o Messias, causando entre outros
motivos a separação entre o Judaísmo e o Cristianismo.5
Os primeiros cristãos e os judeus estavam identificados pela mesma origem étnica e
pela mesma fonte de revelação, o Antigo Testamento. A mensagem neotestamentária
fundamentava-se nas promessas da aliança e na ética dadas por Deus ao povo israelita
no decorrer de sua história. Após a ressurreição de Jesus, entretanto, os cristãos
passaram a Ter uma nova compreensão do significado das profecias messiânicas. Para
1
Esta ligação do Judaísmo e o Cristianismo é evidente em diversos aspectos:
(1) o templo era um lugar de culto comum, (2) a presença de grande número de
sacerdotes e fariseus entre os primeiros cristãos, (3) Paulo observa um rito judaico no
final de sua terceira viagem, (4) as sinagogas continuaram sendo local de adoração e
evangelização também para os cristãos, (5) os primeiros líderes do cristianismo eram de
origem judaica, (6) o Antigo Testamento era a Palavra de Deus comum aos dois grupos.
Ver: Jacques Doukhan, Drinking at the Sources (Mountain View, CA:Pacific Press
Publishing Association, 1981), 41; Richard L. Niswonger, New Testament History
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992), 53, 61-69, 190-191; Merril C. Tenney, New
Testament Times (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1971), 67, 183-185; W. H. C. Frend,
The Early Church (Philadelphia: Fortress Press, 1982), 25.

Ellen G. White, O desejado de todas as nações, 17ª ed. (Tatuí, SP: Casa
2

Publicadora Brasileira, 1990), 23-27.


3
Ibid., 28-32.
4
Justo gonzález, Uma história ilustrada do Cristianismo, 3ª ed. (São Paulo:
Vida Nova, 1986), 1:15, 19; E. G. White, O desejado de todas as nações, 31-32. Há
evidências históricas que o primeiro dia/ano foi usado na literatura judaica para prever a
vinda do Messias: (1) 70 semanas proféticas, (2) nos 10 jubileus, estes períodos
aparecem nos Testamentos de Levi, em 1Enoque, na literatura de Qumram, nos
intérpretes rabínicos, na literatura apocalíptica pseudo-epígrafa. Ver: William Shea,
“Year-Day Principle  Part 2,” em: Frank B. Holbrook, Selected Studies on
PropheticInterpretation (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1982), 89-115.
eles o Nazareno era o Messias Sofredor ressurreto (Isa 53), que ascendeu aos céus como
Filho de Deus Salvador e Mediador da nova aliança. Esta verdade era nova para o povo
judeu, que aguardava um Messias Rei, libertador político do jugo romano.
Essa mensagem evangélica tornou-se o conteúdo da missão da Igreja. No cumprimento
dela os primeiros cristãos cresceram numérica e territorialmente. Estabeleceram-se
primeiramente em Jerusalém. A expressão “enchestes Jerusalém de vossa doutrina” (At
5:28), retrata a penetração da mensagem cristã na sociedade judaica. A estimativa da
população de Jerusalém nesses dias era de aproximadamente 44.000 pessoas,1 e os
relatos bíblicos do número de judeus convertidos aos cristianismo alcançou a grande
maioria dessa população (At 2:41; 4:4, 47; 6:7; 21:20). Por outro lado, com a
perseguição registrada em Atos 8 os cristãos se dispersaram além da Judéia e
conquistaram novos territórios. Samaria, Jope, Damasco, Fenícia, Chipre, Antioquia e
Roma foram progressivamente alcançadas. O zelo missionário da Igreja Apostólica a
conduziu até aos limites mais distantes do Império, possivelmente até a Índia.2
Neste processo os primeiros cristãos sofreram infiltrações do helenismo,3 do
autoritarismo romano,4 e do monoteísmo ético judaico.5 Estes três fatores contribuíram
para o surgimento de divergências internas no Cristianismo apostólico, fazendo emergir
as diversas crises do primeiro século que afetaram a vida cristã da época e o exercício
da tarefa missionária.
As reações dos discípulos diante do julgamento e crucifixão de Jesus Cristo retratam o
profundo desapontamento de que foram vítimas, quando viram suas mais acariciadas
expectativas serem frustradas.
5
As sanções do governo romano contra o Judaísmo, desde o governo de
Claúdio em 49 AD e a insistência na observância literal de regulamentos mosaicos
levaram os cristãos a se separarem dos judeus, e a começarem a evitar práticas
religiosas judaicas, adotandoprogressivamente posturas religiosas pagãs. Ver: Samuel
Bacchiocchi, Do Sábado para o Domingo ([São Paulo: Samuel Rodrigues], s.d.), 3:23-
24, 58-97; 5:53-56; González, Uma história ilustrada do Cristianismo, 1:49-52.
1
Niswonger, 191. F. F. Bruce estima que a população poderia variar entre
25.000 e 55.000. Ver: F. F. Bruce, The Acts of the Apostles: The Greek with
Intorduction and Commentary, 3ª ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), 445.
2
Henry C. Sheldon, History of the Christian Church (Peabody, MA:
Hendrikson, 1988), 1:17-21; Niswonger, 279-280; González, Uma história ilustrada do
Cristianismo, 1:37-47; Frend, 24-27. Diversos fatores contribuíram para a expansão do
Cristianismo: (1) o inclusivismo cristão contrastado com o exclusivismo judeu, (2) a
proteção legal que o Judaísmo legou ao Cristianismo por diversos anos, (3) a falência do
sistem religioso e filosófico romano, (4) o uso do grego como língua internacional, (5)
as estradas romanas e a política de paz do Império, (6) a existência da LXX. Ver:
Niswonger, 282-283.
3
William F. Albright, From the Stone Age to Christianity (Garden City, NY:
Anchor Books, 1957), 337; Simon Prince, “The History of the Helenistic Period,” em:
John Broadman, Jasper Griffin e Oswyn Murray, eds., The Oxford History of the
Classical World (Oxford: Oxford University Press, 1993), 323-325; Russel Norman
Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por versículo (Guaratinguetá, SP:
A Voz Bíblica, s.d.), 1:134-135; Justo González, Uma história ilustrada do
Cristianismo, 1:16-17; Niswonger, 79-85, 248-250.
Messianismo

A esperança messiânica tem sido uma das características distintivas do povo

judeu através de toda sua história (Gn 3:15; Gn 12:7; Gl 3:16).1 Foram, contudo, as

ocupações estrangeiras na Palestina a partir do Exílio Babilônico que reavivaram mais

intensamente essa esperança messiânica da vinda de um rei da dinastia davídica, cujo

surgimento traria libertação para a nação escravizada.2 A crença judaica, desde então,

que o Messias deveria vir para libertar o povo de Israel logo após um severo período de

sofrimento da nação, fortaleceu-se.3

A insurreição dos Macabeus contra a política selêucida de helenização, com a

subseqüente vitória asmoneana (165 AC), teve conotações messiânicas. Era então

comum a esperança de uma “gloriosa restauração nacional” sob um rei da dinastia

davídica.4

Tenney, New Testament Times, 48-71; Henry Chadwick, “Envoy: On Taking


4

Leave of Antiquity,” em: Broadman, Griffin e Murray, eds. The Oxford History of the
Classical World, 808, 821-822; Will Durant, História da civilização (São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1957), 7:35, 344-347; Earle E. Cairns, O Cristianismo
através dos séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), 51; Kenneth Scott Latourette, A
History of Christianity (New York: Harper & Brothers, 1953), 1:81-91, 112-188.
5
Bruce, The Acts of the Apostles, 22-23, 190-194.
1
R. J. Zwi Werblowski, “O Messianismo da História Judaica," em: J. Guinsburg,
ed., Vida e valores do povo judeu (São Paulo: Editora Perspectiva, 1972), 27; Abrahan
Cohen, Everyman’s Talmud (New York: Schocken Books, 1975), 347.
2
Lester L. Grabbe, Judaism from Cyrus to Hadrian (Minneapolis, MS: Fortress
Press, 1992), 2:552, 579; Doron Mendels, The Rise and Fall of Jewish Nationalism
(New York: Doubleday, 1992), 227-228.

Samuel Sandmel, Judaism and Christian Beginnings (New York: Oxford


3

University Press, 1978); Geoffrey Wigoder, The Encyclopedia of Judaism (New York:
MacMillan, 1989), 481-482.
4
Werblowski, 22-25.
A literatura rabínica a partir do Segundo Templo caracterizava-se por um

significado marcadamente escatológico.5 Na literatura apócrifa e pseudoepígrafa o

messianismo tornou-se o tema principal da teologia judaica. A iminente vinda do

Messias com seu curto domínio introduziria o reino de Deus que significava, por sua

vez, a exaltação e libertação do povo judeu. A crença messiânica presente na literatura

judaica, estabelecida a partir de Zorobabel (586 AC), permaneceu viva até a revolta de

Bar Kokhba (135 AD), que foi considerado Messias pelo Rabi Akiva.6

Durante os quase 600 anos de dominação estrangeira (605-31AC), em especial

sob o domínio romano, a esperança messiânica adquiriu um forte caráter político-militar

nacionalista. Esta visão florescia na Palestina no I século AD.7

O Novo Testamento evidencia que os discípulos de Cristo incorporaram a

crença messiânica de seus dias. A constante luta entre eles por hegemonia (Mt 18:1-5;

Mr 9:33-37), o interesse de terem uma posição de destaque no novo governo de Cristo

(Mt 20:20-28; Mr 10:35-45), a incapacidade contumaz de entenderem o aspecto

profético do Messias-Sofredor (Mr 9:30-32) e o desespero de verem suas expectativas

frustradas, demonstravam que eles esperavam a vinda de um Messias-Rei que libertasse

5
Para melhor informação sobre natureza, tipos de divisão da história da língua e
literatura hebraicas, ver: Cecil Roth, ed., Biblioteca da cultura judaica (Rio de Janeiro:
Editora Tradição, 1967), 2:789-793; 5:413-424, 554-556, 9:154-157; Donald E. Gowan,
Bridge between the Testaments: A Reappraisal of Judaism from the Exile to the Birth of
Christianity (Pittsburg, PA: Pickwick Press, 1980), 342-369. Para compreensão do
conteúdo da literatura apocalíptica, ver: Gowan, 445-469.

A história do pensamento messiânico pode ser encontrada em: Wigoder, 481-


6

483. O Rabi Akiva era considerado um dos principais mestres rabínicos da época (132-
135 AD) como é declarado em: Werblowski, 26; Jacob Neusner, ed., The Social World
of Formative Christianity and Judaism (Philadelphia: Fortress Press, 1988), 50-65.
7
Werblowski, 26; Sandmel, 208; Wigoder, 482; Michael Green, Evangelização
na Igreja Primitiva (São Paulo: Vida Nova, 1984), 103-115; John R. Stott, A mensagem
de Atos (São Paulo: ABU Editora, 1994), 180; Walker, 1:32; E. P. Sander, Judaism
Practice & Belief 63 BCE - 66 CE (London: SCM Press, 1992), 279.
politicamente a nação (Lc 24:18-21).8 Mesmo após a ressurreição de Cristo essa

mentalidade estava presente entre os mais íntimos discípulos de Cristo (At 1:6).

A visão messiânica de Jesus Cristo diferia completamente da crença judaica e

dos próprios apóstolos. Não havia no judaísmo extra-bíblico de então nenhuma visão

teológica que entendesse o Messias como Servo Sofredor.1

Podem ser relacionados pelo menos cinco fatores que conduziram os apóstolos

à decepção messiânica: (1) o condicionamento social em que viviam, (2) o forte desejo

de libertação nacionalista que os levavam a ver as verdades bíblicas no prisma de um

patriotismo exacerbado. Contribuíram ainda decisivamente para esta situação os

padrões (3) da hermenêutica literalista da teologia judaica, e (4) de sua visão

reducionista de só enxergar nas profecias o Messias Rei, em detrimento da compreensão

do Servo Sofredor de Isaías.2 Além disso (5) os judeus da linha farisaica davam à lei

oral a mesma autoridade normativa que tinha a Escritura. Sendo eles originários das

classes mais simples exerciam forte influência sobre a população. Estava assim aberta a

porta para a penetração de qualquer interpretação bíblica, e os apóstolos foram

envolvidos pelo exclusivismo e tradicionalismo judaicos.

8
A imaturidade espiritual e a incompreensão dos discípulos foi a causa da
decepção apostólica como é declarado em: Jack Dean Kingsbury, Conflict in Mark:
Jesus, Authorities, Disciples (Minneapolis, MS: Fortress Press, 1989), 95-113; idem,
Conflict in Luke: Jesus, Authorities, Disciples (Minneapolis, MS: Fortress Press, 1991),
137-139; Cesare Cantu, História universal (São Paulo: Editora das Américas, 1958),
6:160.
1
Joachim Jeremias, Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Paulinas, 1977),
119; E. G. White, O desejado de todas as nações, 113-114.
2
Wigoder, 641; Siegfried H. Horn, “Jewish Interpretation in the Apostolic Age,”
em: Gordon M. Hyde, ed., A Symposium on Biblical Hermeneutics (Washington, DC:
Review and Herald, 1974), 17-26; A. Berkeley Mickelsen, Interpreting the Bible (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1991), 20-30; Hans K. LaRondelle, The Israel of God in
Prophecy (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1987), 14-17.
Reino de Deus

Para Leonardo Goppelt “em Mateus, e só nele, . . . amiúde é falado do ‘reino

dos céus.’”1 O termo reino de Deus, contudo, não era um conceito completamente novo,

pois no ambiente palestino-judaico já havia considerações a respeito do tema,2 tanto no

Antigo Testamento, quanto nos escritos não-canônicos.

No Antigo Testamento não se encontra a fórmula “Reino dos Céus,” e apenas

duas vezes aparece a expressão “Reino do Senhor” (1Crônicas 28:5; 2 Crônicas 13:8),3

mas a noção de Deus como Rei é comum no Antigo Testamento,4 expressada através de

quatro grupos textuais: (1) nos Salmos de ascensão ao trono (Sl. 47, 93, 96-99), que

confessam que “Jeová tornou-se rei” pois escolheu Jerusalém como a Sua cidade e Davi

como Rei5 (Sl 89); (2) nas doxologias que exaltam o domínio de Jeová por Seus atos

salvíficos na história (ex.: Êxodo 15; Salmos 44, 87, 89, 136) e/ou falam de Deus como

criador e mantenedor de suas criaturas (ex.: Salmos 74, 95, 103, 145, 146);6 (3) nas

profecias clássicas que anunciam o reino escatológico de Deus (ex.: Isaías 10, 33, 45,

52), Sua soberania não apenas como objeto de louvor, mas como uma realidade

1
Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento, trans. Martin Dreher and
Ilson Kayser, 3ª ed. (São Paulo, SP: Editora Teológica, 2002), 81. A expressão “Reino
dos Céus” (basilei,a tw/n ouvranw/n) é usada no evangelho de Mateus (31 vezes ao
todo), onde a palavra “Céus” (ouvrano,j) é utilizada para substituir a palavra “Deus”
(qeo,j), seguindo o costume hebraico de evitar o uso direto do nome de Deus. “Reino
dos Céus” e “Reino de Deus” são, portanto, expressões sinônimas. D. R. W. Wood I
and Howard Marshall, New Bible Dictionary, 3 ed. (Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 1996, c1982, c1962), 647; Gundry, 95.
2
Goppelt, 81, 82.

David Noel Freedman, ed., The Anchor Bible Dictionary (New York, NY:
3

Doubleday, 1996, c1992), 52.


4
Russel Norman Champlin and João Marques Bentes, Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia, 6 vols., vol. 5 (São Paulo, SP: Editora e Distribuidora Candeia,
1995), 623; Goppelt, 82.
5
Freedman, ed., 52; Goppelt, 82; Champlin and Bentes, 618.
6
Goppelt, 82, 83; Freedman, ed., 52; Champlin and Bentes, 623.
histórica final, que trará salvação para o eleito até os confins da Terra;7 e (4) na profecia

apocalíptica (ex. Isaías 24-26; Daniel 2, 7), onde o reino de Deus é outorgado ao

remanescente fiel nos últimos dias2 através de acontecimentos cósmicos.3

Na literatura judaica não-canônica encontramos, também, alusões ao tema do

reino de Deus. Na apocalíptica judaica o reino de Deus não é um assunto dominante,

mas quando é apresentado tem um enfoque escatológico: Deus destruindo a Satanás,

trazendo o castigo sobre os gentios, extinguindo o mundo presente (o primeiro éon), e

por fim, estabelecendo o Seu reino (o segundo éon) e trazendo a felicidade para Israel.4

Para o judaísmo farisaico-rabínico o reino de Deus estava associado

primeiramente ao recebimento do jugo do reino do céu, ou seja, obediência à Tora,

aceitação do monoteísmo e declaração do Shema. Em segundo lugar, estava

relacionado à vinda do Messias-rei, que libertaria Israel da escravidão dos povos do

mundo, através de poderosos sinais cósmicos, instaurando afinal o Seu reino de Paz.5

Como é dito na Kaddish, a última oração do culto sinagogal nos tempos de Jesus6:

1
Goppelt, 83; Freedman, ed., 52.

Alan Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento, trans. Jaci


2

Correia Maraschin (São Paulo, SP: ASTE, 1961), 91.


3
Goppelt, 84. Para uma visão mais ampla sobre o Reino de Deus no Antigo
Testamento ver: Paul P. Enns, The Moody Handbook of Theology (Chicago, Ill: Moody
Press, 1997, c1989), 27, 33-37; Eugene H. Merrill, Daniel as a Contribution to
Kingdom Theology, ed. Stanley D. Toussaint and Charles H. Dyer (Chicago: Moody,
1986), 211.
4
Richardson, 87; Goppelt, 84; Fiensy, 71; George Eldon Ladd, Teologia do
Novo Testamento, trans. Darci Dusilek and Jussara Marindir Pinto Simões (São Paulo,
SP: Editora Hagnos, 2001), 59; Freedman, ed., 53; George Eldon Ladd, "The Kingdom
of God in the Jewish Apocryphal Literature - Part 1" Bibliotheca Sacra 109, no. 433
(1952; c2002): 55-63. Ver também a Parte 2 e 3 do artigo "The Kingdom of God in the
Jewish Apocryphal Literature" no Volume 109.

Goppelt, 85; Fiensy, 73; Richardson, 88; Ladd, Teologia do Novo


5

Testamento, 59, 60; Freedman, ed., 54, 55.


“possa Ele estabelecer o Seu reino durante a vossa vida e em vossos dias e durante a

vida de toda a casa de Israel, rapidamente e em um tempo próximo.”1

Já os essênios, acreditavam que os anjos desceriam para ajudar “os filhos da

Luz” (a comunidade de Qunram) na guerra contra “os filhos das trevas” (judeus

paganizados e gentios) estabelecendo, então, o reino escatológico.2 O zelotes por sua

vez, que também almejavam o estabelecimento do reino, criam que ele viria apenas por

meio de ação político-militar, e que lutar contra Roma era lutar a favor do Reino de

Deus.3

6
Goppelt, 85. Para uma melhor compreensão da liturgia judaica e da Kaddish
ver: Jacob Neusner, Alan J. Avery-Peck and William Scott Green, ed., The
Encyclopedia of Judaism, 5 vols., vol. 2 (Brill, Leiden: Koninklijke Brill NV, 2000),
825-827.
1
Freedman, ed., 54.
2
Ladd, Teologia do Novo Testamento, 59; Goppelt, 85; David Noel Freedman
ed., 54. A fim de conhecer mais acerca dos essênios ver: Don F. Neufeld, ed., The
Seventh-Day Adventist Bible Dictionary, 12 vols., The Seventh-Day Adventist Bible
Commentary, vol. 8 (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association,
1979, 2002); Norman L. Geisler, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics (Grand
Rapids, Mich: Baker Books, 1999), 187-189, 215, 216; Marshall, 339-341; Paul Lagass,
ed., The Columbia Encyclopedia, 6 ed. (New York; Detroit: Columbia University Press,
2000), Qumran.
3
Richardson, 87; Ladd, Teologia do Novo Testamento, 60; Fiensy, 60. Uma
maior visão a respeito dos zelotes pode ser obtida em: Gerhard Kittel, Gerhard
Friedrich, and Geoffrey William Bromiley, ed., Theological Dictionary of the New
Testament (Grand Rapids, Mich: W.B. Eerdmans, 1995, c1985), 297-299; Lagass, ed.,
Zealots; M.G. Easton, Easton's Bible Dictionary (Oak Harbor, WA: Logos Research
Systems, Inc., 1996, c1897), Zealots; Freedman, ed., 1045-1054.
Lei e Salvação

Nova Perspectiva de Paulo

Há um contraste entre o ensinamento veterotestamentário sobre a salvação e a

maneira como as pessoas na história bíblica desse período entenderam e vivenciaram

essa verdade. Mesmo entre o povo escolhido e seus mais representativos líderes,

percebe-se uma tentativa legalística de salvação.

No período do Antigo Testamento a busca da salvação por obras meritórias

esteve presente implícita e explicitamente em evidente conflito com o ensinamento

bíblico. Caim, ao ofertar a Deus os frutos da terra1 como resultado do seu próprio

trabalho, pretendia manifestar seu culto sem o cordeiro sacrifical (Gn 4:3).2 A atitude de

Abel ao apresentar a Deus uma oferta das primícias do seu rebanho, com base no

derramamento do sangue no sacrifício da vítima (Gn 4:4), está em contraponto com a

atitude de Caim.

Além disso, a promessa da aliança feita entre Deus e Abraão em fazer dele uma

numerosa nação na terra de Canaã (Gn 12:1-9; 13:14-18),3 estava em contraste com o

empenho de Ninrode, de agrupar a humanidade através da torre Babel, considerada

outra tentativa humana de salvação pelas próprias obras (Gn 11:1-9).

A atitude de Israel nos dias de Moisés é outro exemplo da tentativa humana de

alcançar a salvação pelo seu próprio mérito. Impressionado pela teofania do Sinai, o

povo afirmou três vezes: “Tudo o que falou o Senhor faremos” (Ex 19:8; 24:3,7). Isto

1
Kidner, Gênesis: introdução e comentário, 1:70, declara que é “argumento
precário supor que a ausência de sangue desqualificou a oferta de Caim.”
2
O fundamento de toda religião falsa tem sido a confiança nos próprios
esforços como meio de salvação. Esse assunto é analisado em: E. G. White, Patriarcas
e profetas, 68-69.
3
Ibid., 274-283, 298-301.
reflete o propósito de se cumprir as exigências morais do concerto com base na

obediência pessoal (Gl 4:21-31).1 A disposição legalista do povo hebreu estava em

evidente conflito com a maneira como Deus confirmou Seu concerto com Israel, isto é,

através do sangue do sacrifício, pré-anúncio do sangue da aliança que Deus faria então

com toda a humanidade (Ex 24:8; cf. Mt 26:28).

Essa atitude tornou-se uma característica da religiosidade judaica

especialmente no período pós-exílico. A comunicação da lei e o zelo por ela ao longo

da história tiveram função preponderante para fortalecer o espírito legalista do

judaísmo. Segundo o Mishna,2 a transmissão da lei foi primeiramente um ato de Deus,

quando a deu a Moisés (Ex 31:18); este a entregou a Josué, que por sua vez a passou

aos anciãos, que a passaram aos profetas, que a comunicaram aos membros da grande

assembléia (os 120 anciãos) liderados por Esdras, o escriba e por seus companheiros, os

soferim (contadores de letras). O zelo por essa tradição conduziu o povo hebreu ao

legalismo.3

1
O ensinamento do Antigo Testamento sobre a salvação se fundamenta na
graça de um Deus misericordioso que antepõe os indicativos divinos aos Seus
imperativos como bem ensinam. Ver: Gerhard von Rad, Teologia do Antigo
Testamento (São Paulo: ASTE, 1973), 1:230-231; Alberto R. Timm, “Como Carlinhos
saiu do poço,” Dec, fevereiro de 1984, 18; Martin Luther, Commentary on Genesis
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1958), 2:7-23; J. Barton Payne, The Theology of the
Older Testament (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1975), 411-443; Gerhard F. Hasel,
Teologia do Antigo Testamento (Rio de Janeiro: JUERP, 1987), 39; F. F. Bruce, New
Testament Development of Old Testament Themes (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1989), 32-50; Jon Dybdahl, Old Testament Grace (Boise, ID: Pacific Press, 1990);
Walter C. Kaiser Jr., Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1980),
271-277.
2
Wigoder, 494: O Mishna foi a primeira autoritativa compilação da lei oral,
refletindo cinco séculos de tradições legais judaicas, desde a era dos escribas até aos
tannaim.
3
Ibid., 308.
Este último grupo (soferim) teve uma grande influência sobre a nação, a partir

de meio século depois do retorno de Israel do cativeiro babilônico.1 A mentalidade

religiosa judaica pós-exílica caracterizou-se, predominantemente, pelo monoteísmo

ético,2 que fortaleceu o legalismo israelita.

Três séculos aproximadamente depois do período pós-exílico, no reino de João

Hircano (135-105 AC), surgiram os saduceus e fariseus,3 que tinham a lei como centro

da vida religiosa. As escolas de Hillel (70 AC - 10 AD)4 e Shammai (50 AC - 30 AD),5

que se originaram dentre os fariseus, exageravam a importância da ética, sendo que os

shammaítas eram mais ortodoxos, tanto na hermenêutica como na aplicabilidade da lei.

Na sociedade judaica a importância da ética era enfatizada em detrimento do significado

salvífico de sua religião, tão claro na teologia do concerto.

Esta postura teológica foi decisiva no conceito legalista de salvação dos

israelitas6 e a seu tempo influenciou o cristianismo judaico, que se desenvolveu a partir

da Palestina.

1
Ibid. A transgressão da lei de forma genérica (Am 3:14-15), o
quebrantamento do sábado (Ne 13:17-18) e a prática da idolatria (Je 7:9), em particular,
e a maneira injusta como tratavam com os pobres (Jr 7:5-7) foram as causas que
conduziram ao cativeiro em Babilônia.
2
V. L. Walter, “Ebionismo,” em: Elwell, ed., Enciclopédia histórico-teológica
da Igreja Cristã, 1:376.
3
Niswonger, 34.
4
Wigoder, 339.
5
Ibid., 641.
6
Donald E. Gowan, Bridge between the Testaments: A Reappraisal of Judaism
from the Exile to the Birth of Christianity (Pittsburg, PA: Pickwick Press, 1980), 433-
443; Roger Brooks, The Spirit of the Ten Commandments: Shattering the Myth of
Rabbinic Legalism (New York: Harper & Row, 1990), 21-27; Dan Cohn-Sherbok, A
Dictionary of Judaism & Christianity (Philadelphia: Trinity Press International, 1991),
58-59, 152-153. Os méritos dos patriarcas não só acumulam-se, mas beneficiam seus
descendentes, acelerando a redenção de Israel. Ver: Wigoder, 481.
PALESTINA

História, Geografia e Grupos Dominantes

Domínio da Grécia  Depois de passar sucessivamente sob o domínio de Babilônia e

Medo-Persia, a Palestina veio ser subjugada pela Grécia. A vitória na batalha de

Grânico (334 AC) permitiu que Alexandre viesse a dominar a Palestina em 332 AC.

Sua morte em 321 Ac fez surgir uma luta pelo domínio do seu império, como resultado

a Palestina foi entregue a Ptolomeu (general de Alexandre), que anexara sob seu

controle a Egito. Pelo período de aproximadamente 100 anos a Palestina ficou sob o

governo dos Ptolomeus.

Mas em 198 AC, Antíoco III de origem selêucida anexou a Palestina, tirando-a do

domínio egípcio, dos Ptolomeus. Seu filho, Antíoco Epifânio (175 AC  163 AC),

grande admirador da cultura grega, procurou helenizar a Palestina fazendo uso da

violência. Antíoco Epifânio em 168 AC publicou um edito em que os judeus estavam

proibidos de praticar a circuncisão, de comemorar suas festas religiosas e de guardar o

Sábado. Ainda mandou destruir as cópias da Lei, colocar um altar a Zeus no templo de

Jerusalém e ordenou que oferecessem sacrifícios de porcos neste altar.

Sob a liderança de Matatias, sacerdote da aldeia de Modin, iniciou-se uma revolta

contra os selêucidas, e continuada por seu filho Judas Macabeu, que foi sucedido por

seu irmão Jônatas. Foi contudo no período da liderança de Simão, em 142 AC, que se

deu a independência da Judéia. Com isto terminou a influência dos selêucidas sobre a

Palestina e consolidou-se a autonomia do estado judaico, até que chegassem os

romanos. Com a morte de Simão e seus filhos (135 AC), assassinados por Ptolomeu,

genro de Simão, o governo passou às mãos de João Hircano, que se tornou o fundador

da dinastia hasmoneana, período em que surgiram várias seitas como fariseus e


saduceus. Com a morte de João Hircano seguiram-se lutas internas na família pelo

controle do poder que conduziram a Palestina a um caos político.

Domínio Romano  Devido ao caos político, Pompeu, imperador romano, interveio na

Palestina em 63 AC, terminando o curto período de independência da Palestina (168 AC

 63 AC).1 Reis hasmoneus se seguiram no governo da Palestina até que Herodes, com

auxílio de Roma, derrotou Antígono, terminando a dinastia dos hasmoneus.

Da disnastia herodiana, teve em Herodes, o Grande, o seu mais destacado estadista,

reinando de 37 AC a 4 AC. Foi nomeado por Otávio como rei dos judeus, contudo foi

através de guerras internas que assumiu de fato o controle de toda a Palestina. Um dos

seus primeiros atos foi nomear o sumo-sacerdote Hananiel, identificado possivelmente

como o Anás dos evangelhos. Foi este o Herodes que ordenou a matança das crianças

de Jerusalém (Mt 2:1-8, 16), quando o imperador de Roma era Augusto (27 AC  14

AD). Foram sucessores simultâneos de Herodes, dividindo seu reino: Arquelau (4 AC 

6 AD), Felipe, o tetrarca (4 AC  34 AD) e Herodes Antipas (4 AC  39 AD). Este

último é o mais proeminente nos evangelhos. Jesus faz referência a ele como tendo a

personalidade enganadora de um raposo (Lc 13:31-32). Ele é o assassino de João

Batista e aquele diante de quem Jesus foi julgado (Mt 14:1-12; Mc 6:14-29; Lc 3:19;

23:7-12). No ano 39 AD foi deposto por Calígula (37  41 AD) ao substituir Tibério

(14  37 AD), amigo de Herodes Antipas.

O Governo de Roma sobre a Judéia  Os Imperadores romanos administraram a Judéia

por intermédio de seus procuradores. Esses representantes de Roma tinham a finalidade

de cobrar impostos diretos, uma vez que os indiretos eram cobrados pelos publicanos

(Levi Mateus, Zaqueu). Os procuradores deviam ainda manter a ordem através de

1
Merril C. Tenney, O Novo Testamento sua origem e análise, 2ª ed. (São
Paulo: Vida Nova, 1972), 44-61.
tropas compostas por soldados nativos, os judeus neste caso eram dispensados do

serviço militar (Lc 7:10; 23:47). Eles ainda eram investidos de autoridade judicial, para

julgar crimes que envolvessem penas capitais, enquanto os problemas judicais menores

eram analisados pelo Sinédrio.

Pôncio Pilatos  Governou a Palestina de 26 AD a 36 AD. Filo e Flávio Josefo

declaram que Pilatos era um homem de mau caráter. Os desafios de Pilatos ao povo

culminou no episódio da matança de galileus no templo (Lc 13:1). É igualmente

conhecida sua inimizade com Herodes Antipas. A partir do ano 30 AD tornou-se mais

intransigente e cruel com o povo judeu. Sua crueldade chegou ao conhecimento do

Imperador Vitélio, que depôs Pilatos. O fim da vida de Pilatos permanece sem

informação histórica. Contudo, o Espírito de Profecia, EGW, declara que ele se

suicidou.

Geografia Política

A Palestina estava dividida em três territórios nos dias de Cristo.

Jerusalém e Judéia estavam sob o governo do procurador e do Sinédrio.

A Galiléia e a Peréia eram governadas por Herodes Antipas.

O norte da Galiléia era controlado por Felipe. Além dessas divisões havia uma

federação de cidades gregas livres. A Fenícia era uma delas que estava fora da

autoridade de Herodes, sendo dirigida pela Síria.


Grupos Dominantes

Apesar dos judeus terem uma única fonte de revelação para orientar sua vivência

religiosa, o Antigo Testamento, eles acabaram por se dividir em várias seitas religiosas

que rivalizavam entre si.

Saduceus  Deriva possivelmente de Zadoque, que viveu 300 AC ou ao

sacerdote dos dias de Davi. Por ocasião do Novo Testamento, eles eram constituídos de

famílias sacerdotais, aristocratas, ricas e políticas. Eles eram responsáveis pela vida

religiosa desenvolvida no templo. Aceitavam apenas o Pentateuco como revelação

divina. Eram de tendência mais liberal. Rejeitavam as doutrinas da ressurreição (Mt

22:23), da vida eterna, da punição final e da existência dos anjos.

Foi aos saduceus juntamente com os fariseus que João Batista os chamou de

“raça de víboras” (Mt 3:7). Os saduceus e os fariseus desafiaram a Jesus e Lhe pediram

um sinal (Mt 16:1-4). Eles discutiram com Cristo sobre a ressurreição (Mt 22:23-33),

julgaram-nO facciosamente (Mt 26:57-68; Mr 14:53-64; Lc 22:66-71; Jo 18:12, 19-24).

Posteriormente eles perseguiram a Igreja Cristã Primitiva (At 4:1-3; 23:6-10). Na

destruição do templo de Jerusalém os saduceus desapareceram.

Fariseus  Seu significado é ser justo, separado, santo. Eles se opuseram à

helenização dos judeus. Sua origem como foi dito acima parece Ter sido nos dias de

João Hircano, por volta do ano 120 AC. Eles tinham representantes no Sinédrio, por

isso aparecem no julgamento de Paulo (At 22:30-23:6), deles originaram-se as mais

ortodoxas escolas de interpretação dos judeus: Hillel e Shammai. Eles se opunham

passivamente às autoridades romanas. Por serem da classe média tinham mais acesso

ao povo em geral. Sua religiosidade se caracterizava por um exacerbado legalismo.

Eles estavam bem representados entre os escribas e doutores da lei. Sua principal tarefa
era estudar, interpretar e aplicar os princípios da lei a cada circunstância da vida diária.

Acreditavam na ressurreição, na imortalidade da alma, na existência de espíritos, na

existência de anjos, na punição final com base nas obras.

Eles estiveram envolvidos em diversos momentos do ministério de Cristo: (1)

discussão sobre as tradições (Mr 7:1-13); (2) instigaram os discípulos de João contra ele

(Mt 9:11, 14; Jo 4:1); acusaram Jesus de possuir demônios (Mt 9:34; 12:24); de

hipocrisia (Mt 23); acusaram e condenaram Jesus à morte (Mt 27:62).

Essênios  Numerosa sociedade religiosa secreta localizada nas encostas do Mar

Morto que se caracterizava por seu separatismo social. A admissão na sociedade

acontecia depois de três anos de noviciado, quando então o novo intregrante recebia os

estatutos por sua filiação, sob juramento de conservar os ensinos secretos da

comunidade. Viviam sob o princípio de distribuição equalitária do bem comum. Eram

contrários ao casamento. A lei ocupava uma posição central de sua religiosidade, que

era lida diariamente, e interpretada alegoricamente. Eram escrupulosos observadores do

Sábado. Eles não são citados no Novo Testamento, contudo aparecem nos escritos de

Filo e Flávio Josefo.

Qumran é o nome da localidade onde foram encontrados vários rolos sagrados,

inclusive textos de todos os livros do Antigo Testamento, menos do livro de Ester no

fim do outono de 1947. Além disso foram encontrados vestígios da existência de uma

comunidade rigorosamente organizada. Ela foi fundada nos fins do II século AC e

floresceu no I século AC. Julga-se que a sociedade foi extinta no ano 70 AD, na guerra

judaico-romana. Trata-se portanto de uma sociedade religiosa contemporânea de Cristo

e Seus apóstolos. A seita de Qumran não exerceu uma influência marcante sobre o

Novo Testamento nem sobre a Igreja Apostólica. Era uma comunidade fechada que

aceitava, contudo, o matrimônio. São identificados como sendo o mesmo grupo dos
essênios. Tinha uma teologia com uma forte ênfase escatológica, tanto na sua visão do

conflito do bem com o mal, como no seu ensinamento sobre o remanescente.1

Escribas  Eram secretários profissionais da comunidade, escrevendo cartas

pessoais ou documentos oficiais, por cujo trabalho recebiam proventos específicos.

Ainda hoje são encontrados no Oriente Médio. Diversos deles eram funcionários do

governo e por isso mesmo tinham influência política. Eram considerados como

intelectuais dos seus dias. Eles ainda copiavam a lei e outros escritos do Antigo

Testamento. Exerciam ainda a profissão de professores e intérpretes da Escritura. São

chamados no Novo Testamento de nomikov , advogados ou intérpretes da lei (Mt

23:33; Lc 10:25). O título foi usado primeiramente na Escritura para Esdras (Es

7:6,10). Os mais famosos foram Hillel, Shammai e Gamaliel. Sua interpretações eram

consideradas do mesmo valor da Lei de Moisés. Cristo, contudo, condenou tal ponto de

vista (Mt 15:1,3; 23:15,23,25,27,29,33). Eles também estiveram envolvidos com a

morte de Cristo (Mt 26:57-59; 16:21; 27:41). Muitos deles se opuseram aos apóstolos

(At 4:5; 6:12).

Os Zelotes  São chamados por Josefo de a 4ª filosofia. Tratava-se de um

partido nacionalista, centro da resistência ao domínio do Império Romano sob a

liderança de Judas Galileu. Eles se opunham ao pagamento do imposto, porque

entendiam que pagá-los a César era uma traição a Deus. Teologicamente concordavam

com os pontos de vista dos fariseus. Acabaram por se degenerar em um corpo de

assassinos, os sicários. Eles, contudo, reviveram o espírito de independência dos

Macabeus. Seu fim é relatado em Atos 5:37. Jesus tinha pelo menos um zelote entre

seus apóstolos (Mt 10:4; Lc 6:15).

Karl Hermann Schelkle, A comunidade de Qumran e a igreja do Novo


1

Testamento (São Paulo: Paulinas, 1972).

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