Interação do casal em casamentos com altos e baixos níveis de satisfação
Estudos do Laboratório Gottman Janice Driver Amber Tabares Alyson F. Shapiro John M. Gottman Através de pesquisas foi analisado que o sucesso ou fracasso de um casamento depende não da existência ou ausência de conflito, mas de como o conflito é administrado quando ocorre. Essa pesquisa pode expor os mitos sobre o casamento. Foi observado os casais em três conflitos diferentes identificando diferenças marcantes entre relacionamentos satisfatórios e insatisfatórios. O estudo foi realizado com 843 casais casados. Uma característica consistente dos casais com dificuldades que estão rumando para o divórcio é a expressão de comportamentos negativos específicos que denominamos os Quatro Cavaleiros que são: crítica, menosprezo, atitude defensiva e obstrução. O primeiro é muito comum nos relacionamentos com problemas, além de queixas do caráter existe as queixas globais. O menosprezo é o mais corrosivo. Ele é mais destrutivo que a crítica por que trás descontentamento e desrespeito entre os cônjuges. Já o terceiro cavalheiro é a atitude defensiva apesar de parecer algo natural é ineficiente porque se transforma na maneira como um cônjuge acusa o outro pelo seu próprio comportamento. A obstrução é o quarto dos Quatro Cavaleiros. Nesse ponto, o cônjuge sobrecarregado começa a obstruir passando a mensagem ao interlocutor de que ele não quer interagir e aparentando não estar ouvindo nada. Não existe contato visual, nenhum sinal de interesse na interação e nenhuma resposta verbal. O interlocutor é ativamente ignorado. Esses são os verdadeiros sinais de perigo para qualquer relacionamento. Embora os padrões interacionais que denominamos os Quatro Cavaleiros sejam prejudiciais para um casamento. Os casais emocionalmente desligados não exibem níveis extremos de negatividade e é improvável que incluam os Quatro Cavaleiros, mas não apresentam ausência completa de afeto positivo. O desligamento emocional é um fenômeno interessante porque os casais parecem bem na superfície, mas na verdade estão altamente estressados. Tanto o desligamento emocional quanto os Quatro Cavaleiros predizem divórcio, mas existe uma diferença marcante no momento do divórcio para cada um destes estilos negativos. Quando um conflito é invadido pelo padrão dos Quatro Cavaleiros ou pelo desligamento emocional, é comum que um ou ambos os parceiros se tornem emocionalmente ou fisicamente oprimidos. O foco primário do cônjuge inundado é reduzido à autopreservação, com pensamento do tipo: “Não aguento mais isso” ou “Por que ela está me atacando?”. Nesse ponto, é impossível assimilar novas informações. A inundação, um estado de emergência durante um conflito, deve ser tratada com respeito e preocupação. O melhor antídoto para a inundação é dar uma pausa no conflito. Crítica, menosprezo, atitude defensiva e obstrução são tipos específicos de conflito negativo que sinalizam perigo, mas nem toda a negatividade é prejudicial para o relacionamento. Porém, descobrimos que existem dois tipos de reciprocidade negativa, o mais nocivo dos dois é o padrão de escalada negativa, no qual a negatividade é respondida com um aumento da negatividade. Esse tipo de escalada negativa é frequentemente encontrada em conjunto com os Quatro Cavaleiros. O segundo tipo de reciprocidade negativa é característico de todos os casamentos, incluindo os satisfatórios. Esse padrão combina negatividade com negatividade. Um dos parceiros vai responder à raiva com raiva, e à tristeza com tristeza. Assim como o mito de que toda a reciprocidade negativa é destrutiva, existe um mito oposto relativo aos casais satisfeitos. Existem três estilos diferentes de conflito (ou tipos de casais) que parecem funcionar bem para os casais satisfeitos: validadores, voláteis e esquivos. Os validadores também são não coercivos e tendem a ter poucos desentendimentos. Mas quando surgem os desentendimentos, existe um forte senso de respeito mútuo entre eles. Uma abordagem diferente para lidar com o conflito é vista em casais com estilo volátil, que têm uma abordagem mais explosiva para manejar o conflito. Nos casais voláteis, ambos os parceiros estão altamente envolvidos na discussão, vendo um ao outro como iguais. Os voláteis dão significado à sua própria individualidade e acreditam que o casamento deve fortalecer e acentuar as suas diferenças. No extremo oposto da escala de conflito se encontra o terceiro estilo, os esquivos. Os esquivos minimizam seus problemas e assim evitam o conflito. Eles enfatizam os aspectos positivos do casamento, enquanto minimizam ou ignoram completamente qualquer queixa. Todos os três estilos de conflito podem ser igualmente eficazes. Enquanto alguns casais evitam todas as discussões, outros entram no conflito com gritos, e ainda outros discutem as discordâncias e chegam a um acordo. Nenhum estilo é melhor ou pior para um casamento; porém, é importante compreender que ele tem que funcionar para os dois cônjuges. Tanto os casamentos satisfatórios quanto os insatisfatórios têm tanto problemas insolúveis quanto solúveis. Os problemas solúveis têm uma solução, enquanto os problemas insolúveis são questões permanentes que podem nunca ser resolvidas. Os problemas insolúveis ou perpétuos frequentemente surgem de diferenças fundamentais de personalidade, culturais ou religiosas, ou necessidades essenciais de cada cônjuge. Também pode surgir estresse crônico de situações de crise ou situações adversas além do controle do casal, tais como uma doença séria e incapacidade, condições ambientais adversas ou desemprego prolongado. Os casais satisfeitos lidam com problemas permanentes de forma muito parecida como os idosos lidam com a dor persistente nas costas. Ela pode irritá-los, mas eles aprendem a aceitá-la. O objetivo ao discutir um problema permanente é criar uma atmosfera de aceitação do ponto de vista do parceiro em vez de criar uma condição de “impasse”. Portanto, o objetivo não é resolver o problema, mas que o casal encontre uma forma de obter algum grau de paz em torno dele. Uma forma pela qual os casais com domínio da situação lidam com impasses nos conflitos é por meio da aceitação da “influência” um do outro. Aceitar a influência é semelhante a essa ideia de mudar de pista e ir para casa. Ao aprender a encontrar um ponto de rendição, mesmo um ponto de menos importância, o cônjuge obtém o propósito desejado de um relacionamento íntimo e satisfatório. É importante observar que o parceiro precisa se acomodar ao outro, ou o relacionamento é distorcido. Embora aceitar influência seja difícil, às vezes, resulta numa força tremenda para o relacionamento conjugal. Quando os parceiros aprendem a ceder em certos pontos de um conflito, eles percebem que podem cooperar e trabalhar juntos como um casal. O próprio problema se transforma numa dificuldade que eles podem superar juntos como um time. Além de aceitar a influência, os casais satisfeitos também manejam o conflito e a falha na comunicação com o que denominamos “tentativas de reparação”. Definimos tentativas de reparação como interações que impedem ou reduzem a escalada negativa. Permitir uma mudança de assunto, no entanto, não deve ser mal interpretado como evitar o assunto. Os casais satisfeitos retomam a discussão e não permitem que o adiamento impeça a sua discussão, mesmo que o assunto seja desconfortável ou tenso. Os casais com casamento satisfatório tendem a usar a reparação durante sua discussão, enquanto os casais com dificuldades esperam até que a discussão esteja acalorada e polêmica. Quando a discussão está num ponto de negatividade severa, as tentativas de reparação são frequentemente menos eficazes e podem até mesmo sair fora de controle. Quando existe equilíbrio nas tentativas de reparação entre os cônjuges, o conflito também tende a manter um nível mais baixo de negatividade. Outro componente importante das tentativas de reparação é a capacidade de cada parceiro de responder de uma maneira positiva quando é feita uma reparação. Se um dos parceiros reconhece uma reparação e permite que o seu cônjuge suavize o momento ou obtenha um adiamento, o conflito de um modo geral é mais positivo. todos os casais reparam de modo natural e não precisam ser ensinados a reparar. Em vez disso, os parceiros precisam aprender a iniciar as reparações mais cedo e com mais frequência, enquanto aprendem a aceitar e reconhecer as reparações quando elas ocorrem. Em terapia de casal, frequentemente existe uma ênfase nos acontecimentos principais nas interações do casal, como discussões de conflitos. No entanto, os momentos cotidianos menos importantes de um casal podem determinar como os parceiros interagem quando ocorrem eventos de maior importância. Como uma base para a abordagem de eventos maiores, as interações diárias são um componente essencial para o sucesso conjugal. Foi constatado que os casais com casamento satisfatório raramente ignoram seus parceiros. A proposição com bom-humor foi outra característica dos casais satisfeitos. Definimos “bom humor” como uma provocação bem-intencionada com algum “ataque” físico. Com frequência, vimos que os parceiros que estão profundamente enraizados numa visão negativa do seu cônjuge ou seu casamento em geral revisam o passado de forma que apenas se lembram e conversam sobre as coisas negativas que aconteceram em seu relacionamento. Os casais satisfeitos, em contrapartida, destacam suas boas lembranças. Com frequência, vimos que os parceiros que estão profundamente enraizados numa visão negativa do seu cônjuge ou seu casamento em geral revisam o passado de forma que apenas se lembram e conversam sobre as coisas negativas que aconteceram em seu relacionamento. Além de se lembrarem do pior, os casais insatisfeitos encontram dificuldades em recordar o passado. Os casais satisfeitos, em contrapartida, destacam suas boas lembranças. Nos casamentos satisfatórios, os casais tendem a fazer uma retrospectiva e olhar para os seus primeiros tempos com carinho. Recordam como se sentiam positivos no início, o quanto ficaram animados quando se conheceram e quanta admiração tinham um pelo outro. Quando falam sobre tempos difíceis, eles enfatizam mais a força que receberam um do outro do que as dificuldades específicas. Os parceiros satisfeitos usavam a afeição durante sua entrevista, usavam expressões que incluíam o “nós”, tendiam a exaltar as adversidades e refletiam a consciência do mundo do outro por meio das suas descrições abrangentes. Os cônjuges com dificuldades tendem a expressar negatividade e crítica mutuamente, mesmo quando recordam de situações agradáveis como o seu casamento ou a lua-de-mel. Os parceiros insatisfeitos também podem ser vagos e pouco claros acerca do que os atraiu em seu cônjuge. Muitos casais enfrentam desafios como perdas financeiras ou estresse no trabalho. Entretanto, quando tais situações acontecem os casais insatisfeitos tendem a encarar suas vidas como fora de controle ou caóticas. Existe uma qualidade de impotência nessas percepções caóticas, com os casais se sentindo incapazes de dominar o estresse e as dificuldades. Um padrão final dos casais insatisfeitos é a sua decepção e desilusão com o relacionamento, cada um dos parceiros desistiu do seu casamento e expressa depressão quanto ao relacionamento. Os casais insatisfeitos também parecem incapazes de articular o que torna um casamento bem-sucedido. Os parceiros satisfeitos que ainda estão “apaixonados” também apresentaram características peculiares na maneira como descreviam o seu passado conjugal transmitindo um sentimento fundamental de que o seu cônjuge era merecedor de admiração, respeito e amor. Embora até mesmo os casais com casamento satisfatório tenham momentos de frustração com as falhas dos seus parceiros, os padrões ainda lembram que a pessoa com quem se casaram é merecedora de apreciação e respeito. Quando esse sentimento está completamente ausente de um casamento, acreditamos que a relação não pode ser renovada. Juntamente com a afeição e admiração, os cônjuges satisfeitos felizes em geral apresentam consciência mútua e do seu relacionamento. Essa dimensão mostra não só a expressividade de cada um dos cônjuges, mas também como ambos respondem e ampliam os comentários do seu parceiro. Os cônjuges satisfeitos também estão intimamente familiarizados com o mundo do seu parceiro. Eles recordam de acontecimentos importantes na história do outro e vão atualizando esses fatos/sentimentos à medida que o mundo do parceiro se modifica. Em contrapartida com os casais que são insatisfeitos no casamento, os casais satisfeitos abordam as dificuldades como testes a serem vencidos juntos e acreditam que essas dificuldades fortalecem o seu relacionamento. Quando os casais satisfeitos descrevem seu passado conjugal, cada um dos parceiros tende a usar a palavra “nós” em contrapartida com “ele ou ela” ou “eu”. Esse simples padrão reflete o grau em que os casais se percebem como um time em vez de como indivíduos: “Nós supervisionamos a reforma da nossa casa. Parceiros satisfeitos podem se telefonar diariamente e passar a maior parte do seu tempo livre juntos. Outros parceiros igualmente satisfeitos podem raramente se telefonar durante o dia, ter amigos separados e desfrutar de interesses diferentes. O importante é a percepção que eles têm da noção de “nós”. Com base nas entrevistas com recém-casados, foi possível identificar dois sinais de alerta dos casais que são vulneráveis ao declínio conjugal com a chegada do primeiro bebê: primeiro, os maridos tendiam a expressar negatividade em relação às suas esposas; e segundo, os parceiros tinham mais probabilidade de encarar suas vidas como caóticas. Essas são informações valiosas referentes aos casais em risco de declínio conjugal. Esse sentimento é exacerbado pelo transtorno que frequentemente acompanha a vida com um novo bebê. Os sentimentos de caos expressos pelos casais recém-casados em estresse os tornam particularmente vulneráveis ao lidarem com os estresses e deveres adicionais necessários na parentalidade. Os casais estáveis, em contrapartida, usam a consciência, com afeição e admiração, para proteger o casamento durante este período estressante. É interessante observar que o preditor mais importante da continuidade da satisfação no relacionamento depois que nasceu o primeiro bebê. As esposas são mais vulneráveis a um declínio na satisfação conjugal durante a transição para a maternidade, provavelmente porque a esposa tradicionalmente suporta a carga das responsabilidades da criação dos filhos. A decepção no casamento, a negatividade em relação ao cônjuge e o sentimento de caos nas vidas dos casais podem refletir vulnerabilidades no relacionamento e, para alguns, uma sobrecarga de estressores que se torna particularmente problemática durante períodos estressantes. Conclui-se que os padrões interacionais dos casais que caracterizam os casamentos satisfatórios e os insatisfatórios. Os relacionamentos que terminam em divórcio tendem a gravitar na direção dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse e da reciprocidade negativa durante as discussões dos conflitos. Esses casais descrevem seu relacionamento com afeição e expressividade, refletindo a consciência dos esforços do outro que leva ao apoio e encorajamento durante períodos estressantes como a transição para a parentalidade. Posteriormente, quando o estresse já tiver diminuído, esses casais enfatizam o seu trabalho em equipe na superação do problema. O objetivo é combinar prática clínica com pesquisa para criar intervenções efetivas baseadas empiricamente adaptadas às necessidades e valores de cada casal.