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Fichamento Teoria do Conto (Nádia Gotlib)

- No século XIX, nasce aquilo que a autora chama de os contos modernos. Ela cita que eles são
publicados, em boa parte, nos jornais, valendo-se da popularização da imprensa naqueles
anos. Também é o momento em que Edgar Allan Poe se firma como teórico do conto (e
contista).

[Será que houve alguma mudança na literatura e no conto quando ele começa a ser publicado
em jornais? Por ser um meio de massa?]

- “Tratar da teoria do conto é aceitar uma luta em que a força da teoria pode aniquilar a
própria vida do conto” (Gotlib).

- O conto veio do registro oral: era simplesmente o ato cultural de contar estórias, para
transmissão de mitos, preceitos religiosos, moral etc. Aos poucos, o conto se torna um registro
escrito: uma criação literária, uma narrativa autoral. Esta mudança é a mudança do contar
estórias para o elaborar um conto; a mudança de ser um contador de estórias para ser um
contista. Deve haver um resultado de ordem estética, um trabalho autoral no modo de contar.
Pra tal, o contador deve virar um narrador (uma voz inventada pelo autor).

[A ideia inicial é buscar um tema que envolva o conto e a análise do discurso, a começar por
Bakhtin, coisas assim. Ou seja, o conto relacionado à sua historicidade discursiva. São ideias]

- Há todo um esforço a partir de Propp, principalmente, de investigar os elementos constantes


dos contos. Propp faz isso com o conto maravilhoso russo, buscando uma análise formalista, e
chegando a 31 funções (ações constantes nesses contos que, ainda que não estejam todas em
um conto, sempre seguem a mesma sucessão), além de 7 personagens típicos. Tanto Propp,
quanto outros autores, como Greimas, Breimond e Chklovski vão continuar procurando
investigar as constantes dos contos e narrativas em geral. Há um ponto interessante aqui...

- Se as narrativas mais populares pareciam mais propensas a classificações exatas, os contos e


narrativas modernas parecem, segundo essa trajetória teórica, o que é considerado por Gotlib,
serem mais fugidios a esse tipo de classificação. Por quê? Ela pergunta: será que a experiência
moderna é tão múltipla e talvez mais complexa que o conto moderno não é tão redutível a
essas classificações? Boa questão.

- Uma questão colocada por Gotlib é bastante importante. A visão de conto de Poe parece
muito adequada ao conto que ele pratica: conto de suspense, policial. Que teoria é essa? É
uma teoria da “unidade de efeito”. O contista deve saber administrar a extensão do conto com
o efeito que ele deseja produzir. Mais que isso: o contista deve saber, antes de escrever, o
efeito exato que ele deseja produzir no leitor. Saber, então, compor um enredo que mantenha
o leitor envolvido em uma só assentada, e que cada elemento posto no conto sirva para a
eclosão do efeito ao final da narrativa. É uma visão bastante racional, calculista, entendendo o
conto como um projeto muito bem arquitetado pelo contista, uma espécie de máquina
literária de criar interesse, como afirmou Cortázar sobre o método de Poe. Gotlib destaca a
opinião de Cortázar sobre essa fixação de Poe pelo controle do leitor como traços de sua
personalidade orgulhosa, ególatra etc. Interessante isso. Mas, de novo, será que isso serve
para qualquer conto? Não seria uma teoria muito restrita ao modo do Poe de fazer contos?

- Theckhov endossa alguns aspectos de Poe. Como a brevidade, a manutenção do suspense.


Mas, traz um ponto principal a que dá muita importância: a contenção. O contista não deve se
estender em descrições, em criar muitas cenas ou efeitos prolongados. Deve manter justa a
compactação do conto para que seu efeito seja melhor. Excesso de personagens, de cenas, de
descrições, explicações quebram o efeito do bom conto. Por isso dizia que era melhor um
conto que fala menos do que deveria, do que aquele que fala demais.

- A autora destaca mais de uma vez a relação do conto moderno com o crescimento da
imprensa no século XIX. No caso de Tchekhov, ele tinha que escrever com certa agilidade os
contos por conta das encomendas da imprensa.

- Gotlib destaca que Tchekhov inovou nos contos por negar um dos principais aspectos que
definia o conto na tradição: o acontecimento extraordinário, a exemplo de Poe. Nos contos
desse escritor russo, em geral, não há grandes acontecimentos. Os fatos são apresentados com
naturalidade, quebrando aquela necessidade de se chegar a um clímax. Muitas vezes, é o
nada, a ausência de grandes acontecimentos o principal “acontecimento” do conto. Ela chama
atenção justamente para o conto “O acontecimento”. Outro ponto de Tchekhov é que ele dá
mais valor ao meio do conto do que para o início ou desfecho.

- A autora destaca o fato de o conto ter se tornado um gênero comercial, com fórmulas
prontas e exigências dos editores, sobretudo, na realidade americana. Que o conto, nesse
contexto comercial, foi depreciado e banalizado por fórmulas bem comerciais nos EUA.
Exemplo: um início com diálogo, o desenvolvimento da trama e um desfecho impactante,
entre outros pontos.

- A autora fala do conto como algo mais adequado à vida moderna do que o romance. É uma
forma literária que capta situações, impressões e incidentes. Tem esse quê de “factualidade”
ainda que ficcional. Um fato impressionante. Interessante como a notícia parece cumprir um
papel parecido no contexto jornalístico do XIX. [O conto estaria para a notícia, assim como o
romance estaria para os artigos da imprensa mais artesanal? Não sei. É interessante pensar em
algo assim].

- A autora destaca o fato de o conto mais moderno ou contemporâneo ser mais ligado aos
acontecimentos interiores. Às vezes, nada está acontecendo, ou nada aconteceu. Mas
internamente, sim. Diferentemente do conto tradicional, focado em fatos.

- O conto trabalha no campo da síntese, contração e condensação narrativa. Para tal, age na
tensão, na unicidade de evento, em geral unicidade de personagem. O conto é contato a partir
do fim. Ou seja, o autor começa a escrever buscando um efeito específico. O conto é um
particular que explode em universal. Espécie de metonímia da vida.

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