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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

QUÍMICA GERAL

GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO

1 QUÍMICA: A CIÊNCIA QUE ESTUDA A MATÉRIA ....................................................... 5

2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA MATÉRIA .............................................. 8

2.1 Propriedades físicas da matéria ................................................................................. 8

2.2 Propriedades químicas da matéria ........................................................................... 13

3 DIFERENÇA ENTRE MISTURA HOMOGÊNEA E HETEROGÊNEA DE


SUBSTÂNCIAS PURAS ................................................................................................. 18

3.1 Substâncias puras x misturas................................................................................... 19

3.2 Mistura homogênea e heterogênea .......................................................................... 21

4 TEORIA ATÔMICA ...................................................................................................... 24

5 ESTRUTURA DO ÁTOMO .......................................................................................... 27

5.1 O elétron....................................................................................................................27

5.2 Radioatividade.......................................................................................................... 30

5.3 O próton e o núcleo .................................................................................................. 31

5.4 O nêutron...................................................................................................................34

6 CLASSIFICAÇÃO PERIÓDICA DOS ELEMENTOS ................................................... 35

7 CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS DOS CÁTIONS E DOS ÂNIONS ...................... 39

7.1 Íons Derivados dos Elementos Representativos ...................................................... 40

7.2 Cátions Derivados de Metais de Transição .............................................................. 40

8 VARIAÇÃO PERIÓDICA DAS PROPRIEDADES FÍSICAS......................................... 41

8.1 Carga Nuclear Efetiva .............................................................................................. 41

8.2 Raio Atômico ............................................................................................................ 43

9 LIGAÇÕES QUÍMICAS E ELETRONEGATIVIDADE .................................................. 46

9.1 Ligações iônicas ....................................................................................................... 46

1
9.2 Determinação das fórmulas dos compostos iônicos ................................................ 49

9.3 Ligações covalentes ................................................................................................. 49

9.4 Propriedades dos seus compostos ligados covalentemente .................................... 50

9.5 Eletronegatividade .................................................................................................... 51

10 ESTRUTURAS DE LEWIS, A REGRA DO OCTETO E A POLARIDADE DE


LIGAÇÕES......................................................................................................................52

10.1 Estruturas de Lewis e a regra do octeto ................................................................. 52

10.2 Polaridade de ligações ........................................................................................... 54

11 LIGAÇÃO COVALENTE E TABELA PERIÓDICA ..................................................... 56

12 GEOMETRIA MOLECULAR...................................................................................... 60

12.1 Moléculas em que o Átomo Central Não Tem Pares Isolados ............................... 62

13 FORÇAS INTERMOLECULARES ............................................................................. 67

13.1 Forças Dipolo-Dipolo .............................................................................................. 68

13.2 Forças Íon-Dipolo ................................................................................................... 69

13.3 Forças de Dispersão .............................................................................................. 70

13.4 Ligação de Hidrogênio ........................................................................................... 74

14 BALANCEAMENTO DE UMA EQUAÇÃO QUÍMICA ................................................ 78

14.1 Lei de conservação de massa e proporções constantes entre reagentes e produtos


em reações químicas ..................................................................................................... 84

15 QUANTIDADE DE REAGENTES E PRODUTOS EM UMA REAÇÃO QUÍMICA ...... 86

15.1 Quantidade de produtos em reações químicas com reagente limitante ................. 92

16 RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE OS NÚMEROS DE MOL, A MASSA (GRAMAS) E O


VOLUME NA QUANTIDADE DE REAGENTES E PRODUTOS DE UMA REAÇÃO
QUÍMICA.........................................................................................................................95

16.1 Massa x massa ...................................................................................................... 98

16.2 Mol x mol..................................................................................................................99


2
16.3 Massa x mol ......................................................................................................... 100

16.4 Massa x massa .................................................................................................... 100

16.5 Massa x volume ................................................................................................... 101

17 REAÇÕES QUÍMICAS ............................................................................................ 102

18 INTERPRETANDO E ESCREVENDO UMA REAÇÃO QUÍMICA ........................... 104

18.1 Lei de conservação de massa, das proporções constantes e balanceamento de


reações químicas ......................................................................................................... 107

19 CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES QUÍMICAS ...................................................... 114

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Prezado aluno!

O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da


sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual,
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância
exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um
horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A
vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A
organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos
definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 QUÍMICA: A CIÊNCIA QUE ESTUDA A MATÉRIA

O nosso organismo, o alimento que ingerimos, os medicamentos, as nossas


roupas ou o ar que espiramos são exemplo de matéria. Em consenso, a matéria é definida
como tudo que tem massa e ocupa lugar no espaço (BRADY; RUSSEL; HOLUM, 2002).
Preste atenção na palavra massa que utilizamos na frase para definir matéria. Essas
duas palavras frequentemente são empregadas como se fossem sinônimos, o que é
incorreto, pois referem-se a coisas diferentes. Pode-se assim generalizar que todos os
seres e objetos que fazem parte de nosso universo são feitos de matéria.
É importante que você tenha clareza que a palavra massa em vez de peso é mais
correta, pois massa é a quantidade de matéria que existe em um objeto, enquanto peso
é a força que atua sobre um objeto quando ele está em um determinado campo
gravitacional. Pode-se fazer uma simples comparação para que você entenda
conceitualmente a diferença entre massa e peso. Uma maçã é constituída de átomos e
moléculas (pequenas partículas) que, agregadas, formam uma certa quantidade de
matéria e, assim, têm uma certa massa que é independente de sua localização.
Entretanto, o peso da maçã pode variar. Considerando que a fruta esteja na lua, o peso
dela pode ser seis vezes menor que seu peso na superfície do planeta Terra. Por isso
sempre utilize a palavra massa quando expressar quantidade de matéria em um objeto
(BOTH, 2018).
Quando observamos uma amostra de matéria, ela pode estar em um ou mais
dentre três diferentes estados físicos: sólido, líquido e gasoso. A água, uma substância
muito importante dentro do estudo da matéria, pode existir na forma de gelo (sólido), na
forma de água líquida ou como vapor (gás). A forma de apresentação da água depende
da temperatura e da pressão no ambiente. Embora a aparência física desses três estados
da água seja bastante diferente, a estrutura química da água (H2O) é a mesma em todos
eles, apenas a organização molecular e a distância entre as moléculas são diferentes.
Um quarto possível estado de matéria, chamado de plasma, está relacionado com o
estado gasoso e existe sob condições especiais. A matéria no estado de plasma é obtida
por meio do superaquecimento de um gás, causando o rompimento de moléculas,
produzindo íons e elétrons neutros entre si (BOTH, 2018).
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A Figura 1 representa uma situação bastante comum nas regiões de
temperaturas mais amenas, na qual a água se apresenta nos estados sólido, líquido e
gasoso (BOTH, 2018).

Os sólidos ocupam porções definidas do espaço. Eles geralmente têm formas


rígidas que resistem a variações. Os sólidos só podem ser comprimidos, ou seja,
pressionados para ocupar menor espaço, com ligeira alteração de volume. Eles também
expandem, ou seja, ocupam maior volume de forma ligeira quando aquecidos. Exemplos
de sólidos à temperatura ambiente (25ºC e 1 atm): madeira, rocha, osso, sal de cozinha
(NaCl), ferro, entre outros (BOTH, 2018).
Os líquidos também ocupam porções fixas do espaço, mas não têm formas
rígidas, pois tomam forma dos seus recipientes, enchendo-os a partir do fundo, ou de sua
base. Os líquidos podem ser comprimidos apenas ligeiramente e, quando aquecidos, eles
expendem um pouco mais em comparação com os sólidos. São exemplos de líquidos em
temperatura ambiente: leite, soro fisiológico, sangue, água, metal mercúrio, entre outros
(BOTH, 2018).

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Os gases não ocupam porções definidas do espaço e não têm formas definidas.
Ao contrário, eles expandem sem limite para encher de forma uniforme o espaço
disponível. Os gases podem ser comprimidos para que ocupem volumes ou espaços
muito pequenos. O ar que respiramos é uma mistura de várias substâncias gasosas, ou
seja, o ar é um gás. Se você encher uma seringa de ar, fechar a saída e pressionar o
embolo da seringa, perceberá que o embolo pressiona o ar, diminuindo substancialmente
o volume ocupado. Vapor de água, oxigênio, neônio, hélio, entre outros são exemplos de
gases à temperatura ambiente (BOTH, 2018).
A matéria pode alterar sua forma quando é submetida a alterações de
temperatura, mas não perde sua identidade, ou seja, apenas passa de um estado para
outro. Isso quer dizer que, quando fornecemos ou removemos energia em forma de calor,
podemos mudar a temperatura de uma substância e alterar o estado físico da matéria
(BOTH, 2018).
O estado físico da matéria depende de um equilíbrio entre a energia cinética das
partículas (agitação de moléculas e átomos), que tendem a se manter separadas, e as
forças de atração entre elas, que tendem a aproximá-las (ligações intermoleculares)
(BETTELHEIM et al., 2012). Em altas temperaturas, as moléculas têm alta energia
cinética e se movimentam tão rápido que as forças de atração entre elas são muito fracas
para mantê-las unidas, formado assim o estado gasoso. Em temperaturas mais baixas,
as moléculas se movimentam tão lentamente que as forças de atração entre elas tornam-
se significativas. Quando a temperatura é suficientemente baixa, um gás se condensa e
forma um estado líquido. Moléculas no estado líquido ainda passam umas pelas outras,
mas se deslocam bem mais lentamente que no estado gasoso. Quando a temperatura é
ainda mais baixa, a velocidade das moléculas não permite mais que elas passem umas
pelas outras, formando o estado sólido. Neste, cada molécula tem um certo número de
vizinhos mais próximos, os quais são sempre os mesmos.
É importante salientar que as forças entre as moléculas são as mesmas em todos
os três estados. A diferença é que, no estado gasoso (e em menor grau no estado
líquido), a energia cinética das moléculas é suficientemente grande para superar as
forças de atração entre elas (CHANG; GOLDSBY, 2013).

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A maior parte das substâncias pode existir em qualquer um dos três estados. De
modo típico, um sólido, ao ser aquecido a uma temperatura suficientemente alta, se funde
e se torna um líquido. A temperatura em que essa transformação ocorre é chamada de
ponto de fusão. Aumentando o aquecimento, a temperatura sobe ao ponto em que o
líquido ferve e torna-se um gás. Essa temperatura é chamada de ponto de ebulição.
Entretanto, nem todas as substâncias podem existir nos três estados da matéria. A
madeira e o papel, por exemplo, não podem ser fundidos. Quando aquecidos, ou se
decompõem ou queimam (dependendo se estiverem na presença de ar), mas não se
fundem. Outro exemplo é o açúcar, que não se funde quando aquecido, mas forma uma
substância escura chamada caramelo (BOTH, 2018).

2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA MATÉRIA

2.1 Propriedades físicas da matéria

De forma bem sucinta você já conheceu duas propriedades físicas da matéria: o


ponto de fusão e o ponto de ebulição. Estes estão intimamente relacionados com a
observação de seu aspecto, como cor, estado físico, sua massa, entre outros.
Propriedades como essas, que podem ser observadas e medidas sem alterar a
composição de uma substância, são chamadas de propriedades físicas (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Falando de forma mais específica do aspecto químico atômico, as propriedades
não envolvem mudanças nas distribuições eletrônicas ao redor dos núcleos dos átomos,
ou seja, a composição química básica da espécie não é alterada por fenômenos físicos
(BOTH, 2018).
As propriedades físicas nos permitem classificar e identificar as substâncias.
Ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade, condutividade elétrica, brilho e dureza são
considerados propriedades físicas (BOTH, 2018).
Para entender as propriedades físicas ponto de fusão e ponto de ebulição, vamos
tomar como exemplo a curva de aquecimento da água, representada na Figura 2.

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Sob aquecimento contínuo, a temperatura do gelo aumenta até atingir 0 ºC, mas
permanece constante até que todo gelo se funda, no processo de fusão, ou seja, passa
do estado físico sólido para líquido. Essa temperatura constante corresponde à
temperatura de fusão (TF) ou ponto de fusão do gelo. A temperatura do sistema gelo +
água líquida não varia (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Depois da fusão, a temperatura da água líquida aumenta com o aquecimento até
atingir 100 ºC, quando se inicia a segunda mudança de estado físico, a ebulição, ou seja,
quando a água líquida passa para o estado físico gasoso. Na curva de aquecimento, você
pode observar um segundo patamar paralelo ao eixo do tempo. Note que a temperatura
também permanece constante durante a passagem do líquido para vapor. Essa
temperatura é chamada de temperatura de ebulição (TE) ou ponto de ebulição da água
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
Quando as substâncias estão sob pressão constante (1atm), como a água, as
temperaturas de fusão e de ebulição da água apresentam valores fixos e tabelados. O
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tempo de aquecimento, entretanto, varia de acordo com a quantidade de matéria que
está sendo aquecida e analisada (BOTH, 2018).
O estudo do aquecimento de diversos materiais levou à constatação de que
apenas as substâncias puras, isto é, formadas por um único constituinte como a água,
apresentam temperaturas constantes durante a fusão e a ebulição. Quando são
aquecidas substâncias não puras, como soluções, o comportamento da curva de
aquecimento é alterado. A Figura 3 representa a curva de aquecimento de uma
substância não pura, que poderia ser água misturada com sal de cozinha. Essa mistura
forma uma solução de água e sal (BOTH, 2018).

As misturas não apresentam uma única temperatura de fusão e ebulição. Durante


a mudança de estado físico de uma mistura, observa-se que a temperatura do início da
transformação é diferente da temperatura final. As mudanças de estado ocorrem em uma
faixa de temperatura. Assim, por meio do comportamento durante as mudanças do
estado da matéria, é possível determinar se uma amostra é constituída por uma
substância pura ou uma mistura. No caso da mistura de água e sal, a solução de funde
a uma temperatura menor que 0ºC e entra em ebulição em temperaturas acima de 100ºC.
Em razão dessas características, nos países frios em que a presença de neve é
frequente, a utilização de sal de cozinha para fazer o desgelo das ruas é muito útil. Como

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a água pura se funde a 0ºC, a presença do sal faz com que ocorra o abaixamento da TF
da água, em que ela passa e ser líquida em temperaturas menores que 0ºC, causando o
derretimento do gelo das ruas (BOTH, 2018).
Dentro do estudo das misturas, você precisa prestar atenção no comportamento
das misturas azeotrópicas e eutéticas. A mistura que contém 96% (em volume) de álcool
e 4% (em volume) de água se comporta como uma substância pura durante a ebulição,
isto é, apresenta TE constante. Entretanto, a TF não é constante, mas sim uma faixa de
temperatura. Esse tipo de mistura é chamado de mistura azeotrópica (CHANG;
GOLDSBY, 2013). É comum apresentar a porcentagem, em volume, de um componente
numa mistura por graus Gay-Lussac (ºGL). A mistura que tem 96% de álcool e 4% de
água em volume é conhecida como álcool 96ºGL.
Já uma liga metálica usada como solda é formada por uma mistura que apresenta
63% de estanho e 37% de chumbo. Tal liga se comporta como uma substância pura
durante a fusão, isto é, apresenta TF constante e a TE ocorre em uma faixa de
temperatura não constante. Esse tipo de mistura é chamado de mistura eutética (CHANG;
GOLDSBY, 2013). Algumas misturas de metais que apresentam essa característica são
usadas em soldas, fusíveis e equipamentos de segurança empregados em instalações
elétricas. Quando a intensidade da corrente é muito alta e compromete a segurança da
instalação elétrica, os metais se fundem, interrompendo a partir desse momento a
passagem de corrente elétrica.

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2.2 Propriedades químicas da matéria

As propriedades químicas das substâncias são as que estão associadas com as


reações químicas: processos nos quais as distribuições eletrônicas ao redor dos núcleos
das substâncias participantes são significativamente alteradas, sem variar a composição
nuclear. Em uma reação química, as substâncias interagem entre si para formar outras
substâncias totalmente diferentes, com propriedades também diferentes (ATKINS;
JONES, 2018). Algumas vezes, mudanças que ocorrem numa reação podem ser
bastante radicais ou não. Como exemplo, o processo de formação de ferrugem quando
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o ferro reage em presença de água e ar, a decomposição da água em oxigênio e
hidrogênio pelo processo de hidrólise, a combustão de um palito de fosforo, entre outros.
As propriedades químicas exibem tendências mais acentuadas e podem ser
relacionadas diretamente com as características atômicas. Observe na Figura 5a a
interação entre o sódio e o cloro em uma reação química e como ao final do processo é
formada uma nova substância, diferente das que interagiram inicialmente (BOTH, 2018).

O sódio é um metal. Como todos os outros metais, é um bom condutor elétrico e


apresenta uma superfície brilhante. É um metal muito macio. Sendo fácil cortá-lo com
uma faca comum. Ao reagir com a água a reação é violenta, liberando grande quantidade
de calor e produzindo gás hidrogênio. Nessa reação também é formado o hidróxido de
sódio, conhecido como soda cáustica, que corrói facilmente os tecidos do corpo humano.
Perceba que para que possamos estudar as propriedades químicas da matéria, esta é
destruída, como a realização da combustão do sódio em água. A combustão é uma
propriedade química. Dentre as propriedades químicas podemos citar, ainda, o teste da
chama representado na Figura 5b. Nesse teste, uma substância é introduzida em uma
chama e quando aquecida suficientemente emite uma luz de coloração característica.
Esse ensaio é utilizado para detectar a presença de íons metálicos em amostras,
baseado no espectro de emissão de luz característico de cada elemento. Outros testes
que investigam as propriedades químicas e se relacionam com a maneira como as
substâncias reagem umas com as outras é a partir da utilização de um indicador químico,
ou indicador colorémico, entre eles: solução de iodo (para detecção de amido), licor de
Fehling (para detecção de glicose), água de cal (detecção de dióxido de carbono), sulfato

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de cobre anidro (detecção de água), papel tornassol azul representado na Figura 5c
(detecção de substâncias ácidas/básicas), entre outros (BOTH, 2018).
A seguir você encontra outros exemplos de reações químicas, como oxirredução,
decomposição, combustão e síntese.

Oxirredução

A formação da ferrugem ocorre pela propriedade química de oxidação e redução


de substâncias em uma reação química. Essa propriedade é um dos tipos mais
importantes e comuns de reação química. A oxidação é a perda de elétrons para a
substância que vai reagir com ela. A redução é o ganho de elétrons cedidos pela
substância oxidada. Esse tipo de reação envolve a transferência de elétrons entre as
substâncias. Você sabe que objetos de ferro ou aço, quando são expostos ao ar,
enferrujam (o aço é na maior parte ferro, mas contém alguns outros elementos também).
Ao enferrujar, o ferro é oxidado a uma mistura de óxidos de ferro. Pode-se representar a
reação principal da seguinte maneira (Figura 6) (BOTH, 2018).

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Como vemos, o ferro sólido interage com oxigênio e forma óxido de ferro (BOTH,
2018).

Decomposição

As reações de decomposição são reações que consistem na transformação de


um composto em outros compostos mais simples ou elementos. Compostos binários
simples (compostos de dois elementos) podem ser decompostos em seus elementos. A
água, por exemplo, é decomposta em moléculas de hidrogênio e oxigênio por uma
corrente elétrica. Esse processo, chamado de eletrólise, é mostrado na Figura 7 (BOTH,
2018):

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Combustão

Uma reação de combustão envolve a queima de alguma substância. Como


exemplo, os combustíveis, como gasolina, óleo diesel, óleo combustível, gás natural,
carvão madeira, papel, entre outros. Todos esses materiais contêm carbono, exceto o
carvão, e também têm hidrogênio. Se a combustão for completa, o carbono reage com
oxigênio, com ajuda de uma fonte de energia externa, fogo de um palito de fósforo ou
faísca da bateria de um carro, e o transforma em CO2, gás carbônico; o hidrogênio será
transformado em água e ocorre liberação de energia em forma de calor e luz. A interação
de carbono e hidrogênio ocorre com oxigênio do ar (BOTH, 2018).

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Síntese

As reações de síntese são reações nas quais duas ou mais substâncias se


combinam para formar uma outra substância. A síntese da amônia é um exemplo de uma
reação de combinação. Nesse caso, dois elementos, nitrogênio e hidrogênio, se
combinam para formar amônia. A reação química está representada a seguir (BOTH,
2018).

N2 + 3 H2 → NH3

3 DIFERENÇA ENTRE MISTURA HOMOGÊNEA E HETEROGÊNEA DE


SUBSTÂNCIAS PURAS

Neste estudo, é importante que você tenha clareza do que é uma substância
química, uma vez que essa expressão é essencial no estudo da química. Uma substância
é definida como uma porção de matéria que tem propriedades bem definidas e que lhe
são características. Anteriormente, já abordamos propriedades físicas e químicas que
são próprias de algumas substâncias. Dentre elas, estão o ponto de fusão, o ponto de
ebulição, a densidade, o fato de ser inflamável ou não, a cor, o odor, entre outras. Duas
substâncias diferentes podem, eventualmente, ter algumas propriedades iguais, mas
nunca todas elas. Caso aconteça de todas as propriedades de duas substâncias serem
iguais, então elas são, na verdade, a mesma substância (BOTH, 2018).
Na Figura 8 são mostrados exemplos de substâncias e são mencionadas
algumas de suas propriedades (BOTH, 2018).

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3.1 Substâncias puras x misturas

A água tem densidade 1,00 g/cm³ e o cloreto de sódio 2,17 g/cm³. Ao acrescentar
cloreto de sódio à água e mexer, obtém-se uma mistura cuja densidade é diferente da
dos dois componentes isolados. Analise o Quadro 1, que ajuda a esclarecer esse ponto
(BOTH, 2018).

Como se pode perceber, qualquer mistura de água e cloreto de sódio tem uma
densidade tal que não lhe permite ser classificada nem como água pura nem como sal
(BOTH, 2018).

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Verifica-se experimentalmente que uma mistura de água e cloreto de sódio,
colocada num congelador, não congela a 0ºC. Esse sistema inicia seu congelamento
abaixo de 0ºC (o valor exato depende do teor de sal) e a temperatura não permanece
constante durante o congelamento, mas diminui gradualmente (BOTH, 2018).
Quando aquecida, verifica-se que o sistema não entra em ebulição a 100ºC. Ele
começa a ferver acima de 100ºC (assim como no congelamento, a TE de pende do teor
de sal) e a temperatura não permanece constante durante a ebulição, mas aumenta
progressivamente, como visto anteriormente (BOTH, 2018).
Você pode perceber, portanto, que uma mistura de água e cloreto de sódio tem
propriedades que não são características da água nem do sal. Em posse de todas essas
análises e constatações, podemos estabelecer uma importante diferença entre
substância pura e mistura. Uma substância pura, como o próprio nome diz, está pura, ou
seja, não está misturada com outra substância ou com outras substâncias. Em geral,
quando um químico se refere, por exemplo, à substância água, ele está deixando
subentendido que se refere à substância pura água. Já uma mistura é uma porção de
matéria que corresponde à adição de duas ou mais substâncias puras (ATKINS; JONES,
2018). A partir do memento em que elas são adicionadas, deixam obviamente de ser
consideradas sustâncias puras. Elas passam a ser as substâncias componentes da
mistura que forma um sistema.
Veja a seguir outros exemplos de misturas.

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3.2 Mistura homogênea e heterogênea

A natureza apresenta uma grande diversidade de materiais. É preciso analisar a


composição e as propriedades desses materiais para que eles possam ser utilizados ou
transformados nos mais diversos objetos. Para facilitar a análise dos materiais, os
cientistas delimitaram uma porção do universo que será o foco da análise e receberá o
nome de sistema. Dessa forma, vamos chamar uma mistura de 2 ou mais substâncias
de sistema. Como no estudo acima, a mistura de água e sal passará a ser chamada de
sistema água e sal (BOTH, 2018).
Sempre é bom ressaltar que o estado de um sistema é descrito pelas
propriedades gerais e especificas dos materiais que o compõem, incluindo as condições
de pressão e de temperatura em que se encontram (BOTH, 2018).

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Um sistema pode ser classificado como homogêneo ou heterogêneo,
dependendo do seu aspecto. Uma porção de água filtrada apresenta um único aspecto
em todos os seus pontos e, por isso, corresponde a um sistema homogêneo. Um pedaço
de madeira não apresenta aspecto uniforme em sua extensão e corresponde a um
sistema heterogêneo. Cada um dos diferentes aspectos observados em um sistema é
chamado de fase. Fase é uma porção do sistema que apresenta as mesmas
características em todos os seus pontos, sendo, portanto, de aspectos uniformes mesmo
quando observada no microscópio comum (BOTH, 2018).
O sistema homogêneo apresenta aspecto uniforme e as mesmas características
em toda a sua extensão. Esse sistema é monofásico (constituído por uma única fase)
(ATKINS; JONES, 2018). O sistema heterogêneo apresenta aspectos e características
diferentes em sua extensão. Esse sistema pode ser formado por duas fases (bifásico),
três fases (trifásico) ou mais (polifásico) (ATKINS; JONES, 2018). A Figura 10 apresenta
dois exemplos de sistemas: a gasolina é um exemplo de sistema homogêneo formado
por hidrocarbonetos que têm de 6 a 10 átomos de carbono e etanol. Já o granito é
exemplo de sistema heterogêneo formado por concentrações diferentes de minerais na
pedra.

Apesar de a classificação visual ser da maior importância para definir se um


sistema é homogêneo ou heterogêneo, a observação a olho nu nem sempre é confiável.
O leite, por exemplo, tem pequenas porções de gordura dispersas no líquido, tornando-
se, portanto, de um sistema heterogêneo (BOTH, 2018).
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Os sistemas homogêneos e heterogêneos podem se apresentar nos três estados
físicos da matéria. Por isso existem os sistemas homogêneos sólidos. As ligas metálicas
são misturas sólidas e homogêneas. Latão (compostos por cobre + zinco), bronze
(mistura de cobre e estanho) e aço (mistura de ferro e carbono) são alguns exemplos de
ligas metálicas (BOTH, 2018).
O ar atmosférico também constitui um sistema homogêneo, entretanto, gasoso.
Ele é formado, principalmente, por nitrogênio, oxigênio e argônio. Nele também são
encontrados outros gases (como o gás carbônico) em pequenas concentrações. É
importante ressaltar que todos os sistemas gasosos são homogêneos. Mesmo que um
dos gases seja colorido, depois de algum tempo as substâncias gasosas se misturam
uniformemente, formando uma mistura homogênea (BOTH, 2018).
No Quadro 2 estão relacionados outros sistemas e sua classificação (BOTH,
2018).

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4 TEORIA ATÔMICA

No século V a. c., o filósofo grego Demócrito exprimiu a crença de que toda a


matéria consistia em partículas, muito pequenas e indivisíveis, às quais ele chamou de
átomos (que significa indivisível). Embora a ideia de Demócrito não tenha sido aceita por
muitos dos seus contemporâneos (como Platão e Aristóteles), ela prevaleceu. Resultados
experimentais de investigações científicas apoiaram o conceito de “atomismo” e
gradualmente fizeram surgir as definições modernas de elementos e compostos. Em
1808, o cientista e professor inglês John Dalton (1766-1844) formulou uma definição
precisa dos blocos indivisíveis constituintes da matéria aos quais chamamos de átomos.
O trabalho de Dalton marcou o início da era moderna da química. As hipóteses
acerca da natureza da matéria na qual a teoria atômica de Dalton se baseia podem ser
resumidas da seguinte forma:

1. Os elementos são constituídos por partículas extremamente pequenas


chamadas de átomos.
2. Todos os átomos de um dado elemento são idênticos, tendo a mesma
dimensão, massa e propriedades químicas. Os átomos de um elemento
são diferentes dos átomos de todos os outros elementos.

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3. Os compostos são constituídos por átomos de mais de um elemento. Em
qualquer composto, a razão entre os números de átomos de quaisquer
dois elementos presentes é um número inteiro ou uma fração simples.
4. Uma reação química envolve apenas a separação, a combinação ou o
rearranjo dos átomos: não resulta na sua criação ou destruição.

A Figura 2.1 é uma representação esquemática das últimas três hipóteses.

Figura 2.1 (a) De acordo com a teoria atômica de Dalton, os átomos do mesmo elemento são
idênticos, mas os átomos de um elemento são diferentes dos átomos de outros elementos. (b) Um
composto formado por átomos dos elementos X e Y. Neste caso, a razão entre o número de átomos do
elemento X e dos átomos do elemento Y é 2:1. Repare que uma reação química resulta apenas no
rearranjo de átomos, não na sua destruição ou criação.

O conceito de átomo de Dalton era bem mais detalhado e específico do que o de


Demócrito. A segunda hipótese afirma que os átomos de um elemento são diferentes dos
átomos de todos os outros elementos. Dalton não tentou descrever a estrutura ou
composição dos átomos – ele não fazia ideia de como era na realidade um átomo. Mas
percebeu que as diferentes propriedades apresentadas por elementos como o hidrogênio
e o oxigênio podem ser explicadas ao supor que os átomos de hidrogênio não são os
mesmos que os átomos de oxigênio (GOLDSBY, 2013).
A terceira hipótese sugere que, para formar um certo composto, precisamos não
só de átomos dos elementos certos, mas também de números específicos destes átomos.
Esta ideia é uma extensão de uma lei publicada em 1799 pelo químico francês Joseph
Proust (1754-1826). A lei das proporções definidas de Proust afirma que amostras

25
diferentes do mesmo composto contêm sempre a mesma proporção das massas dos
seus elementos constituintes. Assim, se analisássemos amostras de dióxido de carbono
gasoso obtidas de fontes diferentes, encontraríamos em cada amostra a mesma razão
entre as massas de carbono e de oxigênio. É então aceitável que, se a razão entre as
massas dos diferentes elementos em um dado composto é fixa, a razão do número de
átomos destes elementos também deverá ser constante.
A terceira hipótese de Dalton apoia outra lei importante, a lei das proporções
múltiplas. De acordo com esta lei, se dois elementos podem se combinar para formar
mais de um composto, as massas de um elemento que se combinam com uma dada
massa do outro elemento estão na razão de números pequenos e inteiros. A teoria de
Dalton explica a lei das proporções múltiplas de uma forma muito simples: compostos
diferentes constituídos pelos mesmos elementos diferem no número de átomos de cada
espécie que se combinam. Por exemplo, o carbono forma dois compostos estáveis com
o oxigênio, nomeadamente, o monóxido de carbono e o dióxido de carbono. As técnicas
de medição modernas indicam que um átomo de carbono se combina com um átomo de
oxigênio no monóxido de carbono e com dois átomos de oxigênio no dióxido de carbono.
Assim, a razão entre o oxigênio no monóxido de carbono e o oxigênio no dióxido de
carbono é 1:2. Este resultado é consistente com a lei das proporções múltiplas (Figura
2.2) (GOLDSBY, 2013).
A quarta hipótese de Dalton é outra forma de exprimir a lei da conservação da
massa, que diz que a matéria não pode ser criada nem destruída. Como a matéria é
constituída por átomos que não são alterados em uma reação química, então a massa
também deve se conservar. A brilhante visão de Dalton sobre a natureza da matéria foi
o principal estímulo para o progresso rápido da química no século XIX (GOLDSBY, 2013).

26
5 ESTRUTURA DO ÁTOMO

Com base na teoria atômica de Dalton, podemos definir um átomo como a


unidade básica de um elemento que pode entrar em uma combinação química. Dalton
imaginou um átomo que era simultaneamente indivisível e extremamente pequeno.
Contudo, diversas investigações que tiveram início na década de 1850 e se estenderam
até o século XX demonstraram que os átomos possuem na realidade uma estrutura
interna; isto é, são constituídos por partículas ainda menores, chamadas partículas
subatômicas. Esta investigação levou à descoberta de três destas partículas – os
elétrons, os prótons e os nêutrons (GOLDSBY, 2013).

5.1 O elétron

Na década de 1890 muitos cientistas foram “apanhados” pelo estudo da


radiação, a emissão e transmissão de energia através do espaço na forma de ondas. A
informação ganha com esta investigação contribuiu muito para a compreensão da
estrutura atômica. Um instrumento usado para investigar este fenômeno é a ampola de
raios catódicos, o precursor do tubo de imagem da televisão (Figura 2.3). Trata-se de um
tubo de vidro de onde se retirou a maior parte do ar. Quando se ligam as duas placas
metálicas à fonte de alta tensão, a placa carregada negativamente, chamada cátodo,
emite uma radiação invisível. Os raios catódicos são atraídos para a placa com carga
positiva, chamada ânodo, onde passam através de um orifício e continuam o percurso
até a outra extremidade do tubo. Quando os raios atingem a superfície com um
revestimento especial, produzem uma fluorescência forte, ou uma luz intensa
(GOLDSBY, 2013).
Em algumas experiências foram adicionadas duas placas carregadas
eletricamente e um ímã colocado no exterior da ampola de raios catódicos (ver Figura
2.3). Na presença do campo magnético e na ausência do campo elétrico, os raios
catódicos atingem o ponto A. Quando se aplica apenas o campo elétrico, os raios atingem
o ponto C. Quando ambos os campos, elétrico e magnético, estão desligados, ou ligados
mas equilibrados de modo que anulam a influência um do outro, a radiação atinge o ponto
27
B. De acordo com a teoria eletromagnética, um corpo carregado em movimento
comporta-se como um ímã e pode interagir com os campos elétrico e magnético que
atravessa. Dado que os raios catódicos são atraídos pela placa com carga positiva e
repelidos pela placa com carga negativa, eles devem ser constituídos por partículas com
carga negativa. Conhecemos estas partículas com carga negativa como elétrons. A
Figura 2.4 mostra o efeito de um ímã nos raios catódicos (GOLDSBY, 2013).

Figura 2.3 Uma ampola de raios catódicos com um campo elétrico perpendicular à direção dos
raios catódicos e um campo magnético exterior. Os símbolos N e S representam os polos norte e sul do
ímã. Os raios catódicos atingirão a extremidade da ampola em A na presença do campo magnético, em C
na presença de um campo elétrico, e em B quando não houver campos exteriores ou quando os efeitos
do campo elétrico e magnético se anularem.

Figura 2.4 (a) Um raio catódico produzido em uma ampola seguindo do cátodo (esquerda) para
o ânodo (direita). O raio em si é invisível, mas a fluorescência do revestimento de sulfeto de zinco sobre o
vidro faz com que apareça em verde. (b) O raio catódico é dobrado para baixo quando o ímã se desloca
na sua direção (c) Quando a polaridade do ímã é invertida, o raio curva-se na direção oposta.

28
O físico inglês J. J. Thomson (1856-1940) usou a ampola de raios catódicos e o
seu conhecimento da teoria eletromagnética para determinar a razão entre a carga
elétrica e a massa de um elétron. O número que ele encontrou foi -1,76 x 108 C/g, onde
C é o coulomb, que é a unidade de carga elétrica. A partir daí, em uma série de
experiências realizadas entre 1908 e 1917, R. A Millikan (1868-1953) conseguiu medir a
carga do elétron com grande precisão. O seu trabalho mostrou que a carga de cada
elétron era exatamente a mesma. Na sua experiência, Millikan examinou o movimento
de minúsculas gotas de óleo que apanhavam cargas estáticas de íons presentes no ar.
Ele suspendeu as gotas carregadas no ar aplicando-lhes um campo elétrico e seguiu os
seus movimentos utilizando um microscópio (Figura 2.5). Aplicando os seus
conhecimentos de eletrostática, Millikan achou que a carga do elétron era -1,6022 10-19
C. A partir deste resultado, ele calculou a massa do elétron:

Esta massa é extremamente pequena.

Figura 2.5 Diagrama esquemático da experiência da gota de óleo de Millikan.

29
5.2 Radioatividade

Em 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen (1845-1923) reparou que os raios


catódicos faziam o vidro e os metais emitirem uma radiação incomum. Esta radiação
altamente energética penetrava a matéria, escurecia placas fotográficas cobertas e
provocava fluorescência em várias substâncias. Como estes raios não eram defletidos
por um ímã, não podiam conter partículas com carga, à semelhança dos raios catódicos.
Röntgen chamou-lhes raios X porque a sua natureza era desconhecida.
Pouco depois da descoberta de Röntgen, Antoine Becquerel (1852-1908),
professor de física em Paris, começou a estudar as propriedades de fluorescência das
substâncias. Por mero acidente, ele verificou que a exposição de placas fotográficas
envolvidas em um revestimento espesso a certos compostos de urânio provocava o seu
escurecimento mesmo sem a estimulação dos raios catódicos. Tal como os raios X, os
raios do composto de urânio eram muito energéticos e não eram defletidos por um ímã,
mas distinguiam-se dos raios X porque apareciam espontaneamente. Um dos estudantes
de Becquerel, Marie Curie (1867-1934), sugeriu o nome radioatividade para descrever
esta emissão espontânea de partículas e/ou radiação. Desde então, qualquer elemento
que emita radiação espontaneamente é chamado de radioativo.
Na desintegração ou quebra de substâncias radioativas, como o urânio, são
produzidos três tipos de radiação, dois dos quais são defletidos por placas metálicas com
cargas opostas (Figura 2.6). A radiação alfa (α) consiste em partículas com carga
positiva, chamadas partículas α, e são defletidas pela placa com carga positiva. A
radiação beta (β), ou partículas β, são elétrons e são defletidos pela placa com carga
negativa. O terceiro tipo de emissão radioativa consiste em raios de elevada energia
chamada raios gama (γ). Tal como os raios X, os raios γ não têm carga e não são
afetados por um campo externo (GOLDSBY, 2013).

30
Figura 2.6 Os três tipos de raios emitidos por elementos radioativos. Os raios consistem em
partículas com carga negativa (elétrons) e são, portanto, atraídos pela placa carregada positivamente. O
oposto é válido para os raios – eles têm carga positiva e são puxados para a placa com carga negativa.
Como os raios y não têm carga, o seu percurso não é afetado por um campo elétrico exterior.

5.3 O próton e o núcleo

No início do século XX, duas características dos átomos se tornaram claras: eles
continham elétrons e eram eletricamente neutros. Para manter a neutralidade elétrica,
um átomo deve conter um número igual de cargas positivas e negativas. Por isso,
Thomson propôs que um átomo podia ser imaginado como uma esfera uniforme de
matéria, com carga positiva, na qual os elétrons estão embebidos como passas em um
bolo (Figura 2.7). Este modelo chamado de “pudim de passas” foi a teoria aceita durante
muitos anos (GOLDSBY, 2013).

31
Figura 2.7 O modelo de átomo de Thomson, por vezes descrito como o modelo do “pudim de
passas”, uma sobremesa tradicional inglesa. Os elétrons estão embebidos em uma esfera uniforme com
carga positiva.

Em 1910, o físico neozelandês Ernest Rutherford (1872-1937), que tinha


estudado com Thomson na Universidade de Cambridge, decidiu usar partículas α para
estudar a estrutura dos átomos. Junto com o seu colega Hans Geiger (1852-1943) e um
estudante chamado Ernest Marsden (1889-1920), Rutherford realizou uma série de
experiências usando lâminas muito finas de ouro e de outros metais como alvos para as
partículas α de uma fonte radioativa (Figura 2.8). Eles observaram que a maioria das
partículas penetrava a lâmina sem desvio ou com apenas uma ligeira deflexão. Mas de
vez em quando uma partícula α era difratada (ou defletida) em um ângulo grande. Em
alguns casos, a partícula α era ricocheteada na direção de onde tinha vindo! Este foi um
achado surpreendente, pois, no modelo de Thomson, a carga positiva do átomo era tão
difusa que as partículas α positivas deveriam ter atravessado a lâmina com desvios muito
pequenos. Citamos a reação inicial de Rutherford quando informado desta descoberta:
“Era tão inacreditável como se tivéssemos disparado uma bala de 15 polegadas (cerca
de 38 cm) contra uma folha de papel de seda e ela voltasse para trás e nos atingisse. ”

32
Figura 2.8 (a) Esquema da experiência de Rutherford para medir a dispersão das partículas α
por uma lâmina de ouro. A maioria das partículas α atravessa a lâmina de ouro praticamente sem ser
defletida. Algumas são defletidas em grandes ângulos. Ocasionalmente, uma partícula α é desviada em
sentido contrário. (b) Uma visão ampliada das partículas α atravessando e sendo defletidas pelos
núcleos.

Mais tarde, Rutherford conseguiu explicar os resultados da experiência de


difração de partículas α em termos de um novo modelo para o átomo. De acordo com
Rutherford, a maior parte do átomo deve ser espaço vazio. Isso explica a razão pela qual
a maioria das partículas α atravessa a lâmina de ouro praticamente sem desvio.
Rutherford propôs que as cargas positivas do átomo se encontravam todas concentradas
no núcleo, que é um cerne denso no interior do átomo. Sempre que uma partícula α se
aproximava de um núcleo na experiência de difração, ela sofria uma grande força de
repulsão e, portanto, era muito defletida. Além disso, uma partícula α cujo percurso se
dirigisse diretamente para o núcleo seria completamente repelida e a sua direção seria
invertida (GOLDSBY, 2013).
As partículas com carga positiva no núcleo chamam-se prótons. Em
experiências separadas, verificou-se que cada próton transporta a mesma quantidade de
carga que um elétron e tem uma massa de 1,67262 x 10-24 g – cerca de 1840 vezes a
massa do elétron, que tem carga contrária (GOLDSBY, 2013).
Nesta fase da investigação, os cientistas entendiam o átomo da seguinte
maneira: a massa do núcleo constitui a maior parte da massa de todo o átomo, mas o
núcleo ocupa apenas cerca de 1/1013 do volume do átomo. Representamos as dimensões
atômicas (e moleculares) em termos da unidade SI chamada picômetro (pm), onde

1 pm = 1 x 10-12 m
33
Um raio atômico típico é de aproximadamente 100 pm, enquanto o raio de um
núcleo atômico é apenas cerca de 5 x 10-3 pm. Podemos ter uma ideia das dimensões
relativas de um átomo e do seu núcleo imaginando que se um átomo fosse do tamanho
de um estádio esportivo, o volume do seu núcleo seria comparável ao de uma bolinha de
gude. Apesar de os prótons estarem confinados ao núcleo do átomo, os elétrons
aparecem espalhados à volta do núcleo e a alguma distância deste (GOLDSBY, 2013).
O conceito de raio atômico é útil experimentalmente, mas não devemos inferir
que os átomos têm limites ou superfícies bem definidas. Aprenderemos mais tarde que a
região externa dos átomos é um tanto “nebulosa” (GOLDSBY, 2013).

5.4 O nêutron

O modelo de estrutura atômica de Rutherford deixou um grande problema por


resolver. Sabia-se que o átomo de hidrogênio, o átomo mais simples, contém apenas um
próton e o átomo de hélio contém dois prótons. Portanto, a razão entre a massa do átomo
de hélio e a massa do átomo de hidrogênio deveria ser 2:1. (Como os elétrons são muito
mais leves do que os prótons, a sua contribuição para a massa atômica pode ser
desprezada.) Na realidade, contudo, a razão é 4:1. Rutherford e outros postularam que
devia existir outro tipo de partícula subatômica no núcleo atômico; a prova foi fornecida
por outro físico inglês, James Chadwick (1891-1972), em 1932. Quando Chadwick
bombardeou uma folha fina de berílio com partículas α, o metal emitiu uma radiação de
energia muito elevada, semelhante aos raios y. Experiências posteriores mostraram que
a radiação era constituída por um terceiro tipo de partículas subatômicas, às quais
Chadwick denominou de nêutrons, porque elas mostraram ser partículas eletricamente
neutras com uma massa ligeiramente superior à massa dos prótons. O mistério da razão
das massas podia agora ser explicado. No núcleo de hélio há dois prótons e dois
nêutrons, mas no núcleo de hidrogênio há apenas um próton e nenhum nêutron, daí a
razão 4:1.

34
A Figura 2.9 mostra a localização das partículas elementares (prótons, nêutrons
e elétrons) em um átomo. Existem outras partículas subatômicas, mas o próton, o elétron
e o nêutron são os três componentes fundamentais do átomo (GOLDSBY, 2013).

Figura 2.9 Os prótons e os nêutrons de um átomo estão contidos em um núcleo extremamente


pequeno. Os elétrons são apresentados como nuvens em torno do núcleo.

6 CLASSIFICAÇÃO PERIÓDICA DOS ELEMENTOS

A Figura 8.1 mostra a tabela periódica juntamente com as configurações


eletrônicas das camadas mais externas dos elementos no estado fundamental.
Começando com o hidrogênio. Conforme o tipo de subcamada que está sendo
preenchida, os elementos podem ser divididos em categorias — os elementos
representativos, os gases nobres, os elementos de transição (ou metais de transição), os
lantanídeos e os actinídeos. De acordo com a Figura 8.1, os elementos representativos
(também chamados de elementos do grupo principal) são os elementos dos Grupos 1A
a 7A, em que todos têm subcamadas s ou p, do número quântico principal mais alto,
parcialmente preenchidas. Com exceção do hélio, os gases nobres (os elementos do
Grupo 8A) têm todos a subcamada p totalmente preenchida (As configurações
eletrônicas são 1s2 para o hélio e ns2np6 para os outros gases nobres, em que n é o
número quântico principal da camada mais externa). Os metais de transição são os
elementos dos Grupos 1B e 3B a 8B (ou 3 a 11), que têm subcamadas d parcialmente

35
preenchidas ou facilmente produzem cátions com subcamadas d parcialmente
preenchidas (Esses metais são, às vezes, chamados de elementos de transição do bloco
d). Os elementos do Grupo 2B ou 12 (Zn, Cd e Hg) não são nem elementos
representativos nem metais de transição. Não há nenhum nome especial para esse grupo
de metais. Os lantanídeos e os actinídeos são, muitas vezes, chamados de elementos
de transição do bloco f, pois têm subcamadas f parcialmente preenchidas (CHANG,
2013).

Figura 8.1 Configurações eletrônicas do estado fundamental dos elementos. Para simplificar,
apenas são indicadas as configurações dos elétrons das camadas mais externas.

Quando examinamos as configurações eletrônicas de dado grupo, observa-se


um padrão de distribuição. As configurações eletrônicas dos elementos dos Grupos 1 e
2 estão apresentadas na Tabela 8.1. Todos os metais alcalinos do Grupo 1A têm
configurações eletrônicas da camada mais externa semelhantes: cada um tem um cerne
de gás nobre e uma configuração ns1 para o elétron mais externo. Do mesmo modo, os
metais alcalino-terrosos do Grupo 2 têm um cerne de gás nobre e uma configuração ns 2
para os elétrons da última camada. Os elétrons das camadas mais externas de um átomo,

36
os que estão envolvidos nas ligações químicas, são frequentemente denominados
elétrons de valência. A semelhança na configuração eletrônica da camada mais externa
(isto é, na configuração dos elétrons de valência) é responsável pelo fato de os elementos
de um mesmo grupo apresentarem comportamento químico similar. Essa observação é
válida também para os halogênios (os elementos do Grupo 17), que possuem
configuração eletrônica da camada mais externa ns2 np5 e exibem propriedades muito
semelhantes. Temos de ter cuidado, contudo, ao prever propriedades dos elementos dos
Grupos 13 a 16. Por exemplo, os elementos do Grupo 14 possuem a mesma configuração
eletrônica da camada mais externa, (ns2 np2), mas há uma variação nas propriedades
químicas desses elementos: o carbono é um não-metal, o silício e o germânio são
semimetais, e o estanho e o chumbo são metais (CHANG, 2013).

Como um grupo, os gases nobres comportam-se de forma muito semelhante.


Com exceção do criptônio e do xenônio, os demais elementos são totalmente inertes
quimicamente. A razão é que esses elementos possuem as subcamadas ns 2 np6 mais
externas totalmente preenchidas, uma condição que representa grande estabilidade.
Embora a configuração eletrônica das camadas mais externas dos elementos de
transição não seja sempre a mesma dentro do grupo e não haja um padrão regular na
variação da configuração eletrônica de um metal para o seguinte no mesmo período,
todos os metais de transição partilham muitas características que os distinguem dos
outros elementos. A razão é que esses metais têm uma subcamada d parcialmente
37
preenchida. Do mesmo modo, os lantanídeos (e os actinídeos) assemelham-se uns aos
outros porque possuem subcamadas f parcialmente preenchidas. A Figura 8.2 mostra os
grupos de elementos discutidos aqui (CHANG, 2013).

Figura 8.2 A classificação dos elementos. Note que os elementos do Grupo 12 são muitas
vezes classificados como metais de transição mesmo que não apresentem as características dos metais
de transição.

38
7 CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS DOS CÁTIONS E DOS ÂNIONS

Como muitos compostos iônicos são constituídos por ânions e cátions


monoatômicos, é útil saber como escrever as configurações eletrônicas dessas espécies
iônicas. O procedimento para escrever as configurações eletrônicas dos íons requer
apenas uma pequena extensão do método usado para os átomos neutros. Para a
discussão, agruparemos os íons em duas categorias (CHANG, 2013).

39
7.1 Íons Derivados dos Elementos Representativos

Na formação de um cátion a partir do átomo neutro de um elemento


representativo, um ou mais elétrons são removidos da camada n mais alta ocupada. A
seguir estão as configurações eletrônicas de alguns átomos e dos seus cátions
correspondentes (CHANG, 2013):

Observe que cada íon tem uma configuração estável de gás nobre (CHANG,
2013).
Na formação de um ânion, são acrescentados um ou mais elétrons à camada n
mais alta parcialmente preenchida. Considere os exemplos seguintes:

Novamente, todos esses ânions têm também a configuração estável de gás


nobre. Portanto, uma característica da maioria dos elementos representativos é que os
íons derivados de seus átomos neutros possuem a configuração eletrônica da camada
mais externa de gás nobre ns2np6. Os átomos ou íons que possuem o mesmo número
de elétrons e, por isso, a mesma configuração eletrônica no estado fundamental são
isoeletrônicos. Assim, o H- e o He são isoeletrônicos; F-, Na+ e Ne também são
isoeletrônicos (CHANG, 2013).

7.2 Cátions Derivados de Metais de Transição

Na Seção 7.9, vimos que, nos metais de transição da primeira fila (Sc a Cu), o
orbital 4s é sempre preenchido antes dos orbitais 3d. Considere o manganês cuja

40
configuração eletrônica é [Ar]4s23d5. Quando se forma o íon Mn2+, podemos esperar a
remoção de dois elétrons do orbital 3d para gerar a configuração [Ar]4s23d3. Na realidade,
a configuração eletrônica do Mn2+ é [Ar]3d5! A razão para isso acontecer é que as
interações elétron-elétron e elétron-núcleo em um átomo neutro podem ser bastante
diferentes das do seu íon. Assim, enquanto o orbital 4s é sempre preenchido antes do
orbital 3d no Mn, os elétrons são removidos do orbital 4s para formar o íon Mn 2+ porque
os orbitais 3d são mais estáveis que o orbital 4s nos íons dos metais de transição. Por
isso, quando se forma um cátion a partir de um átomo de um metal de transição, os
elétrons são sempre removidos primeiro do orbital ns e depois dos orbitais (n - 1)d
(CHANG, 2013).
Lembre-se de que a maior parte dos metais de transição pode formar mais de
um cátion e que frequentemente esses cátions não são isoeletrônicos com o gás nobre
precedente (CHANG, 2013).

8 VARIAÇÃO PERIÓDICA DAS PROPRIEDADES FÍSICAS

Como vimos, as configurações eletrônicas dos elementos apresentam uma


variação periódica à medida que aumenta o número atômico. Consequentemente, há
também variações periódicas no comportamento físico e químico. Nessa seção e nas
duas seguintes, examinaremos algumas propriedades físicas dos elementos que estão
no mesmo grupo ou período e outras propriedades que influenciam o comportamento
químico dos elementos. Primeiro, olhemos para o conceito de carga nuclear efetiva, que
tem um efeito direto nas dimensões atômicas e na tendência para a ionização (CHANG,
2013).

8.1 Carga Nuclear Efetiva

No Capítulo 7, discutimos o efeito de blindagem que os elétrons próximos do


núcleo exercem sobre os elétrons das camadas exteriores em átomos com muitos
elétrons. A presença de elétrons que promovem a blindagem reduz a atração eletrostática
entre os prótons com carga positiva do núcleo e os elétrons exteriores. Além disso, as
41
forças repulsivas entre os elétrons em um átomo com muitos elétrons reduzem ainda
mais a força atrativa exercida pelo núcleo. O conceito de carga nuclear efetiva permite-
nos ter em conta esses efeitos de blindagem nas propriedades periódicas (CHANG,
2013).
Considere, por exemplo, o átomo de hélio, que tem a configuração 1s 2 no estado
fundamental. Os dois prótons do hélio conferem ao núcleo a carga +2, mas a força
atrativa total dessa carga sobre os dois elétrons 1s é parcialmente compensada pela
repulsão elétron-elétron. Consequentemente, dizemos que os elétrons 1s blindam um ao
outro do núcleo. A carga nuclear efetiva (Zef), que é a carga sentida por um elétron, é
dada por

em que Z é a carga nuclear real (isto é, o número atômico do elemento) e s (sigma) é


chamada a constante de blindagem. A constante de blindagem é maior que zero, porém
menor que Z (CHANG, 2013).
Uma maneira de ilustrar a blindagem dos elétrons é considerar a quantidade de
energia necessária para remover os dois elétrons do átomo de hélio. As medidas
mostram que são necessários 2373 kJ de energia para remover o primeiro elétron de 1
mol de átomos de hélio e 5251 kJ de energia para remover o elétron remanescente de 1
mol de íons He+. A razão pela qual é necessária tanta energia a mais para remover o
segundo elétron é que com apenas um elétron presente não há blindagem e o elétron
sente todo o efeito da carga nuclear +2 (CHANG, 2013).
Para átomos com três ou mais elétrons, os elétrons em dada camada estão
protegidos por elétrons nas camadas interiores (isto é, camadas mais próximas do
núcleo), mas não por elétrons de camadas exteriores. Assim, em um átomo de lítio, cuja
configuração eletrônica é 1s22s1, o elétron 2s é protegido pelos dois elétrons 1s, contudo,
o elétron 2s não tem qualquer efeito de blindagem sobre os elétrons 1s. Além disso, as
camadas internas completas exercem efeito de blindagem sobre os elétrons exteriores

42
de modo mais efetivo que os elétrons da mesma subcamada exercem uns sobre os
outros (CHANG, 2013).

8.2 Raio Atômico

Algumas propriedades físicas, incluindo densidade, ponto de fusão e ponto de


ebulição, estão relacionadas com o tamanho dos átomos; no entanto, é difícil definir o
tamanho do átomo. A densidade eletrônica estende-se além do núcleo, mas normalmente
consideramos como tamanho do átomo o volume que contém cerca de 90% do total de
densidade eletrônica em torno do núcleo. Quando temos de ser mais específicos,
definimos o tamanho do átomo em termos do raio atômico, que é metade da distância
entre dois núcleos em dois átomos de metal adjacentes (CHANG, 2013).
Para átomos ligados de modo que formem uma rede tridimensional estendida, o
raio atômico é simplesmente metade da distância entre os núcleos de dois átomos
vizinhos [Figura 8.3(a)]. Em metais como o berílio, o raio atômico é definido como a
metade da distância entre os núcleos de dois átomos adjacentes. Para os elementos que
existem como moléculas diatômicas simples, como o iodo, o raio atômico é metade da
distância entre os núcleos dos átomos na molécula [Figura 8.3(b)] (CHANG, 2013).

Figura 8.3 (a) Em metais como o berílio, o raio atômico é definido como metade da distância
entre os núcleos de dois átomos adjacentes. (b) Para os elementos que existem como moléculas
diatômicas, como o iodo, o raio do átomo é definido como metade da distância entre os núcleos.

43
A Figura 8.4 mostra os raios atômicos de vários elementos de acordo com as
suas posições na tabela periódica. As tendências periódicas são claramente evidentes.
Ao estudar as tendências, lembre-se de que o raio atômico é determinado em larga
extensão pela força de atração entre o núcleo e os elétrons da camada mais externa.
Quanto maior for a carga nuclear efetiva, maior é a força de atração do núcleo sobre
esses elétrons e menor o raio atômico. Considere os elementos do segundo período
desde o Li ao F, por exemplo. Deslocando da esquerda para a direita, vemos que o
número de elétrons na camada mais interna (1s2) se mantém constante enquanto a carga
nuclear aumenta. Os elétrons adicionados para contrabalançar o aumento da carga
nuclear não exercem qualquer blindagem uns sobre os outros. Em consequência, a carga
nuclear efetiva aumenta gradualmente enquanto o número quântico principal se mantém
constante (n = 2). Por exemplo, o elétron mais externo 2s do lítio é protegido do núcleo
(que tem três prótons) pelos dois elétrons 1s. Como aproximação, assumimos que o
efeito de blindagem dos dois elétrons 1s é cancelar duas cargas positivas no núcleo.
Assim, o elétron 2s apenas sente a atração de um próton no núcleo; a carga nuclear
efetiva é +1. No berílio (1s22s2), cada um dos dois elétrons 2s está blindado pelos dois
elétrons mais internos 1s, que cancelam duas das quatro cargas positivas no núcleo.
Como os elétrons 2s não se protegem entre si de forma efetiva, o resultado é que a carga
nuclear efetiva de cada elétron 2s é maior que +1. Assim, como a carga nuclear efetiva
aumenta, o raio atômico diminui gradualmente desde o lítio até ao flúor (CHANG, 2013).

44
Figura 8.4 Os raios atômicos (em picômetros) dos elementos representativos de acordo com a
sua posição na tabela periódica. Observe que não há qualquer concordância geral sobre o tamanho dos
raios atômicos. Interessam-nos apenas as tendências dos raios atômicos, não os seus valores precisos.

Dentro de um grupo de elementos, vemos que o raio atômico aumenta com o


aumento do número atômico. Para os metais alcalinos no Grupo 1, o elétron mais externo
está em um orbital ns. Como o tamanho do orbital aumenta com o aumento do número
quântico principal n, o tamanho do átomo do metal aumenta do Li para o Cs. Podemos
aplicar o mesmo raciocínio para os elementos de outros grupos (CHANG, 2013).

45
9 LIGAÇÕES QUÍMICAS E ELETRONEGATIVIDADE

9.1 Ligações iônicas

Uma ligação iônica é consequência da atração eletrostática entre íons positivos


(cátions) e negativos (ânions), ou seja, um dos átomos participantes da ligação tem
tendência de perder elétrons, enquanto o outro, de receber elétrons. Isso significa que é
necessário entender as mudanças de energia que acompanham a formação dos íons e
as interações entre eles. Na maioria das vezes, os átomos que perdem elétrons são
metais e pertencem às famílias IA, IIA e IIIA. Já os átomos que recebem elétrons são os
ametais das famílias VA, VIA e VIIA. O hidrogênio (Z = 1), por exemplo, apresenta, na
sua primeira e única camada, um elétron, atingindo a estabilidade, nesse tipo de ligação,
ao receber mais um elétron (SILVA, 2019).

A ligação iônica entre os átomos A e B, genéricos, pode ser esquematicamente


representada conforme o Quadro 1 a seguir (SILVA, 2019).

46
O exemplo mais representativo de uma ligação iônica é a formação de um cristal
de cloreto de sódio (sal de cozinha) a partir de átomos de sódio (Na) e de cloro (Cl). Pode-
se imaginar a formação do sólido em três etapas: os átomos de sódio liberam elétrons,
que se ligam aos átomos de cloro, e os íons resultantes agrupam-se como um cristal
(SILVA, 2019).
O átomo de sódio (Na) está no Grupo 1-IA da tabela periódica, logo, apresenta
um elétron na camada de valência. Assim, sua estabilidade eletrônica será atingida pela
perda de um elétron, originando o íon Na+, com oito elétrons da camada de valência. A
energia de ionização do sódio é de 494 kJ·mol-1, então, é preciso fornecer essa
quantidade de energia para formar os cátions no processo (SILVA, 2019). Observe:

O átomo de cloro (Cl) está no grupo 17-VIIA da tabela periódica, logo, apresenta
sete elétrons na camada de valência. A sua estabilidade eletrônica é então atingida pelo
ganho de um elétron, originando o íon Cl–. A afinidade eletrônica dos átomos de cloro é
de +349 kJ·mol-1, logo, são liberados essa quantidade de energia quando elétrons se
ligam aos átomos de cloro para formar ânions (SILVA, 2019). Observe:

Após a formação dos íons (Na+ e Cl–) eletronicamente estáveis, ocorre uma
interação eletrostática (cargas com sinal contrário se atraem), formando assim os
compostos iônicos. A interação entre os íons produz aglomerados com forma geométrica
definida, denominados retículos cristalinos, característicos dos sólidos (SILVA, 2019).

47
Assim, quando os íons de sódio e cloro, por exemplo, se juntam para formar um
sólido cristalino, a atração mútua libera uma grande quantidade de energia (SILVA,
2019). Experimentalmente, obtém-se:

A presença de retículo iônico determina as principais características desses


compostos, descritas a seguir (SILVA, 2019).

• São sólidos nas condições ambientes (temperatura de 25°C e pressão de


1 atm).
• Os compostos iônicos apresentam elevadas temperatura de fusão e
temperatura de ebulição.
• São duros e quebradiços, quando submetidos a impacto, produzindo faces
planas.
• Quando dissolvidos em água ou quando puros no estado líquido
(fundidos), apresentam condutibilidade elétrica, em razão da existência de
íons com liberdade de movimento, que podem ser atraídos pelos
eletrodos, fechando o circuito elétrico.
• Seu melhor solvente é a água.

48
9.2 Determinação das fórmulas dos compostos iônicos

A fórmula de um composto iônico mostra a mínima proporção entre os átomos


que se ligam, de modo que se forme um sistema eletricamente neutro. Sendo assim, é
necessário que o número de elétrons doados por um dos átomos seja igual ao número
de elétrons recebidos pelos átomos do outro elemento, como mostrado a seguir (SILVA,
2019).

9.3 Ligações covalentes

Como os não metais não formam cátions monoatômicos, a natureza das ligações
entre não metais envolve o compartilhamento de elétrons. Os elementos não metálicos
existem como moléculas, por exemplo, as espécies diatômicas H2, N2, O2, F2, Cl2, Br2 e
I2 e as espécies poliatômicas P4 e S8 (SILVA, 2019).
Para explicar a ligação entre dois átomos de não metais, a proposta de Lewis é
que um par de elétrons é compartilhado pelos dois átomos, isto é, cada par eletrônico é
constituído por um elétron de cada átomo e pertence simultaneamente aos dois átomos.
Em outras palavras, os dois átomos ficam juntos porque ocorre interação coulômbica
entre os dois elétrons e os núcleos e nenhum dos átomos perde totalmente um elétron,
portanto, nenhum átomo precisa receber a totalidade de energia de ionização (SILVA,
2019).

49
A ligação covalente pode ser representada esquematicamente, como mostrado
no Quadro 2 a seguir.

9.4 Propriedades dos seus compostos ligados covalentemente

As propriedades das substâncias formadas por meio de ligações covalentes são


muito diferentes das propriedades dos átomos originários. Em condições ambientais, as
substâncias moleculares podem ser encontradas nos três estados físicos, como
mostrado no Quadro 3 a seguir (SILVA, 2019).

Além disso, as substâncias moleculares geralmente apresentam temperatura de


fusão (TF) e temperatura de ebulição (TE) inferiores às das substâncias iônicas e, quando
puras, não conduzem corrente elétrica. Cabe ainda ressaltar que os compostos com
grande número de átomos, derivados de ligações covalentes, levam à formação de
estruturas identificadas como macromoléculas. Essas substâncias, em condições de

50
ambiente são sólidas e apresentam elevadas TF e TE, como: sílica (SiO2)n , grafita (C),
diamante (C), celulose (C6H10O5)n, polietileno (C2H4)n, entre outros (SILVA, 2019).

9.5 Eletronegatividade

O poder de atração dos elétrons exercido por um átomo que participa de uma
ligação é chamado de eletronegatividade. Assim, o átomo do elemento que apresenta
a maior eletronegatividade tem maior poder de atrair elétrons e tende a afastá-los do
átomo que apresenta a menor eletronegatividade. Em 1932, o químico norte-americano
Linus Pauling propôs, experimentalmente, uma medida quantitativa da distribuição dos
elétrons na ligação, conforme mostrado na Figura 1 (SILVA, 2019).

Assim como as energias de ionização e as afinidades eletrônicas são maiores no


alto, à direita, da tabela periódica (próximo ao flúor), a eletronegatividade segue a mesma
escala, sendo o nitrogênio, o oxigênio, o bromo, o cloro, e o flúor os elementos de maior
eletronegatividade (SILVA, 2019).
Dessa forma, quando dois átomos de uma ligação têm uma pequena diferença
de eletronegatividade, as cargas parciais são muito pequenas. Porém, quando a
diferença de eletronegatividade aumenta, as cargas parciais também crescem. Já se as

51
eletronegatividades são muito diferentes, um dos átomos pode ficar com a maior parte
do par de elétrons compartilhado (por exemplo, numa ligação covalente), em que o
elemento mais eletronegativo lembra um ânion e o outro lembra um cátion. Esse tipo de
ligação apresenta caráter iônico considerável. Se a diferença de eletronegatividade é
muito grande, como em NaCl e KF, a contribuição iônica domina a distribuição covalente
e é melhor considerar iônica a ligação (SILVA, 2019).
Sendo assim, não existe uma linha divisória muito clara entre as ligações
covalentes e iônicas. Contudo, uma regra útil pode ser aplicada, em que se a diferença
de eletronegatividade é de cerca de duas unidades, o caráter iônico é tão alto que é
melhor considerar iônica a ligação. Porém, para diferenças de eletronegatividade
menores do que 1,5, é razoavelmente mais seguro descrever a ligação como sendo
covalente (SILVA, 2019).

10 ESTRUTURAS DE LEWIS, A REGRA DO OCTETO E A POLARIDADE DE


LIGAÇÕES

10.1 Estruturas de Lewis e a regra do octeto

Lewis criou uma forma simples para demonstrar os elétrons de valência quando
os átomos formam ligações iônicas. Ele representou cada elétron de valência como um
ponto e distribuiu em torno do símbolo do elemento. Cada ponto representa um único
elétron em um orbital e um par de pontos representa dois elétrons emparelhados
partilhando o orbital. Alguns exemplos estão representados a seguir (SILVA, 2019).

52
Para deduzir a fórmula de um composto iônico usando os símbolos de Lewis,
representa-se primeiro o cátion pela remoção de elétrons (representados pelos pontos
do símbolo do átomo do metal). Após, representa-se o ânion transferindo esses pontos
(elétrons) para o símbolo do átomo do não metal, de modo a completar sua camada de
valência, ou seja, atingir a configuração de um gás nobre. Por fim, escreve-se sobrescrito
a carga de cada íon. Um exemplo simples seria a fórmula do cloreto de cálcio (CaCl2),
representado a seguir (SILVA, 2019).

A mesma ideia descrita por Lewis para ligações iônicas pode ser estendida às
ligações covalentes. Contudo, quando uma ligação covalente é formada, os átomos
compartilham elétrons até atingir a configuração de um gás nobre. Lewis denominou esse
princípio de regra do octeto, em que os átomos de uma ligação covalente tendem a
completar seus octetos pelo compartilhamento de elétrons. O nitrogênio (N), por exemplo,
tem cinco elétrons na camada de valência e utiliza mais três para completar o octeto. O
cloro (Cl) tem sete elétrons na camada de valência e utiliza mais um para completar o
octeto. O argônio (Ar) já tem seus oito elétrons na camada de valência, dessa forma, não
compartilha elétrons. O hidrogênio (H), pelo fato de formar apenas uma ligação, ou seja,
ter valência igual a 1, usa apenas mais um elétron para atingir ao dublete do hélio (SILVA,
2019).
Pode-se utilizar também os símbolos de Lewis para descrever ligações
covalentes, como uma linha (-) para representar o par de elétrons compartilhado. A
molécula de hidrogênio, formada por dois átomos de hidrogênio, é representada pelo
símbolo H-H. O átomo de cloro tem sete elétrons na camada de valência, logo, o outro
elétron utilizado para completar o octeto vem do compartilhamento de um elétron

53
fornecido por outro átomo, como um outro átomo de cloro ou um átomo de hidrogênio,
conforme mostrado na Figura 2 (SILVA, 2019).

Dessa forma, a regra do octeto explica as valências dos elementos e as


estruturas de muitos compostos, porém, átomos como fósforo (P), enxofre (S), cloro (Cl)
e outros não metais do terceiro período e dos seguintes podem acomodar mais de oito
elétrons na camada de valência (SILVA, 2019).

10.2 Polaridade de ligações

O acúmulo de cargas elétricas em determinada região é denominado polo, que


pode ser de dois tipos: polo negativo, representado por (-) ou -δ; ou polo positivo,
representado por (+) ou +δ (SILVA, 2019).
Toda ligação iônica, onde todos os íons apresentam excesso de cargas elétricas
positivas ou negativas, será uma ligação polar. As ligações iônicas apresentam máxima
polarização. Um exemplo de molécula iônica polar pode ser representado pelo NaCl, na
Figura 3 (SILVA, 2019).

54
Já nas ligações covalentes, a existência de polos está associada à deformação
da nuvem eletrônica e depende da diferença de eletronegatividade entre os elementos.
Quando há formação de ligação covalente entre átomos com a mesma
eletronegatividade, não ocorre distorção da nuvem eletrônica de forma tão significativa.
Sendo assim, essas ligações são denominadas apolares. Um exemplo de molécula
formada por ligação covalente apolar está representado na Figura 4 (SILVA, 2019).

Porém, quando a ligação covalente se dá entre átomos de eletronegatividades


diferentes, ocorre deformação da nuvem eletrônica em decorrência do acúmulo de carga
negativa (–δ) em torno do elemento de maior eletronegatividade. Essas ligações são
denominadas polares e podem ser esquematicamente representadas pela molécula de
HCl, demonstrada na Figura 5 (SILVA, 2019).

55
Dessa forma, a polaridade de uma ligação é caracterizada por uma grandeza
denominada momento dipolar (μ), ou dipolo elétrico, que normalmente é representada
por um vetor orientado no sentido do elemento mais eletronegativo, ou seja, o vetor é
orientado do polo positivo para o polo negativo. Veja um exemplo na Figura 6 (SILVA,
2019).

11 LIGAÇÃO COVALENTE E TABELA PERIÓDICA

Um par de elétrons emparelhado é chamado de ligação simples. Dessa forma,


dois átomos podem compartilhar dois ou três pares de elétrons. Quando dois pares de
elétrons são compartilhados entre dois átomos, forma-se uma ligação dupla. Quando
três pares de elétrons são compartilhados entre dois átomos, forma-se então uma
ligação tripla. Uma ligação simples pode ser representada por um traço (-), por exemplo,
56
C-H, em uma estrutura de Lewis. Uma ligação dupla é escrita como =, por exemplo, C=O.
De modo similar, uma ligação tripla é escrita como ≡, por exemplo, C≡C. Assim, as
ligações duplas e triplas são coletivamente denominadas de ligações múltiplas. Da
mesma forma que numa ligação simples cada linha representa um par de elétrons, uma
ligação dupla envolve um total de quatro elétrons e uma ligação tripla envolve seis
elétrons. A ordem de ligação é então definida como o número de ligação que une um par
específico de átomos. Logo, para o H2, ordem de ligação é igual a 1, no grupo C=O é 2,
e em C≡C, como no etino, é 3 (SILVA, 2019).
Segundo a teoria da ligação de valência (TLV), uma ligação química é definida
como uma combinação de dois orbitais atômicos com energias semelhantes, sendo que
essa combinação se dá quando os orbitais atômicos se aproximam suficientemente para
produzirem uma sobreposição efetiva (BENVENUTTI, 2006).
A TLV prevê ainda a existência de dois tipos de sobreposição de orbitais,
descritos a seguir.

1. A primeira é chamada de ligação sigma (σ), representada pela ligação


simples, quando o orbital molecular formado apresenta densidade
eletrônica exatamente na direção internuclear, ou seja, no eixo da ligação
química, conforme representado na Figura 7.

57
2. A segunda situação é chamada de ligação pi (π), representada nas
ligações duplas e triplas, quando a sobreposição dos orbitais ocorre no
plano da ligação e está representada na Figura 8. Nesse caso, a
densidade eletrônica no eixo da ligação é igual a zero (SILVA, 2019).

58
Dessa forma, para que ocorra uma ligação química, é necessário que haja
simetria adequada e energias próximas entre os orbitais (SILVA, 2019).

Perceba que mais de um par de elétrons pode ser compartilhado, formando-se,


então, ligações simples, duplas e triplas. Veja no Quadro 4 a relação entre a posição dos
átomos na tabela e a possibilidade de ligações (SILVA, 2019).

59
12 GEOMETRIA MOLECULAR

A geometria molecular é o arranjo tridimensional dos átomos em uma molécula.


A geometria de uma molécula influencia muitas de suas propriedades físicas e químicas,
como pontos de fusão e de ebulição, densidade e tipos de reações em que a molécula
participa. Em geral, os comprimentos de ligação e os ângulos entre ligações têm que ser
determinados experimentalmente. Contudo, existe um procedimento simples que nos
permite prever com considerável sucesso a geometria global de uma molécula ou íon, se
soubermos qual é o número de elétrons ao redor do átomo central na sua estrutura de
Lewis. Este procedimento baseia-se na hipótese de que os pares de elétrons da camada
de valência de um átomo se repelem mutuamente. A camada de valência é a camada
60
mais externa de um átomo que se encontra ocupada por elétrons; nessa camada
encontram-se os elétrons que estão normalmente envolvidos na formação de ligações
químicas. Em uma ligação covalente, um par de elétrons, comumente denominado par
ligante, é responsável por manter dois átomos unidos. Contudo, em uma molécula
poliatômica, na qual há duas ou mais ligações entre o átomo central e aqueles que o
rodeiam, a repulsão entre elétrons de diferentes pares ligantes faz com que estes tendam
a ficar o mais afastado possível uns dos outros. A geometria que a molécula acaba por
adotar (conforme definida pelas posições de todos os átomos) é aquela que minimiza
essa repulsão. Essa abordagem ao estudo da geometria molecular é designada Modelo
de Repulsão dos Pares Eletrônicos da Camada de Valência (RPECV) porque procura
explicar o arranjo geométrico dos pares eletrônicos em torno de um átomo central em
termos da repulsão eletrostática entre pares de elétrons (CHANG, 2010).
Há duas regras que governam a aplicação do modelo RPECV:

1. No que diz respeito à repulsão de pares de elétrons, as ligações duplas e


triplas podem ser tratadas como se fossem ligações simples. Essa
aproximação é boa em termos qualitativos. Entretanto, é preciso lembrar
que as ligações múltiplas são efetivamente “mais volumosas” do que as
ligações simples; isto é, como nas ligações múltiplas existem dois ou três
pares de elétrons entre os átomos, suas densidades eletrônicas ocupam
mais espaço.
2. Quando uma molécula possui duas ou mais estruturas de ressonância,
podemos aplicar o modelo RPECV a qualquer uma delas. Geralmente,
não se indicam as cargas formais (CHANG, 2010).

Com esse modelo em mente, podemos prever a geometria de moléculas (e íons)


de modo sistemático. Para isso, é conveniente dividir as moléculas em duas categorias,
com base na presença ou na ausência de pares de elétrons isolados no átomo central
(CHANG, 2010).

61
12.1 Moléculas em que o Átomo Central Não Tem Pares Isolados

Por uma questão de simplicidade, consideraremos as moléculas que possuem


átomos de apenas dois elementos, A e B, sendo A o átomo central. Essas moléculas têm
a fórmula geral ABx, em que x é um número inteiro 2, 3, .... (Se x = 1, a molécula é
diatômica, AB, e por definição é linear.) Na maioria dos casos, x está compreendido entre
2 e 6 (CHANG, 2010).
A Tabela 10.1 apresenta cinco possíveis arranjos para os pares eletrônicos em
torno do átomo central A. Como consequência da repulsão mútua, os pares de elétrons
ficam afastados tanto quanto possível uns dos outros. Observe que a tabela mostra a
disposição dos pares de elétrons, mas não a posição dos átomos, ao redor do átomo
central. Moléculas em que o átomo central não possui pares isolados apresentam um
destes cinco arranjos de pares de elétrons ligantes. Utilizando a Tabela 10.1 como
referência, vamos analisar detalhadamente a geometria das moléculas que apresentam
fórmulas AB2, AB3, AB4, AB5 e AB6 (CHANG, 2010).

62
AB2: Cloreto de berílio (BeCl2)
A estrutura de Lewis do cloreto de berílio no estado gasoso é (CHANG, 2010):

63
Os pares de elétrons repelem-se mutuamente e, por isso, devem situar-se nos
extremos opostos de uma linha reta para ficarem o mais afastado possível um do outro.
Assim, prevê-se que o ângulo CeBeCl é de 180° e a molécula, linear (veja a Tabela 10.1)
(CHANG, 2010). O modelo de “bolas” e “varetas” BeCl2 é

AB3: Trifluoreto de boro (BF3)


O trifluoreto de boro contém três ligações covalentes ou três pares ligantes. No
arranjo mais estável, as três ligações BF apontam para os vértices de um triângulo
equilátero com o átomo B no centro desse triângulo (CHANG, 2010):

De acordo com a Tabela 10.1, a geometria do BF3 é trigonal planar porque os


três átomos terminais estão colocados nos vértices de um triângulo equilátero, no plano
(CHANG, 2010):

Desse modo, os três ângulos FBF são de 120º e os quatro átomos encontram-se
no mesmo plano (CHANG, 2010).

64
AB4: Metano (CH4)
A estrutura de Lewis do metano é:

Como existem quatro pares ligantes, o CH4 tem uma geometria tetraédrica (veja
a Tabela 10.1). Um tetraedro é um sólido geométrico com quatro faces (daí vem o prefixo
tetra) que são todas triângulos equiláteros. Em uma molécula tetraédrica, o átomo central
(nesse caso, C) está localizado no centro do tetraedro e os outros quatro átomos, nos
vértices. Os ângulos de ligação são todos iguais a 109,5º (CHANG, 2010).

AB5: Pentacloreto de fósforo (PCl5)


A estrutura de Lewis do pentacloreto de fósforo (no estado gasoso) é:

A única maneira de minimizar as forças repulsivas entre os cinco pares de


elétrons ligantes é dispor as ligações PCl na forma de uma bipirâmide trigonal (veja a
Tabela 10.1). A bipirâmide trigonal pode ser gerada pela junção de dois tetraedros
considerando uma base comum (CHANG, 2010):

65
O átomo central (nesse caso, P) está no centro do triângulo comum e os átomos
vizinhos situam-se nos cinco vértices da bipirâmide trigonal. Dizemos que os átomos que
se encontram acima e abaixo do plano triangular ocupam posições axiais e aqueles que
estão no plano triangular ocupam posições equatoriais. O ângulo formado entre duas
ligações equatoriais é sempre igual a 120º; o ângulo entre uma ligação axial e uma
equatorial é de 90º e o ângulo entre duas ligações axiais é de 180º (CHANG, 2010).

AB6: Hexafluoreto de enxofre (SF6)


A estrutura de Lewis do hexafluoreto de enxofre é

O arranjo mais estável para os seis pares ligantes SF é o aquele que tem formato
de um octaedro, tal como indica a Tabela 10.1. Um octaedro possui oito faces (daí vem
o prefixo octa) e pode ser gerado pela junção de duas pirâmides quadradas considerando
uma base comum. O átomo central (nesse caso, S) está no centro da base quadrada e
os outros seis átomos encontram-se nos seis vértices do octaedro. Nesse caso, todos os
ângulos de ligações são iguais a 90º, exceto aqueles formados pelas ligações entre o
átomo central e pares de átomos diametralmente opostos, que são ângulos de 180º.
Como, em uma molécula octaédrica, as seis ligações são equivalentes, não podemos
utilizar os termos “axial” e “equatorial”, como no caso das moléculas com geometria
bipiramidal trigonal (CHANG, 2010).

66
13 FORÇAS INTERMOLECULARES

As forças atrativas entre moléculas são denominadas forças intermoleculares.


Elas são responsáveis pelo comportamento não ideal dos gases, descrito no Capítulo 5.
São também essas forças que asseguram a existência dos estados condensados da
matéria — líquido e sólido. À medida que a temperatura de um gás diminui, a energia
cinética média das moléculas também diminui. A uma temperatura suficientemente baixa,
as moléculas deixam de ter energia suficiente para vencer as forças de atração em
relação às moléculas vizinhas. Neste ponto, as moléculas agregam-se para formar
pequenas gotas de líquido. A transição do estado gasoso para estado líquido é conhecida
como condensação (CHANG, 2010).
Ao contrário das forças intermoleculares, as forças intramoleculares mantêm
os átomos unidos em uma molécula. (A ligação química, discutida nos Capítulos 9 e 10,
envolve forças intramoleculares.) As forças intramoleculares estabilizam as moléculas
individuais, enquanto as forças intermoleculares são as principais responsáveis pelas
propriedades físicas da matéria (por exemplo, o ponto de fusão e o ponto de ebulição)
(CHANG, 2010).
As forças intermoleculares são, em geral, muito mais fracas do que as
intramoleculares. A vaporização de um líquido requer muito menos energia do que a
quebra das ligações de suas moléculas. Por exemplo, são necessários 41kJ de energia
para vaporizar 1 mol de água à sua temperatura de ebulição, mas 930kJ para quebrar as
duas ligações O—H de 1 mol de moléculas de água. Os pontos de ebulição das
substâncias normalmente refletem a intensidade das forças intermoleculares existentes
entre suas moléculas. No ponto de ebulição, é fornecida energia suficiente para superar
as forças de atração entre as moléculas, de modo que elas possam passar para a fase

67
vapor. Se for necessária mais energia para separar as moléculas de uma substância A
do que de uma substância B, em razão de as primeiras serem atraídas por forças
intermoleculares mais intensas, então o ponto de ebulição de A será superior ao de B. O
mesmo princípio se aplica ao ponto de fusão das substâncias. Em geral, os pontos de
fusão aumentam com o aumento da intensidade das forças intermoleculares nas
substâncias (CHANG, 2010).
Para discutirmos as propriedades da matéria condensada, temos primeiro que
compreender os diferentes tipos de forças intermoleculares. Forças do tipo dipolodipolo,
dipolo-dipolo induzido e forças de dispersão constituem o que os químicos chamam de
forças de van der Waals, em homenagem ao físico holandês Johannes van der Waals.
Os íons e os dipolos atraem-se mutuamente por forças eletrostáticas denominadas forças
íon-dipolo, que não são forças de van der Waals. A ligação de hidrogênio é um tipo de
interação dipolo-dipolo particularmente forte. Uma vez que apenas alguns elementos
podem participar na formação desse tipo de ligação, esta será tratada como uma
categoria à parte. Como veremos a seguir, a atração global entre as moléculas pode ter
contribuições de mais do que um tipo de interação, dependendo do estado físico da
substância, da natureza das ligações químicas e dos elementos presentes (CHANG,
2010).

13.1 Forças Dipolo-Dipolo

As forças dipolo-dipolo são forças atrativas entre moléculas polares, isto é,


entre moléculas que possuem momentos de dipolo. A origem dessas forças é
eletrostática e elas podem ser entendidas em termos da lei de Coulomb. Quanto maior
for o momento de dipolo, maior será a força. A Figura 12.1 mostra a orientação das
moléculas polares em um sólido. Nos líquidos, as moléculas polares não ocupam
posições tão rígidas como nos sólidos, porém tendem a alinhar-se de modo que, em
média, a interação atrativa seja máxima (CHANG, 2010).

68
Figura 12.1 Moléculas que possuem momento de dipolo permanente tendem a se alinharem
com polaridades opostas, no estado sólido para maximizar as interações atrativas.

13.2 Forças Íon-Dipolo

A lei de Coulomb também explica as forças íon-dipolo, que ocorrem entre um


íon (um cátion ou um ânion) e uma molécula polar (Figura 12.2). A intensidade dessa
interação depende da carga e do tamanho do íon e também do momento de dipolo e do
tamanho da molécula. Em geral, as cargas estão mais concentradas nos cátions porque
comumente esses são menores do que os ânions. Em conseqüência, quando um cátion
e um ânion apresentam cargas de mesma magnitude, a interação com dipolos é mais
forte para o cátion do que para o ânion,

Figura 12.2 Dois tipos de interação íon-dipolo.

A hidratação, é um exemplo de interação íon-dipolo. A Figura 12.3 mostra a


interação íon-dipolo dos íons Na+ e Mg2+ com a molécula de água, que tem momento de
dipolo elevado (1,87 D). Como o íon Mg2+ possui maior carga e menor raio iônico (78pm)
do que o íon Na+ (98pm), sua interação com as moléculas de água é mais forte. (Em
solução, cada íon está rodeado por um dado número de moléculas de água.) Semelhante
comportamento é observado para ânions com diferentes cargas e tamanhos (CHANG,
2010).

69
Figura 12.3 Interação entre uma molécula de água e os íons Na+ e Mg2+.

13.3 Forças de Dispersão

Que tipo de interação atrativa existe entre substâncias apolares? Para responder
a essa pergunta, considere o arranjo descrito na Figura 12.4. Se colocarmos um íon ou
uma molécula polar perto de um átomo (ou de uma molécula apolar), a distribuição
eletrônica do átomo (ou molécula apolar) é distorcida pela força exercida pelo íon ou pela
molécula polar resultando em um tipo de dipolo. Esse dipolo é denominado dipolo
induzido porque a separação das cargas positiva e negativa no átomo (ou na molécula
apolar) deve-se à proximidade de um íon ou molécula polar. A interação atrativa entre
um íon e o dipolo induzido chama-se interação íon-dipolo induzido e a interação atrativa
entre uma molécula polar e o dipolo induzido designa-se interação dipolo-dipolo induzido
(CHANG, 2010).

70
Figura 12.4 (a) Distribuição esférica de cargas em um átomo de hélio. (b) Distorção causada
pela aproximação de um cátion. (c) Distorção causada pela aproximação de um dipolo.

A probabilidade de um momento de dipolo ser induzido depende da carga do íon


e da força do dipolo, bem como da polarizabilidade do átomo ou da molécula — ou seja,
da facilidade com que a distribuição eletrônica do átomo (ou molécula) pode ser
distorcida. Em geral, quanto maior for o número de elétrons e mais difusa for a nuvem
eletrônica do átomo ou da molécula, maior será a sua polarizabilidade. A expressão
nuvem difusa significa que a nuvem eletrônica está espalhada em um volume apreciável
de modo que os elétrons não são atraídos muito fortemente pelo núcleo (CHANG, 2010).
A polarizabilidade torna possível a condensação de gases constituídos por
átomos neutros ou por moléculas apolares (por exemplo, He e N2). Em um átomo de hélio
os elétrons encontram-se em movimento a uma certa distância do núcleo. Em qualquer
instante, é provável que o átomo adquira um momento de dipolo, o qual é gerado pelas
“posições específicas dos elétrons”. Esse momento de dipolo é conhecido como dipolo
instantâneo porque dura apenas uma pequena fração de segundo. No instante seguinte,
os elétrons estarão em posições diferentes e o átomo terá um novo dipolo instantâneo e
assim por diante. Contudo, de acordo com a média em um intervalo de tempo (isto é, no
tempo que demora para se medir o momento de dipolo), esse átomo não tem momento
de dipolo, uma vez que os dipolos instantâneos cancelam-se mutuamente. Em um
conjunto de átomos de He, o dipolo instantâneo de um átomo pode induzir dipolo em

71
cada um dos átomos vizinhos mais próximos (Figura 12.5). No instante seguinte, um
dipolo instantâneo diferente pode criar dipolos temporários nos átomos de He que estão
ao seu redor. Esse tipo de interação origina as forças de dispersão, que são forças
atrativas que surgem como resultado de dipolos temporários induzidos nos átomos ou
nas moléculas. Em temperaturas muito baixas (e velocidades atômicas reduzidas), as
forças de dispersão são suficientemente fortes para manter juntos os átomos de He,
provocando a condensação do gás. A atração entre moléculas apolares pode ser
explicada do mesmo modo (CHANG, 2010).

Figura 12.5 Interação entre dipolos induzidos. Esses arranjos espaciais existem apenas
momentaneamente; no instante seguinte vão se formar novos arranjos. Esse tipo de interação é
responsável pela condensação dos gases apolares.

Em 1930, o físico alemão, Fritz London, propôs uma interpretação para os dipolos
temporários baseada na mecânica quântica. London demonstrou que a intensidade
dessa interação atrativa é proporcional à polarizabilidade do átomo ou da molécula.
Como é esperado, as forças de dispersão podem ser muito fracas. Isso é verdade, para
o caso do hélio, que tem uma temperatura de ebulição de apenas 4,2 K ou -269ºC. (Note
que o hélio tem apenas dois elétrons no orbital 1s, e esses são fortemente atraídos pelo
núcleo. Portanto, o átomo de hélio apresenta baixa polarizabilidade.)
As forças de dispersão, também conhecidas por forças de London, geralmente
aumentam com a massa molar, pois moléculas com maiores massas molares também
têm mais elétrons, e a intensidade das forças de dispersão aumentam com o número de
elétrons. Além disso, massas molares maiores significam átomos maiores cujas
distribuições eletrônicas são mais facilmente perturbáveis, porque os elétrons mais
externos são menos fortemente atraídos pelo núcleo. A Tabela 12.2 traz as temperaturas
de fusão de algumas substâncias semelhantes e constituídas por moléculas apolares.
72
Conforme esperado, o ponto de fusão aumenta à medida que aumenta o número de
elétrons na molécula. Uma vez que se trata apenas de moléculas apolares, as únicas
forças intermoleculares atrativas presentes são as de dispersão (CHANG, 2010).

Em muitos casos, as forças de dispersão são comparáveis, ou até mesmo mais


intensas, do que as forças dipolo-dipolo existentes entre moléculas polares. Um caso
extremo é ilustrado pela comparação dos pontos de ebulição do CH3F (78,4ºC) e do CCl4
(76,5ºC). Embora o CH3F tenha um momento de dipolo de 1,8 D, entra em ebulição em
uma temperatura muito mais baixa do que o CCl4, cujas moléculas são apolares. O CCl4
entra em ebulição em uma temperatura maior simplesmente porque tem mais elétrons.
Portanto, as forças de dispersão entre as moléculas de CCl4 são mais fortes do que as
forças de dispersão somadas às de dipolo-dipolo que existem entre as moléculas de
CH3F. (Lembre-se de que forças de dispersão existem entre espécies de todos os tipos,
quer sejam neutras ou carregadas quer sejam polares ou apolares.) (CHANG, 2010).

73
13.4 Ligação de Hidrogênio

De modo geral, os pontos de ebulição de uma série de compostos semelhantes


que contêm elementos do mesmo grupo aumentam com o aumento da massa molar. Isso
ocorre em razão do aumento da intensidade das forças de dispersão para moléculas que
contêm mais elétrons. Como se pode verificar na Figura 12.6, compostos constituídos
por hidrogênio e elementos do Grupo 14 seguem essa tendência. O composto mais leve,

74
CH4, é também o que tem menor ponto de ebulição, e o composto mais pesado, SnH4,
apresenta o ponto de ebulição mais elevado. No entanto, os compostos constituídos por
hidrogênio e elementos dos Grupos 15, 16 e 17 não seguem essa tendência. Em cada
uma dessas séries, o composto mais leve (NH3, H2O e HF) é o que tem o ponto de
ebulição mais elevado, contrariamente ao esperado com base na massa molar. Essa
observação indica que as atrações intermoleculares nas moléculas NH3, H2O e HF são
mais fortes do que as das outras moléculas dos seus grupos. Esse tipo de atração
intermolecular particularmente forte é conhecido como ligação de hidrogênio, que é um
tipo especial de interação dipolo-dipolo entre o átomo de hidrogênio em uma ligação
polar, tal como N—H, O—H ou F—H e um átomo eletronegativo como O, N ou F. Essa
interação é representada por

A e B representam O, N ou F; A—H é uma molécula ou parte de uma molécula, e B é


parte de outra molécula; a linha tracejada representa a ligação de hidrogênio.
Normalmente os três átomos ficam em linha reta, mas há casos em que o ângulo AHB
(ou AHA) apresentam desvios, que podem chegar até 30º, em relação à linearidade.
Observe que todos os átomos mencionados, O, N e F, apresentam pelo menos um par
de elétrons isolado que pode interagir com o átomo de hidrogênio em uma ligação de
hidrogênio (CHANG, 2010).

75
Figura 12.6 Pontos de ebulição de compostos hidrogenados de elementos dos Grupos 14, 15,
16 e 17. Embora normalmente se espere que o ponto de ebulição aumente à medida que se desce no
grupo, verifica-se que três compostos (NH3, H2O, HF) se comportam de modo diferente. Essa anomalia
pode ser explicada em termos das ligações de hidrogênio intermoleculares.

A energia média de uma ligação de hidrogênio é muito grande (de até 40kJ/mol)
quando comparada às energias das interações dipolo-dipolo. Por isso, as ligações de
hidrogênio têm grande influência na estrutura e nas propriedades de muitos compostos.
A Figura 12.7 mostra alguns exemplos de ligações de hidrogênio (CHANG, 2010).

76
Figura 12.7 Alguns exemplos de ligações de hidrogênio envolvendo moléculas de água, amônia
e ácido fluorídrico. As linhas cheias representam ligações covalentes e as pontilhadas representam
ligações de hidrogênio.

A força de uma ligação de hidrogênio é determinada pela interação de Coulomb


entre os pares de elétrons isolados do átomo eletronegativo e o núcleo do átomo de
hidrogênio. Por exemplo, o flúor é mais eletronegativo que o oxigênio e, portanto,
esperaríamos que a ligação de hidrogênio no HF líquido fosse mais forte que a da H 2O.
No estado líquido, as moléculas de HF formam cadeias em ziguezague (CHANG, 2010):

O ponto de ebulição do HF é mais baixo que o da água porque cada molécula de


H2O participa em quatro ligações de hidrogênio. Assim, as forças que mantêm juntas as
moléculas de H2O são mais fortes que as que mantêm unidas as moléculas de HF
(CHANG, 2010).

77
Todas as forças intermoleculares discutidas até agora são de natureza atrativa.
Lembre-se de que as moléculas também exercem forças repulsivas sobre outras
moléculas. Quando duas moléculas aproximam-se, uma da outra, ocorrem repulsões
entre os seus elétrons e entre os seus núcleos. A magnitude das forças repulsivas sobe
abruptamente à medida que diminui a distância entre as moléculas em um estado
condensado. É por essa razão que é tão difícil comprimir os líquidos e os sólidos. Nesses
estados, as moléculas já estão muito próximas umas das outras, resistindo à compressão
(CHANG, 2010).

14 BALANCEAMENTO DE UMA EQUAÇÃO QUÍMICA

As transformações químicas podem ocorrer de formas variadas e praticamente a


todo o momento, como na fotossíntese realizada por uma planta, na produção de
alimentos, no envelhecimento da pele de uma pessoa, dentre tantas outras que estão
presentes em nosso cotidiano. As transformações que resultam na formação de novas
78
substâncias a partir de outras são chamadas de reações químicas. Estas são
representadas por equações químicas (ATKINS; JONES, 2011).
As equações químicas representam a reação química por meio das fórmulas dos
reagentes que dela participam, bem como dos produtos que são formados. A equação
química a seguir representa a reação de combustão do álcool utilizado em automóveis e
vamos utilizá-la para compreender os componentes de uma equação química (Figura 1)
(BOTH, 2019).
Os símbolos da equação química representam:

• As substâncias que interagiram: etanol e oxigênio (C2H6O(l) e O2(g)),


chamadas de reagentes, localizadas à esquerda da seta (antes da seta),
e são representadas por fórmulas químicas (ex.: O representa a fórmula
química do oxigênio) (BOTH, 2019).
• As substâncias formadas: gás carbônico e água (CO 2(g) e H2O(g)),
chamadas de produtos, localizados à direita da seta (depois da seta).
• O sinal de + (positivo) que significa interação ou “reage com”.
• A seta → que significa formação.
• Os números subscritos representam os índices da fórmula química, ou
seja, as quantidades de átomos presentes na molécula. A fórmula
química, juntamente com os índices, forma a fórmula molecular (p. ex.,
C2H6O é a representação da fórmula molecular do etanol).
• As letras subscritas entre parênteses ao final da molécula representam
estado físico das substâncias: sólido (s), líquido (l), gasoso (g) e solução
aquosa (aq).
• Os números maiores posicionados na frente das fórmulas químicas são
os coeficientes estequiométricos e representam o número de mols da
substância (BOTH, 2019).

79
A equação química é interpretada (lida) da seguinte forma: 1 mol de etanol reage
com 3 mols de oxigênio para formar 2 mols de gás carbônico e 3 mols de água, ou, ainda,
1 molécula de etanol reage com 3 moléculas de oxigênio para formar 2 moléculas de gás
carbônico e 3 moléculas de água (BOTH, 2019).
As reações químicas não ocorrem ao acaso, mas obedecem uma relação entre
a quantidade de reagentes que podem interagir para formar a mesma quantidade em
massa de outros produtos. Essa relação de massa entre produtos e reagentes obedece
a lei de conservação de massas e de proporções, postulada pelos pesquisadores Antoine
Laurent Lavoisier e Joseph Louis Proust, que formularam as leis ponderais das reações
químicas. Essas leis estabelecem relações entre quantidade de regentes consumidos e
de produtos formados durante uma reação química, em que nenhum átomo é formado
ou destruído, apenas ocorre a formação de novas substâncias (BROWN; LEMAY;
BURSTEN, 2005), ou seja, se forem utilizadas 5 g de reagentes, e se a reação converter
todos os reagentes em produtos, serão produzidas 5 g de produtos. Quando as
proporções de átomo presentes nos reagentes são proporcionais ao número de átomos
dos produtos, considera-se que a equação química está balanceada. Como saber
quando uma equação química mantém o mesmo número de átomos em reagentes e
produtos? Vamos aprender a balancear uma reação química utilizando a relação entre a
quantidade de reagentes químicos e produtos, que é chamada de estequiometria da
reação química.

80
O balanceamento da reação química para que ela esteja proporcional, ocorre
com a utilização dos coeficientes estequiométricos, que são únicos para cada reação
química. Estes que estão localizados a frente da fórmula molecular em uma equação
química, como visto na Figura 1 (BOTH, 2019).
Para balancear uma reação química, precisamos saber a fórmula molecular dos
reagentes transformados e dos produtos que são formados. A reação de combustão do
metano servirá de exemplo para realizar o balanceamento. Para compreender melhor o
balanceamento de uma equação, vamos realizá-la em etapas e acertando o coeficiente
estequiométrico para cada molécula que participa da reação (KOTZ; TREICHEL, 2005).

Etapa 1: escrever as fórmulas corretas para os reagentes e produtos, e verificar


se há proporções entre a quantidade de átomos para cada elemento presente nos
reagentes e produtos, como segue:

Podemos constatar que os produtos do lado esquerdo da equação química têm


1 átomo de carbono (C), 4 átomos de hidrogênio e 2 átomos de oxigênio. Em comparação
com os produtos (lado direito da equação), temos a mesma proporção de átomo de
carbono, mas não de hidrogênio e oxigênio. Dessa forma, precisamos balancear a
equação química. Em outras palavras, adequar o número de átomos para produtos e
reagentes (BOTH, 2019).

Etapa 2: balancear o número de átomos de hidrogênio. Em reações de


combustão, é recomendável iniciar o acerto de coeficientes com o átomo de carbono,
entretanto, na reação de combustão do etanol, a quantidade de átomos de carbono é a
mesma para reagentes e produtos, então, iniciaremos com o hidrogênio. Nesse caso, 4
81
átomos de hidrogênio estão nos reagentes, portanto, 4 devem também estar nos
produtos. Para isso, vamos atribuir o coeficiente estequiométrico 2 para a molécula de
água que resultará em 4 hidrogênios. Veja:

Quando é atribuído um coeficiente estequiométrico, o número que corresponde


ao índice da substância é multiplicado pelo número que antecede a molécula, pelo
coeficiente estequiométrico. Assim, além de alterar o número de hidrogênio, também é
alterado o número de átomos de oxigênios, passando de 3 para 4 átomos nos reagentes.
Isso ocorre porque o número atribuído ao coeficiente estequiométrico é valido para toda
a molécula e, logo, modifica a quantidade de todos os átomos que a compõem (BOTH,
2019).

Etapa 3: balancear os átomos de oxigênio. Há 2 átomos de oxigênio nos


reagentes e 4 nos produtos (2 no CO2 e mais 2 · 1 = 2 na molécula de água). Cada
molécula de oxigênio tem 2 oxigênios (O2) nos reagentes, portanto, se atribuirmos o
coeficiente 2 para a molécula de O2, duas moléculas de oxigênio suprirão os 4 átomos
de oxigênio (2 · 2 = 4 no O2 dos reagentes) necessários para se igualar aos oxigênios
dos produtos.

82
Etapa 4: verifique se o número de átomos de cada elemento está balanceado.

A equação mostra 1 átomo de carbono, 4 átomos de hidrogênio e 4 átomos de


oxigênio para cada reagentes e produtos. Assim, a equação química está balanceada.
Porém, caso esteja faltando ou sobrando átomos na equação, deve-se seguir com o
ajuste dos coeficientes até que a proporcionalidade seja atingida (BOTH, 2019).
É importante ressaltar alguns pontos importantes que devem ser lembrados ao
realizar o balanceamento das reações químicas (KOTZ; TREICHEL, 2005):

• As fórmulas para reagentes e produtos devem estar corretas, caso


contrário, a equação não tem significado.
• Quando a substâncias aparece na equação química sem número de
coeficiente quer dizer que o número de moléculas corresponde a 1, ou
seja, o coeficiente é igual a 1, apenas não aparece nas equações.
• Os índices (números) subscritos nas fórmulas dos reagentes e dos
produtos não podem ser mudados para balancear uma equação química.
Essas fórmulas identificam as substâncias. Se for alterado o número
subscrito, muda a identidade da substância. Por exemplo, não se pode
alterar CO2 para CO (que é monóxido de carbono) ao balancear uma
equação. Caso isso ocorra, o produto formado é outro e passa de gás
carbônico para monóxido de carbono. Estes são compostos totalmente
diferentes. Se ocorrer a produção de CO em uma combustão, o gás
formado é tóxico e não desejável.

83
As equações químicas balanceadas são de importância fundamental na
descrição dos resultados das reações químicas e na compreensão quantitativa da
química. Por meio das equações balanceadas poderemos realizar cálculos de reagentes
e produtos em quantidade de matéria (mol). Por isso as equações químicas devem ser
balanceadas (BOTH, 2019).

14.1 Lei de conservação de massa e proporções constantes entre reagentes e


produtos em reações químicas

Os pesquisadores Antoine Laurent Lavoisier e Joseph Louis Proust formularam


as leis ponderais das reações químicas, a lei de conservação de massa e a lei das
proporções definidas. Essas leis estabelecem relações entre quantidade de regentes
consumidos e de produtos formados durante uma reação química (BOTH, 2019).
Na teoria de conservação de massas, os reagentes e produtos apresentam
proporcionalidade antes e depois da ocorrência de uma reação química, ou seja, em
sistema fechado, a massa dos produtos formados é igual à massa dos reagentes
consumidos. Essa teoria deu origem à famosa frase que Lavoisier, descobridor da lei,
teria utilizado para expressar a conservação das massas ao final da reação química, a
qual diz que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (BOTH, 2019).
A conservação de massa na reação em sistema fechado de cloreto de cálcio
(CaCl2) e sulfato de sódio (Na2SO4) para formar sulfato de cálcio (CaSO4) e cloreto de
sódio (NaCl) pode ser utilizada para representar a lei de Lavoisier. Considerando que a
massa dos reagentes é de 184,34 g, ao final da reação a massa dos produtos continua
sendo 184,34 g. Assim, em uma reação química, os produtos têm massa igual à massa
dos reagentes consumidos, como pode ser observado a seguir (JESPERSEN; BRADY;
HYSLOP, 2017):

84
A lei das proporções definidas de Proust segue o mesmo princípio da lei de
conservação da massa, em que qualquer relação de massas entre substâncias que
participam de uma reação química é sempre uma proporção constante (BOTH, 2019).
Utilizaremos como exemplo a substância H2O, a água, que é composta pelos
elementos hidrogênio e oxigênio. Na reação, se utilizarmos 18 g ou dobrarmos a
quantidade para 36 g de água (equação não balanceada), temos a decomposição em 2
g de hidrogênio e 16 g de oxigênio, e, ainda, 4 g de hidrogênio e 32 g oxigênio,
respectivamente, como segue:

Podemos constatar que a massa dos reagentes é proporcional à soma das


massas dos produtos, estando em conformidade com a lei de Lavoisier. Porém, para
confirmar a lei das proporções, podemos dividir a massa de hidrogênio pela massa de
oxigênio e chegamos a uma mesma razão que se mantém constante e proporcional
(BOTH, 2019).

Ainda, a proporção é mantida quando dividimos a massa dos reagentes por 2:

85
Essas relações revelam que a proporção entre os elementos que compõem a
água permanece constante: a massa de oxigênio é 8 vezes maior que a massa de
hidrogênio. Em outras palavras, a composição da água, em massa, é sempre de 1 parte
de hidrogênio para 8 partes de oxigênio (BOTH, 2019).
É fundamental você saber que a lei de Proust é adequada para as substâncias
puras e não para misturas. Isso porque uma substância pura tem sempre a mesma
composição. Assim, por exemplo, a água pura sempre será formada por hidrogênio e
oxigênio numa mesma proporção, ou seja, sempre terá a mesma composição,
independentemente se for água de chuva, mar ou rio, desde que esteja adequadamente
purificada. Já as misturas não têm composição constante, como a mistura de água e sal.
Essas misturas não contêm necessariamente a mesma proporção entre as quantidades
de água e sal em sua composição. Podemos fazer uma mistura com meia colher de sal
em um recipiente e outra com duas colheres de sal na mesma quantidade de água.
Assim, para as misturas, a lei de Proust não se aplica (BOTH, 2019).

15 QUANTIDADE DE REAGENTES E PRODUTOS EM UMA REAÇÃO QUÍMICA

Na prática da realização de experimentos, pode-se prever a quantidade de


matéria formada nos produtos a partir de uma quantidade de reagentes utilizados em
uma reação química. Para interpretar a quantidade de produtos consumidos e formados
em uma reação química, utiliza-se as massas molares e o conceito de mol de uma
equação química que corresponde diretamente ao coeficiente estequiométrico de uma
substância. Essa relação quantitativa entre substâncias participantes de uma reação
recebe o nome de cálculos estequiométricos (BOTH, 2019).
Para determinar a quantidade de substâncias envolvidas em uma reação
química, utilizamos sempre a unidade mol como padrão de medida e, em seguida, pode-
se converter para gramas (massa em quantidade de matéria), volume ou quantidade de
moléculas (CHANG; GOLDSBY, 2013). Utilizando a reação de formação de óxido de ferro
86
III, vamos ilustrar a relação entre os coeficientes estequiométricos, mol, molécula e
massa (BOTH, 2019).

Os coeficientes estequiométricos da equação química mostram que 4 moléculas


de ferro (Fe) reagem com 3 moléculas de O2 para formar 2 moléculas de óxido de ferro
III (Fe2O3). Podemos observar que o número de moléculas corresponde também ao
números de mols para cada substância, como segue:

Dessa forma, essa reação pode ser interpretada por meio da quantidade de mol
de cada molécula, da seguinte forma: 4 mols de ferro combinam-se com 3 mols de O2
para formar 2 mols de óxido de ferro III. Em cálculos estequiométricos, diz-se que 4 mols
de ferro são equivalentes a 2 mols de óxido de ferro III, representado da seguinte
maneira:

Essa expressão é lida como 4 mols de Fe são estequiometricamente


equivalentes (≏) a 2 mols de Fe2O3 e 3 mols de O2 são equivalentes a 2 mols de Fe2O3
(BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005). Essa relação permite escrever os seguintes fatores
de conversão:

87
A partir dessas relações de mol, podemos calcular a quantidade de uma dada
substância em uma reação química. Suponhamos que na reação química de formação
de óxido de ferro III, 5,8 mols de ferro reajam completamente com O2 para formar óxido
de ferro III. Qual seria a quantidade de óxido de ferro III formada?
Para calcular a quantidade em mol de óxido de ferro III produzido, utiliza-se o
fator de conversão que tem ferro no denominador e escrevemos a seguinte relação
matemática:

Como podemos observar, os cálculos para descobrir a quantidade de mols do


produto formado quando alteramos a quantidade de mols de um reagente é simples,
basta utilizar o fator de conversão. Entretanto, se o balanceamento da reação química
não estiver correto, o cálculo também estará errado (BOTH, 2019).
Para calcular a quantidade de massa em uma reação química, as relações
matemáticas não são tão simples. Vamos considerar que 8 g de ferro foram utilizados e
reagiram completamente para a formação de óxido de ferro III. Qual será a massa de
óxido de ferro III produzidos?
Para resolução dessa questão, vamos utilizar a relação molar da equação
balanceada para deduzir a relação entre ferro e óxido de ferro III. Vamos inicialmente
converter 8 g de Fe em mol de ferro. Para isso, vamos utilizar a massa molar do ferro
como fator de conversão e obtemos a seguinte relação matemática:

88
0,14 mol de ferro é equivalente a 8 g de ferro utilizados para reação. Agora
calculamos o número de mol produzidos de óxido de ferro III, utilizando mais uma vez o
fator de conversão que tem como denominador o ferro (BOTH, 2019).

Agora que encontramos a quantidade de mol de óxido de ferro III produzida a


partir de 8 g de ferro, precisamos apenas converter a quantidade de mol produzida de
óxido de ferro III para gramas, utilizando a massa molar da substância como fator de
conversão:

Estas relações podem ser empregadas para trabalhar com cálculos de


quantidades de mols ou gramas para substância O 2, e são empregáveis em outras
reações químicas. A sequência de passos na conversão pode ser resumida conforme
consta na Figura 2 (BOTH, 2019).

O resumo do procedimento geral utilizado para se calcular as quantidades de


substâncias consumidas ou produzidas em reações, começando pelo número de gramas,
pode ser representado conforme mostra a Figura 3 (BOTH, 2019).

89
Para relacionar o balanceamento das reações químicas e os cálculos de
quantidade de reagentes, vamos desenvolver os conhecimentos abordados em um
exemplo (BOTH, 2019).

90
91
15.1 Quantidade de produtos em reações químicas com reagente limitante

As experiências realizadas em laboratório não ocorrem de maneira perfeita e


geralmente há a presença de um reagente além do necessário, ou seja, está em excesso
e outro em menor quantidade que o necessário para consumir o reagente em excesso.
Nas reações químicas em que os reagentes não apresentam quantidades ideais para
serem totalmente transformados em produtos, um dos reagentes ficará por reagir. O
reagente consumido em primeiro lugar é designado por reagente limitante, visto que a
quantidade máxima do produto formado depende da quantidade inicial desse reagente.
Quando todo esse reagente é consumido, não se pode mais formar produtos. Já os
reagentes em excesso são os reagentes presentes em quantidades superiores às
necessárias para reagir com a quantidade de reagente limitante existente (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Para esclarecer melhor, vamos utilizar a reação de oxidação do monóxido de
carbono a dióxido de carbono. A reação química da oxidação de monóxido de carbono
está representada pela equação química a seguir:

92
Vamos supor que estão reagindo 4 moléculas de monóxido de carbono e 3
moléculas de O2, como representado na Figura 4 (BOTH, 2019).

As 4 moléculas de monóxido de carbono necessitam de somente duas moléculas


de O2 para reagir e formar 4 moléculas de dióxido de carbono e 1 molécula de O 2. Isso
significa que 1 molécula de O2 permanece sem reagir ao final da reação. Dessa forma, o
monóxido de carbono é o reagente limitante e o O 2 é o regente que está em excesso
(BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005).
A relação entre reagente limitante e reagente em excesso pode ser calculada e
é a partir dessa quantificação que descobrimos quem é o reagente limitante da reação
química. Vamos continuar trabalhando com a reação de oxidação do monóxido de
carbono. Supondo que 3 mols de CO sejam colocados para reagir com 7 mols de O 2.
Será que essa proporção de reagentes está na relação estequiométrica correta, ou um
dos reagentes é limitante na reação? Em outras palavras, um deles está em falta e
limitará a quantidade de dióxido de carbono produzido?
O modo de determinar qual dos dois reagentes é o reagente limitante se baseia
no cálculo do número de mols de monóxido de carbono e O2 que reagirão e quanto de
dióxido de carbono será obtido a partir das quantidades iniciais de monóxido de carbono
e oxigênio e O2. Vamos ao cálculo (BOTH, 2019):

93
Essas são as quantidades de dióxido de carbono que foram formados com a
reação de cada reagente. Da definição de reagente limitante, sabemos que apenas este
dará origem a uma quantidade menor de produto. Assim, como a quantidade de 3 mols
de monóxido de carbono utilizados na reação produz menor quantidade de dióxido de
carbono, ele é o reagente limitante da reação e o O2 é o reagente e em excesso. Para
que essa reação consumisse todo o O2 disponível, seria necessário adicionar mais
reagente monóxido de carbono (BOTH, 2019).
Além da possibilidade de descobrir quem é o reagente limitante e o reagente em
excesso pelo número de mol, pode-se calcular a quantidade pela massa utilizada de cada
reagente. Esses cálculos são realizados utilizando o mesmo raciocínio para calcular a
quantidade de reagentes e produtos em uma reação química. Entretanto, vamos
exemplificar utilizando uma maneira semelhante para que o conhecimento seja
sistematizado (BOTH, 2019).

94
16 RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE OS NÚMEROS DE MOL, A MASSA (GRAMAS) E
O VOLUME NA QUANTIDADE DE REAGENTES E PRODUTOS DE UMA REAÇÃO
QUÍMICA

Em uma equação química, os coeficientes estequiométricos estão relacionados


com a quantidade em mol das substâncias envolvidas. Sabendo-se que, numa dada
reação química, as quantidades de reagentes e produtos apresentam entre si uma
proporção constante, e conhecendo essa proporção, torna-se possível avaliar a
quantidade desconhecida de uma das substâncias participantes da reação, envolvendo
relações de mol, massa e volume, como foi estudado anteriormente (ATKINS; JONES,
2011).
As unidades de medida mol, massa e volume têm relações em cálculos
estequiométrico e podem ser equivalentes, ou seja, pode-se transformar quantidade de
matéria mol em gramas de matéria e também em volume (BOTH, 2019).
O mol é a quantidade de matéria (gramas) que contém as sustâncias em tamanho
normal, sejam átomos, moléculas ou íons. Em diferentes substâncias teremos diferentes
95
massas em gramas. A massa em gramas de 1 mol de certa substância (isto é, a massa
em gramas por mol) é chamada de massa molar. A massa molar (em g/mol) de uma
substância é sempre numericamente igual a sua massa molecular (em u), pois é a média
dos isótopos de cada elemento que é expressa na tabela periódica junto com o símbolo
do elemento (ATKINS; JONES, 2011).
O elemento oxigênio, ou um átomo de oxigênio, por exemplo, tem a massa molar
de 15,999 g/mol, ou, arredondando, 16 g/mol. Já a molécula de O 2 tem 32 g/mol. Ainda,
o cloreto de sódio tem massa molar de 58,43 g/mol. Esse valor é obtido a partir da soma
da massa molar de todos os elementos que compõem a substância (Na = 22,98 g/mol +
Cl = 35,45 g/mol = 58,43). Caso a substância apresente um número denominador como
na molécula de água, a massa molar do hidrogênio deve ser multiplicada por 2, pois são
dois átomos de hidrogênios para 1 oxigênio, resultando na massa molar de 18,0 g/mol (H
= 1,0 x 2 = 2,0 + O = 16,0 = 18 g/mol). Esse mesmo raciocínio serve para a molécula de
O2. Isso mostra a importância de se escrever corretamente a fórmula química de uma
substância (BOTH, 2019).
Podemos fazer a seguinte relação entre mol e gramas de substâncias:

• 1 mol de molécula de nitrogênio (N2) tem 28 g em massa (quantidade de matéria).


• 2 mols de molécula de nitrogênio (2 N2) têm 56 g em massa (quantidade de
matéria).
• 1 mol de cloreto de bário (BaCl2) tem 208,2 g em massa (quantidade de matéria).
• 3 mols de cloreto de bário (3 BaCl2) tem 624,6 g em massa (quantidade de matéria)
(BOTH, 2019).

Para conversão de mol para gramas, podemos utilizar uma fórmula:

Onde:
n = número de mol (quantidade de matéria)

96
m = massa em gramas
MM = massa molar (g/mol)
Vamos utilizar um exemplo simples pra converter gramas em mol ou vice- -versa.
Quantos gramas existem em 2 mols de bicarbonato de sódio (NaHCO 3) e quantos mols
existem em 5 g de bicarbonato de sódio?
Aplicando a fórmula:

Existem 168,02 g em 2 mols de bicarbonato de sódio e 0,06 mol em 5 g de


bicarbonato de sódio (BOTH, 2019).
Além das relações entre mol e massa (g), podemos fazer a relação com o volume
das substâncias. Quando é feita a relação entre mol de substância e volume, utiliza-se
para a conversão o valor de 22,4 L, que corresponde ao volume ocupado por 1 mol de
substância, chamado de volume molar. Esse valor é derivado da equação de estado dos
gases perfeitos e consideradas as condições normais de temperatura e pressão (CNTP).
Isso quer dizer pressão de 1 atm e temperatura de 0°C ou 273 K (kelvin) (BROWN;
LEMAY; BURSTEN, 2005). A relação para o volume é utilizada, principalmente, quando
nos reagentes ou nos produtos da reação química há a presença de uma substância
gasosa, ou seja, quando se deseja saber qual o volume ocupado por uma determinada
substância gasosa.
Vamos utilizar um exemplo para conversão de mol para volume molar, ou para
volume de substância. Qual o volume ocupado por 1 mol de dióxido de carbono? Para
resolver essa questão, basta fazer uma relação direta. Se 1 mol de substância
corresponde a 22,4 L, 1 mol de dióxido de carbono vai ocupar 22,4 L. Assim como 2 mols
ocupam o dobro do volume (44,8 L) (BOTH, 2019).

97
Para a conversão de massa de substância para volume, o raciocínio é
semelhante, apenas precisamos inicialmente transformar a quantidade em grama para
mol e depois converter para volume. Vamos observar essas relações no exemplo a
seguir: qual o volume ocupado por 9 g de gás oxigênio (O2)?
Iniciamos calculando a quantidade de mol que 9 g de O2 representam:

Sabemos que 9 g correspondem a 0,562 mol de O 2. Para obter o volume que


essa quantidade de mol ocupa, multiplicamos o valor de 0,562 mol por 22,4 L. Essa
relação pode ser feita por uma regra de três:

Desta forma, 0,562 mol de O2 ocupam o volume de 12,58 L. Essa relação é


proporcional ao número de mol de O2, pois a quantidade é aproximadamente metade de
1 mol, logo, o volume também será (BOTH, 2019).
Para que essas relações fiquem mais claras, vamos, por meio de alguns
exemplos de cálculos estequiométricos, encontrar quantidades desconhecidas de
reagentes ou produtos em reações químicas, buscando fazer a relações entre as
unidades de medida mol, massa e volume (BOTH, 2019).

16.1 Massa x massa

A reação de obtenção do dióxido de enxofre (SO 2) ocorre a partir da interação


entre enxofre (S) e O2. Industrialmente, sabe-se que 32 g de S reagem completamente
com 32 g de oxigênio para formar 64 g de dióxido de enxofre. Vamos calcular qual a
massa de S que reage com 0,97 g de oxigênio (BOTH, 2019).

98
Este cálculo também pode ser realizado utilizando uma regra de três simples:

x = 0,97 g de S → esta é a massa de enxofre que vai reagir com 0,97 g de O2 e


vai produzir 1,94 g de dióxido de enxofre (BOTH, 2019).

16.2 Mol x mol

Vamos calcular quantos mols de ácido sulfúrico (H2SO4) serão necessários para
reagir com 18 mols de hidróxido de sódio (NaOH) para formar sulfato de sódio (Na 2SO4)
e água (BOTH, 2019).

Pela regra de três:

99
x = 9 mols de H2SO4 → esta é a quantidade de mol ácido sulfúrico que vai reagir
com 18 mols de O2 (BOTH, 2019).

16.3 Massa x mol

Calcular a massa de dióxido de carbono necessária para reagir com 4 mol de


óxido de cálcio (CaO). Massas molares: CaO = 56 g/mol; CO2 = 44 g/mol; CaCO3 = 100
g/mol (BOTH, 2019).

Pela regra de três:

x = 176 g de CO2 → esta é a quantidade em gramas de dióxido de carbono que


vai reagir com 4 mols de CaO (BOTH, 2019).

16.4 Massa x massa

Calcular a massa de óxido de cálcio necessária para neutralizar completamente


9,8 g de ácido sulfúrico. Massas molares: CaO = 56 g/mol; H 2SO4 = 98 g/mol (BOTH,
2019).
100
Pela regra de três:

x = 5,6 g de CaO → esta é a quantidade em gramas de óxido de cálcio que vai


reagir com 9,8 g de ácido sulfúrico (BOTH, 2019).

16.5 Massa x volume

Qual o volume de gás carbônico nas CNTPs produzido pela decomposição de


250 g de carbonato de cálcio (CaCO3)? Massa molar: CaCO3 = 100g /mol; volume molar
em CNTP = 22,4 L. Nas CNTPs, 1 mol de substância ocupa o volume de 22,4 L. Assim,
podemos fazer o cálculo de volume de dióxido de carbono fazendo a seguinte relação:

x = 56 L de CO2 → esta é a quantidade em volume de dióxido de carbono que


será produzido na decomposição (BOTH, 2019).

101
A resolução de exercícios envolvendo cálculos estequiométricos depende do
domínio dos conceitos utilizados, da compreensão do enunciado e da organização dos
dados fornecidos pelo problema. Ainda, cada questão requer relações diferentes entre
os dados. Assim, quanto mais exercícios você resolver, mais situações e relações você
vai aprender e poderá colocar em prática (BOTH, 2019).

17 REAÇÕES QUÍMICAS

As transformações da matéria são fenômenos que ocorrem a todo momento em


variados sistemas, podendo ser observadas ou não. Você deve estar mais familiarizado
com as transformações visíveis, como o processo de enferrujamento de um metal, o
amadurecimento de frutas, a cocção de alimentos, a queima do gás na chama de um
fogão, entre outras. Essas transformações que ocorrem entre as substâncias são
denominadas transformações ou reações químicas. Em uma reação química, as
substâncias interagem entre si para formar outras substâncias totalmente diferentes, com
propriedades também diferentes (BRADY; RUSSEL; HOLUM, 2002).
O reconhecimento de reações químicas está relacionado à presença de
evidências que permitem diferenciar o estado final do estado inicial do sistema. Como
exemplo, podemos utilizar a reação de combustão da madeira em uma fogueira. Na
reação de combustão, inicialmente, temos a substância orgânica madeira formada por
carbono e hidrogênios, que vai interagir com o oxigênio, com o auxílio de uma ignição
inicial (fogo em um palito de fósforo) para formar gás carbônico, água, além de liberar
energia em forma de calor (∆H), como representado na Figura 1 (BOTH, 2019).

102
No exemplo da figura, podemos observar as evidências de que ocorreu uma
reação química: a transformação da madeira em gás carbônico e a efervescência de um
comprimido antiácido em água, utilizado para amenizar os sintomas da azia — o
aparecimento das bolhas no líquido também é uma evidência que corre uma reação
química (BOTH, 2019).
Esses tipos de evidências são formas simples e diretas de reconhecimento de
reações químicas, e podem envolver um ou mais fenômenos, como formação de gases,
mudança de cor, formação de sólido, liberação ou absorção de energia na forma de calor,
liberação de eletricidade ou luz, entre outros (PERUZZO; CANTO, 2007). No entanto,
não podemos ter certeza de que ocorreu uma reação química com base apenas nessas
evidências. Uma forma mais segura de obter informações sobre a natureza de uma
transformação é o isolamento dos materiais obtidos, seguido da determinação de
algumas de suas propriedades, como temperaturas de fusão e ebulição, densidade, etc.
A constatação de que as propriedades do sistema final são diferentes daquelas
que compõem o sistema inicial é a forma mais segura de comprovar a ocorrência de
reações químicas. Na prática, a determinação das propriedades dos materiais só é
utilizada quando o trabalho envolve reações químicas desconhecidas, as quais não se
tem certeza sobre a natureza das substâncias formadas (BROWN; LEMAY JÚNIOR;
BURSTEN, 2005). O conhecimento das evidências de uma reação química é uma
ferramenta eficaz que ajuda os químicos a ganhar tempo na caracterização das
transformações.

103
18 INTERPRETANDO E ESCREVENDO UMA REAÇÃO QUÍMICA

Se uma ou mais substâncias presentes no estado inicial de um sistema se


transformam em uma ou mais substâncias diferentes, que estarão presentes no estado
final, a transformação é uma reação química (CHANG; GOLDSBY, 2013). Para que uma
molécula de água se forme, é necessário colocar em reação as substâncias hidrogênio e
oxigênio. Essa reação não é uma reação espontânea, ou seja, não ocorre de forma
natural. Para que ela ocorra, é necessário o fornecimento de condições especiais, como
energia em forma de calor. A reação química está representada na Figura 2.

104
Observe que a reação química foi representada de duas formas mais a forma
descrita. Contudo, a forma mais tradicional é pela equação química, a última forma
representada na Figura 2. As fórmulas são utilizadas universalmente para expressar, de
forma escrita, as equações químicas, ou seja, o mundo todo representa as equações
químicas por meio das fórmulas químicas das substâncias, e isso permite que qualquer
reação química possa ser compreendida e interpretada, independentemente de onde o
estudo é realizado (BOTH, 2019).
Como estrutura principal, a reação química escrita por meio de uma equação
química, possui reagentes e produtos. Os reagentes são representados pelas
substâncias em seu estado inicial, localizados à esquerda da seta, e os produtos
formados — no caso do exemplo, a água — estão localizados à direita, depois da seta
(BOTH, 2019).
Os reagentes, o hidrogênio e o oxigênio, são representados pelas fórmulas
químicas H2 e O2, respectivamente. Isso quer dizer que dois átomos do elemento
hidrogênio se unem para formar a substância hidrogênio, e dois átomos do elemento
oxigênio se unem para formar a substância oxigênio. O produto água é representado pela
fórmula química H2O, ou seja, dois átomos do elemento hidrogênio se unem a um átomo
do elemento oxigênio para formar a substância água (BOTH, 2019).
O sinal matemático de soma (+) nos reagentes possui o significado de interação
ou reage, ou seja, o hidrogênio interage com o oxigênio. Porém, se o sinal + aparecer
nos produtos, passa a ter o significado de e. Já a seta (→) indica o sentido da reação
química. Quando a seta apresenta apenas uma direção, no sentido da esquerda para a
direita, como representado na Figura 2, quer dizer que a reação química é irreversível, e
ocorre na direção de reagentes para produtos. Uma reação reversível é representada
pelo sinal de duas setas opostas e sobrepostas (←→), e também significa que a reação
está em equilíbrio, ou seja, ocorre no sentido dos produtos e dos reagentes. Existem
outras simbologias associadas ao sentido da reação e ao modo como a reação se
desenvolverá, que estão representados no box saiba mais (BOTH, 2019).
As letras que aparecem subscritas entre parênteses, logo depois da
representação da fórmula química, representam os estados físicos das substâncias. Na
Figura 2, todas as substâncias estão em estado gasoso, representado por (g). Em outras
105
palavras, a reação ocorre entre os reagentes: hidrogênio gasoso (H2(g)) e oxigênio gasoso
(O2(g)), para formar água também na forma de gás ou vapor (H 2O(g)). Quando as
substâncias se apresentarem em estado físico sólido e líquido, a simbologia subscrita é
(s) e (l), respectivamente. Caso as substâncias estejam formando uma solução em que
o solvente é a água, a simbologia utilizada é (aq), e significa que determinado composto
está dissolvido em água ou em solução aquosa (BOTH, 2019).
Apresentadas todas as simbologias envolvidas, uma equação química pode ser
lida da seguinte forma: uma molécula de hidrogênio gasoso interage (+) com uma
molécula de oxigênio gasoso para formar (→) duas moléculas de água gasosa (BOTH,
2019).
Vamos a outro exemplo, escrever a equação química da reação entre
bicarbonato de sódio (NaHCO3) com ácido clorídrico (HCl), que produz gás carbônico
(CO2), cloreto de sódio (NaCl) e água (H2O) (BOTH, 2019).

Como podemos observar, uma equação química é a representação simplificada


do fenômeno que ocorre na reação química, contendo símbolos com significados
importantes que, quando articulados, possibilitam expressar uma riqueza de informações
(BOTH, 2019).
106
18.1 Lei de conservação de massa, das proporções constantes e balanceamento
de reações químicas

Para completar o estudo sobre as reações químicas e a representação dos


fenômenos por meio de equações químicas, temos que conhecer mais três conceitos: a
lei de conservação de massa, a lei das proporções constantes e o balanceamento das
reações químicas (BOTH, 2019).

107
Além dos conceitos já trabalhados, outro pressuposto para escrevermos uma
reação química é que as substâncias são constituídas por átomos que se conservam
durante as transformações. Desse modo, o mesmo número de átomos de determinado
elemento químico existente nos reagentes deve constar também nos produtos, ou seja,
a massa é conservada porque os átomos não são criados, nem destruídos. Esse
conceito, está relacionado à lei de conservação de massas, em que o estudioso Lavoisier
propôs que, na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Vamos utilizar a reação de decomposição da água para interpretar essa lei.

Lavoisier constatou que, ao realizar o experimento em um recipiente fechado, se


colocasse a massa de 18 g de água para decompor, os produtos formados seriam igual
à massa do reagente. Note que a massa do reagente (18) é igual à massa total dos
produtos (2 g + 16 g = 18 g). Esse princípio é aplicado a todas as reações químicas
(BOTH, 2019).
A descoberta de Lavoisier foi importante para outro pesquisador, Proust, que
descobriu que as substâncias compostas possuem a mesma composição fixa (CHANG;
GOLDSBY, 2013). A água é composta pelos elementos hidrogênio e oxigênio. O Quadro
1 traz dados experimentais referentes à decomposição de amostras de diferentes massas
de água.

108
Vamos dividir a massa de hidrogênio pela massa de oxigênio em cada uma
dessas experiências. Fazendo isso, chegamos a uma mesma razão (BOTH, 2019).

Esses dados revelam que a proporção entre os elementos que compõem a água
permanece constantes: a massa de oxigênio é sempre oito vezes maior que a massa de
hidrogênio. Em outras palavras, a composição da água, em massa, é sempre uma parte
de hidrogênio para oito partes de oxigênio (BOTH, 2019).
O Quadro 2 traz o exemplo do gás carbônico.

Dividindo a massa de carbono pela de oxigênio, temos:

109
Assim, podemos afirmar que a composição do gás carbônico em massa é sempre
de três partes de carbono para oito partes de oxigênio (BOTH, 2019).
É importante ressaltar que a lei de proporções constantes só é aplicada a
substâncias puras, como a água e o gás carbônico. Uma substância pura possui sempre
a mesma composição, independentemente de sua origem. Para as misturas, em que a
composição química não é constante, a lei de Proust não se aplica. Considerando uma
mistura de água e açúcar, a proporção de água e de açúcar pode mudar de uma mistura
para outra (BOTH, 2019).
Entretanto, se observarmos as equações de composição da água e de
decomposição do gás carbônico, ambas não possuem a mesma proporção de átomos
de elementos químicos nos reagentes e produtos, ou seja, as reações químicas utilizadas
para representar a conservação de massa não apresentam a proporção adequada de
átomos de elementos químicos nos dois lados da reação química. Dizemos que a
equação química não está balanceada. O processo utilizado para igualar a quantidade
de átomos é chamado de balanceamento da equação química (ATKINS; JONES, 2011).
Para realizar essa operação, vamos retomar a reação de decomposição da água.
Precisamos, em primeiro lugar, identificar as quantidades de cada átomo nos produtos e
reagentes:

Temos mais oxigênios que nitrogênios nessa equação química. Para balanceá-
la, precisamos corrigir o número de oxigênios que estão presentes na reação química.
Podemos fazer isso adicionando o coeficiente estequiométrico apropriado (nesse caso,

110
2) à frente das fórmulas químicas da água 2H2O e do gás hidrogênio 2H2. Teremos a
equação química balanceada da seguinte forma:

Essa equação química balanceada mostra que duas moléculas de água líquida
se decompõem e formam duas moléculas de gás hidrogênio e uma molécula de gás
oxigênio. Como a razão entre o número de moléculas é igual à razão entre os números
de mol (quantidade de matéria), a equação também pode ser lida da seguinte forma: 2
mols de água líquida vão se decompor para formar 2 mols de hidrogênio e 1 mol de
oxigênio. O balanceamento é importante para realizarmos cálculos que determinem as
quantidades de reagentes e produtos (BOTH, 2019).
Já na reação de decomposição do gás carbônico, temos:

Podemos balanceá-la adicionando o coeficiente estequiométrico 2 na frente da


fórmula química do gás carbônico 2CO2 e na frente da fórmula química do oxigênio 2O 2
(BOTH, 2019). A equação química será expressa da seguinte forma:

111
A equação pode ser lida da seguinte forma: duas moléculas de gás carbônico se
decompõem para formar uma molécula de carbono e duas moléculas de oxigênio; ou 2
mols de gás carbônico se decompõem para formar 1 mol de carbono e 2 mols de oxigênio
(BOTH, 2019).
Obviamente, o balanceamento das reações químicas não é um processo tão
simples, e necessita de uma abordagem mais detalhada. Neste capítulo, vamos aprender
a interpretar uma reação química e a construir uma equação química. Apresentaremos,
de forma resumida, os passos para realizar o balanceamento de uma equação química,
utilizando a equação de decomposição do clorato de potássio, formando cloreto de
potássio e oxigênio, no box a seguir (BOTH, 2019).

112
113
19 CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES QUÍMICAS

Até o momento, conhecemos o que caracteriza uma reação química e como


podemos expressá-la por meio das equações químicas. Durante os textos, apareceram
duas classificações de reação química, a reação de combustão do hidrogênio e três
reações de decomposição — a decomposição da água, do gás carbônico e do clorato de
potássio. Entretanto, não existem apenas esses dois tipos de classificação de reações
químicas. As reações químicas podem ser classificadas em reações de combustão, de
substituição, de duplo deslocamento, metal-ácido, ácido-base, de síntese e de
decomposição. A seguir, vamos conhecer a principal característica de cada classe de
reação química e também alguns exemplos (ROSENBERG; EPSTEIN; KRIEGER, 2012):

• Reação de combustão: esse tipo de reação é a mais comum no


cotidiano. Ocorre, geralmente, com um composto orgânico na presença
de oxigênio. O oxigênio do ar em excesso reage com substâncias à base
de carbono, hidrogênio, oxigênio e, eventualmente, outros elementos
químicos. A reação entre compostos à base de carbono com o oxigênio,
em geral, forma como produtos gás carbônico e água. A reação de
combustão do etanol (combustível de carros que utilizam álcool) e do

114
butano (um dos componentes do gás de cozinha juntamente com o gás
propano) são exemplos simples dessas reações.

• Reação de substituição ou deslocamento: ocorre quando uma


substância simples isolada mais reativa consegue deslocar o elemento
menos reativo de uma substância composta. Essa reação também pode
ser denominada como simples troca. A reação entre o cloro e o brometo
de magnésio e, ainda, a reação entre ferro e ácido clorídrico são exemplos
de reações de substituição (BOTH, 2019).

• Reação de dupla substituição ou duplo deslocamento: Essa reação é


comum em solução quando os reagentes produzem solução iônica com
troca de íons se uma combinação produz um composto que precipita um
sal insolúvel ou, ainda, a formação de um gás. São exemplos dessas

115
reações o nitrato de prata em interação com o cloreto de sódio e o nitrato
de bário em interação com o sulfato de potássio (BOTH, 2019).

• Reação metal-ácido: Um ácido, como HCl, HF ou H2 CO3 , e um metal


mais quimicamente reativo do que o hidrogênio do ácido reagem formando
sal e gás hidrogênio. São exemplos dessa reação o ácido clorídrico em
interação com o sódio e o ácido nítrico em interação com o magnésio.

• Reação ácido-base ou reação de neutralização: ocorre entre uma


substância ácida forte em interação com uma substância básica forte,
formando sal e água. O ácido contribui com íons H+ (H3 O+ ), e a base
contribui com íons OH− , sofrendo dupla troca e formando água (H2 O) e
sal. A reação entre ácido clorídrico em interação com hidróxido de sódio e
ácido nítrico em interação com hidróxido de magnésio são exemplos
desse tipo de reação química (BOTH, 2019).

116
• Reação de síntese, formação ou combinação: ocorre a formação de
uma substância mais complexa a partir da interação ou combinação entre
duas ou mais substâncias. A interação entre o carbono e o oxigênio ou,
ainda, a interação entre dióxido de enxofre com oxigênio são reações de
síntese que formam os produtos gás carbônico e óxido sulfídrico,
respectivamente (BOTH, 2019).

• Reação de decomposição: uma substância é decomposta em duas ou


mais substâncias simples com a utilização de energia em forma de calor
ou eletricidade, podendo ocorrer, ainda, pela incidência de luz. Quando é
utilizada energia em forma de calor para realizar a decomposição, chama-
se o processo de pirólise. Para realizar a decomposição do óxido de
mercúrio, é necessário utilizar uma fonte de calor (BOTH, 2019).

A decomposição decorrente da utilização de eletricidade é chamada de


eletrólise. A decomposição da água ocorre por meio desse processo (BOTH, 2019).

117
O processo de fotólise ocorre quando a substância decompõe-se na presença
de luz. A decomposição do peróxido de hidrogênio ocorre facilmente quando essa
substância é exposta à luz (BOTH, 2019).

Essas são as principais classes de reações químicas. Nos links a seguir, você
vai poder conferir outros exemplos de reações químicas que se classificam nos grupos
que acabamos de estudar, além de poder retomar os principais conceitos abordados
neste capítulo, que vão lhe auxiliar na resolução dos exercícios para a sistematização do
conhecimento (BOTH, 2019).

118
BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química, 3 ª ed., Editora Bookman, 2006.

BRADY, J. E.; SENESE, F. Química: a matéria e suas transformações. 5 ª ed. Rio de


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Prentice- Hall , 2005.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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meio ambiente. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018.

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BRADY, J. E.; RUSSEL, J. W.; HOLUM, J. R. Química: a matéria e suas


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QUÍMICA - reações químicas: simples troca e dupla troca. Vídeoaula ministrada por
Prof. Eduardo Silva. [S. l.], 2015b. 1 vídeo (9min11s). Disponível em: . Acesso em: 23
out. 2018.

QUÍMICA - tipos de reações químicas: síntese a análise. Vídeoaula ministrada por


Prof. Eduardo Silva. [S. l.], 2015a. 1 vídeo (8min24s). Disponível em: . Acesso em: 23
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