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PSICOLOGIA

DO TRÂNSITO
PROF. VALDENOR FILHO
MALTA DO PRADO
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA

Prof. Valdenor Filho Malta do Prado

PSICOLOGIA
DO TRÂNSITO

Marília/SP
2022
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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emissão de conceitos.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 TEORIA GERAL DA PSICOLOGIA DO 06
TRÂNSITO

CAPÍTULO 02 O PSICÓLOGO NO TRÂNSITO: AVALIAÇÃO 18


PSICOLÓGICA

CAPÍTULO 03 COMPORTAMENTO HUMANO 29

CAPÍTULO 04 COMPORTAMENTO HUMANO NO TRÂNSITO 39

CAPÍTULO 05 PSICOPATOLOGIA NA PSICOLOGIA DO 49


TRÂNSITO

CAPÍTULO 06 TRANSPORTE E MOBILIDADE 57

CAPÍTULO 07 MEDICINA DE TRÁFEGO 66

CAPÍTULO 08 EDUCAÇÃO E TRÂNSITO 75

CAPÍTULO 09 TRÂNSITO E SAÚDE MENTAL 85

CAPÍTULO 10 ÉTICA NO TRÂNSITO 96

CAPÍTULO 11 DIREITO E TRÂNSITO 106

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CAPÍTULO 1
TEORIA GERAL
DA PSICOLOGIA
DO TRÂNSITO

1.1 Afinal, o que é a Psicologia do Trânsito?

O pilar principal de estudo da Psicologia é o comportamento humano nos mais


distintos contextos onde eles se manifestam: sociedade, família, trabalho, hospitais,
clínicas, escolas, empresas ou no trânsito, entre tantas outras desenvolvidas em
todos os aspectos que o ser humano está incluído. Buscando sempre compreender
as vicissitudes do comportamento incrivelmente ímpar do ser humano.
Em um primeiro momento é fundamental desmistificarmos o papel importante
que o trânsito exerce em nossas vidas. Visto que este será nosso objeto de estudo
e foco, nunca nos esquecendo que o ser humano é um ser plural e envolvido nas
mais diversas áreas da sociedade. Acarretando assim uma imensidão de fatores que
influenciam diretamente em sua participação no trânsito.
Vamos imaginar nosso dia a dia. Imagine todas as atividades que desempenhamos
ao longo do dia. Lembre como e o quanto se desloca para chegar até elas. Lembre dos
deslocamentos que realiza durante esse dia. E, principalmente, onde está o trânsito
nesta sua rotina. Praticamente todas as nossas interações exigem que de alguma
forma utilizamos o trânsito.
Podemos pensar: acordo, tomo café, vou para o trabalho, vou almoçar, em seguida,
retorno ao trabalho, volto pra casa à noite, chego em casa, saio a pé para comprar o
pão, visito minha família ou até mesmo peço uma comida por aplicativo, etc.
Ao fim desse exercício, com toda certeza, você irá chegar à seguinte conclusão: é
quase impossível não participar do trânsito e das suas normas e regras. Lembrando
sempre que uma das principais questões que envolve o ser humano é sua interação
com seus pares e as normas que regem essa interação.

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É inevitável fazer parte do trânsito em alguns momentos dos seus dias, seja como
pedestre, condutor ou passageiro, e que seria impensável uma sociedade que não
pudesse se deslocar, sendo que o trânsito torna possível, dentre diversas coisas, o
abastecimento do comércio, garantindo o desenvolvimento, a proximidade entre as
pessoas, o intercâmbio de conhecimentos, acesso às novas tecnologias e principalmente
a troca cultural, esta tão rica em nosso país.
Atualmente, precisamos nos locomover cada vez mais rápido e entre distâncias
maiores, e com isso esquecemos um fator fundamental: a segurança no trânsito.
O sistema de trânsito, embora a maioria das pessoas não atente para o problema,
deve ser lembrando que o mesmo ocupa um papel de destaque, sob o aspecto
econômico e social, enquanto envolve no dia a dia praticamente todos os cidadãos,
no exercício de irem e virem, de se locomoverem em busca da satisfação de suas
necessidades e em busca do bem-estar da comunidade onde vivem. Participando
ativamente ou não, este será necessário.
Portanto, devemos nos atentar o quanto a segurança no trânsito é um problema
atual, urgente no âmbito mundial, não apenas de nossa comunidade, cidade, estado ou
país, absolutamente em caráter emergencial. Entrando aí o papel de suma importância
da psicologia do trânsito desenvolvendo um papel ativo e de destaque na avaliação, na
educação e principalmente no desenvolvimento de estudos que facilitem o entendimento
e o desembaraçar de novas ações para a prevenção no trânsito.
A Psicologia do Trânsito pode, portanto, ser definida como uma área da psicologia que
estuda, por métodos científicos válidos, os comportamentos humanos no trânsito, os
fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam
ou os alteram. Em síntese: é o estudo dos comportamentos deslocamentos no trânsito
e de suas causas (ROZESTRATEN, 1988, p. 9).
O trânsito, fornecendo condições seguras, é um direito de todos e passa diretamente
pelos órgãos de trânsito e entidades do Sistema Nacional de Trânsito, aos quais cabe
adotar as medidas necessárias para assegurar esse direito.
O Código de Trânsito Brasileiro, Lei n.º 9.503, 23/09/1997 considera trânsito a
utilização de vias por pessoas, veículos e animais isolados ou em grupo, conduzidos
ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e
descarga.

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Afinal, o que é a Psicologia do Trânsito?


A psicologia do trânsito é uma área de atuação dos psicólogos que vem tendo
um crescimento exponencial ao longo dos anos e, principalmente, na última década,

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ganhando uma excelente visibilidade no meio científico. É definida como área que
estuda os comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos externos e
internos, conscientes e inconscientes que os provocam ou os alteram, por métodos
científicos válidos.
O estudo da psicologia do trânsito se apoia em basicamente três sistemas principais:
o homem, a via e o veículo. Tendo o homem como o sistema mais complexo e o que
provavelmente tem maior probabilidade de desestabilizar o sistema todo. Sendo assim,
a psicologia do trânsito torna-se de suma importância para o equilíbrio deste sistema.
Esta fica com a incumbência de estudar os comportamentos humanos no trânsito e
os processos internos e externos, decisões muito conscientes e outras inconscientes
que acabam por provocar ou os alterar, de modo amplo que busca entender o que
engloba todos os usuários, como pedestres, ciclistas e motoristas.
A psicologia do trânsito vem se tornando cada vez mais primordial para compreender
os desvios e os mais diversos comportamentos que ocorrem no trânsito diariamente.
A função principal do psicólogo do trânsito é analisar e buscar uma compreensão
ampla e abrangente dos comportamentos daqueles que compõem o trânsito, buscando
desenvolver estratégias e possíveis soluções para uma dinâmica mais assertiva entre
condutores, pedestres, ciclistas e todos os outros que compõem o trânsito, ativamente
ou não. Também é papel do psicólogo trânsito identificar e definir o perfil dos condutores
de veículos automotores, buscando assim traçar um perfil desejável para se tornar
apto a condução de veículos automotores, não se privando somente a estes mas
também a todos que compõem o trânsito.
Temos medidas legais estabelecidas pelo código de trânsito, as quais gerem as
normativas para se ter um trânsito mais seguro. No entanto, somente essas medidas
não se fazem suficientes para evitar acidentes e danos maiores. Sendo assim, podemos
identificar que a educação e o trabalho dos profissionais que estão diretamente ligados
ao trânsito se fazem de suma importância para diminuir e minorar as perdas causadas
por acidentes e imprudência no trânsito.
Temos a origem da psicologia do trânsito ligada a Hugo Munsterberg, ao qual foram
atribuídas as primeiras avaliações neste contexto, quando, no início do século XXI,
submeteu os motoristas de bondes de Nova York a uma bateria de testes psicológicos
focados em habilidades e inteligência. Vindo este, posteriormente, também a ser
precursor do movimento chamado psicologia forense, no início opondo-se à tendência

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internacional da psicologia em sair dos laboratórios e ir mais para a aplicação direta.


Munsterberg foi, futuramente, um dos maiores apoiadores da psicologia aplicada.
No Brasil, a história da psicologia aplicada ao trânsito remonta à década de 1930,
quando se iniciaram as primeiras aplicações de instrumentos psicológicos de orientação
e seleção profissional dos futuros profissionais das ferrovias em São Paulo. Nas
décadas posteriores, principalmente 1950 e 1960, em razão do avanço da indústria
automobilística e do aumento da demanda por segurança, formação e orientação
dos condutores, a psicologia do trânsito direcionou suas atividades para o transporte
rodoviário, de modo a tentar frear o aumento nos índices de acidentes (MANGE, 1956;
TRENCH, 1956, citado por SILVA et al., 2007).
Como se pode perceber de imediato, a psicologia do trânsito é uma área que
necessariamente precisa estar relacionada com quase todas as outras áreas do saber
que envolve o trânsito. A engenharia se faz de suma importância para o entendimento
das estradas e dos veículos por ela projetados, como a medicina do trânsito para
entender melhor quais os dinamismos relacionados à saúde estão ligados ao trânsito.
Necessita da física e das estatísticas para levantar dados quanto a impactos diversos
e como os prevenir, a ergonomia, a sociologia e todas as outras que compreendem
o funcionamento do trânsito.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O que observamos na prática, muitas vezes, é que a atividade do psicólogo do


trânsito se restringe a avaliações psicológicas e não ativamente na construção de
estratégias para uma melhora e ampliação de formas de distribuir as contribuições
para o trânsito.

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Ainda atualmente alguns autores, mesmo que não expressando objetivamente esta
condição, ao verificar as publicações da área e temas correlatos a psicologia do trânsito,
reforçam a crença popular de que ela trata apenas da avaliação psicológica para
CNH. Todavia, nota-se um esforço de alguns poucos autores em ampliar a dinâmica
de interesses dos psicólogos do trânsito para muito além da perícia para obtenção,
renovação e adição de categoria da CNH. Observa-se uma queda na direção de estudar
a mobilidade humana e as políticas de educação e atenção à saúde.
Já no início do século XX, começaram a circular no Brasil os primeiros caminhões
e automóveis, fruto de um processo coletivo que visava a inserção do transporte
rodoviário como pilar fundamental nos deslocamentos. As locomoções começaram a
migrar dos bondes e trens vagarosamente para os automóveis, fruto de uma pressão
política e das elites que apoiavam a indústria automobilística que se instalava no
nosso país. Embora o país tenha tido como resultado um enorme “bumm” no seu
desenvolvimento econômico, trouxe como consequência uma gama inesgotável de
problemas relacionados à saúde e segurança, em decorrência do aumento de acidentes
de trânsito e incapacidades deixadas pelos mesmos.

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Com a apresentação deste contexto, uma teoria que era fortemente discutida em
âmbito internacional era a teoria da propensão aos acidentes (accident proneness). Essa
teoria influenciou vigorosamente o Brasil e suas novas diretrizes. Ela tinha como preceito
que algumas pessoas têm mais propensão a se envolver em acidentes, justificando,
assim, a necessidade da elaboração de um processo para a identificação dos indivíduos
aptos ou inaptos para a condução de veículos automotores. Buscando, dessa forma,
uma diminuição na insegurança no trânsito.
Foi nesse momento histórico de forte movimentação social e com as primeiras
descobertas científicas que começou a implementação de um processo de avaliação
psicológica para condutores de veículos automotores. Começa, então, as contribuições
da psicologia do trânsito no Brasil, principalmente no trânsito rodoviário, realizando a
aplicação de técnicas psicológicas. Porém, essas eram aplicadas pelos engenheiros
inclusos nas mais diversas áreas do trânsito (considerados os primeiros psicólogos
do trânsito). Dando início a essa nova área de atuação da psicologia, o que deu fruto
a nossa disciplina.
Como respostas a essa nova demanda, em meados de 1940 foi desenvolvido a
implementação de medidas que visavam prever e minorar esses números. Dentre as
principais, podemos destacar a avaliação médica e psicológica (psicotécnica), tendo,
desta forma, a inserção da psicologia do trânsito, que tinha como finalidade minorar o
acesso à direção de veículos automotores por pessoas com propensão a envolvimento
em acidentes de trânsito. Com o estabelecimento das novas diretrizes, começou a
considerar a obtenção da CNH um privilégio ao qual a pessoa terá que provar sua
capacidade de condução de automotores com segurança e distinção. Esta avaliação
seria composta por uma bateria de exames e testes realizados por peritos em trânsito
com suas devidas capacitações. Na época, discutia-se muito sobre a necessidade
de existir um prazo para a reavaliação dos condutores e não mais ser permanente,
considerando que o ser humano passa por muitas mudanças no decorrer da sua
vida. Foi instituída uma verificação periódica dependendo diretamente se o condutor
realiza ou não o uso da CNH para fins de atividade remunerada. Tendo como marco
legal para a avaliação psicológica no contexto do trânsito o Decreto-lei n.º 9.545, de
5 de agosto de 1946, o qual tornava os exames psicotécnicos obrigatórios para os
processos de retirada de CNH. Somente em 1951 que essa medida entrou em vigor,
transformando o ano de 1951 em um dos principais anos para a psicologia brasileira.

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Uma grande curiosidade que temos em relação à psicologia do trânsito é que a


mesma existe antes mesmo do reconhecimento da profissão do psicólogo no Brasil,
que ocorreu somente na década de 1960, por meio da Lei n.º 4.119, de 27 de agosto
de 1962, e tendo sua regulamentação somente pelo Decreto n.º 53.464, de 21 de
janeiro de 1964. Tendo como destaque o movimento que se iniciou para a criação do
CFP (Conselho Federal de Psicologia) e dos CRP (Conselho Regional de Psicologia).
Sendo assim, cabe ressaltar que os psicólogos avaliadores do trânsito já contavam
com uma experiência de mais de uma década de experiências e pesquisas.

Devido ao avanço iminente da legislação de trânsito e da psicologia aplicada, começou


o movimento que culminou na criação dos serviços de psicologia do trânsito nos
Detrans dos estados em 1968, juntando com os novos adventos do código brasileiro
de trânsito em 1998, acabou sendo inserido o psicólogo como parte indispensável no
processo de habilitação, tendo como responsabilidade a avaliação pericial de fatores
psicológicos denominado psicotécnico.
O processo de avaliação se encontra pautado, atualmente, na resolução n.º 12/2000
do Conselho Federal de Psicologia (2000), que vem estabelecer que para a obtenção
da CNH e/ou renovação de CNH para exercer atividade remunerada na condução de

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veículos automotores, o indivíduo deverá passar por um processo de avaliação a que


terá por finalidade um levantamento do perfil psicológico do candidato a retirada da
primeira CNH e/ou renovação da CNH para exercer atividade remunerada na condução
de veículos automotores.
Já em relação ao plano acadêmico, somente na década de 1980 foi tratado com
maior ênfase sendo difundido por reflexões sobre as contribuições efetivas ou não
da psicologia do trânsito. Um dos marcos no meio acadêmico é o livro Psicologia do
Trânsito: Conceitos e Processos Básicos do ilustre professor Rozestraten, publicado
em 1988, sendo até hoje atual e aplicável suas ideias e conceitos. Defendendo até
agora o título de obra introdutória mais importante da área da psicologia do trânsito.
Indico ver a obra Rozestraten, Maciel, & Vasconcelos, 2008, para se ter uma noção
do tamanho das suas contribuições.
No ano de 1999, foi realizado o I Fórum Nacional de Psicologia do Trânsito o qual
foi eleito um dos principais passos dados pela classe. Foi elaborada uma diretriz neste
congresso para a normatização dos conselhos para a área do trânsito, identificando,
assim, o potencial para planejamento urbano e educação para o trânsito. Desde
então, existe um grande estímulo pelos conselhos de classe para ampliar a atuação
interdisciplinar no contexto da psicologia do trânsito. Atualmente, muitas dessas ações
são apenas diretrizes que ajudam na condução do que se pode fazer, ou seja, não
trazem uma representação efetiva sobre as práticas da psicologia do trânsito.
Pode-se observar que já no início do século XXI, houve uma grande influência
de outras áreas na psicologia do trânsito, entre elas, psicologia social, psicologia
ambiental, psicologia cognitiva e, claro, nossa tradicional psicometria. Vivemos uma
tendência a ampliar a compreensão do trânsito como um contexto social, político,
econômico, de educação e, principalmente, completamente influenciado diretamente
pelo comportamento daqueles que o compõem. Se buscarmos historicamente o objetivo
principal da psicologia do trânsito, sempre está atrelado aos fatores comportamentais
que estão diretamente ligados a acidentes e catástrofes no trânsito. Não podemos
esquecer que as outras áreas de pesquisa em psicologia influenciam diretamente as
ações em psicologia do trânsito.
As publicações importantes em psicologia do trânsito no cenário internacional,
publicações nacionais e, principalmente, o papel de destaque que a psicologia do trânsito
vem tendo no início do século, refletem diretamente a consolidação da psicologia do
trânsito como área de conhecimento e ciência aplicada. Um grande destaque na área

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está sendo as novas formas de avaliação e o investimento nas áreas de pesquisa


da psicologia do trânsito. O conjunto dessas produções, os avanços teóricos nas
ciências correlatas a psicologia do trânsito fortalecem e disseminam o interesse por
formações e especializações na área, e parte desse incentivo vem das legislações
voltadas às necessidades de avaliação psicológica. O que vem tomando destaque
no cenário da psicologia aplicada ao trânsito são as ações voltadas à educação e
prevenção no trânsito.
Foi também no início do século XXI um período de muitas críticas sobre o trabalho do
psicólogo do trânsito e seus resultados. Sendo este cenário alterado com a publicação
da Lei n. 10.350/2001, a qual altera o código de trânsito brasileiro, reconquistando,
assim, a obrigação do exame psicológico para renovação e obtenção da CNH. Dando
assim início a uma nova fase o trabalho de perito examinador, seus resultados e
instrumentos utilizados no processo. Voltou-se ao destaque da importância de sempre
estar atento aos fatores humanos.

Em análise, é de grande valia reconhecer a construção da ABRAPSIT — Associação


Brasileira de Psicologia do Ttráfego, fundada em 2015. Tendo como premissa se tornar
um norte importante para a promoção e desenvolvimento profissional dos psicólogos
do trânsito. Buscando agregar a área com eventos técnico-científicos para a área da
psicologia do tráfego.

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ANOTE ISSO

Dentre todas as perspectivas que a psicologia do trânsito apresenta no Brasil e


no resto do mundo, a principal é a de uma ciência em busca da compreensão
do trânsito como um fenômeno diretamente ligado ao ser humano e suas
vicissitudes. O que mantém, de certa forma, a sociedade ativa, produtiva e cheia
de oportunidades, tendo como norte aproximar e construir laços entre os seres
humanos. Não podemos esquecer que este mesmo trânsito que aproxima e
desenvolve produz acidentes com danos físicos e emocionais, além do aumento na
exposição a riscos, tais como poluição e insalubridade.

Há uma necessidade que as produções de conhecimento na área da psicologia


do trânsito devem ser intensificadas, ampliadas e disseminadas na sociedade por
periódicos e materiais didáticos.
Por fim, para podermos entender a Psicologia do Trânsito, precisamos dar o destaque
ao trânsito também com campo de atuação profissional. Torna-se totalmente entendido
que a psicologia do trânsito é uma área de pesquisa, intervenção e conhecimento sobre
o ser humano e sua relação com os deslocamentos de todas as naturezas podendo
ser esta terrestre, aérea ou fluvial.
Os mais diversos meios de locomoção, individuais ou coletivos, fazem parte da
organização da vida de todos. As necessidades e exigências atreladas a estes sistemas
acabam por atribuir ao psicólogo do trânsito um papel de compreensão sobre como
gerar melhorias na saúde e segurança das pessoas, bem como elencar quais as
habilidades mínimas e necessárias ao exercício da cidadania no ambiente do trânsito.
Se temos um sistema complexo no trânsito, o qual é composto pelas relações
entre pessoas, máquinas e regras ou normas, cada pessoa que compõe esse sistema
também é um sistema complexo, tendo que lidar com suas necessidades e vontades
mais as dos outros componentes do trânsito. Fazendo jus à necessidade do estudo
dessas variantes influentes diretamente no desenrolar do trânsito.
REFORMULAR precisamos separar psicologia do trânsito de psicologia do tráfego.
O termo psicologia do tráfego no Brasil, remete à intervenção e estudo sobre os
comportamentos humanos nos deslocamentos de qualquer natureza ou tipo de
transporte. Tendo como um dos seus principais focos os fenômenos que ocorrem
da interação humana e seus comportamentos dentro do tráfego, buscando suas

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causas sociais, normativas formais e informais, estruturas físicas, aspectos relativos


à segurança e saúde daqueles incluídos.
O termo “tráfego”, em seu conceito mais amplo, indica uma ciência mais ampla que
o conceito “trânsito”, desta forma podemos entender que a psicologia do tráfego é
uma área de estudo do tráfego todo. Podendo-se destacar que a maioria dos estudos
da área estão abrigados na disciplina de psicologia do trânsito. Complementarmente
sendo difundido nas áreas da psicologia da avaliação está sendo responsável pelo
estudo das reações e como a avaliação interfere e colabora na vida dos indivíduos
que fazem parte do tráfego, também de suma importância para a área a psicologia
marítima e hidroviária, mesmo estas ainda em fase embrionária no Brasil.

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CAPÍTULO 2
O PSICÓLOGO NO TRÂNSITO:
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

2.1 O Psicólogo no Trânsito: Avaliação Psicológica

Para a psicologia, a avaliação psicológica foi uma das atividades pioneiras. Sendo
esta uma atividade complexa, mostra a necessidade do conhecimento técnico-científico,
responsabilidade social, perícia e capacitação adequada.
Devemos lembrar que a Avaliação Psicológica, entre todas as atividades possíveis
para o psicólogo no âmbito do trânsito, tem um papel de suma importância por ser
exigida pela legislação brasileira do trânsito e ter um caráter técnico, sendo a avaliação
psicológica definida através das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia de nº
007 de 2003 e a 007 de 2009.
No Brasil, em 1907, foi fundado o primeiro laboratório de Psicologia, no Hospital
Nacional de Alienados. Em 1913 foi relatado o primeiro trabalho com testes psicológicos.
Na ocasião, os instrumentos utilizados foram os testes de inteligência de Binet-Simon
na avaliação dos pacientes do Hospício Nacional.
Em 1924 na Bahia, Isaias Alves adaptou a escala de Binet-Simon para a realidade
brasileira, considerado como um dos estudos pioneiros na adaptação de instrumentos
psicológicos no Brasil.
Nas décadas seguintes, há uma grande alteração no foco dado pela área da avaliação
psicológica, o foco passa a ser estratégias de intervenções grupais e individuais,
estudos da personalidade e construção de testes e técnicas.
“A Avaliação Psicológica é um processo, geralmente complexo, que tem por objetivo
produzir hipóteses, ou diagnósticos, sobre uma pessoa ou um grupo” (HUTZ, 2015).
Sendo a avaliação psicológica compreendida como um processo técnico e científico
de estudos, coleta e interpretação de dados referentes a relação do ser humano e a
sociedade, tendo como principal ferramenta as estratégias psicológicas tais como
instrumentos, métodos e técnicas. Sempre no resultado das avaliações psicológicas
devem ser considerados e analisados a história psíquica e social dos indivíduos.

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Direcionando para que os frutos dessas observações e aplicabilidades sirvam como


instrumentos para uma atuação focada não somente no indivíduo, mas diretamente
na modificação desses comportamentos.
Entrevistas psicológicas, observações técnicas julgadas como importantes e
testes psicológicos compõem diretamente o processo de avaliação psicológica. A
utilização dos testes psicológicos é uma das principais ferramentas a serem utilizadas
nesse processo, sempre considerando que esta ferramenta precisa estar validada
pelo CRP Conselho Federal de Psicologia. O regramento dos testes psicológicos está
regulamentado pela Resolução CFP n.º 002/2003, sendo que estes são padronizados
e possuem requisitos tais como: validade e fidedignidade verificados por estudos
realizados com amostragem controle separadas por idade, escolaridade e localização
geopolítica.
O Conselho Federal de Psicologia define os testes psicológicos através da Resolução
n.º 002/2003 como: instrumentos de avaliação e mensuração de características
psicológicas, constituindo-se um método ou uma técnica de uso privativo do psicólogo,
em decorrência do que dispõe o §1º do Art. 13 da Lei n.º 4.119/62. Segundo o artigo
desta lei, os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação e
registro de amostras de comportamentos e respostas de indivíduos visando descrever
e/ou mensurar características e processos psicológicos, focados nas áreas da emoção
e afeto, cognição e inteligência, motivação, personalidade, psicomotricidade, atenção,
memória, percepção, dentre tantas outras que compreende o ser humano e sua
interação com o meio e consigo mesmo, seguindo padrões definidos na constituição
do instrumento.
Peritos Examinadores de trânsito usam testes psicológicos, que de alguma forma
investigam as características consideradas necessárias para se obter ou manter a
CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Buscando construir uma base de checagem
de características fundamentais para a condução de veículos automotores, desta
forma, conseguindo construir uma decisão técnica.
A utilização de métodos e técnicas na avaliação psicológica é uma prática destinada
ao profissional de psicologia, reconhecida pela sociedade, ciência e ética profissional,
a qual responde a uma demanda social, sempre se atentando para uma avaliação
efetiva na identificação de determinar a capacidade dos condutores na realização e
compreensão do trânsito. Esta capacidade a ser avaliada está presente na legislação

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de trânsito vigente, apontando para uma avaliação técnica das áreas e dimensões
correspondes.

As questões sociais diretamente ligadas ao processo de avaliação psicológica,


principalmente as delegadas aos peritos, é requerida pela sociedade organizada através
de legislações. A busca de identificar as condições dos candidatos à CNH, implica
exclusivamente em buscar os resultados que representem uma condição psicológica
favorável e competência técnica para a execução da direção de veículos automotores.
Em relação às condições éticas envolvidas no processo da avaliação psicológica,
estão o uso e aplicação correta das técnicas psicológicas, aliadas ao rigor teórico,
mas em destaque o entendimento dos fatores e fenômenos psicológicos presentes
na avaliação.
Muito além das resoluções vistas até aqui, cabe lembrar que o trabalho do psicólogo
no contexto da avaliação segue também o que foi regrado na Resolução CFP nº.
007/2009 que abrange as normas e procedimentos da avaliação psicológica no
contexto do trânsito.
Abordamos, até aqui, sobre normativas e técnicas que envolvem o processo de
avaliação psicológica no contexto do trânsito, fatos estes indiscutíveis quanto ao
trabalho indispensável do psicólogo do trânsito. Porém, devemos lembrar que em
qualquer profissão o quesito ético é condição irrevogável de responsabilidade do

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profissional. Destacaremos em nosso código de ética profissional do Psicólogo alguns


dos que permeiam a atuação do Psicólogo do Trânsito:
Art. 1 — São deveres fundamentais dos psicólogos:
b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais
esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente (CEPP, 2005).
No contexto do trânsito, a avaliação psicológica vem passando por grandes
mudanças, fruto das indagações e atualizações das necessidades de ampliação do
campo de atuação. Neste novo momento, entende-se como necessidade principal a
elaboração de pesquisas de novos instrumentos utilizados no processo da avaliação.
No início do trabalho do psicólogo do trânsito, o processo de avaliação era
denominado “Exame psicotécnico”, com os avanços da área e a publicação do novo
Código Brasileiro de Trânsito de 1998, houve a alteração na nomenclatura, passando
agora a se denominar como Avaliação Psicológica Pericial. Em seguida, a área obteve
duas importantes mudanças: as avaliações psicológicas passaram a ser realizados
somente por psicólogos peritos que possuíssem a formação em curso de capacitação
para perito examinador, e a última e principal foi a exigência de especialização em
Psicologia do Trânsito, sendo este regulamentado pelo CFP (Conselho Federal de
Psicologia).

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm

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A realização das avaliações psicológicas pelos psicólogos no trânsito tem um caráter


complexo e com objetivos específicos, avaliando sujeitos em momentos distintos de sua
existência. Assim sendo, o processo de avaliação terá incluído sujeitos que vão desde
a adolescência até a terceira idade, com características culturais e valores próprios e
introjetados. Cabe ao psicólogo contextualizar esta realidade, não se esquecendo de
considerar o próprio ato da direção de veículos, além de todas as variantes que este
candidato está exposto. Dentre as principais variantes que o perito tem que se atentar
é o uso de álcool e outras substâncias psicoativas, além de patologias orgânicas que
causam alterações na conduta e comportamento no ato de dirigir.
Por si só, o ato de avaliar já traz uma responsabilidade profissional, principalmente
quando falamos de trânsito, pois implica em predizer no indivíduo suas capacidades
de identificar os riscos e ter respostas adequadas às regras da legislação vigente,
independente da situação que o motorista esteja envolvido.
É amplamente reconhecida a importância da avaliação psicológica no contexto do
trânsito, que exige, desta forma, que o psicólogo dê sequência na sua capacitação
como perito. Se faz necessário que o psicólogo atualize sua prática, sua técnica e
conhecimentos, além de uma busca constante da contextualização do periciado
historicamente e socialmente.
Muito mais do que discutirmos as verificações comportamentais e cognitivas,
devemos não se limitar a definir e identificarmos apenas os prejuízos ou não em
respostas emocionais e cognitivas dos candidatos, mas ir além, na tentativa de
proporcionar reflexão sobre os direitos e deveres inclusos na condução dos veículos
automotores. Revisitando não somente como uma autorização legal, mas sim no papel
de um protagonista social que participa ativamente deste movimento.
Através de suas leis, a sociedade busca proteger e organizar a vida dos cidadãos
que a compõem, buscando estabelecer e diferenciar condutas aceitas e reprovadas
no trânsito e na mobilidade humana. Quando estas são quebradas, além de cometer
um delito, o cidadão pratica um atentado contra a cidadania.
Muito além apenas da avaliação psicológica, se faz necessário que o psicólogo
do trânsito se inclua como ator participante deste fenômeno. Esta inclusão pode ser
efetivada com a participação e criação de projetos e ações voltadas à cidadania e
mobilidade humana, buscando parcerias com outros profissionais da área e áreas
correlatas, visando compreender melhor o trânsito e suas aplicabilidades.

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Uma das confusões mais comuns na área é a diferenciação entre avaliação


psicológica e testagem psicológica. Lembrando que a avaliação psicológica é um
processo técnico-científico que envolve a juntada de informações provenientes de
variadas fontes, tais como: testes, entrevistas, análise de documentos e observações
julgadas pertinentes pelo perito examinador. Já a testagem psicológica implica na
aplicação de testes psicológicos de diferentes tipos, portanto sendo considerada uma
etapa do processo de avaliação psicológica.
O processo de avaliação psicológica possui passos essenciais para o alcance
dos resultados preconizados. Dentre eles os principais estão, o levantamento dos
objetivos da avaliação e o grupo que será avaliado, esta parte se faz de grande valia
para a escolha correta dos instrumentos e estratégias adotados pelo perito. Coleta
de informações através dos instrumentos escolhidos, importante se atentar para a
interação dessas informações, observando se estão suficientes para alcançar o objetivo
da avaliação. Integração dos resultados e informações para o desenvolvimento das
hipóteses iniciais, em posse dessas informações o psicólogo avaliador pode chegar
a um resultado, ou considerar a necessidade da utilização de mais instrumentos ou
estratégias, para se assegurar ou elaborar novas hipóteses. Por último a indicação
da condição do avaliado, considerando o que motivou a avaliação e seus objetivos,
por uma comunicação cuidadosa e empática. Agora o psicólogo deverá estar muito
atento aos procedimentos éticos e as eventuais limitações da avaliação.
As principais respostas que o processo de avaliação psicológica é capaz de prover
são as informações importantes para o desenvolvimento de hipóteses diagnósticas,
que trazem à luz as características psicológicas do avaliado ou do grupo a ser avaliado.
Essas características se referem às formas como os indivíduos desempenham certa
atividade, qualidades das interações pessoais e interpessoais que tendem a apresentar.
Dependendo dos motivos e objetos da avaliação psicológica, poderá se alcançar uma
visão abrangente dos aspectos psicológicos das mais diversas naturezas. Importante
observar que a escolha dos instrumentos corretos estará diretamente ligada a qualidade
do resultado alcançado e seus objetivos.
Através da avaliação psicológica, os psicólogos buscam inferir e levantar
informações na direção de responder às mais diversas questões sobre as pessoas
e seu funcionamento psicológico e suas interações com o meio inserido. Sabendo
que o comportamento humano é fruto de uma gama de interações conscientes e
inconscientes, torna-se praticamente impossível avaliar e chegar a uma conclusão

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total de todas as ‘nuances’ e relações a ponto de determinar todas. As avaliações


possuem um limite ao que é possível ser entendido e previsto. No entanto, as avaliações
pautadas em técnicas e métodos científicos válidos chegam a respostas confiáveis
e não apenas opiniões leigas ou por acaso.

A resolução CFP nº. 002/2003, no seu artigo 11, traz a orientação que “as condições
de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos
para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis”. O que podemos
ver neste artigo é que o simples fato do teste estar com o parecer favorável do CFP
(Conselho Federal de Psicologia) não significa que o mesmo pode ser usado em
qualquer contexto, ou para qualquer avaliação. Quem está a recomendar? a pesquisa
dos instrumentos que tem por finalidade a avaliação dos objetivos colocados no
processo específico a ser usado.

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Deve-se observar quais são os propósitos e contextos da avaliação, para poder


escolher corretamente o instrumento a ser usado, sendo que a justificativa se dá pelos
estudos apresentados pelo instrumento. Por exemplo, considerando a avaliação no
contexto do trânsito, se faz necessário que os instrumentos tenham em seus estudos
comprovações que este consegue prever comportamentos futuros. Visto que a função
do psicólogo do trânsito é prever o quanto o sujeito tem de propensão a se envolver em
acidentes. Assim, estudos de validade de critério que demonstrem as variáveis medidas
no instrumento capazes de prever comportamentos importantes nessa situação (tais
como comportamentos agressivos com viés a envolvimento culposo em acidentes),
sendo estes os requisitos básicos que irão justificar o uso do teste no contexto do
trânsito e sustentar a decisão do perito examinador.
No início dos anos 2000, o CFP regulamentou novas diretrizes para o uso de tecnologia
e informática nos serviços psicológicos, e mais recentemente novas atividades foram
acrescentadas, entre elas a Avaliação Psicológica, por meio da Resolução CFP nº.
11/2018.
Para haver uma garantia na aplicação da Avaliação Psicológica com qualidade, se
faz necessário novos estudos sobre o processo e como será direcionado. Além da
óbvia necessidade de estudos que validem o uso desses instrumentos na modalidade
on-line.
Ainda que existam meios para se fazer a coleta de dados e informações pertinentes
ao processo de avaliação, é de suma importância garantir que o avaliado compreenda
quais seus papéis na avaliação e de que forma irá executar a tarefa. Esta modalidade
on-line ainda não se encontra totalmente estruturada, a mesma dá margem para erros
e equívocos. Para que esse risco seja minorado, deve o avaliador buscar controlar as
variáveis inclusas no processo, sendo necessário que o psicólogo faça um planejamento
do processo na totalidade.
Podemos aqui entender que a escolha adequada do instrumento é complexa e
envolve uma série de fatores a serem considerados, os dados empíricos são de suma
importância para justificar o uso da estratégia adotada, associando o propósito da
avaliação com o contexto nela inserido.
O psicólogo, no momento da avaliação, poderá escolher se irá fazer a avaliação
de forma coletiva ou individual, sempre respeitando as informações contidas nos
manuais do instrumento. Não existem afirmações que possam afirmar qual das duas
situações é mais eficaz.

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ANOTE ISSO

Indico como fonte de informações e pesquisas na área da Psicologia, o manual, e a


Biblioteca Virtual em Saúde — Psicologia: www.bvs-psi.org.br.
Outra importante ferramenta é a consulta no SATEPSI — https://satepsi.cfp.org.
br/, este sendo responsável pela divulgação dos testes que estão com o parecer
favorável, indicando que o mesmo possui o mínimo de estudos que atestam sua
validade.

No momento da avaliação, os problemas mais frequentes apresentados são


referentes à inadequação dos instrumentos escolhidos pelo avaliador. Especialmente
em algumas situações, tais como:
— Quando o avaliador não possui conhecimento necessário para o uso da ferramenta,
muitas dessas ocorrências são causadas por falta de planejamento e preparo;
— Os instrumentos a serem utilizados não estão validados com parecer favorável
do CFP Conselho Federal de Psicologia. Lembrando que todas essas informações
podem ser encontradas no site do CFP;

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— A não obediência ao manual do teste e as condições ambientais (iluminação,


carteiras ou mesas adequadas, etc.);
— Não respeito aos protocolos de armazenamento e conservação do sigilo requerido
pelo instrumento e as normas vigentes.
A avaliação psicológica é um direito de todos os psicólogos, em primeiro momento
basta que o profissional seja psicólogo. Entretanto, competências específicas se fazem
necessárias para que o mesmo realize o trabalho de forma apropriada e fundamentada.
Cito, a seguir, algumas destas competências.
— Ser conhecedor dos fundamentos da psicologia, tais como (atenção, emoção,
memória, desenvolvimento humano, inteligência, etc.);
— Ser embasado com um referencial nas teorias psicológicas, deste modo, integrando
coerência nas interpretações e análise dos instrumentos aplicando suas referências;
— Dominar os procedimentos inseridos na aplicação, ser perito na interpretação e
aplicação dos instrumentos escolhidos para a avaliação psicológica.

O psicólogo, no momento da avaliação, deverá se atentar a alguns princípios éticos. Se


fazendo como o principal, o contínuo aprimoramento profissional, seguido os cuidados
com a escolha do instrumento e o ambiente onde irá ocorrer a avaliação. A guarda e
destruição dos documentos é de suma importância para assegurar a confidencialidade
dos resultados obtidos, juntamente com a disponibilização das informações apenas
aqueles com o direito em ter acesso.

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Quando em trabalho de equipe multidisciplinar, cabe ao psicólogo compartilhar


somente as informações que julgar relevantes para o processo multidisciplinar, sempre
resguardando a confidencialidade, e assinalando a responsabilidade de quem recebe,
de modo a preservar o sigilo e limite de intervenção.
Muitas vezes, até mesmo pelos próprios psicólogos e estudantes a avaliação
psicológica traz uma imagem negativa e de ineficácia. Está causada em detrimento do
mal uso dos instrumentos e processos inadequados vindos de uma falta de preparo ou
até mesmo de procedimentos simplificados e incompletos de profissionais da psicologia.
Todavia, quando encontramos um procedimento executado com compromisso e ética,
realizado através de uma abordagem ampla e multifatorial com procedimentos e
métodos, encontramos um resultado positivo e comprovado. Gerando um parecer final
fidedigno e confiável, na conclusão da avaliação. Essa prática se faz indispensável
para prevenir interpretações errôneas na avaliação causando prejuízos às pessoas
avaliadas.
Cabe ressaltar que, com todos os esforços, a avaliação psicológica, mesmo tendo a
premissa de ser preventiva, ela por si só não consegue controlar ou responder a todas
as situações, eventos e fatores incluídos no contexto da avaliação, já que o avaliado
está inserido em um ambiente cheio de influências e fatores.
Hoje se faz necessário que os psicólogos do trânsito criem parcerias com as mais
diversas áreas. Na busca de recursos aplicáveis e incrementos de ações integradas dos
diversos setores incluídos no trânsito. Fazendo com que as autoridades competentes
entendam que a educação e a conscientização são necessárias para obter a mudança
de hábitos e comportamentos no trânsito.

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CAPÍTULO 3
COMPORTAMENTO HUMANO

Comportamento Humano

Para entendermos o que é comportamento humano, inicialmente precisamos de


uma definição baseados na ciência e não apenas na percepção das coisas.

Definição de comportamento:
1. Ato ou efeito de comportar-se;
2. Procedimento de alguém face a estímulos sociais ou sentimentos e necessidades
íntimos ou combinação de ambos. (Dicionário ‘online’)

Independente da espécie a que se pertence o indivíduo, há interesse na análise do


comportamento humano.
A concepção de espécie humana é marcada por dois aspectos:
1. O compromisso com a teoria da evolução por seleção natural;
2. O caráter relacional envolvido no comportamento.

O Compromisso com a teoria da evolução por seleção natural

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A evolução das espécies, segundo a concepção de Darwin e Wallace, que estavam


convencidos de que as espécies não eram mutáveis, envolve dois processos básicos:
a produção de variações e a seleção dessas variações.
As variações aleatórias são selecionadas pela sobrevivência e reprodução de
membros da espécie.
Já para Skinner, “o comportamento não é imutável, o comportamento é produto
dos processos de variação e seleção”.
Skinner transpõe para o seu objeto de estudo: o comportamento humano (SÉRIO,
MICHELETTO; ANDERY, 2009).

Características do Modelo de Seleção por consequência:

“o comportamento humano é o produto conjunto a) das contingências


de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das espécies, e b) das
contingências de reforçamento responsáveis pelos repertórios adquiridos
por seus membros, incluindo c) contingências especiais mantidas por
um ambiente social evoluído” (Skinner, 1981/1987, p. 55).

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Do ponto de vista psicológico, o comportamento é o modo de agir do ser humano


perante o seu ambiente. Quando uma pessoa possui um tipo de padrão estável, falamos
então que esta pessoa apresenta uma conduta.
A Psicologia é a área que se dedica em estudar os fenômenos do comportamento
humano. O Behaviorismo é a parte específica que tem o comportamento como objeto
de estudo.

O instrumento fundamental de modelagem é o reforço, a consequência de uma ação


quando ela é percebida por aquele que a prática. Para o Behaviorismo em geral, o reforço
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pode ser positivo (recompensa) ou negativo (ação que se evita uma consequência
que não se deseja).
Podemos dizer que existem diversos modos do comportamento humano que podem
variar com as circunstâncias em que eles são realizados.
O comportamento consciente é aquele realizado logo após um processo de
pensamento, como quando cumprimentamos alguém que conhecemos ao encontrar
com esta pessoa na rua. Já o comportamento inconsciente é toda e qualquer atitude
que realizamos sem refletir sobre elas.
O comportamento privado é a ação realizada quando se está sozinho, não sendo
observado por outras pessoas. O comportamento público se difere porque é quando
a ação é feita em espaço público ou privado, mas na presença de outras pessoas.
É possível também analisar um comportamento sendo bom ou mau, dependendo
da situação em que ele é realizado nas normas sociais estabelecidas. Por exemplo,
quando uma criança faz “birra” em público e desobedece uma ordem dos seus pais,
eles podem repreendê-lo por seu comportamento não estar nos padrões adotados, o
que conhecemos, então, como castigo ou punição.

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Este mecanismo de punição ou recompensa por uma determinada atitude relaciona-


se com o processo de comportamento operante. Neste processo, é feita uma associação
entre o comportamento e a consequência para este comportamento, como quando
um rato de laboratório, ao pressionar um botão azul, recebe uma bolinha de comida
e ao pressionar um botão vermelho, ele recebe um choque elétrico. Ele então aprende
a pressionar o botão azul e a evitar o botão vermelho.
O termo comportamento também pode ser substituído por sinônimos como
desempenho, prática, hábito, conduta, maneiras, ação, entre outros.
Enquanto seres humanos, entender as origens e características desse comportamento
é uma forma de compreender a nossa própria existência.
É também aprender a diferenciar instinto de desejo ou objetivo.
Em resumo, é importante para perceber como chegamos até aqui, quais são as
nossas perspectivas e o que toda essa construção histórica tem a ver como o modo
que você, individualmente, vai reagir da próxima vez que for criticado, for assaltado
ou mesmo receber um presente.
Os benefícios de se entender o comportamento humano. Embora o tema pareça
muito filosófico, toda essa compreensão pode trazer benefícios práticos para o nosso
dia a dia. Confira alguns deles:
• Desenvolver a empatia
• Praticar o autoconhecimento
• Melhorar as relações interpessoais
• Aperfeiçoar a comunicação
• Antever reações do outro
• Desenvolver a visão sistêmica
Todos os benefícios que acabamos de listar tem alguma ligação, seja direta ou
indireta, com o entendimento das relações em sociedade.
Ao entender o comportamento humano, você se sente apto a tomar decisões mais
assertivas em todas aquelas situações que envolvem pessoas.
Entender o comportamento humano não, é algo exatamente simples, pois envolve
inúmeras variáveis.
Ainda assim, mesmo que você não escolha seguir como um estudioso da área, é
importante ter noções mínimas do porquê das nossas ações diante da vida.
Isso é também entender um pouco de quem somos no mundo.

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As mudanças no comportamento nas diferentes fases da vida

Sim, nosso modo de agir não é estático. O que seria uma escolha hoje, pode já
não ser mais amanhã.
Comportamentos aceitos para uma criança podem não ser bem vistos quando
desempenhados por adultos.
Tudo isso faz parte da complexidade inerente à nossa existência.
Por isso, vale a pena analisar algumas diferenças percebidas em diferentes fases
da vida.

Fase infantil

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Nos primeiros anos, temos pouca autonomia e não possuímos consciência para
desenvolver comportamentos que possam ir além do instintivo.
Se sentimos dor, fome, sede ou frio, a reação é o choro. Essa é a maneira mais
simples para demonstrar a insatisfação.
Mas a infância é também um período de intensa aprendizagem.
Na maior parte do tempo, ao observarmos os comportamentos de adultos, tentamos
reproduzi-los. É dessa maneira que assimilamos novos conhecimentos e possibilidades
de ação.
Isso tudo até que chegamos à adolescência e descobrimos um mundo antes
desconhecido.
Nesse momento, as relações sociais se intensificam e exigem novas posturas.
Queremos mais liberdade e sentimos a necessidade de tomar decisões por conta
própria.
Seguimos nesse ritmo de novidades constantes e descobertas até chegar à idade
adulta, onde os novos objetivos e o início da vida profissional trazem perspectivas
diferentes.

Fase Adulta

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Maturidade. Essa é uma característica esperada constantemente de quem se torna


um adulto.
Aqui, a tão sonhada liberdade é uma realidade e exige ações e pensamentos próprios.
Afinal, você é o responsável agora.
A necessidade de se encontrar em uma profissão e de atender às expectativas da
família e dos amigos são aspectos que pesam e tendem a moldar o comportamento
humano nessa fase.
Com isso, as cobranças também se multiplicam e definem muito do caminho
escolhido para seguir.
O objetivo, claro, é alcançar o sucesso — independente do conceito individual que
ele assuma.
Mais tarde, com a consolidação da carreira escolhida, o início de uma família, a
preocupação se volta para o financeiro e o comportamento também se molda conforme
o novo momento.
O comportamento humano na fase adulta está diretamente ligado ao universo
profissional e aos desafios que ele oferece.
Aprendemos a nos portar dentro da lógica organizacional e balizamos nossas ações
segundo o que é ou não aceito.
É preciso pensar no futuro, nos filhos, na aposentadoria. As transformações não
parecem ter fim.
Ao olhar para o passado, é possível que o indivíduo perceba que seu modo de ser
e de agir já não é mais o mesmo de antes, esse transformou ao longo dos anos.

Os traumas e os reflexos no comportamento humano

Como já destacado, as definições do comportamento humano estão intimamente


ligadas com as experiências vividas.
Seguindo nessa lógica, é fácil perceber como os traumas experimentados podem
influenciar em nossas condutas e atitudes. Isso vale para o nível pessoal e coletivo.
Uma pessoa que foi mordida por um cão, pode passar a ter medo de todos os cães.
Por outro lado, a experiência também pode servir para que ela passe a prestar
atenção aos pequenos detalhes e não se coloque em uma situação vulnerável, que
poderia dar oportunidade para a repetição do trauma.

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O mesmo vale para as tragédias coletivas, que despertam sentimentos diversos,


como a indignação e o medo.
Nesse aspecto, podemos encarar os eventos traumatizantes como parte do processo
de aprendizagem.
É também a partir deles que nos habilitamos a definir o que é ou não uma conduta
viável e, a partir daí, mudamos padrões.

Conheça fatos curiosos sobre comportamento humano

Você já parou para pensar em alguns comportamentos bastante comuns que


possuímos, mas nem por isso lógicos?
Sabe aquela vontade de chorar durante um filme ou o gosto por músicas e livros
tristes? A resposta está na empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do
outro, mesmo sabendo que se trata de uma situação fictícia.
Outro fato curioso é o constrangimento gerado pelo silêncio de não falar nada
quando estamos próximos a alguém.
A explicação está no modo como somos acostumados a viver em sociedade e a
promover trocas quando gostamos da companhia de alguém.
Ou seja, o silêncio é entendido como uma reprovação e reagimos tentando buscar
um assunto em comum.

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Quais fatores podem condicionar determinados comportamentos?


O comportamento humano não é estático e, ainda que previsível em certos casos,
sempre está sujeito a alterações.
Elas são condicionadas por fatores dos mais diversos. Além de tudo aquilo que já
citamos sobre a realidade na qual uma pessoa está inserida, os pequenos detalhes
do dia a dia podem fazer a diferença também.
Uma briga com um amigo, a chegada de uma gripe, uma gentileza inesperada.
Mesmo nós, às vezes, nos surpreendemos com o modo como reagimos diante
das situações.
  
A importância do autoconhecimento para o comportamento humano
Ao falar do comportamento humano, você deve ter reparado que nos referimos
algumas vezes ao autoconhecimento.
E o motivo é simples: para entender o todo, o outro, precisamos primeiro entender
a nós mesmos.
Se você é incapaz de saber o que move as suas ações, é mais difícil se relacionar
com as pessoas e entender o comportamento delas.
Da mesma forma, evoluir como pessoa ou profissional depende de reconhecer os
pontos a corrigir e as virtudes a explorar.
  

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CAPÍTULO 4
COMPORTAMENTO
HUMANO NO TRÂNSITO

4.1 Comportamento Humano no Trânsito

“Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados
ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e
operação de carga ou descarga”.(dicionário on-line)

O trânsito, assim como o homem, está localizado no ambiente. Nenhum deles


existe sem esse espaço e a influência do ambiente para a formação do homem é tão
poderosa quanto o fator genético. O homem é uno com o ambiente e ao construí-lo
constrói a si mesmo em seus aspectos materiais, emocionais e comportamentais.

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Essa construção não é solitária, ocorre em conjunto, em grupo e por assim ser são
determinadas por situações de cooperação, de conflito e disputa, dois componentes
que foram tornando-se comuns no convívio social.

Quais aspectos comportamentais são evidenciados no ser humano possuidor do


automóvel, visto que é clara a mudança de atitude das pessoas ao possuírem/dirigirem
um veículo e essa atitude ainda varia conforme a valoração financeira da máquina.
Sendo assim, levantando-se a hipótese que a própria posse do veículo infere em
aspectos comportamentais da personalidade e este é alterado conforme o ambiente
em que se vive.

As demandas do trânsito no Brasil incentivam à crescente aquisição de uma


concepção ambientalista que vê o homem como ser passivo, que pode ser manipulado
e controlado pela simples alteração do ambiente ou situação em que se encontra. Mas
qualquer concepção, precisa explicar os processos pelos quais o indivíduo se relaciona
e se apropria do conhecimento. Há uma pressão social grande sobre quem está ao
volante, a sociedade espera que o condutor se comporte de maneira preestabelecida,

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o que acaba se refletindo no trânsito e o carro se transforma num referencial poderoso


para a orientação do comportamento. Há uma visão errônea sobre o poder que o veículo
dá ao seu condutor. Rever esses ideais é trabalho de uma educação voltada para o
trânsito, mas, sobretudo uma educação humanizada que ponha o ser humano em
seu local de origem, sem ser extensão da máquina ou que se diminua ou se equipare
a essa. É preciso antes de qualquer coisa inferir nas formas em que o conhecimento
chega ao homem e essa mudança é social, é ambiental, é psicológica e principalmente
educacional.

A prática de condutas adequadas entre os usuários do trânsito consegue promover


o respeito mútuo e a cidadania. A melhor forma de aprender a respeitar os demais
é colocar-se no lugar do outro. Dessa forma, o condutor saberá como agir com
motociclistas, pedestres e ciclistas.

O fator humano representa 90% das causas dos acidentes. Nesse aspecto, uma
das medidas que pode alterar positivamente este quadro é a direção defensiva.
Para combater essa realidade é preciso que as pessoas estejam mais conscientes
em relação ao trânsito. Caso contrário, mesmo com as melhores estradas do mundo,
esses desastres continuarão acontecendo.

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Muitos motoristas ainda negligenciam os perigos, colocando sua própria vida e a


de outras pessoas em risco.
Muitos acidentes estão relacionados à alta velocidade e ao não respeito dos limites
das ruas. É preciso desacelerar e ficar atento às velocidades previstas em cada trecho.
Dirigir defensivamente está na contramão do mau comportamento no trânsito.
As condições e o estado emocional dos condutores também podem afetar
negativamente a habilidade destes para que dirijam de forma adequada.
O ato de dirigir não se resume apenas a habilidades motoras ou cognitivas, também
envolve:
• Decisões pessoais e expressão emocional;
• Aprendizado de regras formais e informais;
• Entendimento do contexto em que o motorista se encontra;
• Antecipação às situações de risco.
O condutor deve conseguir ajustar seus sentimentos, adequando-os conforme a
situação que se encontra no trânsito.
Existe diferença entre comportamento e desempenho do motorista.
Enquanto o desempenho está associado a tudo o que o condutor está capacitado
a fazer, o seu comportamento diz respeito ao que ele escolhe fazer. Dessa forma, o
comportamento do motorista assume papel decisivo na segurança viária e redução
de custos das operações.

O ser humano é um ser de relações, está todo o tempo se relacionando com o outro
com outro e isto é necessário para a sua sobrevivência. De acordo com Schmitz (2010,
p.104, apud SCHMITZ E SILVA, 2010 p.32) é possível considerar o trânsito como “se
ele fosse uma trama, uma rede de relações em constante movimento, como um tecer
e destecer ininterrupto das ligações, compondo uma forma que não existia antes dele,
mas que, com sua participação, ajuda a formar”. No trânsito a ação de um, interfere
na ação do outro, fazendo com que ele não seja igual, são ações que se cruzam, em
diversas ruas, em horários e momentos distintos, tornando cada momento singular
nessa trama onde diversas subjetividades são manifestas.
A personalidade compreende um sistema intrapsíquico que abrange processos
inconscientes e conscientes, que desenvolve modos diferentes de comportamentos
entre condutores, segundo Bartholomeu (2008) apud Costa (2016), As emoções e
a personalidade são fatores que influenciam nas atitudes do homem, no contexto

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do trânsito, as mesmas são consideradas também como possíveis fatores de risco


para acidentes, segundo Cremona (1986) citado por ARAÚJO et al. (2009 p.61) a
probabilidade de acidentes com veículos acontecerem, sendo eles cometidos por
pacientes com algum tipo de transtorno de personalidade é de até seis vezes mais
que o de pacientes do grupo controle, segundo estudos realizados em pacientes com
transtornos psiquiátricos para saber o diferencial no envolvimento com acidentes
de trânsito. A irresponsabilidade, a agressividade, o egocentrismo, a intolerância a
frustração e a impulsividade são traços que poderiam estar associados a direção.

De acordo com Bartholomeu (2008) apud Costa (2016), a personalidade refere-se


à relação dos comportamentos das pessoas com as situações ao longo do tempo e
sua singularidade. As condições e estado emocional contribuem para causas direta
e indiretamente, podendo afetar negativamente as informações necessárias para
segurança ao conduzir um veículo. Dentre as emoções pode-se relacionar com a
personalidade a angústia, a ansiedade e a agressividade. O indivíduo para ser capaz
de dirigir não necessita apenas da habilidade motora, mas também da emocional,
onde ele possa adaptar suas emoções a situação do trânsito. O emocional alterado
comprometerá a habilidade de dirigir, considerando sentimentos de ansiedade, estresse,

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raiva, agressividade, ocasionando riscos. Acontece que o organismo, movido pelo


estresse, cria um estado de alerta em certas situações, preparando o indivíduo para
uma possível adaptação como uma proteção a si, ou uma preparação de fuga, ou
briga. A agressividade e o estresse são mais constantes no cenário do trânsito, com
isso, torna-se um espaço onde o condutor se apodera do veículo como se fosse um
só e deposita seus instintos. A agressividade quando muito presente, considerando as
questões culturais e de valores de cada pessoa, impulsiona para o ataque, para a defesa
e até para a provocação, fazendo do veículo um caminho para essa demonstração.
(QUIRINO, VILLEMOR-AMARAL, 2015). Para Mognon (2014), o sujeito pode desencadear
um comportamento de risco ao conduzir o veículo, liberando seus padrões morais,
infligindo sem culpa ações danosas. Podendo ser denominada desengajamento moral.
Condutores que se remete a essa temática apresenta um maior índice de inflação.
Bandura propôs o conceito de desengajamento moral para mostrar como as pessoas
podem encontrar justificativas para cometer atos antissociais sem se sentirem culpadas
ou censuradas por isso. Daí o uso do termo ‘desengajamento’, mostrando ser possível se
desprender ou desengajar dos próprios padrões morais para cometer atos antissociais
deliberadamente, sem autocondenação (IGLESIAS, 2008, p. 165 apud AZZI, 2011).

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O comportamento humano observado no trânsito é bastante modificável pelo ambiente,


e o grau de estresse que cada indivíduo apresenta, é capaz de modificar o comportamento
dos condutores. De acordo com Santos, Cardoso, Santos (2012) existem dois tipos de
estresse são eles: o positivo, que causa boas emoções e quebra o equilíbrio interno,
diminuído mais rapidamente por ser motivador para o indivíduo, e o estresse negativo, por
ser visto como ruim e demorar mais no indivíduo, pode ocasionar efeitos mais graves como
diabetes, depressão, entre outros. A tensão também pode provocar outros sintomas como,
insônia, sonolência, irritabilidade, tensão muscular. No ambiente do trânsito os prejuízos
aos condutores são à saúde psíquica e física, estresse, ansiedade, fobias, depressão, dor
nas costas, doenças cardiovasculares entre outros. O ato de dirigir se torna complexo
por causa dos comportamentos no trânsito e a rotina no espaço social, isso mostra que
o estresse negativo pode ser bastante prejudicial devido às consequências que podem
surgir. Os efeitos além de serem no próprio condutor podem afetar outros participantes
dessa trama que inclui fatores internos e externos.
O crescente índice de congestionamentos nas vias devido ao aumento das frotas,
demostra o quão desproporcional está a quantidade de veículos para o espaço de
locomoção, isso favorece negativamente o estresse para o condutor, pois a demora
nos engarrafamentos proporciona discussões, insultos, buzinas e isso leva ao desgaste
emocional, mental e físico do condutor, motivando um maior percentual de acidente
provocado por causas humanas. (QUIRINO, VILLEMOR-AMARAL, 2015)
Para Silva (2012). Assim como o trânsito, o contexto contemporâneo pode definir-se
como uma época de mudanças e interações, onde o participante ativo desse contexto seria
todo indivíduo inserido nessa sociedade, através de fatores humanos externos e internos,
consciente ou não sobre o provocador da alteração, podendo ser chamada sociedade da
comunicação e conhecimento. Por meio desse conjunto pode-se identificar o sujeito em
sua singularidade, e compreender o indivíduo em sua complexidade. Segundo Mognon
(2014), motoristas que acreditam na sua autoeficácia, apresentam maior índice de erros
no trânsito. O poder de dirigir eleva a conduta do status social, trazendo luxo, estilo e
expansão da sensação do poder e liberdade diante dos outros. Muitas vezes denominada
“extensão do corpo humano”.
Visando compreender como as emoções e o comportamento dos condutores são
modificados ao conduzir um veículo no espaço de trânsito, neste trabalho identificou-se
que a ideia da “conquista por liberdade” e o “desejo de dominação” do espaço ao redor ainda
é muito real. O automóvel é tido como extensão de si, provocando a sensação de poder,

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que por vezes, ocasiona atitudes egoístas que geram consequências que podem atingir os
diversos personagens que compõem o trânsito. A personalidade e as emoções influenciam
na ação do homem no trânsito, pois a agressividade, a impulsividade e o egocentrismo são
algumas das características de personalidade que podem causar riscos. Fatores externos
como o crescimento do número de carros nas ruas, sendo as vias pequenas para tamanha
quantidade, gerando engarrafamentos constantes, assim como as condições das vias e a
irresponsabilidade ou falta de habilidade de outros condutores, também influenciam nas
atitudes e emoções de quem conduz um veículo automotor.
A luta por alcançar o espaço no ambiente é marcada por disputas historicamente
colocadas que, para além de defender as necessidades humanas básicas, tornam-se
sobretudo disputas de poder onde o status do indivíduo é o que o difere dos demais seja
em termos culturais, espirituais, materiais. Sem ambiente não há trânsito e esse é mais
um local onde o homem irá demonstrar seu comportamento ligado à formação que o
mesmo ambiente lhe propicia, alterado pelo fator aquisição do automóvel.
Sendo assim as relações do homem com o poder seja ele atribuído, ou seja, ele adquirido,
são históricas e possuem também algo de intrínseco à sua natureza. Sem o poder a
sociedade não funcionaria, sem as regras estabelecidas, ordem e o controle, tudo tenderia
para o caos, pondera (VAN DIJCK. 2008). “O poder é onipresente, não abrangendo apenas
a ação do homem, mas sendo constantemente produzido, sendo o combustível para as
relações de força, que geram continuamente estados de poder” (Foucault 1980, p.93).

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Segundo Hutcheon (1991) o poder não é uma estrutura, nem muito menos uma
instituição. Trata-se de um processo e não de um produto. Mas os ideais pós-modernistas
segundo ela “inverte as classificações de poder descrito por Foucault. Ele afirma que
existe um discurso duplicado; um repúdio e uma posterior reinserção do controle ou
poder.” (HUTCHEON, 1991, p.236).
Porém, a arte pós-moderna, acredita na admissão simultânea ao desafio de repudiar
o poder a partir dele mesmo, nunca deixando de estar nas reações de poder. Dentro
das diversas considerações sobre o poder, uma é de especial atenção dos especialistas
do ramo da psicologia: a influência exercida pelo automóvel no comportamento do
indivíduo, alterando aspectos de sua personalidade, que exerce uma falsa sensação
de poder constituído pelo fato da aquisição do mesmo.
Na tentativa de compreender como as emoções e o comportamento dos condutores
são modificados ao conduzir um veículo no espaço de trânsito, identifica-se que a
ideia da “conquista por liberdade” e o “desejo de dominação” do espaço ao redor ainda
é muito real. O automóvel é visto como uma extensão de si, provocando a sensação
de poder, que por vezes, ocasiona atitudes egoístas que geram consequências que
podem atingir os diversos personagens que compõem o trânsito.
A personalidade e as emoções influenciam na ação do homem dentro do trânsito,
pois a agressividade, a impulsividade e o egocentrismo são algumas das características
de personalidade que podem causar riscos. Fatores externos como o crescimento do
número de carros nas ruas, sendo as vias pequenas para tamanha quantidade, gerando
engarrafamentos constantes, assim como as condições das vias e a irresponsabilidade
ou falta de habilidade de outros condutores, também influenciam nas atitudes e
emoções de quem conduz um veículo automotor.
A maior incidência dos acidentes apresentada, está relacionada as emoções, pois
quanto mais vulnerável o condutor apresentar-se ao estresse, mais fácil apresentará
comportamentos de risco. Outro aspecto observado é a sensação de poder apresentada
por condutores ao entrar no veículo, tornando-se autoconfiantes, não se preocupando
em pôr em prática as regras e leis aprendidas durante o processo para a obtenção
da CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
Vale destacar, a importância de estudos, que exponham levantamentos de dados
e pesquisas, assim como reafirmar a importância da avaliação psicológica para

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candidatos à CNH, onde são identificados possíveis transtornos de personalidade,


psicopatologias ou comprometimentos que possam colocar em risco a vida no trânsito.

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CAPÍTULO 5
PSICOPATOLOGIA NA
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5.1 Comportamento Humano no Trânsito

Psicopatologia na Psicologia do Trânsito

Para entendermos a importância da psicopatologia na psicologia do trânsito, antes


é necessário sabermos a definição de psicopatologia.

Texto adaptado do livro Sintomas da Mente - Andrew Sims

“O que a alma é, não nos cabe saber; com o que ela se parece, quais são
suas manifestações, é de grande importância.” (Juan Luis Vives - 1538
- De Anima et Vita)

A psicopatologia é uma disciplina da psiquiatria, uma área complexa da medicina,


no que diz respeito a sua fundamentação científica e sua sustentação normativa.
Esta complexidade se deve ao desafio conceitual, científico e ético colocado para
todos os atores envolvidos no campo da saúde mental. No interior da psiquiatria
convivem diversas tradições psicopatológicas.
É necessário fazer articulações entre as ciências da natureza e as ciências humanas
para entender a emergência dos transtornos psíquicos. 
Psiquiatria- é o ramo da medicina que se ocupa com os transtornos mentais e da
conduta explícitos, com o propósito de estudá-los, classificá-los, tratá-los e preveni-los.
Psicologia- é o ramo da ciência que estuda de modo sistemático a vida psíquica
(normal) e que habitualmente respalda intervenções em casos de desvio de normalidade.
Psicopatologia- A psicopatologia é o estudo sistemático do comportamento, da
cognição e da experiência anormais; o estudo dos produtos de uma mente com um
transtorno mental. Isto inclui as psicopatologias explicativas, nas quais existem supostas
explicações, de acordo com conceitos teóricos (p. ex., a partir de uma base psicodinâmica,
comportamental ou existencial, e assim por diante), e a psicopatologia descritiva, que
consiste da descrição e da categorização precisas de experiências anormais, como
informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento.

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Modelos psicopatologias propostas por Sims (2001)

A psicopatologia configura-se como um conceito amplo e complexo que envolve diversas


áreas do conhecimento que vai desde as disciplinas biológicas e as neurociências, até
outros saberes oriundos da psicanálise, psicologia, sociologia, filosofia, linguística, entre
outros. Objetivando o estudo dos estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental,
a psicopatologia estaria, portanto, na base da psiquiatria como referido por Karl Jaspers.
É a área que aborda a natureza essencial da doença mental – suas causas, mudanças
funcionais, estruturais e suas formas de manifestação. Aqui estudamos a patologia do
psíquico, as alterações mentais, e para isso é necessário, primordialmente, entender como
a mente funciona em sua fisiologia, avaliando as funções mentais.

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Funções Mentais

Consciência: é a função que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou


compreender aspectos, ou a totalidade de seu mundo interior. É a atividade integradora
do psiquismo. Permite, sendo a “sustentação” das demais funções psíquicas, o
conhecimento do próprio eu e do mundo externo.
Atenção e Orientação: permite nos avaliar a consciência e podem ser considerados
“operadores” desta.
A atenção seleciona dentre os vários estímulos, aquele que será apreendido no
momento. Filtrando estas informações para a consciência. Conceitos associados:
vigilância, concentração, seletividade.
Orientação é a capacidade de orientar-se com relação a si e ao ambiente. Integra
a consciência.
Memória: É a capacidade que os seres vivos têm de adquirir, armazenar e evocar
informações. Mesmo sem percebermos, estamos fazendo uso desse importante
recurso cognitivo a todo momento. É um dos mais importantes processos psicológicos,
responsável pela nossa identidade pessoal e por guiar em maior ou menor grau nosso
cotidiano, além de estar relacionada a outras funções igualmente importantes, tais
como a função executiva, pensamento e o aprendizado.
Possuímos várias alterações de memória. Afasias, agnosias, amnésias ou
hipomnésias, hipermnésias, ecminésias, fabulações, criptomnésias, paramnésias
(ilusões ou alucinações mnêmicas), lembranças obsessivas.
Sensação e Percepção: A sensação é um fenômeno passivo gerado por estímulos
químicos, físicos e biológicos originados fora do organismo, que produzem alterações
em seus órgãos receptores. A  percepção  é o processo de transformação desses
estímulos sensoriais em fenômenos perceptivos, é a tomada de consciência dos objetos
e fatos exteriores ao indivíduo. A senso-percepção é a união destas duas dimensões.
Existem algumas alterações da senso-percepção, as quantitativas como hiperestesis,
hipoestesia, analgesia, parestesia, e as qualitativas como alucinações e ilusões.
Pensamento: é uma operação mental que utiliza os conhecimentos e/ou conceitos
adquiridos, combina-os logicamente e produz uma outra nova forma de conhecimento
e/ou conceito. Todo esse processo começa com a sensação e termina com o raciocínio
dialético, onde uma idéia se associa a outra e desta união de idéias nasce um a terceira.
Se forma através de elementos sensoriais, imagens perceptivas e representações.

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Estes elementos formam os  conceitos  (elemento puramente cognitivo, p.ex.:


cadeira), juízos (relações significativas entre os conceitos, p.ex.: cadeira + sua utilidade)
e o raciocínio (relação entre juízos, redundando numa conclusão).
Linguagem: é o principal instrumento de comunicação dos seres humanos e é
fundamental na elaboração e na expressão do pensamento. Além disso, propicia a
afirmação do eu, em oposição ao mundo. São diversas alterações, desde as que advém
de lesões neurológicas como a afasia, disgrafia, até as consequentes à transtornos
psiquiátricos, como a logorréia, a estereotipia verbal, ecolalia.

Afetividade: é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos


afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos). Ela dá cor, brilho e calor às
vivências. É a capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente

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tanto por sensações internas como externas. Dentro dela temos o Humor como o
tônus afetivo basal do indivíduo em determinado momento.
Dentre as alterações da afetividade temos as alterações do humor como distimias,
disforia,  depressão, hipertimia, hipotimia, êxtase,  ansiedade, angústia e medo. As
alterações dos sentimentos apatia, inadequação afetiva ou paratimia, distanciamento
afetivo, sentimento de falta de sentimento, anedonia, ambivalência.
Vontade:  é  relacionada com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva (avaliar, julgar,
analisar, decidir), bem como com o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas
socioculturais do indivíduo. Está ligada a forças instintivas inconscientes e da esfera
afetiva, mas também a valores culturais conscientes e ao desejo (querer, anseio, de
natureza consciente ou inconsciente, que visa sempre algo, que busca sempre a sua
satisfação).

Há alguns problemas de saúde que podem comprometer a capacidade do motorista


dirigir e, em muitos casos, os condutores não se atentam a doenças que prejudicam
a condução de veículos e colocam em risco sua vida e a de outras pessoas.

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Ansiedade: O termo tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição,
angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto
de perigo, etc.
Os transtornos de ansiedade são muito comuns, presentes em cerca de 1 a cada
4 pessoas que vão ao médico.
Embora possa aparecer em diversos momentos da vida, a ansiedade saudável
(e natural) é passageira e não atrapalha aspectos do cotidiano. Já a  ansiedade
patológica pode prejudicar ações do cotidiano.
“Qualquer transtorno de ansiedade pode afetar a maneira como o condutor dirige
e como se sente no trânsito. Ela afeta a percepção e atenção e, dependendo da
intensidade, pode travar a pessoa, que terá muita dificuldade para dirigir”.

Depressão: é uma doença psiquiátrica crônica que tem como sintomas tristeza
profunda, perda de interesse, ausência de ânimo e oscilações de humor. Muitas vezes
é confundida com ansiedade e pode levar a pensamentos suicidas.
As principais alterações no comportamento do indivíduo com depressão são:
diminuição da atenção, sonolência, capacidade de tomar decisões, alterações sensoriais
e alcoolismo.

Stress Pós Traumático: O transtorno de estresse pós-traumático (TSPT) é um tipo


de transtorno de ansiedade que pode se desenvolver em pessoas que vivenciaram
um evento traumático. Essa condição causa sofrimento intenso e prejuízos a vários
aspectos da vida, como trabalho e relacionamentos.

Esquizofrenia: é uma doença mental crônica e incapacitante, que geralmente se


manifesta na adolescência ou início da idade adulta, entre 20 e 30 anos de idade.  A
pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o
que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios.

O ser humano é considerado o subsistema mais complexo no sistema de trânsito,


capaz de influenciar e ser influenciado pelos inúmeros fatores presentes no ato de
aprender a conduzir um veículo. E mais, o aprendizado é influenciado por processos
psicológicos, que podem culminar no mal desempenho dos candidatos na realização
de provas práticas, como é o caso da Baliza.

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Pode-se constatar que, apesar das divergências, o exame psicotécnico é uma


ferramenta de suma importância, pois permite ao psicólogo Especialista em trânsito,
observar e diagnosticar traços de personalidade do candidato à CNH, a fim de verificar
suas habilidades, déficits e distúrbios psicológicos. No entanto, o que ocorre é que
ao limitar-se à mera aplicação de testes psicológicos, atividade mais reconhecida da
Psicologia do Trânsito, a situação emocional deste, acaba por ser desconsiderada.
Levando-se em consideração as funções cognitivas e psicológicas intrínsecas ao ato
de dirigir, existe a necessidade de que o aprendiz veicular se encontre em condições
de fazê-lo pensando, sentindo e agindo de forma plena e dinâmica, considerando as
implicações técnicas, preventivas, defensivas e punitivas, presentes no ato de dirigir.
Sabendo-se que diante da situação de testagem, que circunda a obtenção da
habilitação para dirigir, é natural que muitos candidatos apresentem estados e
condições emocionais alterados, que debilitem o sistema nervoso, motor e os órgãos
dos sentidos e os processos psíquicos, como é o caso daqueles que são acometidos
pela ansiedade de forma intensa e desproporcional.
Embora a ansiedade seja uma reação natural do organismo diante de situações
percebidas como ameaçadoras e estressantes, nos casos que esta é sentida em alta

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frequência e intensidade, seus prejuízos são reais e evidentes, provocando inúmeras


e significativas alterações no funcionamento do corpo humano, prejudicando a visão,
os músculos, a respiração. Pode provocar ainda, náuseas, tonturas, dificuldade de
evocar memória, dificuldade de concentração, dentre tantos outros sintomas que
causam sofrimento e ocasionam prejuízos no desempenho e nos demais aspectos
da vida do indivíduo. 
Como consequência, a ansiedade pode influenciar de forma negativa o
comportamento, as ações e o desempenho durante a realização da prova de Baliza,
estando o indivíduo, naquele momento, sem condições de conduzir um automóvel e,
muito menos, de estacioná-lo entre as balizas, como exige a prova.
Subsequentemente, ocorre a reprovação na prova prática de Baliza, visto que estes
sintomas tornam a atuação do condutor, incompatível com o ato de conduzir um
automóvel.
 
A partir do momento que a pessoa vai ser avaliada, muitas vezes pode
se sentir ansiosa, nervosa, e isso pode acarretar desconcentração,
medo, insegurança e atrapalhar seu bom desempenho na direção.
É essencial que o candidato tenha autoconfiança, procure relaxar e
controlar sua ansiedade antes de iniciar seu exame, para que não
perca a concentração necessária para realizá-lo bem e obter o
sucesso esperado (AMARAL, 2010).
 
Diante disso, percebe-se que o papel do Psicólogo Especialista em Trânsito precisa
evoluir, no que diz respeito as funções mentais, a personalidade e a comportamento,
dos candidatos à CNH.
Valendo-se de exames psicotécnicos não apenas para mensurar aptidões, habilidades
e a capacidade do indivíduo de conduzir um automóvel, mas também para diagnosticar
desajustes pessoais e desequilíbrios emocionais que possam vir a ser projetados no
desempenho das provas.

O exame psicotécnico é um dos procedimentos avaliativos que


permite ao perito examinador verificar o desenvolvimento de
várias habilidades do pretenso condutor, bem como traços de sua
personalidade no processo para obtenção da Carteira Nacional de
Habilitação (NASCIMENTO, 2014, p. 10).

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CAPÍTULO 6
TRANSPORTE E MOBILIDADE

6.1 Transporte e Mobilidade

Transporte e Mobilidade

Mobilidade urbana pode ser entendida como a maneira das pessoas transitarem
nos espaços urbanos, seja de maneira individual (a pé, bicicletas, motocicletas e/ou
carros), seja de maneira coletiva (ônibus, metrô, trem, etc.).

A mobilidade urbana envolve o ir e vir das pessoas no espaço urbano.


Esse conceito é essencial no planejamento urbano, pois influencia de maneira
decisiva na qualidade de vida dos cidadãos nas cidades.
Por se tratar do direito de ir e vir das pessoas, a mobilidade urbana está diretamente
ligada ao processo de urbanização das cidades. Esse processo teve sua acentuação
com a chegada das grandes indústrias no Brasil, em meados da década de 1930.
Tais indústrias se concentraram em poucas áreas, principalmente na Região Sudeste.
A industrialização acelerou a migração campo-cidade, conhecida como êxodo rural,

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em que as pessoas partiam das áreas rurais em busca de empregos e possíveis


melhorias de vida.
O planejamento urbano e a evolução dos meios de transportes coletivos nas grandes
cidades brasileiras não acompanharam esse rápido crescimento urbano. Com isso, os
transportes coletivos se desenvolveram aquém do esperado, causando um rápido
sucateamento. Esse sucateamento dos transportes coletivos contribuiu para que
as classes de maior poder aquisitivo adquirissem seu próprio transporte, aumentando
o número de veículos nas ruas.

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Somando transportes coletivos sucateados e lotados com o aumento do número


de veículos individuais nas ruas, temos uma equação que prejudica o direito de ir e
vir nas cidades, com atrasos, poluição do ar e sonora, engarrafamentos e demais
problemas urbanos.
O número cada vez maior de veículos individuais nas ruas se deve a vários fatores,
como:
• aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos;
• péssima qualidade dos transportes coletivos;
• créditos facilitados ao consumidor;
• política histórica de priorizar rodovias;
• impostos reduzidos sobre produtos industrializados (carros e motocicletas
entram nessa lista); entre outros.

Esses problemas atingem de forma intensa as grandes capitais do país, mas não
somente elas. As cidades médias, isto é, acima de 50 mil habitantes, também sentiram
os efeitos do alto número de veículos nas ruas, algo que deve ser analisado com
atenção.
A mobilidade urbana, para ser sustentável, deve passar por um rigoroso planejamento
urbano. O incentivo ao uso de ciclovias, transportes coletivos, caronas coletivas, rodízios

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de carros e até mesmo pedágios urbanos poderia melhorar a locomoção e diminuir os


impactos ambientais causados pelo excesso de veículos nas ruas, um dos principais
entraves a uma boa mobilidade.
O uso de bicicletas e possíveis carros elétricos auxiliaria também numa mobilidade
sustentável, pois evitaria, nessas modalidades, a emissão de poluentes nos ares urbanos.
A criação de parques urbanos para o descanso populacional e realização de atividades
físicas faria com que as pessoas priorizassem andar a pé nas curtas distâncias em
vez de tirar o carro da garagem. Além de se exercitar, essas pessoas contribuíram
para a temática ambiental, deixando a cidade mais limpa e menos barulhenta.
A legislação brasileira garante uma política pública teoricamente eficiente quando
o assunto é mobilidade urbana. Dentre as leis que auxiliam na melhoria da mobilidade
nas cidades, temos:
• o Estatuto das Cidades;
• a Lei 12.587/12 (que rege as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana);
• a Lei 13.089/15 (conhecida como Estatuto da Metrópole);
• a recente Lei 13.683/18, que trouxe pequenas alterações nas duas leis anteriores.

Essas leis obrigam os municípios a terem um Plano de Mobilidade Urbana que


atenda a uma série de requisitos, como ciclovias e ciclofaixas, sustentabilidade no
transporte público, proteção de áreas ambientais, entre outros.
Os grandes desafios da mobilidade urbana brasileira passam pelo trânsito das
grandes e médias cidades. Com o aumento da renda média dos brasileiros, aumento
dos veículos nas ruas e preferência por transportes individuais, o ir e vir nas cidades
está cada vez mais caótico.
Além do trânsito, há o inchaço populacional e a expansão das cidades, com áreas
cada vez mais periféricas, que são desatendidas pelo poder público em relação às
políticas de mobilidade. Com o aumento dessas áreas, as pessoas precisam se deslocar
por distâncias maiores, o que demanda mais veículos nas ruas. Isso traz, com mais
frequência, engarrafamentos e um trânsito lento na hora do rush.
Vários geógrafos e urbanistas que se dedicam ao estudo da mobilidade urbana
procuram soluções para melhorar o trânsito nas cidades e, consequentemente, a
mobilidade urbana nos espaços públicos.

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Dentre algumas soluções, podemos citar:


• ampliar áreas atendidas pelos transportes públicos coletivos (ônibus, metrô e trem);
• diversificar o uso dos meios de transportes (carros, bicicletas, ônibus,
motocicletas);
• flexibilidade no horário das atividades urbanas: comércio em uma hora, atividades
escolares em outra, para distribuir a mobilidade ao longo do dia;
• incentivo a caronas coletivas para pessoas que vão para a mesma direção;
• integração entre os transportes públicos (ônibus integrado com metrô, por exemplo).

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As ciclovias são excelentes meios para melhorar a mobilidade urbana.


Essas soluções poderiam amenizar os problemas de mobilidade desde que houvesse
uma parceria entre a sociedade e poder público, com campanhas de conscientização
ambiental e de uso consciente dos espaços públicos. Afinal, a cidade é de todos, e
todos têm o direito e dever de cuidar dela.

8 dados mostram o impacto da mobilidade urbana nas nossas vidas


São 32 dias por ano perdidos no trânsito e R$ 111 bilhões que a economia deixa
de ganhar enquanto estamos em deslocamentos

26% da população paulistana gasta mais de 2 horas em deslocamentos diários, de acordo com pesquisa de 2020.
Foto: Getty Images

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Na cidade de São Paulo, morar longe do trabalho é um impacto da mobilidade


urbana já conhecido na vida da população. É porque a concentração da maior
parte dos empregos e das moradias estão em áreas diferentes da capital paulista.
A consequência? A baixa qualidade de vida dos paulistanos, que gastam tempo e
dinheiro demais para ir e vir. 
Contudo, ter a vida afetada pelos deslocamentos diários não é exclusividade dos
paulistanos. A mobilidade urbana impacta a todos nós e as estatísticas listadas a
seguir são provas disso. 

1- O tempo perdido em deslocamentos impediu a economia de ganhar R$ 111 bilhões 


Este é o valor estimado do que a economia deixou de produzir enquanto estávamos
nos deslocando em 37 áreas metropolitanas do País. O número compõe o estudo
divulgado em 2019 pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), feito
com base nos dados da PNAD/IBGE. 

2- A mobilidade urbana no Brasil custa R$ 483,3 bilhões anuais


Esta é a estimativa do custo socioeconômico da mobilidade urbana no Brasil, de
acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). A divulgação do
levantamento aconteceu em 2019. Nessa conta entram gastos individuais de usuários
de transporte ou empregadores. Além de recursos do Poder Público para manter o
sistema funcionando e os impactos sociais da movimentação das pessoas. 

3- Uma pessoa perde cerca de 32 dias por ano no trânsito


O dado é da pesquisa feita em 2019 pela 99, empresa de tecnologia voltada à
mobilidade urbana, em parceria com a Ipsos. O estudo revelou que os brasileiros
gastam, em média, 1h20 para se deslocar para as atividades principais do dia. Ainda
mais: esse gasto chega a 2h07 para que se cumpram todos os deslocamentos diários.
Na somatória do ano, esse tempo é o equivalente a 32 dias no trânsito – um impacto
e tanto da mobilidade urbana na vida do brasileiro.

4- 26% da população paulistana gasta mais de 2 horas em deslocamentos diários


O dado é da pesquisa Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana feita em 2020 pela
Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência. Entre os que usam
transporte coletivo público todos os dias, ou quase todos os dias, o tempo médio é

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de 2h31. São 4 minutos a mais do que em 2019. Já o tempo médio de deslocamento


entre as pessoas que usam carro todos os dias é de 1h29. 

5- Recife tem o tempo médio de espera de transporte público mais alto do mundo
São 31 minutos esperando pelo transporte público na capital do Pernambuco, de
acordo com o  Relatório Global Moovit sobre Transporte Público 2020. Logo em
seguida vem Salvador, com 28 minutos. Recife também lidera na espera longa: 65%
dos passageiros aguardam por mais de 20 minutos. Segundo o estudo, o tempo médio
de espera não diminuiu em nenhuma cidade em relação a 2019. 

6- O centro de São Paulo concentra 64% dos empregos e apenas 17% de residentes
A afirmação é da urbanista Alejandra Maria Devecchi, gerente de planejamento
urbano da Ramboll, empresa dinamarquesa de planejamento em infraestrutura
especializada em questões ambientais. “Na região metropolitana de São Paulo, há
uma clara dissociação entre a localização do emprego e a da moradia, com grande
parte da população levando entre duas e três horas para chegar a seus trabalhos
diariamente”, explica. De acordo com ela, esse impacto de mobilidade urbana representa
5 milhões de empregos e 2 milhões de pessoas residindo nessas áreas. “Os demais,
ou 3 milhões de trabalhos, são distribuídos entre pessoas que se deslocam das mais
diversas regiões metropolitanas para o centro”, diz.

7- O custo com passagens de ônibus compromete mais de um terço da renda de


quem mora em áreas periféricas do RJ
Isso porque o custo do transporte é maior para quem percorre maiores distâncias.
O levantamento faz parte do Mapa da Desigualdade 2020, da Casa Fluminense. E
foi feito com base em dados das prefeituras de 22 cidades que compõem a região
metropolitana do Rio de Janeiro e as empresas de ônibus. 

8– 34% das viagens em Curitiba envolvem pelo menos três baldeações


Segundo o relatório da Moovit, esse é o índice das viagens na capital paranaense,
que está acima de capitais europeias como Berlim e Paris. O transporte intermodal,
a integração entre mais de um tipo de veículo no deslocamento, é uma das soluções
para diminuir as baldeações e minimizar esse problema de mobilidade urbana.

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Os problemas da mobilidade urbana causam imitação do fluxo; Aumento do índice


de acidentes, tendo como consequência mutilações graves ou mortes; Pequena oferta
de alternativa de mobilidade para atender o excesso de passageiros que dependem
de transportes públicos; Poluição do ambiente.
É necessário colocar em prática, com certa urgência, os estudos e projetos sobre
a mobilidade urbana para que a população tenha uma qualidade de vida melhor.
MATIAS, Átila. “Mobilidade urbana no Brasil”; Brasil Escola. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/geografia/mobilidade-urbana-no-brasil.htm.
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CAPÍTULO 7
MEDICINA DE TRÁFEGO

7.1 Medicina de Tráfego

Medicina de Tráfego

Medicina de Tráfego é o ramo da ciência médica que trata da manutenção do


bem-estar físico, psíquico e social do ser humano que se desloca, qualquer que seja
o meio que propicie a sua mobilidade, cuidando, também, das interações desses
deslocamentos (e dos mecanismos que o propiciam) com o homem, visando ao
equilíbrio ecológico.
Estuda as causas do acidente de tráfego a fim de preveni-lo ou mitigar suas
consequências, além de contribuir com subsídios técnicos para a elaboração do
ordenamento legal e modificação do comportamento do usuário do sistema de
circulação viária.

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Para entender melhor o que é a Medicina de Tráfego é importante conhecer um


pouco da história.
Corria o ano de 1960. Médicos legistas, reunidos em Nova York, durante a realização
do II International Meeting on Forensic Medicine, sob a liderança do professor Cesare
Gerin, Diretor do Instituto de Medicina Legal de Roma e Presidente da Associação
Italiana de Medicina de Tráfego, já então fundada, tomaram a decisão histórica de se
reunirem “em futuro próximo, com o propósito especifico de debater as graves consequências
dos acidentes de trânsito e sua problemática médica”.
O que os levava a essa decisão era o fato de, no dizer dos legistas, “virem ter, às
nossas mãos, as consequências mais dramáticas dos infortúnios do tráfego” (cf. Veiga
de Carvalho, H, Rev. ABRAMET, 1999).
A reunião proposta aconteceu em San Remo, Itália, entre 8 e 11 de dezembro do
mesmo ano, e foi chamada de Congresso de Medicina de Tráfego, aglutinando mais
de 300 participantes de diferentes países. O professor Gerin abriu o Congresso falando
das finalidades deste:
“Visto a grande atualidade dos problemas do tráfego e suas perspectivas, cada vez mais
evidentes, com os novos voos espaciais e a utilização, cada vez maior, dos automóveis,
criando uma elevação assustadora de acidentes nas estradas, trazendo inúmeros problemas
que deveriam ser estudados nesse conjunto que se deve denominar Medicina de Tráfego”.
O Brasil foi representado, no evento, pelo professor Hilário Veiga de Carvalho, à
época professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, diretor do
Instituto Oscar Freire e presidente da Sociedade de Medicina Legal e Criminologia de
São Paulo, convidado especial do Congresso.
No evento foi proposta e aceita a fundação da sociedade Internacional de Infortunística
e Medicina do Tráfego, que posteriormente passaria a ser denominada Associação
Internacional de Medicina e Acidentes e do Tráfego – IAATM –, para a qual o professor
Hilário foi indicado como vice-presidente.
O primeiro congresso dessa nova sociedade aconteceu em Roma, em abril de
1963. Registro importante deve ser feito ao IV Congresso, que teve lugar em Paris, em
1972, visto ter sido, naquele momento, atribuído ao médico “avaliar o comportamento
humano nos acidentes de tráfego”. Eram as seguintes atribuições:
• desenvolver critérios médicos e psicológicos para a condução segura;
• realizar pesquisas para estudar as causas que determinam os acidentes;

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• colaborar para que se impeçam os motoristas, com tendências para infortúnios,


de dirigir, especialmente os alcoólatras e viciados em  drogas;
• agir como consultor das agências de seguro em grupo de licenciamento;
• advertir seus pacientes para não dirigir enquanto não estiverem devidamente
qualificados;
• melhorar os cuidados com as vítimas de acidentes e promover os meios ideais
para o transporte das pessoas lesionadas.

Os especialistas da área colaboram com a segurança do trânsito, prevenindo seus


riscos e proporcionando uma melhor qualidade de vida para as pessoas. A principal
função do Médico de Tráfego é guiar, analisar e advertir a população sobre os perigos
do trânsito, para assim, torná-lo mais seguro, ou buscando tratar da melhor forma
suas consequências.
A pesquisa está sempre presente nessa área, o que torna a especialidade uma das
principais fontes de informações para a formulação do Código de Trânsito Brasileiro.
Desse modo, a Medicina do Tráfego pode modificar o comportamento dos transeuntes
a fim de preservar sua saúde.
É importante que o profissional esteja sempre apto a conhecer e aprender mais,
além de possuir facilidade e experiência na especialidade de clínica geral. Possuir
uma visão responsável e humanista também pode ajudar, pois, parte de seu trabalho

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é participar das decisões políticas para contribuir com o bem-público e melhorar a


sociedade como um todo.

A avaliação que comprove que o condutor está apto para gerar a segurança esperada


no tráfego, é outra função do médico de tráfego, que pode solicitar o afastamento
temporário ou definitivo de algum condutor que não disponha do estado de saúde
exigido para a  direção veicular, podendo apresentar algum  risco a si mesmo  e
a terceiros envolvidos no trânsito.
Identificam as causas dos acidentes, definem e divulgam grupos de risco, índices de
morbimortalidade e consequências dos acidentes de trânsito, além de gerar debates
na sociedade voltados à prevenção por meio de campanhas educativas.
Nessa área se encontra o Exame de Aptidão Física e Mental, já que essa avaliação
médica permite o afastamento temporário ou definitivo do condutor de veículo que
ofereça risco para a segurança do trânsito, além de eleger com cautela aqueles que
terão sua primeira CNH (Carteira Nacional de Habilitação). O exame identifica pressão
arterial, acuidade auditiva, acuidade visual, campo visual e aparelho musculoesquelético. 

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Para a médica Vanessa Baeta, da MCD, a medicina do tráfego, em sua área de


atuação pericial do exame de avaliação física e mental do candidato a condutor, pode
e deve ser um instrumento valioso na promoção da saúde mental e consequentemente
na prevenção deste adoecimento cada vez mais frequente e incapacitante. Segundo
ela, é cada vez mais relevante que médicos e psicológos do tráfego, assim como
entidades ligadas às duas áreas profissionais, como Abramet e Abrapsit, dialoguem e
debatam modelos de avaliação biopsicossoal nos exames de avaliação dos candidatos
a condutor. “Neste circuito da vida é dever dos profissionais da saúde integrar e acolher
as vulnerabilidades, e potencializar as capacidades dos sujeitos em uma trajetória
biopsicossocial”, disse a médica.
A médica abordou o tema saúde mental, lembrando o Setembro Amarelo, mês de
prevenção so suicídio, no vídeo da Associação das Clínicas de Trânsito de Minas Gerais
(Actrans), que em setembro lançou uma série de vídeos curtos sobre os desafios da
segurança de pedestres, condutores, ciclistas para marcar a Semana do Trânsito.
Segundo Vanessa Baeta, médica perita do tráfego e médica do trabalho, as
estimativas são de que transtornos mentais são hoje a segunda causa de afastamento
dos trabalhadores pelo INSS, e a segunda causa de morte entre 15 e 29 anos através

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do extermínio da própria vida, no qual mais de 95% dos casos estão ligados a um
transtorno mental.
A médica alertou em sua fala que 12% dos acidentes de trânsito têm como causa
saúde dos condutores. “Entre elas, os transtornos mentais, com relevância para o
transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de personalidade, transtorno de uso de
substância, transtorno de estress pós-traumático, transtornos mentais orgânicos e
demências”, destacou.
“O olhar conjunto com a psicologia do trânsito, através da constatação de fatores
acidentogênicos ligados a personalidade e ao comportamento do condutor, torna o exame
de aptidão física e mental com foco em uma prática integrada de saúde mental eficiente
e humanizada. Realçando que mais da metade daqueles que tentam o suicídio passaram
nos últimos nos últimos seis meses por uma consulta médica, o agravo da saúde mental
na pandemia (a dita quarta onda), nos incentiva a esta construção artesanal e delicada
devido à complexidade do ser humano em sua singularidade e inserção social, fazendo
deste exame um convite ao bem estar do sujeito e da sociedade” (Vanessa Baeta, médica
perita do tráfego e médica do trabalho)

No Brasil, a Medicina de Tráfego teve início com a fundação da ABRAMET. A


Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, em 19 de agosto de 1980.

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A entidade reúne os especialistas, fomenta e desenvolve estudos e pesquisas e


realiza ações para prevenção de acidentes decorrentes da mobilidade humana.
Busca também soluções para reduzir as sequelas e consequências dos sinistros
de trânsito.

A Medicina de Tráfego Preventiva identifica os fatores etiológicos dos acidentes; define


os grupos de alto risco; caracteriza e divulga periodicamente índices de morbidade,
mortalidade e o número de incapacidades produzidas pelos acidentes de trânsito;
difunde o tema na comunidade, incluindo nos programas de prevenção e campanhas
educativas as opiniões e experiências dos especialistas. No contexto da Medicina de
Tráfego Preventiva, o Exame de Aptidão Física e Mental é de grande importância, já
que a adequada avaliação médica permite o afastamento temporário ou definitivo
do condutor de veículo, ou candidato a condutor, portador de doença de risco para a
segurança de trânsito.

A Medicina de Tráfego Legal realiza perícias, avaliações e colabora com o Poder


Público na concepção, elaboração e aplicação de uma legislação adequada e eficiente
relativa à medicina e segurança de trânsito. Resoluções do Conselho Nacional de
Trânsito tiveram ampla colaboração dos especialistas da Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego (ABRAMET).

A Medicina de Tráfego Curativa cuida do atendimento no local do acidente (Atendimento


Pré-hospitalar) e do transporte da vítima para o hospital. Um atendimento imediato e
correto pode salvar muitas vítimas de acidentes de trânsito.

A Medicina de Tráfego Ocupacional cuida da prevenção das doenças dos motoristas


profissionais, como perda auditiva, surdez, zumbido, problemas respiratórios, doenças
osteomusculares, neuroses, fobias e distúrbios comportamentais. Preocupa-se com
o stress físico e psíquico, riscos físico, químico, biológico e de acidente e com os
aspectos ergonômicos do exercício da profissão de motorista. Estuda as condições
inseguras do tráfego e a normatização dos exames a que devem ser submetidos os
motoristas que dirigem profissionalmente, em acordo com os riscos a que estejam
expostos, sugerindo procedimentos médicos a serem implementados por ocasião dos
exames admissionais, periódicos e demissionais.

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A Medicina do Viajante estuda, entre outros, o planejamento da viagem, as doenças


infectocontagiosas prevalentes no percurso e destino do viajante, a imunização
recomendada nas viagens dentro do território nacional e para outros países, as
patologias relacionadas com o meio de transporte, com as mudanças geográficas
como altitude e clima, os seguros de viagem e o ecoturismo.

A Medicina de Tráfego Aeroespacial especializa médicos para trabalhar em empresas


aéreas, no transporte aéreo de doentes, nos aeroportos, nas inspeções de saúde
dos trabalhadores das atividades aéreas e na orientação das pessoas que desejam
viajar. Com o avanço dos estudos de fatores de estresse na atividade aérea e suas
consequências sobre o passageiro (paciente) e tripulantes é necessário que a equipe
médica tenha profundo conhecimento da fisiologia aeroespacial e efeito dos fatores
de estresse, para minimizá-los, e dos limites e normas de segurança durante o voo.

A Medicina de Tráfego Securitária avalia danos físicos causados pelos acidentes de


tráfego para efeito de recebimento de seguros pessoais.
Outros tipos de tráfego como o aquaviário, o ferroviário e o rodoviário também
necessitam, da parte médica, de melhor atenção no estudo e atendimento de suas
questões do que vêm sendo observado até então em nosso país.

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A Medicina de Tráfego Aquaviário deverá avaliar a condição médica de candidatos a


obtenção de habilitação para embarcações na categoria amador (esporte e/ou lazer),
regulamentada pelo Anexo III da Portaria 0026/94 da Diretoria de Saúde da Marinha.
A Medicina de Tráfego Ferroviário estuda as causas e as consequências dos acidentes
ferroviários para contribuir na prevenção e no atendimento pré-hospitalar.

Em 2003 a Comissão Nacional de Residência Médica aprovou o Programa de


Residência em Medicina de Tráfego, que é desenvolvido em dois anos. A formação
também pode ser feita através de curso de especialização em Medicina de Tráfego,
que confere ao pós-graduado treinamento e formação para atender todos os tipos de
exigências da especialidade.
O campo de atuação do Médico de Tráfego é amplo e tanto a residência médica
quanto os cursos de especialização têm como objetivo a capacitar médicos para:
realizar o Exame de Aptidão Física e Mental para condutores e candidatos a condutores
exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro; atuar no atendimento pré-hospitalar de
vítimas de acidentes de tráfego; atuar em empresas (públicas, privadas, autarquias
ou sindicatos) de transporte terrestre, marítimo ou aéreo, na área de segurança de
tráfego e saúde ocupacional; atuar como orientadores de viagens; atuar em perícias
securitárias de vítimas de acidentes de trânsito; orientar, analisar, realizar pesquisas
e contribuir na organização educacional e legal do trânsito.
O nível de remuneração em Medicina de Tráfego é variável, uma vez que o médico
pode ser funcionário público, empregado de uma grande empresa ou profissional
liberal. Ele pode ter, por exemplo, uma clínica credenciada pelo DETRAN para fazer
exames de aptidão física e mental para condutores ou candidatos a condutores de
veículos automotores.
Fonte: Flávio Adura, Daniele Gianvecchio, Daniel Romero Muñoz

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CAPÍTULO 8
EDUCAÇÃO E TRÂNSITO

8.1 Educação e trânsito

À medida que a sociedade evolui, novos desafios surgem para as organizações e


entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito (SNT), principalmente quando
se trata de encontrar soluções inovadoras, ousadas e adequadas aos desafios da
atualidade.
Professores das disciplinas relevantes, profissionais do direito e profissionais das
áreas de educação, transporte e segurança pública discutem o tema extensivamente.
O Capítulo VI, do Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23 de setembro
de 1997, disciplina a educação para o trânsito e, em seu artigo 76, descreve que a
educação relacionada ao trânsito deve ser promovida desde a pré-escola até o ensino
médio, com planejamento e coordenação a serem desempenhadas pelos órgãos e
entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, nas suas respectivas áreas de atuação. (BRASIL,
1997).

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Aprender sobre as leis de trânsito desde o início pode fazer uma grande diferença
para os futuros motoristas. Nesta ordem, é preciso harmonizar as atividades voltadas
à educação para o transporte de forma a concretizar as relações sociais, as interações

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entre os diversos componentes do transporte, bem como o comportamento de seus


usuários, a fim de prevenir os acidentes de trânsito, responsáveis ​​por inúmeras
fatalidades.
Nesse sentido, é fundamental considerar como esse tema está sendo desenvolvido
pelos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito, pois é preciso compreender a
ordem de trânsito, o exercício da cidadania e o respeito aos usuários das vias terrestres.
Essas situações só podem ser superadas e desenvolvidas por meio da educação.
A educação no transporte é um direito que todas as pessoas têm e é uma prioridade
para as seis organizações que compõem o Sistema Nacional de Transportes. Todo
representante de uma agência de transporte que tenha a oportunidade de interagir
com as pessoas em seu local de trabalho deve atuar no interesse da educação no
trânsito (GOMES, 2016).

https://www.educamundo.com.br/uploads/courses/educacao-no-transito.jpg

Por uma razão lógica, o poder público municipal é o componente mais importante
do Sistema Nacional de Trânsito para a implementação da educação para o transporte,
pois tratará das questões locais durante o trabalho, exigindo a formação de parcerias
necessárias, principalmente com a Polícia Militar, que está presente em quase todos os
municípios do país. A oferta de educação em trânsito pelos municípios é um componente
crítico da existência de um sistema de transporte seguro. 2014 (CONTRAN).

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Nesse viés, “os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito devem estar integrados
como um todo e para contribuir com isso, os órgãos municipais devem se articular
com os demais em sua circunscrição, realizando atividades de interesse comum e,
sobretudo, repassando boas práticas”. (KRIEGGER, p. 79, 2016).
Devido a essas circunstâncias, os municípios têm um impacto significativo na Política
Nacional de Trânsito, uma vez que têm mais oportunidades de chegar ao público para
implementar uma política de trânsito abrangente. (ANDRADE FILHO, 2015).
Estudos recentes mostram que o Brasil é um dos países com maior número de
mortes relacionadas a acidentes de trânsito no mundo, o que implica que ações devem
ser tomadas para reduzir esses índices, não apenas no curto prazo (ações imediatas,
como mais leis assertivas, aumento da fiscalização etc.), mas também no longo prazo.
De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), houve 38.651
mortes no trânsito no Brasil em 2015. (ONSV, 2017).
Os acidentes de trânsito tiram a vida de mais de 40 milhões de pessoas a cada ano,
com aproximadamente 170 milhões de internações financiadas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Os acidentes de transporte terrestre (ATTs) são uma das causas mais
comuns de morte no país. Esta situação deverá agravar-se no contexto da crescente
frota automóvel. (2016, CARVALHO)

https://fotos.jornaldocarro.estadao.com.br/uploads/2018/10/31155002/5961728-1160x773.jpg

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Uma rodovia exige mais educação e atenção para o motorista. O número de infrações
cometidas tende a diminuir à medida que a população se torna mais instruída nessa
área. Sabendo-se que 85% dos acidentes de trânsito são precedidos por alguma forma
de infração, como a desobediência às leis de trânsito, a redução dessas infrações teria
impacto direto na frequência de acidentes de trânsito (MARQUES, 2010).
A educação no trânsito, juntamente com a engenharia e a fiscalização do trânsito,
é um dos três pilares do transporte e é muito importante nas escolas. (PINTO, 2015).
“A educação para o trânsito é uma atividade voltada para a formação do cidadão
usuário das estradas e rodovias, por meio do aprendizado de normas e condutas de
respeito à vida e ao meio ambiente, sempre com o objetivo de viajar com segurança”,
de acordo com a Resolução n. 638, de 30 de novembro de 2016. (CONTRAN, 2016).
“O conceito de educação engloba a conscientização, habilidades técnicas de direção,
ciência do trânsito, mudança de mentalidade e formação de novos hábitos”. (RIZZARDO,
2007, p. 629).

https://davinopolis.go.gov.br/wp-content/uploads/2020/08/IMG-20190918-WA0085-1024x768.jpg

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A este respeito, é fundamental salientar que a transversalidade cria espaço para a


inclusão do conhecimento extracurricular, permitindo aos estudantes referirem-se a
sistemas de significado construídos na sua vida cotidiana, no contexto da educação
em trânsito. (CONCEIÇÃO, 2015).
Segundo a LDB, os currículos de educação infantil, os currículos de educação
fundamental e os currículos do ensino profissionalizante devem ter uma base nacional
comum que deve ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada instituição
escolar, por um componente diferenciado que é exigida pelas características regionais
e locais, e deve incluir, obrigatoriamente, o estudo da língua. (BRASIL, 1996).
Apesar de não mencionar a educação para o trânsito, a LDB afirma no seu artigo
27, inciso I, que “os conteúdos curriculares do ensino básico devem observar a difusão
de valores fundamentais com o interesse social, os direitos e deveres dos cidadãos,
o respeito pelo bem comum, e a ordem democrática”. (BRASIL, 1996).
Existem boas práticas na educação em trânsito no Brasil, tais como o 18o Batalhão
de Policia Militar (BPM) em Brusque, SC, que está desenvolvendo um projeto de
transitolândia. O projeto é uma colaboração entre a Polícia de Brusque, a Guarda
de Trânsito, e a Prefeitura Municipal de Brusque, na qual crianças de Brusque e dos
arredores, com idades compreendidas entre os oito e doze anos, recebem as suas
primeiras aulas de condução, como resultado do encontro dos objetivos do CTB.
O projeto está dividido em duas partes: teórica e prática. Após completar a parte
teórica do projeto, as crianças são transportadas para o Centro Transitolândia, que
consiste numa sala dentro de um quartel que simula as ruas da cidade, completada
com toda a sinalização e até mesmo com vias elevadas e ciclofaixas. (PMSC, 2017)
De acordo com o Departamento de Polícia de Santa Catarina (PMSC), os resultados
do programa só são esperados a longo prazo porque trabalha diretamente com crianças
dos 9 aos 11 anos de idade. No entanto, espera-se que as crianças transmitam as
lições aos seus pais e lhes ensinem os melhores hábitos de condução. (PMSC, 2017).

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https://www.ssp.sc.gov.br/cepcc/images/projetos/transitolandia/10460905_1391492314426230_1454520900472344148_o.jpg

https://www.ssp.sc.gov.br/cepcc/images/projetos/transitolandia/21246158_1912443915664398_1610515232516743664_o.jpg

Outro exemplo positivo de educação é o “Programa o Trânsito e eu”, desenvolvido


pelo Instituto Renault em colaboração com vários municípios de todo o país. A iniciativa

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Renault-desenvolvida “O Trânsito e Eu” beneficiou 15 milhões de crianças e jovens


em 35 países em 15 anos. É dirigida a crianças dos 7 aos 11 anos de idade no Brasil.
Adaptado à nossa realidade e tendo em mente a legislação brasileira, o programa visa
educá-las sobre leis de trânsito e condução responsável, contribuindo assim para a sua
segurança, uma vez que muitas pessoas, tais como pedestres e pequenos ciclistas, já
se encontram diariamente expostos a riscos de trânsito. Mais de 47.000 estudantes
do jardim de infância ao quarto ano têm acesso ao programa em salas de aula em
sete cidades brasileiras, incluindo Curitiba e Maringá-PR. (RENAULT, 2017).

https://institutorenault.com.br/upload/images/img-proj-transito01.jpg

https://institutorenault.com.br/upload/images/img-proj-transito02.jpg

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Outros projetos que começam a ganhar maior notoriedade são as cidades mirins,
instalados em parceiras entre o setor publico e privado que visa promover uma
educação continua em relação ao trânsito e suas vicissitudes. Entre os principais
podemos destacar o projeto cidade mirim realizada pela Polícia Rodoviária Federal e
Transbrasiliana, com apoio da Secretaria Municipal da Educação e Emdurb (Empresa
Municipal de Desenvolvimento Urbano). Nesse projeto, as crianças andam de triciclo
apreendendo as regras do trânsito e a convivência no mesmo.

https://www.marilia.sp.gov.br/fotos/36c3726c756148e79a2e56d0e425486f.jpg

Ambos os projetos têm um impacto positivo na comunidade em geral, e


especificamente nas crianças, futuros condutores, que têm vindo a receber orientações
sobre civismo e respeito pelo próximo, regras de trânsito, e mobilidade urbana já há
algum tempo, com base em experiências práticas adquiridas em transitolândias e
cidades mirins.
Quando se trata de programas de prevenção, o Programa Educacional de Resistência
a Drogas e a Violência (PROERD) destaca-se como um programa institucional dirigido
pelas forças policiais. É constituído por linhas pré-definidas pelo coordenador pedagógico
do programa.

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O PROERD é um esforço colaborativo estipulado entre a Policia Militar, a Escola e


a Família, com o principal objetivo de capacitar jovens estudantes de informação e
habilidades necessárias para viver de forma segura, sem drogas e violência. De acordo
com a LDB, o PROERD permite que as escolas completem os seus projetos educativos.
Segundo estudos anteriores, o sucesso deste programa de prevenção está ligado aos
conteúdos geridos pela polícia militar, que são devidamente preparados para públicos
específicos e utilizados de forma contínua no ambiente escolar, utilizando salas de
aula interativas (2017, SECRETARIA DE SEGURANA PUBLICA).

https://www.proerdbrasil.com.br/images/daren-www.proerdBRASIL.com.br.jpg

Neste caso, um modelo semelhante poderia ser desenvolvido em relação à educação


em trânsito, o que obteria apoio pedagógico, em vez de ser limitado por futuras palestras
escolares, bem como pelas ações desenvolvidas durante a semana nacional dos
transportes, porque estas iniciativas são inúteis e limitadas, não conseguindo alcançar
os resultados desejados.
É essencial que a educação em trânsito seja promovida nas escolas, particularmente
nas fases iniciais da escola primária, através de planeamento e ações coordenadas

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entre os componentes Sistema Nacional de Trânsito e Educação, as Nações Unidas,


os Estados, o Distrito Federal, e os governos locais, nas suas respectivas áreas de
atuação, tal como estipulado por lei.
Neste sentido, a educação de trânsito deve ser tratada como uma prioridade pelos
chefes das agências do Sistema Nacional de Trânsito, através de uma padronização
do tema “educação de trânsito”, ou passando pela compreensão e implementação de
um processo contínuo e sistemático.
É óbvio que o trânsito assume muitas formas, variando de município para município,
porque os problemas de uma grande cidade, por exemplo, diferem dos de uma cidade
pequena, mas convergem de muitas maneiras. Esta situação leva tempo, mas é
fundamental que se pense primeiro na prevenção, com o objetivo de prevenir futuras
mortes.
Entende-se que é possível desenvolver estratégias a longo prazo para a implementação
eficaz da educação sobre trânsito por parte dos membros do Sistema Nacional
de Trânsito, particularmente na escola primária, resultando numa ação preventiva
eficaz contra acidentes rodoviários, uma vez que existem exemplos de programas
de prevenção bem sucedidos.

https://www.dialogando.com.br/seguranca/quiz-transito-seguro

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CAPÍTULO 9
TRÂNSITO E SAÚDE MENTAL

9.1 Trânsito e saúde mental

A necessidade humana de ir e vir sempre foi satisfeita ao longo da história. Com


os avanços tecnológicos, esta atividade ganhou opções de transporte maiores e
mais eficientes. Os automóveis continuam a ser o meio de transporte mais utilizado
atualmente.
Centenas de milhões de pessoas utilizam todos os dias os seus veículos para
percorrer centenas de quilómetros. Quer seja para chegar ao trabalho, que fica do
outro lado da cidade, ou para ir às compras, viajar, deixar ou ir buscar os filhos na
escola, muitos de nós passam uma parte significativa das nossas vidas em quatro
rodas. Hoje em dia, há mesmo motoristas profissionais que se encarrega de todo o
dia ficar na frente do volante.

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http://1.bp.blogspot.com/-axB9Hrd-K5U/VmrQt7riC0I/AAAAAAAAEgM/sysA9JDW6IE/s400/ir.png

Este tópico merece reflexão uma vez que demonstra algo vital para a vida moderna.
A OMS reconheceu a saúde mental desde o seu início, e reflete-se na sua definição de
saúde, que é definida como um estado de bem-estar físico, mental, e social completo.
Não existe uma definição oficial porque existem diferenças culturais e julgamentos
subjetivos que podem afetar a forma como a saúde mental é definida. Como resultado,
a saúde mental pode incluir a capacidade de uma pessoa de contemplar a vida e
procurar um equilíbrio entre as suas atividades e esforços, a fim de alcançar a resiliência
psicológica.
Quando se trata de saúde mental/doença, é importante lembrar que é um processo
que encerra certos aspectos da vida humana, bem como a capacidade de uma pessoa
para enfrentar desafios, conflitos e agressões colocados pelo mundo em que vive.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP tem organizado o Setembro
Amarelo em todo o país em colaboração com o Conselho Federal de Medicina - CFM.
O principal objetivo da campanha é a sensibilização do público para a prevenção do
suicídio.

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A data constitui uma oportunidade para falar mais sobre saúde mental, a importância
de compreender e lidar com as emoções, e formas de cultivar uma boa saúde emocional,
bem como a ligação entre saúde mental e condução.

https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/setembro-amarelo-mes-da-prevencao-do-
suicidio/@@download/image/suici2.jpg

A saúde mental tem sido um tema quente nos meios de comunicação social desde
o ano de 2020. Isto porque o ambiente pandémico traz muitos desafios a todos nós,
em diferentes graus de gravidade, e com eles a ansiedade e outros riscos psiquiátricos.
Em média 576 milhões de pessoas no Brasil ficarão desempregadas devido a
doenças mentais até 2020. De acordo com a Secretaria Especial de Previdência e
Trabalho, houve um aumento de 26% em comparação com 2019.
Segundo um estudo da Volvo, a causa primária de 90% de todos os acidentes é
erro humano. O comportamento humano estão ligadas à saúde e qualidade de vida
do condutor profissional.
Passamos tanto tempo na condução, especialmente nas estradas, que começamos
a realizar atividades diárias no “modo avião”, como se estivéssemos em casa ou a
conversar com amigos. A diferença é que, ao contrário de estarmos sentados em
frente à televisão, a direção requer recursos significativos de atenção e concentração
para manobrar, controlar e organizar os nossos movimentos.
Quando nos esquecemos deste fato, a conveniência de ter um carro para andar
mais depressa e mais longe pode tornar-se um problema sério. Mesmo até, fatal.

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Apesar da sua existência, as falhas mecânicas não são a principal causa de acidentes
relacionados com veículos. A maioria dos acidentes de automóvel e colisões são
causados pela falta de atenção do condutor.

https://www.galaxcms.com.br/imgs_crud_comum/316/Falhamecanicamata160poranoemrodovias-20160119093301.jpg

Para além de todos os estímulos visuais que encontramos pelo caminho, a maioria
dos quais está fora do nosso controle, tais como sinais ao ar livre, placas de sinalização,
e faróis altos de outros veículos, enfrentamos também outros tipos de perturbações.
Ironicamente, estas são as principais causas de acidentes.
Ligar, enviar mensagens de texto, disciplinar as crianças no banco de trás e a
interação dos adolescentes com amigos são apenas alguns exemplos de distrações
que facilitam os acidentes.
O risco de executar várias tarefas enquanto se conduz, deriva do fato de que, mesmo
quando estas atividades ocupam hemisférios opostos do cérebro, a sua combinação
pode atrasar o processamento do cérebro.
Segundo cientistas da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, quando
executamos duas tarefas ao mesmo tempo, temos de mudar o processamento do
nosso cérebro da primeira para a segunda. Esta mudança pode demorar até um
segundo a ocorrer. E um segundo no trânsito é crucial.

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Esta micro distração de um segundo é crítica, contribuindo para dezenas de milhares


de mortes no trânsito e milhares de milhões de reais em perdas todos os anos.

http://psicoativo.com/wp-content/uploads/2017/01/sinapse.jpg

Estudos recentes, por outro lado, demonstram que os estímulos externos não são
as únicas barreiras à segurança de um motorista.
Existem numerosos estímulos internos que podem prejudicar a nossa capacidade
de concentração e condução. Muitos deles derivam do cansaço mental e emocional
que experimentamos diariamente em frente ao trânsito.
Este conceito baseia-se na teoria de que quando uma pessoa tem uma reação
emocional, tal como ansiedade ou preocupação, torna-se menos eficiente no
processamento de informação sensorial, tal como conduzir um carro, e deve fazer
mais esforços para manter um alto nível de desempenho a fim de completar estas
tarefas.
Segundo a Associação Brasileira de Tráfego (ABRAMET), a presença de doenças
orgânicas entre os motoristas é responsável por cerca de 12% dos acidentes mortais,
incluindo doenças cardiovasculares e mentais.
O desespero e a ansiedade podem levar a uma falta de atenção, o que pode levar
a acidentes. O uso de medicamentos para tratar a ansiedade e a depressão pode ter
um efeito negativo no condutor: o sono. Segundo a ABRAMET, aproximadamente 20%

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de todos os acidentes em 2019 foram causados pelo sono. Esta estatística alarmante
representou uma das causas mais comuns de morte em acidentes em todo o país.
Os problemas psicológicos que podem ser desencadeados por uma complicada rotina
atrás do volante e, como resultado, uma queda na qualidade de vida dos motoristas
não são mencionados nos preparatórios para a CNH.
Saiba agora sobre os potenciais danos que a condução pode causar à sua saúde
mental.
Sem dúvida, a mudança psicológica mais perceptível no carro é a tensão. Durante
qualquer curta viagem de carro, notamos um nível mais elevado de irritabilidade nos
outros condutores (e em nós próprios). Por quê?

https://icetran.com.br/wp-content/uploads/2015/09/motor-mania-c2a9-walt-disney.jpg

O stress é definido como a liberação de altos níveis de adrenalina e cortisol na


corrente sanguínea. É a reação do corpo à frustração, preocupação, nervosismo,
irritabilidade e medo. Ser fechado bruscamente ou ser assediado por outros condutores,
por exemplo, são situações que despertam estes sentimentos e transformam a estrada
num ambiente altamente estressante, deixando os condutores com nervosismo a flor
da pele.

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De acordo com um estudo realizado para a Escola do Parlamento de São Paulo,


88% da população da cidade afirma estar de alguma forma em situação de stress.
A causa mais comum desta dificuldade, de acordo com os inquiridos, é a condução.
Os dados são preocupantes, uma vez que o estado emocional do condutor tem um
impacto direto nos seus níveis de decisão e concentração.
No entanto, os problemas causados pelo stress na estrada não terminam nas ruas.
O aumento regular dos níveis de adrenalina e cortisol tem consequências negativas
para a qualidade de vida do condutor.
Segundo um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(Ibope), 65% dos brasileiros sofrem de insônia ou de má qualidade no sono. Uma das
causas mais comuns desta condição é a alteração hormonal provocada por stress
excessivo.

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTWt52pwvxYGtxUlTrFWirEyOj6_JmX4Hm9LacRFKhZmS-90nytTfD9OyNVcK48xP3_BLg&usqp=CAU

Como resultado, é comum que alguém que vem do trabalho de carro para casa
tenha dificuldade em dormir algumas horas mais tarde, porque os seus níveis de
adrenalina foram alterados pelo stress.

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Uma má noite de sono leva a mais cansaço, o que leva a mais stress e a mais más
noites de sono. O ciclo é extremamente perigoso e tem o potencial de exacerbar a doença
de uma forma irreversível.
Para além da adrenalina, o hormônio cortisol sofre alterações em situações estressantes.
Quando o nível deste hormônio aumenta drasticamente, os níveis de dopamina e serotonina
caem simultaneamente. A perda destas substâncias é a principal causa de depressão.
Como resultado, a exposição regular a situações de stress, tais como a estrada de São
Paulo, aumenta a frequência destes incidentes e o risco de desenvolvimento de doenças.
Talvez mais diretamente ligada ao stress, a ansiedade generalizada causa nervosismo
e preocupações excessivas em situações cotidianas, afetando negativamente a vida social
e profissional daqueles que sofrem da desordem.
A exposição constante a situações estressantes causa e exacerba a ansiedade,
tornando-a crónica e levando a consequências mais graves, tais como a desordem de
pânico.
O stress pode ter um impacto direto nos hábitos alimentares, fazendo perder o apetite
ou forçando a comer sem controle.
Num estudo sobre transtornos alimentares realizado pela American University of Ball
State, 81% dos inquiridos afirmaram ter sofrido alterações no apetite durante os períodos de
stress, com 62% a relatar um aumento no desejo de comer e 38% a relatar uma diminuição.
A razão para isto é uma mudança no nível de grelina, uma substância gastrointestinal
responsável pela fome e causada pelo stress. Como resultado, é comum que as pessoas
estressadas tenham flutuações de peso contínuas e um horário alimentar irregular.

https://www.centroceta.com.br/uploads/images/2018/07/transtorno-de-ansiedade-generalizada-1532493821.jpg

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Para além de questões de saúde mental, o stress tem consequências físicas. As


doenças que afetam a pele, estômago, intestinos, pâncreas e até o coração têm estado
ligadas.
No entanto, a condição física mais comum associada ao stress de condução é a
cefaleia, a conhecida dor de cabeça.
Segundo um estudo realizado pelo Ministério Alemão da Educação e Investigação
em colaboração com o Hospital da Universidade de Duisburg - Essen, as pessoas em
stress têm 6,3% mais de dias com dores de cabeça por mês.
Atualmente, em grandes cidades como São Paulo, há uma variedade de opções de
mobilidade que podem ajudá-lo a evitar a tensão de estar preso num carro.
Por exemplo, as linhas de metrô e trens cobrem grande parte da cidade e são
muitas vezes um modo de transporte mais rápido do que os carros. Viver perto de
uma destas estações elimina a necessidade de automóveis, otimiza o seu tempo, e
melhora a sua qualidade de vida.

https://cultura.uol.com.br/upload/tvcultura/noticias/20220320094241_48182394307-26730b9331-c-1-.jpg

Os condutores de carros também podem ajudar a reduzir o congestionamento do


trânsito, mas nem sempre evitam acidentes. Contudo, sem ter de se preocupar em

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dirigir, pode usar o tempo “distraído” para realizar outras coisas, tais como ler, estudar,
brincar, ou simplesmente distrair-se com as redes sociais.
O ciclismo é também altamente encorajado em muitas das principais cidades
do mundo, particularmente como um modo de transporte saudável, sustentável e
agradável. Por exemplo, em São Paulo, existem 680km de ciclovias e ciclofaixas que
ajudam as pessoas a circular na cidade. Além disso, muitas empresas têm agora
bicicletários, que são áreas especiais reservadas não só para armazenamento mas
também para a necessária manutenção das bicicletas.
No entanto, se a condução é uma obrigação na sua rotina diária, há algumas medidas
que poderá tomar para reduzir o stress nos veículos. Música relaxante e podcasts,
assim como um bom exercício respiratório, podem ajudar. Manter uma boa ergonomia
e uma temperatura confortável no carro.

https://agendor-blog-uploads.s3.sa-east-1.amazonaws.com/2015/09/10185259/meditar-no-carro.jpg

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Como resultado, é fundamental que cuidemos da nossa saúde mental, particularmente


nestes novos tempos que exigem reflexão e novas estratégias de sobrevivência. Existem
vários métodos para combater a preocupação excessiva através de um estilo de vida
mais saudável, incluindo nutrição equilibrada e atividade física.
Como condutores, nunca devemos levar a nossa tensão conosco na estrada. Pelo
contrário, quando assumimos o controle de um veículo, devemos estar concentrados
e alerta. Para além do cumprimento de todas as leis e regulamentos de trânsito,
devemos também praticar uma amabilidade e cortesia incomparáveis, dando a todos
a oportunidade de chegar ao seu destino em segurança, tranquilidade e paz.
Para além da Semana Nacional do Trânsito, também vale a pena mencionar o
Setembro Amarelo, que nos lembra que devemos valorizar as nossas vidas. Como
resultado, numa época de tantas mudanças e decisões, é fundamental procurar o
equilíbrio emocional através de comportamentos diários saudáveis.

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AULA 10
ÉTICA NO TRÂNSITO

10.1 Ética no Trânsito

Ética é um conjunto de valores e princípios que guiam e orientam as interações


humanas na prática da cidadania. Para ter um comportamento ético, deve haver um
agente consciente que compreenda a diferença entre bom e mau, certo e errado,
permitido e proibido, virtude e vício.
Cada um de nós que estamos compondo o trânsito precisa se orientar, o indivíduo
deve reconhecer a si próprio como juiz dos seus próprios atos durante a direção de
veículos automotores ou de tração humana, e ser responsável pelos seus atos. Como
resultado, independentemente do papel que desempenham ou do modo de transporte
que utilizam, todos são utilizadores das estradas. A vida de todos gira em torno do
transporte, que deve ser um espaço democrático e cooperativo.

https://www.napratica.org.br/wp-content/uploads/2020/02/morality-illo.jpg

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O CTB define claramente os direitos e responsabilidades do cidadão na estrada.


É da sua responsabilidade viajar sem colocar em perigo ou obstruir outros motoristas
na estrada. Todas as outras regras se baseiam neste simples entendimento.
Como resultado, tem os seguintes direitos legais:
Utilizar vias seguras e sinalizadas. No caso de um sinal defeituoso ou inexistente,
a autoridade com jurisdição sobre o itinerário deve responder e ser responsabilizada.
Solicitar alterações a qualquer artigo ou regulamento do CTB e receber uma resposta,
bem como solicitar alterações a sinalização, fiscalização, e equipamento de segurança
e receber uma resposta.
Cobrar das autoridades em Educação para o Trânsito (art. 74º), que é uma prioridade
definida pelo CTB.
As Normas Gerais estabelecem um comportamento de condução adequado para
os utilizadores das estradas, particularmente para os condutores de veículos, nas
vias terrestres.
Apesar de serem procedimentos básicos que todos os condutores devem conhecer
e seguir, os erros em manobras são responsáveis por uma grande percentagem de
infrações e acidentes.

https://www.carrodegaragem.com/y/3365/direcao-defensiva-e1481630503950.jpg

Muitas das regras de condução assemelham-se a técnicas de condução defensiva.


Isto deve-se ao fato de ambas terem sido criadas com o objetivo de segurança rodoviária
em mente. Contudo, existe uma diferença significativa: ao desobedecer às leis de
trânsito, o condutor estará cometendo infrações ou crimes, e estará sujeito a multas,
sanções administrativas, e outras sanções.

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A regra básica é que os utilizadores das vias terrestres devem evitar fazer qualquer
coisa que possa constituir um risco ou um obstáculo à circulação de pessoas em
geral. Também não devem brincar com ou deixar quaisquer substâncias, objetos, ou
objetos obstrutivos nos percursos. A responsabilidade do condutor começa muito
antes de o veículo ser colocado na estrada.

https://4.bp.blogspot.com/-p3_huFZoXZ4/W5B6hcp-5SI/AAAAAAACUpU/la6aCLpNydUghiS68LQnvBs3r_jRpxd6gCLcBGAs/s1600/Lixo-Carro.png

(Artigo 26 da Convenção sobre Comércio Transnacional e Desenvolvimento)


Validação dos documentos do condutor e do veículo (art. 159º).
Carteira Nacional de Habilitação original, compatível com a categoria do veículo e
dentro do período de validade.
Licenciamento de veículo durante o período de validade.
Uso de óculos ou lentes corretoras recomendados pela CNH.
Estado e condições do veículo (27.º parágrafo)
Veículo em excelentes condições de funcionamento e conservação.
Ter combustível suficientemente.
A presença de artigos obrigatórios em bom estado de funcionamento. O equipamento
pode ser apreendido pelas autoridades de trânsito em operações de vistorias ou “blitze”.
As condições do condutor e dos passageiros

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Ser emocionalmente equilibrado, bem preparado, e apto a condução.


Não é permitido conduzir enquanto se usa um calçado aberto, sapatos de salto
alto ou chinelos.

https://agenciapara.com.br/midias/2019/medias/60eba30f-aec0-4261-a81e-412fe02a0503.jpg

Estar preocupado com o número de passageiros e o volume de carga compatível


com a capacidade do veículo e CNH.
Os passageiros com menos de dez anos de idade estarão no banco de trás. (Ver
Resolução 15/98 para mais informações).
O condutor e os passageiros todos usando cintos de segurança.
Não deve haver nenhuma parte do corpo do condutor ou dos passageiros fora do
veículo, e nenhum objeto deve ser malabarizado sobre as estradas.
Ciclistas desmontados de suas bicicletas são considerados pedestres.
As pessoas devem usar calçadas e passeios nas ruas da cidade.
Nas estradas rurais, utilizar acostamento no sentido contrário ao do fluxo de tráfego,
numa única linha.
As viagens devem ser feitas de uma forma segura e em condições favoráveis.
Quando não há semáforo, mas há uma faixa pedestre, os pedestres esperam os
veículos.

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Quando não há uma faixa ou um sinal, o pedestre deve esperar na calçada pelo
momento certo e atravessar a estrada o mais rapidamente possível.
Acidentes com vítimas
Quando um condutor está envolvido num acidente ou testemunha um acidente
envolvendo outros, ele ou ela deve:
Sinalizar para prevenir novos acidentes, manter a área limpa e organizada.

http://4.bp.blogspot.com/-bmu4Zjg5L8k/TpMUq3E1WvI/AAAAAAAAA3E/LX_wkJdtRXY/s1600/sinalizarLocal.jpg

Prestar de imediato assistência às vítimas. Solicitar assistência especializada,


notificar a autoridade de trânsito, e permanecer nas instalações.
Se forem necessários cuidados especializados, avaliar o estado dos feridos e prestar
primeiros socorros às vítimas, se estiver qualificado.
Facilitar e coordenar a ação governamental.
Acidentes sem vítimas.
Não é necessário ativar a autoridade de trânsito, e mesmo que o seja, esta não é
obrigada a responder.
Para desafogar o tráfego, os veículos envolvidos devem ser retirados da área.
O condutor interessado deve procurar a Plantão de Acidentes de Trânsito para
obter um Boletim de Ocorrências (BO), que tem implicações legais, incluindo seguros
e ações judiciais.

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O CTB, o Código Penal, o Código de Processo Penal, e a Lei 9.099, de 26.09.95,


todos contêm disposições relativas a infrações de trânsito.
Como resultado em pesquisa feita no CTB, foram identificadas as seguintes infrações
de trânsito:
Praticar homicídio culposo (sem dolo - Art. 302).
Praticar lesões corporais culposas (sem intenção - Art. 303).
O CTB impõe multas e mesmo penas de prisão para aqueles que infligem danos
corporais a outra pessoa enquanto conduzem, mesmo que não tenham qualquer
malícia.
Permitir a recusa de assistência imediata ou abandonar a área, escapar à
responsabilidade civil ou criminal (Art. 304 e 305).

https://transitonaveia.files.wordpress.com/2016/07/multa.jpg

Atenção: Isto é um crime, mesmo que a vítima já tenha morrido ou se o serviço


tiver sido prestado por outra pessoa.
Tomar decisões quando sob a influência de álcool ou de substâncias com efeitos
semelhantes (art. 306).
Participar em corridas ou competições não autorizadas (art. 308º).

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Viajar a uma velocidade incompatível com a segurança e as condições locais (art.


311º).
Estes são considerados como crimes hediondos (Código Penal), nos quais o
perpetrador tinha a intenção, ou pelo menos sabia que os seus atos poderiam ter
consequências negativas. Como resultado, são mais graves e sujeitos a penas e
penalidades mais severas.
Fornecer informações falsas a agentes policiais ou agentes de trânsito sobre
qualquer parte de um incidente (art. 312º).
Sem dúvida, a auto-estrada é um local onde os cidadãos exercem os seus direitos
e responsabilidades cívicas. Conhecimento e respeito a estes formam a base para um
trânsito seguro, ordenado, e democrático, garantidos como premissas do atual Código
de Trânsito, que assim destaca: a defesa da vida e a conservação do meio-ambiente.
São necessárias algumas condições básicas para que os condutores se comportem
adequadamente no trânsito, de acordo com a psicologia.
A primeira é a presença de estímulos que podemos detectar, ou, por outras palavras,
algo no ambiente que chame a nossa atenção.

https://www.mobilize.org.br/handlers/ImagemHandler.aspx?img=uber-boats.jpg&t=7&w=780&h=485

A segunda condição fundamental é que o nosso corpo esteja em condições ideais


para interpretar e responder a estes mesmos estímulos. Se não formos capazes de

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compreender e agir adequadamente numa dada situação, corremos o risco de nos


colocarmos em perigo a nós próprios ou aos outros na estrada.
Finalmente, a aprendizagem prévia que devemos ter dos sinais, normas e modificações
de rota, entre outras coisas, é a terceira condição.
Para ter a certeza, saber que existem condições para um comportamento adequado
aparecer é crucial para todos os envolvidos no sistema de transporte. Se prestarmos
atenção a estas condições, notaremos que elas demonstram uma responsabilidade
partilhada entre nós, os utilizadores, e as autoridades, resultando num sistema de
transporte mais harmonioso e seguro.
Neste caso, que parte da responsabilidade recai sobre os condutores?
A segunda condição é manter condições de saúde adequadas para interpretar e
reagir a acontecimentos e situações encontradas durante a condução.
Por outras palavras, antes de conduzir, o condutor deve ter o cuidado de não
consumir bebidas alcoólicas ou outras drogas; além disso, deve estar consciente
dos medicamentos que interferem diretamente com a capacidade física e psicológica,
entre outras recomendações legislativas.
Além disso, é fundamental que o condutor procure informação e instrução (terceira
condição), de preferência de boas autoescolas, em vez das mais baratas, de qualidade
duvidosa.

https://www.autoescolaonline.net/wp-content/uploads/2018/09/principais-leis-de-transito-para-motoristas-no-brasil.jpg

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A educação é uma responsabilidade do condutor, mas é partilhada com as autoridades,


que devem fornecer todas as condições necessárias, para além da realização de
campanhas educativas.
É da responsabilidade destas organizações assegurar que as sinalizações de transito,
tais como placas e semáforos, esteja em boas condições visuais (primeira condição).

https://3.bp.blogspot.com/-aKUDJcaNbPw/V7PRhXh_dPI/AAAAAAAAGCY/q39qlp6TZpYxkRrXwSE19IUgGyGBKEhoQCLcB/s1600/coneca-sinalizacao-transito.jpg

A falta de atenção a uma ou mais destas condições pode ter consequências


desastrosas ou, pelo menos, causar muitas situações desagradáveis para os envolvidos.
O exemplo seguinte demonstra como uma falta de sinais claros pode manifestar-
se no trânsito.
Trata-se de um episódio de um ano que gerou muita controvérsia em Natal, RN:
A velocidade máxima permitida numa grande avenida (Via Costeira) foi reduzida de
80 para 60 quilómetros por hora. Para efetuar esta alteração, as placas de informação
de velocidade foram substituídas, e o sinalização horizontal (informação expressa
diretamente sobre o asfalto) foi apagada e repintada com a nova velocidade. Uma
vez que a rota tinha fiscalização eletrônica, o resultado deste ato ilegal no ambiente

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foi uma inundação de queixas e multas. Como resultado da agitação, as autoridades


foram forçadas a reconsiderar a sua decisão.
Neste caso, podemos perceber que as autoridades falharam uma vez que não
forneceram elementos claros e inequívocos para os motoristas terem a informação
em tempo hábil.
Quem sabe se as autoridades tinham em conta as condições que fazem surgir
um comportamento adequado, elaborando um plano exequível antes de implementar
as mudanças necessárias? Isto poderia ter poupado dinheiro ao governo, impedindo
despesas desnecessárias.
O exemplo anterior ilustra quando as autoridades não fornecem as condições
necessárias para um bom comportamento.
Há uma série de outros exemplos em que os condutores falham a este respeito. O
que vale a pena mencionar, porém, é a reflexão do condutor sobre o que pode estar
a interferir com a sua capacidade de compreender os acontecimentos variados que
compreendem o trânsito de um modo geral.

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CAPÍTULO 11
DIREITO E TRÂNSITO

11.1 Direito e Trânsito

Atualmente, a condução é considerada como um problema social. O número de


carros está a aumentar significativamente em paralelo com o desenvolvimento das
cidades e o aumento da população. A pressão, os compromissos pessoais e os avanços
tecnológicos têm contribuído para um ritmo acelerado no decurso dos nossos dias.
Com o volume de carros na estrada, é necessário manter um certo nível de velocidade
no trânsito, e como resultado, o pedestre sofre de insegurança nas ruas, uma vez que
é necessário proporcionar mais segurança ao usuário para que este possa circular na
cidade com maior facilidade. Por outro lado, aqueles que trabalham com automóveis
devem chegar rapidamente.

https://setcesp.org.br/wp-content/uploads/2020/04/caminhao-em-sp-1080x675.png

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Como resultado, torna-se claro que a situação é extremamente complicada, e a


necessidade de o condutor utilizar o automóvel para o trabalho exige um elevado nível
de cautela ao conduzir o veículo.
A psicologia social do trânsito exige uma série de considerações, tais como o fato
de que o número de veículos na estrada é hoje mais elevado do que deveria ser para
se poder viajar em segurança e conforto.
Quando comparado com outros países, a psicologia do trânsito no Brasil ainda
é um campo que se move com cautela. Com a aprovação do Código de Trânsito
Brasileiro (Lei no 9.503, 1997), iniciou-se uma nova era de regulamentação do trânsito,
envolvendo a sensibilização da sociedade, políticas públicas de segurança e educação
para os condutores de veículos automóveis.
O Código de Trânsito Brasileiro, estabelecido pela Lei n.º 9.503, 1997. 9.503/97,
tem como principal objetivo a criação de mecanismos que proporcionem mudanças
significativas no sistema de transportes brasileiro, de acordo com a realidade e a
necessidade, bem como a preservação ambiental.
Como resultado, Psicologia do Trânsito é um ramo da lei de trânsito que deve ser
desenvolvido para compreender o quadro legislativo do Código de Trânsito Brasileiro,
elucidando as ambiguidades tanto para os pedestres como para os condutores. Como
resultado da compreensão da legislação sobre transportes, os condutores estarão
mais bem preparados para conduzir os seus veículos e os passageiros estarão mais
conscientes dos seus direitos.

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PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
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Princípios constitucionais relativos à aplicação da legislação de trânsito


Em primeiro lugar, é necessário ter em mente que a Constituição Federal de 1988
estabeleceu o Princípio da Segurança do Transito, que afirma que a segurança do transito
é um direito social e individual que pertence ao povo brasileiro. Além disso, sob o Título II,
que trata dos direitos e garantias fundamentais, o quinto artigo da Carta Magna menciona
a segurança como um direito inalienável.
De fato, como se afirma no artigo 5º da Constituição, “todos são iguais perante a lei, sem
distinção alguma”, garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade tanto aos brasileiros como aos estrangeiros residentes no
país, nos termos seguintes. Como se afirma no artigo, o direito à segurança tem uma
definição jurídica ampla, que pode ser ainda subdividida em vários subprincípios, tais
como os princípios da segurança rodoviária.
O Código de Trânsito Brasileiro menciona expressamente a segurança rodoviária
como um princípio fundamental e um direito de todos os cidadãos no artigo 1o, 1o. No
segundo parágrafo do mesmo artigo, afirma-se que: o trânsito, em condições seguras, é
um direito de todos e uma responsabilidade de todos os membros do Sistema Nacional
de Transito, devendo estes membros compreender e implementar as medidas necessárias
para assegurar este direito no âmbito das suas respectivas responsabilidades.
Vale também a pena mencionar o contido do Artigo 28 do CTB, que estabelece a obrigação
do condutor de conduzir enquanto se concentra na segurança rodoviária. Respeitando
as regras de circulação e condução delineadas neste artigo por ordem ascendente, os
veículos maiores são sempre responsáveis pela segurança dos veículos mais pequenos,
os veículos motorizados para veículos não motorizados, e todos eles em conjunto pela
incolumidade dos pedestres.

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Neste contexto, é fundamental lembrar que as regras que limitam as liberdades


públicas, tais como as leis de trânsito que impõem sanções aos infratores, devem ser
sujeitas aos mesmos princípios que regem as infracções administrativas.
O princípio da legalidade é:
Previso no artigo 5o, inciso II, 37, caput e 84, inciso IV da Constituição da Republica,
trata-se do principio principal do Estado de Direito, com nova conotação com a força
normativa da maioria das Constituições das nações ocidentais.
O princípio da legalidade exige obediência à lei e à Constituição, sendo o povo e o
governo, que os criou, as fontes legítimas de direitos e obrigações.
Como resultado, o princípio da legalidade é mais expansivo, pois permite a criação de
um direito a todos os tipos de direitos normativos ao abrigo do Artigo 59 da Constituição,
sujeito a limitações formais e materiais, e que afeta todos os membros da população
nacional.

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O princípio da precedência é:
É proibido à autoridade pública impor uma sanção por conduta que tenha ocorrido
antes da infracção, bem como aplicar uma sanção mais severa após o ato administrativo
ter sido concluído. A diferença neste princípio reflete-se numa lei de sanção por condução
com uma pena mais elevada, que tem retroatividade para casos que ocorreram antes
da aplicação da lei.

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Quando uma lei mais severa está em vigor, bem como quando uma lei revogadora
já está em vigor, a conduta é aplicada. Exercendo o princípio da precedência, que lei
deve ser utilizada se um ato ilegal que implica uma pena de cinco pontos for aprovado
por uma nova lei e recompensado com três pontos no momento da sua decisão por
uma autoridade competente? Há entendimentos que afirmam que na ausência de
uma lei que regule a matéria, esta é aplicada por analogia com base no artigo 4º
das Leis Fundamentais da Constituição Brasileira, utilizando os mesmos princípios
estabelecidos no direito penal.
O princípio de tipicidade é:
Através deste princípio, a lei deve especificar que infracções ocorreram e quem é
responsável por elas, ou seja, pedestres, condutores de veículos, pessoas coletivas, e
mesmo agentes governamentais, ou a lei deve demonstrar que quem quer que seja
o responsável deve cumprir a lei.
No entanto, este princípio deve indicar as especificidades quanto à proibição ou não
das ações. Tudo deve estar em conformidade com a lei, com os direitos e prerrogativas
da lei aplicáveis ao ato infringido.

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Princípio do voluntariado:
É a falta de vontade de cometer um determinado ato, mas a conduta é realizada por
razões alheios, sem dolo ou culpa no sistema de justiça criminal. Na voluntariedade,

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um indivíduo pode realizar uma conduta sem intenção de cometer uma infracção em
virtude do seu desejo de o fazer, ou com a intenção de alcançar uma consequência
prática específica da sua ação ou omissão. A este respeito, é de notar que este princípio
visa analisar a presunção ambígua da lei a fim de determinar se houve ou não violação.
É a falta de motivação para levar a cabo uma tarefa específica.
O Princípio da Proporcionalidade é um princípio que afirma que tudo é proporcional.
A punição é proporcional ao nível de infracção de infra-estrutura praticada. É possível
determinar se a punição é ou não proporcional à acção praticada. Com o passar
do tempo, o desenvolvimento doutrinário deste princípio ganhou aceitação judicial,
atribuindo ao juiz a abolição de leis injustas sem pôr em causa a separação de poderes.
Se necessário, declarar que o legislador é responsável pela proporcionalidade do
texto da lei.

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O princípio do processo legal é o seguinte:


Um processo legal adequado é aquele que cumpre todos os requisitos legais e
fornece garantias fundamentais.
Como resultado, os princípios de defesa abrangente e contraditório, bem como outros
princípios implícitos e explícitos, são incorporados no processo jurídico apropriado, com
uma duração razoável. Na redação da Constituição, inciso LIV afirma que ninguém será
privado da sua liberdade ou propriedade sem passar pelo processo legal adequado.

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Princípio Motivador:
Embora este princípio não esteja explicitamente declarado na Constituição Federal,
está implícito na doutrina. A referência é ao artigo 93, inciso X, que afirma que as ações
administrativas devem ser justificadas e conduzidas numa sessão pública.
Em relação a este princípio, podemos destacar as ações administrativas,
particularmente as levadas a cabo pelos juízes, que devem ser justificadas para permitir
o controle e, posteriormente, a publicidade. Se não tiver motivação, a sanção que lhe
foi aplicada pode ser revogada.
Ramos do Direito e sua relação com o trânsito e sua legislação
O Código de Trânsito brasileiro está ligado ao amplo quadro legal do país, que
inclui direitos criminais, civis e constitucionais. É fundamental compreender a natureza
jurídica destas questões, bem como alguma jurisprudência sobre o assunto.

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Teoria e procedimento legislativo


Antes de mais, verifique a divisão formal da Lei nº 9.503/97, que estabeleceu o
Código de Trânsito Brasileiro, que contém 341 artigos divididos em 20 capítulos e
dois anexos, o primeiro dos quais abrange o conceito e as definições e o segundo
trata da sinalização do trânsito.
“Os conceitos e definições estabelecidos para os efeitos deste Código são os
constantes no Anexo I”, de acordo com o artigo 4 da lei do CTB.
De “acostamento” a “viaduto”, são listados 113 conceitos e definições, com significados
que vão de rotas rurais a rodovias e pontes, bem como cruzamentos e interseções.
Outras seções da lei mencionam violações de tráfego, tais como sinais de paragem,
limites de velocidade, regressos e conversas, exigindo o entendimento do condutor
para determinar se as violações de tráfego foram ou não cometidas. Ver, por exemplo,
as secções 181, 182, 199, 206, e 207.

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Os pedestres também têm o seu próprio conjunto de regras que devem ser seguidas.
Se necessário, lembrar-lhes que devem usar a calçada para evitar causar danos aos
outros. A sinalização visual da pintura nas ruas públicas é onde eles devem circular se
não houver faixa. Devem circular pelas beiras (acostamentos) ou pelas faixas laterais na
direção oposta dos veículos. Todos estão na estrada, e como resultado, devem seguir
as regras para garantir a segurança de todos. Os objetos não devem ser adulterados
ou abandonados.
Ao estudar a legislação de trânsito brasileira, torna-se claro que ela está repleta de
decretos, resoluções e portarias que nos permitem apreender o dinamismo do tema
e, como resultado, a sua constante modificação e atualização. É importante lembrar
que as pessoas, os veículos, e a sociedade mudam, e novas exigências devem ser
satisfeitas.
Como resultado, no passado, o veículo era mais especificamente utilizado para
transportar pessoas e mercadorias, evoluindo até aos dias de hoje, quando as pessoas
dependem de um meio de transporte mais prático, nomeadamente o automóvel.

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