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FACULDADE FAVENI
FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

AMANDA ALVES DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO TRÂNSITO E


SUA RELEVÂNCIA SOCIAL - ASPECTOS GERAIS

CUIABÁ-MT
2021
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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO TRÂNSITO E


SUA RELEVÂNCIA SOCIAL - ASPECTOS GERAIS

Autora1: Amanda Alves de Almeida

Declaro que sou autora1 deste trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais.

RESUMO

O trânsito brasileiro é classificado como um dos que apresentam os piores índices quanto
comparados com outros países, nesse macro sistema, tem-se pessoas envolvida, surge então à
necessidade de disponibilizar atenção especial aos mesmos, sem deixar de observar o
comportamento dos motoristas, abrindo dessa forma, conexão com a psicologia do trânsito que
através do aporte da avaliação psicológica do trânsito, busca-se a compreensão desse contexto.
Nesse universo de um trânsito com situações cada vez mais preocupante, tem-se enfermidades e/ou
mortes, atribuídas a uma série de fatores, mas, tendo o fator humano como um dos determinantes, a
ferramenta avaliação psicológica relacionada ao trânsito poderá contribuir para minimizar tais
ocorrências? Assim, o objetivo geral foi o de ressaltar a importância da avaliação psicológica no
trânsito como suporte a uma gestão eficiente do trânsito. Utilizou-se como recursos metodológicos,
pesquisas bibliográficas, com análise detalhada de materiais já produzidos e publicados na literatura
e artigos científicos disponibilizados em meios eletrônicos, como Google Acadêmico, biblioteca
UFMT, buscou-se palavras chaves, Trânsito. Psicologia do Trânsito. Avaliação Psicológica do
Transito. Conclui-se que a avaliação psicológica no trânsito busca além de compreender e facilitar a
circulação no trânsito, entre pessoas e veículos de modo mais harmonioso, procura também,
identificar comportamentos indesejáveis de condutores, uma vez que, a investigação dessas
situações é imprescindível para garantir à eficácia das políticas públicas voltadas a saúde preventiva
do cidadão, e assim minimizar os impactos causados por lesões ocorridas no trânsito que geram
transtornos nas pessoas e nas comunidades, bem como, ao sistema de saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Trânsito. Psicologia do Trânsito. Avaliação Psicológica do Trânsito.

1 INTRODUÇÃO

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Email: amanda.psicologa18@gmail.com
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O trânsito brasileiro é classificado como um dos que apresentam os piores


índices quanto comparados com outros países, de modo geral, considerado um
sistema complexo, que se configura em via pública tendo as pessoas inseridas
nesse meio, realizando a todo o momento movimento de idas e voltas. Nesse macro
sistema, tem-se pessoas envolvidas e constituindo tal espaço, surge então à
necessidade de disponibilizar atenção especial aos mesmos, com foco ao
entendimento deste, bem como, ao comportamento dos motoristas, abrindo dessa
forma, conexão com a psicologia, e consequentemente elo com a psicologia do
trânsito.
Com índices relativos a incidentes e/ou acidentes cada vez maiores, como
mostra Moreira et. al. (2018, p.2785) que “entre os anos de 1996 a 2015, o Brasil
registrou aproximadamente 39 mil mortes ao ano por Acidentes de Transporte de
Trânsito (ATT) nas quais 13.200 eram adolescentes e jovens”. Muitos desses
índices têm na falha humana a principal causa dos acidentes, porém não sendo a
única e a psicologia do trânsito através da avaliação psicológica do trânsito torna-se
fundamental para compreensão desse contexto.
Nesse universo de um trânsito com situações cada vez mais preocupante,
com impactos causados por enfermidades e/ou mortes, atribuídas a uma série de
fatores, mas, tendo o fator humano como um dos determinantes, assim, a
ferramenta avaliação psicológica relacionada ao trânsito poderá contribuir para
minimizar tais ocorrências? A quem se destina? Para que serve uma avaliação
psicológica do trânsito?
As complexidades do trânsito impõem e têm requerido nas últimas décadas
ações mais assertivas, de maneira que, possa-se criar um equilíbrio entre os
diversos elementos que compõem o transito, tendo na psicologia do trânsito através
da aplicação da avaliação psicológica um dispositivo preventivo, com base em
sistematização de etapas e técnicas psicológicas consolidadas como um processo
científico, tornando seus resultados válidos e passiveis de uso em diferentes
situações, de forma a contribuir significativamente para maior compreensão dos
indivíduos, bem como, contribuir para um trânsito mais seguro.
Dessa maneira para organização e direcionamento da pesquisa o objetivo
geral foi o de ressaltar a importância da avaliação psicológica no trânsito como
ferramenta de suporte a uma gestão mais eficiente do trânsito. Tendo como
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objetivos específicos: - Conceituar Psicologia no Transito; - Abordar os aspectos


históricos da Avaliação Psicológica do Trânsito no Brasil; - Ressaltar a Importância
da Avaliação Psicológica no Trânsito, Bem Como, Sua Função Como Medida de
Segurança.
Vale ressaltar que a pesquisa se faz relevante para a sociedade, quando se
depara com números como o exposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS,
2015) ao considerar o Brasil como o segundo país do mundo com número de óbitos
por acidentes de trânsito tendo principalmente jovens entre 10 a 19 anos envolvidos,
com aproximadamente 115 mil vitimas, e ainda segundo a OMS (2015) considera
que a maioria poderia ter sido evitado.
Para comunidade acadêmica, contribui não para findar o assunto, mais sim,
para reforçar que a avaliação psicológica enquanto procedimento técnico do
psicólogo entre outras, no contexto em que relaciona o estudo comportamental
associando às resoluções, normas e/ou leis poderá minimizar os impactos
produzidos no âmbito do trânsito, corroborando assertivamente com todas as
camadas da sociedade com ações que se transforme em utilidade pública.
Utilizou-se como recursos metodológicos, a pesquisas bibliográficas, com
análise detalhada de materiais já produzidos e publicados na literatura e artigos
científicos publicados em meios eletrônicos, como Google Acadêmico, e ainda na
biblioteca municipal e da UFMT, através de palavras chaves, Trânsito. Psicologia do
Trânsito. Avaliação Psicológica.
Conclui-se com a pesquisa que a avaliação psicológica como medida
obrigatória aos candidatos para obtenção da carteira nacional de habilitação (CNH)
e condutores de veículos automotores, não se limita a uma abordagem única, mas
também, como uma ferramenta de prevenção inserida no universo do trânsito e de
suporte aos órgãos responsáveis pela mobilidade urbana e aos de saúde pública no
sentido de atuarem sobre a ótica de minimizar o impacto que comportamento de
risco oferece a sociedade.

2 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO TRÂNSITO – ABORDAGEM CONCEITUAL

Com o crescimento das cidades e a complexidade assumida pelo trânsito nas


diversas regiões do território nacional, torna-se imprescindível conhecer, organizar e
elaborar estratégicas que possa conhecer o perfil e/ou comportamento dos
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indivíduos que circulam pelas vias públicas e dos processos psicossociais inseridos
nesse comportamento, e nesse sentido a psicologia do trânsito, vem ao longo das
últimas décadas ganhando mais destaques.
De acordo com Silva (2017, p.02) ao ponderar sobre a psicologia do trânsito,
a autora destaca que:
Tem muito a contribuir com o transito, por ser definida como uma ciência
que estuda por método científico válido, os comportamentos humanos no
transito e os fatores e processos externos e internos, conscientes e
inconscientes que os provocam ou os alteram. Seu objetivo é tornar o
transito mais seguro, assim como possibilitar o bem estar dos indivíduos em
seus deslocamentos (SILVA, 2017, p. 02).

De modo que, ao se compreender essas dinâmicas e seus aspectos, é de


fundamental importância para a elaboração de procedimentos que visem a
prevenção e/ou a promoção na mobilidade urbana. Para Bianchi (2011, p.12), a
psicologia no trânsito no território nacional articula-se em quatro etapas, a saber:
1º) Primeira aplicações das técnicas psicológicas e regulamentação da
Psicologia com uma profissão; - 2º) a Psicologia do Trânsito como disciplina
científica; - 3ª) desenvolvimento da Psicologia do Trânsito no meio
interdisciplinar; - 4ª) aprovação do Código de Trânsito Brasileiro, em 1997
(BIANCHI, 2011, p.12).

Rozestraten (2006, p. 37) afirma que a psicologia do trânsito “é de extrema


importância para entender o comportamento do condutor de forma que a prevenção
se torne mais rigorosa para o motorista e consequentemente o pedestre fique mais
seguro em se deslocar pelas ruas”.
Nesse sentido, a legislação nacional visando minimizar e/ou mesmo prevenir
certos fatores que ocorrem no macro ambiente do trânsito, tem na avaliação
psicológica e seus caminhos, o suporte para que possam viabilizar ações na direção
de um trânsito mais seguro, com expectativa de reduzir os danos de um acidente.
Dentro dessa perspectiva, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2012)
observa a respeito da avaliação psicológica como sendo:
Um processo técnico e científico aplicado a diferentes pessoas ou grupos de
pessoas – e de acordo com cada área do conhecimento psicológico, requer
metodologias específicas. Ela é dinâmica e constitui-se em fonte de
informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a
finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do
psicólogo (CPF, 2012, p. 10).

Em Landin et. al. (2017) concordam com o CFP (2012) e contribuem


ressaltando:
A avaliação Psicológica, na qualidade de processo técnico-científico, busca
a construção de conhecimentos acerca de determinados aspectos
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psicológicos, considerando a integração de diferentes fontes, dentre elas:


entrevistas, instrumentos psicológicos, observação, análise de documentos
etc. Por ser uma atividade restrita a psicólogos, requer especial atenção dos
profissionais, pois envolve não só um cuidado na elaboração de
documentos a diferentes interesses, mas, sobretudo, pelo comprometimento
e cuidado necessário com cada pessoa avaliada (LANDIN et. al., 2017,
p.08).

Assim sendo, a avaliação psicológica compreende um amplo universo de


possibilidades, desde aspectos cognitivos, traços de personalidades, estados
emocionais, psicopatologias, aptidões, dentre outros aspectos, que permitam
sistematizar o comportamento dos indivíduos no complexo ambiente do trânsito.
Vale ressaltar que todo esse aporte existente atualmente não se configurou
em pouco espaço de tempo, mas sim, através de décadas de análise e estudo na
busca de uma abordagem que melhor atendessem as nossa realidade no transito,
faz-se necessário pontuar alguns acontecimentos que marca a construção do código
de trânsito nacional, bem como, o momento da inserção da psicologia do trânsito e
da avaliação psicológica nesse cenário.

3 CONTEXTOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA DO TRÂNSITO E DA


AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DO TRÂNSITO NO BRASIL

Com a expansão da Revolução Industrial a partir de 1850 e a sua chegada


em outros continentes, trás uma nova realidade tecnológica nos grandes centros
e/ou cidades com a inserção de veículos a vapor, bem como, automóveis com motor
a combustão, aspectos esses vivenciados também no território brasileiro no final do
século XIX. De acordo com Cruz et. al. (2020, p. 65)
Do ponto de vista da circulação coletiva e da introdução de novas
tecnologias de transportes, cabe destacar que, em 1862, começaram a
circular os primeiros bondes a vapor, no Rio de Janeiro, [...] o primeiro
bonde elétrico do Brasil – e de toda a América do Sul – foi o carro de nº 104,
da Cia. Ferro-Carril do Jardim Botânico, que teve sua apresentação e
entrada em serviços em outubro de 1892. Os bondes elétricos começaram a
circular em São Paulo em maio de 1900 por intermédio da Companhia
Viação Paulista (CRUZ et. al., 2020, p.65).
Nesse cenário, convêm destacar que em âmbito internacional a psicologia do
trânsito já se fazia presente, como destacado por Bianchi (2011, p.18) observa que
“A psicologia do trânsito originou-se no contexto internacional na virada do século
XIX para o XX, culminando na IV Conferência Internacional de Psicotécnica, a qual
solicitou a adoção obrigatória de exames psicotécnicos para os condutores”.
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Nesse contexto, torna-se importante destacar o contexto histórico envolvendo


a psicologia do trânsito, bem como, da avaliação psicológica associada ao trânsito
no território nacional a partir do surgimento dos serviços psicológicos nos anos de
1940, e o quadro 01 demonstra uma contextualização geral desse momento.
QUADRO 1 – Contexto Histórico Envolvendo a Psicologia do Trânsito e a Avaliação
Psicológica no Trânsito no Brasil (1940 – Dias atuais)
ANO Acontecimentos - Contexto Envolvendo a Avaliação Psicológica
1940-1962 - Surgimento do primeiro serviço psicológico destinado à seleção de
condutores de veículos;
- Primeiro Código de trânsito, além de decretos-lei complementares, com
exigência de um perfil psicofisiologico, e previsão de exames psiquicos para
conduzir veículos;
- Surgimento do primeiro serviço de psicotécnica;
- Regulamentação da profissão de psicologo na Brasil;
1963-1979 - De acordo com Código Nacional de Trânsito, com previsão de realização
de exame psicotécnico aos condutores de transportes coletivos e cargas
perigosas;
- Surgimento do Sistema Nacional de Trânsito (DETRANS);
- Regulamentação da obrigatoriedade dos exames psicotécnicos em todo
território nacional;
1980-1997 - Consolidação da psicologia do trânsito como disciplina;
- divulgação das pesquisas e experiências em psicologia do trânsito em
periódicos especializado em psicologia;
- Instalação de núcleos de pesquisa em psicologia do trânsito nas
universidades;
- Inicio dos congressos nacionais de psicologia do trânsito no Brasil;
1998-2000 - 3º Código de Trânsito (CTB atual);
- Definição da especialidade psicologia do trânsito na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO);
- Exigência mínima de especialista em psicologia do trânsito para atuar
como perito examinador do trânsito;
- Incremento da produção científica e de testes psicológicos aplicados ao
trânsito no Brasil;
2001 - Dias - Regulamentação da especialidade em psicologia do trânsito pelo
atuais Conselho Federal de Psicologia (CFP);
- Retomada dos congressos nacionais de psicologia do trânsito no Brasil e
ampliação das comissões técnicas e científicas em psicologia do trânsito e
mobilidade;
- Criação da Associação Brasileira de Psicologia de Tráfego (ABRAPSIT);
- Publicação da Resolução nº 01 de 07/02/2019, que institui Normas e
Procedimentos para a perícia psicológica no contexto do trânsito e revoga
as Resoluções CFP nº 007/2009 e 009/2011;
Fonte: [Adaptado de HOFFMANN e CRUZ (2003); OLIVEIRA SILVA e WIT (2020), p.59]

4 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DO TRÂNSITO E SUA


RELEVÃNCIA COMO MEDIDA DE SEGURANÇA
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O trânsito brasileiro há vários anos configura-se como um dos países mais


violentos quando comparado com outros grandes centros, apresentando a cada
novo ano elevados índices de vitimados e/ou com graves ferimentos em diversas
faixas etárias, sendo considerado em face de tais agravantes como um problema de
saúde pública de enormes proporções sociais. Cruz et. al. (2020) expõem que:
Desempenhos inseguros e indesejáveis no trânsito produzem, em grande
escala, eventos críticos importantes, como os acidentes de trânsito,
definidos como eventos súbitos, violentos e inesperados que ocorrem em
um ou mais veículos, resultando em lesões, distúrbios ou perdas de vidas
humanas, além de prejuízos materiais (CRUZ et.al., 2020, p. 328).

Para World Health Organization (WHO, 2015) “as lesões causadas pelo
trânsito custam aos países de baixa renda e renda média de 1 a 2% de seu Produto
Interno Bruto (PIB) mais que a ajuda total ao desenvolvimento socioeconômico
recebida por esses países”.
Considerando o comportamento dos motoristas como peça fundamental com
base nos estudos e/ou histórico da psicologia do trânsito no Brasil busca-se
organizar um sistema com a intencionalidade da redução dos fatores de riscos, bem
como da produção de acidentes, tendo como direcionador a avaliação psicológica
dos condutores. Cruz, Wit & Souza (2017, p.65) acrescentam que “políticas e
mecanismos legais relacionados ao comportamento do condutor no sistema viário
dever estar orientados por diretrizes de verificação e acompanhamento da saúde e
da segurança dos participantes do sistema de trânsito”.
Nesse sentido, o modelo de perícia psicológica e/ou avaliação psicológica que
encontra-se inserida nos órgãos normativos, bem como, utilizada aos atuais e novos
condutores que irão fazer parte do ambiente viário, tem suporte legal através de
Resolução nº 01/2019 em que o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2019) em
seu artigo 2º parágrafo 1º ressalta:

A perícia psicológica é uma avaliação psicológica direcionada a responder


demanda lega específica. É um processo técnico-científico de coleta de
dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos
psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade,
utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e
instrumentos – reconhecidas pela Psicologia (CFP, 2019).

Ainda de acordo com a referida Resolução, quando realizada no contexto do


trânsito, a mesma deverá ser realizada por psicóloga (o) qualificada (o) no assunto,
com a finalidade de avaliar a habilidades mínimas dos candidatos à Carteira
Nacional de Habilitação (CNH) e dos condutores de veículos automotores.
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Considerando os dispostos na legislação em atendimento o Código de


Trânsito Brasileiro (CTB) e as Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito
(CONTRAN), e especificado no parágrafo 2º do artigo 2º, os candidatos e/ou
condutores de veículos automotores serão avaliados nos seguintes quesitos,
ressaltado no quadro 02.
QUADRO 02 – Habilidades/Aspectos Comportamentais a Serem Avaliados nos
Candidatos e/ou Condutores para obtenção da CNH no Brasil
Ord. Habilidades/ Aspectos/ Características
Comportamento
I - Quanto ao Aspecto Cognitivo a) atenção concentrada;
b) atenção dividida;
c) atenção alternada;
d) memória visual; e
e) inteligência;
II - Quanto ao juízo crítico/comportamental a) Deverá se avaliada (o) por meio de
entrevista e criação de situações
hipotéticas que versem sobre
reações/decisões adequadas às
situações no trânsito, tempo de reação,
assim como a capacidade para perceber
quando as ações no trânsito
correspondem ou não a decisões ou
comportamentos adequados, sejam eles
individuais ou na relação com a(o) outra
(o). Ainda, a(o) psicóloga(o) deverá obter
informações a respeito do histórico da(o)
candidata(o) com relação a acidentes de
trânsitos e opiniões sobre cidadania e
mobilidade humana e urbana;
III - Quanto aos traços de personalidades; a) impulsividade adequada, não podendo
estar exacerbada ou muito diminuída;
b) agressividade adequada, não podendo
estar exacerbada ou muito diminuída;
c) ansiedade adequada, não podendo
estar exacerbada ou muito diminuída;
Fonte: (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019)
Para Groeger (2003 Apud Costa & Alchieri, 2016, p.18) entende que “as
técnicas de avaliação psicológica, utilizadas pelos psicólogos do trânsito tem a
finalidade de auxiliar a identificação de adequações psicológicas mínimas
necessárias para o uso seguro da habilidade de dirigir, sendo esta remunerada ou
não”.
Nessa direção, Gouveia et. al. (2002 Apud Costa & Alchieri, 2016, p.18)
ressaltam que:
Na avaliação psicologia no contexto do trânsito, é fundamental a
investigação dos fenômenos psicológicos, como suas capacidades gerais e
também as especificas do indivíduo para que se identifique os indicadores
necessários para identificar os candidatos aptos ou inaptos a conduzirem
um veículo (GOUVEIA et. al. 2002 Apud COSTA & ALCHIERI., 2016, p.18)
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De acordo com Cruz (2020, p.306) [...] “toda perícia psicológica é uma
avaliação psicológica realizada para fins específicos, seja de natureza judicial,
extrajudicial ou administrativa, com objeto, demanda, contexto, processos de
investigação e conclusão especializadas”.
Groeger (2003 Apud Costa & Alchieri, 2016, p.18) completa, ponderando que
“desse modo, os testes psicológicos tem sido utilizados como recursos para
identificar a habilidade e também prever a possibilidade de um indivíduo de se
envolver em acidentes”.
Cruz (2020, p.307) contribui afirmando que:
“a perícia psicológica administrativa [...] tem o papel de investigar e concluir,
com base em procedimentos legais e técnico-científicos, acerca da
capacidade ou incapacidade relacionada a uma atividade de trabalho (no
caso de servidores públicos) ou na verificação de aptidão para conduzir
veículos, como no caso da avaliação psicológica no trânsito” (CRUZ, 2020,
p. 307).

Assim, nesse cenário de grande complexidade em que se constitui nas


últimas décadas o trânsito brasileiro, em que notadamente os comportamentos
adotados pelos indivíduos têm contribuído significativamente para que os índices de
morbidade entre outros fatores se agravem ano após ano. Segundo Cruz (2020, p.
345) pontua que:
Cerca de 80% dos acidentes menos graves ou de “quase acidentes” fazem
parte do histórico de condutores envolvidos em acidentes graves,
geralmente com vítimas e, portanto, com prejuízos importantes às pessoas
individualmente, às famílias e à estrutura do sistema de saúde pública.
Condutores que se enquadram nesses espectros tendem a confirmar, ao
longo do tempo de exposição ao trânsito, comportamentos impulsivos,
pouca flexibilidade cognitiva e repertórios socioemocionais mais restritos
(CRUZ, 2020, p. 345).

Nesse sentido, a avaliação psicológica e suas diversas estratégias de cunho


técnico-científico, notadamente vêm corroborando não apenas a seleção de
condutores, mas no aprimoramento metodológico do atual modelo, bem como,
explicar o perfil de comportamento de riscos dos condutores. Uma vez que, o
comportamento do condutor pode ser discriminado por meio do detalhamento das
principais funções do funcionamento mental, estimulados pelos eventos e exigências
na condução de veículos e elaboradores dos repertórios de decisões e ações no
trânsito (CRUZ, 2020, p. 350).
Cruz (2020, p. 355) entende que “a avaliação psicologia de condutores deve
procurar estabelecer, sempre que possível, um nexo entre os precursores
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psicológicos do comportamento de risco/violações no trânsito”, onde tais


comportamentos são influenciados pelo ambiente de trânsito, e vice-versa. Assim, a
avaliação psicológica ao realizar uma abordagem através do comportamento de
risco tende a investigar padrões de comportamento anterior, atual e posterior ao
evento no trânsito, que possam interferir nesses comportamentos, e por extensão
servindo de suporte as ações saúde preventivas.

5 CONCLUSÃO

O trânsito notadamente torna-se a cada ano um sistema com alto grau de


complexidade, que envolvido por diversos fatores tem se configurado em um espaço
gerador de altos índices de acidentes com variadas formas de gravidades, causando
morbidade e com maior agravante, elevado número de óbitos.
Na medida em que, tais eventos têm crescido nesse macro ambiente, a
psicologia do trânsito e suas abordagens, principalmente através da avaliação
psicologia dos candidatos a CNH e/ou condutores de veículos automotores, passa a
ser fundamental para o controle dos riscos no trânsito, bem como, na preservação
da vida e segurança das pessoas.
No desenvolvimento da pesquisa foi possível identificar que os acidentes no
trânsito via de regra são causados por fator humano, fator veicular e/ ou fator da via
(pavimento), sendo que o fator humano é o que mais exerce influência com relação
aos sinistros com ou sem óbitos, muito em face de desatenção, desrespeito as leis,
imprudência, fatores relacionados ao comportamento do indivíduo (motorista),
fazendo com que o trânsito seja um dos problemas de saúde pública em diversas
regiões do país e do mundo.
Nessa perspectiva, a avaliação psicológica no trânsito busca além de
compreender e facilitar a circulação no trânsito através de uma organização mais
sistematizada que permitam que pessoas e veículos se relacionarem nesse espaço
de convivência social, busca ainda, identificar comportamentos indesejáveis de
condutores, uma vez que, a investigação dessas situações é imprescindível para
garantir à eficácia das políticas públicas voltadas a saúde preventiva do cidadão, e
assim minimizar os impactos causados por lesões ocorridas no trânsito que geram
transtornos nas pessoas e nas comunidades, bem como, ao sistema de saúde.
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