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Roteiro por
Henrique Lobo, Ana Clara Xavier,
Giovana Rezende, Guilherme Deberaldini,
e Matheus Bueno
Dirigido por
Henrique Lobo
Baseado no livro de
José de Alencar
1
Ambientação
Rio de Janeiro do século XIII.
Elenco
Elenco Principal
Rafael David como Fernando Seixas
Laura Rennó como Aurélia Camargo
Eduarda Gomes como Adelaide Amaral
Laís Helena como Firmina Mascarenhas
Henrique Lobo como “Lemos”
Wesley Castilho como “Rapaz”
Marcelo Souza como Lourenço Camargo
Moisés Cavalcante como Tavares Amaral
Elenco de Apoio
Henrique Lobo como “Rapaz #1”
Moisés Cavalcante como “Rapaz #2”
Thiago Messias como “Criado”
Wesley Castilho Como “Rapaz #3”
M. Freitas como “Rapaz #4” e “Padre”
Júlio César como “Rapaz #5”
M. Souza como “Rapaz #6”
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ATO I
1 EXT. RUA ─ DIA 1
SEIXAS e seus AMIGOS estão sentados no meio-fio de uma rua,
conversando sobre Aurélia. Eles o zoam pela obsessão e ciúmes
excessivos.
Rapaz #1
Ele tinha duas mulheres pra escolher, e
escolheu a mais bonita. Esperto.
Rapaz #3
Eu ainda vou ficar com a Adelaide. Um
dia vocês vão ver nós dois passando de
carro pelas ruas.
Seixas
Vocês falam de mim, mas olha esse aí,
completamente perdidinho pela Amaral.
Rapaz #5
Seixas, você devia ter visto. Aquela
mulher estava simplesmente incrível no
baile.
Seixas
Uma pena que eu estava em Grão Pará e
não pude estar lá…
Rapaz #3
Ela é a perfeição, foi esculpida pelos
anjos.
Rapaz #6
Como Afrodite.
Seixas se levanta para discutir com os amigos.
Seixas
Vocês estão loucos? Ela é a minha
mulher.
Rapaz #3
Até parece que ela se deixaria ser de
alguém. Ela não estaria de acordo.
3
Rapaz #4
Vamos na janela dela pra perguntar
então, Fernando.
Os amigos concordam, mas antes que pudessem sair, AURÉLIA
abraça Seixas por trás.
Rapaz #5
Viu, não te disse? Ela é como Afrodite…
Seixas
Realmente… A beleza dela é algo
indiscutível.
(para Aurélia)
Bom dia, meu amor.
Aurélia
Não precisa disso, Torquato. Eu já
estou aqui ouvindo vocês. Obrigada
pelos elogios.
Seixas
Ah, como eu amo esse perfume.
Aurélia
Você vai poder sentir ele todos os dias
depois do nosso casamento.
Seixas
Eu mal posso esperar pra esse dia
chegar.
Rapaz #3
Depois você não vai conseguir mais sair
pra beber com a gente, Seixas.
Aurélia
Vocês são uns bobos mesmo. Bom dia,
Fernando.
Todos SAEM DE CENA.
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Tavares (cont’d)
Venha, Adelaide, filha, por favor.
Venha conhecer um grande amigo.
Tavares vai para a COXIA e volta com ADELAIDE.
Tavares (cont’d)
Adelaide, este é o senhor Fernando
Seixas, que quis te conhecer. Minha
filha, Adelaide Amaral.
Seixas
Encantado.
Adelaide
Eu lembro de já te ter visto algumas
vezes.
Tavares
É mesmo?
Seixas
Eu já passei por essa rua várias vezes
para visitar uma família amiga e por
isso nossos olhares já se cruzaram.
Tavares
Bem, isso facilita tudo. O senhor
Seixas virá jantar conosco essa quinta.
Tudo bem para o senhor?
Seixas
Sim.
(se volta para Adelaide)
E para a senhorita?
Adelaide
O senhor tem como vir ou quer que meu
pai mande um carro buscá-lo?
Seixas
Eu tenho como vir.
Tavares
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Aurélia
Você o conhece?
Firmina
Conheço o nome. Sua mãe falava de um
Lourenço Camargo quando viva. Que ela
descanse em paz. Mas o senhor é mesmo o
pai de Pedro?
Lourenço
O único, não acha que por esse motivo
eu devia abraçar a minha neta?
Ele abre os braços, esperando que Aurélia corra para abraçá-lo
com lágrimas correndo pelo rosto, mas ela fica parada no lugar,
como uma estátua.
Firmina coloca a mão nas costas da garota, a conduzindo para o
abraço.
Lourenço
(ainda no abraço)
Eu queria te dar uma coisa.
Ele desfaz o abraço e segura um envelope no ar. Aurélia espera
um momento, pensando se pega o envelope ou não. No final,
aceita a oferta.
Ela quase abre o envelope, mas seu avô a interrompe, tentando
impedi-la.
Lourenço
Não vá achando que é presente, senhora.
Quero que guarde esse tesouro até eu
voltar de viagem.
Aurélia
Se aqui dentro tem dinheiro, eu acho melhor
não ficar com a gente, sabe, numa casa sem
nenhum homem…
Lourenço
(cortando-a)
Que dinheiro? Até parece que vocês têm
medo de dinheiro.
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Aurélia
Não é por isso, meu avô. Veja, numa
casa como esta, com apenas duas
mulheres, não é seguro ter tanto
dinheiro guardado.
(lendo a parte de trás da carta)
“Para minha Aurélia guardar, até eu,
seu avô, lhe pedir. Assinado, Lourenço
de Souza Camargo”.
(entregando a carta)
Abra a carta, Aurélia.
Ela pega a carta e a abre. Ela passa os olhos por ela
rapidamente e a dobra bruscamente.
Firmina (cont’d)
Quem te escreveu, filha?
Aurélia
(secamente)
Foi o Seixas.
Firmina
Que bom que ele te escreveu.
Aurélia
Não foi só ele. A carta está endereçada
por Fernando Seixas e pela Amaralzinha.
Aquele miserável ainda teve a audácia
de me escrever.
Firmina
O que ela diz?
Aurélia
“Com as bênçãos divinas, Fernando
Seixas e Adelaide Amaral têm a alegria
de convidar a senhorita Aurélia Camargo
para celebrar a sua união no dia
dezessete do mês oito do ano de mil
oitocentos e setenta e sete na rua
Costa Pereira.”
Ela aproxima a carta para ler as letras miúdas nas últimas
linhas.
Aurélia (cont’d)
Ele me trocou por trinta contos de
réis. Trinta contos de réis.
Ela vai para a COXIA inconformada. Firmina suspira e a
segue depois de alguns segundos.
Aurélia
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Lemos
Aí fica difícil. Mesmo como o seu tutor, eu
não posso mexer em um vintém sem a
autorização do juiz.
Aurélia
(impaciente)
Ah, você não quer mesmo me entender,
tio. Eu sei disso, mas eu sei de muito
mais coisas que você nem imagina, como
o dinheiro que você está devendo das
apólices e a taxa de juros.
Ela pega os seus papéis de desenho e começa a fazer
algumas contas.
Aurélia (cont’d)
E, por último, eu tenho uma carta
dizendo que eu herdei tudo que meu avô
tinha. Tudo veio para mim após sua
morte. Ela foi escrita, assinada e
entregue por ele, bem nas minhas mãos.
Lemos enxugava as mãos nas calças.
Aurélia (cont’d)
Então, tio, estamos entendidos?
Lemos
Pode pedir o que quiser.
Aurélia
Você conhece o Amaral?
Lemos
Qual deles?
Aurélia
Manuel Tavares do Amaral, que trabalha
na alfândega. Ele quer casar a filha
dele, a Adelaide, com um moço que
estava no Rio de Janeiro, pra quem ele
ofereceu trinta contos de réis.
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Lemos
Agora eu posso saber se temos um
negócio fechado?
Seixas
Não, de jeito nenhum.
Lemos
Como assim?
Seixas
Primeiro, isso que o senhor me propôs
não pode ser sério.
Lemos tenta interrompê-lo, mas ele o cala com a mão.
Seixas (cont’d)
Antes de tudo, eu tenho que te dizer
que eu estou oficialmente comprometido,
e que, embora não tenha nada certo, eu
não posso simplesmente largar a moça.
Lemos
Mas os relacionamentos acabam de uma
hora para a outra.
Seixas
Sim, realmente, às vezes algumas coisas
que acontecem desatam qualquer
compromisso, por mais forte que seja,
mas se eu aceitasse essa transação eu
estaria pecando contra Deus.
Lemos
Mas o que é a vida, Seixas, senão
negócios contínuos do homem com o
mundo?
Seixas
Eu não vejo a vida assim, Lemos. Eu
acho que um homem se sacrifica por
qualquer motivo nobre, mas se fizer por
dinheiro, não é sacrifício, mas sim
tráfico.
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Lemos
Bom, eu sei que essas coisas não se
decidem assim na hora, então vou deixar
meu endereço…
Seixas
Obrigado, mas não tem necessidade.
Lemos
Ninguém sabe o que se pode acontecer na
vida.
Lemos, contra a vontade de Seixas, escreve o endereço num papel
e deixa com ele.
Ambos saem de cena.
Seixas
Senhor Amaral.
Ele suspira.
Tavares
Olá, senhor Seixas. Por que mandou uma
carta num tom tão preocupado?
Seixas
(entregando um bolo de dinheiro)
Eu sinto muito, senhor Amaral, mas não
poderei mais sustentar a sua filha.
Adelaide
Por Deus, que idiotice você está
fazendo?
Seixas
(pegando as mãos da menina)
Me desculpe, meu amor.
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Adelaide
Fernando, você não pode fazer isso comigo. Você foi
pra Europa e pra Pernambuco, e nas duas vezes me
deixou aqui, sozinha no Rio!
Tavares
Explique-se, Fernando!
Seixas
Posso conversar com ela a sós, senhor?
Tavares suspira, e sai de cena para a COXIA murmurando.
Adelaide
Por que você está fazendo isso,
Fernando? Por que me iludir, dizer que
me ama pra me jogar fora assim?
Seixas
Me desculpe, meu amor…
Adelaide
Eu guardei todas as cartas que você me
mandou. Nelas você disse que me amava,
e que quando estava na Europa, você
queria voltar pra me ver.
Seixas
Adelaide, eu tenho uma explicação.
Adelaide
Fica quieto que eu não terminei. Você
me deixou de novo no Rio pra ir pra
Pernambuco e me fez de idiota. A única
pessoa que você sempre pensou foi em
você, você e você. Eu tenho dó da
próxima de muitas mulheres por quem
você vai trocar por causa desse seu
egoísmo.
Ela se vira completamente brusca e vai para a COXIA sem dizer
mais nada.
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Padre
Eu os declaro marido e mulher. O que
Deus uniu, o homem não separa.
Todos saem de cena.
Fim do primeiro ato.
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ATO II
1 INT. CÂMARA NUPCIAL ─ NOITE 1
SEIXAS está sentado na cama. AURÉLIA está tirando as joias.
Aurélia
(tom de superioridade)
Fernando, eu sempre te amei eu sempre
te amei i incondicionalmente, com todo
o meu coração. E mesmo assim você
sempre me ignorou e nunca ligou pra mim
nem pro meu amor.
Seixas abaixa a cabeça e permanece calado.
Aurélia (cont’d)
Vai ver que eu não consegui te
apaixonar, afinal,você só tinha olhos
pra Adelaide… E olhe lá se era por ela
mesmo, ou pelo dinheiro dela.
Aurélia pega um cheque e o segura contra o peito de Seixas.
Agora ela está totalmente debochando dele.
Aurélia (cont’d)
Você me custou cem contos de réis, foi
barato. Eu daria o dobro, o triplo, eu
daria toda minha fortuna pra te ver
humilhado desse jeito.
Seixas
Aurélia, você está louca.
Aurélia
Aqui está o seu cheque, oficializando a
sua riqueza, “meu amor”. Agora me fale
que você me ama, que nunca amou outra
mulher e seja submisso à sua Senhora.
Seixas
Eu não vou fazer isso. Eu não te amo.
Eu não vou oficializar esse casamento
com você.
Seixas coloca sua mão sobre a dela, ainda segurando o cheque
contra si, e permanece em silêncio.
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Aurélia
(indignada)
Como você tem a audácia de desobedecer
a sua senhora assim, Fernando?
Seixas
(melancólico, mas decidido)
É verdade, eu te amei um dia, mas eu
não te amo mais. De você eu só tenho
pena. Sabe, eu nunca me deixei ser
levado pelo seu dinheiro. Mas de que
isso importa agora?
Aurélia
Como é? Você me amava de verdade?
Seixas
(diz tudo em tom triste, termina a
fala com convicção)
Eu te amei, mas está tudo bem claro
agora. Você nunca quis um marido, mas
sim um escravo.
Aurélia se vira com as mãos na testa.
Aurélia
(falando por cima)
Meu Deus… Não, Fernando, para com essa
manipulação!, eu…
Seixas aumenta o tom de voz. Só assim ele vai conseguir a
atenção de Aurélia.
Seixas
Eu realmente achei que você estava se
casando você estava se casando estava
casando comigo por amor, mas agora eu
sei a verdade. Sendo assim, estou às
suas ordens, minha senhora.
Aurélia perde a calma e grita com Fernando.
Aurélia
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Seixas
Não, obrigado. Que horas nós jantamos?
Criado
Às cinco, se o senhor não der outra
ordem. O senhor sai a passeio depois do
jantar? De carro ou a cavalo?
Seixas
Não.
Criado
Eu sei que recém-casados não saem do
quarto nos primeiros dias do casamento,
mas foram as ordens que eu recebi.
Seixas
De quem?
Criado
Da Senhora.
Seixas suspira fundo. Por um momento, parece que toda a raiva,
ressentimento e mágoa simplesmente desapareceram.
Criado (cont’d)
Bem lembrado. O almoço já está sendo
servido e ela está o chamando.
Seixas
Você só me diz isso agora?
Seixas e o criado vão para a SALA DE JANTAR.
(rude)
Me passa a lagosta.
Aurélia
(joga a travessa)
Toma a sua lagosta.
O silêncio toma conta da sala e tudo o que se ouve é o barulho
dos talheres.
Aurélia
(impaciente)
Me devolve a lagosta.
Seixas joga a travessa de volta.
Aurélia (cont’d)
Pra quem foi comprado, você até que
está bem rebelde.
Seixas
Eu achava que a esposa não tinha toda
essa liberdade…
Seixas
Você esqueceu que eu sou a sua dona, e
não a sua esposa?
Seixas
Essa sua infantilidade me faz perder o
apetite.
Ele se levanta bruscamente e deixa a cadeira cair. Ele a
levanta de novo.
Seixas (cont’d)
Eu preciso dar uma volta, não aguento
mais viver perto de você.
Aurélia
É melhor sair mesmo, e leve essa
monstruosidade com você, seu animal.
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ATO III
1 INT. CASA DOS SEIXAS ─ NOITE 1
SEIXAS chega no quarto e encontra Aurélia sentada na cama.
Seixas
(nostálgico)
Eu consigo lembrar da primeira vez que
eu te vi assim, mais ou menos onze
meses atrás…
Aurélia
Quer me ver no mesmo lugar? Pra trazer
lembranças à tona?
Seixas
(frio)
Não precisa mais. Eu acreditei por
muito tempo no nosso amor, mas depois
de você ter deixado bem claro que eu só
passava de um escravo, é impossível eu
ainda ter algum sentimento amoroso por
você.
Aurélia tenta convencê-lo pela última vez, na esperança de que
se redima.
Aurélia
Você entendeu errado.
Seixas
(decidido)
Não, Aurélia, eu sempre fui uma
mercadoria pra você.
Aurélia
Você é a minha maior riqueza, Seixas.
Nada pra mim é mais valioso que você.
Ele zomba dela, sem dizer uma palavra.
Seixas
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Aurélia
(ela interrompe, ansiosa.)
Para?
Seixas
(desdenhando)
Que apressada, deixe eu terminar de falar,
Senhora.
Agora, Seixas parece decidido, e diz sem se importar com a
reação de Aurélia.
Seixas (cont’d)
Eu te chamei para negociarmos a minha
liberdade.
Ele abre a carteira lentamente e em silêncio, tira o dinheiro e
a guarda de volta.
Seixas (cont’d)
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