Você está na página 1de 25

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS POLÍTICOS
2
SUMÁRIO

1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL ................................................................................................................................... 3


2 CONCEITO .......................................................................................................................................................... 6
3 ALISTAMENTO ELEITORAL ................................................................................................................................. 6
4 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE.......................................................................................................................... 6
5 INELEGIBILIDADE ............................................................................................................................................... 7
5.1 ABSOLUTAS ................................................................................................................................................ 7
5.2 RELATIVAS.................................................................................................................................................. 7
5.3 REFLEXA ..................................................................................................................................................... 8
6 SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS .............................................................................................................. 9
6.1 INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA ............................................................................................................... 9
6.2 CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO ............................................................................ 10
6.3 RECUSA DE CUMPRIR OBRIGAÇÃO A TODOS IMPOSTA OU PRESTAÇÃO ALTERNATIVA ........................ 11
6.4 CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................................ 11
6.5 RECRUTAMENTO PARA O SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO ................................................................... 11
7 PERDA DE DIREITOS POLÍTICOS ....................................................................................................................... 12
8 PLEBISCITO ....................................................................................................................................................... 12
9 REFERENDO ..................................................................................................................................................... 12
10 FILIAÇÃO PARTIDÁRIA.................................................................................................................................. 12
10.1 FILIAÇÃO PARTIDÁRIA.............................................................................................................................. 12
10.2 INFIDELIDADE PARTIDÁRIA ...................................................................................................................... 13
10.3 LEI Nº 13.165/2015 .................................................................................................................................. 13
10.4 JUSTA CAUSA ........................................................................................................................................... 14
10.5 “JANELA” PARA TROCA DE PARTIDOS PREVISTA NA LEI Nº 13.165/2015 ............................................... 14
11 LEI DA FICHA LIMPA ..................................................................................................................................... 18
12 NATUREZA DO PARECER TÉCNICO DO TRIBUNAL DE CONTAS E DEMORA NA SUA APRECIAÇÃO PELA
CÂMARA DOS VEREADORES .................................................................................................................................... 22
12.1 DEMORA DA CÂMARA MUNICIPAL PARA APRECIAR O PARECER DO TRIBUNAL DE CONTAS EXARADO
PELA REJEIÇÃO. .................................................................................................................................................... 23
13 DISPOSITIVOS PARA LEITURA ...................................................................................................................... 25
14 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................................................ 25
3
DIREITOS POLÍTICOS

1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Na Constituição, o tema é tratado a partir do artigo 14, nos seguintes termos:

CAPÍTULO IV
DOS DIREITO POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os
conscritos.
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária; Regulamento
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver
sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período
subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997)
4
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
de mandato eletivo e candidato à reeleição.
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará
automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda
Constitucional de Revisão nº 4, de 1994)
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da
diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei,
se temerária ou de manifesta má-fé.
(*atualizado em 17/10/2021)
§ 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares sobre questões locais
aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data das
eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 111, de 2021)
§ 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares nos termos do §
12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e na
televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de
1993)
5

#OUSESABER: Prefeito "itinerante" é aquele que, após cumprir dois mandatos consecutivos em um
determinado Município, vem a candidatar-se, logo nas eleições seguintes, ao mesmo cargo em outro
Município. O TSE considerou a conduta proibida, tendo sido seguido pelo STF, que corroborou o entendimento
no RE 637.485. Segundo as Cortes, havia uma burla à vedação constitucional de um terceiro mandato no
âmbito da chefia do Poder Executivo.

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: É inconstitucional a lei que determina que, na votação eletrônica, o


registro de cada voto deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor,
em local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 13.165/2015). Essa previsão acaba
permitindo a identificação de quem votou, ou seja, permite a quebra do sigilo, e, consequentemente, a
diminuição da liberdade do voto, violando o art. 14 e o § 4º do art. 60 da Constituição Federal. Cabe ao
legislador fazer a opção pelo voto impresso, eletrônico ou híbrido, visto que a CF/88 nada dispõe a esse
respeito, observadas, entretanto, as características do voto nela previstas. O modelo híbrido trazido pelo art.
59-A constitui efetivo retrocesso aos avanços democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições
realmente livres, em que as pessoas possam escolher os candidatos que preferirem. STF. Plenário. ADI 5889/DF,
rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).
#IMPORTANTE

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da


CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo. Em outras
palavras a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito de
Governador ou de Presidente A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo
núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação do segundo colocado nas
eleições para o exercício de mandato-tampão. Ex: de 2010 a 2012 o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o
primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo Em 2012, Hélio
(cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o
mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefeito porque seria o
terceiro mandato consecutivo deste núcleo familiar. STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 23/10/2018 (Info 921).
6
2 CONCEITO

*Segundo Lenza1, “direitos políticos nada mais são que instrumentos por meio dos quais a CF garante o
exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução, seja direta ou
indiretamente”.
São, portanto, direitos fundamentais que disciplinam o exercício da soberania popular no âmbito do
regime democrático.

3 ALISTAMENTO ELEITORAL

*Como núcleo dos direitos políticos, tem-se o direito de sufrágio, que caracteriza-se tanto pela
capacidade eleitoral ativa quanto a capacidade eleitoral passiva. A capacidade eleitoral ativa dar-se pelo voto
que pressupõe o alistamento, sendo este:

(a) Obrigatório, para os maiores de dezoito anos; e

(b) Facultativo, para os analfabetos, os maiores de 70 anos, os maiores de 16 anos, mas menores de 18
anos.

Não podem alistar-se, porém:

(i) Os menores de 16 anos;

(ii) Os estrangeiros; e

(iii) Os conscritos (homens incorporados às Forças Armadas durante o período do serviço militar
obrigatório).

4 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

O art. 14, § 3º da Constituição Federal estabelece que são de elegibilidade, na forma da lei:

• A nacionalidade brasileira;
• Pleno exercício dos direitos políticos;
• Alistamento eleitoral;

1
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.
7
• Domicílio eleitoral na circunscrição;
• Filiação partidária;
• Idade mínima de acordo com o cargo ao qual se candidata.

Com relação à idade, essa condição se inicia aos 18 anos, terminando aos 35 (18 anos para Vereador; 21
anos para Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital, Prefeito, Vice- Prefeito e Juiz de paz; 30
anos par Governador, Vice Governador do Estado e do Distrito Federal; e 35 anos para Presidente, Vice –
Presidente e Senador).

5 INELEGIBILIDADE

As inelegibilidades são as circunstâncias que impedem o cidadão de exercer, total ou parcialmente, a


sua capacidade eleitoral passiva. Se dividem em absolutas e relativas.

5.1 ABSOLUTAS

São as condições taxativamente expressas em normas constitucionais cujo descumprimento inviabiliza a


capacidade eleitoral passiva em relação a todo cargo eletivo, o que impede a pessoa de disputar qualquer
eleição, sem que haja prefixação de prazo quanto à cessação do impedimento.

Nesse sentido, são absolutamente inelegíveis (art. 14,§ 4°) apenas os que:

(a) Não podem alistar-se; e

(b) Não são alfabetizados;

5.2 RELATIVAS

As que só obstam a capacidade eleitoral passiva em face de alguns cargos eletivos, o que não impede o
candidato de concorrer a outros cargos eletivos na mesma eleição. Vêm expressas em normas constitucionais
específicas (v.g., art. 14, § 3°, VI, §§ 5° a 7°, com redação da EC 16/97), mas o legislador complementar poderá
ampliá-las, desde que atendida a finalidade de "proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício· de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta" (§ 9° do art. 14, com redação da ECR 4/94).
8

#ENTENDIMENTOSUMULADO #SÚMULAVINCULANTE #STF


A Súmula Vinculante 18 prevê: " A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato,
não afasta a inelegibilidade prevista no § 7° do artigo 14 da Constituição Federal". Contudo, o STF afastou
a aplicação dessa súmula vinculante em caso de morte do Prefeito no curso do mandato.

5.3 REFLEXA

O art. 14, § 7º, da CF/88 estabelece o seguinte:

§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A doutrina chama esta hipótese de inelegibilidade em razão do parentesco ou inelegibilidade reflexa. De


acordo com esse caso de inelegibilidade:

O cônjuge, parentes e afins até o 2º grau do... Não poderão candidatar-se a...
PREFEITO Vereador e/ou prefeito do mesmo município2.
Qualquer cargo no mesmo Estado, ou seja:
• vereador ou prefeito de qualquer município do
respectivo Estado;
GOVERNADOR
• deputado estadual e governador do mesmo Estado;
• deputado federal e senador nas vagas do próprio
Estado;
Qualquer cargo eletivo no país (municipal, estadual ou
PRESIDENTE
federal).

Exceção à regra do § 7º: “(...) salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição”. Assim, no
caso do cônjuge, parente ou afim já possuir mandato eletivo, não haverá qualquer impedimento para que
concorra à reeleição (candidatura ao mesmo cargo).

Abrangência do termo “cônjuge”: considera-se cônjuge não somente a mulher/homem que esteja
casada(o), mas também aquela(e) que vive em união estável com o Chefe do Poder Executivo, ou mesmo com
9
seu irmão (afim de 2º grau). Isso porque a CF/88 amplia o conceito de entidade familiar, nos termos do art. 226,
§ 3º. A vedação incide também no caso de união homoafetiva.

A inelegibilidade persiste, ainda que, no curso do mandato, a relação se extinga: o TSE tem
entendimento de que, se em algum momento do mandato, ocorreu a relação de casamento, união estável ou
parentesco, esta pessoa já está inelegível, ainda que esta relação seja desfeita. Ex: Luciano foi eleito prefeito em
2004. Em 2008, foi reeleito. Logo, em 2012, não poderia concorrer à reeleição porque seria seu terceiro
mandato consecutivo. Em 2010, Luciano separou-se de sua esposa Amélia. Mesmo estando separados, Amélia
não poderá concorrer nas eleições de 2012 porque, durante o mandato do prefeito, houve uma relação entre
eles, não cessando a inelegibilidade pelo fim do vínculo conjugal. Informativo 802-STF (16/10/2015) –
Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante.

#SÚMULAVINCULANTE #STF
O STF possui o mesmo entendimento. Súmula vinculante nº 18 do STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo
conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição
Federal.

Os parentes (ou cônjuge) podem concorrer nas eleições, desde que o titular do cargo tenha direito à
reeleição e não concorra na disputa: Ex: em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º
mandato (em 2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da República.
Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002, tendo sido eleita. O TSE
considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque seu marido havia renunciado e ainda
estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer
novamente ao cargo de Governador, não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a
eleição. Vale ressaltar, no entanto, que Rosinha, ao ganhar a eleição, é como se estivesse exercendo o 2º
mandato consecutivo. Logo, em 2006 não poderia ela concorrer novamente ao Governo. Em suma, este núcleo
familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em um terceiro mandato
consecutivo.

6 SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

6.1 INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA

*A hipótese de incapacidade civil absoluta remetia ao artigo 3º do Código Civil de 2002, cujos incisos
tratavam dos menores de dezesseis anos (inciso I), das pessoas absolutamente incapazes de exercer atos da vida
10
civil “por enfermidade ou deficiência mental” (inciso II) ou que, “por causa transitória, não puderem exprimir
sua vontade” (inciso III).
A Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – LBIPD ou Estatuto da Pessoa
com Deficiência – EPD) revogou os três incisos do artigo 3º do CC, passando o caput a conter unicamente a
situação antes prevista no inciso I.
Assim, em sua atual redação, o referido artigo 3º do CC apenas estabelece serem “absolutamente
incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos”.
José Jairo Gomes entende que, em tais casos, é impróprio falar em perda de direitos políticos, pois o
adolescente com menos de 16 anos ainda não os adquiriu – não se pode perder o que não se tem ou o que
ainda não se adquiriu. Também não se fala em suspensão dos direitos, porquanto a suspensão pressupõe o gozo
anterior deles.
Há, na verdade, ausência de condição de ordem cronológica para aquisição dos direitos políticos.
Já a perda da capacidade civil (que era plena anteriormente) traz como acessório a suspensão dos
direitos políticos.

6.2 CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO

Enquanto durarem os efeitos da condenação penal com trânsito em julgado, o sentenciado tem seus
direitos políticos suspensos. Para o STF, a hipótese de suspensão abrange também as condenações pela prática
de crimes culposos e contravenções penais. Ainda para o STF (Pleno, RE 179.502/SP), não afastam a suspensão
dos direitos políticos os benefícios penais que só impliquem suspender o cumprimento da pena (tais como o
livramento condicional e o sursis). Ademais, uma vez extinta a pena, a suspensão dos direitos políticos deixa de
vigorar; independentemente de reabilitação ou prova da reparação dos eventuais danos causados (Súmula 9 do
TSE);

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da


Constituição Federal, aplica-se no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.
Havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus direitos políticos
suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na hipótese de substituição por pena restritiva de
direitos. Veja o dispositivo constitucional: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de: III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos; STF. Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939).
11
6.3 RECUSA DE CUMPRIR OBRIGAÇÃO A TODOS IMPOSTA OU PRESTAÇÃO ALTERNATIVA

Em combinação com a regra prevista no inciso VIII do art. 5°, o inciso IV do art. 15 trata de outra
hipótese de suspensão de direitos políticos.
*Nesse ponto, insta mencionar que o tema não é pacífico na doutrina. Pedro Lenza, em seu livro,
destaca, inclusive, que a maioria dos autores de Direito Eleitoral vêm entendendo como situação de suspensão
de direitos políticos (no caso de recusa a cumprir obrigação a todos imposta), tendo como base o art. 4,
parágrafo segundo da Lei 8.239/91.Nesse sentido, vale citar a lição de José Jairo:
"Parte da doutrina tem considerado os incisos I (cancelamento de naturalização) e IV
(escusa de consciência) do citado artigo 15 da Constituição como hipóteses de perda de
direitos políticos. As demais são de suspensão. Assim era na Constituição de 1967, cujo
artigo 144 separava os casos de suspensão (inc. I) dos de perda (inc. II). Nesse sentido,
pronunciam-se Ferreira Filho (2005, p. 115) e Moraes (2002, p. 256). No entanto,
Cretella Júnior (1989, v. 2, p. 1122, no 169) afirma que, na escusa de consciência, pode
haver perda ou suspensão. Cremos, porém, que essa hipótese (e também a de
incapacidade) é de suspensão ou de impedimento, não de perda."

6.4 CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Nos termos do art. 37, § 4°, os atos de improbidade administrativa importarão na suspensão dos direitos
políticos e na perda da função pública. A ação de improbidade é regulada pela Lei 8.429/92, cujo artigo 20
dispõe que a "perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em
julgado da sentença condenatória". Todavia, no parágrafo único do mesmo artigo, concede-se à autoridade
judicial ou administrativa competente poderes para "determinar o afastamento do agente público do exercício
do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução
processual".

6.5 RECRUTAMENTO PARA O SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO

Conforme mencionado por NOBRE JÚNIOR, outro caso de suspensão de direitos políticos diz respeito ao
período em que o conscrito presta serviço militar obrigatório (art. 14, § 2°), hipótese que abrange até o que já se
tenha alistado como eleitor anteriormente (art. 14, § 1°, li, "c"). Nesse sentido, a Resolução/TSE n. 20.165/98
prevê o "impedimento ao exercício do voto pelos conscritos anteriormente alistados perante a Justiça Eleitoral,
durante o período da conscrição".
12

7 PERDA DE DIREITOS POLÍTICOS

Diferentemente da suspensão, a perda de direitos políticos tem caráter definitivo. O único caso em que
a Constituição expressamente prevê a perda de direitos políticos vem previsto no inciso I do art. 15, qual seja, o
caso de "cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado", hipótese regulamentada pela Lei
818/49.

Entretanto, como ensina a doutrina majoritária, implicam a perda dos direitos políticos todas as
hipóteses constitucionais a partir das quais o nacional passa a ser considerado estrangeiro, tais como:

(a) A perda da nacionalidade brasileira ante a aquisição de outra (art. 12. § 4°, II); e

(b) Anulação judicial da naturalização de estrangeiro.

8 PLEBISCITO

É a consulta convocada com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo
voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido (art. 2°, § 1°, da Lei 9.709/98). Doutrinariamente, é
conceituado como a manifestação extraordinária e excepcional que exprime a decisão popular sobre medidas
de base ou de princípio, tais como a forma de Estado ou de governo, modificação das formas políticas ou
territoriais (FERREIRA FILHO).

9 REFERENDO

É a consulta convocada com posterioridade a atos legislativos ou administrativos, a fim de que o povo
decida ratificá-los ou rejeitá-los (art. 2°, § 2°, da Lei 9.709/98). Na forma do art. 11 da Lei 9.709/98, pode ser
convocado no prazo de 30 dias contados a partir da promulgação da lei ou da adoção de medida administrativa
que se relacione de maneira direta com a consulta.

10 FILIAÇÃO PARTIDÁRIA

10.1 FILIAÇÃO PARTIDÁRIA


13
No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa
exigência está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF
As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são inconstitucionais. As
contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor. STF. Plenário. ADI
4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).

10.2 INFIDELIDADE PARTIDÁRIA

Mesmo não havendo uma norma expressa na lei ou na CF/88 dizendo isso, o TSE e o STF, em 2007,
decidiram que a infidelidade partidária era causa de perda do mandato eletivo. Em outras palavras, o TSE e o
STF firmaram a tese de que, se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sair do partido político no qual foi
eleito, ele perderá o cargo que ocupa.

Vale lembrar que a perda do mandato em razão de mudança de partido somente se aplica para os
cargos eletivos proporcionais (Vereadores e Deputados). Essa sanção não vale para candidatos eleitos pelo
sistema majoritário (Prefeito, Governador, Senador e Presidente). Para maiores informações, vide STF. Plenário.
ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

10.3 LEI Nº 13.165/2015

Em 2015, o Congresso Nacional editou a Lei nº 13.165/2015, que alterou a Lei nº 9.096/95 passando a
tratar expressamente sobre o tema "infidelidade partidária". Veja o artigo que foi acrescentado:

Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual
foi eleito.

Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as seguintes hipóteses:
I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;
II - grave discriminação política pessoal; e
III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em
lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.
14
#RESUMINDO
REGRA: o detentor de cargo eletivo que, sem justo motivo, se desfiliar do partido político, perderá o mandato.

10.4 JUSTA CAUSA

Hipóteses de justa causa em que o político poderá sair do partido sem perder o cargo:

1) Se o partido mudar substancialmente ou se desviar reiteradamente do seu programa partidário;

2) Caso o ocupante do cargo sofra grave discriminação política pessoal; e

3) Se a mudança de partido for efetuada durante o período de 30 dias que antecede o prazo de filiação
exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato
vigente.

10.5 “JANELA” PARA TROCA DE PARTIDOS PREVISTA NA LEI Nº 13.165/2015

Nesta terceira hipótese acima elencada, a Lei nº 13.165/2015 previu uma "janela" para a troca de
partidos.

Se a pessoa quer concorrer a determinado cargo eletivo pelo partido "X", ela precisa estar filiada a esse
partido no mínimo 6 meses antes das eleições. Ex: João, professor, quer se candidatar ao cargo de Vereador nas
eleições de 02/10/2016. Para tanto, ele precisará se filiar ao partido político até, no máximo, 02/04/2016.

A Lei autorizou que a pessoa já titular do mandato eletivo que quiser concorrer nas eleições que serão
realizadas naquele ano poderá deixar o partido e se filiar a outro sem que perca o mandato, bastando que faça
isso no período de 30 dias antes de terminar o prazo final para filiação exigida em lei. Ex: Pedro, que já é
Vereador (eleito pelo partido "X"), deseja concorrer à reeleição nas eleições municipais de 02/10/2016. Ocorre
que ele deseja sair do partido "X" e concorrer pelo partido "Y". A Lei nº 13.165/2015 acrescentou a possibilidade
de que ele saia do partido sem perder seu mandato de Vereador. Basta que faça a troca um mês antes do
término do prazo para filiação partidária, ou seja, no período entre 7 e 6 meses antes das eleições. Em nosso
exemplo, ele teria do dia 02/03/2016 até 02/04/2016 para mudar de partido sem que isso implique a perda do
mandato.
15

#ATENÇÃO
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o
cargo que ocupa?

a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO


A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema
majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.

No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente
eleitoral nem o quociente partidário.

Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político. Desse modo, no
sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade partidária é antagônica (contrária) à
soberania popular.

b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM


O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido político.

Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo na Justiça Eleitoral que
poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, com contraditório e ampla defesa, será analisado se
havia justa causa para essa mudança.

O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas
como “justa causa”.

STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
16
SISTEMAS ELEITORAIS
MAJORITÁRIO PROPORCIONAL

O mandato eletivo fica com o candidato ou partido Terminada a votação, divide-se o total de votos
político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa, obtendo-
se assim o quociente eleitoral. Ex: na eleição para
vereador houve 100 mil votos válidos e eram 20
vagas. Logo, o quociente eleitoral será 5 mil (100.000 :
Ganha o candidato mais votado, independentemente 20 = 5.000).
dos votos de seu partido.

Em seguida, pega-se os votos de cada partido e divide-


se pelo quociente eleitoral, obtendo-se assim o
número de eleitos de cada partido (quociente
partidário). Ex: o Partido X e seus candidatos tiveram
20 mil votos. Esses 20 mil serão divididos pelo
quociente eleitoral (5 mil). Logo, esse partido terá
direito a 4 vagas de Vereador (20.000 : 5.000 = 4).

Os candidatos mais bem votados desse partido irão


ocupar tais vagas.

No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal e
Deputado Distrital.

A perda do mandato em razão de mudança de partido somente se aplica para os cargos eletivos proporcionais.
Essa sanção não vale para candidatos eleitos pelo sistema majoritário.

Veja a redação da parte inicial do § 6º do art. 17 e note como ela só menciona cargos proporcionais: “Os
Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do
partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato...”

Por quê?

No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente
eleitoral nem o quociente partidário.

Nas eleições majoritárias (Prefeito, Governador, Senador e Presidente), os eleitores votam no candidato e não
no seu partido político. Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

Vale ressaltar que, mesmo antes da EC 111/2021, esse já era o entendimento do STF sobre o tema:
17
(...) O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da
fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.

2. (...) As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos, tornam a
fidelidade partidária importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição
sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda do mandato do candidato que
abandona a legenda pela qual se elegeu.

3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e
dinâmica diversas da do sistema proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na
figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do
eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). (...)

(ADI 5081, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 18-08-2015 PUBLIC 19-08-2015)

O TSE, em sintonia com o STF, já havia editado súmula sobre o tema:

Súmula 67-TSE: A perda do mandato em razão da desfiliação partidária não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário.

Exemplo recente foi o do Presidente Jair Bolsonaro. Ele foi eleito em 2018 pelo PSL, tendo deixado a sigla no fim
de 2019. Essa saída da agremiação não configura ato que possa gerar a perda do mandato por infidelidade
partidária.

Desse modo, neste ponto, a EC 111/2021 positivou o entendimento do STF.

Anuência do partido como hipótese de justa causa para a desfiliação partidária

Como vimos acima, o parágrafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95 prevê três hipóteses que são consideradas
como justa causa para o desligamento da pessoa do partido político. Em outras palavras, se o titular do mandato
eletivo proporcional deixar o partido e se verificar uma dessas três situações, ele não perderá o cargo. Reveja o
dispositivo:
Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual
foi eleito.

Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as seguintes hipóteses:

I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;

II - grave discriminação política pessoal; e

III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em
lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.

A EC 111/2021 acrescenta uma quarta hipótese: a anuência do partido. Assim, imagine que João foi eleito
Deputado Federal pelo partido “X”. Ele deseja deixar a agremiação partidária, mas não está presente nenhuma
das hipóteses do parágrafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95. Isso significa que, ele concretizar a desfiliação,
ele perderá o mandato, que será assumido por um suplente do partido “X”. Ocorre que existe uma quarta
hipótese na qual ele não sofrerá a sanção: se a direção do Partido “X” conceder a ele uma carta de anuência
autorizando que ele deixe a agremiação. Isso foi expressamente consignado no § 6º do art. 17.
18
Importante esclarecer que, mesmo antes da alteração, o TSE já possuía firme jurisprudência no sentido de que a
carta de anuência do partido autoriza a desfiliação sem perda de mandato. Logo, a regra trazida pela Emenda
corrobora o entendimento do TSE. Confira:
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a concordância da agremiação partidária com o
desligamento do filiado é apta a permitir a desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo.
(RESPE - Recurso Especial Eleitoral nº 060015033 - BELO HORIZONTE – MG - Acórdão de 10/09/2019 - Relator(a)
designado(a) Min. Alexandre de Moraes)

Em recurso especial eleitoral com agravo, o Ministro Relator manteve o entendimento firmado para as eleições
de 2016 no sentido de que "a concordância da agremiação partidária com o desligamento do filiado é apta a
permitir a desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo" (AgR–Pet nº 0601117–75/PE, Rel. Min. Rosa Weber, j.
em 20.02.2018). Precedentes” (0600185-90.2018.6.13.0000 - AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento
nº 060018590 - ITAÚNA – MG - Acórdão de 13/05/2021 - Relator(a) designado(a) Min. Luís Roberto Barroso)

Conforme entendimento fixado pelo TSE para os processos relativos às eleições de 2016, “a carta de anuência
do partido político constitui justa causa para a desfiliação partidária sem perda de mandato eletivo".
Precedentes.” (AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 060013212 - RIBEIRÃO DAS NEVES – MG -
Acórdão de 03/09/2020 - Relator(a) Min. Alexandre de Moraes)

11 LEI DA FICHA LIMPA

Em 2010, foi aprovada a Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), que teve como objetivo alterar a LC 64/90,
incluindo novas hipóteses de inelegibilidade para proteger a probidade administrativa e a moralidade no
exercício do mandato.

CASOS DE INELEGIBILIDADE DISCIPLINADOS PELA LEI DA FICHA LIMPA:

Não podem ser eleitas, para nenhum cargo, as pessoas que estiverem nas seguintes situações:
Governador (e Vice-Governador) ou Prefeito (e Vice-Prefeito) que perderam seus cargos eletivos por violação:

1. À Constituição Estadual;

2. À Lei Orgânica do DF; ou

3. À Lei Orgânica do Município

(ex: Governador que sofreu impeachment)

Pessoa que for condenada em representação eleitoral por abuso do poder econômico ou político.
19
A pessoa que for condenada pelos seguintes crimes:

1. Contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público;

2. Contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a
falência;

3. Contra o meio ambiente e a saúde pública;

4. Eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;

5. De abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o
exercício de função pública;

6. De lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;

7. De tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;

8. De redução à condição análoga à de escravo;

9. Contra a vida e a dignidade sexual; e

10. Praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando.

Esta inelegibilidade não se aplica aos crimes culposos e àqueles definidos em lei como de menor potencial
ofensivo, nem aos crimes de ação penal privada.
A pessoa que for declarada indigna do oficialato, ou com ele incompatível.

OBS: segundo a CF/88, o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial,
em tempo de guerra (art. 142, § 3º, III).
Administrador público que tiver suas contas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de
improbidade administrativa.

OBS: se a decisão que rejeitou as contas tiver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, não incidirá a
inelegibilidade.
20
Os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que tiverem sido condenados
por beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político.
A pessoa condenada por:

1. Corrupção eleitoral;

2. Captação ilícita de sufrágio;

3. Doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha; ou

4. por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro
ou do diploma
Presidente da República
Governador
Prefeito
Senadores, Deputados ou Vereadores

... que renunciarem a seus mandatos...

... desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo de perda do
mandato.
A pessoa que for condenada à suspensão dos direitos políticos por ato doloso de improbidade administrativa
que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito.
Pessoa que for excluída do exercício da profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional competente,
em decorrência de infração ético-profissional.

Ex: advogado condenado pelo Tribunal de Ética da OAB;

Ex2: engenheiro condenado pelo CREA.


Pessoa que for condenada por ter desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável para
evitar caracterização de inelegibilidade.

Ex: marido é governador, já reeleito, e simula que se divorcia da sua esposa para que esta se candidate ao
governo do estado, burlando a proibição do § 7º do art. 14 da CF.

Pessoa que for demitida do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial.
21
Pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsáveis por doações eleitorais julgadas ilegais pela
Justiça Eleitoral.
Magistrados e membros do Ministério Público que:

1. Foram aposentados compulsoriamente por decisão sancionatória;

2. Tenham perdido o cargo por sentença ou

3. Tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo administrativo


disciplinar.

#IMPORTANTE
1) Não é necessário que a decisão condenatória tenha transitado em julgado. Basta que tenha sido proferida por
órgão colegiado (exs: TRE, TJ, TRF).

Assim, por exemplo, se um prefeito for condenado pelo Tribunal de Justiça por peculato, ficará inelegível por 8
anos, ainda que tenha recorrido desta decisão e ainda esteja aguardando o julgamento do recurso.

2) A desnecessidade de trânsito em julgado é a maior inovação e era a maior polêmica da Lei.

Inovação porque o trânsito em julgado de uma decisão condenatória criminal demora muito tempo para
ocorrer, isto quando não acontece antes a extinção do processo pela prescrição.

Polêmica porque muitos argumentavam que isso violava o princípio da presunção de inocência.

3) Estas inelegibilidades irão perdurar pelo prazo de 8 anos, contados da decisão, do cumprimento da pena (no
caso da condenação criminal) ou do término do mandato.

A LC 64/90, alterada pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), prevê que os administradores que ocuparam
cargos ou funções públicas e tiveram suas contas rejeitadas pelo "órgão competente" ficam inelegíveis pelo
período de 8 anos. Veja:

Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos
ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade
administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada
pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data
22
da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de
despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;

Qual é o "órgão competente" para julgar as contas do Prefeito? Em se tratando de um Prefeito, qual
será o "órgão competente" de que trata o art. 1º, I, "g", da LC 64/90? Havia duas correntes sobre o tema:

1ª) Tribunais de Contas: Se o Tribunal de Contas rejeitasse as contas do Prefeito, ele já se tornaria
inelegível, nos termos do art. 1º, I, "g", da LC 64/90. Era a posição defendida pela maioria dos Tribunais de
Contas e do Ministério Público eleitoral. Assim, quando o TCE rejeitava as contas de um Prefeito, a Justiça
Eleitoral, com base nesta decisão, negava registro de candidatura a ele.

2ª) Câmara dos Vereadores A competência para julgar as contas do Prefeito é da Câmara Municipal. O
papel do Tribunal de Contas é apenas o de auxiliar o Poder Legislativo municipal. Ele emite um parecer prévio
sugerindo a aprovação ou rejeição das contas do Prefeito. Após, este parecer é submetido à Câmara, que
poderá afastar as conclusões do Tribunal de Contas, desde que pelo voto de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores
(art. 32, § 2º da CF/88). Logo, somente após a decisão da Câmara Municipal rejeitando as contas do Prefeito é
que a Justiça Eleitoral poderá considerá-lo inelegível.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF
Qual das correntes foi acolhida pelo STF? A segunda. O STF, ao apreciar o tema, fixou a seguinte tese em sede
de repercussão geral: Para os fins do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das
contas de Prefeito, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com
auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de
dois terços dos vereadores. STF. Plenário. RE 848826/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834).

12 NATUREZA DO PARECER TÉCNICO DO TRIBUNAL DE CONTAS E DEMORA NA SUA APRECIAÇÃO PELA


CÂMARA DOS VEREADORES

Conforme se observa pelo § 2º do art. 31 da CF/88, o Prefeito presta suas contas ao Tribunal de Contas
e este, após examiná-las, emite um parecer opinando pela aprovação ou rejeição. Este parecer é enviado ao
Poder Legislativo Municipal (Câmara dos Vereadores), que poderá acolher ou afastar as conclusões do Tribunal
de Contas. Se a Câmara Municipal decidir afastar as conclusões do parecer, ela precisará fazer isso por meio de
um quórum qualificado, exigindo-se o voto de 2/3 dos Vereadores. Em outras palavras, se a Câmara quiser
discordar do Tribunal de Contas, pode fazê-lo, mas desde que por, no mínimo, 2/3 dos Vereadores. Veja
novamente a redação do dispositivo constitucional:
23
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. (...) § 2º - O parecer prévio,
emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

12.1 DEMORA DA CÂMARA MUNICIPAL PARA APRECIAR O PARECER DO TRIBUNAL DE


CONTAS EXARADO PELA REJEIÇÃO.

Ocorre que, muitas vezes, o Tribunal de Contas emite o parecer reprovando as contas do Prefeito e o
encaminha à Câmara Municipal, mas esta não julga as contas. Nesse caso, então, chega o período eleitoral e o
Prefeito solicita o registro de sua candidatura, seja para a reeleição, seja para outro cargo (ex: Deputado
Estadual). Ele poderá concorrer mesmo havendo um parecer do Tribunal de Contas rejeitando as suas contas? O
parecer do Tribunal de Contas produz efeitos enquanto não for rejeitado expressamente pela Câmara
Municipal?

Sobre este tema, também surgiram duas correntes:

1ª) O parecer prévio do Tribunal de Contas que rejeita as contas do Prefeito deverá produzir efeitos até
que a Câmara Municipal expressamente o afaste, pelo voto de 2/3 dos Vereadores. Esta corrente se baseia na
redação literal do § 2º do art. 31. Veja: "... só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da
Câmara Municipal". Assim, se há demora no julgamento pela Câmara Municipal e o parecer foi pela reprovação
das contas, este Prefeito não poderia concorrer por incidir na Lei da Ficha Limpa. Esta era a posição defendida
pela maioria dos Tribunais de Contas e do Ministério Público eleitoral.

2ª) O parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa. Ele não
tem caráter decisório. Logo, enquanto não houver o julgamento pela Câmara Municipal rejeitando as contas do
Prefeito, não existe nenhum impedimento para que ele concorra às eleições. Mesmo que a Câmara demore a
apreciar o parecer, não se pode considerar que as contas do Prefeito tenham sido rejeitadas. Isso porque não
existe julgamento ficto das contas por demora no prazo da Câmara para apreciá-las.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF
Qual foi a corrente adotada pelo STF? A segunda. O STF, ao apreciar o tema, fixou a seguinte tese em sede de
repercussão geral: Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa,
competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder
Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo. STF. Plenário. RE
729744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834).
24

*ATUALIZADO EM 06/04/2022: #NOVIDADELEGISLATIVA:

A Emenda Constitucional 117 de 5 de abril de 2022, alterou o art. 17 da CF/88 para impor aos partidos políticos a aplicação
de recursos do fundo partidário na promoção e difusão da participação política das mulheres, bem como a aplicação de
recursos desse fundo e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e a divisão do tempo de propaganda gratuita no
rádio e na televisão no percentual mínimo de 30% (trinta por cento) para candidaturas femininas.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal,
promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º O art. 17 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 7º e 8º:

"Art. 17. ...............................................................................................................


.......................................................................................................................................

§ 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na
manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo com os interesses
intrapartidários.

§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a


campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às
respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a
distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas
estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário."

Art. 2º Aos partidos políticos que não tenham utilizado os recursos destinados aos programas de promoção e difusão da
participação política das mulheres ou cujos valores destinados a essa finalidade não tenham sido reconhecidos pela Justiça
Eleitoral é assegurada a utilização desses valores nas eleições subsequentes, vedada a condenação pela Justiça Eleitoral nos
processos de prestação de contas de exercícios financeiros anteriores que ainda não tenham transitado em julgado até a
data de promulgação desta Emenda Constitucional.

Art. 3º Não serão aplicadas sanções de qualquer natureza, inclusive de devolução de valores, multa ou suspensão do fundo
partidário, aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou que não destinaram os valores mínimos em
razão de sexo e raça em eleições ocorridas antes da promulgação desta Emenda Constitucional.

Art. 4º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, em 5 de abril de 2022


25
13 DISPOSITIVOS PARA LEITURA

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Constituição Federal Art. 14 a 16
LC 64/90 Art. 1°

14 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

- Anotações de aula

- Complementação no Direito Constitucional Esquematizado – Pedro Lenza

- Jurisprudência do site Dizer o Direito

Você também pode gostar