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1 INTRODUÇÃO
2 FORMULAÇÃO DE CONCEITOS
3 A PERCEPÇÃO DA ENVONVENTE
4 FORMA E FUNÇÃO
5 ORDEM E RITMO
6 ESBELTEZA E TRANSPARÊNCIA
7 SIMETRIAS E ASSIMETRIAS
8 CÔR, SOMBRA E PORMENORES
9 ESTÉTICA DE PILARES
10 PONTES URBANAS
1. INTRODUÇÃO
A qualidade estética das obras de arte e a sua integração no ambiente ou envolvente
paisagística onde se inserem, é hoje em dia um parâmetro de apreciação obrigatório nos
concursos de concepção, ou de concepção-construção, pelo menos ao nível dos países mais
desenvolvidos. Desde há muito que o critério custo ou custo/prazo, deixou de ser o parâmetro
decisivo, ou pelo menos o único parâmetro na análise comparativa das propostas, devendo o
critério económico ser ponderado com o critério de qualidade da obra. Nessa qualidade pode e
deve ser inserida a sua qualidade estética e de integração ambiental.
2. FORMULAÇÃO DE CONCEITOS
O processo da concepção implica naturalmente um estudo evolutivo das soluções, mas esse
“processo” só deve ser feito, uma vez formulados os conceitos que devem presidir ao estudo
referido.
Questões diversas são as que se relacionam com a forma/função, a esbelteza dos seus
elementos estruturais, a transparência da sua mesoestrutura ou aspectos de maior pormenor
como os relacionados com a estética de vigas de bordadura, guarda-corpos, ou sistemas de
iluminação.
Admite-se que os conceitos seguintes, possam ser julgados triviais e intuitivos. Entende-se, no
entanto, que um conhecimento acrescido de conceitos básicos da estética, da organização do
espaço e do impacte das obras sobre a envolvente, aumenta a intuição na concepção das obras
de arte.
3. A PERCEPÇÃO DA ENVOLVENTE
A percepção da envolvente, assume-se como um aspecto crucial no entendimento da obra a
projectar, sendo fundamental compreender:
a ocupação do espaço
a escala e o equilíbrio com a envolvente
No primeiro caso, a rasante da obra pode ser determinante. É importante que o projectista da
obra de arte intervenha na fixação dessa rasante, na medida em que a mesma vai determinar a
escala da obra e o seu equilíbrio com a paisagem. Vários são, infelizmente, os exemplos de
obras de arte construídas junto a vilas nas quais a cota da rasante é um factor determinante
para que a ponte assuma proporções tais que esmaga o equilíbrio da paisagem urbana.
A modelação da envolvente pode, hoje em dia, ser feita com toda a facilidade a partir da
cartografia digitalizada, fotografia aérea digitalizada e modelação 3D no terreno. A modelação
tridimensional da obra permite o estudo da volumetria, da super e mesoestrutura da ponte, o
estudo da inserção da obra, e o estudo da sua compatibilização com outras obras existentes no
local.
Os conceitos de harmonia e/ou conflito revelam-se importantes na concepção duma obra de arte
na vizinhança de outra existente construída numa época anterior. A separação espacial e
temporal das duas obras deve ser respeitada não concebendo uma solução que tente
“reproduzir” a solução existente, mas sim uma solução que marque pela tipologia a diferença no
tempo das duas obras gerando a harmonia pela ordem, ritmo e escala da nova obra. A nova
obra de arte não deve, sob forma alguma, competir com a obra existente, mas deve com ela
integrar-se na modelação dos seus vãos, na localização dos seus pilares, na compatibilidade da
cota das suas rasantes.
4. FORMA E FUNÇÃO
O conceito da forma/função é um conceito clássico da engenharia e da arquitectura – a forma
segue a função. Por vezes a aparência insere um conceito estrutural nem sempre evidente,
muitas vezes ligado a um processo construtivo. Exemplifiquemos alguns destes aspectos.
A variação parabólica da altura dos tabuleiros em viga contínua, ilustrada na Figura 1(a), é
consistente com a sua função de absorver maiores momentos flectores, nas secções sobre os
apoios, devido as cargas permanentes.
A solução (a) com variação parabólica de altura, para um tabuleiro com 3 vãos, seguindo a forma
do diagrama de momentos, pode ser substituída por uma variação linear (Figura 1 (b)) com
esquadros nas secções próximas dos pilares. Se a altura d requerida pelo tabuleiro de altura
constante – solução (c), não for exagerada em relação à altura h ao solo, a solução (c) pode ser
mais favorável do ponto de vista estético, pela continuidade das suas linhas, do que a solução
(b).
Do ponto de vista de cofragens (moldes) e armaduras, naturalmente que a solução (c) é a mais
simples, enquanto a solução (b) representa um equilíbrio entre as soluções (c) – a mais simples
do ponto de vista construtivo, e a solução (a) a mais complexa.
No caso da solução (a), do ponto de vista estético convém em geral que a altura do seja da
ordem de 1,3d a 2,5d e que a transição parabólica no tramo extremo se faça a uma distância
c=l2.
Se o tabuleiro for construído por avanços sucessivos, esta regra c=l2 é importante para o
equilíbrio das consolas durante a fase construtiva.
Figura 1 – Variação de altura em tabuleiros em viga contínua – Momentos (Mcp) devidos
à cargas permanentes (cp = const.) para um tabuleiro com EI = const.
No caso de uma rasante baixa h<<l/2, numa ponte de 3 vãos sobre um rio (Figura 2), é em geral
favorável, do ponto de vista estético, utilizar uma relação elevada do/d1, diga-se entre 2 e 2,5,
conferindo ao tabuleiro uma configuração que se aproxima, visualmente, dum arco. Os pilares,
neste caso – rasantes baixas e tabuleiros altos nos apoios, convém que possuam uma largura
b considerável, muito para além do que lhes seria puramente exigido por razões estruturais.
Pilares largos (na direcção longitudinal da ponte) em pontes com rasantes baixas conferem à
obra uma sensação de estabilidade e um bom equilíbrio, do ponto de vista estético, com o
tabuleiro.
Figura 2 – Pontes e Viadutos de Acesso. PT – pilar de transição
Como se vê, o conceito de forma/função, não se esgota nos tabuleiros. Num pórtico de
montantes inclinados, convém que as secções dos montantes aumentem em direcção ao
tabuleiro de modo a ter em conta a distribuição de momentos flectores nos montantes. No limite,
os montantes podem ter uma secção muito reduzida na base, isto é, na secção de ligação à
fundação onde podem ser articulados.
A forma dos pilares em alçado, pode ir para além dos pilares verticais ou montantes inclinados.
Os pilares em “V” podem ser uma solução para redução de vãos conferindo às obras um aspecto
singular.
No exemplo que se apresenta na Figura 3, a opção pela forma do pilar central na rotunda, foi
tomada tendo em conta a necessidade de:
As descontinuidades das alturas dos tabuleiros em pilares de transição (Figura 4) devem ser
evitadas. Em vales profundos (Figura 5) os vãos devem decrescer do centro para as encostas
tendo como objectivo manter aproximadamente a relação vão/altura dos pilares (li/hi).
A esbelteza da superstrutura, em geral “medida” por índices do tipo h/l (altura do tabuleiro/vão)
nas secções sobre os apoios e a meio vão, são valores indicativos da qualidade estética das
obras, mas têm de ser vistos tendo em conta a cota a rasante, aspecto que é demasiado
esquecido em várias obras. A aparência de grande esbelteza também se consegue pelo conceito
de “almas de inclinação variável” que permite manter a largura do banzo inferior e adoptar uma
inclinação crescente das almas, dos apoios para o vão. A inclinação das almas e a dimensão
das consolas da secção transversal do tabuleiro, associadas ao efeito de sombra que provocam
nas almas reduzem a altura aparente do tabuleiro.
Em obras com um único tabuleiro de grande largura (25 a 30 m) podem utilizar-se dois fustes,
mas o estudo da dimensão transversal (Figura 6) deve merecer cuidados acrescidos. A distância
a na direcção transversal entre faces exteriores de pilares deve ser inferior a l/2. A utilização de
travessas abaixo da cota inferior do tabuleiro, solução muito utilizada em soluções tipo “estaca
pilar” (Figura 7), deve ser evitada já que o resultado da sua utilização é, em geral, desastroso
em especial em obras de grande extensão. Efectivamente essa solução, para certas relações
de vão/distância entre fustes, pode conduzir a um aumento para quase o dobro da altura
aparente do tabuleiro quando a obra é vista de viés.
Figura 7 – Soluções Estaca-Pilar com viga de travamento no topo, a evitar.
Em obras urbanas em que se utilizam tabuleiros com 2 nervuras ou mesmo em tabuleiros pré-
fabricados com dois pequenos caixões, pode utilizar-se um único fuste, embebendo a viga
transversal que funciona neste caso como carlinga de apoio (Figura 8), pese embora essa
solução seja mais complexa do ponto de vista estrutural e construtivo na medida em que, em
geral, obriga ao pré-esforço da travessa. Esse é, sem dúvidas, o preço a pagar pela estética
perfeitamente justificável em muitas situações.
Figura 8 – Apoio das nervuras no pilar por intermédio duma carlinga embebida pré-
esforçada.
7. SIMETRIAS E ASSIMETRIAS
Refiram-se agora alguns aspectos relativos ao conceito de simetria e anti-simetria. As soluções
estruturais simplificam-se com conceitos de simetria, mas o forçar desse conceito nem sempre
conduz a um valor acrescido do ponto de vista estético. Na Figura 9 apresenta-se um exemplo
duma ponte construída por avanços sucessivos num vale de profunda assimetria topográfica e
geotécnica. Trata-se efectivamente de duas pontes paralelas, isto é um tabuleiro por faixa, sendo
o corte longitudinal da faixa Norte (N) consideravelmente diferente do da faixa Sul (S). Tendo
em conta os condicionamentos topográficos e geotécnicos para cada faixa, a solução de uma
ponte de dois vãos – um único pilar, em cada faixa, afigurou-se a mais recomendável. A opção
consistiu então em explorar a assimetria do vale em alçado, construindo a ponte a partir do túnel
e optando mesmo por explorar a anti-simetria em planta localizando o pilar da faixa Sul na
vertente oposta à da faixa Norte. A ponte quando vista em alçado apresenta, por sobreposição
visual das duas estruturas, uma configuração clássica, aproximadamente simétrica, duma ponte
de trêz vãos com dois pilares.
A intenção na côr a adoptar na ponte, ou em partes da obra, é determinada em geral por um dos
seguintes objectivos:
Outros conceitos como sendo o da intensidade, por vezes identificado como o grau de pureza
da côr, ajustável pela tonalidade misturando a côr básica como preto, e o de temperatura
identificado com a diferenciação psicológica da sensação de côr entre as chamadas cores
quentes (amarelo, vermelho, laranja) das cores frias (verde, azul, violeta).
As cores naturais do local constituem o fundo sobre a qual a ponte vai ser observada. A
orientação da ponte deve ser considerada, já que por exemplo, uma orientação E-W origina que
as cores na face virada a Sul pareçam mais claras por efeito da luz solar.
As cornijas (vigas de bordadura) podem ser executadas em betão de cimento branco, conferindo
um aspecto mais leve à superstrutura e marcando-a na sua dimensão preferencial – longitudinal.
A côr dos guarda-corpos deve distinguir-se da côr do betão, isto é, os guarda-corpos cinzentos
são, em geral, de se evitar.
A pintura do betão tem sido frequentemente defendida como elemento essencial à sua protecção
em certos ambientes. Opta-se, por exemplo por essa solução, pintando o betão em côr clara
(branco, branco/cinza).
As vigas de bordadura (cornijas) com guardas metálicas dão ao tabuleiro um aspecto mais leve
do que soluções com guardas de betão cuja leitura em alçado se confunde, para o observador
comum, com a própria superstrutura. A altura d das vigas de bordadura deve ser proporcional à
altura h da superstrutura (Figura 11) e ao vão l.
Em geral d>0,40m, mas este valor pode (deve) ser aumentado para tabuleiro de grande altura,
ou seja d deve crescer com h e com l.
A face visível da viga de bordadura pode ser quebrada de acordo com esquemas que se indicam
na Figura 11.
Figura 11 – Pormenores e geometria de vigas de bordadura.
Nos guarda-corpos os elementos visualmente dominantes devem ser os horizontais, para uma
leitura em alçado consistente com a direcção predominante em obra – a horizontal.
No pilar convém evitar superfícies lisas e planas de grandes dimensões, pois a coloração e
acabamento do betão dificilmente consegue ser uniforme. Poderão criar-se zonas rebaixadas
em relação ao plano de superfície (Figura 12) de modo a “quebrar” a superfície. A largura c
nunca deve ser inferior a 10~20 cm e a profundidade mínima de 5~10 cm. Caso contrário não
se cria efeito de sombra. As arestas das zonas rebaixadas devem ser quanto possíveis normais
ao plano para evidenciar o efeito de sombra, ou seja a inclinação l/i (Figura 12) deve ser
pequena. Em geral introduz-se uma inclinação (l/i) na reentrância para facilitar a desmoldagem.
Nas transições entre betonagens de fustes dos pilares executados com moldes trepantes,
convém deixar um rebaixo de muito pequenas dimensões para não complicar as armaduras mas
permitir evidenciar as juntas de betonagem. Este aspecto deve ser garantido no estudo da
estereotomia dos moldes a doptar para a execução dos fustes dos pilares.
Finalmente chama-se a atenção para a importância que poderão ter pormenores construtivos,
como por exemplo, o acabamento e estereotomia dos muros de avenida e de testa nos
encontros, ou o modo como se inserem os tirantes num topo do mastro. A modelação em 3D
permite o estudo de pormenores.
9. ESTÉTICA DE PILARES
Os pilares têm um papel fundamental na qualidade estética da obra. A sua forma e dimensões
da secção transversal, têm de ser pensadas do ponto de vista estrutural e estético.
A maior esbelteza aparente do pilar não conduz por si só a uma melhoria estética da obra. Pilares
demasiado esbeltos, em especial quando a rasante é baixa, conferem à obra um aspecto de
insegurança e desequilíbrio aparente com as dimensões da superstrutura. Uma dimensão da
secção do pilar, na direcção longitudinal do tabuleiro, da ordem de 0,6ha a 0,8ha – em que ha
representa a altura da superstrutura na secção sobre o apoio – conduz em geral, a um bom
equilíbrio de dimensões no alçado da ponte.
Pilares altos têm em geral secção tubular e beneficiam, esteticamente e estruturalmente, duma
variação da secção pelo menos na direcção transversal.
Quando os vales são assimétricos, a variação de altura dos pilares deve ser resolvida, do ponto
de vista estético, adoptando pilares com secção constante. Se a ponte tiver apenas dois pilares,
pilares estes de grande altura mas diferentes, convém mesmo, por razões estéticas, que a
variação da secção seja apenas na secção transversal, caso contrário criar-se-á uma assimetria
desagradável no alçado.
Se a altura for muito grande (pilares com altura superior a 80 a 100m) poderão adoptar-se com
benefício estético, pilares de secção variável na direcção longitudinal e transversal. Quando se
efectuam variações da secção transversal dos pilares convém ter em atenção que devem evitar-
se superfícies torsas. O estudo dos moldes e a estereotomia das faces dos pilares deve ser
particularmente cuidada para evitar, nestes casos, o “empenamento” das superfícies.
No caso de pilares de viadutos com tabuleiro em laje vigada, o posicionamento dos aparelhos
de apoio sob o tabuleiro, requer em geral um alargamento do topo do pilar. O fuste pode ter uma
variação contínua, alargando-se para o topo ou ter um capitel (Figura 13). A geometria e a
estereotomia dos capiteis devem ser particularmente cuidadas, pois tratam-se de peças com
grande impacto visual.
Figura 13 – Pilares com fuste com alargamento para o topo ou com capitel.
10. PONTES URBANAS
O projecto de pontes e viadutos em espaços urbanos requer uma atenção particular aos
problemas da estética e integração ambiental.
A primeira dificuldade reside no impacto da obra no tecido urbano, impacto esse não apenas
visual mas também o modo como a obra pode afectar a vida na cidade. A participação dum
urbanista na equipa de projecto é, nestes casos, essencial.
A concepção de pontes/viadutos em espaços urbanos depara-se frequentemente com alguns
problemas específicos associados:
Figura 14 – Tabuleiros para viadutos urbanos realizados a partir de vigas U de betão pré-
fabricadas.