Você está na página 1de 5

William F.

SMITH
Javad HASHEMI

FUNDAMENTOS
DE ENGENHARIA
e Ciência
dos Materiais
S663f Smith, William F.
Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais
[recurso eletrônico] / William F. Smith, Javad Hashemi ;
tradução: Necesio Gomes Costa, Ricardo Dias Martins de
Carvalho, Mírian de Lourdes Noronha Motta Melo. – 5. ed.
– Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-8055-115-0

1. Engenharia. 2. Ciência dos materiais. I. Hashemi,


Javad. II. Título.

CDU 62

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


180 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

Tabela 6.5
Constantes da relação de Hall-Petch para materiais selecionados.

s0 K
(MPa) (MPa ? m½ )

Cu 25 0,11

Ti 80 0,40

Aço baixo carbono 70 0,74

Ni3 Al 300 1,70


Fonte: www.tf.uni-kiel.de/matwis/matv/pdf/chap_3_3.pdf.

50 Durante a deformação plástica dos materiais metálicos, as


300 discordâncias que se movem em um determinado plano de es-
40 Policristalino corregamento não podem passar, em linha reta, diretamente de
um grão para outro. Como se mostra na Figura 6.39, as linhas de
Tensão de tração (MPa)

Tensão de tração (MPa)

escorregamento mudam de direção nos limites do grão. Assim,


30 200
em cada grão, as discordâncias se movem em planos de escor-
regamento preferenciais que têm orientações diferentes das dos
20 grãos vizinhos. À medida que o número de grãos aumenta, o diâ-
Monocristal
(escorregamento múltiplo)
100 metro dos grãos se torna menor, e, com isso, as discordâncias
10 dentro de cada grão podem se deslocar a uma distância menor,
antes de encontrar uma nova fronteira de grão, ponto onde o seu
0 deslocamento é interrompido (falha de empilhamento). É por essa
0 10 20 30 40
razão que os materiais com granulometria fina possuem maior
Alongamento (%)
resistência. Na Figura 6.40, mostra-se claramente um contorno de
Figura 6.38 grão de alto ângulo, que funciona como obstáculo ao movimento
Curvas de tensão-extensão do cobre mono e policristalino. das discordâncias e que causam as falhas de empilhamento nos
O cobre policristalino apresenta resistência mecânica mais
elevada devido aos contornos de grão que dificultam o contornos de grão.
escorregamento.
(M. Eisenstadt, “Introduction to Mechanical Properties of Materials,” Macmillan,
1971, p. 258.) 6.6.2 Efeito da deformação plástica na forma dos grãos
e no arranjo das discordâncias

Alteração da forma dos grãos devido à deformação plástica  Consideremos a deformação plás-
tica de amostras recozidas9 de cobre que apresentam uma estrutura de grão equiaxial. Por deformação
plástica a frio, os grãos sofrem distorção uns em relação aos outros, devido à criação, movimento e rear-
ranjo das discordâncias. Na Figura 6.41, mostram-se as microestruturas de amostras de placa de cobre
que foram laminadas a frio, sofrendo reduções de 30 e 50%, respectivamente. Observe que, à medida
que a deformação a frio aumenta, os grãos ficam mais alongados segundo a direção de laminação, de-
vido ao movimento de discordâncias.

Alteração do arranjo das discordâncias devido à deformação plástica  Na amostra de cobre com
30% de deformação plástica, as discordâncias formam uma estrutura celular com regiões claras no
centro das células (Figura 6.42a). Com o aumento da deformação plástica a frio para 50% de redução, a
estrutura celular se torna mais densa e alongada segundo a direção de laminação (Figura 6.42b).

6.6.3 Efeito da deformação plástica a frio no aumento da resistência mecânica dos metais

Conforme mostram as fotomicrografias apresentadas na Figura 6.42, obtidas por microscopia eletrô-
nica, a densidade das discordâncias aumenta à medida que se intensifica a deformação a frio. O meca-

9As amostras recozidas foram deformadas plasticamente e, em seguida, reaquecidas até se formar uma estrutura de grão em

que os grãos têm aproximadamente a mesma dimensão em todas as direções (equiaxiais).


Capítulo 6  Propriedades Mecânicas dos Metais I 181

Figura 6.39
Alumínio policristalino deformado plasticamente. Note-se que as bandas de
escorregamento são paralelas no interior do grão, mas que há descontinuidade nos
contornos. (Ampliação 60.)
(G.C. Smith, S. Charter and S. Chiderley da Cambridge University)

Figura 6.40
Discordâncias empilhadas em um contorno de grão, observadas em uma
folha fina de aço inoxidável utilizando microscopia eletrônica de transmissão.
(Ampliação 20.000.)
(Z. Shen, R.H. Wagoner and W.A.T. Clark, Scripta Met., 20: 926 (1986).)

nismo exato pelo qual a densidade de discordância aumenta devido à deformação a frio não está ainda
perfeitamente compreendido. Devido à deformação a frio, novas discordâncias surgem e irão interagir
com as já existentes. Como a densidade de discordâncias aumenta com a deformação, o movimento
delas se torna cada vez mais difícil por meio da “floresta de discordâncias”. E, então, o metal encrua,
isto é, endurece por deformação devido ao aumento das discordâncias.
182 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

(a) (b)

Figura 6.41
Fotomicrografias obtidas no microscópio óptico de estruturas deformadas em amostras de cobre que
foram laminadas a frio sofrendo reduções de (a) 30% e (b) 50%. (Reagente: dicromato de potássio;
Ampliação 300.)
(J.E. Boyd in “Metals Handbook”, vol. 8: “Metallography, Structures, and Phase Diagrams”, 8. ed., American Society for Metals, 1973,
p. 221. Reimpresso com permissão de ASM International. Todos os direitos reservados. www.asminternational.org.)

(a) (b)

Figura 6.42
Fotomicrografias obtidas no microscópio eletrônico de transmissão de estruturas deformadas em
amostras de cobre que foram laminadas a frio sofrendo reduções de (a) 30% e (b) 50%. Note-se que
estas fotomicrografias obtidas no microscópio eletrônico correspondem às fotomicrografias da
Figura 6.41 obtidas no microscópio óptico. (Folhas finas; Ampliação 30.000.)
(J.E. Boyd in “Metals Handbook”, vol. 8: “Metallography, Structures, and Phase Diagrams”, 8. ed., American Society for Metals, 1973,
p. 221. Reimpresso com permissão de ASM International. Todos os direitos reservados. www.asminternational.org.)
Limite de resistência à tração e limite de escoamento (MPa)

60 Quando os metais dúcteis como o cobre, o alumínio e o


ferro-a recozidos são deformados a frio à temperatura am-
50 biente, ocorre o seu encruamento devido à interação das dis-
Limite de resistência à tração cordâncias, descrita anteriormente. Na Figura 6.43, mostra-se
como uma deformação a frio de 30%, realizada à temperatu-
40 ra ambiente, provoca um aumento da resistência à tração do
Limite de escoamento (MPa)
cobre, de cerca de 30 ksi (200 MPa) para 45 ksi (320 MPa).
30 60 Entretanto, associada ao aumento da resistência à tração,
% de alongamento

ocorre uma redução do alongamento até a quebra (ductilida-


de). Conforme se pode observar na Figura 6.43, para o cobre,
20 40
uma deformação a frio de 30% faz com que o alongamento
até o rompimento diminua cerca de 52 para 10%.
Alongamento
10 20 O encruamento ou endurecimento por deformação
constitui um dos métodos mais importantes para aumen-
0
tar a resistência mecânica de alguns metais. Por exemplo,
0 10 20 30 40 50 60 utilizando apenas este método, pode-se aumentar conside-
% de trabalho a frio ravelmente a resistência mecânica do cobre e do alumínio
Figura 6.43 puros. Assim, pode se produzir arame de cobre trefilado a
Porcentagem de deformação a frio em função do limite de frio com diferentes resistências mecânicas (dentro de deter-
resistência à tração e do alongamento até a fratura para o cobre minados limites), bastando para isso variar a quantidade de
desoxigenado. O grau de deformação a frio é expresso pela
porcentagem de redução de área da seção reta da amostra metálica. encruamento.

Você também pode gostar