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“Estamos rumando a um período muito


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sombrio”. Pesquisadores
news and updates. brasileiros temem a

eleição do candidato presidencial da extrema-


direita. Cancel Allow

Acompanhando a revista Nature, agora a Science se pronuncia sobre a eleição presidencial do


país.

Por João Pedro Henrique - out 21, 2018


Bolsonaro lidera a corrida presidencial. Créditos: André Coelho / Bloomberg / Getty Images.

Na semana passada publicamos aqui no Universo Racionalista um artigo baseado em


reportagem da revista Nature comparando os planos de governo de Jair Bolsonaro e
Fernando Haddad. Nesta semana foi a vez da Science se pronunciar sobre o cenário
eleitoral do país.
Por Herton Escobar
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latest na Science
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Tentado pela crise econômica e insatisfeito com os erros dos governos mais à esquerda
no poder por mais de 15 anos, o Brasil aparenta decidido a fazer uma guinada e eleger
um candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL), como seu próximo presidente.
Sua rápida ascensão assustou pesquisadores locais, que agora se preocupam com o
futuro da ciência brasileira, a proteção da biodiversidade do país e seu papel na luta
global contra as mudanças climáticas.

“Acho que estamos rumando a um período muito sombrio da história do país”, diz Paulo
Artaxo, um pesquisador em mudanças climáticas da Universidade de São Paulo (USP).
“Não há nenhum alívio nisso. Bolsonaro é a pior coisa que poderia acontecer para o meio
ambiente”.

Bolsonaro declarou seu interesse em retirar o Brasil do Acordo de Paris de 2015, que
tem como objetivo reduzir a emissão do país de gases do efeito estufa visando o
combate às mudanças climáticas, e seu plano de governo planeja eliminar o Ministério
do Meio Ambiente e dirigir suas pautas ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Suprimentos. O “mito” – como seus apoiadores o chamam – também disse, durante
campanha na Amazônia, que o Brasil tem “muitas áreas protegidas” que “limitam o
desenvolvimento do país”.

O congressista de 63 anos e capitão reformado quase venceu a eleição em primeiro


turno no início do mês, e agora está concorrendo ao segundo turno no dia 28 de
outubro, e as pesquisas apontam uma grande vantagem sobre seu adversário, Fernando
Haddad. A difícil situação que passa a ciência brasileira, que sofreu duros cortes de
orçamento nos últimos anos, tem tido pouca repercussão na campanha até agora.
Quando perguntado sobre uma possível escolha de seu ministro da ciência, Bolsonaro
ventilou o nome do astronauta brasileiro e ex-piloto da força aérea, Marcos Pontes, um
membro de seu partido, como sua principal referência.

b d h f d ê l d
Um esboço de uma campanha focada em ciência – primeiramente revelada na semana
passada pelo jornal O Estado
We'dde
likeSão Paulo
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traz mais algumas propostas em seus
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news
planos. Ele promete mais do queand updates.
dobrar o investimento em pesquisa e desenvolvimento
nos próximos 4 anos, mas focando grande parte do dinheiro e atenção em ciência
aplicada como a espacial e a robótica, frente à pesquisa básica nas universidades.
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Com o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, a campanha de Bolsonaro
exalta o orgulho nacional, a disciplina militar, tolerância zero e um tratamento de ferro
ao crime. Famoso por discursos preconceituosos sobre mulheres e minorias, Bolsonaro
abertamente defende a ditadura militar vivida por 21 anos no país, começada por um
golpe em 1964.

Historicamente, Bolsonaro pouco fez pela ciência, e recentemente teve atritos com a
comunidade acadêmica do país, após redigir projeto de lei em favor de uma terapia
contra o câncer não testada. Um general escolhido por ele para construir os planos de
ciência e educação defendeu, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, o ensino do
criacionismo nas escolas essa semana, dizendo que os estudantes precisam saber que
“Darwin existiu”, mas não necessariamente devem “concordar com ele”.

As mudanças climáticas é um assunto o qual Bolsonaro apenas pincelou. Ele não


diretamente questiona o fato da humanidade estar causando o aquecimento global, mas
seu filho, outro congressista popular no país, fez um vídeo que comemora as decisões do
presidente americano, Donald Trump, em relação à pasta climática. Não somente isso,
mas Bolsonaro defende que o Acordo de Paris ameaça a soberania nacional,
especialmente na região Amazônica, onde o desflorestamento para a agricultura e pastos
representa a maioria das emissões de gases do efeito estufa do país.

Através de leis e mecanismos como incentivos para práticas sustentáveis, as autoridades


brasileiras têm sustentavelmente reduzido o desflorestamento na Amazônia nos últimos
13 anos, e a submissão do país ao Acordo de Paris necessita que o país permaneça
nessa tendência. Todavia, a campanha de Bolsonaro promete promover a agricultura e a
mineração na região. Outro general que está contribuindo para o plano de governo do
candidato Bolsonaro disse, também em entrevista ao O Estado de S. Paulo na semana
candidato Bolsonaro disse, também em entrevista ao O Estado de S. Paulo na semana
passada, que sente falta dos dias em que os construtores de estradas podiam derrubar
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árvores na Amazônia sem serem interpelados pelas autoridades ambientais.
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Um desenvolvimento irresponsável da Amazônia seria um “grave erro”, aponta Eduardo


Assad, um pesquisador em agricultura e mudanças climáticas da Allow
Cancel EMBRAPA. Ele adiciona
ainda que estudos sugerem que a produção agrícola do país poderia duplicar apenas por
explorar áreas abandonadas ou áreas de pastos e plantações degradadas – “sem a
necessidade de mais desflorestamento”.

Haddad (PT), um professor de 55 anos do Departamento de Ciência Política da USP,


oferece visões mais moderadas, focando na justiça social e no desenvolvimento
sustentável. Todavia, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, e
escândalos de corrupção que implicaram na prisão do ex-presidente Lula em abril deste
ano, com ambas figuras ligadas à Haddad coloca um entrave em seu caminho. Em
pesquisa divulgada no dia 15 de outubro, Haddad está quase 20% atrás das intenções
de voto de Bolsonaro.

A campanha de Haddad tem clamado uma “reconstrução da ciência nacional, de sua


tecnologia e de sua inovação” e promete um amplo financiamento público para aumentar
a intensidade das pesquisas, prometendo a destinação de 2% do PIB para CTI até 2030.
No documento entregue ao Estadão, Bolsonaro fala em 2.5% até o fim de seu mandato.

Muitos pesquisadores duvidam que algum dos candidatos possa cumprir essas
promessas. “Já ouvi essa promessa muitas vezes antes”, diz Fernando Peregrino,
especialista em ciência política e presidente da Confies, uma rede nacional de fundações
que defendem o suporte a pesquisa científica e a educação. Ele pontua ainda que o país
carece de políticas econômicas e estabilidade fiscal para promover maiores investimentos
em pesquisa.

Em seu plano de governo, Bolsonaro acredita em pesados investimentos do setor privado


em CTI, através de incentivos fiscais e parcerias. “Nosso grande déficit é em inovação”,
diz o economista Marcos Cintra, presidente da Agência Brasileira de Inovação e Pesquisa,
que está ajudando Bolsonaro em seu plano de governo.

Sobre o investimento público, o documento clama por “um melhor balanço” entre
“pesquisa por curiosidade e pesquisa direcionada a metas”. O Ministério da Educação
recebe hoje 60% da verba direcionada à CTI, enquanto a Defesa recebe por volta de
1.5%. Cintra defende que a defesa deveria receber mais dinheiro. “Uma das dificuldades
políticas é que a pesquisa pública no país ainda tem forte viés acadêmico, sem foco ou
prioridades”, completa o documento de Bolsonaro.

Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, concorda que é


importante definir prioridades e metas nacionais, mas relembra que a liberdade
acadêmica e intelectual deve ser preservada.

Independente do vencedor da eleição, cientistas estão receosos em ver algum avanço


tão cedo. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
caiu mais da metade desde 2013, e o orçamento sugerido para 2019 – pela atual
administração – prevê mais um corte de 10%.
“Até para o mais otimista de nós, está feio”, completa Artaxo.
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João Pedro Henrique


Estudo Ciência da Computação na UFPE. Tentando aprender algo novo todos os dias.

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