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A 1º Revolução Industrial apresentou uma nova forma de organização social,

juntamente com o fenômeno do Urbanismo, que transitava famílias que viviam


em zonas rurais para o convívio nas grandes cidades. Tais mudanças e falhas
constantemente presentes atraiam os olhares de pensadores que discerniam suas
ideias daquelas normalizadas, criando assim um abismo que passava a diferenciar
as escolas de seu contexto, transitando do Romantismo para uma forma mais
realista de se observar os parâmetros da sociedade.
Sarah Bernhardt interpretou a Dama das Camélias em
1880, como Margarida Gauthier, tornando-se um
fenômeno, visto o impacto que a peça possuiu em
diversas partes do mundo. Seria incorreto dizer que
Sarah fez sucesso como Margarida. Ela fora por um
longo tempo, a própria Margarida, e durante trinta anos
atriz nenhuma, por mais que tentasse, conseguiu alterar
esse fato.
Duse fora uma grande admiradora de Sarah Bernhardt,
consumindo muito de seus trabalhos: “Senti-me
liberada, senti que tinha o direito de fazer o que bem
quisesse. Fui a todos os espetáculos, para ouvir e chorar.
Eis aí uma mulher que enobrece a profissão, que induz a
plateia a respeitar o Belo curvar-se diante da Arte.”
Entretanto, Sarah Bernhardt não pretendia possuir a
mesma opinião: “ é mais atriz do que artista. Trilha os
caminhos que outros abriram para ela. Contudo jamais
criou uma personagem que possa se identificar com ela...
Usa as luvas de outras pessoas, mas calça-as pelo avesso.
Eleonora Duse -1858 - Sarah Bernhardt -1844 -
1924 Faz tudo isso com uma graça infinita e um inconsciente
1923
abandono. É uma grande atriz [...], porém não é uma
grande artista.”
Tchekhov não havia se convencido da genialidade de
Sarah Bernhardt, em uma de suas colunas, escreveu: “Se
empilhássemos tudo que se escreveu sobre ela e
vendêssemos essa pilha a toneladas [...] poderíamos pelo
menos dar jantar e ceia aos cavalos...”
Em seu último artigo, escrevera: “No entanto não
escreverei mais nada sobre ela, mesmo que o editor me
pague cinquenta copeques por linha. Esgotei minha
capacidade de escrever! Peço demissão!”
Anton Tchekhov – 1860 - 1904
A atriz e professora, Uta Hagen já havia também
apresentado seu ponto de vista em relação ás duas
celebres atrizes, separando a atuação de Sarah
Bernhardt em Representacional e a de Eleonora Duse
de Presentacional: “A interpretação formalizada,
externa (representacional), tem forte tendência de
seguir a moda. A interpretação interna
(presentacional) rejeita a moda e, por consequência,
pode se tornar tão atemporal como a própria
experiencia humana.

Uta Hagen 1919 - 2004


Quando a carta fora publicada por Emile Zola, Sarah
Bernhardt se solidarizou com a causa, replicando uma
carta ao mesmo: "Permita-se falar da emoção
inexprimível que senti ao ler seu clamor por justiça. [...]
Todavia estou angustiada, assombrada com a situação, e
as belas palavras que o senhor escreveu ontem
trouxeram imenso alívio a meu grande sofrimento. [...]
Sigmund Freud também se tornou um admirador
de Sarah Bernhardt. Em 1885 estava em Paris em
seus estudos de hipnotismo, e assistiu Bernhardt em
Teodora, ele a descreveu como: “Não tenho nada de
bom para dizer sobre a peça em si [...], Mas como
essa Sarah representa! Depois de ouvir as primeiras
palavras de sua voz adorável e vibrante, senti como
se a conhecesse há anos. Nada do que ela dissesse
me surpreenderia; acreditei de imediato em tudo
que falou. [...] Uma criatura curiosa: imagino que
não deva ser na vida diferente do que é no palco.”
La Traviata foi composta baseada no romance A
dama das camélias. A obra foi escrita em 1848
por Alexandre Dumas Filho a partir de uma
experiência autobiográfica do autor. Em
português, o nome significa “A mulher caída” e
se trata de uma ópera dividida em quatro atos.
Em síntese, é uma história de amor e tragédia.
A Dama das Camélias
Alexandre Dumas Filho
Filho de Alexandre Dumas pai, Alexandre Dumas filho
esteve presente no desenvolvimento deste novo
movimento centrado em uma perspectiva naturalista,
sendo ele um dramaturgo que persistiu em suas
referências românticas grande parte de sua vida.
Em contraste á personalidade de seu pai, Dumas filho
mostrou-se propenso á melancolia, perpetrando temas
cuja veracidade estimava em grande parte, delatar aspectos
sobre o amor e a vida suburbana. Havia retirado tais
perspectivas em sua imersão no estilo de vida parisiense.
A “Dama das Camélias”
Dumas filho conhecera a sua inspiração em Paris.
Descrevera Marie Duplessis como uma “Leoa” pela sua
personalidade e sua elegância, entretanto Marie mesmo
provinda de família empobrecida, tinha seu estilo de vida
abundante devido a seus amantes abastados, e fora este
patamar ao qual Marie não estava pronta para abandonar.
Dumas filho era um homem de pouco luxo, e tal
contraste a fizeram não prosseguir com seu amor. Casou-
se então com grande compositor erudito Franz Liszt.
Marie Duplessis morrera aos seus 23 anos de idade,
devido a tuberculose.
Ato I
Cena V Cena X
Margarida – Rosas e goivos. Leve essas Margarida - Mas se eu me tratasse, eu morreria,
flores´para o seu quarto, Nanine. meu amigo. O que ainda me sustenta é a
Varville – Por que? Não gostou? agitação da vida que levo. Me tratar... Isso é
Margarida - Como é que me chamam? bom para as moças de sociedade, as que tem
Varville – Margarida Gauthier. família e amigos: mas nós, quando não
Margarida – Que apelido me deram? servimos mais, nem para o prazer nem para a
Varville – A dama das camélias. vaidade de ninguém, somos postas de lado. E
Margarida – Por que? às noites sem fim, sucedem os dias sem fim; eu
Varville – Porque são as únicas flores sei disso, estive de cama dois meses, depois de
que costuma usar. três semanas, ninguém mais vinha me ver.
Ato II
Cena X
Margarida - Porque há momentos que eu não quero interromper o
sonho começado, porque há dias em que me sinto fatigada dessa vida
que levo; porque no meio de nossa existência ruidosa, a cabeça a
vaidade, os sentidos vivem... mas o coração aperta e como não pode
se expandir, sufoca. Parece que somos felizes e nos invejam. De fato,
temos amantes que se arruínam, não por nossa causa, como dizem,
mas por causa de sua vaidade... Pouco se importam com o que
fazemos, contanto que frequentem o nosso camarote ou se
pavoneiem em nossas carruagens. É assim á nossa volta, vaidade,
vergonha, mentira... Estava querendo o impossível; uma frase sua me
fez cair em mim...
Ato III
Cena III
Margarida - Sei que acreditam em mim
porque é com o coração que me ouvem.
Há momentos em que me esqueço do
que fui; em que a mulher de outros
tempos se destaca de tal forma da mulher Cena IV
de hoje... Estranha aos meus próprios Margarida – De fato, com que direito irá
olhos, estranha aos olhos dos outros! ocupar no seio da família um lugar reservado á
virtude? Que importa se está apaixonada! Que
Cena IV homem lhe chamaria esposa, que criança lhe
Duval – Não está vendo daqui a sua dupla chamaria mãe? É preciso obedecer [...] o senhor
velhice, duplamente deserta, duplamente inútil? dirá á essa moça que só tinha uma esperança, e
Que lembrança vai deixar? Que bem terá que hei de renunciar a tudo, e esmagar o coração
praticado? Não, Margarida, a vida é feita de com as próprias mãos até morrer. Porque eu
vou morrer, e talvez então, Deus me perdoe.
necessidades cruéis... Foi feliz durante três
meses, não manche uma felicidade que já não
pode durar...
Ato IV
Cena VI
Cena VI
Armando – Escute Margarida... no estado em que estou
Armando – Entregou-se a ele, porque é
um homem é capaz de tudo, mesmo de uma infâmia. Por
uma mulher sem lealdade e sem coração,
um momento o ódio que me repelia – era o amor; o amor
porque o seu amor pertence a quem paga
invencível, rancoroso, machucado, acrescido do remorso,
melhor. Porque, diante do sacrifício que ia
do desprezo e da vergonha. Porque, depois do que
fazer, faltou-lhe coragem e deixou-se
aconteceu tenho vergonha do que sinto. Mas diga uma
vencer pelos instintos. [...] porque este
única palavra de arrependimento, atire a culpa no acaso, na
homem que lhe dedicava a própria vida,
fatalidade, na fraqueza, que eu esqueço de tudo. Que me
que lhe confiara a própria honra, valia
importa esse homem? Só o odeio porque você o ama. Se
menos, aos seus olhos, que os cavalos de
disser que ainda me ama, eu te perdoo. Fugiremos de
sua carruagem, ou as joias de seu colo.
Paris e do passado, iremos até o fim do mundo se for
preciso, até onde não exista mais ninguém, só nós e o
nosso amor.
Ato V
Cena VI Cena VII
Margarida – Diga-lhe que Armando Margarida – Escute, abra essa gaveta e pegue um
voltou e que eu quero viver, que eu medalhão... é o meu retrato, no tempo em que eu era
preciso viver... Se sua volta não me bonita! Mas se algum dia uma moça bonita se apaixonar
salvou, o que irá me salvar? Mais por você... e se ela encontrar esse retrato... diga que é de
cedo ou mais tarde aquilo que foi a uma velha amiga que morreu... Mas se ela tiver ciúmes
nossa vida acaba nos matando. Eu vivi do passado, como nós mulheres costumamos ter, se te
de amor – estou morrendo de amor. pedir o sacrifício desta lembrança, faça-o sem medo e
sem remorsos; será muito justo e, desde já, eu te
perdoo... Juro que quando a gente é feliz, não é difícil
morrer...
Sobre o Teatro de Dumas Filho
Da sua obra que terá ficado? Justamente aquele drama da
mocidade, até hoje representado, e com sucesso, pelo
mundo a fora: “A Dama das Camélias”. O resto sumiu.
Como o próprio Dumas Filho previra... Era bastante
inteligente e viveu bastante para perceber que a sua glória
pouco mais havia de durar. Dois novos autores, Becque e
Ibsen, subiam no horizonte teatral. O teatro romântico
vivera. Surgia o teatro realista.
Comentários, Alfredo Mesquita – A Dama das
Camélias, Alexandre Dumas Filho.
Henry Becque – 1837 - Henrik Ibsen – 1828 - 1906
1889

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