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APOSTILA CONCURSO

SEE - MG

Assistente Técnico de Educação Básica - ATB

Teoria e Questões

(34) 9868-1113 PROTAGONISTA CONCURSOS


Apresentação
Fazer parte do serviço público é o objetivo de muitas pessoas.
Nesse sentido, esta apostila reúne os conteúdos cobrado no edital de abertura do concurso.
A Protagonista tem o cuidado de selecionar as informações do conteúdo programático das
disciplinas abordadas. Toda essa disposição de assuntos foi pensada para auxiliar em uma
melhor compreensão e fixação do conteúdo de forma clara e eficaz.
A apostila que você tem em mãos é resultado da experiência e da competência da Protagonista,
que conta com especialistas em cada uma das disciplinas.
Ressaltamos a importância de fazer uma preparação focada e organizada para obter o
desempenho desejado. A apostila da Protagonista será o diferencial para o seu sucesso e na
realização do seu sonho.

Importante
O conteúdo desta apostila tem por objetivo atender às exigências do edital. Assim, recomendamos
ampliar seus conhecimentos em livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios, para sua melhor
preparação.
Atualizações legislativas poderão ser encontradas nos sites governamentais.
A presente apostila não está vinculada à instituição pública e à empresa organizadora do concurso
público a que se destina, a sua aquisição não inclui a inscrição do candidato no concurso público e
também não garante a sua aprovação no concurso público.

Proteção de direitos
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/98. É proibida
a reprodução de qualquer parte deste material didático, sem autorização prévia expressa por
escrito pela Protagonista.
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Fonema. Sílaba.............................................................................................................................................................................. 7
2. Ortografia...................................................................................................................................................................................... 8
3. Classes de Palavras: substantivo, adjetivo, preposição, conjunção, advérbio, verbo, pronome, numeral, interjeição e artigo... 8
4. Acentuação................................................................................................................................................................................... 16
5. Concordância nominal. Concordância Verbal............................................................................................................................... 17
6. Sinais de Pontuação...................................................................................................................................................................... 19
7. Uso da Crase................................................................................................................................................................................. 20
8. Colocação dos pronomes nas frases............................................................................................................................................. 20
9. Análise Sintática Período Simples e Composto............................................................................................................................. 20
10. Figuras de Linguagem................................................................................................................................................................... 22
11. Interpretação de Textos...................................................................................................................................................... 24

Matemática
1. Radicais: operações – simplificação, propriedade – racionalização de denominadores. Conjunto de números reais. Fatoração
de expressão algébrica. Expressão algébrica – operações. Expressões algébricas fracionárias – operações – simplificação.
MDC e MMC .............................................................................................................................................................................. 43
2. Razão e Proporção ..................................................................................................................................................................... 51
3. Porcentagem ............................................................................................................................................................................ 52
4. Juros Simples............................................................................................................................................................................ 54
5. Sistema de medidas: comprimento, superfície, massa, capacidade, tempo e volume: unidades de medida; transformações
de unidades ............................................................................................................................................................................... 67
6. Estatística: noções básicas, razão, proporção, interpretação e construção de tabelas e gráficos .............................................. 69
7. Geometria: elementos básicos, conceitos primitivos, representação geométrica no plano ..................................................... 74
8. Noções de probabilidade e análise combinatória. .................................................................................................................... 84

Conteúdo Comum para profissionais da Educação


1. Fundamentos da educação.......................................................................................................................................................... 89
2. História da Educação.................................................................................................................................................................... 93
3. Filosofia da Educação................................................................................................................................................................... 108
4. Psicologia da Educação................................................................................................................................................................ 122
5. Cotidiano Escolar......................................................................................................................................................................... 126
6. Escola e família............................................................................................................................................................................ 134
7. Projeto Político Pedagógico......................................................................................................................................................... 135
8. Processo de Avaliação Educacional.............................................................................................................................................. 137
9. Trabalho Coletivo......................................................................................................................................................................... 145
10. Trabalho Interdisciplinar.............................................................................................................................................................. 145
11. Pedagogia de projetos................................................................................................................................................................. 146
12. Didática e Metodologia do Ensino............................................................................................................................................... 146
13. Progressão Continuada................................................................................................................................................................ 155
14. Psicologia da Aprendizagem........................................................................................................................................................ 156
ÍNDICE

15. Educação Inclusiva....................................................................................................................................................................... 156


16. Educação Contemporânea........................................................................................................................................................... 162
17. Educação e Tecnologia; Tecnologia na sala de aula e na Escola................................................................................................... 162
18. Formação Continuada de professores......................................................................................................................................... 167
19. Ensino no Brasil e no Mundo....................................................................................................................................................... 167
20. Processo de Escolarização: sucessos e fracassos; Evasão e Repetência: causas, consequências e alternativas.......................... 167
21. Políticas Educacionais Brasileiras................................................................................................................................................. 177
22. Gestão Educacional (Gestão Participativa e Participação Comunitária)...................................................................................... 185
23. Formas Inovadoras e Clássicas de Avaliação................................................................................................................................ 188
24. Plano de Aula............................................................................................................................................................................... 188
25. Autores renomados da Educação: história, pensamento, metodologias e contribuições........................................................... 194
26. Teorias de Aprendizagem............................................................................................................................................................. 200
27. Currículo...................................................................................................................................................................................... 200
28. Cidadania..................................................................................................................................................................................... 212
29. Desenvolvimento cognitivo dos alunos....................................................................................................................................... 213
30. Desenvolvimento social dos alunos............................................................................................................................................. 214
31. Desenvolvimento cultural dos alunos.......................................................................................................................................... 214
32. Desenvolvimento afetivo dos alunos........................................................................................................................................... 216
33. Função social da escola e do professor........................................................................................................................................ 218
34. Avaliação por competências........................................................................................................................................................ 220
35. Ensino condizente com a realidade do aluno.............................................................................................................................. 221
36. Recuperação................................................................................................................................................................................ 221
37. Relação entre professor e aluno.................................................................................................................................................. 221
38. Estudos/notícias/teses/reportagens atualizados sobre educação (últimos 12 meses)............................................................... 223
39. Papel do professor de classe, do professor coordenador e do diretor........................................................................................ 223

Conhecimentos Específicos
Assistente Técnico de Educação Básica
1. Redação Oficial. Aspectos Gerais. Identidade Visual. Atos Oficiais: Medidas, Sistemática dos Instrumentos Normativos
– artigos, parágrafos, incisos, alíneas, observações gerais e encaminhamento. Elaboração de documentos; Normas
Gerais de Elaboração, siglas e acrônimos, vícios de linguagem, hífen, destaques – itálico, aspas, negrito, maiúsculas,
minúsculas, enumerações, grafia de numerais, fecho para comunicações, identificação do signatário, autoridades -
forma de tratamento, abreviatura, vocativo, destinatário e envelope. Modelos de comunicações oficiais – espécies,
finalidades, assinaturas e estruturas: apostila, ata, carta, cartão de visita, circular, comunicação interna, contrato,
convênio, correio eletrônico, despacho, instrução normativa, nota informativa, nota técnica, ofício, ordem de serviço,
parecer, portaria, regimento interno, resolução. O padrão ofício. Aviso e Ofício. Memorando. Exposição de Motivos... 227
2. Noções básicas de arquivo................................................................................................................................................. 236
3. Princípios básicos da administração pública e servidores.................................................................................................. 246
4. Regras de hierarquia no serviço público............................................................................................................................ 257
5. Bibliografia referencial e sites para estudo do conteúdo: Constituição da República Federativa do Brasil – arts. 37, e 39
a 41..................................................................................................................................................................................... 257
6. Manual de Redação da Presidência da República.............................................................................................................. 263
ÍNDICE

Informática
1. Conceitos Básicos: Hardware, Software, Periféricos, Sistema Operacional, Navegadores, Aplicativos ........................................ 267
2. Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos. Internet: Navegação e
navegadores da Internet, links, sites, busca e impressão de páginas ........................................................................................... 267
3. Segurança na Internet ................................................................................................................................................................. 275
4. Microsoft Windows (versão 7 ou superior): conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de
transferência, manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o conjunto de
aplicativos.................................................................................................................................................................................... 277
5. Microsoft Office (versão 2010 ou superior).Microsoft Word: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de tex-
tos, cabeçalhos, parágrafos, fontes, colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras
e numeração de páginas, legendas, índices, inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto. Microsoft Excel: es-
trutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas, colunas, pastas e gráficos, elaboração de tabelas e gráficos, uso de
fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, campos predefinidos, controle de quebras e numeração de pá-
ginas, obtenção de dados externos, classificação de dados ........................................................................................................ 284
6. Microsoft Outlook: adicionar conta de e-mail, criar nova mensagem de e-mail, encaminhar e responder e-mails, adicionar,
abrir ou salvar anexos, adicionar assinatura de e-mail à mensagem, imprimir uma mensagem de e-mail .................................. 288
7. Outras questões versando sobre as atividades e atribuições específicas do cargo/função ......................................................... 291

Conteúdo Digital
Legislação
1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil – 1988. (Artigos 1º ao 13, 39 ao 41, 205 ao 219-B, 227 ao 229).......... 3
2. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança do Adolescente – ECA.............................................. 23
3. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB................................. 64
4. Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014 - Plano Nacional de Educação - PNE.................................................................. 81
5. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência/Estatuto da Pessoa com
Deficiência................................................................................................................................................................................... 97
6. Resolução CNE/CP Nº 1, de 17 de junho de 2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (anexo o Parecer CNE/CP nº 3/2004)............... 115
7. Resolução CNE/CEB Nº 4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Básica (anexo o Parecer CNE/CEB nº 7/2010).................................................................................................................... 125
8. Resolução CNE/CP Nº 1, de 30 de maio de 2012. Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
(anexo o Parecer CNE/CP nº 8/2012)................................................................................................................................. 161
9. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília,
MEC/SEESP, 2008................................................................................................................................................................ 171
10. Decreto nº 6.003 de 28 de dezembro de 2006. Regulamenta a arrecadação, a fiscalização e a cobrança da contribuição
social do salário-educação, a que se referem o art. 212, § 5o, da Constituição, e as Leis nos 9.424, de 24 de dezembro
de 1996, e 9.766, de 18 de dezembro de 1998, e dá outras providências......................................................................... 177
11. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional espe-
cializado e dá outras providências..................................................................................................................................... 179

Conteúdo Digital
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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação quanto ao número de sílabas:


FONEMA. SÍLABA As palavras podem ser:
– Monossílabas: as que têm uma só sílaba (pé, pá, mão, boi,
Muitas pessoas acham que fonética e fonologia são sinônimos. luz, é...)
Mas, embora as duas pertençam a uma mesma área de estudo, elas – Dissílabas: as que têm duas sílabas (café, leite, noites, caí,
são diferentes. bota, água...)
– Trissílabas: as que têm três sílabas (caneta, cabeça, saúde,
circuito, boneca...)
Fonética
– Polissílabas: as que têm quatro ou mais sílabas (casamento,
Segundo o dicionário Houaiss, fonética “é o estudo dos sons da
jesuíta, irresponsabilidade, paralelepípedo...)
fala de uma língua”. O que isso significa? A fonética é um ramo da
Linguística que se dedica a analisar os sons de modo físico-articula- Classificação quanto à tonicidade
dor. Ou seja, ela se preocupa com o movimento dos lábios, a vibra- As palavras podem ser:
ção das cordas vocais, a articulação e outros movimentos físicos, – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
mas não tem interesse em saber do conteúdo daquilo que é falado. -já, ra-paz, u-ru-bu...)
A fonética utiliza o Alfabeto Fonético Internacional para representar – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
cada som. sa-bo-ne-te, ré-gua...)
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Sintetizando: a fonética estuda o movimento físico (da boca, (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
lábios...) que cada som faz, desconsiderando o significado desses
sons. Lembre-se que:
Tônica: a sílaba mais forte da palavra, que tem autonomia fo-
Fonologia nética.
A fonologia também é um ramo de estudo da Linguística, mas Átona: a sílaba mais fraca da palavra, que não tem autonomia
fonética.
ela se preocupa em analisar a organização e a classificação dos
Na palavra telefone: te-, le-, ne- são sílabas átonas, pois são
sons, separando-os em unidades significativas. É responsabilidade mais fracas, enquanto que fo- é a sílaba tônica, já que é a pronun-
da fonologia, também, cuidar de aspectos relativos à divisão silábi- ciada com mais força.
ca, à acentuação de palavras, à ortografia e à pronúncia.
Agora que já sabemos essas classificações básicas, precisamos
Sintetizando: a fonologia estuda os sons, preocupando-se com entender melhor como se dá a divisão silábica das palavras.
o significado de cada um e não só com sua estrutura física.
Divisão silábica
Bom, agora que sabemos que fonética e fonologia são coisas A divisão silábica é feita pela silabação das palavras, ou seja,
diferentes, precisamos de entender o que é fonema e letra. pela pronúncia. Sempre que for escrever, use o hífen para separar
uma sílaba da outra. Algumas regras devem ser seguidas neste pro-
Fonema: os fonemas são as menores unidades sonoras da fala. cesso:
Atenção: estamos falando de menores unidades de som, não de sí-
labas. Observe a diferença: na palavra pato a primeira sílaba é pa-. Não se separa:
Porém, o primeiro som é pê (P) e o segundo som é a (A). • Ditongo: encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma
sílaba (cau-le, gai-o-la, ba-lei-a...)
Letra: as letras são as menores unidades gráfica de uma pa-
• Tritongo: encontro de uma semivogal, uma vogal e uma semi-
lavra.
vogal na mesma sílaba (Pa-ra-guai, quais-quer, a-ve-ri-guou...)
• Dígrafo: quando duas letras emitem um único som na pala-
Sintetizando: na palavra pato, pa- é a primeira sílaba; pê é o vra. Não separamos os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu (fa-cha-da, co-
primeiro som; e P é a primeira letra. -lhei-ta, fro-nha, pe-guei...)
Agora que já sabemos todas essas diferenciações, vamos en- • Encontros consonantais inseparáveis: re-cla-mar, psi-có-lo-
tender melhor o que é e como se compõe uma sílaba. -go, pa-trão...)

Sílaba: A sílaba é um fonema ou conjunto de fonemas que emi- Deve-se separar:


tido em um só impulso de voz e que tem como base uma vogal. • Hiatos: vogais que se encontram, mas estão é sílabas vizinhas
A sílabas são classificadas de dois modos: (sa-ú-de, Sa-a-ra, ví-a-mos...)
• Os dígrafos rr, ss, sc, e xc (car-ro, pás-sa-ro, pis-ci-na, ex-ce-
-ção...)
• Encontros consonantais separáveis: in-fec-ção, mag-nó-lia,
rit-mo...)

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CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Helenismo e a Educação Escola romana
Trata-se de uma época que se delineia uma cultura cada vez Foi a partir do século II a. C. que, em Roma, também se foram
mais científica, mais especializada, mais articulada em formas di- organizando escolas segundo o modelo grego, destinadas a dar
ferenciadas entre si tanto pelos objetos quanto pelos métodos: uma formação gramatical e retórica, ligada à língua grega.
é a época em que se desenvolve a ciência física em formas qua- Só no século I a. C. é que foi fundada uma escola de retórica
se experimentais, em que apresentam a filosofia e a historiogra- latina, que reconhecia total dignidade à literatura e à língua dos
fia em formas amadurecidas, em que cresce a astronomia tanto romanos.
quanto a geometria e a matemática, como também a botânica, Pouco tempo depois, o espírito prático, próprio da cultura ro-
a zoologia, a gramática, dando vida a uma enciclopédia bastante mana, levou a uma sistemática organização das escolas, divididas
complexa do saber. por graus e providas de instrumentos didáticos específicos (ma-
Nesta época desenvolvem-se alguns centros de cultura: Ro- nuais). Quanto aos graus, as escolas eram divididas em:
des, Pérgamo, Alexandria; Alexandria em particular – fundada por 1. elementares (ou do litterator ou ludus, dirigidas pelo ludi
Alexandre Magno em 932 a. C. no Egito -, com a biblioteca e o mu- magister e destinadas a dar a alfabetização primária: ler, escre-
seu, afirma-se como o centro de toda cultura helenística, literária, ver e, frequentemente, também calcular. Tal escola funcionava
filosófica e científica. em locais alugados ou na casa dos ricos; as crianças dirigiam-se
A Paideia no período helenístico pode ser compreendida para lá acompanhadas do paedagogus, escreviam com o estilete
como uma orientação de vida, ou seja, apresentava-se como um sobre tabuletas de cera, aprendiam as letras do alfabeto e sua
conjunto de orientações seguras, que indicavam o caminho da fe- combinação, calculavam usando os dedos ou pedrinhas – calculi -
licidade. Os “novos” educadores, além de ensinar o homem a es- , passavam boa parte do dia na escola e eram submetidas à rígida
pecular em torna da verdade, buscavam enfatizar que era preciso disciplina do magister, que não excluía as punições físicas);
aprender a viver de forma virtuosa. 2. secundárias ou de gramática (nas quais se aprendia a cul-
A vivência das virtudes era a garantia de uma vida feliz, por tura nas suas diversas formas: desde a música até a geometria, a
isso, a transmissão e a prática dos valores tornou-se o conteúdo astronomia, a literatura e a oratória; embora predominasse de-
primordial das escolas nesse período. pois o ensino literário na sua forma gramatical e filosófica, exer-
cido sobre textos gregos e latinos, através da lectio, da enarratio,
Período Romano da emendatio e do judicium);
3. escolas de retórica - política, forense, filosófica etc. - e ela-
Resumo: boravam –se as suasoriae ou discursos sobre exemplos morais e
- Não existia democratização; as controversiae ou debates sobre problemas reais ou fictícios).
- A educação dava ênfase à formação moral e física (formação Embora mais limitada em comparação à educação grega (eram
do guerreiro); escassas a gramática, a música, e também a ciência e a filosofia),
- O ideal de Direitos e Deveres. mais utilitária, a formação escolar romana mantém bem no cen-
O texto-base da educação romana, como atesta Cícero, foi tro este princípio retórico e a tradição das artes liberais, resumi-
por muito tempo o das Doze tábuas, fixado em 451 a.C., no bron- das no valor atribuído à palavra.
ze e exposto publicamente no fórum, para que todos pudessem
vê-lo. Existiam também escolas para os grupos inferiores e subalter-
Nelas, sublinhava-se o valor da tradição (o espírito, os costu- nos, embora menos organizadas e institucionalizadas. Eram esco-
mes, a disciplina dos pais) e delineava-se um código civil, baseado las técnicas e profissionalizantes, ligadas aos ofícios e às práticas
na pátria potestas e caracterizado por formas de relação social de aprendizado das diversas artes. As técnicas eram ligadas num
típicas de uma sociedade agrícola atrasada. primeiro momento, ao exército e à agricultura, depois ao artesa-
Como modelo educativo, as tábuas fixavam à dignidade, a nato, e por fim ao artesanato de luxo.
coragem, a firmeza como valores máximos, ao lado, porém, da
pietas e da parcimônia. Período Medieval
A educação na Roma arcaica teve, sobretudo, caráter prático,
familiar e civil, destinada a formar em particular o civis romanus, Resumo:
superior aos outros povos pela consciência do direito como fun- - Ponto de início: doutrina da igreja católica;
damento da própria “romanidade”. Os civis romanus era, porém, - Conhecido como o século das trevas
formado antes de tudo em família pelo papel central do pai, mas - Educação conservadora;
também da mãe, por sua vez menos submissa e menos marginal - Criticava a educação grega (liberal) e romana (prática);
na vida da família em comparação com a Grécia. - Fundação da Companhia de Jesus (jesuítas).
A mulher em Roma era valorizada como mater famílias, por-
tanto reconhecida como sujeito educativo, que controlava a edu- No período medieval a educação era desenvolvida em estrei-
cação dos filhos, confiando-os a pedagogos e mestres. Diferente, ta simbiose com a Igreja, com a fé cristã e com as instituições ecle-
entretanto, é o papel do pai, cuja auctoritas, destinada a formar siásticas que – enquanto acolhiam os oratores (os especialistas
o futuro cidadão, é colocada no centro da vida familiar e por ele da palavra, os sapientes, os cultos, distintos dos bellatores e dos
exercida com dureza, abarcando cada aspecto da vida do filho laboratores) – eram as únicas delegadas (com as corporações no
(desde a moral até os estudos, as letras, a vida social). plano profissional) a educar, a formar, a conformar.
Para as mulheres, porém, a educação era voltada a preparar Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de for-
seu papel de esposas e mães, mesmo se depois, gradativamen- mação, organizavam-se as instituições ad hoc e programavam-se
te, a mulher tenha conquistado maior autonomia na sociedade as intervenções, como também nela se discutiam tanto as práticas
romana. O ideal romano da mulher, fiel e operosa, atribui a ela, como os modelos.
porém, um papel familiar e educativo.

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CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Práticas e modelos para o povo, práticas e modelos para as A atividade intelectual abre-se ao exterior, ainda que de for-
classes altas, uma vez que era típico também da Idade Média o ma lenta, absorvendo elementos das culturas judaica, árabe e
dualismo social das teorias e das práxis educativas, como tinha persa, redescobrindo os autores clássicos, como Aristóteles e, em
sido no mundo antigo. menor escala, Platão.
Também a escola, como nós conhecemos, é um produto da
Idade Média. A sua estrutura ligada à presença de um professor Universidades
que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve Supõe-se que a primeira universidade europeia tenha sido
responder pela sua atividade à Igreja ou a outro poder (seja ele na cidade italiana de Salerno, cujo centro de estudos remonta ao
local ou não); as suas práticas ligadas à lectio e aos auctores, a século XI.
discussão, ao exercício, ao comentário, à arguição etc.; as suas Além desta, antes de 1250, formaram-se no Ocidente a pri-
práxis disciplinares (prêmios e castigos) e avaliativas vêm daquela meira geração de universidades medievais. São designadas de es-
época e da organização dos estudos nas escolas monásticas e nas pontâneas porque nascem do desenvolvimento de escolas pree-
catedrais e, sobretudo nas universidades. xistentes.
Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola mo- As universidades de Bolonha e de Paris estão entre as mais
derna e até mesmo da contemporânea: o papel do latim; o ensino antigas. Outros exemplos são a Universidade de Oxford e a de
gramatical e retórico da língua; a imagem da filosofia, como lógica Montpellier. Mais tarde, é a vez da constituição de universidades
e metafísica. por iniciativa papal ou real. Exemplo desta última é a Universida-
de de Coimbra, fundada em 1290.
Escolas paroquiais Originalmente, estas instituições eram chamadas de studium
As primeiras remontam ao século II. Limitavam-se à formação generale, agregando mestres e discípulos dedicados ao ensino su-
de eclesiásticos, sendo o ensino ministrado por qualquer sacerdo- perior de algum ramo do saber (medicina, direito, teologia).
te encarregado de uma paróquia, que recebia em sua própria casa Porém, com a efervescência cultural e urbana da Baixa Idade
os jovens rapazes. Média, logo se passou a fazer referência ao estudo universal do
À medida que a nova religião se desenvolvia, passava-se das saber, ao conjunto das ciências, sendo o nome studium generale
casas privadas às primeiras igrejas nas quais o altar substitui a tri- substituído por universitas.
buna. O ensino era reduzido aos salmos, às lições das Escrituras,
seguindo uma educação estritamente cristã. Período do Renascimento

Escolas monásticas Resumo:


Visavam inicialmente, apenas à formação de futuros monges. - Conhecido como o século das luzes;
Funcionando de início apenas em regime de internato, estas es- - Interesse pela educação grega e romana;
colas abriram mais tarde escolas externas com o propósito da for- - Privilégio aos que detinham o poder;
mação de leigos cultos (filhos dos Reis e os servidores também). - Principais pensadores: João Amós Comênio e Jean-Jacques
O programa de ensino era de início, muito elementar - apren- Rousseau.
der a ler escrever, conhecer a bíblia (se possível de cor), canto e
um pouco de aritmética – foi-se enriquecendo de forma a incluir O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difun-
o ensino do latim, gramática, retórica e dialética. diu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI. Foi um
período da história europeia marcado por um renovado interesse
Escolas palatinas pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte.
Carlos Magno fundou ainda, junto da sua corte e no seu pró- Para se lançar ao conhecimento do mundo e às coisas do ho-
prio palácio, a chamada Escola Palatin. Para apoio do seu plano de mem, o movimento renascentista elegia a razão como a principal
desenvolvimento escolar, Carlos Magno chamou o monge inglês forma pela qual o conhecimento seria alcançado.
Alcuíno. É sob a sua inspiração que, a partir do ano 787, foram O renascimento deu grande privilégio à matemática e às
emanados o decreto capitular para a organização das escolas. ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a
Estes incluíam as sete artes liberais, repartidas no trivium e no influenciar o projeto estético dos artistas desse período. Desen-
quadrivium. volvendo novas técnicas de proporção e perspectiva, a pintura e
O trivium abraçava as disciplinas formais: gramática, retórica, a escultura renascentista pretendiam se aproximar ao máximo da
dialéctica, esta última desenvolvendo-se, mais tarde, na filosofia; realidade. Em consequência disso, a riqueza de detalhes e a re-
o quadrivium abraçava as disciplinas reais: aritmética, geometria, produção fiel do corpo humano formavam alguns dos elementos
astronomia, música, e, mais tarde, a medicina. correntes nas obras do Renascimento.
O Humanismo* representou tendência semelhante no cam-
Escolas catedrais po da ciência. O renascimento confrontou importantes conceitos
As escolas catedrais (escolas urbanas), saídas das antigas elaborados pelo pensamento medieval. No campo da astronomia,
escolas monásticas (que alargaram o âmbito dos seus estudos), a teoria heliocêntrica, onde o Sol ocupa o centro do Universo, se
tomaram a dianteira em relação às escolas dos mosteiros. Insti- contrapunha à antiga ideia cristã que defendia que a Terra se en-
tuídas no século XI por determinação do Concilio de Roma (1079), contrava no centro do cosmos. Novos estudos de anatomia tam-
passam, a partir do século XII (Concilio de Latrão, 1179), a ser bém ampliaram as noções do saber médico dessa época.
mantidas através da criação de benefícios para a remuneração Os humanistas eram homens letrados profissionais, normal-
dos mestres, prosperando nesse mesmo século. mente provenientes da burguesia ou do clero que, por meio de
suas obras, exerceram grande influência sobre toda a sociedade;

97
CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade Média e foram ma de cuidados e de controles da mesma criança, que tendiam a
responsáveis por conduzir modificações nos métodos de ensino, conformá-la a um ideal, mas também a valorizá-la como mito, um
desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. mito de espontaneidade e de inocência, embora às vezes obscu-
*Humanismo: O Humanismo é um movimento filosófico sur- recido por crueldade, agressividade etc.
gido no século XV dentro das transformações culturais, sociais, Os pais não se contentavam mais em apenas pôr filhos no
políticas, religiosas e econômicas desencadeadas pelo Renasci- mundo. A moral da época impõe que se dê a todos os filhos, não
mento. só ao primogênito, e no fim dos anos seiscentos também as filhas,
uma preparação para a vida. A tarefa de assegurar tal afirmação
Principais pintores do período é atribuída à escola.
Ao lado da família, a escola: uma escola que instruía, formava
- Sandro Botticelli (1445-1510) e ensinava não apenas conhecimentos, mas também comporta-
Os temas de seus quadros foram escolhidos segundo a possi- mentos, que se articulava em torno da didática, da racionalização
bilidade que lhe proporcionavam de expressar seu ideal de bele- da aprendizagem dos diversos saberes, e em torno da disciplina,
za. Para ele, a beleza estava associada ao ideal cristão. da conformação programada e das práticas repressivas (constri-
Por isso, as figuras humanas de seus quadros são belas por- tivas, mas por isso produtoras de novos comportamentos). Mas,
que manifestam a graça divina, e, ao mesmo tempo, melancólicas sobretudo, uma escola que reorganizava suas próprias finalidades
porque supõem que perderam esse dom de Deus. e seus meios específicos.
Obras destacadas: A Primavera e O Nascimento de Vênus. Uma escola não mais sem graduação na qual se ensinavam as
mesmas coisas a todos e segundo processos de tipo adulto, não
- Leonardo da Vinci (1452-1519) mais caracterizada pela “promiscuidade das diversas idades” e,
Ele dominou com sabedoria um jogo expressivo de luz e som- portanto, por uma forte incapacidade educativa, por uma rebel-
bra, gerador de uma atmosfera que parte da realidade, mas esti- dia endêmica por causa da ação dos maiores sobre os menores e
mula a imaginação do observador. , ainda, marcadas pela “liberdade dos estudantes”, sem disciplina
Foi possuidor de um espírito versátil que o tornou capaz de interna e externa.
pesquisar e realizar trabalhos em diversos campos do conheci- Com a instituição do colégio (no século XVI), porém, teve iní-
mento humano. cio um processo de reorganização disciplinar da escola e de racio-
Obras destacadas: A Virgem dos Rochedos e Monalisa. nalização e controle de ensino, através da elaboração de métodos
de ensino/educação – o mais célebre foi a Ratio studiorum dos je-
- Michelangelo Buonarroti (1475-1564) suítas – que fixavam um programa minucioso de estudo e de com-
Entre 1508 e 1512 trabalhou na pintura do teto da Capela portamento, o qual tinha ao centro a disciplina, o internato e as
Sistina, no Vaticano. Para essa capela, concebeu e realizou grande “classes de idade”, além da graduação do ensino/aprendizagem.
número de cenas do Antigo Testamento. Dentre tantas que ex- Também é dessa época a descoberta da disciplina: uma disci-
pressam a genialidade do artista, uma particularmente represen- plina constante e orgânica, muito diferente da violência e autori-
tativa é a criação do homem. dade não respeitada. A disciplina escolar teve raízes na disciplina
Obras destacadas: Teto da Capela Sistina e a Sagrada Família religiosa; era menos instrumento de exercício que de aperfeiçoa-
mento moral e espiritual, era buscada pela sua eficácia, como
- Rafael Sanzio (1483-1520) condição necessária do trabalho em comum, mas também por
Suas obras comunicam ao observador um sentimento de or- seu valor próprio de edificação.
dem e segurança, pois os elementos que compõem seus quadros Enfim, a escola ritualizava o momento do exame atribuindo-
são dispostos em espaços amplo, claros e de acordo com uma si- -lhe o papel crucial no trabalho escolar. O exame era o momen-
metria equilibrada. Foi considerado grande pintor de “Madonas”. to em que o sujeito era submetido ao controle máximo, mas de
Obras destacadas: A Escola de Atenas e Madona da Manhã. modo impessoal: mediante o controle do seu saber. Na realidade,
o exame agia, sobretudo como instrumento disciplinar, de contro-
Período Moderno le do sujeito, como instrumento de conformação.

Resumo: História da Educação no Brasil


- Surge no século XVII; A história da educação no Brasil começou em 1549 com a
- Separação entre a igreja católica e o estado; chegada dos primeiros padres jesuítas, inaugurando uma fase
- Principais pensadores: Pestalozzi, Herbat e Froebel; que haveria de deixar marcas profundas na cultura e civilização
- Consolidação da burguesia. do país. Movidos por intenso sentimento religioso de propagação
da fé cristã, durante mais de 200 anos, os jesuítas foram pratica-
Duas instituições educativas, em particular, sofreram uma mente os únicos educadores do Brasil.
profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a família Embora tivessem fundado inúmeras escolas de ler, contar e
e a escola, que se tornaram cada vez mais centrais na experiência escrever, a prioridade dos jesuítas foi sempre a escola secundária,
formativa dos indivíduos e na própria reprodução (cultural, ideo- grau do ensino onde eles organizaram uma rede de colégios reco-
lógica e profissional) da sociedade. nhecida por sua qualidade, alguns dos quais chegaram mesmo a
As duas instituições chegaram a cobrir todo o arco da infância oferecer modalidades de estudos equivalentes ao nível superior.
– adolescência, como “locais” destinados à formação das jovens Em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e de suas
gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e definido. colônias, abrindo um enorme vazio que não foi preenchido nas
A família, objeto de uma retomada como núcleo de afetos e décadas seguintes. As medidas tomadas pelo ministro D. José I,
animada pelo “sentimento da infância”, que fazia cada vez mais
da criança o centro-motor da vida familiar, elaborava um siste-

98
CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem um papel Compreensão do conteúdo
fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Com base nesses pressupostos, Emilia Ferreiro critica a alfa-
Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendiza- betização tradicional, porque julga a prontidão das crianças para
gem, incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a relação o aprendizado da leitura e da escrita por meio de avaliações de
entre eles. percepção (capacidade de discriminar sons e sinais, por exemplo)
Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e aprendiza- e de motricidade (coordenação, orientação espacial etc.).
gem através da zona de desenvolvimento proximal (distância en- Dessa forma, dá-se peso excessivo para um aspecto exterior
tre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvi- da escrita (saber desenhar as letras) e deixa-se de lado suas ca-
mento real), um “espaço dinâmico” entre os problemas que uma racterísticas conceituais, ou seja, a compreensão da natureza da
criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e escrita e sua organização. Para os construtivistas, o aprendizado
os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz da alfabetização não ocorre desligado do conteúdo da escrita.
no momento, para em seguida, chegar a dominá-los por si mesma É por não levar em conta o ponto mais importante da alfa-
(nível de desenvolvimento potencial).
betização que os métodos tradicionais insistem em introduzir os
alunos à leitura com palavras aparentemente simples e sonoras
Emilia Ferreiro
(como babá, bebê, papa), mas que, do ponto de vista da assimi-
A psicolinguista argentina desvendou os mecanismos pelos
lação das crianças, simplesmente não se ligam a nada. Segundo o
quais as crianças aprendem a ler e escrever, o que levou os edu-
cadores a rever radicalmente seus métodos. mesmo raciocínio equivocado, o contato da criança com a orga-
Nenhum nome teve mais influência sobre a educação bra- nização da escrita é adiado para quando ela já for capaz de ler as
sileira nos últimos 30 anos do que o da psicolinguista argentina palavras isoladas, embora as relações que ela estabelece com os
Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de textos inteiros sejam enriquecedoras desde o início.
meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a con- Segundo Emilia Ferreiro, a alfabetização também é uma for-
cepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando ma de se apropriar das funções sociais da escrita. De acordo com
as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâ- suas conclusões, desempenhos díspares apresentados por crian-
metros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia - Psicogênese ças de classes sociais diferentes na alfabetização não revelam ca-
da Língua Escrita é a mais importante - não apresentam nenhum pacidades desiguais, mas o acesso maior ou menor a textos lidos
método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado e escritos desde os primeiros anos de vida.
das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os
métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. “A história Sala de aula vira ambiente alfabetizador
da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia Uma das principais consequências da absorção da obra de
Ferreiro”, diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psico- Emilia Ferreiro na alfabetização é a recusa ao uso das cartilhas,
linguista. uma espécie de bandeira que a psicolinguista argentina ergue.
Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para Segundo ela, a compreensão da função social da escrita deve ser
o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao constru- estimulada com o uso de textos de atualidade, livros, histórias,
tivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que jornais, revistas. Para a psicolinguista, as cartilhas, ao contrário,
chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação oferecem um universo artificial e desinteressante. Em compen-
dos processos de aquisição e elaboração de conhecimento pela sação, numa proposta construtivista de ensino, a sala de aula se
criança - ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de Emi- transforma totalmente, criando-se o que se chama de ambiente
lia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o alfabetizador.
foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita.
De maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um Ideias que o Brasil adotou
método.
As pesquisas de Emilia Ferreiro e o termo construtivismo co-
Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à
meçaram a ser divulgados no Brasil no início da década de 1980.
conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendiza-
As informações chegaram primeiro ao ambiente de congressos e
do. Elas constroem o próprio conhecimento - daí a palavra cons-
simpósios de educadores. O livro-chave de Emilia, Psicogênese da
trutivismo. A principal implicação dessa conclusão para a práti-
ca escolar é transferir o foco da escola - e da alfabetização em Língua Escrita, saiu em edição brasileira em 1984. As descobertas
particular - do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, que ele apresenta tornaram-se assunto obrigatório nos meios pe-
ou seja, o aluno. “Até então, os educadores só se preocupavam dagógicos e se espalharam pelo Brasil com rapidez, a ponto de a
com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender”, diz própria autora manifestar sua preocupação quanto à forma como
Telma Weisz. “Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados o construtivismo estava sendo encarado e transposto para a sala
surpreendentes.” de aula. Mas o construtivismo mostrou sua influência duradou-
O princípio de que o processo de conhecimento por parte da ra ao ser adotado pelas políticas oficiais de vários estados bra-
criança deve ser gradual corresponde aos mecanismos deduzidos sileiros. Uma das experiências mais abrangentes se deu no Rio
por Piaget, segundo os quais cada salto cognitivo depende de uma Grande do Sul, onde a Secretaria Estadual de Educação criou um
assimilação e de uma reacomodação dos esquemas internos, que Laboratório de Alfabetização inspirado nas descobertas de Emilia
necessariamente levam tempo. É por utilizar esses esquemas in- Ferreiro. Hoje o construtivismo é a fonte da qual derivam várias
ternos, e não simplesmente repetir o que ouvem, que as crian- das diretrizes oficiais do Ministério da Educação. Segundo afirma
ças interpretam o ensino recebido. No caso da alfabetização isso a educadora Telma Weisz na apresentação de uma das reedições
implica uma transformação da escrita convencional dos adultos. de Psicogênese da Língua Escrita, “a mudança da compreensão
Para o construtivismo, nada mais revelador do funcionamento da do processo pelo qual se aprende a ler e a escrever afetou todo o
mente de um aluno do que seus supostos erros, porque eviden- ensino da língua”, produzindo “experimentação pedagógica sufi-
ciam como ele “releu” o conteúdo aprendido. O que as crianças ciente para construir, a partir dela, uma didática”
aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado.

196
CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Maria da Graca Nicoletti Mizukami dominá-los e atingir níveis mais altos de conhecimento. O ponto
Para Mizukami o fenômeno educativo é humano, histórico negativo da avaliação classificatória, em contrapartida, é que ela
e multidimensional: ¨Nele estão presentes tanto a dimensão hu- não se preocupa em ajudar o aluno, apenas constatar em que ní-
mana quanto a técnica, a cognitiva, a emocional, sócio política e vel ele está, como se ele já estivesse pronto, ou cria se o estigma
cultural”. que determinado aluno será para sempre ruim ou para sempre
Ao organizar sua exposição, utiliza-se de 5 abordagens: tra- bom dependendo do resultado da prova.
dicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocul- Em um modelo de ensino mais justo, o objetivo a se atingir é
tural. Não inclui a abordagem escolanovista, por considerar que assegurar o acesso ao conhecimento básico, necessário para que
seus pressupostos estão contemplados nestas outras abordagens. cada cidadão esteja apto para participar de uma sociedade demo-
Mizukami esclarece que as teorias não são as únicas fontes crática. Se o aluno não atingir o mínimo necessário, ele deve ser
de respostas possíveis e finaliza atentando para a necessária ajudado para chegar a esse patamar.
ação-reflexão grupal, que poderão de fato levar a compreensão e Há muito envolvido em todo o processo de avaliação, e se-
transformação dos impasses e problemas cotidianos das unidades gundo Luckesi muitos de nossos traumas e ansiedades são decor-
educativas. Indica a necessária articulação entre teoria e prática rentes dela. As ameaças comuns na escola tradicional mantêm os
(práxis pedagógica) nos cursos de formação de professores (vi- alunos em constante tensão e atenção limitada, pois o esforço
vências, análises, confrontos e articulações entre as diferentes mental é gasto com a expectativa da punição. A culpa acaba por
abordagens). constranger a criatividade, as experiências prazerosas, incluindo
as de aprendizagem. Acredito que somos tão condicionados pelo
Cipriano Luckesi medo, e pela culpa devido ao erro que é difícil vencer o costu-
Avaliação da aprendizagem escolar - Cipriano Luckesi me de ameaçar aos alunos. Os professores devem estar bastante
O autor inicia por criticar o ensino atual que tem princípios atentos à sua prática para deixar de lado esse hábito que parece
pedagógicos que destacam mais os exames do que o ensino e surtir efeito quando consegue deixar a turma silenciosa, mas que
aprendizagem em si através da cultura das provas e exames esco- acaba por inibir sua capacidade criadora.
lares que culminam nos vestibulares. Nessa prática, os alunos aca- Quando os alunos cometerem um erro ao realizarem uma ati-
bam que desenvolvem a crença de que aprendizagem não deve vidade, por exemplo, os professores devem utilizar esse momento
ser por prazer, mas por medo das provas que marcarão toda a sua para mostrar a maneira mais apropriada de fazê-la, sem amea-
trajetória escolar. çar ou humilhá-los. Os erros são bem-vindos, pois através deles,
Os pais analisam o desempenho dos filhos através de suas no- segundo a descrição de Luckesi, temos a chance de fazermos o
tas, eles não estão preocupados com o conteúdo, apenas com o nosso trabalho como educadores. Eles nada mais são do que a ga-
resultado final. Se a escola trabalha em uma perspectiva crítica de rantia e permanência da nossa profissão. Em suma, “o erro visto
mudança de ideologias, ela é repreendida. Ou seja, a escola serve como algo dinâmico, como caminho para o avanço”.
apenas para aprovar ou reprovar e manter o status quo. A avaliação está intimamente relacionada à evasão escolar, e
Luckesi busca na história as origens dessa pedagogia baseada Luckesi não deixa de abordar esse tema. Há anos se percebe um
nas provas. Ele comenta que na pedagogia jesuítica era comum o processo intenso de evasão e repetência. Como a democratização
controle para promover a predominância da fé católica. As provas do saber fragiliza a estrutura de dominância social, as autorida-
recebiam destaque e o seu resultado era divulgado para a glória des não demonstram muito interesse em mudar os esquemas de
ou censura dos estudantes. Na pedagogia comeniana o medo era aprovação e repetência escolar. No entanto, os educadores com-
considerado uma estratégia eficiente para que os alunos estives- prometidos com a mudança social podem através de práticas mais
sem sempre atentos. Já no modelo burguês que ainda vigora en- humanizantes ajudar que seus alunos progridam sem abandonar
contramos a seleção dos melhores alunos, a valorização do feti- a escola.
chismo, o desejo pelos bens de consumo, e do medo como forma Outra questão abordada no texto é o “contrabando entre
de controle. qualidade e quantidade” que se observa nas médias escolares.
Para o autor, o medo é a estratégia mais útil em sujeitar os Essas são uma representação falsa de que os alunos conseguiram
indivíduos às autoridades vigentes. Ele explica que o medo como atingir o conhececimento mínimo para progredir a níveis mais al-
mecanismo social se inicia na escola através dos exames e tes- tos. Um dos exemplos para ilustrar isso é um piloto que no seu
tes, e condiciona e acaba por ser um castigo psicológico, uma vez curso tirou nota máxima, dez pontos, na atividade de decolar e
que sofremos pela preocupação, ou ocupar-se por antecedência, na atividade de pousar tirou nota baixa, quatro pontos. Ainda as-
como Luckesi explica. sim a sua média final será sete, mas um passageira ao saber do
Esse é um dos melhores livros em pedagogia que li nos úl- desempenho desse piloto no seu curso de aviação, não se sentirá
timos anos porque Luckesi adota uma postura revolucionária e seguro em voar com ele. É um exemplo simples que revela como
defende que a avaliação precisa mudar se queremos que a escola as médias escolares não são eficientes.
seja uma promotora da melhoria social. Ele defende a escola li- O planejamento escolar pode ser útil no processo de mudan-
bertadora de Paulo Freire, uma escola que objetiva promover a ça. Planejar não é uma ação neutra assim como avaliar não o é.
autonomia dos aprendizes e revelar as formas de opressão e con- Planejar é uma ação política que determinará quais resultados se-
trole sociais, contrária a domesticação e a favor da humanização rão atingidos. Um dos compromissos do planejamento deve ser o
dos sujeitos. desenvolvimento de uma cultura crítica, o professor pode fazê-lo
Para atingir esse objetivo Luckesi propõe que a avaliação clas- por propor “pequenos conflitos pra que avance para níveis mais
sificatória seja substituída pela avaliação diagnóstica. Com essa complexos de suas capacidades cognoscitivas.”
substituição, os professores irão trabalhar para que seus alunos Luckesi fecha o livro com uma bela reflexão que motiva a nós
progridam e entendam o que não conseguiram entender ainda. professores e nos dá maior alegria em fazer o que fazemos, traba-
As avaliações diagnósticas revelam quais pontos precisam ser lhar ensinando:Talvez as nossas insatisfações no trabalho depen-
retrabalhados, retomados, reexplicados até que o aluno consiga dem de nossa não-entrega ao que estamos fazendo. O trabalho

197
CONTEÚDO COMUM PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
será prazeroso e fonte de crescimento se for realizado como meio b) Fazer com que ocorram situações de escrita, ainda que não
de autoconhecimento e autodesenvolvimento... e não somente dominem o sistema alfabético;
como meio econômico de sobrevivência... pode ser uma fonte de c) Estimular os alunos a fazer releituras de textos memoriza-
crescimento, uma oportunidade para aprendermos mais sobre dos, pois esse contato para a criança é fundamental no reconhe-
nós mesmos e para desenvolvermos relacionamentos positivos e cimento de palavras e construção de sentidos;
saudáveis (LUCKESI, 2002, p. 154). d) Falar sobre cada uma das leituras efetuadas, favorecendo
Ao ler esse trecho, eu me lembro da Pedagogia do Oprimido uma compreensão entre todo e parte, aproximando-os da lingua-
de Paulo Freire, através da qual, ele diz que “estar no mundo é gem letrada;
mudar o mundo”. O trabalho do professor lhe proporciona mudar e) Criar situações de reescrita de textos conhecidos para a
a si mesmo e mudar o mundo em que ele se encontra. O envolvi- aprendizagem de funcionamento da linguagem;
mento com suas atividades pode gerar mudanças que no começo f) Estimular a leitura de aluno a aluno, tanto com textos pro-
são sutis, mas que podem gerar revoluções culturais. A mudança postos pela professora quanto àqueles produzidos pelos alunos.
de consciência do professor que compreenderá que seu trabalho Teberosky destaca que dois eixos são imprescindíveis ao desen-
de avaliar não é neutro, mas que constrói a personalidade de seus volvimento das situações de aprendizagem destacadas, sem as
alunos é uma importante arma para o processo de mudança liber- quais todas as atividades programadas poderiam perder o senti-
tadora da sociedade. do, que são:
1). Decidir sobre quais conhecimento e intervenções pedagó-
Demerval Saviani gicas as atividades serão desenvolvidas;
Idealizador da Pedagogia por ele denominada HistóricoCríti- 2). Observar e compreender o processo de aprendizagem dos
ca, Dermeval Savianidefende que uma das funções da escola é alunos em sala de aula.
possibilitar o acesso aos conhecimentos previamente produzidos
e sistematizados. O problema é o caráter mecânico dessa trans- As Contribuições Teóricas de Wallon para a Aprendizagem
missão, isto é, o fato dela ser feita desligada das razões que a Para Wallon, o organismo é a condição primeira do pensa-
justificam e sem que os professores disponham de critérios para mento, visto que toda função psíquica supõe um componente or-
discernir entre aqueles conhecimentos que precisam ser transmi- gânico e que o objeto da ação mental vem do ambiente em que o
tidos e aqueles que não precisam. Segundo Saviani, isso abre es- sujeito está inserido. Dessa forma, o sujeito é determinado fisio-
paço para sobrecarregar os currículos com conteúdos irrelevantes lógica e socialmente, ou seja, é resultado tanto das disposições
ou cuja relevância não é alcançada pelos professores, o que os im- internas quanto das situações exteriores.
pede de motivar os alunos a se empenhar na sua aprendizagem. Wallon procurou entender a pessoa completa, integrada ao
Para ele, essa situação torna as matérias curriculares desin- meio em que está imersa, com os seus aspectos afetivos, cogniti-
teressantes para os alunos os quais passam a considerar o ensino vos e motores também integrados. Seus estudos sobre a origem
como algo enfadonho, uma obrigação carente de sentido da qual da pessoa na sua totalidade, enquanto ser biológico, afetivo, so-
eles buscam livrar-se assim que possível. cial e intelectual, ele os denominou de Psicogênese.
Ele defende que é exatamente na medida em que os profes- Em seus estudos sobre o desenvolvimento humano, conside-
sores conseguem lidar criticamente com os conhecimentos dispo- ra o sujeito como “geneticamente social”. Para esse autor, o de-
níveis, distinguindo entre o que é pedagogicamente relevante e o senvolvimento inicia-se na relação do organismo do bebê recém-
que não o é, que eles ganham condições de produzir seus próprios -nascido com o meio humano. A partir das reações das pessoas
conhecimentos e, assim, o seu ensino deixa de ser mera transmis- aos seus reflexos e movimentos impulsivos, a criança passa a atu-
são incorporando também uma contribuição original. ar no ambiente humano, desenvolvendo aquilo que Wallon deno-
mina motricidade expressiva, ou dimensão afetiva do movimento.
Ana Teberosky É a ação motriz que regula o aparecimento e o desenvolvi-
O pensamento pedagógico de Ana Teberosky é centrado no mento das funções mentais, ou seja, o movimento espontâneo
construtivismo, nesse sentido, a sua ênfase é sempre os proces- transforma-se em gesto que, ao ser realizado intencionalmente,
sos psicológicos sobre a apropriação da lecto-escrita, eixos in- reveste-se de significado. Antes do aparecimento da fala, Wallon
dispensáveis para se compreender e favorecer as intervenções e atribui grande importância à motricidade: para ele, a imitação re-
acompanhamento do desenvolvimento da criança nesse âmbito. vela as origens do ato mental; o gesto precede a palavra - fatos
Considera que a alfabetização não deve simplesmente ser esses que ele chama de característica cultural.
compreendida como a habilidade de aquisição e manipulação do A partir do momento em que o sujeito assimila os signos so-
código escrito, porque implica um processo cognitivo complexo ciais (fala, escrita etc.) a comunicação motora passa a ser subs-
construído pela criança que reflete entre a lógica da estrutura glo- tituída por outros meios, decorrendo daí a disciplina mental, ou
bal do vivido em paralelo com a escrita e leitura como objetos do seja, o controle do sujeito sobre suas próprias ações. No seu de-
conhecimento. senvolvimento, o sujeito vai superando os sentimentos e ideias,
Teberosky destaca que esse olhar pode contribuir substan- vividos de forma genérica e confusa, para uma compreensão mais
cialmente ao trabalho do professor na proposta de situações de clara do mundo e dos fatos que se apresentam. A linguagem é
leitura e escrita na fase da alfabetização, desenvolvendo-as de indispensável ao progresso do pensamento: a linguagem expri-
forma espiralada e com diferentes níveis de profundidade ou me o pensamento e, ao mesmo tempo, estrutura o pensamento.
dificuldades, isto é, alternando oralidade, leitura e escrita. Com Para Wallon, o desenvolvimento humano não é linear e contínuo,
o suporte dessa perspectiva ou planejamento, a intervenção do mas, sim, uma integração: as novas funções/aquisições somam-se
professor poderá, dentre outras intervenções diárias: a outras, adquiridas anteriormente.
a) Ler para os alunos e estimulá-los ao contato com o mundo Para Wallon, a pessoa deve ser vista como parte integrante
da cultura e da linguagem escrita; do meio em que está inserida. O processo de socialização dá-se
pelo contato com o outro e, também, pelo contato com a produ-

198
LEGISLAÇÃO

Vejamos abaixo, os dispositivos constitucionais corresponden-


BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA tes ao tema supracitado:
DO BRASIL – 1988. (ARTIGOS 1º AO 13, 39 AO 41, 205
AO 219-B, 227 AO 229).
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Forma, Sistema e Fundamentos da República
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
• Papel dos Princípios e o Neoconstitucionalismo indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
Os princípios abandonam sua função meramente subsidiária tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
na aplicação do Direito, quando serviam tão somente de meio de I - a soberania;
integração da ordem jurídica (na hipótese de eventual lacuna) e ve- II - a cidadania
tor interpretativo, e passam a ser dotados de elevada e reconhecida III - a dignidade da pessoa humana;
normatividade. IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
• Princípio Federativo Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
Significa que a União, os Estados-membros, o Distrito Federal meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
e os Municípios possuem autonomia, caracteriza por um determi- Constituição.
nado grau de liberdade referente à sua organização, à sua adminis- Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos en-
tração, à sua normatização e ao seu Governo, porém limitada por tre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
certos princípios consagrados pela Constituição Federal.

• Princípio Republicano Objetivos Fundamentais da República


É uma forma de Governo fundada na igualdade formal entre Os Objetivos Fundamentais da República estão elencados no
as pessoas, em que os detentores do poder político exercem o Artigo 3º da CF/88. Vejamos:
comando do Estado em caráter eletivo, representativo, temporário Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fede-
e com responsabilidade. rativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
• Princípio do Estado Democrático de Direito II - garantir o desenvolvimento nacional;
O Estado de Direito é aquele que se submete ao império da lei. III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
Por sua vez, o Estado democrático caracteriza-se pelo respeito ao gualdades sociais e regionais;
princípio fundamental da soberania popular, vale dizer, funda-se na IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
noção de Governo do povo, pelo povo e para o povo. raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

• Princípio da Soberania Popular Princípios de Direito Constitucional Internacional


O parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal reve- Os Princípios de Direito Constitucional Internacional estão
la a adoção da soberania popular como princípio fundamental ao elencados no Artigo 4º da CF/88. Vejamos:
prever que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela-
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons- ções internacionais pelos seguintes princípios:
tituição”. I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
• Princípio da Separação dos Poderes III - autodeterminação dos povos;
A visão moderna da separação dos Poderes não impede que IV - não-intervenção;
cada um deles exerça atipicamente (de forma secundária), além de V - igualdade entre os Estados;
sua função típica (preponderante), funções atribuídas a outro Po- VI - defesa da paz;
der. VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humani-
dade;
X - concessão de asilo político.

3
LEGISLAÇÃO

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a in- Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se-
tegração econômica, política, social e cultural dos povos da América guintes características:
Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana a) surgiram no século XX;
de nações. b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade),
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos
Referências Bibliográficas: bens da coletividade;
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de
interesse coletivo;
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente,
Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídi- de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani-
cos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados dade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
no texto constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são
estabelecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de • Direitos Fundamentais de Quarta Geração
proteção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecu- Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his-
ratório. tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo.
Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais Também são transindividuais.

• Direitos Fundamentais de Primeira Geração Direitos Fundamentais de Quinta Geração


Possuem as seguintes características: Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen-
a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução taria o direito fundamental de quinta geração.
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina-
ram todo o século XIX; Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição São características dos Direitos e Garantias Fundamentais:
ao Estado Absoluto; a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
c) estão ligados ao ideal de liberdade; índole evolutiva;
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen-
em favor das liberdades públicas; dentemente de características pessoais;
e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro- c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos;
teção em face da ação opressora do Estado; d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia;
f) são os direitos civis e políticos. e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
possuírem conteúdo econômico-patrimonial;
• Direitos Fundamentais de Segunda Geração f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen-
Possuem as seguintes características: do pelo decurso do tempo.
a) surgiram no início do século XX;
b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais
Estado Liberal; Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são
c) estão ligados ao ideal de igualdade; destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação compatíveis com a sua natureza.
positiva do Estado;
e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos. Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais
Muito embora criados para regular as relações verticais, de su-
• Direitos Fundamentais de Terceira Geração bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega-
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven-
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado.
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê-
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração. Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais
Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente
Direitos Metaindividuais consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa
ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons-
Natureza Destinatários tituição (princípio da reserva legal).
Difusos Indivisível Indeterminados
Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais
Determináveis ligados por uma O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade-
Coletivos Indivisível
relação jurídica quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a
Individuais Determinados ligados por uma ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos
Divisível na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con-
Homogêneos situação fática
creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais
constitucionalmente consagrados.

4
LEGISLAÇÃO

Os quatro status de Jellinek Direito à Privacidade


a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon- Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero,
tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan- do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima-
do-se como detentor de deveres para com o Estado; gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura-
b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade -se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente
de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos; de sua violação.
c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi-
víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em Direito à Honra
seu favor; O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti-
d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for- nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por
mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi- tal motivo, são previstos no Código Penal.
tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto.
Direito de Propriedade
Referências Bibliográficas: É assegurado o direito de propriedade, contudo, com
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- restrições, como por exemplo, de que se atenda à função social da
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. propriedade. Também se enquadram como espécies de restrição do
direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco
Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º e o usucapião.
da CF. São eles: Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
Direito à Vida intelectual) e os direitos reativos à herança.
O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88,
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna. conforme veremos abaixo:
O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exem-
plo, na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra decla- TÍTULO II
rada). DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura, CAPÍTULO I
penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Direito à Liberdade Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em vir- residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
tude de lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
privada. I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende, termos desta Constituição;
dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco- II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de coisa senão em virtude de lei;
expressão. III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante;
Direito à Igualdade IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui- nimato;
ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
formal. VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce- assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
didos aos membros da coletividade por meio da norma. ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença reli-
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e giosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam. eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover prestação alternativa, fixada em lei;
a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí-
que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com- fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
formação social. gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma-
terial ou moral decorrente de sua violação;

5
LEGISLAÇÃO

§ 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em critérios VII - possibilidade de participação de organizações da socieda-
previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de habilitação ou de de civil.
reabilitação que possibilite à pessoa com deficiência restaurar sua Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo
capacidade e habilidade profissional ou adquirir novas capacidades seletivo público ou privado para cargo, função ou emprego está
e habilidades de trabalho. obrigada à observância do disposto nesta Lei e em outras normas
§ 2º A habilitação profissional corresponde ao processo des- de acessibilidade vigentes.
tinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de conheci-
mentos, habilidades e aptidões para exercício de profissão ou de CAPÍTULO VII
ocupação, permitindo nível suficiente de desenvolvimento profis- DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL
sional para ingresso no campo de trabalho.
§ 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro- Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios
fissional e de educação profissional devem ser dotados de recursos no âmbito da política pública de assistência social à pessoa com de-
necessários para atender a toda pessoa com deficiência, indepen- ficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança
dentemente de sua característica específica, a fim de que ela possa de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desen-
ser capacitada para trabalho que lhe seja adequado e ter perspecti- volvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária,
vas de obtê-lo, de conservá-lo e de nele progredir. para a promoção do acesso a direitos e da plena participação social.
§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro- § 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos termos
fissional e de educação profissional deverão ser oferecidos em am- do caput deste artigo, deve envolver conjunto articulado de serviços
bientes acessíveis e inclusivos. do âmbito da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial,
§ 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional de- ofertados pelo Suas, para a garantia de seguranças fundamentais
vem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas, espe- no enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco, por
cialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em todos os fragilização de vínculos e ameaça ou violação de direitos.
níveis e modalidades, em entidades de formação profissional ou § 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa com
diretamente com o empregador. deficiência em situação de dependência deverão contar com cui-
§ 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas por dadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e instrumentais.
meio de prévia formalização do contrato de emprego da pessoa Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua
com deficiência, que será considerada para o cumprimento da re- meios para prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua
serva de vagas prevista em lei, desde que por tempo determinado e família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da
concomitante com a inclusão profissional na empresa, observado o Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 .
disposto em regulamento.
§ 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional aten- CAPÍTULO VIII
derão à pessoa com deficiência. DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL

SEÇÃO III Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
DA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO TRABALHO Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria nos termos
da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013 .
Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência
no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunida- CAPÍTULO IX
des com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO
e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de aces- LAZER
sibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a
adaptação razoável no ambiente de trabalho. Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao es-
Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com defi- porte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as
ciência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:
as seguintes diretrizes: I - a bens culturais em formato acessível;
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades
maior dificuldade de inserção no campo de trabalho; culturais e desportivas em formato acessível; e
II - provisão de suportes individualizados que atendam a neces- III - a monumentos e locais de importância cultural e a espaços
sidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponi- que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos.
bilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em for-
de apoio no ambiente de trabalho; mato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer argumento,
III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade
deficiência apoiada; intelectual.
IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, § 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à elimi-
com vistas à definição de estratégias de inclusão e de superação de nação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do
barreiras, inclusive atitudinais; acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessi-
V - realização de avaliações periódicas; bilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artís-
VI - articulação intersetorial das políticas públicas; tico nacional.

103
LEGISLAÇÃO

Art. 43. O poder público deve promover a participação da pes- CAPÍTULO X


soa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais, culturais, DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
esportivas e recreativas, com vistas ao seu protagonismo, devendo:
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de re- Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com
cursos adequados, em igualdade de oportunidades com as demais deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado em igual-
pessoas; dade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de iden-
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos serviços tificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu
prestados por pessoa ou entidade envolvida na organização das ati- acesso.
vidades de que trata este artigo; e § 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte cole-
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em jo- tivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições, conside-
gos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísti- ram-se como integrantes desses serviços os veículos, os terminais,
cas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de condições com as as estações, os pontos de parada, o sistema viário e a prestação do
demais pessoas. serviço.
Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de § 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei,
esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão sempre que houver interação com a matéria nela regulada, a ou-
reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência, torga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação ou a
de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o habilitação de linhas e de serviços de transporte coletivo.
disposto em regulamento. § 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen-
ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público
em todos os setores, próximos aos corredores, devidamente sina- responsável pela prestação do serviço.
lizados, evitando-se áreas segregadas de público e obstrução das Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao pú-
saídas, em conformidade com as normas de acessibilidade. blico, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas,
§ 2º No caso de não haver comprovada procura pelos assen- devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de
tos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser ocupados por pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem
pessoas sem deficiência ou que não tenham mobilidade reduzida, pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, des-
observado o disposto em regulamento. de que devidamente identificados.
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem § 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem equi-
situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, 1 valer a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma)
(um) acompanhante da pessoa com deficiência ou com mobilidade vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho
reduzida, resguardado o direito de se acomodar proximamente a e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes de acessibi-
grupo familiar e comunitário. lidade.
§ 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver, § 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exi-
obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência acessíveis, bir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, a
conforme padrões das normas de acessibilidade, a fim de permitir a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que discipli-
saída segura da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi- narão suas características e condições de uso.
da, em caso de emergência. § 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo
§ 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput deste sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do art. 181 da
artigo devem atender às normas de acessibilidade em vigor. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasi-
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, leiro) . (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência. (Vi- § 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é vinculada
gência) à pessoa com deficiência que possui comprometimento de mobili-
§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá dade e é válida em todo o território nacional.
ser superior ao valor cobrado das demais pessoas. Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre, aquaviário
Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser construídos e aéreo, as instalações, as estações, os portos e os terminais em
observando-se os princípios do desenho universal, além de adotar operação no País devem ser acessíveis, de forma a garantir o seu
todos os meios de acessibilidade, conforme legislação em vigor. uso por todas as pessoas.
(Vigência) (Reglamento) § 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste arti-
§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, go devem dispor de sistema de comunicação acessível que disponi-
pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis, bilize informações sobre todos os pontos do itinerário.
garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível. § 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade e se-
§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo deverão gurança nos procedimentos de embarque e de desembarque nos
ser localizados em rotas acessíveis. veículos de transporte coletivo, de acordo com as normas técnicas.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen-
dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público
responsável pela prestação do serviço.

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LEGISLAÇÃO

Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de turismo, § 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de conteú-
na renovação de suas frotas, são obrigadas ao cumprimento do dis- dos temáticos referentes ao desenho universal nas diretrizes curri-
posto nos arts. 46 e 48 desta Lei. (Vigência) culares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior
Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de veículos e na formação das carreiras de Estado.
acessíveis e a sua utilização como táxis e vans , de forma a garantir § 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem
o seu uso por todas as pessoas. desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de auxílio à pes-
Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% (dez quisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados para
por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com deficiência. o desenho universal.
(Vide Decreto nº 9.762, de 2019) (Vigência) § 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas deverão
§ 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores considerar a adoção do desenho universal.
adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com deficiência. Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança de
§ 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos fiscais uso de edificações abertas ao público, de uso público ou privadas
com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a que se refere de uso coletivo deverão ser executadas de modo a serem acessíveis.
o caput deste artigo. § 1º As entidades de fiscalização profissional das atividades de
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao anotarem a responsabi-
(um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada lidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade profis-
conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. (Vide Decreto nº sional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previs-
9.762, de 2019) (Vigência) tas em legislação e em normas técnicas pertinentes.
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, § 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de certi-
câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos ficado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e de instala-
manuais de freio e de embreagem. ções e equipamentos temporários ou permanentes e para o licen-
ciamento ou a emissão de certificado de conclusão de obra ou de
TÍTULO III serviço, deve ser atestado o atendimento às regras de acessibilida-
DA ACESSIBILIDADE de.
§ 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de edifi-
CAPÍTULO I cação ou de serviço, determinará a colocação, em espaços ou em
DISPOSIÇÕES GERAIS locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional de acesso, na
forma prevista em legislação e em normas técnicas correlatas.
Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com de- Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo já
ficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com deficiência
e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. em todas as suas dependências e serviços, tendo como referência
Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei as normas de acessibilidade vigentes.
e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que houver Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso privado
interação com a matéria nela regulada: multifamiliar devem atender aos preceitos de acessibilidade, na for-
I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de ma regulamentar. (Regulamento)
comunicação e informação, a fabricação de veículos de transporte § 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo proje-
coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qual- to e pela construção das edificações a que se refere o caput deste
quer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva; artigo devem assegurar percentual mínimo de suas unidades inter-
II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autori- namente acessíveis, na forma regulamentar.
zação ou habilitação de qualquer natureza; § 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a aquisição
III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização de unidades internamente acessíveis a que se refere o § 1º deste
de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, artigo.
contrato, convênio ou instrumento congênere; e Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços públi-
IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo cos, o poder público e as empresas concessionárias responsáveis
e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados. pela execução das obras e dos serviços devem garantir, de forma
Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem segura, a fluidez do trânsito e a livre circulação e acessibilidade das
do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclu- pessoas, durante e após sua execução.
sive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de acessibi-
outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de lidade previstas em legislação e em normas técnicas, observado o
uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como disposto na Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , nº 10.257,
na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo de 10 de julho de 2001 , e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 :
como referência as normas de acessibilidade. I - os planos diretores municipais, os planos diretores de trans-
§ 1º O desenho universal será sempre tomado como regra de porte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e os planos de
caráter geral. preservação de sítios históricos elaborados ou atualizados a partir
§ 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho uni- da publicação desta Lei;
versal não possa ser empreendido, deve ser adotada adaptação ra- II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de uso e
zoável. ocupação do solo e as leis do sistema viário;
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;

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