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No dia 11 de setembro de 2023, ano em que esse artigo foi escrito, serão completados
50 anos da morte de Salvador Allende. Neste mesmo dia a democracia chilena e a primeira
experiência de socialismo democrático encontrariam um fim abrupto e violento. Demorariam
20 anos para o Chile retornar a democracia.
Este artigo tem como principais intenções, traçar uma análise política das políticas
promovidas por Allende, de sua tentativa de tornar o Chile a primeira nação regida pelos
dogmas socialistas, mas ainda mantendo um Estado de direitos e liberdades, e também trazer
os eventos que levariam ao golpe militar chileno.
A via Chilena
Em 1917, o Czar Nicolau II havia sido executado, o Império russo cairá, e a União
Soviética seria fundada. 32 anos depois Mao Tsé Tung, influenciado pelos russos, traria o
socialismo para a China, e em 1959 Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara trariam a mesma
ideologia para Cuba, criando a primeira nação latino-americana socialista. O princípio do
marxismo é o materialismo dialético, por conta disso o processo revolucionário em cada um
desses países decorreu de forma diferente, e consequentemente os regimes dali criados
também demonstravam peculiaridades e diferenças, seja em costumes ou na própria
organização política do país. Porém em meados do século 20, a Revolução Chilena iria abrir
uma nova possibilidade de processo revolucionário, encabeçada por Salvador Allende, ela se
diferenciava das revoluções citadas anteriormente não apenas por conta dos contextos
nacionais e temporais da revolução, mas por ser uma tentativa radicalmente diferente de
revolução, desarmada, democrática e legal.
Para Joan Garcés, historiador chileno, a revolução chilena é a experiência mais
moderna de revolução. Não no sentido de ter sido a última, mas que considerando a estrutura
da democracia liberal essa foi a mais adequada para esses tempos. Enquanto as revoluções
cubanas, russa e chinesa eram adequadas para os contextos das épocas, governos autoritários
e supressão total de movimentos socialistas e sindicais, o Chile do final da década de 60 e
começo da de 70 apresentava um Estado de direito e democrático. Assim a avaliação dos
socialistas chilenos da UP (União Popular) foi a de uma revolução que mantivesse as
estruturas legais e democráticas do país. Essa visão que ao menos poderia ser definida como
criativa e nova, encontrou oposição dentro da esquerda, sofrendo retaliação dos socialistas
mais ortodoxos
Em 21 de maio de 1971 Allende discursou perante o congresso pleno (junção da
câmara dos deputados e senado). Allende começa traçando uma linha de similaridade com o
processo que estava acontecendo no Chile e a revolução russa, que meio século antes havia
abalado a Europa e o mundo. Evidentemente os processos revolucionários tinham pouco em
comum, mas a semelhança achada por Allende foi a forma em que ambas de certa forma se
opunham ao marxismo ortodoxo. Marx acreditava que a revolução deveria ocorrer em uma
nação já industrial, Alemanha ou Inglaterra, porém as circunstâncias sociais na Europa eram
diferentes das previstas. O socialismo floresceu nas nações industriais, mas achou maior força
nas nações subdesenvolvidas e agrárias. Já a UP defendeu a revolução pela legalidade,
preservando a democracia. Ambas as revoluções mantiveram suas características socialistas e
marxistas, mas demonstraram também inovação e resoluções apropriadas para as condições
materiais de suas respectivas épocas.
Ainda no mesmo discurso citado anteriormente, Allende defendeu a importância da
legalidade e liberdade. A luta contra o absolutismo e autoritarismo que possibilitou um
Estado de direito, e a luta contra a censura e a supressão de movimentos populares consolidou
a liberdade política, religiosa e de expressão. Mas como conciliar o socialismo com as
instituições que garantiam tais direitos? Era claro que a UP e Allende não tinham todas as
respostas para a sociedade que eles estavam criando, mas isso não era segredo, Allende
mesmo disse: “A tarefa é de uma complexidade extraordinária, porque não há precedente
em que possamos nos inspirar. Pisamos num caminho novo; avançamos sem guia por um
terreno desconhecido...”. A via chilena pretendia adaptar as instituições legais existentes no
Chile capitalista para o socialismo, assim criando formas novas de aparelhos jurídicos e
legais, que servissem à vontade popular.
O Governo Allende
O Golpe Militar
A direita política chilena, antes fragmentada, formou uma frente ampla com o
interesse de combater Allende. Com a formação da Confederação da Democracia (CODE),
em 1973, a coalizão da direita chilena, a UP perdeu maioria no congresso, dificultando para a
implementação de novas políticas.
Um estado de violência se instaurou no Chile, o Pátria y Libertad grupo paramilitar
de extrema direita começou a expandir suas ações terroristas. O grupo era apoiado pela CIA e
por parte do exército chileno. Em meio a guerra fria, e a guerra do Vietnã, os Estados Unidos
fazia de tudo para impedir o surgimento de uma nova nação socialista no continente
americano. As tentativas de golpe no começo de 73 foram diversas, porém a maioria da
população ainda apoiava Allende, mesmo com a crise econômica. O Pátria y Libertad
efetuou diversos atos terroristas em meados de 73, incluindo o assassinato de Arturo Araya,
Capitão-de-Mar-e-Guerra do Chile, assim desestruturando o comando da marinha e
eliminando aliados de Allende no exército. Eles também foram responsáveis por um ataque
as torres de energia do país, causando um apagão nacional.
Em 21 de agosto de 1973 o general Carlos Prats, defensor do Estado de direito
chileno, foi forçado a renunciar do cargo de Comandante Chefe das forças armadas. Augusto
Pinochet assumiu o cargo. No dia 10 de setembro os Estados Unidos posicionam diversos
navios de guerra no limite da fronteira marítima chilena, em uma operação similar a Brother
Sam conduzida no Brasil, e instruem seus combatentes a invadirem a nação caso houver
resistência ao golpe.
Allende, alertado sobre o processo que está ocorrendo, vai a La Moneda, sede da
presidência da república. Allende procura seus generais comandantes, Leight e Pinochet.
Sendo o primeiro um dos primeiros articuladores do golpe. Já Pinochet supostamente seria
leal ao governo chileno, levando Allende a acreditar que ele havia sido detido pelos golpistas.
A junta militar, encabeçada por Pinochet, Leight, Mendonza (general) e Mendes (vice-
almirante), proclama o golpe e pede a rendição de Allende.
Allende se recusa a abandonar o Palácio, e alas do exército ainda fiéis ao presidente
travam fogo na capital com os golpistas. A resistência ao golpe não foi suficiente, e ainda no
dia 11 de setembro as forças de Pinochet invadem a La Moneda. Allende, mesmo consciente
da invasão, não abandona o palácio. Allende morre durante a invasão, alguns acreditam que
ele se matara outros defendem que as forças golpistas o teriam executado.
Bibliografia
AGGIO, Alberto. Democracia e Socialismo: A experiência chilena. [S. l.: s. n.],
1993.
FUENTES TAVARES DE LIRA, Francisco Roberto. DO SOCIALISMO AO
NEOLIBERALISMO: O CHILE DOS ANOS 1970. FAE, [S. l.], p. 1-9, 10 jun. 2010.
Disponível em:
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getImage/1/261427454798353.pdf. Acesso em: 5 jun. 2023.
ALLENDE, Salvador. A revolução Desarmada: discursos de Salvador Allende. [S.
l.: s. n.], 2022.