Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Benefícios da utilização
de prebióticos, probióticos e
simbióticos em adultos e idosos
Res umo
Palavras‑chave Probióticos, prebióticos e simbióticos são chamados de alimentos funcionais (AF). A utilização deles estimula a proliferação de
Suplementos bactérias benéficas, em detrimento da proliferação de bactérias prejudiciais, reforçando os mecanismos naturais de defesa do
dietéticos, trato hospedeiro, mantendo o equilíbrio, podendo estimular diretamente a imunidade, a proteção contra patógenos e evitar a infecção por
gastrointestinal, Clostridium decorrente do uso de antibioticoterapia. É comum que os pacientes evoluam com distúrbios do trato gastrointestinal (TGI)
tempo de capazes de aumentar o tempo de internação, ocasionando outras complicações, como infecções respiratórias e úlceras por pressão. O
internação, objetivo do estudo foi identificar aspectos referentes ao uso de simbióticos, prebióticos e probióticos em adultos e/ou idosos e descrever
constipação as vantagens e desvantagens de sua utilização. Foi realizada uma revisão bibliográfica por enfermeiros de unidade semi-intensiva de
intestinal/ um hospital de grande porte da cidade de São Paulo entre os anos de 2011 e 2012. Utilizou-se como eixo norteador o questionamento:
é possível beneficiar os pacientes internados com o uso de prebióticos, probióticos e simbióticos, prevenindo assim as complicações do trato
prevenção e
gastrointestinal? Concluiu-se que diversas complicações dos pacientes internados decorrentes de alterações do TGI, como inapetência,
controle, alimentos
distúrbios hidroeletrolíticos, desidratação, suscetibilidade para a formação de úlceras por pressão, dermatites etc. podem ser evitadas
funcionais, custos
com o uso contínuo desses produtos. Essa intervenção reduziria o tempo de internação, o custo hospitalar e o tempo despendido pela
hospitalares, idoso.
equipe de enfermagem em situações preveníveis. Não ficaram claras as desvantagens quanto ao uso desses produtos.
Abstract
Keywords The use of probiotcs, prebiotcs and synbiotics are called functional foods. The use of them stimulate the proliferation of
Dietary beneficial bacteria, rather than the proliferation of harmful bacteria, the strengthen of the natural defense mechanisms of the
supplements; host maintaining the balance, they can directly stimulate immunity, protection against pathogens and prevention of infection
gastrointestinal by Clostridium resulted of the using of antibiotics. It is common for patients to proceed with gastrointestinal tract disorders are
able to increase the lenght of hospital stay causing other complications, such as respiratory infections and pressure ulcers. The
tract, length of aim of study was to identify aspects concerning the use of synbiotics, prebiotcs and probiotcs in adults and/or elderly people
stay, constipation/ and to describe the advantages and disadvantages of their use. A literature review was performed by nurses of a semi-intensive
control and of a large hospital in the city of São Paulo between the years 2011 and 2012. The following question was used as a guideline:
prevention, Is it possible to benefit hospitalized patients with the use of prebiotics, probiotics and synbiotics, thus preventing the
functional food, complications of the gastrointestinal tract? It was concluded that many complications of inpatients were resulted from
hospital costs, changes in the GI tract, such as anorexia, eletrolyte imbalance, dehydration, susceptibility to the formation of pressure ulcers,
elderly. dermatitis, and so on. Continued use of these products could prevent these situations, thereby reducing the length of stay,
hospital costs and time spent by nursing staff in preventable situations. It is not clear the disadvantages of using these products.
a
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Tutora da residência de enfermagem em clínica médica e cirúrgica do Hospital Sírio-Libanês.
Especialista em gerenciamento dos serviços de enfermagem. Especialista em enfermagem geriátrica e gerontológica. Especialista em insuficiência respiratória.
b
Enfermeiro da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em enfermagem geriátrica e gerontológica. Especialista em
gerenciamento de serviços de enfermagem.
c
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em cardiologia.
d
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em pneumologia.
e
Enfermeira. Professora orientadora. Mestre, doutor e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em UTI pelo HCFMUSP.
Tabela 3 Principais alterações do trato gastrointestinal e cuidados de enfermagem. São Paulo, 2011/2012
Principais alterações do TGI Cuidados de enfermagem
- Sinalizar e discutir com equipe médica e de nutrição necessidade de alimentos ou medicamentos laxativos
- Discutir a necessidade de uso de enema ou supositório
- Monitorar frequência, quantidade e aspecto das evacuações
- Estimular a ingestão hídrica (se não houver contraindicações)
- Rever com equipe médica se há na prescrição algum medicamento que possa ocasionar constipação e discutir
modificação do item, se possível
Constipação
- Verificar com o paciente se ele faz uso de laxativos em casa e se os mesmos estão prescritos
- Atentar para sangramentos durante evacuações
- Proporcionar privacidade no momento da evacuação
- Realizar exame físico abdominal e atentar para distensão
- Observar e registrar aceitação alimentar, presença de náuseas e/ou vômitos
- Sinalizar e discutir com equipe médica e de nutrição necessidade de alimentos ou medicamentos obstipantes
- Monitorar frequência, quantidade e aspecto das evacuações
- Inspecionar a integridade cutânea em região inguinal e perianal
- Realizar exame físico abdominal
- Higienizar a genitália a cada evacuação (o mais breve possível)
- Utilizar cremes que evitem o surgimento de lesão de pele por contato com as fezes ou tratar lesões já instaladas
- Estimular ingestão de líquidos (se não houver contraindicações)
Diarreia - Discutir com equipe médica necessidade de reposição volêmica por soluções intravenosas quando indicado
- Realizar peso diário nos casos de diarreia prolongada
- Verificar exames laboratoriais e atentar para a presença de distúrbios hidroeletrolíticos
- Atentar para sinais de desidratação (turgor de pele diminuído, pele e mucosas ressecadas, taquicardia e alteração do
nível de consciência)
- Buscar ativamente as possíveis causas da diarreia e tratamento do fator causal
- Sugerir coleta de Clostridium difficile (quando se aplicar)
Não houve diferença entre os grupos quanto aos Foram encontrados estudos que relatam a redução
sintomas, apenas na saciedade, que foi menor no grupo na intolerância à lactose e, consequentemente, de alguns
controle. Não houve mudança na microbiota das fezes, sintomas, principalmente da diarreia.1
fazendo com que o autor sugira que os efeitos benéficos Atualmente sabe-se que algumas complicações do
dos probióticos pode não estar relacionado diretamente TGI podem ser ocasionadas por neoplasias de cólon e
com a microbiota. reto. Essas neoplasias são a terceira causa mais comum
Pesquisa realizada no Chile demonstra que há efei- de câncer no mundo e, segundo o Instituto Nacional de
tos benéficos para a microbiota intestinal, desde que haja Câncer (Inca), afetam igualmente homens e mulheres.17
consumo regular de La1, resultando em aumento de po- O consumo de produtos laticínios fermentados é ca-
pulações bacterianas benéficas: lactobacilos e bifidobac- paz de inibir determinadas bactérias responsáveis pela
térias, e redução de populações maléficas.10 conversão de substâncias pré-carcinogênicas em carci-
Também são descritos estudos que avaliam a resposta nogênicas. Porém, ainda são necessários mais estudos de
imunológica, sendo que em adultos essas pesquisas são caráter intervencional em seres humanos para a poten-
direcionadas a doenças inflamatórias do intestino, como cialização da prevenção do câncer de cólon e reto.17
doença de Crohn e colite ulcerativa.11 Em pesquisa realizada com 17 pacientes com câncer
Sobre idosos, é sabido que ocorre declínio da função de cólon em tratamento quimioterápico, foi constatado
imunológica e pode ocasionar hiporresponsividade a que a diarreia foi o segundo efeito colateral mais fre-
vacinas e predisposição a doenças infecciosas e não in- quente, ocorrendo em 70,5% com o pico no sétimo dia
fecciosas.12 O envelhecimento está associado a mudanças de tratamento. Daí a importância de pesquisas que pos-
orgânicas e teciduais, e, além disso, a microbiota intes- sam indicar a melhora ou não desse sintoma com o uso
tinal difere da dos adultos, pois há no intestino maior de alimentos funcionais.18
quantidade de bactérias prejudiciais, como Clostridium De acordo com estudo realizado no Brasil, com 24
perfringens e enterobactérias do que as benéficas, como pacientes com neoplasia maligna hematológica em qui-
as bifidobactérias.12 mioterapia, não houve diferença estatisticamente signifi-
Em 2011, foi publicado um estudo com 58 idosos que cante quanto à presença de diarreia, porém o grupo que
evidenciou haver aumento em frequência de evacuações recebeu suplementação teve aumento considerável de
semanais com o uso de prebiótico. Encontrou ainda que bifidobactéria em relação ao grupo placebo, assim como
o consumo em doses baixas desse alimento aumenta os os níveis de PCR diminuídos, indicando menor nível de
níveis séricos de proteínas totais, diminui a proteína C processos inflamatórios.19
reativa e o colesterol, indicando benefícios nutricionais.13 Quando se trata do impacto na prática assistencial,
A incidência de alterações gastrointestinais em idosos enfatizamos que existem escalas aplicadas pela enfer-
hospitalizados pode ser alta. Em um estudo que avalia os magem que demonstram influência negativa da diarreia
diagnósticos de enfermagem em idosos, foi verificado quanto ao risco de lesões de pele e do tempo de atendi-
que, de 61 pacientes, 22,38% apresentaram constipação, mento prestado aos pacientes. Dentre elas, a mais utili-
e 17,91%, diarreia.14 zada no Brasil é a escala de Braden, que objetiva medir o
Os AF podem ser utilizados em instituições de risco de desenvolver úlcera por pressão (UPP), levando
longa permanência de idosos onde os pontos ressal- em consideração uma pontuação para pele exposta com
tados são o valor calórico, a boa aceitação, a melho- maior frequência à umidade, portanto pacientes com
ra no sistema imunológico, a redução de dias com menor mobilidade física e com evacuações líquidas pre-
febre, a redução de dias com diarreia, o aumento sentes possuem risco aumentado de desenvolver UPP,
de absorção de cálcio, a redução de problemas com necessitando de maiores cuidados.20
constipação, entre outros. 4 A outra é a escala Nursing Activities Score (NAS),
Em uma unidade de internação de clínica médico- que é aplicada a pacientes de alta dependência em uni-
-cirúrgica foram avaliadas, quanto ao diagnóstico de en- dades de terapia intensiva (UTI), e visa medir o tempo
fermagem, 60 mulheres com patologias diversas, sendo de assistência da equipe de enfermagem. Diversos itens
identificada taxa de 41,6% de constipação, com a idade são avaliados, mas aqui cabe ressaltar que a quantidade
média dessas mulheres de 49 anos.15 de episódios de diarreia aumenta esse escore devido à
Em estudo realizado com 378 mulheres com idades necessidade de higienização e mobilização, levando em
entre 18 e 55 anos, apresentando ou não quadro de cons- consideração que esse procedimento geralmente deve
tipação intestinal funcional, foram ofertadas 2 unidades/ ser executado por mais de um colaborador.21
dia de Activia ou uma sobremesa láctea sem probióticos Em trabalho realizado na Universidade de São Paulo apli-
(grupo controle) por período de 14 dias e, após, os gru- cou-se a escala em uma unidade de internação clínica médi-
pos foram intercruzados por mais 14 dias, concluindo-se ca, que concluiu que o paciente com alta dependência neces-
que a ingestão de simbióticos pode ser uma ferramenta sita, em média, de 12,3 h de assistência nas 24 h diárias; 75,8%
útil no gerenciamento de pacientes constipados.16 do item higiene foi direcionado a mais de 2 h de cuidados.21
Benefícios de prebióticos, probióticos e simbióticos | 81
Em resumo, os artigos reunidos demonstram que o correm de alterações do TGI, como inapetência, distúr-
uso de pré, pró e simbióticos não apresenta efeitos in- bios hidroeletrolíticos, desidratação, suscetibilidade para
desejáveis, é de baixo custo e possui boa aceitação, po- a formação de úlceras por pressão, assaduras etc. Com a
dendo ser uma alternativa conveniente no uso rotineiro administração desses produtos pode haver redução no
hospitalar devido às vantagens descritas anteriormente. tempo de internação, diminuição de custo hospitalar e
menor tempo despendido pela equipe de enfermagem
C onclus ão para executar outras atividades assistenciais.
Os AF são úteis na melhora da função e sintomas do O intuito desses levantamentos é a busca de conhe-
TGl, equilíbrio da microbiota intestinal, resposta imu- cimento científico que nos permita identificar, preve-
ne intestinal, prevenção de doenças do TGI, aumento nir e atuar juntamente com uma equipe multidiscipli-
da absorção/retenção do cálcio e magnésio, aumento da nar em quaisquer alterações do TGI, assim como nas
osteocalcina, aumento das proteínas totais e diminuição suas complicações.
da proteína C reativa, colesterol e intolerância à lactose.
Não ficaram claras as desvantagens quanto ao uso C onflito de interesse
desses produtos. Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in-
Diversas complicações dos pacientes internados de- teresse na sua realização e publicação.
R eferências
1. Varavallo MA, Thomé JN, Teshima E. Aplicação de bactérias pro- 12. Vulevic J, Drakoularakou A, Yaqoob P, Tzortzis G, Gibson
bióticas para profilaxia e tratamento de doenças gastrointestinais. GR. Modulation of the fecal microflora profile and immune
Semina Cienc Biol Saude. 2008; 29(1):83-104. function by a novel trans-galactooligosaccharide mixture
2. Saulnier DMA, Spinler JK, Gibson GR, Versaloc J. Mechanisms (B-GOS) in healthy elderly volunteers. Am J Clin Nutr. 2008;
of probiosis and prebiosis: considerations for enhanced funtional 88(5):1438-46.
foods. Curr Opin Biotechnol. 2009; 20(2):135-41. 13. Bosch Gallego M, Espadaler Mazo J, Méndez Sánchez M, Pérez
3. Organização Mundial de Gastroenterologia. Probióticos e pre- Carre M, Farrán Codina A, Audivert Brugué S et al. El consumo
bióticos. Milwaukee, WI: World Gastroenterology Organisation del probiotico Lactobacillus plantarum CECT 7315/7316 mejora el
(Guias práticos da OMGE)..Maio 2008. Dispónível em: http:// estado de salud general en personas de edad avanzada. Nutr Hosp.
www.worldgastroenterology.org/assets/downloads/pt/pdf/guide- 2011; 26(3):642-5.
lines/19_probiotics_prebiotics_pt.pdf. [Acessado em dez. 2013.] 14. Sanako LM, Yoshitmome AY. Diagnóstico e intervenções de en-
4. Morley JE. Probiotics and the nursing home: should we give bacte- fermagem em idosos hospitalizados. Acta Paul Enferm. 2007;
ria for breakfast? J Am Med Dir Assoc. 2009;10(6):365-7. 20(4):495-8.
5. Cisternas CD. El uso de probióticos en el síndrome de intestino ir- 15. Volpato MP, Cruz DALM. Diagnósticos de enfermagem em paci-
ritable y constipación. Gastroenterol Latinoam. 2010; 21(2):257-9. entes internadas em unidade médico cirúrgica. Acta Paul Enferm.
2007; 20(2):119-24.
6. Pillai A, Nelson R. Probiotics for treatment of Clostridium diffi-
cile-associated colitis in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2008 16. De Paula JA, Carmuega E, Weill R. Efecto de la ingesta de un ali-
Jan 23; (1):CD004611. mento simbiótico sobre el hábito evacuatorio en mujeres con consti-
pación funcional. Acta Gastroenterol Latinoam. 2008; 38(1):16-25.
7. Hickson M, D’Souza AL, Muthu N, Rogers TR, Want S, Rajkumar
C et al. Use of probiotic Lactobacillus preparation to prevent diar- 17. Denipote FG, Trindade EBSM, Burini RC. Probioticos e prebióti-
rhoea associated with antibiotics: randomised double blind place- cos na atenção primária ao câncer de cólon. Arq Gastroenterol.
bo controlled trial. BMJ. 2007; 335(7610):80. 2010; 47(1):93-8.
8. Plummer S, Weaver MA, Harris JC, Dee P, Hunter J. Estudio piloto de 18. Almeida EPM, Gutiérrez MGR, Adami NP. Monitoramento e
Clostridium difficile: efecto del aporte suplementario de probióticos so- avaliação dos efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com
bre la incidencia de diarrea causada por C. difficile. 2004; 7(1):59-62. câncer de cólon. Rev Latino-Am Enf. 2004; 12(5):760-6.
9. Kenche H, Michail S. Gut microbiota is not modified by ran- 19. Búrigo T, Fagundes RLM, Trindade EBSM, Vasconcelos HCFF,
domized, double-blind, placebo-controlled trial of VSL# in diar- Massaut IHB, Rotolo MAS. Ação do prebiótico sobre as proteínas
rhea-predominant irritable bowel syndrome. Probiotics Antimi- de fase aguda de pacientes com neoplasia hematológica. Rev Bras
crob Proteins. 2011; 3(1):1-7. Hematol Hemoter. 2007; 29(2):130-5.
10. Gotteland RM, Garrido CD, Cruchet MS. Regulación de la micro- 20. Souza CA, Santos I, Silva LD. Aplicando recomendações da escala
biota intestinal en voluntarios sanos mediante el consumo de un de Braden e prevenindo úlceras por pressão: evidências do cuidar
producto con el probiótico Lactobacillus johnsonii La1. Rev Chil em enfermagem. Rev Bras Enferm. 2006; 59(3):279-84.
Nutr. 2006; 33(2):198-203. 21. Lima MKF, Tsukamoto R, Fugulin FMT. Aplicação do Nursing Ac-
11. Borchers AT, Selmi C, Meyers FJ, Keen CL, Gershwin ME. Probiot- tivities Score em pacientes de alta dependência de enfermagem.
ics and immunity. J Gastroenterol. 2009; 44:26-46. Texto Contexto Enferm. 2008; 17(4):638-42.