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O grau de aversão dos moradores da Zona Norte sobre o que eles percebem

como Zona Sul não é homogêneo. Embora os julgamentos contrários sejam quase
universais na pesquisa, tendo aparecido espontaneamente na imensa maioria da
entrevistas, quando se perguntou para os entrevistados “em que bairro da cidade você
não moraria por não se identificar com o estilo de vida de seus moradores, podendo o
entrevistado responder um ou quantos bairros achasse desagradável, apenas sete de um
universo de 40 pesquisados, não escolheram Boa Vigem e a Zona Sul por acharem que
não combinam com a regoão, enquanto todos os demais eram muito enfáticos e rápidos
em suas respostas, negando a zona sul como possibilidade. Ao melhor analisar as
entrevistas, sobretudo buscando entender, as exceções dentro de um universo que
parecia muito coeso e certo de suas escolhas, foi possível perceber, sobretudo por meio
desse contraste, perceber que as variações de julgamento, o maior ou menor grau de
repulsa a Zona Sul, é atrelado a estrutura de capitais e o volume do entrevistados. De
modo que, a trajetória dos agentes também se mostrou fundamental para entender essa
visão dupla em que os entrevistados apresentam a cidade, cabendo ressaltar que mesmo
aqueles que espontaneamente não apresentavam aversão a essa região, em duas ocasiões
quando instigados na entrevista, se mostravam reflexivos e existentes quando se pedia
explicitamente para optar entre a zona sul e a zona norte.

Foram justamente os casos desses moradores que a princípio prontamente não se


referiam a zona sul com antipatia que foi possível perceber uma divisão da cidade, por
seus moradores abastados, envolvendo estilos de vida, logo, frações de classe. Pois,
enquanto os moradores menos hostis a zona sul eram pessoas dotadas de muito capital
econômico, isso ficou ainda mais claro no caso de Renan, um jovem empresário do
setor médico, que recentemente, sobretudo devido a pandemia, enriqueceu bastante, e
Osvaldo, empresário de família tradicional que trabalhava com algodão, mas que hoje
vive de aluguéis de imóveis herdados e de sua empresa de loteamento e construção de
casas no estilo rústico em gravata. Logo, os menos afeitos a aversão, no caso do
segundo essa não surgiu em momento algum, são empresários com altíssimo capital
econômico. Sobre Renan, especificamente, trata-se de uma ascensão recente, mas que
mesmo assim, ambos não deixam de valorizar o capital cultural, ambos são
colecionadores de arte, Renan tem feito isso de forma mais intensa agora, enquanto
Osvaldo além de ter herdado parte da sua coleção, ainda adquire. Mas, apesar dessa boa
vontade cultural, isto é, desse desejo de mostrar saber reconhecer o cânone artístico
valorizado no espaço social de Recife, foi patente, nas entrevistas, que tal conhecimento
não era aprofundado, e que o ter determinada obra, marcava mais que entender das
artes. Além de que, ambos demonstraram pouco interesse na leitura, inclusive admitindo
não terem o habito, e, em geral, quando a fazem, essa é por motivos religiosos ou para
aprimoramento profissional. As escolhas de filmes também não eram as mais legítimas,
estando no hall de opções filmes do gênero de aventura, como 007, ou filmes que
transmitem boas mensagens. Osvaldo mostra que em termos culturais, antiguidade nem
sempre é sinônimo de avanço no capital cultural, pelo menos o institucionalizado. E
isso, ficou ainda mais patente nas universidades em que eles se formaram, ambos
estudaram em faculdade privadas, Renan, inclusive, em uma pouco reconhecida no
meio acadêmico, enquanto Osvaldo estudou na católica. Mas, o que é fundamental
identificar é que esses dois entrevistados, que partilham de alta capital econômico, não
apresentaram jugalmentos negativos sobre a zona sul, inclusive Osvaldo já morou na
cobiçada avenida Boa Viagem quando jovem, e após seu divórcio. Apenas Renan,
quando instigado, se referiu a boa viagem de forma crítica, mas ainda assim quis frisar
que preferia acreditar que tais visões são estereótipos, que as pessoas que conhece lá são
bacanas e humildes. Já quanto aos demais entrevistados não tão fechados a zona sul se
encontra Camilo, Pintor por hobbie e sustentado por alugueis de sua família, bastante
rica, que inclusive em grande número mora em Boa Viagem, Cláudia, psicanalista, sua
companheira, que como ele leva a profissão como um passatempo e que também vive
de aluguel, ambos possuído um alto capital econômico, mas também cultural, mas tendo
muitas ligações familiares com boa viagem, Claudia inclusive morou parte da juventude
lá. Quanto a esse casal, é importante colocar que quando eu busquei falar diretamente de
uma diferença entre Zona Norte e Zona Sul, eles negaram a predileção entre áreas, mas
reconheceram que as pessoas veem diferenças, inclusive, Camilo brincou que um
amigo, também artista, dessa vez profissional, sempre teve uma imagem negativa da
Zona Sul, chegando a chamar tal área de merdopólis, mas hoje mora em Boa Viagem,
de modo que para Camilo, tal distinção não existe ou é coisa do passado. Já Cláudia,
fica hesitante, quando abordo mais expletivamente as duas regiões. E diz “a boa viagem
que eu gosto é a do meu tempo de juventude. De sentar na areia com os amigos,
aproveitar a brisa e fumar unzinho... Essa é a boa viagem que eu gosto! Foi lá onde eu
passei boa parte da minha juventude!” Já Regina, uma Juíza do trabalho que vive uma
trajetória de ascensão a partir iniciada com seus pais, e que ao que tudo indica, pela
entrevista, é continuada por seu filho, que hoje trabalha em um bom cargo em uma
multinacional no exterior, dominando bem o inglês, coloca, com referencia a pergunta
em que Bairro Você não moraria?” uma dificuldade em responder a questão. Até que
nomeia bairros periféricos, em geral ignorados pela maioria dos entrevistados, mas que
devido a sua trajetória ascendente podem já ter sido socialmente próximos dela, mas
depois, coloca, contrariando a pergunta, que moraria em Boa Viagem, desde que na
Avenida Boa Viagem, isto é, de frente do mar, na área mais cara para se morar na
cidade, símbolo maior de ascensão social. Talvez Regina queira tornar material sua
ascensão, embora não coloque esse desejo como prioridade. Regina tem uma estrutura
de capitais similar (cultural e econômico), coloca que já gostou muito de morar na Zona
Norte, mas que a Zona Norte tal qual ela conheceu não existe mais, pois se antes o
transito era leve, hoje dura horas, as calçadas são deterioradas, e, para completar, ao
lado de seu prédio, um belo exempla do modernismo pernambucano, em que na entrada
é possível ler um poema de Manoel Bandeira, e que a fachada é toda revestida com
cerâmica breannnand, elementos símbolos do bom gosto na decoração pernambucana,

Falar como as noções e direções espaciais são sociais, para isso usar durkheim e
as formas elementares da vida religiosa. E, no caso aqui específico, as noções de Zona
Norte e Zona Sul são criações sociais que tem como principais princípios a oposição
entre capital cultural e alto capital simbólico vs alto capital econômico e baixo capital
cultural, pelo menos, é assim, que essas duas partes da cidade são apreciadas. E é
importante destacar que são recortes específicos, pois não consideram o que de fato a
geografia incluiria como zona norte, sendo apenas os 11 tradicionais bairros, e quanto a
zona sul, essa é imensa, marcada por constantes sociais de classe, ou de usos, mas a
principal imagem que surge da área são os luxuosos prédios da avenida boa viagem, as
grandes avenidas retas, carros, e os muitos estabelecimentos de luxo e consumo, como
os dois principais shoppings da cidade o Recife e o Rio Mar.

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