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M&•%• F••%•• *

1. E•••••••!"•#$

O ano de 2016 fica marcado pela implementa- aprovou o Regime Jurídico de Supervisão de
ção da reforma do enquadramento jurídico da Auditoria, doravante “RJSA”).
actividade de revisão legal das contas (ou audi-
Esta reforma não pode ser vista como um refor-
toria) em Portugal.
ma isolada mas, sim, enquadrada como uma das
peças que compõem uma estratégia mais abran-
Decorrente de diversos trabalhos desenvolvidos
gente que visou todo o enquadramento jurídico
ao nível comunitário, dos quais se destacam a
dos mercados financeiros.
publicação, pela Comissão Europeia, do Livro
Verde “Política de Auditoria: As Lições da Cri-
Naturalmente que esta vertente, que afectou
se”1, foi apresentada uma proposta, em 30 de
sociedades de notação de risco (rating), emiten-
Novembro de 2011, de alteração à Directiva n.º
tes de valores mobiliários, intermediários finan-
2006/43/CE, do Parlamento Europeu e do Con-
ceiros, bancos, seguradoras, plataformas de ne-
selho, bem como uma proposta de Regulamento
gociação e de liquidação, mercados de deriva-
com vista a harmonizar determinados requisitos
dos, organismos de investimento colectivo, en-
aplicáveis às Entidades de Interesse Público2
tre outros, não podia deixar de contemplar os
(doravante “PIE”).
auditores, tendo em conta o papel relevante que
ocupam no sistema global.
A proposta inicial teve diversos desenvolvimen-
tos culminando, após um amplo debate e nego- Pode-se facilmente constatar que existe um vec-
ciação, com a aprovação da Directiva n.º tor comum em todas estas alterações, que se
2014/56/UE do Parlamento e do Conselho, de fizeram sentir desde o eclodir da crise de 2008.
16 de Abril de 2014, e aprovação do Regula- Esse vector caracteriza-se pelo objectivo de
mento (UE) n.º 537/2014, do Parlamento e do restauração da confiança dos mercados e dos
Conselho, de 16 de Abril de 2014, constituindo seus consumidores, que mais não são do que os
assim o que se designa por reforma Europeia do investidores em instrumentos financeiros
enquadramento jurídico da Auditoria. (consumidores de valores mobiliários, produtos
bancários ou produtos seguradores ou outros
Portugal implementou a legislação com a apro- tipos de instrumentos financeiros), mas também
vação da Lei n.º 140/2015, de 7 de Setembro as próprias empresas e a sua necessidade de
(reformulando o Estatuto da Ordem dos Reviso- obter os recursos financeiros adequados à pros-
res Oficiais de Contas, doravante “EOROC”) e secução do investimento e de desenvolvimento
a Lei n.º 148/2015, de 9 de Setembro (que da sua actividade económica.

* - Revisor Oficial de Contas. Professor Auxiliar Convidado do ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de
Lisboa.

1- COM (2010) 561, 13 de Outubro de 2010.

2- O conceito de PIE está definido no artigo 3º do Regime Jurídico de Supervisão de Auditoria, aprovado pela Lei n.º 148/2015, de 9 de
Setembro.
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Essa preocupação centrou-se, por um lado, no processo de prestação de contas da entidade e


incrementar dos objectivos de protecção da es- respectivo controlo, incidindo igualmente na
tabilidade financeira e controlo do risco de efei- monitorização da gestão de riscos e acompa-
to sistémico, mas por outro lado no reforço da nhamento da actividade da gestão.
transparência, permitindo assim atingir os ob-
jectivos de restauração do clima de confiança Pode-se mesmo afirmar que o auditor e o órgão
abalado pela profunda crise que foi sentida. de fiscalização, no desempenho das respectivas
funções, de modo independente, desempenham
Os revisores oficiais de contas (ou auditores) um papel “ombro a ombro” por forma a confe-
desempenham um papel crucial na defesa do rir segurança à informação financeira preparada
interesse público, já que através do desempenho e apresentada pelo órgão de gestão. Estes três
das suas funções, exercidas de forma indepen- vértices equidistantes (gestão, órgão de fiscali-
dente, permitem conferir segurança à informa- zação e auditor) formam, o que se pode chamar
ção financeira, prestada pelas empresas, através por, um triângulo desafiante, em que cada um
da Certificação Legal das Contas (doravante dos vértices actua de forma independente, entre
“CLC”) ou relatórios de auditoria que subscre- si, mas que se auto desafia por forma a assegu-
vem. rar a qualidade e transparência da informação
financeira, que é prestada pela empresa aos in-
II – O ••••• •• •!•"#•$, •• %$&'• vestidores.
•• (")*••"+•-'• • •• %$&'• •• &•)#'•
Nessa vertente, de modo a enaltecer a referida
Atente-se, porém, que a reforma legislativa re- transparência, é fundamental que cada um des-
ferida não incide só na actividade de auditoria tes intervenientes, para além de apresentar a sua
mas também sobre uma componente muito rele- opinião sobre a respectiva informação, possam
vante do governo das sociedades que é o órgão igualmente comunicar com os respectivos in-
de fiscalização, instituindo-se o dever de consti- vestidores de forma livre de modo a permitir
tuição de tal órgão em todas as entidades de demonstrar como, cada um, exerceu as respecti-
interesse público. vas funções, com o objectivo de transmitir a
confiança pretendida.
Esse órgão – na adaptação ao direito português,
assume um de três modelos, i) Comissão de III - O R•••#%$"• •• A!•"#•$"•
Auditoria (modelo Anglo-saxónico), ii) Conse- •! C•$#"("*•-'• ••&•• ••) C•.#•)
lho Fiscal (modelo latino reforçado) ou iii)
Conselho Geral e de Supervisão com a sua Co- É neste enquadramento que se pode verificar
missão para as matérias financeiras (modelo aquilo que, da perspectiva mais visível pelo
germânico) – passa a assumir um papel cada mercado, se vai fazer sentir pela reforma ence-
vez mais relevante em todo este processo. tada no sector da auditoria.

Nesta configuração, o auditor da entidade não Com efeito, o reporte que os investidores esta-
pode integrar o referido órgão de fiscalização, vam habituados a receber dos auditores perma-
já que este órgão desempenha um importante necia sem alterações relevantes desde, sensivel-
papel na designação do auditor, na supervisão e mente, o segundo quartel do seculo XX – aqui-
acompanhamento do seu trabalho bem como, de lo que constituía um formulário de CLC, bas-
forma igualmente essencial, na supervisão do tante padronizado.
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Este singelo documento, que na esmagadora gunta que ocorre é saber onde andava o auditor.
maioria dos casos não ultrapassa as duas pági- A título de exemplo, se o documento tivesse
nas, seria o culminar de um trabalho de aplica- concluído que as contas estavam em conformi-
ção de procedimentos de auditoria, corrobora- dade com o normativo aplicável, informação
dos por um conjunto relevante de testes, subs- que decorreria da leitura do dito formulário e tal
tantivos e de conformidade, com vistas a reco- padrão não era diferente do texto do formulário
lha de prova de auditoria, suficiente e apropria- utilizado pela empresa concorrente, que se man-
da, inserido num planeamento de trabalhos, de- teve no mercado, então parece aparentar que
senvolvido pelo auditor e consubstanciando na nada teria sido detectado pelo auditor em cauda
formulação de um conjunto de juízos profissio- da empresa que colapsou.
nais relativos às asserções contidas nas demons-
trações financeiras, da responsabilidade do ór- Será assim? Não existiriam diferenças? Será
gão de gestão, por forma a permitir obter uma que o auditor desempenhou bem as suas fun-
conclusão sobre as desmonstrações financeiras ções? Como é que o auditor endereçou o risco
como um todo. subjacente? A auditoria significa confirmar a
viabilidade da empresa? Todo este conjunto de
Tal conclusão, clara e inequívoca, é devidamen- perguntas são legítimas e geram, de facto, dife-
te expressa no referido documento. rentes expectativas de resposta.

Porém, sem conceder neste objectivo de clareza A informação que permite, muitas vezes, satis-
quanto à conclusão inequívoca sobres as res- fazer a resposta a estas questões relevantes não
pectivas demonstrações financeiras, pouco se está, desde logo, acessível aos investidores por-
sabe sobre como o auditor desenvolveu o seu que estes não recebem qualquer explicação so-
trabalho na empresa em causa. bre estas matérias, por parte do auditor, sendo
antes confrontados com o tal singelo relatório
O documento, muitas vezes visto como formu- que pouco contém sobre as mesmas.
lário, não permite transparecer todo um con-
junto de tarefas e julgamentos sobre áreas críti- A alteração na forma de comunicação e a pres-
cas que o auditor teve de efectuar para poder tação de informações que possa satisfazer estas
chegar à conclusão global que transmite. necessidades formam, indubitavelmente, a mais
importante revolução que se fará sentir no sec-
Nesse enquadramento, compreende-se que pos- tor da auditoria.
sa dar lugar a diferentes expectativas, formula-
das por terceiros, do que deveria ter sido o tra- Esta revolução será sentida com os novos con-
balho do auditor, do que foi efectivamente o teúdos definidos para a CLC que a reforma pre-
trabalho do auditor e de como este, em cada vê, permitindo assim, com este reforço de trans-
momento, com toda a informação que recolheu, parência, contribuir para a incrementação da
em cada data, pôde concluir, da forma como confiança dos investidores e um melhor enten-
concluiu. Aquilo que há muito se designa, na dimento do trabalho do auditor3.
linguagem anglo-saxónica, por expectation gap.
O novo relatório deixa assim de ser um docu-
Estas diferentes expectativas acabam por ser mento singelo e de alguma forma “hermético” e
mais sentidas quando uma empresa entra em passa a ser um documento adaptado que permi-
dificuldades financeiras, ou mesmo quando aca- te partilha de conhecimento do que foi a activi-
ba por colapsar. Neste cenário, a primeira per- dade de auditoria em concreto, na entidade em

3- Além do desenvolvimento de conteúdos sobre a CLC, a nova legislação institui um relatório mais extenso, a ser elaborado pelo auditor a
ser dirigido ao órgão de fiscalização (artigo 11º do Regulamento UE n.º 537/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Abril).
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causa, em função dos diferentes juízos que o Clarificando este ponto, importa escalpelizar os
auditor teve de formular especificamente para novos conteúdos e a forma como estes se en-
aquelas demostrações financeiras abrangidas contram organizados.
pelo trabalho.
IV – C••••••• •" C•#•$%$&"'(•
Os Relatórios de Auditoria ou CLC passam a )•*") •" C•••" •+ R•)"•,#$•
ser um instrumento que confere maior utilidade •• A+•$••#$"
aos investidores e que não deve ser descurado
na atenção que merece por parte destes. A legislação aplicável (artigo 45º do EOROC)
define os conteúdos que devem estar contidos
Importa, porém, ter em consideração que não é na CLC.
só ao auditor que compete apresentar informa-
ção que ajudem os investidores a melhor enten- Temos, desde logo, as matérias identificadas no
der o papel de actuação dos diferentes interve- referido artigo bem como, uma disposição
nientes e compreender a entidade. O órgão de igualmente relevante, prevista na alínea 8 do
gestão assistiu, igualmente, ao robustecimento artigo 45º do EOROC, que é a aplicação das
dos conteúdos dos respectivos relatórios e con- Normas Internacionais de Auditoria (doravante
tas4. Incrementa-se igualmente a expectativa “ISA”).
dos conteúdos que o próprio órgão de fiscaliza-
ção irá incluir no seu relatório, para explanar a Em concreto, passa a ser aplicável a ISA 700 –
actividades desenvolvida. Formar uma Opinião e Relatar sobre Demons-
trações Financeiras e a ISA 701 – Comunicar
É assim, no presente contexto, que surge o re- Matérias Relevantes de Auditoria no Relatório
forço, muito bem-vindo, dos conteúdos da CLC do Auditor Independente.
e a sua forma de apresentação.
A adopção das ISAs é essencial para se com-
Importa, antes do mais, esclarecer os termos em preender a interacção existente entre as disposi-
que o documento deve ser intitulado – Relatório ções legais e estas normas, no sentido de as in-
de Auditoria ou Certificação Legal das Contas. terpretar como similares, complementares ou
alternativas.
A legislação veio a clarificar esta matéria, pas-
sando a designar-se por “Certificação Legal das O artigo 45º dos EOROC, que regula a CLC,
Contas” ao produto resultante da revisão (ou visou transpor para a ordem jurídica interna
auditoria) às demonstrações financeiras que disposição similares existente na Directiva co-
decorram de um dever legal ou estatutário5 e munitária.
por “Relatório de Auditoria” à revisão (ou audi-
toria) às demonstrações financeiras que não Nesse sentido, importa ter presente que o
resultem da lei mas sim de forma voluntária6. artigo 28º da Directiva n.º 2006/43/CE, com

4- Reformulação dos conteúdos do Relatório de Gestão previstos no Código das Sociedades Comerciais bem como nas divulgações
exigidas pelos normativos contabilísticos, seja as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS) seja o Sistema de Normalização
Contabilística Nacional

5- Artigos 44º/4 e 45º do EOROC

6- Artigo 45º/9 do EOROC


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a redacção dada pela Directiva n.º 2014/46/UE, específica que use um formato ou redacção es-
define os conteúdos mínimos que devem obede- pecíficos no seu relatório, esse relatório só se
cer todas as CLC emitidas na União Europeia. deve referir às Normas Internacionais de Audi-
No caso específico das Entidades de Interesse toria se incluir, no mínimo, todos os seguintes
Público, o artigo 10º do Regulamento UE n.º elementos…” (devidamente elencados).
537/2014, exige conteúdos adicionais.
Assim, existem sempre duas fontes de regula-
Tendo presente que a adopção das ISAs, na Eu- mentação que importa considerar quanto aos
ropa, carece ainda de um procedimento de im- conteúdos da CLC, a legislação nacional e as
plementação, a ser desencadeado pela Comis- ISAs, que abordaremos em conjunto e por tema
são Europeia, não sendo assim, ainda, uma rea- por forma a auxiliar a ilustração da respectiva
lidade comum, o legislador comunitário sentiu aplicação.
necessidade de, pelo menos na CLC, definir um
enquadramento harmonizado. Comecemos pelo regime aplicável a todas as
CLC e, subsequentemente, abordaremos o caso
Para o efeito, socorreu-se de disposições simila- específico das PIE.
res existentes no normativo internacional de
auditoria, permitindo assim antecipar um regi- IV.1 – C•#•$%$&"'(• )•*") •" C•••"
me harmonizado, pelo menos no que toca ao
produto final a apresentar pelo auditor, que é Todas as CLC devem conter as seguintes com-
indubitavelmente o seu relatório. ponentes identificadas.

Assim se pode entender as diversas disposições a) Título


como se irá demonstrar. O documento deve conter um título (ISA
700.50.a), sendo que será CLC ou Relatório de
Como Portugal decidiu, desde logo, adoptar as Auditoria, conforme a natureza legal ou faculta-
ISAs ao definir que “enquanto não forem adop- tiva da revisão de contas efectuada (artigo 45º/1
tadas pela Comissão Europeia, as normas in- e 9 do EOROC).
ternacionais de auditoria são directamente
aplicáveis”7, a matéria terá de ser devidamente b) Destinatário
enquadrada por forma a se poder compreender, O documento deverá ter um destinatário, con-
em toda a plenitude, a referida aplicação. forme exigido pelas circunstâncias do trabalho
(ISA 700.50.b).
Ao ter sido transposto para o ordenamento jurí-
dico nacional os requisitos mínimos que devem c) Identificação da entidade, contas
de obedecer as CLC, através do EOROC, passa- e normativo contabilístico
mos a ter uma situação de aplicação imperativa O relatório deve identificar a entidade cujas
pelo que, no âmbito e alcance da ISA 700, pas- contas são objecto de revisão legal das contas,
sa a aplicar-se o seu parágrafo 50. especificando as demonstrações financeiras ob-
jecto de auditoria com a respectiva data de refe-
Tal parágrafo refere que “se for exigido ao au- rência e a estrutura de relato financeiro que se
ditor por lei ou regulamento de uma jurisdição aplica8 (n.º 2/a do art.º 45º do EOROC e ISA
700.50c/d).

7- N.º 8 do artigo 45º dos EOROC, com a redacção dada pela Lei n.º 140/2015, de 7 de Setembro.

8- Se as contas aplicam as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), se aplicam a Normas de Contabilidade e Relato Financeiro
(NCRF) ou as NCRF para pequenas entidades (NCRF-PE) ou qualquer outro relato financeiro aplicável.
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d) Opinião A opinião versa sobre “i) se as contas dão uma


O relatório deve ter uma secção de opinião que imagem verdadeira e apropriada, de acordo
contenha a expressão de uma opinião sobre as com a estrutura de relato financeiro aplicável;
demonstrações financeiras (ISA 700.50/c e n.º ii) se for caso disso, se as contas cumprem os
2/c do artigo 45º do EOROC). requisitos legais” (art.º 45/c do EOROC).

A secção da opinião passa a figurar no início do e) Bases para Opinião


documento, ao contrário do que era apresentado Quando aplicável, deve ser apresentada uma
no modelo até então seguido. Efectivamente, o secção de Bases para Opinião com reservas (ou
leitor acede de forma imediata à opinião de au- Opinião Adversa) (ISA 700.50g).
ditoria.
Quando a opinião é modificada, aplica-se a ISA
A opinião pode ser emitida com ou sem reser- 705 - Modificações à Opinião no Relatório do
vas, ou constituir uma opinião adversa. Quando Auditor Independente sendo divulgado, no do-
não for possível emitir uma opinião, a forma cumento, uma fundamentação para a modifica-
será de “escusa de opinião”. ção de opinião apresentada, identificando-se
todas as circunstâncias que levam o auditor a
Com efeito, nos termos do art.º 45/4 do não poder concluir que as demonstrações finan-
EOROC, o revisor deve “escusar-se, de forma ceiras dêem uma imagem verdadeira e apropria-
fundamentada, a emitir opinião de auditoria e da.
declarar a impossibilidade de certificação legal
de contas quando conclua ser inexistente, ser f) Ênfase e Outras Matérias
significativamente insuficiente ou ter sido ocul- Em paralelo, o documento deve descrever
tada matéria de apreciação, só podendo emitir quaisquer outras questões para as quais o revi-
certificação legal de contas em data posterior sor deva chamar a atenção, sob a forma de ênfa-
caso as contas sejam entretanto disponibiliza- se, sem que tal qualifique a opinião de auditoria
das e supridas as insuficiências identificadas (art.º 45º/d do EOROC).
aquando da escusa”.
A necessidade de emitir ênfases é regulada pela
Fica assim também clarificada a possibilidade ISA 706 – Parágrafos de ênfases e Parágrafos
de voltar a emitir nova CLC, caso tenham sido de Outras Matérias no Relatório do Auditor
supridas as limitações que levaram o auditor a Independente.
não poder emitir opinião. Até então existiam
dúvidas quanto ao conceito de “certificação Importa clarificar que as ênfases são matérias
legal das contas com escusa de opinião” e que “no julgamento do auditor, é de importân-
“impossibilidade de certificação legal das con- cia tal que é fundamental para a compreensão
tas”, com especial enfoque no facto de, ao ser das demonstrações financeiras por parte dos
ter emitido uma “certificação legal as contas”, utilizadores” (ISA 706.7a).
mesmo sob a forma de escusa de opinião, não
poder ser emitida nova “certificação legal das A inclusão de informações como ênfases é pos-
contas”, tendo em conta o facto de esta ser do- sível desde que “não seja exigido ao auditor
tação de fé pública não poder assim ser altera- que modifique a opinião” de acordo com a ISA
da, situação que também foi revogada. 706 ou que, quando se aplica a ISA 701, a
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matéria não for determinada como “uma maté- que o auditor é independente da entidade, nos
ria relevante de auditoria” a incluir no relatório termos dos requisitos éticos relevantes relativos
do auditor (retomaremos este tema adiante). O à auditoria, e que cumpriu com as restantes res-
objectivo é clarificar o que se deve incluir em ponsabilidades, de acordo com esses requisitos
cada secção e não se suscitar dúvidas ao leitor (ISA 700.50.e). Tal declaração deve identificar
da clareza da opinião a apresentar. a jurisdição de origem dos requisitos éticos re-
levantes (Portugal sendo o caso) ou referir-se ao
Adicionalmente, podem existir aquilo que se Código do IESBA9.
designam por “outras matérias”, isto é situa-
ções que “não as matérias que estão apresenta- i) Continuidade da empresa Auditada
das ou divulgadas nas demonstrações financei- O documento deve igualmente “incluir uma
ras que, no seu julgamento, [seja] relevante declaração sobre qualquer incerteza material
para a compreensão da auditoria, da responsa- relacionada com acontecimentos ou condições
bilidades do auditor ou do seu relatório por que possam suscitar dúvidas significativas so-
parte dos utilizadores”, desde que, “não seja bre a capacidade da entidade para dar conti-
proibido por lei ou regulamento e, quando apli- nuidade às suas actividades” (art.º 45/2/f do
cável a ISA 701, a matéria não for determinada EOROC).
como uma matéria relevante de auditoria a in-
cluir no relatório do auditor” (ISA 706.10). A ISA 700.50.f também se refere à necessidade
de uma secção que aborde a mesma temática,
Estas “outras matérias” devem ser claramente porém refere “se for aplicável”.
distinguíveis de ênfases, numa secção separada
com o título apropriado (ISA 706.11) e não ser Quer uma disposição, quer outra, não são dife-
deve confundir como “matérias relevantes de rentes e traduzem exactamente a mesma reali-
auditoria” (ISA 701). dade.

g) Âmbito da Revisão legal das Contas Com efeito, não é exigível que a revisão legal
O documento deve incluir uma descrição do das contas ateste a viabilidade da empresa. O
âmbito da revisão legal das contas onde se iden- artigo 44º/5 do EOROC é peremptório ao afir-
tifique, no mínimo, as normas de auditoria se- mar que “a revisão legal das contas não inclui
gundo as quais foi realizada (n.º 2/b do artigo uma garantia quanto à viabilidade futura da
45º do EOROC). No caso em apreço a revisão entidade auditada, nem quanto à eficiência ou
legal das contas, em Portugal, para as auditorias eficácia como que o órgão de administração
sobre as demostrações financeiras que iniciaram conduziu as actividades da entidade auditada.”
o período contabilístico em, ou após 1 de Janei- Sendo assim importa analisar o objectivo da
ro de 2016, deve ser efectuada de acordo com referida alínea f) do n.º 2 do artigo 45º do
as normas internacionais de auditoria, tal como EOROC, supra citada, a propósito do tema da
emitidas pelo International A uditing and A ssu- continuidade a inserir no documento.
rance Standards Board (IAASB).
Se analisarmos atentamente a referida disposi-
h) Declaração e Independência ção, essa não é diferente do preconizado na ISA
O documento deve conter uma declaração de 570 – Continuidade.

9- International Ethics Standard Board for Accountants


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Esta norma aborda a responsabilidade do audi- capítulo específico, sobre os objectivos da revi-
tor no âmbito de uma auditoria de demonstra- são legal das contas.
ções financeiras no que respeita à continuidade,
da entidade auditada, e as implicações no rela- Sendo um tema sensível, importa tomar em
tório do auditor. consideração alguns aspectos complementares.

Os objectivos da norma são claros. De um lado, A aferição da aplicação do princípio da conti-


obter prova de auditoria suficiente e apropriada nuidade deve ser efeito, desde logo, pela gerên-
do uso adequado, pela gerência, do pressuposto cia ou órgão de gestão. Assim o exige o norma-
da continuidade e, de um outro, concluir, com tivo contabilístico, seja nacional (ponto 2.2.1 do
base nessa prova, se existe “uma incerteza ma- anexo ao Sistema de Normalização Contabilísti-
terial relacionada com acontecimentos que co- ca12) seja internacional (Norma Internacional de
loquem dúvidas significativas sobre a capaci- Contabilidade “IAS” n.º 1, parágrafo 25).
dade da entidade para prosseguir em continui-
dade” e, finalmente, “reportar de acordo com O normativo contabilístico nacional estabelece
esta ISA [570]”. que o “órgão de gestão deve, em geral, divul-
gar as incertezas materiais relacionadas com
Assim, os conceitos são os mesmos, partilhando acontecimentos ou condições que possam lan-
objectivos comuns, visando a Directiva (que foi çar dúvidas significativas acerca da capacida-
transposta para o ordenamento jurídico nacio- de da entidade em prosseguir como uma enti-
nal) antecipar, no tempo, a obrigação de reporte dade em continuidade.”. Situação similar se
em toda a União Europeia deste importante te- aplica no normativo internacional (IAS 1.25).
ma, conferindo por isso um grau mínimo de
harmonização10. Quando as demostrações financeiras não sejam
preparadas no pressuposto da continuidade, es-
Não se pretendeu, como a ISA também não pre- se facto deve ser igualmente divulgado, junta-
tende, que seja atestada uma declaração de via- mente com os fundamentos pelos quais as de-
bilidade, como comprova a disposição supra mostrações financeiras foram preparadas e a
citada do artigo 45 do EOROC11. razão por que a entidade não é considerada co-
mo estando em continuidade.
Assim, o reporte será sempre na exacta medida
de existir tais “incertezas materiais”. Caso não É, neste preciso contexto, que melhor se enten-
existam, não se aplica o reporte, não deixando de o que se espera do auditor.
porém de ser mencionado que faz parte das res-
ponsabilidades do auditor aferir se existem tais Com base na prova de auditoria recolhida, se as
incertezas, na secção dedicada às suas responsa- demonstrações financeiras foram preparadas no
bilidades. pressuposto da continuidade mas, no julgamen-
to do auditor, o uso pela gerência desse pressu-
Caso se entendesse que o auditor teria de atestar posto não é apropriado, o auditor deve exprimir
a continuidade, dando uma opinião expressa uma opinião adversa (ISA 570.21). Neste caso
sobre a mesma, então estaríamos em contradi- extremo, tal matéria deve ser inscrita na secção
ção com a própria lei e o que esta define, neste das bases para emissão da opinião adversa e

10- Independentemente de os Estados-membros terem adoptado as ISAs ou antecipando, nessa parte, uma futura decisão da Comissão
Europeia em adoptar as ISAs.

11- Com igual destaque no artigo 25º-A da Directiva 206/43/CE do Parlamento Europeu e do Conselho.

12- Decreto-Lei n.º158/2009, de 13 de Julho.


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não em secção autónoma sobre o tema da conti- reservas ou uma opinião adversa, conforme o
nuidade (ISA 700.50.g). caso, de acordo com a ISA 705 e, na secção do
relatório “Bases para Opinião com Reservas
Se o uso do pressuposto da continuidade for (ou Adversa se for esse o caso13), mencionar
apropriado mas existir uma incerteza material e, que existe uma incerteza material que pode co-
cumulativamente, for feita divulgação apropria- locar dúvidas significativas sobre a capacidade
da da incerteza material nas demonstrações fi- da entidade para prosseguir em continuidade e
nanceiras, o auditor deve expressar uma opinião que as demonstrações financeiras não divul-
não modificada, mas deve inserir em secção gam a matéria de forma apropriada.
separada no seu relatório uma chamada de aten-
ção para a nota nas demonstrações financeiras Como se verifica, dependendo das circunstân-
sobre esta matéria e, também, “mencionar que cias, existindo incertezas materiais, o auditor
esses acontecimentos ou condições indicam que menciona este tema na secção que for aplicável,
existe uma incerteza material que pode colocar ou na secção das Bases para emissão da Opini-
dúvidas significativas sobre a capacidade da ão (com Reservas ou Adversa) ou em secção
entidade em prosseguir em continuidade e que autónoma, no tema da continuidade, se não for
a sua opinião não é modificada com respeito a matéria que modifique a sua opinião.
essa matéria” (ISA 570.22).
Num caso extremo, se as demonstrações finan-
Atente-se que no que respeita à própria nota das ceiras tiverem sido preparadas usando o pressu-
demonstrações financeiras, onde o órgão de posto da continuidade mas, no julgamento do
gestão deve apresentar esta matéria, o auditor auditor, “o uso pela gerência desse pressuposto
deve analisar se a mesma “divulga claramente não é apropriado, o auditor deve expressar
que existe incerteza material relacionada com uma opinião adversa” (ISA 570.21)
acontecimentos ou condições que podem colo-
car dúvidas significativas sobre a capacidade Foi exactamente tendo presente estas diferentes
da entidade em prosseguir em continuidade e possibilidades que o legislador optou por uma
que, por isso, a entidade poderá não ser capaz redacção mais abrangente, sem impor que tal
de realizar os seus activos e liquidar os seus “declaração”, quando aplicável, fosse contem-
passivos no âmbito norma da actividade” e, plada em alguma secção específica já que tal
também se as desmonstrações financeiras dependeria da situação com que o auditor se
“descrevem adequadamente ou acontecimentos confrontasse.
ou circunstâncias que podem colocar dúvidas
significativas sobe a capacidade da empresa j) Relatório de Gestão
em prosseguir em continuidade e os planos da O relatório deve igualmente incluir, “com base
gerência para tratar esses acontecimentos ou nos trabalhos realizados durante a revisão le-
condições.” (ISA 570.19). gal das contas: i) parecer sobre a coerência do
relatório de gestão com as contas do mesmo
Caso o uso do pressuposto da continuidade te- período e sobre a sua elaboração de acordo
nha sido apropriado, mas existe uma incerteza com os requisitos legais e ii) declarar se foram
material e não tenha sido feita divulgação apro- identificadas incorrecções materiais no relató-
priada da mesma nas demonstrações financei- rio de gestão e, em caso afirmativo, indicação
ras, o auditor deve expressar uma opinião com sobre a natureza de tais incorrecções” (artigo

13- Nas situações em que esta ausência seja de tal forma perversiva que coloque em causa a imagem verdadeira e apropriada das
demonstrações financeiras.
74 : C+&!$/#6 &# M!$8+&# &! V+;#$!6 M#<*;*=$*#6

45º/2/e do EOROC e ISA 700.50.i)14. Porém, além de um trabalho de verificação se a


gestão endereçou todos os pontos exigidos (tipo
O relatório de gestão é um documento onde a check list), bem como a coerência dos respecti-
gerência tem oportunidade de explanar o seu vos conteúdos em função do que a lei determi-
ponto de vista e a sua posição de análise e justi- na, face ao conhecimento adquirido durante os
ficação quanto à performance da empresa, es- trabalhos de revisão legal das contas, não se
tratégia seguida, riscos que incorreu e forma de exigem testes específicos adicionais, face ao
gerir os mesmos, entre outros aspectos defini- trabalho de auditoria já realizado, isto é, não se
dos pelo enquadramento que regula os conteú- exige qualquer trabalho que poderia ser enten-
dos do relatório de gestão.15 dido como uma “auditoria de gestão”.

Decorrente dos trabalhos realizados durante a Este aspecto, se não for devidamente tomado
revisão legal das contas, trabalhos esses defini- em consideração, pode ser matéria susceptível
dos pelo normativo aplicável aos procedimentos de gerar diferentes expectativas, especialmente
de auditoria, neste caso as ISA (que abrangeram em situações em que a gestão possa ter sido
as demonstrações financeiras), o auditor recolhe parca na explanação da sua estratégia e apresen-
um conjunto de informação que permite, a par- tação da sua performance, mas deu resposta a
tir dessa informação, analisar se o que é trans- todos os requisitos exigíveis e, alguém interes-
mitido pela gestão é coerente com o que lhe foi sado, gerar a expectativa de que tal informação
dado a observar. teria sido insuficiente.

Na primeira parte, o auditor verifica assim a Quem determina essa suficiência ou insuficiên-
conformidade entre a informação financeira cia do requisito, quando é dado cumprimento ao
transmitida no relatório de gestão e a informa- mesmo? Como se pode aferir tal completude?
ção apresentada nas desmonstrações financeiras Em muitos casos, as divulgações contidas nas
auditadas, situação que já se encontrava previs- demonstrações financeiras, essas sim objecto de
to no normativo até então vigente. auditoria, asseguram esse requisito, pelo que a
expectativa face ao trabalho do auditor é anali-
Situação nova decorre da análise de cumpri- sar se a informação que a gestão transmite não é
mento dos requisitos aplicáveis aos relatórios distorcida ou antagónica face ao que está paten-
de gestão. te nas contas.

Nesse contexto, o auditor analisa se a gestão Numa legislação que procura maior transparên-
endereça adequadamente os requisitos quanto cia e obviar ao gap de expectativas, sem sombra
aos conteúdos que são exigidos pelo normativo de dúvida, que teve o cuidado de iniciar esta
que regula a elaboração do relatório de gestão nova exigência com a frase de que tal será efec-
(teste de cumprimento) e, simultaneamente, tuado “com base nos trabalhos realizados du-
afere se a informação transmitida é consistente rante a revisão legal das contas” e não de
com as contas bem como compatível com a in- quaisquer outros trabalhos.
formação que o auditor foi recolhendo, da mes-
ma gestão e da empresa, ao longo dos trabalhos O artigo 34º/1/b da Directiva 2013/44/UE do
de revisão legal das contas16. Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de

14- Esta mesma disposição encontra-se igualmente replicada na alínea e) do número 3 do artigo 451º do Código das Sociedades
Comerciais, constituindo assim mais uma fonte de regulação destas matérias.

15- Artigos 66º (contas individuais) e 508º-C (contas consolidadas), ambos do Código das Sociedades Comerciais.

16- Estes procedimentos são efectivamente desenvolvidos pela ISA 720 – As Responsabilidades do auditor Relativas a Outra Informação.
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Junho de 201317, é mais explícito e clarificador O conhecimento desta informação, pelo auditor,
referindo mesmo que o auditor “indica se, ten- decorre dos elementos que este tem de recolher
do em conta o conhecimento e a apreciação da para aferir da identificação de partes relaciona-
empresa e do seu ambiente que obteve durante das, no decurso dos seus trabalhos de auditoria.
a auditoria, identificou incorreções materiais Pelo que a verificação do cumprimento deste
no relatório de gestão, e dá indicações quanto requisito é igualmente compatível com a verifi-
à natureza de tais incorreções”. cação da consistência desta informação com
aquilo que lhe foi dado a conhecer no âmbito do
Esse é, indubitavelmente, o que se pretende do seu trabalho.
auditor neste capítulo concreto.
No que se refere às seguintes alíneas contem-
k) Relatório do Governo das Sociedades pladas o auditor analisa se o órgão de gestão
O artigo 45º/2/h define que o auditor inclua, se presta informação no relatório do governo das
aplicável18, “parecer sobre o conteúdo do rela- sociedades e verifica:
tório de governo das sociedades”. · “Eventuais restrições em matéria de direito
de voto, tais como limitações ao exercício do
Sobre a mesma matéria, existe uma disposição voto dependente da titularidade de um nú-
que densifica o que se pretende do auditor e mero ou percentagem de acções, prazos im-
que, verdadeiramente, constitui a transposição postos para o exercício do direito de voo ou
para o direito português de requisitos comunitá- sistemas de destaque de direitos de conteúdo
rios nesta vertente19. patrimonial” (artigo 245-A/1/f do Cód.VM).
· “Regras aplicáveis à nomeação e substitui-
Neste aspecto preciso, pretende-se que o auditor ção dos membros do órgão de administra-
ateste se o relatório do governo das sociedades ção e à alteração dos estatutos da socieda-
inclui os elementos exigíveis nos termos do de” (artigo 245º-A/1/h do Cód.VM);
artigo 245.º-A do Código dos Valores Mobiliá- · “Poderes do órgão de administração, nome-
rios bem como que seja dado “parecer sobre o adamente no que respeita a deliberação de
cumprimento das alíneas c), d), f), h), i) e m) do aumento de capital” (artigo 245º-A/1/i do
mesmo artigo”. Cód.VM);

O cumprimento das alíneas em causa não é Trata-se de informação que decorre necessaria-
mais do que a verificação se as mesmas são mente dos Estatutos da sociedade e que estão,
divulgadas e se são coerentes com a informação inerentemente, no âmbito dos trabalhos do audi-
que resultou dos trabalhos de revisão legal das tor, tendo em conta o conhecimento que este
contas. tem de adquirir sobre o funcionamento da em-
presa, pelo que o auditor pode testar a corres-
A informação exigida pela alínea c) do referido pondência da mesma com os documentos de
artigo é sobre “participações qualificadas no suporte que recolheu.
capital da sociedade”. Essa informação é divul-
gada pela gestão tal como foi recebida pelos No que diz respeito à alínea m) do artigo 245.º-
accionistas e decorrente do cumprimento, por A do Cód.VM, o órgão de gestão deve apresen-
estes, do artigo 16º do Cód.VM ou do artigo tar no seu relatório de governo das sociedades
448º do Código das Sociedades Comerciais. uma descrição dos “principais elementos dos

17- Disposição que se pretendeu transpor para o direito nacional nas referências citadas (EOROC e Código das Sociedades Comerciais).

18- Nem todas as entidades estão sujeitas ao dever de publicação do relatório de governo das sociedades (artigo 245º-A do Código dos
Valores Mobiliários, doravante Cód.VM).

19- Em concreto o artigo 451º do Código das Sociedades Comerciais.


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sistemas de controlo interno e de gestão de responsabilidade do órgão de gestão, pela pre-


risco implementados pela sociedade relativa- paração das demonstrações financeiras21 e a
mente ao processo de divulgação de informa- responsabilidade do órgão de fiscalização pela
ção financeira”. “fiscalização da eficácia do sistema de controlo
de qualidade interno e de gestão do risco e, se
Tratando-se de informação meramente descriti- aplicável de auditoria interna, no que respeita
va, compete ao auditor verificar se a ao processo de preparação e divulgação de
“descrição” corresponde, de facto, ao que o informação financeira” 22 .
mesmo auditor verificou no âmbito dos seus
trabalhos de auditoria. Os trabalhos de auditoria m) Descrição das responsabilidades
exigem que o auditor obtenha um conhecimento do auditor/revisor
do controlo interno (ISA 315.11). A ISA 700.50.k exige que seja divulgada uma
referência às ISA e à lei ou regulamento e uma
O parecer a emitir não constitui assim uma descrição das responsabilidades do auditor nu-
apreciação sobre a eficácia ou eficiência do pro- ma auditoria de demonstrações financeiras ou
cesso de controlo interno sobre o sistema de revisão legal das contas.
divulgação de informação financeira, não cor-
respondendo assim ao que se possa ser designa- Deve ser declarado os objectivos do auditor em
do por uma “auditoria ao sistema de controlo a) obter segurança razoável sobre se as demons-
interno do reporte financeiro” exigível, por trações financeiras como um todo estão isentas
exemplo, para as instituições financeiras ou de distorções materiais, devido a fraude ou erro
mesmo o que é exigível no mercado americano, e emitir relatório que inclua a sua opinião, b)
designado por ICOFR (Internal Control Over que garantia razoável é um nível de garantia
Financial Reporting)20. elevado, mas “não é uma garantia que assegure
que uma auditoria efectuada de acordo com as
Assim, todos os itens onde se exige uma verifi- ISA detecte sempre uma distorção material
cação do auditor não se exige trabalho adicional quando exista; c) que as distorções podem re-
já que tal verificação decorre do conhecimento sultar de fraude ou erro e descrever que são ma-
adquirido no âmbito do desenvolvimento dos teriais se, individualmente ou em conjunto,
trabalhos de revisão legal das contas e não de houver expectativa de que tais distorções pos-
qualquer outro trabalho adicional especial. sam razoavelmente influenciar as decisões eco-
nómicas dos utilizadores tomadas na base des-
l) Descrição das responsabilidades sas demostrações financeiras (ISA 700.38).
da gerência e órgão de fiscalização
A ISA 700.50.j exige que seja prestada O auditor apresenta ainda uma informação mais
“informação sobre as responsabilidades da desenvolvida das suas responsabilidades por
gerência pela preparação das desmonstrações cada tópico relevante de áreas de auditoria (ISA
financeiras e uma identificação dos indivíduos 700.39 e 40).
responsáveis pela supervisão do processo de
relato financeiro”. n) Nome do auditor e assinatura
Além da identificação e do local onde está
Em concreto o documento deve identificar a estabelecido o revisor oficial de contas ou a

20- Exigido para determinadas entidades registadas na SEC, conforme secção n.º 404 do Sarbanes-Oxley Act e cujo trabalho do auditor
encontra-se definido na Norma de Auditoria emitida pelo US PCAOB n.º 5 (AS 5).

21- Artigo 65º do Código das Sociedades Comerciais.

22- Alínea c) do artigo 3º da Lei n.º 148/2015, de 9 de Setembro.


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a sociedade de revisores oficiais de contas tais que possam ter surgido em relação a esses
(artigo 45.º/1/g, ISA 700.50.n), deverá sempre riscos (artigo 10º/c e ISA 700.50.h).
igualmente identificado o revisor que subscreve
o relatório de auditoria ou CLC, excepto se a A mesma disposição legal acrescenta ainda que,
CMVM determinar que a identificação do sócio caso seja relevante para tais informações, no
responsável poder ocasionar uma ameaça imi- que se refere a cada risco avaliado de distorção
nente e significativa para a sua segurança pes- matéria o auditor pode incluir uma referência
soal (artigo 128º do EOROC e ISA 700.50.l e para as divulgações relevantes incluídas nas
m). demonstrações financeiras.

IV.2 – C••••••• !"# %•& % ' ( C#)• ( Todo este tema foca-se no conceito de “riscos
'• PIE de distorção material”. Trata-se indubitavel-
mente, da matéria central em que uma auditoria
As CLC de Entidades de Interesse Público de- assenta. Efectivamente, as normas inerentes aos
vem conter, adicionalmente, os conteúdos defi- procedimentos de auditoria a seguir (ISA 300 a
nidos pelo artigo 10º do Regulamento UE n.º ISA 450) debruçam exactamente sobre os riscos
537/2014 do Parlamento Europeu e do Conse- e as respostas, pelo auditor, aos riscos avalia-
lho, de 16 de Abril que se apresentam detalha- dos.
dos.
Quando se fala em riscos, há que distinguir ris-
a) Órgão que nomeou o Revisor Oficial cos de negócio, que qualquer entidade auditada
de Contas enfrenta, de riscos de auditoria.
A CLC deve conter o nome do órgão que no-
meou o auditor (artigo 10º/1/a) que, nos termos O risco de negócio é o risco resultante das con-
gerais, será a Assembleia Geral ou, nos casos dições, acontecimentos, circunstâncias, acções
particulares de organismos de Investimento ou inacções significativas que possam alterar
Colectivo, a sociedade gestora. adversamente a capacidade de uma empresa
para atingir os seus objectivos e executar as
b) Data de nomeação e período de exercício suas estratégias, ou para fixar objectivos e es-
Considerando que a legislação impõem uma tratégias apropriados (ISA 315.4.d).
rotação dos auditores de PIE, passou a ser obri-
gatório a indicação da data de nomeação bem O risco de auditoria é a susceptibilidade de um
como o período de mandato, ininterrupto, inclu- auditor expressar uma opinião de auditoria e ela
indo renovações e reconduções anteriores do revelar-se inapropriada quando as demonstra-
revisor oficial de contas ou sociedade de reviso- ções financeiras estão materialmente distorci-
res oficiais de contas, conforme seja o caso das. O risco de auditoria é uma função dos ris-
(artigo 10º/1/b). cos de distorção material e do risco de detec-
ção (ISA 200.13m).
c) Matérias Relevantes de Auditoria
Como factor inovador, bastante relevante, a São sobre este último que a norma impõe a di-
legislação passou a exigir que seja apresentada: vulgação por parte do auditor. Porém, não são
“uma descrição dos riscos de distorção materi- todos os riscos de distorção material.
al mais significativos, incluindo os riscos apu-
rados de distorção material devido a fraude; Um risco significativo (no contexto de audito-
uma síntese da resposta do revisor a esses ris- ria) corresponde a um risco de distorção materi-
cos; e se relevante, as observações fundamen- al identificado e avaliado que, no julgamento do
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auditor, exige uma consideração especial no O auditor deve determinar, a partir das matérias
âmbito da auditoria (ISA 315.4.d). objecto de comunicação com os encarregados
da governação23, aquelas que lhe exigiram uma
A distorção corresponde a uma diferença entre atenção especial na execução da auditoria. Para
a quantia relatada, classificação, apresentação fazer essa determinação, o auditor deve ter em
ou divulgação de um item das demonstrações consideração: a) áreas avaliadas de risco eleva-
financeiras e o que o normativo aplicável exige do de distorção material, ou riscos significati-
sobre essa mesma quantia, classificação apre- vos identificados de acordo com a ISA 310; b)
sentação ou divulgação. As distorções podem julgamentos significativos do auditor relativos a
resultar de erro ou fraude (ISA 450.4). O que áreas das demonstrações financeiras que envol-
distingue a fraude do erro assenta no facto de se veram julgamentos significativos da gerência,
saber se a acção subjacente, que resulta na dis- incluindo estimativas contabilísticas que te-
torção das demonstrações financeiras, foi uma nham sido identificadas como tendo uma eleva-
acção intencional ou não intencional (ISA da incerteza de estimação; c) o efeito na audito-
240.2). ria de acontecimentos e transacções significati-
vas que ocorreram durante o período (ISA
Assim, independente de a natureza da distorção 701.9).
ser intencional (fraude) ou não intencional
(erro), o objectivo é, em primeiro lugar, identi- O auditor avalia assim, das matérias inerentes a
ficar, desde logo, os riscos de distorção material riscos de distorção material, as que foram de
e, destes, os mais significativos e, em última maior importância na auditoria das demonstra-
linha, os que mais atenção despertaram junto do ções financeiras do período corrente e, por isso,
auditor. são “matérias relevantes de auditoria” (ISA
701.10).
Dos diversos riscos de distorção material, que o
auditor toma em consideração para executar a O processo de tomada de decisão, para determi-
auditoria, existe assim um subconjunto que se nar “matérias relevantes de auditoria”, está
podem definir por significativos. concedido para seleccionar um “número peque-
no de matérias de entre as matérias comunica-
Neste contexto, importa analisar se este concei- das aos encarregados de governação”, basea-
to é diferente do conceito que é utilizado na das no julgamento do auditor acerca de quais as
ISA 701 – Comunicar Matérias Relevantes de matérias que foram mais importantes na audito-
Auditoria no Relatório do Auditor Independen- ria das demonstrações financeiras do período
te, sob o tema “matérias relevantes de audito- corrente (ISA 701.A9).
ria”.
O auditor pode desenvolver uma posição preli-
O conceito de “matérias relevantes de audito- minar na fase de planeamento acerca das maté-
ria” consiste nas “matérias que, no julgamento rias que provavelmente serão áreas de atenção
profissional do auditor foram as de maior rele- significativas na auditoria e, assim, poderem ser
vância na auditoria das demonstrações finan- matérias relevantes de auditoria, e pode partilhá
ceiras do período corrente. As matérias rele- -las com os encarregados da governação aquan-
vantes de auditoria são seleccionadas das ma- do da discussão do âmbito e calendários da au-
térias objecto de comunicação com os órgãos ditoria (ISA 260). Contudo a determinação das
de governação” (IAS 701.8). matérias relevantes de auditoria é baseada nos

23- A ISA 260.15 e ISA 260.A12 exigem que o auditor comunique com os encarregados da governação acerca dos riscos significativos que
identificou.
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resultados, concretos, da auditoria ou na prova efectivamente, revelem interesse para os utentes


obtida durante a auditoria (ISA 701.A16), sen- das demostrações financeiras.
do por conseguinte específica e concreta em
cada entidade e em cada ano. Assim, a obrigação de divulgação das matérias
relevantes de auditoria, prevista na ISA
Para aferir as matérias que exigem atenção es- 700.50.h é similar à obrigação de divulgação
pecial do auditor, este foca-se na natureza das prevista no artigo 10º/c do Regulamento Euro-
matérias comunicadas aos encarregados de go- peu acima referido.
vernação que estão ligadas a matérias divulgas
nas desmonstrações financeiras e que se preten- d) Eficácia da auditoria em detecção
de que reflictam áreas de auditoria que possam de irregularidades
ser de particular interesse para os utilizadores. O auditor deve proporcionar uma explicação de
Como as considerações estão inter-relacionadas em que medida a revisão legal de contas foi
(por exemplo as áreas avaliadas de risco eleva- considerada eficaz na detecção de irregularida-
do de distorção material ou risco significativos des, incluindo fraudes (artigo 10º/d).
com os julgamentos do auditor relativos a áreas
das desmonstrações financeiras que envolvam Como se verificou supra, a auditoria procura
julgamento significativo da gerência, incluindo endereçar os riscos de distorção das demonstra-
estimativas contabilísticas que tenham sido ções financeiras, sejam elas provindas de erro
identificadas como tendo uma elevada incerteza ou fraude. Tomando por base que uma distor-
de estimação, previstos na ISA 701.9, podem ção é, efectivamente, uma “irregularidade”, o
também ser identificadas como riscos significa- que se pretende é aferir em que medida a
tivos), a aplicabilidade de mais do que uma auditoria pode ser considerada eficaz nesse pro-
consideração a uma matéria comunicada com pósito.
os encarregados da governação, “pode aumen-
tar a probabilidade de o auditor considera essa Este tema remete-nos para os objectivos gerais
matéria como matéria relevante de audito- do auditor independente e condução e uma au-
ria” (ISA 701.A17). ditoria de acordo com as normas internacionais
de auditoria (ISA 200) e as responsabilidades
Podem ainda existir outras matérias comunica- do auditor relativas a fraude numa auditoria de
das aos encarregados de governação que exijam demonstrações financeiras (ISA 240).
atenção especial do auditor e que, por isso, po-
dem ser consideradas matérias relevantes de Numa auditoria ou revisão legal das contas, o
auditoria. Essas matérias podem incluir, por auditor deve manter cepticismo profissional ao
exemplo, áreas relevantes para a auditoria que longo de todo o seu trabalho, reconhecendo a
podem não ser exigidas divulgações nas de- possibilidade que possa existir uma distorção
monstrações financeiras, como sejam a imple- material devido a fraude, não obstante a sua
mentação e um novo sistema informático (ou experiência passada quanto à honestidade e in-
uma alteração significativa a este) passando a tegridade da gerência e dos encarregados de
ser, no período, uma área de atenção especial governação a entidade (ISA 240.12).
do auditor, em particular se essa mudança teve
um efeito significativo na estratégia de audito- Uma auditoria, conduzida de acordo com as
ria ou está relacionada com um risco significati- ISA assenta na premissa que a gerência e, quan-
vo (ISA 701.A18). do apropriado, os encarregados da governação
(órgão de fiscalização), têm responsabilidade
Convém ter porém presente que, do resultado pela determinação do controlo interno que
final, apenas serão um subconjunto menor que, necessário para possibilitar a preparação de
80 : C+&!$9#< &# M!$=+&# &! V+>#$!< M#?*>*@$*#<

demonstrações financeiras isentas de distorção esta matéria, à luz da ISA 240.


material devido a fraude (ISA 200.A2.b).
O auditor declara a sua convicção de que a pro-
Neste contexto, uma auditoria, não pode asse- va de auditoria obtida é suficiente e apropriada
gurar risco nulo já que existe sempre a suscepti- para proporcionar uma base para a opinião emi-
bilidade de poder existir distorções materiais tida. Esta declaração reflecte que entende que a
não detectadas, quer sejam motivas por erro, auditoria desenvolvida foi adequada, ou consi-
quer sejam por fraude, já que a segurança pro- derada eficaz, para os fins prosseguidos que é
porcionada é razoável mas não absoluta (ISA dar uma opinião, sustentada, que as demonstra-
200.A45). ções financeiras, como um todo, estejam isentas
de distorções materiais, quer sejam originada
O risco de detecção – variável controlada pelo por erros ou fraudes.
auditor que constitui a natureza, oportunidade e
extensão dos procedimentos que são determina- e) Confirmação de coerência com o relatório
dos pelo auditor para reduzir o risco de audito- remetido ao órgão de fiscalização
ria a um nível aceitavelmente baixo – pode ser O auditor encontra-se obrigado a apresentar um
reduzido mas não eliminado, dadas as limita- relatório mais detalhado ao órgão de fiscaliza-
ções inerentes de uma auditoria (ISA 200.A44). ção, conforme determina o artigo 11º do regula-
mento europeu em referência.
Assim, é essencial ter presente estes condicio-
nalismos pelo que a informação exigida pelo O relatório enviado ao órgão de fiscalização
Regulamento, neste ponto, visa endereçar esta não é público, podendo todavia ser remetido, a
matéria, não constituindo assim qualquer decla- pedido, às autoridades de supervisão da entida-
ração específica de que as demonstrações estão de auditada, pelo que para maior segurança dos
isentas de qualquer fraude já que, tal, seria pre- utentes das desmonstrações financeiras, que
sumir uma segurança absoluta o que não é de irão ter acesso apenas à CLC emitida pelo audi-
todo possível. tor, este deve confirmar que o parecer de audi-
toria emitido é coerente com a informação pres-
Por outro lado sendo a fraude uma das possibi- tada no relatório dirigido órgão de fiscalização
lidades de gerar distorções nas demonstrações (artigo 10/e).
financeiras e, quando detectadas ao mais alto
nível da organização, mas difíceis detectar, tal f) Matéria de independência
hipótese de declaração de que as contas estari- O auditor deve declarar que não foram presta-
am isentas de distorções devido a fraude seria dos serviços distintos de auditoria que possam
uma declaração e uma seguração, dir-se-ia, ser considerados proibidos, de acordo com a
maior do que absoluta, se é que se pudesse hi- legislação aplicável e que o revisor oficial de
perbolizar estes conceitos. contas ou a sociedade de revisores oficiais de
contas, conformo seja o caso, de manteve inde-
Não é seguramente o que se pretende com este pendente em relação à entidade auditada duran-
tema mas sim, de uma forma clara e fundamen- te a realização da auditoria. (artigo 10º/f).
tada24, a indicação de como este tema foi ende-
reçado, não só na temática quanto às matérias Caso não seja divulgado no relatório de gestão
relevantes de auditoria, anteriormente analisa- ou nas demonstrações financeiras, o auditor
das, mas como a auditoria procurou endereçar indicará no seu relatório todos os serviços, além

24- O preâmbulo ao Regulamento (UE) n.º 537/2014, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Abril (ponto 13) refere os objectivos
centrais destas disposições afirmando que “para aumentar a confiança das partes interessadas nas demonstrações financeiras da entidade
auditada, é particularmente importante que o relatório de auditoria ou certificação legal das contas seja bem fundamentado e solidamente
substanciado.”
81 : C+&!$9#< &# M!$=+&# &! V+>#$!< M#?*>*@$*#< O R!"#$%! &# A'&*%#$ : 81

da revisão legal das contas, que foram prestados mereceram a atenção especial do auditor e a
pelo revisor ou sociedade de revisores oficiais forma como foram por este endereçados, em
de contas em relação à entidade auditada e às concreto, permitem, sem sombra de dúvida,
entidades sob seu controlo. atenuar o diferencial de expectativas que, em
muitos casos, existe entre o que são as funções
V - C#)•%+("# dos auditores e o que os investidores pensam
que são as funções dos auditores e as respecti-
Esta nova legislação, a par dos desenvolvimen- vas expectativas de actuação e reporte.
tos prosseguidos nas normas internacionais de
auditoria, impõe uma nova CLC com conteúdos Não é uma reforma isenta de riscos, já que este
inovadores que não eram habitualmente divul- incremento de expectativas terá de ser acompa-
gados de forma tão estendida ao público em nhado por uma adequada comunicação e ambi-
geral. entação a estes novos conteúdos, por forma a
não surgirem como elementos passíveis de dis-
Esta inovação é bastante positiva já que permite torção se não forem convenientemente enqua-
ao auditor explanar o racional do seu trabalho, drados.
servindo de instrumento de comunicação que
ajuda a incrementar a transparência e poderá Porém, não deixa de ser um momento histórico
contribuir para atenuar aquilo que usualmente determinante de modernização da função de
se denomina de expectation gap, contribuindo, auditoria, permitindo uma ferramenta de comu-
igualmente, para o reforço ou restauração, em nicação essencial que materializa a importância
muitos casos, da confiança dos utentes das de- que esta função tem na credibilização das de-
monstrações financeiras, depois de terem sido, monstrações financeiras e na contribuição para
de alguma forma, abalados com a crise sentida o aumento da transparência. O relatório produ-
nos mercados financeiros. zido passa a ser um elemento útil e relevante
com valor acrescentado aportado pelo auditores
Assim, informações quanto aos riscos de distor- onde este podem, por essa via, diferenciar-se
ção material significativos identificados que concorrencialmente.

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