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GINEAD
Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva
SST Unidade 1 - Origem, características e conceitos da
auditoria / Fernanda Gualda Moreno;
Beatriz da Silva Pereira
Ano: 2020
nº de p.: 20
Objetivos específicos
• Abordar e compreender origem, características e conceitos da auditoria.
• Diferenciar auditoria contábil dos demais tipos de auditoria, bem como dos
diversos ramos da contabilidade.
Apresentando a unidade
Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Auditoria Contábil. Nesta unidade, vamos
aprender sobre a origem da auditoria, como ramo da contabilidade, e os diversos
conceitos envolvidos na área.
Origem da auditoria
Você sabia que a auditoria surgiu da necessidade de se controlar ou verificar a
condução de processos e procedimentos para a garantia da qualidade de produtos
e serviços? Nesta unidade, veremos como a auditoria se originou e também os
principais termos ou jargões usados na área.
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Inicialmente, os trabalhos de auditoria se limitavam à verificação dos registros
contábeis, para checar a exatidão das informações (CREPALDI, 2009).
Ramificações Objetivos
Aplicar os instrumentos legais e societários que
Contabilidade societária envolvem as entidades, bem como a sua estrutura de
capital, visando à realização de transações e negócios.
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Como podemos ver, a auditoria é uma das especialidades da Contabilidade. Ela
surgiu da necessidade de controlar os registros contábeis e as movimentações
financeiras. Assim, podemos dizer que a auditoria é um dos ramos ou técnicas de
que a Ciência Contábil se utiliza.
Curiosidade
Você sabia que, entre 1850 e 1938, fiscais de órgãos de controle
não eram autorizados a consultar os livros contábeis dos
contribuintes em suas auditorias? A proibição tinha como origem
o art. 17 do Código Comercial de 1850. Esse artigo foi revogado
em 1938, pelo Decreto-Lei nº 385. Em 1939, o § 1º do art. 14 do
Decreto-lei nº 1.168 tornou possível a punição das empresas que
se recusassem a exibir os livros de escrita comercial.
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Alguns anos depois, outros investimentos internacionais foram aqui implantados e,
compulsoriamente, suas demonstrações contábeis deveriam ser auditadas, quando
o mercado de capitais brasileiro ganhou importância no final dos anos 1960, com a
aprovação da Lei nº 4.728 em 1965 (ATTIE, 2010, p. 8).
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Conceitos e classificação da auditoria
Nesta seção, veremos os principais conceitos envolvidos com a prática da auditoria,
ou seja, o ato de confrontar a condição com o critério (situação encontrada versus
situação que deve ser).
A palavra auditoria tem origem no latim audire, que significa “ouvir”. Esse termo foi
utilizado pelos ingleses para classificá-la como uma técnica contábil da revisão, ou
auditing. Da mesma forma, a palavra auditor também se origina do latim, qui audit,
que significa “aquele que ouve, o ouvinte”. O termo auditor também está relacionado
à expressão inglesa to audit, que significa “examinar, ajustar, corrigir, certificar”.
Agora que já conhecemos a origem dos termos, podemos começar a nos aproximar
de determinados conceitos que são fundamentais para a compreensão da
disciplina. Por exemplo, você sabe qual é a diferença entre fraude e erro? Será que
são sinônimos? Observe os exemplos para que você fixe esses conceitos.
Segundo a NBC TA 240 (R1) (CFC, 2016), a fraude aplica-se a atos intencionais, isto
é, voluntários, seja por omissão e/ou manipulação de transações, adulterações de
documentos, registros e demonstrações contábeis. Além disso, a fraude pode estar
relacionada à corrupção. São exemplos de fraudes os seguintes atos dolosos:
Já o erro refere-se a atos não intencionais, isto é, involuntários, seja por descuido,
seja por desconhecimento ou interpretação equivocada na elaboração de registros
e demonstrações contábeis, que resultem em incorreções. São exemplos de erros
os seguintes atos culposos (CFC, 2016, s.p.):
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Conforme a NBC T 11 (CFC, 1997) “ao detectar erros relevantes e quaisquer
fraudes no decorrer de seu trabalho, o auditor tem a obrigação de comunicá-los
à administração da entidade e sugerir medidas corretivas, informando sobre os
possíveis efeitos no seu parecer, caso elas não sejam adotadas”.
Reflita
Por que as auditorias independentes têm dificuldade em detectar
a corrupção em uma empresa? Será que os auditores externos
têm instrumentos suficientes para investigar fraudes a fundo?
Agora, já sabemos como a fraude e o erro podem ser definidos, mas temos que
conhecer outros conceitos importantes em auditoria: risco, distorção relevante
e asseguração. Esses conceitos complementarão nosso entendimento sobre a
relevância e a importância da auditoria como técnica contábil.
Já a distorção pode ocorrer por erro ou por fraude, com ou sem intenção. Ela é
considerada como a diferença entre o valor, a classificação ou a divulgação de
uma demonstração contábil relatada e o que é exigido para que o item objeto de
auditoria esteja de acordo com a estrutura das demonstrações contábeis, ou seja,
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com as leis e regulamentos que as disciplinam. As distorções identificadas pelo
auditor devem ser comunicadas ao nível adequado de administração da entidade,
para que sejam feitas as correções cabíveis (CFC, NBC TA 200, 2016).
Mas fique atento: nem todos os trabalhos executados por auditores independentes
são trabalhos de asseguração. Por exemplo, o serviço de consultoria executado por
um auditor independente não é considerado asseguração.
Você já deve estar se perguntando: como funciona uma auditoria? Existem etapas
a serem seguidas? A auditoria é feita em conformidade com o estabelecido
pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), classificadas como normas
Profissionais e normas Técnicas. Essas normas são emitidas pelo Conselho Federal
de Contabilidade (CFC). A auditoria, portanto, deve seguir uma diretriz, um padrão
preestabelecido. As etapas de uma auditoria devem obedecer a uma sequência.
Veja, no Diagrama 1.1, como funciona esse processo.
Emissão do Relatório
de Auditoria
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a. comprovação, pela escrituração, de que são exatos os fatos patrimoniais;
b. demonstração dos erros e fraudes encontrados;
c. sugestão das providências cabíveis, visando à prevenção de erros e fraudes;
d. verificação de que a contabilidade é satisfatória sob o aspecto sistemático e
de organização;
e. verificação do funcionamento do controle interno;
f. proposição de medidas de previsão de fatos patrimoniais, com o propósito de
manter a empresa dentro dos limites de organização e legalidade.
Segundo Almeida (2012), a auditoria independente externa é uma atividade que tem
por objetivo, por meio da inspeção das demonstrações financeiras, expressar uma
opinião sobre a sua propriedade, e assegurar que elas representem adequadamente
a posição financeira (fluxos de caixa) e patrimonial, assim como sobre o resultado
(lucro ou prejuízo) de suas operações relativas aos exercícios financeiros
correspondentes.
Por fim, a auditoria pública, ou governamental, é uma atividade que tem por objetivo
verificar o cumprimento dos preceitos de legalidade, legitimidade e economicidade
quanto à utilização, arrecadação, guarda, gerenciamento ou administração de
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dinheiros, bens e valores públicos dos Entes Federativos (União, estados, Distrito
Federal e municípios). A Constituição Federal (BRASIL, 1988), no art. 71, inciso IV,
elenca cinco tipos de auditorias: contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial.
Demonstrações
Objeto contábeis
Controles internos
Opinar sobre as
Promover a melhoria
Objetivo demonstrações
dos controles internos
contábeis
Recomendações
Parecer ou relatório
Produto final de auditoria
para eficiência
administrativa
Profissional, civil e
Responsabilidade criminal
Trabalhista
Continuidade do
Periódico Contínuo
trabalho
Como você pode ver, a auditoria contábil pode ser feita por um profissional
legalmente habilitado de fora (terceiros) e/ou por um profissional de dentro da
empresa (funcionário), cuja função é desempenhar essa atividade técnica e
científica a partir do emprego de um conjunto de procedimentos, organizados e
executados em uma determinada entidade.
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Objetivo geral da auditoria
Uma auditoria contábil tem como objetivo geral a confirmação de registros e
das demonstrações contábeis, ampliando o nível de confiança por parte dos
usuários (CREPALDI, 2009). Seja na auditoria interna ou externa, o intuito é opinar e
recomendar ajustes sobre o processo e os procedimentos de escrituração contábil
das empresas.
Assim, o resultado dessa revisão será uma opinião, com razoável segurança,
formada a partir de evidências apropriadas e suficientes de auditoria, a fim de
reduzir, a um nível aceitavelmente baixo, o seu risco. Tal opinião será expressa em
um relatório, que pode ser livre de distorções relevantes, independentemente se
causada por fraude ou erro, de acordo com a NBC TA 200 (CFC, 2016).
Esse relatório pode ser não modificado (limpo ou sem ressalvas) ou com
modificações (com ressalvas, adverso e com negativa de opinião) com base
nos testes de auditoria. Esses testes, por sua vez, podem ser de observância ou
substantivos.
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viabilidade futura ou de eficácia da administração da entidade (ARAÚJO; ARRUDA,
2012). Esse relatório sobre a adequação das demonstrações contábeis deve
contemplar, de forma específica, os seguintes atributos: existência, propriedade,
ocorrência, abrangência, avaliação, realização, apresentação e divulgação.
Portanto, como você deve estar concluindo, o auditor não é responsável, nem
pode ser responsabilizado pela prevenção de fraudes ou erros relevantes nas
demonstrações contábeis; seu dever é apenas o de comunicar ao contratante
se identificá-los a partir de sua análise (CFC, NBC TA 240, 2016). Porém isso
não significa que ele não deva atuar com ceticismo profissional para formar seu
julgamento, certo?
Para que o auditor identifique e avalie esses riscos, ele deve compreender o
funcionamento do controle interno da entidade. Ainda que a maioria dos controles
sejam relacionados com as demonstrações contábeis, nem todos os controles
que com elas se relacionam são relevantes para a auditoria, pois se trata de um
julgamento profissional (CFC, NBC TA 200, 2016).
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Conforme a NBC TA 200, o julgamento profissional é pautado nos fatos e nas
circunstâncias que são conhecidos pelo auditor. Esse julgamento leva em
consideração:
É necessário que esse profissional tenha um comportamento ético que permita uma
opinião isenta. A independência garante a habilidade de formar uma conclusão de
asseguração sem se deixar afetar por influências internas ou externas, que possam
comprometer sua opinião (CFC, NBC PA 290, 2017). Ela aperfeiçoa a capacidade
de agir com integridade e isenção, de ser objetivo e de nunca acreditar plenamente
nas informações prestadas pela empresa auditada, ou seja, de manter uma postura
cética.
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Segundo a NBC PA 290 (CFC, 2017, s.p.), os principais pontos que podem
comprometer essa independência são:
A NBC PG 100 (CFC, 2014), por sua vez, estabelece os seguintes princípios éticos
que o auditor independente deve cumprir: integridade, objetividade, competência e
zelo profissionais, sigilo profissional e comportamento profissional.
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Saiba mais
Quer saber mais sobre o posicionamento do profissional de
auditoria quando ele se depara com dilemas morais envolvendo
atos ilícitos da categoria? Então, leia o artigo “Ética do profissional
de auditoria: dilemas morais envolvendo atos ilícitos na execução
de sua atividade”, de Ariane Caruline Fernandes e Vidgal
Fernandes Martins, publicado na Revista de Auditoria Governança
e Contabilidade em 2016. Disponível em: http://fucamp.edu.br/
editora/index.php/ragc/article/view/687/486
Vimos que o objetivo do auditor é emitir uma opinião, que conclui seus trabalhos,
sobre as demonstrações contábeis. Contudo, esta opinião, assim como a
escrituração contábil, também está sujeita a erros de julgamento. Isto é conhecido
como risco de auditoria, ou seja, ao se concluir e opinar sobre a posição financeira e
patrimonial, não se detectaram distorções significativas, seja por erro ou fraude.
O risco de controle, por sua vez, é o risco de que uma distorção que possa ocorrer
em se afirmar sobre uma classe de transação, saldo contábil ou divulgação não
seja prevenida, detectada e corrigida em tempo hábil pelo controle interno da
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entidade. Por exemplo, limitações ao controle interno, subordinado, pela própria
administração.
No entanto, devemos observar que, se não for possível obter segurança razoável e
se a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis apresentar ressalva no
relatório de auditoria, mesmo assim insuficiente para atender aos usuários, esse
profissional deve se abster de opinar, ou mesmo renunciar ao trabalho (CFC, NBC TA
200, 2016).
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De acordo com tudo o que vimos até aqui, podemos resumir os principais benefícios
da auditoria em três pontos:
A partir disso, para encerrar esta unidade, vamos refletir: será que a auditora é,
realmente, necessária? Ou seria apenas um custo a mais para as empresas? Se
você respondeu sim para a primeira pergunta, você compreendeu a importância da
auditoria para as entidades!
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Referências
ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2012.
______. Resolução CFC n.º 1.328, de 18 de março de 2011. Dispõe sobre a estrutura
das normas brasileiras de contabilidade. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 22 mar. 2011.
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______. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PA 13 (R2), de 21 de agosto de
2015. Dá nova redação à NBC PA 13 (R1) que dispõe sobre o Exame de Qualificação
Técnica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 set. 2015.
CREPALDI, S. A. Auditoria Contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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