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AUDITORIA CONTÁBIL

Unidade 1 - Origem, características e


conceitos da auditoria

GINEAD
Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva
SST Unidade 1 - Origem, características e conceitos da
auditoria / Fernanda Gualda Moreno;
Beatriz da Silva Pereira
Ano: 2020
nº de p.: 20

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Unidade 1 - Origem, características e
conceitos da auditoria

Objetivos específicos
• Abordar e compreender origem, características e conceitos da auditoria.
• Diferenciar auditoria contábil dos demais tipos de auditoria, bem como dos
diversos ramos da contabilidade.

Apresentando a unidade
Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Auditoria Contábil. Nesta unidade, vamos
aprender sobre a origem da auditoria, como ramo da contabilidade, e os diversos
conceitos envolvidos na área.

Esse conhecimento é fundamental, pois os avanços tecnológicos, principalmente


em termos de sistemas, e o excesso de informação presente em nossas vidas
podem ocasionar diversos transtornos, já que, muitas vezes, a mesma informação
nos é transmitida por diferentes meios, o que pode criar distorções, como naquela
brincadeira de “telefone sem fio”, não é mesmo? Devemos ainda considerar o
risco de recebermos uma informação ambígua, criando um ruído no processo
de comunicação entre o emissor e o receptor, impossibilitando a compreensão
verdadeira de um fato.

Origem da auditoria
Você sabia que a auditoria surgiu da necessidade de se controlar ou verificar a
condução de processos e procedimentos para a garantia da qualidade de produtos
e serviços? Nesta unidade, veremos como a auditoria se originou e também os
principais termos ou jargões usados na área.

A auditoria surgiu a partir do desenvolvimento do sistema capitalista. Os fatos


marcantes se deram na Inglaterra, em 1310, com a criação do Conselho de Londres,
seguida da criação do cargo de auditor do Tesouro da Inglaterra em 1314. (ATTIE,
2011). Entretanto o reconhecimento dessa prática ocorreu em 1581, quando
foi criado o primeiro Colégio de Contadores (Collegio dei Raxonati) em Veneza.

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Inicialmente, os trabalhos de auditoria se limitavam à verificação dos registros
contábeis, para checar a exatidão das informações (CREPALDI, 2009).

A contabilidade surgiu da necessidade de se controlar o patrimônio (bens, direitos


e exigibilidades) e suas variações. Trata-se de uma ciência social, pois é a ação
do homem que cria e modifica o patrimônio. Entretanto ela se utiliza de outras
ferramentas, como, por exemplo, métodos quantitativos – como a matemática e a
estatística (ciências exatas) – e métodos qualitativos, como o empirismo, pautado
na vivência e observação (ciências humanas).

Dentre os ramos da Contabilidade, podemos destacar no Quadro 1.1:

Quadro 1.1: Principais ramos da Contabilidade

Ramificações Objetivos
Aplicar os instrumentos legais e societários que
Contabilidade societária envolvem as entidades, bem como a sua estrutura de
capital, visando à realização de transações e negócios.

Avaliar o controle dos estoques e conhecimento dos


Contabilidade de custos instrumentos dos sistemas de custo, com o objetivo
de servir de base para a tomada de decisão.

Gerar informações que orientem a tomada de decisão


Contabilidade aplicada ao e a instrumentalização do controle social, permitindo
setor público a evidenciação que contribua para a transparência do
setor público.

Contabilidade aplicada às Compreender o Sistema Financeiro Nacional, suas


operações, bem como aplicar os procedimentos
instituições financeiras contábeis específicos às entidades bancárias.

Contabilidade aplicada às Compreender o funcionamento das associações,


fundações, organizações sociais, bem como da gestão
entidades de interesse social contábil, prestação de contas, benefícios e obrigações.

Contabilidade aplicada ao Compreender o primeiro setor da economia, bem como


aplicar os procedimentos contábeis compreendidos
agronegócio nas atividades agrícola, pecuária e agroindustrial.

Aplicar um conjunto de procedimentos destinados


Perícia, avaliação e a levar à instância decisória elementos de prova
arbitragem necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou
constatação de fato.

Verificar a regularidade dos registros de elementos


Auditoria patrimoniais e de resultado, aplicando procedimentos
em extensão, profundidade e oportunidade adequadas.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Como podemos ver, a auditoria é uma das especialidades da Contabilidade. Ela
surgiu da necessidade de controlar os registros contábeis e as movimentações
financeiras. Assim, podemos dizer que a auditoria é um dos ramos ou técnicas de
que a Ciência Contábil se utiliza.

A auditoria evoluiu pela ocorrência de vários eventos, dentre os quais destacamos


a Revolução Industrial, no fim do século XVIII, quando alguns profissionais
se declaravam “contadores públicos”, executando, entretanto, trabalhos mais
especializados do que aquele efetuado por outros contadores. Já no século XIX,
surge uma nova denominação, a de “perito contador”, cuja função básica era a de
descobrir erros e fraudes.

Curiosidade
Você sabia que, entre 1850 e 1938, fiscais de órgãos de controle
não eram autorizados a consultar os livros contábeis dos
contribuintes em suas auditorias? A proibição tinha como origem
o art. 17 do Código Comercial de 1850. Esse artigo foi revogado
em 1938, pelo Decreto-Lei nº 385. Em 1939, o § 1º do art. 14 do
Decreto-lei nº 1.168 tornou possível a punição das empresas que
se recusassem a exibir os livros de escrita comercial.

A evolução da auditoria no Brasil está intimamente ligada à instalação de empresas


internacionais de auditoria independente, como a Deloitte Touche Tohmatsu, que
abriu seu primeiro escritório na cidade do Rio de Janeiro, em 1911. Nas décadas
seguintes, diversas multinacionais americanas e europeias abriram filiais no Brasil,
que demandavam serviços de auditoria para reportar suas posições para suas
matrizes no estrangeiro. Houve, ainda, a criação da tributação do imposto de renda
em 1922, baseado nos resultados apurados em balanço, o que acelerou a evolução
da auditoria.

A Rodhia do Brasil foi fundada em 1919, onde atualmente fica o município de


Santo André, mesmo ano em que a Ford do Brasil foi fundada no município de São
Bernardo do Campo. Já a General Motors do Brasil, fundada em 1925, começou
a operar sua fábrica em 1930 no município de São Caetano do Sul, na região
geograficamente conhecida como ABC, marcada pela forte industrialização no início
do século XX. A Coca-Cola, por sua vez, iniciou suas atividades no Brasil em 1942.

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Alguns anos depois, outros investimentos internacionais foram aqui implantados e,
compulsoriamente, suas demonstrações contábeis deveriam ser auditadas, quando
o mercado de capitais brasileiro ganhou importância no final dos anos 1960, com a
aprovação da Lei nº 4.728 em 1965 (ATTIE, 2010, p. 8).

Em 1972, o Banco Central do Brasil passou a emitir normas, tornando obrigatória


a auditoria externa, ou independente, em quase todas as entidades integrantes do
Sistema Financeiro Nacional e companhias abertas. Finalmente, em 1976, a prática
de auditoria se consolidou com a criação da Comissão de Valores Mobiliários e da
Lei das Sociedades por Ações (Lei n.º 6.404).

Essas companhias de auditoria e consultoria foram crescendo a partir da abertura


de novos escritórios ao redor do mundo. O Quadro 1.2 mostra quais são as seis
maiores firmas de auditoria no mundo.

Quadro 1.2: Maiores empresas globais de auditoria

Firma Sigla Fundação Sede

Deloitte Touche Tohmatsu Limited DTT 1845 Nova Iorque

PricewaterhouseCoopers PwC 1849 Londres

Klynveld Peat Marwick Goerdeler KPMG 1917 Amsterdã

Ernst & Young EY 1849 Londres

Grant Thornton GT 1924 Chicago

Binder Dijker Otte & Co BDO 1910 Bruxelas

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

As quatro primeiras empresas listadas são, geralmente, denominadas Big Four ou


“quatro grandes” empresas globais de serviços contábeis de auditoria e consultoria.
Entretanto a lista contempla ainda mais duas empresas, que são conhecidas como
Large Six ou “seis maiores”.

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Conceitos e classificação da auditoria
Nesta seção, veremos os principais conceitos envolvidos com a prática da auditoria,
ou seja, o ato de confrontar a condição com o critério (situação encontrada versus
situação que deve ser).

A palavra auditoria tem origem no latim audire, que significa “ouvir”. Esse termo foi
utilizado pelos ingleses para classificá-la como uma técnica contábil da revisão, ou
auditing. Da mesma forma, a palavra auditor também se origina do latim, qui audit,
que significa “aquele que ouve, o ouvinte”. O termo auditor também está relacionado
à expressão inglesa to audit, que significa “examinar, ajustar, corrigir, certificar”.

Agora que já conhecemos a origem dos termos, podemos começar a nos aproximar
de determinados conceitos que são fundamentais para a compreensão da
disciplina. Por exemplo, você sabe qual é a diferença entre fraude e erro? Será que
são sinônimos? Observe os exemplos para que você fixe esses conceitos.

Segundo a NBC TA 240 (R1) (CFC, 2016), a fraude aplica-se a atos intencionais, isto
é, voluntários, seja por omissão e/ou manipulação de transações, adulterações de
documentos, registros e demonstrações contábeis. Além disso, a fraude pode estar
relacionada à corrupção. São exemplos de fraudes os seguintes atos dolosos:

a. manipulação, falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo


a modificar os registros de ativos, passivos e resultados;
b. apropriação indébita de ativos;
c. supressão ou omissão de transações nos registros contábeis;
d. registro de transações sem comprovação; e
e. aplicação de práticas contábeis indevidas.

Já o erro refere-se a atos não intencionais, isto é, involuntários, seja por descuido,
seja por desconhecimento ou interpretação equivocada na elaboração de registros
e demonstrações contábeis, que resultem em incorreções. São exemplos de erros
os seguintes atos culposos (CFC, 2016, s.p.):

a. erros aritméticos (digitação ou cálculo) na escrituração contábil ou nas de-


monstrações contábeis;
b. aplicação incorreta das normas contábeis;
c. interpretação errada das variações patrimoniais (qualitativas ou quantitati-
vas) (NBC TA 240 (R1), CFC, 2016).

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Conforme a NBC T 11 (CFC, 1997) “ao detectar erros relevantes e quaisquer
fraudes no decorrer de seu trabalho, o auditor tem a obrigação de comunicá-los
à administração da entidade e sugerir medidas corretivas, informando sobre os
possíveis efeitos no seu parecer, caso elas não sejam adotadas”.

Reflita
Por que as auditorias independentes têm dificuldade em detectar
a corrupção em uma empresa? Será que os auditores externos
têm instrumentos suficientes para investigar fraudes a fundo?

O auditor trabalha, essencialmente, com amostragem, utilizada


para obter uma base razoável para a sua conclusão. Ainda que
seja sua obrigação reportar à administração da entidade quando
encontrar fraudes, esse não é o seu objetivo principal, já que a
amostragem pode resultar na não detecção dessas fraudes.

Agora, já sabemos como a fraude e o erro podem ser definidos, mas temos que
conhecer outros conceitos importantes em auditoria: risco, distorção relevante
e asseguração. Esses conceitos complementarão nosso entendimento sobre a
relevância e a importância da auditoria como técnica contábil.

O risco de auditoria ocorre quando um auditor expressa uma opinião imprópria


quando as demonstrações financeiras apresentam distorção relevante, sem que
o controle interno da empresa auditada ou os testes substantivos do auditor
detectem ou previnam essa falha (CFC, NBC TA 200, 2016).

Observamos, então, que o auditor deve decidir sobre a quantidade de informações


que fará parte da sua amostragem, ou seja, o que será analisado. A quantidade
de itens analisados deve ser suficientemente ampla para reduzir o risco de
amostragem a um nível mínimo tolerável. Assim, a dimensão da amostra, além
de depender do ramo de atividade e do porte da empresa auditada, poderá ser
determinada com base em fórmulas, estatísticas ou no julgamento profissional do
auditor (CFC, NBC TA 200, 2016).

Já a distorção pode ocorrer por erro ou por fraude, com ou sem intenção. Ela é
considerada como a diferença entre o valor, a classificação ou a divulgação de
uma demonstração contábil relatada e o que é exigido para que o item objeto de
auditoria esteja de acordo com a estrutura das demonstrações contábeis, ou seja,

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com as leis e regulamentos que as disciplinam. As distorções identificadas pelo
auditor devem ser comunicadas ao nível adequado de administração da entidade,
para que sejam feitas as correções cabíveis (CFC, NBC TA 200, 2016).

Outro conceito que é bastante utilizado em auditoria é o de asseguração. Nesse


caso, o objetivo do auditor é obter evidências adequadas e suficientes, para que, a
partir delas, possa expressar uma conclusão embasada, ampliando, assim, o nível
de confiança dos outros usuários. Em outras palavras, a asseguração compreende
o resultado da mensuração ou avaliação de determinado objeto, baseando-se em
critérios aplicáveis (CFC, NBC TO 3000, 2015).

Mas fique atento: nem todos os trabalhos executados por auditores independentes
são trabalhos de asseguração. Por exemplo, o serviço de consultoria executado por
um auditor independente não é considerado asseguração.

Você já deve estar se perguntando: como funciona uma auditoria? Existem etapas
a serem seguidas? A auditoria é feita em conformidade com o estabelecido
pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), classificadas como normas
Profissionais e normas Técnicas. Essas normas são emitidas pelo Conselho Federal
de Contabilidade (CFC). A auditoria, portanto, deve seguir uma diretriz, um padrão
preestabelecido. As etapas de uma auditoria devem obedecer a uma sequência.
Veja, no Diagrama 1.1, como funciona esse processo.

Diagrama 1.1: Processo de auditoria independente

Planejamento Avaliação do Revisão


dos trabalhos Controle Interno Analítica

Execução de Colete de Avaliação das


procedimentos informações informações

Emissão do Relatório
de Auditoria

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Nas próximas unidades, veremos, em detalhes, cada uma dessas etapas.

Segundo Crepaldi (2009), atualmente, a auditoria é contemplada com os seguintes


objetos de estudo:

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a. comprovação, pela escrituração, de que são exatos os fatos patrimoniais;
b. demonstração dos erros e fraudes encontrados;
c. sugestão das providências cabíveis, visando à prevenção de erros e fraudes;
d. verificação de que a contabilidade é satisfatória sob o aspecto sistemático e
de organização;
e. verificação do funcionamento do controle interno;
f. proposição de medidas de previsão de fatos patrimoniais, com o propósito de
manter a empresa dentro dos limites de organização e legalidade.

A partir deste ponto, conheceremos as diferentes classificações da auditoria, que


podem ser: independente externa; interna ou operacional; gerencial; auditoria
pública ou governamental.

Segundo Almeida (2012), a auditoria independente externa é uma atividade que tem
por objetivo, por meio da inspeção das demonstrações financeiras, expressar uma
opinião sobre a sua propriedade, e assegurar que elas representem adequadamente
a posição financeira (fluxos de caixa) e patrimonial, assim como sobre o resultado
(lucro ou prejuízo) de suas operações relativas aos exercícios financeiros
correspondentes.

Já a auditoria interna, também denominada de auditoria operacional, é uma


atividade subordinada, que tem por objetivo assessorar a administração da
empresa com subsídios relativos ao cumprimento de todos os procedimentos
e políticas internas da entidade, por meio da análise dos sistemas contábeis e
de controles internos, avaliando se eles estão sendo cumpridos e se todas as
transações realizadas estão expressas contabilmente em conformidade com os
critérios técnicos e normativos previamente definidos (ALMEIDA, 2012).

Na auditoria gerencial, o objetivo é avaliar o grau de segurança dos controles


internos existentes na entidade. Assim, ela é realizada para avaliar: a eficiência,
a eficácia, a economicidade, a efetividade e a qualidade de um sistema e seus
processos. Portanto, nesse tipo de auditoria, verifica-se se o que foi definido no
processo está sendo realmente executado; não se trata de uma validação do
processo (como o melhor ou o que gera mais resultado), mas de uma verificação
em relação ao seu cumprimento. Enquanto a auditoria operacional verifica os
procedimentos, a auditoria gerencial verifica os processos.

Por fim, a auditoria pública, ou governamental, é uma atividade que tem por objetivo
verificar o cumprimento dos preceitos de legalidade, legitimidade e economicidade
quanto à utilização, arrecadação, guarda, gerenciamento ou administração de

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dinheiros, bens e valores públicos dos Entes Federativos (União, estados, Distrito
Federal e municípios). A Constituição Federal (BRASIL, 1988), no art. 71, inciso IV,
elenca cinco tipos de auditorias: contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial.

Atualmente, as auditorias podem ser bem distintas, dependendo de seus objetivos,


das atividades ou dos processos para os quais são utilizadas e dos relatórios que
se espera receber dos auditores, sejam eles externos ou internos. No Quadro 1.3,
podemos conhecer as principais diferenças entre o auditor externo e o auditor
interno:

Quadro 1.3: Auditoria interna e externa: principais diferenças

Elementos Auditoria Externa Auditoria Interna

Vínculo com a Não há. É funcionário da


É funcionário da empresa auditada,
empresa auditada firma de auditoria portanto há vínculo

Demonstrações
Objeto contábeis
Controles internos

Opinar sobre as
Promover a melhoria
Objetivo demonstrações
dos controles internos
contábeis

Recomendações
Parecer ou relatório
Produto final de auditoria
para eficiência
administrativa

Independência Ampla Limitada

Profissional, civil e
Responsabilidade criminal
Trabalhista

Continuidade do
Periódico Contínuo
trabalho

Fonte: Adaptado de Pinho (2009).

Como você pode ver, a auditoria contábil pode ser feita por um profissional
legalmente habilitado de fora (terceiros) e/ou por um profissional de dentro da
empresa (funcionário), cuja função é desempenhar essa atividade técnica e
científica a partir do emprego de um conjunto de procedimentos, organizados e
executados em uma determinada entidade.

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Objetivo geral da auditoria
Uma auditoria contábil tem como objetivo geral a confirmação de registros e
das demonstrações contábeis, ampliando o nível de confiança por parte dos
usuários (CREPALDI, 2009). Seja na auditoria interna ou externa, o intuito é opinar e
recomendar ajustes sobre o processo e os procedimentos de escrituração contábil
das empresas.

Assim, o resultado dessa revisão será uma opinião, com razoável segurança,
formada a partir de evidências apropriadas e suficientes de auditoria, a fim de
reduzir, a um nível aceitavelmente baixo, o seu risco. Tal opinião será expressa em
um relatório, que pode ser livre de distorções relevantes, independentemente se
causada por fraude ou erro, de acordo com a NBC TA 200 (CFC, 2016).

Até 2009, ano em que houve profundas transformações na auditoria no Brasil,


o parecer de auditoria apresentava apenas três parágrafos resumidos com uma
opinião sobre as demonstrações contábeis. A partir da edição da Resolução CFC nº
1.231/2009, o parecer passou a ser denominado relatório de auditoria independente
e sua opinião passou a contar com outros elementos, como introdução, relatório da
administração, relatório do auditor, opinião, parágrafos de ênfase e parágrafos de
outros assuntos.

Esse relatório pode ser não modificado (limpo ou sem ressalvas) ou com
modificações (com ressalvas, adverso e com negativa de opinião) com base
nos testes de auditoria. Esses testes, por sua vez, podem ser de observância ou
substantivos.

Tal opinião é prerrogativa dos bacharéis, graduados em Ciências Contábeis, com


inscrição ativa no Conselho Regional de Contabilidade do estado em que atuam,
conforme a Resolução CFC nº 560/1983, art. 3º, itens 33 (auditoria interna e
operacional) e 34 (auditoria externa independente). Os contadores que atuarem em
auditoria externa devem ainda ser aprovados no Exame de Qualificação Técnica
para registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) do Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), conforme a NBC PA 13 (CFC, 2015). Além disso,
para poder atuar profissionalmente, ele deverá ser inscrito no âmbito do mercado de
valores mobiliários, na Comissão de Valores Mobiliários, nos termos da Instrução
CVM nº 308/1999.

Observamos que a emissão do relatório independente, que tem por limite os


objetivos da auditoria (demonstrações financeiras), não representa garantia de

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viabilidade futura ou de eficácia da administração da entidade (ARAÚJO; ARRUDA,
2012). Esse relatório sobre a adequação das demonstrações contábeis deve
contemplar, de forma específica, os seguintes atributos: existência, propriedade,
ocorrência, abrangência, avaliação, realização, apresentação e divulgação.

Assim, o fato de se fazer uma auditoria independente não retira as


responsabilidades dos executivos e demais membros da empresa auditada. Nos
Estados Unidos, no início dos anos 2000, vieram à tona, em empresas como
Xerox, Enron, Tyco, WorldCom e outras, diversos escândalos financeiros, levando
praticamente à extinção uma das maiores firmas de auditoria do mundo, a Arthur
Andersen. Esses fatos colocaram a auditoria em evidência em todo o mundo.

Na época, em 2002, em resposta a esses escândalos, o Congresso americano


aprovou uma lei que endureceu as responsabilidades dos gestores de empresas.
Essa lei ficou conhecida como Lei Sarbanes-Oxley, em homenagem aos deputados
que a criaram, Paul Sarbanes e Michel Oxley. Sua finalidade é identificar, combater e
prevenir fraudes que afetem o desempenho financeiro das organizações, garantindo
o compliance, ou seja, estar em conformidade com os regulamentos internos e
externos à empresa.

Portanto, como você deve estar concluindo, o auditor não é responsável, nem
pode ser responsabilizado pela prevenção de fraudes ou erros relevantes nas
demonstrações contábeis; seu dever é apenas o de comunicar ao contratante
se identificá-los a partir de sua análise (CFC, NBC TA 240, 2016). Porém isso
não significa que ele não deva atuar com ceticismo profissional para formar seu
julgamento, certo?

Você deve estar se perguntando: ceticismo? Julgamento? O que esses termos


significam em auditoria? Ceticismo é a atitude de questionamento contínuo para o
conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas, ou seja, nunca acreditar
em tudo ou sempre desconfiar. O profissional de auditoria não pode chegar à
certeza alguma a respeito da verdade, pois trabalha com amostragens e com
informações que lhe foram disponibilizadas, recaindo no risco de auditoria.

Para que o auditor identifique e avalie esses riscos, ele deve compreender o
funcionamento do controle interno da entidade. Ainda que a maioria dos controles
sejam relacionados com as demonstrações contábeis, nem todos os controles
que com elas se relacionam são relevantes para a auditoria, pois se trata de um
julgamento profissional (CFC, NBC TA 200, 2016).

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Conforme a NBC TA 200, o julgamento profissional é pautado nos fatos e nas
circunstâncias que são conhecidos pelo auditor. Esse julgamento leva em
consideração:

• os resultados dos procedimentos de auditoria, executados no cumprimento


das exigências das normas brasileiras de contabilidade;
• a avaliação do auditor quanto à obtenção ou não de evidência de auditoria
apropriada e suficiente;
• se há algo mais que precisa ser feito nas circunstâncias específicas da au-
ditoria.
Figura 1.1: Auditoria das demonstrações contábeis

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Em suma, os procedimentos de auditoria trazem evidências para que o auditor


fundamente sua opinião sobre as demonstrações contábeis auditadas,
possibilitando-lhe emitir um parecer. Para tanto, ele reavalia os controles internos,
livros contábeis, documentos e registros da entidade confrontando informações. O
auditor não deve ser temido, pois ele irá propor sugestões de melhorias.

É necessário que esse profissional tenha um comportamento ético que permita uma
opinião isenta. A independência garante a habilidade de formar uma conclusão de
asseguração sem se deixar afetar por influências internas ou externas, que possam
comprometer sua opinião (CFC, NBC PA 290, 2017). Ela aperfeiçoa a capacidade
de agir com integridade e isenção, de ser objetivo e de nunca acreditar plenamente
nas informações prestadas pela empresa auditada, ou seja, de manter uma postura
cética.

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Segundo a NBC PA 290 (CFC, 2017, s.p.), os principais pontos que podem
comprometer essa independência são:

a) ameaça de interesse próprio é a ameaça de que interesse financeiro ou


outro interesse influenciará de forma não apropriada o julgamento ou o
comportamento do auditor;

b) ameaça de autorrevisão é a ameaça de que o auditor não avaliará


apropriadamente os resultados de julgamento dado ou serviço prestado
anteriormente por ele, ou por outra pessoa da firma dele, nos quais o
auditor confiará para formar um julgamento como parte da prestação do
serviço atual;

c) ameaça de defesa de interesse do cliente é a ameaça de que o auditor


promoverá ou defenderá a posição de seu cliente a ponto em que a sua
objetividade fique comprometida;

d) ameaça de familiaridade é a ameaça de que, devido ao relacionamento


longo ou próximo com o cliente, o auditor tornar-se-á solidário aos
interesses dele ou aceitará seu trabalho sem muito questionamento;

e) ameaça de intimidação é a ameaça de que o auditor será dissuadido


de agir objetivamente em decorrência de pressões reais ou aparentes,
incluindo tentativas de exercer influência indevida sobre o auditor.

A NBC PG 100 (CFC, 2014), por sua vez, estabelece os seguintes princípios éticos
que o auditor independente deve cumprir: integridade, objetividade, competência e
zelo profissionais, sigilo profissional e comportamento profissional.

De acordo com o artigo 9º da Resolução CFC nº 1.328/2011, a inobservância às


Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) constitui infração disciplinar sujeita
às penalidades previstas no artigo 27, “c” a “g” do Decreto-Lei nº 9.295/1946 e ao
Código de Ética Profissional do Contador.

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Saiba mais
Quer saber mais sobre o posicionamento do profissional de
auditoria quando ele se depara com dilemas morais envolvendo
atos ilícitos da categoria? Então, leia o artigo “Ética do profissional
de auditoria: dilemas morais envolvendo atos ilícitos na execução
de sua atividade”, de Ariane Caruline Fernandes e Vidgal
Fernandes Martins, publicado na Revista de Auditoria Governança
e Contabilidade em 2016. Disponível em: http://fucamp.edu.br/
editora/index.php/ragc/article/view/687/486

Como você pode entender, a auditoria é um processo sistemático e ético, que


se utiliza de procedimentos, como a avaliação de riscos e análise dos controles
internos, cuja finalidade é a obtenção de evidência suficiente e adequada, de
forma segura e razoável, de que as informações financeiras foram elaboradas em
conformidade com uma estrutura e estão livres de distorção relevante e material
causada por erro e fraude.

Vimos que o objetivo do auditor é emitir uma opinião, que conclui seus trabalhos,
sobre as demonstrações contábeis. Contudo, esta opinião, assim como a
escrituração contábil, também está sujeita a erros de julgamento. Isto é conhecido
como risco de auditoria, ou seja, ao se concluir e opinar sobre a posição financeira e
patrimonial, não se detectaram distorções significativas, seja por erro ou fraude.

O risco de auditoria pode ser classificado de duas formas: risco de distorção


relevante e risco de detecção. Vamos conhecer esses conceitos.

Segundo a NBC TA 200, o risco de distorção relevante decorre antes da auditoria


e é subdividido em risco inerente e risco de controle. Assim, o risco inerente é a
tendência de se afirmar sobre uma transação, saldo contábil ou divulgação antes da
consideração de quaisquer controles relacionados. Por exemplo, a consideração de
saldo de estoques de produtos tecnológicos, que em função de novas tecnologias,
podem estar superavaliados.

O risco de controle, por sua vez, é o risco de que uma distorção que possa ocorrer
em se afirmar sobre uma classe de transação, saldo contábil ou divulgação não
seja prevenida, detectada e corrigida em tempo hábil pelo controle interno da

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entidade. Por exemplo, limitações ao controle interno, subordinado, pela própria
administração.

Já o risco de detecção decorre da não identificação de uma distorção existente e


que possa ser relevante, individualmente ou em conjunto com outras distorções.
Esse risco pode ser reduzido, mas jamais eliminado, pelas próprias limitações de
auditoria, como natureza das operações, custo e tempo para condução do trabalho.
Conforme a NBC TA 200, a distorção para a auditoria significa:

[...] a diferença entre o valor, a classificação, a apresentação ou a divulgação


de uma demonstração contábil relatada e o valor, a classificação, a
apresentação ou a divulgação que é exigida para que o item esteja de
acordo com a estrutura de relatório financeiro aplicável. As distorções
podem originar-se de erro ou fraude. Quando o auditor expressa uma
opinião sobre se as demonstrações contábeis foram apresentadas
adequadamente, em todos os aspectos relevantes, as distorções também
incluem os ajustes de valor, classificação, apresentação ou divulgação que,
no julgamento do auditor, são necessários para que as demonstrações
contábeis estejam apresentadas adequadamente, em todos os aspectos
relevantes.

No entanto, devemos observar que, se não for possível obter segurança razoável e
se a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis apresentar ressalva no
relatório de auditoria, mesmo assim insuficiente para atender aos usuários, esse
profissional deve se abster de opinar, ou mesmo renunciar ao trabalho (CFC, NBC TA
200, 2016).

Então, vamos refletir: os controles sobre a integridade e a exatidão das informações


geradas pela empresa contratante podem ou não ser relevantes para a auditoria?
Correto! O auditor tem conhecimento das informações e se utiliza de seu
julgamento profissional para planejar e executar os procedimentos necessários
para a realização do seu trabalho. Assim, os controles relacionados aos objetivos
operacionais, ou de curto prazo, também podem ser relevantes caso eles se
relacionem com os dados analisados ou utilizados na aplicação de procedimentos
de auditoria.

Entretanto, além de opinar sobre as demonstrações financeiras, a auditoria contábil


também revisa as transações contábeis, financeiras e operacionais de uma
entidade. Com tais procedimentos, podem-se identificar deficiências nos controles
internos e apresentar recomendações para saná-las.

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De acordo com tudo o que vimos até aqui, podemos resumir os principais benefícios
da auditoria em três pontos:

• aumenta a transparência e confiança dos stakeholders da empresa auditada;


• permite identificar falhas ou deficiências, que devem ser trabalhadas para a
melhoria de processos e procedimentos internos;
• a tomada de decisão será sustentada ou subsidiada com informações con-
sistentes e confiáveis, livres de distorções relevantes.

A partir disso, para encerrar esta unidade, vamos refletir: será que a auditora é,
realmente, necessária? Ou seria apenas um custo a mais para as empresas? Se
você respondeu sim para a primeira pergunta, você compreendeu a importância da
auditoria para as entidades!

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Referências
ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2012.

ARAÚJO, I. da P. S.; ARRUDA, D. G. Fundamentos da auditoria: a auditoria das


demonstrações financeiras em um contexto global. São Paulo: Saraiva, 2012.

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constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 2 jan. 2018.

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maio de 1999. Dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria
independente no âmbito do mercado de valores mobiliários, define os deveres e as
responsabilidades dos administradores das entidades auditadas no relacionamento
com os auditores independentes. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
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de 1983. Dispõe sobre as prerrogativas profissionais de que trata o artigo 25 do
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Dispõe sobre a NBC PG 100 - aplicação geral aos profissionais da contabilidade.
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2015. Dá nova redação à NBC TO 3000 que dispõe sobre trabalhos de asseguração
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Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 set. 2016.

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CREPALDI, S. A. Auditoria Contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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