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Universidade Rovuma

Escola Superior de Contabilidade de Gestão


Curso de Gestão de Empresas com Habilitações em Gestão Financeira – 3º ano
Auditoria Interna
I. INTRODUÇÃO A AUDITORIA

1.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AUDITORIA

Há muito que surgem teorias referentes ao aparecimento da auditoria, que sustentam de que
esta, teria surgido por volta do ano 4000 a.c, quando eram efectuadas auditorias na Babilônia,
na China e no Egipto, sobretudo relacionadas com a cobrança de impostos e com o controlo
dos armazéns dos faraós. No entanto, de acordo com COSTA (2010), a auditoria como é
modernamente conhecida, teve o seu início na Grã-Bretanha, em meados do séc. XIX,
resultante da Revolução industrial e, quando à luz destes acontecimentos foram publicadas
normas de relato financeiro e de auditoria. Anos depois, em 1854, foi criada The Society of
Accountants in Edinburgh, que em 1951 tornou-se na actual The Institute of Chartered
Accountants of Scotland, designado como primeiro organismo profissional de contabilistas e
auditores a nível mundial.

Até o período antes da Revolução industrial, a auditoria não se fazia sentir ainda no sector
privado, pois as sociedades caracterizavam-se maioritariamente pela existência de pequenos
negócios locais, administrados e explorados pelos próprios proprietários, deixando à parte a
necessidade de elaboração dos trabalhos de auditoria. Durante este mesmo período, a
preocupação estava centrada apenas na utilização apropriada dos fundos públicos por parte
dos oficiais públicos, limitando a auditoria ao alcance de um único objectivo – Detecção de
fraudes na utilização dos fundos públicos.

Após 1884, a detecção de fraudes passa de único para objectivo primário da auditoria. Aos
auditores, lhes era exigido apenas uma investigação minuciosa de fraudes, caso
identificassem circunstâncias suspeitas para existência de tal facto.

A partir do final do séc. XIX, com o incremento das empresas industriais e comerciais, as
quais passaram a sentir necessidade de implementar bons procedimentos contabilísticos e
medidas eficientes de controlo interno, os auditores deixaram de efectuar apenas trabalhos
relativos ao que anteriormente representavam tarefa primordial na execução dos seus
trabalhos e começaram a praticar a contabilidade e auditoria como hoje são conhecidas e
entendidas.

Em 1887, foi criado o American Institute of Accountants, o qual em 1917, publicou os


primeiros documentos técnicos sobre a auditoria e, por outro lado, o seu sucessor, o American
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Institute of Certified Public Accountants (AICPA) publicou em 1948 as normas de auditoria
geralmente aceites.

Nos EUA e, sobretudo na América Latina, o progressivo avanço das grandes empresas
multinacionais conduziu a expansão da auditoria para estas regiões, pois aqui, os auditores
somente podiam expressar suas opiniões sobre as demonstrações financeiras consolidadas
desde que as demonstrações das respectivas empresas subsidiárias fossem auditadas.

Na Europa, exceptuando-se a Grã-Bretanha e a Holanda e alguns países da região Centro e


Norte do continente, o desenvolvimento da auditoria não se deu como um facto pronunciado,
como se deu na América do Sul, onde a auditoria obteve um avanço explosivo consequente
do surgimento e desenvolvimento das multinacionais.

Relativamente aos outros continentes, o desenvolvimento da auditoria deu-se como


consequência de influências económicas dos grandes países industrializados sobre os menos
industrializados e/ou não industrializados, a título de exemplo, a Austrália, o Japão, a África
do Sul, entre outros.

O desenvolvimento da Auditoria na União Europeia

A Comunidade Económica Europeia (CEE), antecessor da União Europeia (UE), foi


constituída em Roma por 6 países, nomeadamente – Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e
Luxemburgo, hoje composto por uma legião de 27 países.

A partir do final da década de 70, passaram a ser publicadas várias directivas relacionadas às
contas individuais e consolidadas das sociedades em geral, instituições financeiras, empresas
de seguros.

No período entre os finais do séc. XX e início do séc. XXI, a comissão começou a elaborar
diversos documentos relacionados com a auditoria, dos quais destacam-se:

 O papel, o estatuto e a responsabilidade do auditor na União Europeia (Livro Verde,


1996);
 O futuro da auditoria (Comunicação de 1998);
 O controlo da qualidade das auditorias na União Europeia: requisitos mínimos
(Recomendação de 2000);

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 A independência dos auditores na União Europeia: um conjunto de princípios
fundamentais (Recomendação de 2002); e
 O papel dos administradores não executivos ou membros do conselho de supervisão
das sociedades cotadas e dos comités do conselho de supervisão (Recomendação de
2005.

1.2. AUDITORIA FINANCEIRA – CONCEITO E APLICAÇÃO

A palavra Auditoria tem a sua origem no verbo latino audire, que significa “ouvir”, que
conduziu à criação da palavra auditor, do latim auditore, como sendo aquele que ouve
(ouvinte), isto é, ainda nos primórdios do aparecimento da auditoria, os auditores tiravam
conclusões e elaboravam pareceres com base nas informações que lhes eram transmitidas
verbalmente.

Em seu sentido mais amplo, a Auditoria é o processo de confrontação entre uma situação
encontrada (condição) e um determinado critério (situação ideal), ou seja, a comparação
entre o facto efectivamente ocorrido e o que devia ocorrer.

De acordo com ALMEIDA (2014), a Auditoria é “um processo objectivo e sistemático,


efectuado por um terceiro independente, de obtenção e avaliação de prova em relação às
asserções sobre acções e eventos económicos, para verificar o grau de correspondência entre
essas asserções e os critérios estabelecidos, comunicando os resultados aos utilizadores de
informação financeira.” Assim, a auditoria é um processo de recolha de provas para testar as
asserções efectuadas pelo órgão de gestão, contidas nas demonstrações financeiras, com vista
à avaliação das mesmas, tendo por base as normas contabilísticas geralmente aceites e outros
referenciais, comunicando as suas conclusões aso utilizadores da informação financeira.

1.2.1. Objecto e objectivos da auditoria


A Auditoria financeira, toma como objecto as asse rções subjacentes às Demonstrações
financeiras (assunto investigado), e como objectivo a expressão de uma opinião sobre as
Demonstrações Financeiras por parte de um profissional competente e independente
(resultado que se pretende alcançar).

De acordo com a ISA 200, o objectivo principal de uma auditoria é de aumentar o grau de
confiança dos utilizadores interessados nas demonstrações financeiras e, neste caso ao
desenvolver trabalhos de auditoria, o auditor tem como objectivos:
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 Obter uma segurança razoável se as demonstrações financeiras como um todo estão
isentas de distorções materiais, seja devido a fraude ou a erro, permitindo-lhe neste
caso, expressar uma opinião sobre se as demonstrações financeiras estão preparadas
em todos aspectos materiais, de acordo com uma estrutura conceptual de relato
financeiro aplicável;
 Relatar sobre as demonstrações financeiras e comunicar conforme exigido pela ISA,
de acordo com suas constatações.

1.2.2. Utilizadores das informações financeiras

De todas as pessoas, são sem dúvidas as últimas, ou seja, os utilizadores, as que devem ser
privilegiadas uma vez que esperam que as demonstrações financeiras, como parte que são das
informações financeiras em termos gerais, sejam preparadas com o fim de proporcionar
informação que seja útil no processo de tomada de decisões, como:

Decidir quando comprar, deter ou vender um investimento financeiro (acções, quotas,


obrigações ou títulos de participação; avaliar a curadoria ou responsabilidade da gestão;
avaliar a capacidade da empresa em remunerar e proporcionar benefícios aos seus
colaboradores; avaliar a segurança das quantias emprestadas à empresa; determinar políticas
de impostos; determinar os lucros e dividendos distribuíveis; preparar e utilizar as estatísticas
de rendimento nacional e regular o sector de actividade em que a empresa se insere (COSTA,
2010:37-38).

Os principais utilizadores da informação financeira são:

a) Investidores: têm interesse com os riscos inerentes aos seus investimentos, e com as
taxas de rendimento que estes lhes possam proporcionar; cabendo a eles tomar
decisões que lhes permitam determinar se devem comprar, deter ou vender esses
investimentos. Por outro lado, os accionistas, que estão interessados em saber se a
empresa possui capacidades para pagar seus dividendos;
b) Trabalhadores: interessados na estabilidade e rendibilidade do seu patronato e na
capacidade da empresa em proporcionar-lhes remunerações, pensões de reforma e
oportunidades de emprego;
c) Financiadores: procuram determinar se os seus empréstimos e respectivos juros
serão pagos até a data dos seus vencimentos;
d) Fornecedores e outros credores comerciais: interessa-lhes determinar se as suas
dívidas serão pagas conforme acordado entre ambas partes;

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e) Clientes: interessa-lhes a informação acerca da continuidade da empresa,
especialmente quando têm com esta envolvimentos de longo prazo ou adiantamentos
significativos;
f) Governo e os seus departamentos: interessados na distribuição de recursos e nas
actividades das empresas, estabilidade do sector de actividade em que as empresas
actuam, determinação de políticas de tributação e outros fins estatísticos; el
g) Público: contribuições a economias locais (tendências e desenvolvimento prospectivo
das empresas, extensão das suas actividades), oportunidades de emprego e
responsabilidade social das mesmas.

1.2.3. Filosofia e função da Auditoria

Existe uma grande variedade de interessados na produção e no uso de demonstrações


financeiras auditadas. Em primeiro lugar, o órgão de gestão, cujas responsabilidades são a
gestão da organização, a salvaguarda dos activos que lhes estão confiados e a preparação de
demonstrações financeiras que espelhem as condições financeiras e económicas da
organização ao longo de um determinado período. As demonstrações financeiras são
disponibilizadas a terceiros, que investiram ou têm intenções de investir, que providenciaram
recursos ou que têm qualquer outro interesse na organização. Os auditores recolhem provas
para determinar se as demonstrações financeiras foram preparadas de acordo com as normas
contabilísticas geralmente aceites, emitindo um relatório que é disponibilizado ao órgão de
gestão e aos terceiros interessados.

Assim, o auditor adiciona valor às demonstrações financeiras, atendendo a que:

 Obtém provas sobre a adequada apresentação das demonstrações financeiras à luz das
normas contabilísticas;
 É independente em relação ao órgão de gestão e aos terceiros;
 Tem conhecimento sobre os riscos subjacentes à actividade da empresa.

1.2.4. A Profissão do Auditor

1.2.4.1. Requisitos pessoais do auditor


Há uma série de predicados que a pessoa que pretende exercer a função de auditoria deve
possuir para que seu trabalho seja desenvolvido da melhor maneira possível. Entre essas
qualidades destacamos franqueza, honestidade, sinceridade e zelo.
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O auditor deve manter uma postura imparcial diante dos fatos que ele observa e registra nas
organizações, mantendo uma atitude íntegra em todas as fases do seu trabalho.
Destacam-se ainda outras virtudes necessárias tais como: integridade, objectividade,
independência, confidencialidade, habilidade e competência.
 Integridade: O profissional de auditoria deve examinar toda a documentação, obter
dados e conversar com as pessoas de maneira íntegra, honesta, transmitindo a todo
momento sua honestidade.
 Objectividade: O auditor deve ser objectivo na consecução do seu trabalho,
colectando informações pertinentes de forma directa, de maneira que propicie a
execução da auditoria com qualidade, e no menor tempo possível.
 Independência: O profissional de auditoria deve ser livre de qualquer interesse
directo, ou indirecto, sobre os resultados gerados pelo seu trabalho, adoptando uma
postura de independência e imparcialidade.
 Confidencialidade: O auditor deve respeitar a confidencialidade das várias
informações e dados obtidos durante e após a realização do seu trabalho, estando
impedido de divulgar essas informações e dados a terceiros, sem autorização
específica da organização auditada, excepto por obrigação legal ou profissional.
 Habilidade e competência: O profissional de auditoria deve ser uma pessoa que
acumule habilidades e competências obtidas através de sólida formação técnica e
cultural. Essas habilidades e competências são conseguidas após leitura, treinamento,
estudo e vivência prática

1.2.4.2. Principais diferenças entre a Contabilidade e a Auditoria

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1.2.5. Importância e limitações da Auditoria

A Compreensibilidade, relevância, fiabilidade e a comparabilidade são as quatro principais


características da informação financeira que a tornam útil para os seus utilizadores. Estes,
confiam aos auditores independentes um a missão de verificar se estas e outras características
da informação financeira são alcançadas.

1.2.5.1. Características qualitativas da informação financeira

De acordo com a framework do IASB toda a informação financeira deve possuir


determinadas características qualitativas as quais mais não são do que os atributos que tornam
a informação proporcionada pelas demonstrações financeiras útil aos seus utilizadores. A
aplicação das características e dos princípios contabilísticos apropriados resulta, normalmente
em demonstrações financeiras que apresentam uma imagem verdadeira e apropriada (true and
fair view) da posição financeira, dos resultados e dos fluxos de caixa de uma empresa.

O framework considera a existência de quatro características qualitativas da informação


financeira:

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 Compreensibilidade - a informação financeira proporcionada pelas DF's deve ser
rapidamente compreensível pelos utilizadores, de modo a que estes tenham não só
conhecimentos relacionados aos aspectos gerais da empresa (económicos e
contabilísticos), como também quaisquer outro tipo de informação que possa auxiliar
os utilizadores a efectuar um estudo mais complexo das DF's;
 Relevância - a relevância da informação financeira é afectada pela sua natureza e
materialidade, sendo em alguns casos por si só a natureza da informação suficiente
para determinar a sua relevância. Neste caso, uma informação é relevante quando
influencia nas decisões económicas dos utilizadores, permitindo-lhes avaliar
acontecimentos passados, presentes ou futuros ou ainda confirmar ou corrigir
avaliações passadas;
 Fiabilidade - a informação financeira apresentada deve ser fidedigna e neutra (livre
de preconceitos)
 Comparabilidade

Relativamente à comparabilidade, os utilizadores devem ser capazes de comparar:

 As DF's de uma empresa através do tempo e, a partir destas, identificarem tendências


na posição financeira e no desempenho;
 As DF's de diferentes empresas, com o intuito de avaliar de forma relativa a posição
financeira e suas alterações e seu respectivo desempenho.

No entanto, a valorimetria deve ser levada a efeito, de forma consistente em toda a empresa e
no seu decurso de tempo. E, para tal, impõe-se que os utilizadores sejam informados das
políticas contabilísticas utilizadas na preparação das DF's, de quaisquer alterações nessas
políticas, das razões e efeitos dessas mesmas alterações.

Aos utilizadores das DF’s, a auditoria condiciona as seguintes actividades:

Órgão de gestão Análise e performance, tomada de decisões, relata resultados

Investidores Avaliação da performance, tomada de decisões de investimentos

Instituições financeiras Decisão de conceder ou não empréstimos, prémios de riscos,


condições de empréstimos

Auditoria tributária Apuramento do resultado fiscal

Reguladores Cumprimento dos regulamentos, imposição de sanções

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Trabalhadores Aumentos salariais, prémios, segurança no trabalho

Tribunais Avaliação da situação financeira da empresa em caso litígio

Obrigacionistas Venda ou aquisição de mais obrigações

Fornecedores Avaliação do risco de crédito

A necessidade da auditoria às DF'S é atribuída às seguintes condições:

 Conflito de interesses - adulteração das DF's a favor do órgão de gestão, ou como


forma de agradar ou tranquilizar os investidores, visando transmitir uma boa imagem
para com o trabalho da gestão ou garantia de segurança dos seus investimentos e
património;
 Complexidade das transacções - à medida em que a complexidade das
demonstrações financeiras aumenta, maior o risco de distorção (intencional ou não) e
menor a capacidade de compreensão dos utilizadores de informação financeira; daí a
necessidade da opinião independente do auditor para avaliar a qualidade das DF'S;
 Relevância para o processo de tomada de decisões - a auditoria as DF'S é muitas
vezes a única fonte fundamental para a tomada de decisões em relação aos
investimentos da empresa;
 Afastamento dos utilizadores da informação financeira - são poucos os
utilizadores que têm acesso directo aos documentos de contabilidade, diferentemente
dos órgãos de gestão. No entanto, para ultrapassar tais dificuldades, os utilizadores
confiam aos auditores a missão de expressar uma opinião sobre as DF'S.

A necessidade de auditoria é frequentemente associada à necessidade de contabilidade


(prestação de contas), que resulta na separação entre proprietários e órgãos de gestão das
empresas, resultante do crescimento das empresas em dimensão e complexidade que se deu
com a Revolução industrial.

E, por outro lado a auditoria apresenta as seguintes limitações

 Custo razoável – trata-se de um constrangimento económico. O auditor não dispõe


de recursos ilimitados para realizar uma auditoria, assim, a auditoria é efectuada com
base em amostragem dos dados que suportam as demonstrações financeiras;

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 Período temporal – o relatório da auditoria é emitido em regra, três meses após a
data das demonstrações financeiras. Esta limitação temporal pode afectar a quantidade
de prova que seja necessária recolher para testar as operações que possam ter ocorrido
após a data das demonstrações financeiras e que possam influenciá-las;
 Estimativas contabilísticas – as estimativas são uma parte inerente ao processo
contabilístico e ninguém, nem mesmo os auditores, consegue prever o resultado
dessas estimativas. As estimativas abrangem os critérios de incobrabilidade de
créditos, a valorização de inventários, os testes de imparidade, a definição da vida útil
dos activos tangíveis, entre outros;
 Critérios contabilísticos alternativos – as normas de contabilidade permitem a
adopção de diferentes critérios e entendimentos contabilísticos. Assim, os utilizadores
da informação financeira devem ter conhecimento dos critérios adoptados e do modo
como estes influenciam as demonstrações financeiras;
 Determinação da materialidade – a determinação da materialidade, quer em termos
quantitativos quer em termos qualitativos, requer um elevado grau de julgamento por
parte do auditor;
 Relatório de auditoria – a padronização do relatório de auditoria pode não reflectir
toda a complexidade que envolve o processo de auditoria e a formação da opinião do
auditor;
 Risco de auditoria – o risco que o auditor corre de emitir uma opinião inapropriada
sobre as demonstrações financeiras.
1.3. TIPOS DE AUDITORIA
1.3.1. Quanto ao órgão executor
Auditoria interna e a Auditoria externa
Quando uma pessoa e/ou entidade tem a intenção de utilizar-se de trabalhos de auditoria,
normalmente debate-se com a dúvida em escolher qual constitui melhor alternativa para
execução dos trabalhos de auditoria, cabendo a esta decidir se pretenderá ter uma auditoria
interna ou contratar auditores externos.
a) Auditoria externa
Normalmente os trabalhos executados por auditores externos, que são pessoas alheias à
empresa e não fazem parte da folha de pagamento, têm por objectivo principal a emissão de
parecer sobre as demonstrações financeiras (balanço patrimonial, demonstração do resultado
do exercício, demonstração das mutações do património líquido, demonstração das origens e
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aplicações de recursos e notas explicativas), opinando se estas estão de acordo com as
práticas contábeis. Essa actividade é executada mediante contrato de prestação de serviço, e
os testes de auditoria se espalham por onde haja necessidade de levantar questões que
auxiliem na conclusão dos trabalhos.
b) Auditoria interna
A auditoria interna foi concebida em virtude de a auditoria externa ter por objectivo
unicamente a emissão de uma parecer acerca da fidedignidade das demonstrações financeiras
da empresa. A tarefa de análise detalhada de políticas e procedimento interno coube à
auditoria interna. A auditoria interna é portanto, uma actividade de avaliação independente,
dentro de uma organização, para revisar as operações contábeis, financeiras e outras, dentro
da finalidade de prestar serviço à administração. É um controle administrativo cuja função é
medir e avaliar a eficiência dos outros controles.
A função moderna da auditoria interna é fazer aquilo que a direcção da empresa gostaria de
fazer, se tivesse tempo para tanto e soubesse fazê-la.
Segundo o Audibra, a auditoria interna é uma actividade de avaliação independente e de
assessoramento da administração voltada para o exame e avaliação da adequação, eficiência
dos sistemas de controle, bem como da qualidade do desempenho das áreas em relação às
atribuições e aos planos, metas, objectivos e políticas definidos para as mesmas.
A auditoria deve se assegurar de que os auditores internos possuam competência técnica e
grau de instrução compatíveis com as tarefas que executarão, é de responsabilidade do
gerente de auditoria estabelecer padrões e critérios de recrutamento e selecção, levando-se em
conta: conhecimento, experiência, capacitação prévia do candidato, perfil comportamental e,
sempre que possível, deve ser examinada a vida pregressa do candidato.
A auditoria interna deve elaborar um plano anual de treinamento, baseado nas avaliações
periódicas, no plano de carreiras e no rodízio de trabalho dentro do órgão. Independente do
plano de treinamento preparado pela área de auditoria, os auditores devem ter uma atitude de
contínuo aperfeiçoamento e ampliação de seus conhecimentos. Os atuais objectivos da
auditoria interna, na sua essência, estão direccionados para:
 Examinar a integridade e fidedignidade das informações financeiras e operacionais e
comunicar essas informações;
 Examinar sistemas estabelecidos, visando certificar a observância das políticas,
planos e leis que possam impactar as operações e verificar se a organização caminha
em conformidade com as directrizes traçadas;
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 Examinar os meios usados para protecção de activos da companhia e, quando
necessário, verificar sua existência física;
 Certificar-se de que os recursos da companhia são utilizados de forma eficiente e
económica;
 Examinar operações e programas, certificar-se de que os resultados são compatíveis
com os planos, e se essas operações, planos e programas foram executados em
consonância com o que foi planeado;
 Comunicar o resultado do trabalho de auditoria e se certificar que foram tomadas as
providências necessárias a respeito de suas descobertas.
No entanto, a auditoria interna tem como finalidade a revisão do controle interno, por parte
do trabalho do auditor, é a de determinar sua qualidade, adequação e desempenho, a forma
como é monitorado pela alta administração e sua economicidade em relação aos custos dos
controles e actividades controladas e, finalmente, formar uma base para determinar a
extensão de seus próprios testes, natureza e oportunidades de sua realização.
Os auditores internos devem examinar os meios usados para proteger o activo contra diversos
tipos de danos, como os que decorrem de roubo, incêndio, actividade ilícita e exposição dos
bens às intempéries. Ao verificarem a existência do activo devem empregar procedimentos
adequados para esse fim.
A importância da auditoria interna reside na articulação de movimentos que sua implantação
redunda, ou seja, em seus efeitos e impactos, não é sua função exclusiva apontar falhas e
informar ao alto escalão, essa visão simplista dos serviços de auditoria é o maior óbice
impeditivo à conquista da eficácia. Sinalizar falhas é importante na medida em que alerta
para a necessidade de mudança, entretanto, a análise das mesmas falhas e o encaminhamento
de soluções são os factores que realmente dão utilidade à acção de buscar a informação.
O Auditor interno é um profissional que pretende responder às expectativas da administração
sobre os maiores riscos da empresa, observando, aconselhando e esclarecendo os
responsáveis envolvidos, persuadindo-os a implantar as acções correctivas necessárias. Além
disso, é uma função de apoio à gestão baseada num processo sistemático, utilizando técnicas
de auditoria apropriadas.
A auditoria interna é uma actividade profissional e seu propósito é fazer julgamento, portanto
ela necessita do maior grau de imparcialidade, integridade e objectividade, os quais se
atrofiam na ausência de independência prática. Devido às limitações inerentes à auditoria,
existe risco inevitável de que distorções relevantes, resultantes de fraude e, em menor grau,
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de erro, possam deixar de ser detectadas. Embora a existência de sistema contábil e de
controle interno eficaz reduza a probabilidade de distorção, sempre irá existir algum risco dos
controles internos não funcionarem como o planeado. Além disso, qualquer sistema contábil
pode ser ineficaz contra fraude que envolva conluio entre empregados ou que sejam
cometidas pela administração.
Principais diferenças entre Auditoria interna e Auditoria externa

AUDITORIA INTERNA AUDITORIA EXTERNA

Existe a relação directa de subordinação hierárquica, Não há relação de subordinação, pois as actividades são
considerando que as actividades são executadas por executadas por pessoas sem vínculo de emprego com a
colaboradores da própria empresa. empresa.

Em razão da actividade ser realizada por colaborador da Devido à escassez de tempo para a realização dos exames,
empresa, normalmente existe maior abrangência nos normalmente é executada com bases amostrais, que
exames que são executados, considerando que a pessoa está assegurem o mínimo de risco para o auditor emitir a sua
o tempo todo na empresa auditada. opinião.

Tem como principais objectivos avaliar os processos Tem como principais objectivos a revisão das práticas
internos, adequação das práticas às expectativas da alta administrativas, com reflexos nas demonstrações
administração, melhoria contínua e avaliação da eficácia financeiras, pois a adequação dessas práticas atende a
organizacional. terceiros, interessados na empresa, especialmente os
investidores.

Existe a preocupação directa com a ocorrência de erros e Os erros e as fraudes são preocupações que devem
fraudes, em todos os processos, pois a responsabilidade contemplar o planeamento das actividades, principalmente
primária pela detecção destes é da alta administração. relacionando-os aos seus reflexos nas demonstrações
financeiras.

O sistema de controle interno é permanentemente avaliado, O sistema de controle interno é base para a definição do
possibilitando assim a revisão e aperfeiçoamento das escopo da auditoria, possibilitando a avaliação da
rotinas da empresa. necessidade de um maior ou menor aprofundamento.

Possibilita maior acompanhamento posterior à auditoria, O acompanhamento posterior à auditoria somente é possível
evidenciando se as áreas/processos foram corrigidos. quando da realização de nova auditoria, revisando os pontos
falhos que foram detectados anteriormente.

O produto final da auditoria interna é um relatório O produto final da auditoria é a emissão de um parecer
detalhado com as observações e sugestões de melhorias sobre as demonstrações financeiras, acompanhado de um
com maior grau de detalhamento. relatório com as observações e sugestões de melhorias,
todavia normalmente com menor grau de detalhamento

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1.3.2. Classificação das auditorias quanto aos seus objectivos

De acordo com estudos realizados por Arruda, Araújo e Humberto (2007), as auditorias
podem ser classificadas quanto aos seus objectivos em:

a) Auditoria contábil ou financeira - aquela que tem por objectivo a emissão de um


parecer com a opinião do auditor sobre as demonstrações financeiras, em relação ao
cumprimento pela empresa das práticas usuais de contabilidade (princípios
contabilísticos, normas e legislação específica).

b) Auditoria operacional - também conhecida como auditoria de optimização de


recursos, auditoria de desempenho ou de gestão, é aquela onde busca-se avaliar a
eficácia e o desempenho das operações, dos sistemas, dos métodos de condução dos
negócios, além do cumprimento das políticas administrativas da empresa.

O foco principal desse tipo de auditoria é apresentar constantes sugestões de melhoria nos
processos auditados.

c) Auditoria interna – constitui um conjunto de procedimentos técnicos, que tem por


objectivo examinar a integridade, adequação e eficácia do controle interno e das
informações físicas, contabilísticas, financeiras e operacionais de uma entidade.

d) Auditoria integrada - define-se como uma auditoria de escopo amplo, com o


objectivo de revisar sistematicamente e emitir relatórios sobre as relações de
responsabilidade de prestação de contas e sobre as actividades de apoio, os sistemas e
controles utilizados pela administração no cumprimento dos seus deveres e
obrigações.

Conforme Cordeiro (1998) a “auditoria integral” pressupõe um envolvimento total do


auditor com o objecto auditado, propiciando um aprofundamento nas metodologias
internas de gestão, e não somente a preocupação com o adequado cumprimento, por parte
dos funcionários da empresa, das rotinas e procedimentos internos da organização.

e) Auditoria de gestão – tem como objectivo a análise dos planos e directrizes da


empresa e, mensurar a eficiência da gestão e sua consistência com os planos e suas
metas aprovados.

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f) Auditoria de Compliance – objectiva verificar o cumprimento das normas e
procedimentos implantados pela empresa, leis, regulamentos, resoluções dos órgãos
reguladores de determinadas actividades, etc.

g) Auditoria tributária – tem como objectivo a analise das eficiência e eficácia dos
procedimentos utilizados para o apuramento, controlo e pagamento das obrigações
tributarias que incidem sobre as actividades económicas das empresas e, o respectivo
planeamento tributário.
h) Auditoria ambiental – tem como objectivo avaliar os processos operacionais e
produtivos da empresa, visando a identificação ao meio ambiente, quantificação de
contingências, e preparação da empresa par a receber certificação de qualidade de
meio ambiente.
i) Auditoria de sistemas de informação – tem como objectivo o exame e avaliação dos
sistemas de informática e dos controles existentes no ambiente das TI’s, visando
aperfeiçoar a utilização de recursos de processamento de dados, minimizar os riscos
envolvidos nos processos e garantir a geração de informações e dados confiáveis em
tempo e ao menor custo possível.
a) Auditorias especiais (também designada por auditoria de Investigação) – têm
como finalidade atender um objectivo específico, como por exemplo, acessoria na
avaliação de empresas (processos de compra de participação societária, Fusão,
Incorporação, Cisão, etc), em casos de contingências e passivos ligados a áreas
trabalhistas, tributárias, ambientais e judiciais nas empresas envolvidas, assim como a
comparação de certos dados e situações especiais; Como exemplo pode se citar as
auditorias de caixa, dos investimentos de devedores, etc. Neste tipo de auditoria
comprovam-se, em todos os seus dados com detalhes o aspecto a que elas mesmas se
referem.

1.3.3. Classificação da auditoria quanto a sua extensão ou alcance

b) Auditoria máxima ou detalhada – são auditorias de mais alcance de amplitude. O


auditor comprova todas as operações realizadas durante um período determinado,
mediante a verificação dos comprovantes, contas e registos com o objectivo de
determinar a situação financeira e os resultados do período auditado. Também se
designa por auditoria integral (completa) ou geral.

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Curso de Gestão de Empresas com Habilitações em Gestão Financeira – 3º ano
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Pela sua amplitude requer muito tempo para realiza-la e o seu custo é muito elevado. O seu
emprego é, actualmente, limitado a casos de absoluta necessidade, principalmente de
descobrir irregularidades ou fraudes, ou quando a entidade carece dar uma adequada
comprovação interna.

c) Auditoria por Provas (por amostragem) – é realizada com base na selecção de


determinadas quantidades de operações, contas, registos, etc. a selecção é baseada na
teoria das probabilidades. Este tipo de auditoria é mais frequente actualmente, e surge
da necessidade económica do tempo na realização, verificação das DF,s sem ter de
rever todas operações.

1.3.4. Classificação da auditoria quanto a sua frequência de realização

a) Auditorias Sistemáticas ou contínuas – as que se realizam de forma permanente e


programada, em períodos certos. Mensal ou quinzenalmente. O auditor verifica e
comprova as operações efectuadas desde a sua última visita ou seja, cobre todo
exercício ou período determinado.
b) Auditorias Periódicas – são as efectuadas no final de um período económico
podendo, também, serem feitas semestral ou trimestralmente.
c) Auditorias Eventuais ou Ocasionais – enquadradas às auditorias especiais, realizam-
se atendendo a contingências especiais que ocasionalmente ocorrem.
d) Auditorias por Surpresa – qualquer das auditorias acima mencionadas podem ser
efectuadas de duas maneiras distintas. Por surpresa ou com aviso prévio. Estas,
realizam-se sem prévio aviso.

1.4. Factores a considerar para determinação do tipo de auditoria a realizar


Conhecidas as distintas classes de auditoria e perante a situação a decidir o tipo de auditoria a
efectuar, é necessário considerar alguns factos importantes, como sejam:
 A Finalidade que se pretende atingir com a auditoria;
 A eficiência do sistema de comprovação interna e o sistema de contabilidade em
uso;
 O grau de responsabilidade que o auditor assumirá.

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Auditoria Interna
Em primeiro lugar é necessário conhecer a finalidade que se pretende atingir e qual é o
propósito da auditoria que se vai efectuar.
- Se se pretende conhecer determinados aspectos específicos de uma empresa deve se
escolher uma auditoria especial;
Se a finalidade é conhecer a verdadeira situação económica e financeira da entidade, o
resultado das suas operações, etc, deve-se escolher entre uma auditoria máxima ou auditoria
por provas sendo a eficiência do sistema de comprovação interna da entidade o factor que
deverá ter-se em conta e, no seu caso o alcance das provas a realizar.

Nas pequenas empresas, em que todo o trabalho contabilístico é efectuado por um só


empregado, para assumir certo grau de responsabilidade, a auditoria terá de acompanhar
detalhadamente todas as contas e operações.
Numa empresa de tipo médio, frequentemente o trabalho divide-se por vários empregados o
que contribui de certa forma, a que exista algum grau de comprovação interna. Nestes casos,
basta comprovar detalhadamente certos números de contas e operações, e nos restantes casos
recorrendo-se a auditoria por provas.

Questionário:
1- Sabendo que numa determinada empresa, o controle interno é muito deficiente e que
se verificam vários casos de irregularidades. Que tipo de auditoria externa
recomendaria efectuar em relação com:
a) A frequência b) O alcance
2- Uma entidade deseja preparar uma informação sobre a sua organização interna. Que
tipo de auditoria recomendaria? Explique a sua resposta.
3- Justifique cada um dos factores a considerar na determinação do tipo de auditoria a
realizar.

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