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1.

INTRODUÇÃO

1.1Conceito e importância da auditoria financeira; distinção entre revisão legal das


contas e auditoria às contas.

Segundo Sá (2000 p.23) “a denominação auditor é antiga, mas não se conhece


aocerto sua origem nem a data precisa em que se consagrou, admitindo-se que pudesseter
sido adoptado por volta do século XIII, na Inglaterra, no reinado de Eduardo I”.
Acrescenta o autor “o termo auditor, no latim, como substantivo, tinha
sentidoapenas de significar “aquele que ouve” que mais tarde se configurou como aquele
quedaria opinião sobre algo que comprovou ser verdade ou não”.

Conceito:
Attie (1998, p.25):A auditoria é uma especialização contábil voltada a testar a
eficiência do controlo patrimonial implantado com o objectivo de expressar uma
opiniãosobre determinado dado.
Em termos gerais, uma auditoria destina-se a verificar, de uma forma sistemática,
a conformidade dos procedimentos adoptados e seguidos nas diversas áreas
organizacionais de uma entidade com os respectivos regulamentos, critérios, leis, regras,
políticas, etc., quer internos quer externos, que se encontrem estabelecidos e aprovados.

Importância da Auditoria:
Para Crepaldi (2000), o auditor antes de tudo deve mostrar as fraquezas,
determinando as causas e avaliar as consequências, encontrando uma solução de modo a
fazer com que os responsáveis venham a agir.
Um dos principais objectivos dos auditores internos é ajudar as organizações a
eliminar desperdícios, simplificando tarefas e reduzindo custos.
Na iniciativa privada o objectivo é a optimização de lucros e de respostas, onde
aempresa depara-se com novas situações que levam a preocupação com a eficiência e
eficáciados recursos. No sector público, o objectivo principal é a busca da eficiência,
eficácia eeconomicidade das acções administrativas desenvolvidas pelos gestores
públicos.
Constitui uma das principais funções da auditoria interna o apoio a gestão,
tornando-seimportante no mundo empresarial no momento.
Como a auditoria leva em consideração o controlo interno das organizações
auditadas,e assume cada vez mais um papel de assessoria, uma definição mais abrangente
seria segundo, Crepaldi (2000 p. 27) possui o seguinte entendimento:
A Auditoria compreende o exame de documentos, livros e registros, inspecções e
obtenção de informações e confirmações, internas e externas, relacionados com
o controlo do património, objectivando mensurar a exactidão desses registros e
das demonstrações contábeis deles decorrentes.

Como principais técnicas de auditoria são oportunas citar:

1. Exames físicos - consiste na verificação "in loco", de modo a determinar se os


registros efectuados estão correctos e os valores adequados em função do item
analisado;
2. Confirmações formais - é utilizado para se obter dados, através de declarações
depessoas que não tenham vínculos com o órgão ou entidade auditada;

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3. Exame da documentação original - comprovação se o material
auditadocorresponde de facto ao apresentado nos documentos comprobatórios das
referidas transacções;
4. Conferência - de somas e cálculos é por si só o mais simples e completo;
5. Exames de lançamentos contábeis - verificação pelo auditor da veracidade
dasinformações contábeis, fiscais;
6. Entrevistas - têm como finalidades à formulação de perguntas e obtenção derespostas
adequadas e satisfactórias, são usadas para se obter informações sobre a
Organização,nas normas e políticas estabelecidas. É por intermédio da entrevista que
se terá umconhecimento maior do funcionamento do sistema e se ele esta adequado
às condições efinalidades para que ele foi criado;
7. Observação das Actividades - é a que mais exige a vivência e experiência doauditor.
Consistem em detectar as deficiências, erros, problemas, através do
conhecimento,argúcia e vivência do auditor;
8. Amostragem - é a técnica em que se obtêm informações, dados de um
todo,examinando-se apenas uma parte desse todo (amostra);

1.2 Tipos de Auditoria

Existem vários tipos de auditoria: externa, interna, de gestão, informáticas, para


detectar fraudes, etc.
Taborda (2006) afirma que a auditoria externa envolve a revisão, por parte de um
profissional externo à empresa, das demonstrações financeiras com o objectivo de expressar
uma opinião profissional sobre se as mesmas estão elaboradas de acordo com os princípios
contabilísticos geralmente aceites.
Por outro lado temos a auditoria interna, que segundo o Institute of Internal Auditors
(2009) é uma avaliação independente, estabelecida na empresa como um serviço à própria
empresa. Tem como objectivo auxiliar os membros da empresa no cumprimento eficaz das
suas tarefas.
A auditoria operacional envolve uma revisão sistemática de parte ou de todo o
processo operacional de uma empresa, avaliando se os recursos estão a ser utilizados tendo
em atenção a eficiência, a eficácia e a economicidade. O seu objectivo é avaliar a performance
da empresa, identificar áreas em que possam ser efectuadas melhorias e fazer recomendações.
A auditoria de gestão cobre um largo espetro de procedimentos, métodos de
avaliação, politica e enfoque, tendo como objectivo analisar, avaliar e rever a performance da
empresa em relação a um conjunto de pressupostos ou de regras aceites para a guiar.

1.3 A Fiscalização das sociedades comerciais em Portugal.

Em termos mundiais, o Internacional Organization of Securities Commissions


(IOSCO), é uma organização internacional de comissões de valores mobiliários, tem
como missão cooperar no desenvolvimento, implementação e promoção das normas
internacionais de regulamentação, supervisão e execução, a fim de proteger os
investidores, garantir a eficiência e transparência dos mercados.
Em Portugal, actualmente, a superintendência do mercado financeiro e a
coordenação dos agentes que actuam no mercado é da competência do Ministério das
Finanças. Os diversos agentes económicos encontram-se também sujeitos a supervisão,
nomeadamente de natureza prudencial, por parte, consoante os casos, do Banco de
Portugal, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e do Instituto de Seguros de
Portugal (CVM, 2008:374).
Em conformidade com o Regime Geral das Instituições de Credito e Sociedades
Financeira, é da competência do Banco de Portugala autorização da constituição de

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instituições de créditos e de sociedades financeiras nos casos em que a decisão se pauta
unicamente nos critérios de natureza técnico prudencial; a supervisão da actividade das
instituições; vigiar a observância das normas; proferir recomendações para minimizar
irregularidades e sancionar as infracções praticadas.
É da competência do Banco de Portugal “velar pela estabilidade do sistema
financeiro nacional, assegurando, com essa finalidade, designadamente, a função de
refinanciador de última instância”. Assim, o Banco exerce a supervisão prudencial das
instituições de crédito, das sociedades financeiras e das instituições de pagamentos”.
A supervisão tem como finalidade garantir a estabilidade das instituições. No
entanto, é meramente preventiva, na medida que não pode substituir a gestão competente
e o controlo interno das respectivas instituições. Neste âmbito, evidencia-se o papel
fundamental desempenhado pelos auditores, internos e externos das instituições.
O Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria (CNSA), criado em Novembro
de 2008, tem como missão reforçar a confiança e a credibilidade da actividade de
auditoria em Portugal, assegurando assim que os auditores contribuam para o rigor,
correcção, fiabilidade e transparência dos documentos de prestação de contas.

1.4 Conceito e estrutura da certificação legal das contas.

Em relação à certificação legal das contas a opinião de auditor é expressa de forma


positiva, dando uma segurança elevada. Em exames simplificados a opinião do auditor é
expressa de forma negativa dando uma segurança moderada. Devem ser aceites como
razoavelmente adequadas as notas informativas às demonstrações financeiras.
A certificação legal das contas é um documento muito importante para os utentes
das demonstrações financeiras, pois é uma forma de dar fiabilidade e credibilidade à
informação contida nessas demonstrações. Caso a certificação legal das contas passe a
imagem que se pode confiar naquela empresa, aumenta a probabilidade de investidores
apostarem nessa empresa. Por todas estas razões o auditor tem que ao longo da auditoria
ser bastante responsável e não deixar escapar pormenores importantes confiando nos
clientes, porque muitas vezes, certos pormenores fazem a diferença, e acaba por ser assim
que se escondem manipulações contabilísticas.

2. CONTROLO INTERNO

2.1 Conceito e objectivo do controlo interno

A ICPA, American Instiutute of Certified Public Accountants, apud Attie (1998,


p.110) por meio do Relatório Especial da Comissão de procedimentos de Auditoria,
definiu:
O Controlo Interno compreende o plano de organização e o conjunto
coordenadodos métodos e medidas, adoptados pela empresa, para proteger seu
património,verificar a exactidão e os resultados contábeis, promovendo a eficiência
operacional eencorajar a adesão à política traçada pela gestão.

Através deste conceito, pode-se observar que a alta gestão e as gerências são os
responsáveis por planear, organizar, dirigir e controlar todos os desempenhos
daorganização.
Attie (1998, p.111) afirma que: “O controlo interno compreende todos os
meiosplaneados numa empresa para dirigir, restringir e governar as várias actividades com o
propósito de fazer cumprir os seus objectivos”.

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A gestão de controlo interno é a base sobre a qual a auditoria fundamenta
seutrabalho. Dessa forma, dificilmente o auditor obterá evidências suficientes para
emissão deum parecer, sobre as demonstrações contábeis dissociadas da utilização do
sistema de controlo interno da empresa auditada.
Uma das tarefas mais importantes para o auditor é compreender o sistema de
controlo interno de uma organização. Se os controlos internos forem considerados falhos,
o auditor deve procurar aplicarprocedimentos que julgar necessários, a fim de levantar
dados suficientes para fundamentarseus trabalhos.
O sistema de controlo interno é implementado pelo órgão de gestão com a
finalidade de que distorções materiais sejam prevenidas e no caso de ocorrerem sejam
detectadas.
Geralmente o sistema de controlo interno das organizações auditadas
possuemrelação com o parecer de auditoria. Isso é facilmente percebido, bastando
lembrar que oauditor só reunirá condições de determinar a oportunidade, extensão e
profundidade dosprocedimentos de auditoria, que deverão ser aplicados com vistas à
colher evidênciasnecessárias à emissão do seu parecer, após cuidadoso estudo e avaliação
da sistemática e funcionamento dos controlos da organização auditada.

2.2. Tipos de controlo interno, elementos fundamentais e possíveis limitações

Os controlos são classificados do seguinte modo:


1. Controlos preventivos: que se destinam a evitar que distorções ocorram nas
demonstrações financeiras;
2. Controlos detectivos: cuja finalidade é detectar distorções que não tenham
sido prevenidas pelos controlos preventivos;
3. Controlos correctivos: com a finalidade de corrigir as distorções detectadas
pelos controlos detectivos. Estes controlos incluem: análise de desempenho,
segregação de funções, controlos físicos e controlos sobre o processo de
informação.

Segundo o relatório COSO (Committee of Sponsoring Organization of the


Treadway Commission) as components do controlo interno são:

Monitorização

Informação e comunicação

Avaliação do risco Actividade de controlo

Ambiente de controlo

A monitorização dos controlos consiste numa supervisão regular dos mesmos, ou


seja, é um processo que avalia o desempenho do controlo interno ao longo do tempo.
O sistema de informação e comunicação abarca o hardware, o software, os
funcionários, os procedimentos e as bases de dados.

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As organizações enfrentam riscos internos e externos que são uma ameaça à
persecução dos seus objectivos. A avaliação do risco é um processo desencadeado pelo
órgão de gestão que permite identificar, analisar e responder a esses riscos.
Por actividade de controlo entende-se todas as políticas e procedimentos
encetados pelo órgão de gestão com objectivo de mitigar os riscos internos e externos e
aumentar a probabilidade dos objectivos da organização serem atingidos. A actividade de
controlo é igualmente aplicada às demonstrações financeiras, com objectivo de prevenir,
detectar e corrigir erros e fraudes que possam distorcer essas demonstrações.
O ambiente de controlo está relacionada com todas as áreas da organização e
influencia o modo como o controlo interno é visto pelos trabalhadores. Segundo o COSO
os princípios para um ambiente de controlo eficiente são:
1. Integridade, os valores éticos: A integridade, os valores morais e os
comportamentos éticos, principalmente do órgão de gestão, são
compreendidos por todos e são as linhas de conduta a seguir na elaboração das
demonstrações financeiras.
2. Órgão de gestão: O órgão de gestão compreende, reconhece a importância e
supervisiona o processo de relato financeiro e o sistema de controlo interno da
organização.
3. Filosofia da gestão e forma de actuação: A filosofia da gestão e a sua forma
de actuação são adequadas ao funcionamento de um bom sistema de controlo
interno.
4. Organização interna: A estrutura interna da organização é adequada a um
bom funcionamento do controlo interno.
5. Competência de relato financeiro: A organização possui funcionários com
conhecimentos, experiência e que reconhecem as suas responsabilidades na
preparação das demonstrações financeiras, bem com na implementação e
monitorização do sistema de controlo interno.
6. Autoridade e responsabilidade: Os funcionários reconhecem a autoridade e
as responsabilidades que lhes são atribuídas.
7. Recursos humanos: As políticas e as práticas relacionadas com recursos
humanos são desenvolvidas e implementadas no intuito de facilitar a eficiência
do controlo interno.

Podemos elencar as seguintes limitações de um sistema de controlo interno:

1. Relação custo benefício: O custo de implementação de um sistema de


controlo interno não deve superar os benefícios que pode aportar a uma
organização.
2. Possibilidade dos controlos serem ultrapassados pelo órgão de gestão: O
órgão de gestão tem a faculdade de ultrapassar os controlos por si
estabelecidos, com o intuito de obter ganhos pessoais ou da entidade
sobreavaliar os resultados.
3. Erros de julgamento: em resultados de informações inadequadas, limitações
temporais, pressões, etc, o órgão de gestão e os trabalhadores podem efectuar
erros de julgamentos em processos de tomada de decisões ou na realização de
tarefas rotineiras.
4. Conluio: Indivíduos agindo em conjunto podem ultrapassar a segregação de
funções para efectuarem e ocultarem irregularidades.

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5. Não realização dos controlos: em resultados da não compreensão das
instruções, fadiga, distrações, descuidos ou ignorância, os controlos
implementados pela entidade podem não ser efectuados.

2.3. Recolha e registo dos sistemas de controlo interno

O primeiro passo para a recolha de prova sobre o controlo interno é através de


entrevistas e inquéritos aos responsáveis das áreas e ao órgão de gestão utilizando
checklists sob a forma de questionários de controlo interno. Estes consistem em
perguntas relacionadas com as políticas contabilísticas e de controlo, bem como sobre os
procedimentos implementados para prevenir e detectar distorções materiais. Cada ciclo
das demonstrações financeiras tem um questionário, a maior parte deles está orientada
para respostas do tipo «sim» ou «não», representando este último, regra geral, uma
debilidade do controlo interno. Existe igualmente um campo onde são apostos os
comentários do auditor, havendo ainda, em alguns casos, uma distinção entre deficiências
de controlo relevantes e deficiências de controlo não relevantes.
O uso deste tipo de prova tem como principal desvantagem o facto de ser
padronizada, ou seja, com pouca flexibilidade. Muitas vezes o auditor depara-se com
perguntas que não são aplicáveis à organização que está a auditar. A principal vantagem
está relacionada com o facto de questionários pré-definidos minimizarem o risco do
auditor se esquecer de abordar matérias relevantes.

2.4. Avaliação do sistema e sugestões para a sua melhoria

Na avaliação do controlo interno o auditor utiliza um processo de três fases:

1. Compreender e documentar o controlo interno implementado pelo cliente;


2. Efectuar uma avaliação preliminar do risco de controlo;
3. Realizar testes aos controlos.

A compreensão do controlo interno acontece numa fase inicial da auditoria, ou


seja, o auditor deve avaliar se os controlos que a organização tem implementado sobre as
asserções relevantes, relacionados com os saldos, com as transacções e com a
apresentação e a divulgação, estão em funcionamento e são eficientes na prevenção e
deteção de distorções materiais.
O entendimento do controlo interno deve ser feito utilizando uma metodologia de
top-down, ou seja, primeiramente são identificadas as rubricas significativas das
demonstrações financeiras, quer dizer, as que apresentam um risco inerente mais elevado,
e posteriormente as asserções mais relevantes, ou seja, as asserções onde pode existir o
risco de distorções materiais e, por fim, seleccionar os controlos a testar.
O auditor deve avaliar o desempenho dos controlos, determinando se estes estão
a ser aplicados eficazmente, satisfazendo objectivos das organizações e se previnem ou
detectam e corrigem distorções causadas por erros ou fraudes que poderiam resultar em
distorções relevantes nas demonstrações financeiras.
A metodologia mais usual para o auditor obter uma compreensão sobre o desenho
dos controlos é através da realização de testes de walkthrougt. Estes testes são uma
combinação de entrevistas, observações, análise documental e reexecução,
acompanhando uma transacção desde o seu início até ao momento em que é evidenciada
nas demonstrações financeiras (ex: acompanhar todo o processo de venda, desde o
momento em que a ordem do cliente chega, até ao momento em que a sua dívida é

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saldada). Neste teste é solicitado a cada interveniente que demonstre os procedimentos
que segue no processamento da transacção, permitindo ao auditor obter um entendimento
do controlo implementado, identificando procedimentos que não são seguidos ou lacunas
no desenho do controlo.
Após obter um entendimento sobre o desenho do controlo, o auditor vai testar a
sua eficiência, verificando se este está a funcionar conforme foi desenhado e se o
funcionário que o está a exercer possui a autorização para tal.

3. A DOCUMENTAÇÃO DO TRABALHO DO AUDITOR

3.1.Conceito e finalidade dos papéis de trabalho

Nos papéis de trabalho estão documentados os procedimentos empreendidos pelo


auditor, as provas recolhidas e as conclusões a que chegou. O termo papéis de trabalho
abrange não só o suporte de papel como outros meios de armazenamento de dados,
designadamente os electrónicos.
Segundo Crepaldi (2000, p.249), os papéis de trabalho consistem “num
conjuntode formulários e documentos que contém as informações e apontamentos
colectadospelo auditor, no decurso do exame, as provas por ele realizadas e, em muitos
casos, adescrição dessas provas que constituem o testemunho do trabalho executado e
ofundamento de sua opinião”.
Sá (2000, p. 162) afirma que os papéis de trabalho são “utilizados paratranscrever
dados, fazer anotações, analisar contas, demonstrações de cálculos e relatarsituações
encontrada pelo auditor no desempenho de suas actividades”.

3.2.Organização e conteúdo dos papéis de trabalho: dossier permanente e dossier


corrente.

Os papéis de trabalho são organizados em dois tipos de dossiers: o dossier


permanente e o dossier corrente.
O dossier corrente contém o grosso dos papéis de trabalho e nele são arquivados
os documentos que respeitam ao ano que está a ser auditado. Regra geral este dossier está
organizado de acordo com as áreas das demonstrações financeiras (activo intangível,
activo fixo tangível, propriedades de investimentos, clientes, vendas prestações de
serviços, inventários, etc…). Dentro dele podemos ainda encontrar as informações mais
relevantes do cliente, bem como os principais aspectos da auditoria, os principais
problemas, decisões adoptadas, aspectos focados e outras decisões de interesse.
No dossier permanente é arquivada toda a documentação que o auditor necessita
de um exercício para o outro, ou seja, toda informação que, de uma forma continuada, é
necessária em auditorias recorrentes. Apesar de todos os anos este dossier ser objecto de
actualizações, a regra geral é que a maioria da informação seja recolhida na primeira
auditoria. Este dossier tem as seguintes finalidades: refrescar a memória do auditor em
relação a assuntos que se aplicam ao longo de vários exercícios; fornecer a novos
elementos da equipa de auditoria informações sobre o modo como a empresa está
organizada e sobre as suas principais políticas contabilísticas; e preservar papéis de
trabalho relacionados com matérias que sofrem poucas ou nenhumas mudanças ano após
ano, eliminando assim a necessidade de os preparar.

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3.3. Propriedade, confidencialidade e custódia dos papéis de trabalho

Os papéis de trabalho são propriedade do auditor, devendo ser obrigatoriamente


conservados por um período de 5 anos (artº. 62, nº. 5 EOROC), não do cliente e, em caso
algum, este tem o direito de exigir o acesso a eles. Durante o decorrer de uma auditoria o
auditor tem acesso a um vasto leque de informações de natureza confidencial incluindo
salários dos funcionários, preço dos bens e dos serviços prestados, planos estratégicos,
custos de produção, etc..
Caso o auditor divulgasse esta informação a entidade ou pessoa externa à empresa,
ou mesmo a funcionário da empresa, a relação com o órgão de gestão poderia sair
fragilizada. Para além deste facto, o acesso de terceiros aos papéis de trabalho poderia ter
como consequência a sua adulteração. Por estas razões o auditor deve ter uma especial
atenção na salvaguarda dos seus documentos de trabalho.
Como refere o ponto 2.7.1 do Código de Ética da Ordem dos Revisores Oficiais
de Contas: «o princípio da confidencialidade impõe a obrigação de o auditor se abster de:
a) divulgar informação confidencial recolhida em resultado de relações
profissionais, a não ser que esteja autorizado por escrito, pela entidade a que
respeite a informação, ou que exista um direito ou um legal ou profissional de
divulgar; e
b) usar informação confidencial recolhida em resultado de relações profissionais
para sua vantagem pessoal ou de terceiros»

O ponto 2.7.2 refere ainda que: «o auditor deve manter a confidencialidade,


incluindo num ambiente social, e estar alerta para a possibilidade de divulgação
inadvertida, particularmente a um parceiro de negócio ou a um membro da sua família.»

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II PARTE - AUDITORIA AO BALANÇO E À DEMONSTRAÇÃO DOS
RESULTADOS

1. Meios líquidos financeiros

Os meios líquidos financeiros (MLF) fazem parte do activo corrente, compreendendo a


caixa, os depósitos bancários, outros depósitos e outros instrumentos financeiros 1. São
activos cuja liquidez é imediata, estando assim a falar dos activos mais líquidos de que as
empresas dispõem.
Conforme estipulado no SNC “esta classe destina-se a registar os meios financeiros
líquidos que incluem quer o dinheiro e depósitos bancários quer todos os activos ou
passivos financeiros mensurados ao justo valor, cujas alterações sejam reconhecidas na
demonstração de resultados”

Caso pratico 1.

À data de 31/12/N, a rubrica dos meios líquidos financeiros da empresa ABC, SA, é
discriminada como se segue:

Rúbrica Valor
Caixa 5.990,87
Depósitos à ordem (em euros) 40.206,16
Banco Popular 12.857,95
BCP 32.883,40
CGD -25.070,00
BES 19.534,81
Depósitos à ordem (em moeda estrangeira) 93.869,22
BCP conta em USD 7.673,06
CGD conta em USD 49.953,87
BES conta em GBP 36.242,29
Depósitos à ordem (em moeda estrangeira) 127.071,76
BCP em USD 44.671,15
CGD conta em USD 7.342,14
BES conta em GBP 75.058,46
Outros instrumentos financeiros 313.801,00
Fundo de obrigações 266.726,58
Acções REN 2.074,42
Acções EDP
Renováveis 3.000,00
Fundo de acções 42.000,00
TOTAL 580.939,00

1
Nao são de incluir os instrumentos financeiros que devem ser mensurados ao custo, custo amortização ou
método de equivalência patrimonial.

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Nos seus procedimentos o auditor efectuou uma contagem à caixa à data de 31/12/N,
circularizou todas as instituições financeiras com as quais a empresa trabalhou e testou o
sistema de controlo interno da empresa.
As instituições financeiras responderam ao pedido de circularização. As suas respostas
encontram-se evidenciadas no quadro seguinte.

Instituição Financeira
Banco Popular BCP CGD BES
Depósito à Ordem (€) 12.857,95 31.983,60 -9.570,00 19.534,81
Depósito à Ordem (ME) 9.928,17 64.635,31 30.381,91 GBP
Depósito à prazo (ME) 57.800,00 9.500,00 62.921,51 GBP
Outras Aplicações 275.700,00 1) 42.657,50 2)
Empréstimos 300.000,00 1.901.196,00 1.500.000,00
Locações

1) Fundo de obrigações
2) 600 acções da EDP Renováveis, com um valor unitário de € 3,85.
1000 acções de REN, com um valor unitário de € 2,34
6.610 unidades, de valor unitário € 5,75, representativas de um fundo de acções.

Consultando o site do Banco de Portugal, o auditor retirou as seguintes cotações à data


de 31/12/N: EURO/USD = 1,34; EURO/GBP =0,81.

a) Após assistir à contagem da caixa o auditor elaborou o seguinte papel de trabalho.

Caixa
Numerário (30 notas de € 5) 150,00
Numerário (15 notas de € 20) 300,00
Numerário (10 notas de € 10) 100,00
Numerário (1 notas de 100 USD) 77,29
Vale relativo a adiantamento de remuneração ao 750,00
Vale ao director comercial relativo a 400,00
adiantamento de despesas de representação
Cheques de clientes 2.150,00
Factura do jantar de Natal 450,00
Cheques pré-datados 1.163,58
Factura relativa à reparação da fotocopiadora 300,00
Senhas de combustível 150,00
Total 5.990,87

b) A reconciliação bancária do banco BCP, apresentada ao auditor tinha a seguinte


decomposição:

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Saldo segundo a contabilidade à data de 31/12 €32.883,40
Acrescer:

Depósito em trânsito: cheques recebidos a 31/12,


contabilizados pela empresa, mas não depositados no banco € 4.246,00

Cheques devolvidos de um cliente, que foi contabilizado


pelo banco, mas não pela empresa € 660,00

Comissões bancárias referentes ao mês de Dezembro não


contabilizadas pela empresa € 27,50
€37.926,90
Deduzir:

Cheques em circulação, emitidos e contabilizados pela


empresa, mas ainda não debitados pelo banco € 3.043,70

Letra enviada à cobrança, paga pelo banco, mas não


contabilizada pela empresa € 990,00

Cheques emitidos pela empresa, contabilizado erradamente


por esta por € 630, pago pelo banco pelo valor de € 850 € 220,00
€33.673,20
Diferença não justificada € 1.689,60
Saldo segundo o banco a 31/12 €31.983,60

A folha resumo dos cheques em circulação, preparada pela empresa é a seguinte:

Nº Valor
500 € 95,70
502 € 27,50
545 € 616,00
560 € 451,00
700 € 572,00
725 € 704,00
843 € 418,00
875 € 27,50
899 € 352,00
€ 3.043,07

c) Em relação aos outros instrumentos financeiros verificou-se que sobre o valor de


aquisição do fundo de obrigações e sobre o valor de aquisição do fundo de acções foram
cobradas, respectivamente, as seguintes comissões de subscrição: € 3.000,00 e € 250,00,
que foram acrescidas ao valor de aquisição.
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Pede-se:
1. Efectue os ajustamentos que considere necessário em relação à caixa.
2. Teste a reconciliação bancária elaborada pela empresa, apresentando a
reconciliação correcta.
3. Proponha os ajustamentos que considere necessários na rubrica de depósitos.
4. Teste a valorização dos outros instrumentos financeiros e dos depósitos à
ordem em moeda estrangeira.

2. Gastos com o Pessoal

Nesta área, analisaremos, de um ponto de vista da auditoria, quatro componentes distintas


relacionadas com movimentos efectuados com o pessoal: por um lado, dentro da classe
gastos e perdas, os gastos com o pessoal suportados pela empresa; por outro lado, na área
do passivo, as contas a pagar ao pessoal que, à data de encerramento, se encontram
pendentes de pagamento, bem como as dividas a organismos públicos relacionadas com
o pessoal; faremos ainda referência, dentro do activo, às dívidas a receber do pessoal; e
por último, nos rendimentos e ganhos, eventuais juros que tenham sido cobrados ao
pessoal.
Assim, ao efectuarmos uma auditoria à área do pessoal teremos que ter em atenção contas
do activo (empréstimos e adiantamento ao pessoal, inventários), contas do passivo
(remunerações auferidas pelo pessoal, dívidas à Segurança Social e às Finanças,
pendentes de pagamento à data de encerramento, bem como eventuais provisões a
constituir), contas de gastos e perdas (remunerações auferidas pelo pessoal, encargos
sociais sobre essas remunerações, outros custos com o pessoal) e contas de rendimentos
e ganhos (juros cobrados ao pessoal por adiantamentos ou empréstimos).

Tipo de transacção Rubrica afectada


Meios líquidos financeiros
Gastos com o pessoal Inventários
Custos de conversão
Responsabilidades relacionadas Meios líquidos financeiros
com o pessoal Várias contas do passivo (pessoal e impostos)

Esta é uma área importante para a generalidade das empresas por duas razões: em
primeiro lugar, as remunerações, encargos sobre remunerações e outros gastos com o
pessoal representam uma grande parte do total de gastos das empresas; em segundo lugar,
nas empresas industriais os gastos com pessoal são uma parte importante do custo de
conversão.
Como acontece com as outras áreas, uma auditoria aos gastos com pessoal implica que o
auditor obtenha um conhecimento do controlo interno, avalie o risco de controlo, efectue
testes aos controlos, testes substantivos (aos saldos e às transacções) e procedimentos
analíticos.
No entanto, esta área apresenta as seguintes especificidades:
- As transacções são mais importantes que os saldos finais do balanço: o saldo da conta
pessoal e o saldo da conta retenção de imposto sobre o rendimento são reduzidos em
comparação com o valor total das transacções efectuadas durante o ano;
- O controlo interno sobre os salários é, regra geral, eficiente em todas as empresas,
mesmo nas de reduzida dimensão: as razões para que este controlo seja eficiente
relacionam-se com os controlos que o órgão de gestão tem em relação ao pagamento dos

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impostos, às responsabilidades sobre os impostos retidos e não entregues, bem como pelo
facto do não pagamento de salários ter efeitos na moral e na produtividade dos
funcionários;
Devido a estas características o auditor enfatiza os testes aos controlos, os testes
substantivos de detalhe às transacções e os procedimentos analíticos; pretendendo correr
um risco baixo, a materialidade relacionada com esta área é igualmente baixa.

Caso pratico 1.

Na auditoria realizada à área de gastos com o pessoal, foram retirados os seguintes dados
relativamente à conta de gastos com pessoal, pessoal e Estado e outros entes públicos.

Descrição Montante
Remuneração dos orgãos sociais
Vencimentos 57.273,26
Ajudas de custo 8.537,92
Subsídios de férias 4.772,77
Subsídios de natal 4.772,77
Remuneração do pessoal
Ordenados 541.455,87
Subsídio de refeição 32.888,54
Abono para falhas 4.866,66
Subsídio de natal 45.121,32
Subsídio de férias 45.121,32
Comissões 49.837,55
Encargos sobre remunerações
Orgãos sociais 15.869,47
Pessoal 150.028,40
Total 960.545,84
Acréscimos de gastos
Remunerações a líquidar 99.788,18
Pessoal - Remuneração a pagar
Orgãos sociais 0,00
Pessoal 0,00
Estado
Retenção na fonte/Seg. Social 27.815,96

Sabe-se ainda que:


- os vendedores recebem uma comissão de 1% sobre as vendas efectuadas no mês,
comissão essa que é paga no dia 15 do mês seguinte. Em Dezembro as vendas totalizaram
€ 750.000,00.
- As remunerações acessórias são atribuídas dentro dos limites legais previstos no Código
do Imposto sobre o Rendimentos das Pessoas Singulares.
- O órgão de gestão aprovou um aumento salarial de 3% em N+1.

Pretende-se:

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1. Teste a razoabilidade do valor evidenciado na rubrica Gastos com o pessoal
– encargos sobre remuneração.
2. Teste a razoabilidade do montante evidenciado em acréscimos de gastos –
remuneração a liquidar.
3. Proponha os ajustamentos que considere necessários.
3. Vendas, prestações de serviços e dívidas a receber

As operações de venda, prestações de serviços e a posterior cobrança dependem em


grande medida do sector em que as empresas estão inseridas, sendo logicamente este ciclo
diferente quando estamos a falar de supermercados empresas industriais ou empresas
construtoras.
O conceito de dívidas a receber reconhece os direitos derivados da actividade normal da
empresa (vendas e prestações de serviços), bem como os direitos derivados de
empréstimos concedidos aos accionistas, de vendas de imobilizado e os créditos sobre o
Estado e outros entes públicos, bem como sobre o pessoal da empresa. No entanto, nesta
área apenas analisaremos os primeiros.
As vendas e as prestações de serviços são a principal fonte de rendimentos para a maior
parte das empresas. Assim, a rubrica de dívidas a receber é materialmente relevante para
a generalidade das empresas, excepto para aquelas em que a maior parte dos recebimentos
é efectuado em dinheiro.

Caso pratico 2.

Na auditoria à área das vendas, prestação de serviços e dívidas a receber, foram fornecidas
as seguintes informações aos auditores, com base nas demonstrações financeiras
provisórias de N:

Clientes 1.163.142,00 Clientes 10.934.913,00


Clientes c/c 1.152.155,71 Mercado Nacional 2.733.728,00
Clientes nacionais 273.115,12 Mercado EU 6.560.948,00
Clientes EU 649.426,83 Outros mercados 1.640.237,00
Clientes outros mercados 229.613,77
Clientes títulos a receber 11.100,27
Clientes nacionais 11.100,27
Clientes cobrança
duvidosa 101.358,89
Adiantamento de clientes -113,98
Imparidades acumuladas -101.358,89

Os procedimentos de auditoria realizados foram:


a. Revisão do sistema de controlo interno que, segundo a opinião dos auditores, é
satisfactoria;
b. Recorrendo a técnica de amostragem MUS, foram selecionados para
circularização 22 clientes;
c. A empresa não autorizou a circularização ao cliente W, cujo saldo à data de 31 de
dezembro é de € 120.000,00, argumentando que não queria deteriorar as relações
comerciais;
d. Apenas foram recepcionadas as respostas dos clientes A, C, H, K, N, S, Y, AD.

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- O Cliente A reclama um desconto comercial de € 5.000,00 por ter atingido os
objectivos de compras, considerando que o seu saldo está sobreavaliado nesse
montante;
- O Cliente C, não reconhece a dívida de € 3.000,00 pois refere que efectuou uma
transferência bancária para a CGD em 30/12/N;
- Cliente H: a factura nº4211, no valor de € 12.800,00 foi cancelada, tal como
tinha sido acordado com o cliente em mail enviado em N;
- Cliente: K, N e S: respostas concordantes;
- Cliente Y: as mercadorias que totalizam o valor de € 8.000,00 referente à factura
nº5745, foram recebidas no dia 30/01/N+1;
- Cliente AD: a factura nº4274, no valor de € 2.000,00 não está correcta, pois essas
mercadorias foram devolvidas devido a terem sido rececionadas fora do prazo. As
restantes facturas estão correctas;
e. Em relação às cartas enviadas que não obtiveram respostas, foram efectuados
procedimentos alternativos que se revelaram satisfactorias;
f. Ao analisarmos, com o responsável das dívidas de clientes, as respostas não
concordantes, obtivemos as seguintes explicações:
- Cliente A: confirmámos com o departamento comercial que a reclamação do
cliente é válida;
- Cliente C: foi confirmado o montante na transferência através do extracto de
Janeiro de N+1 da CGD;
- Cliente H: a factura foi cancelada mediante a emissão de uma nota de crédito em
15/01/N+1;
- Cliente Y: as mercadorias saíram dia 4 de Janeiro de N+1. Vimos a
documentação de suporte que atesta a saída da mercadoria na referida data;
- Cliente AD: efectivamente o cliente devolveu a mercadoria por esta ter sido
recepcionada fora do prazo. A mercadoria deu entrada em armazém no dia 18 de
Dezembro de N. Estas mercadorias foram incluídas no inventário físico que se
realizou no sai 31/12/N;
g. Apesar de ter como política contabilizar as imparidades de acordo com o critério
fiscal, em N, a empresa não efectuou nenhuma análise da antiguidade de saldos
de clientes. Os auditores procederam a essa análise, a qual se apresenta:

Clientes em mora Saldo


>3 meses e <6 meses 12.000,00
>6 meses e <12 meses 35.000,00
>12 meses e <18 meses 12.500,00
>18 meses e <24 meses 38.000,00
>24 meses 51.358,89

Clientes em contencioso 50.000,00


Total 198.858,89

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Pretende-se:

1. Teste a razoabilidade da imparidade de clientes.


2. Propor os ajustamentos/reclassificações necessários.
3. Partindo do pressuposto que o valor máximo de erro é de € 20.000,00
(sobreavaliação para um risco de deteção de 50%), quais as conclusões que
retiraria?

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