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Figura 1 – Foto do espetáculo O Amigo Fiel, Grupo Sobrevento. Fotógrafo: Arô Ribeiro.
O teatro de objetos e a sociedade de consumo
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/2595034702252021050
Resumo: Neste artigo apresentamos uma série de reflexões, escritas a quatro mãos, que
abordam a inserção do objeto real nas artes cênicas, como um fenômeno do desenvolvimento
da sociedade de consumo e de outros fatores históricos que ocorreram ao longo do século XX.
A maior ênfase é dada ao teatro de objetos, movimento que se desenvolveu entre as décadas
de 1970 e 1980. Nele, observa-se a transgressão de conceitos tradicionais do teatro de
animação, além do mero funcionalismo dos objetos, transformando-os em metáforas da própria
condição humana e questionando sua condição de mercadoria na sociedade capitalista.
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Data de submissão do artigo: 01/09/2021. | Data de aprovação do artigo: 15/10/2021.
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Doutora pela UNESP em Artes Cênicas. Professora de Artes no IFSP de São José dos Campos.
E-mail flaviard@ifsp.edu.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7414-2384
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Doutora pela UNESP em Artes Cênicas. Professora de teatro na UFG - Universidade Federal de Goiás,
lotada no CEPAE - Centro de Estudos e Pesquisa Aplicada em Educação, departamento de Arte.
E-mail: kelycastro@ufg.br | ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9379-6578
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Introdução
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1984, p 45). À medida que sua análise se aprofunda, emerge o chamado caráter
fetichista da mercadoria:
Quando Marx aborda a questão teológica, o faz porque, para o autor, uma
das chaves para entender o complexo aspecto fetichista da mercadoria seria
uma analogia com a religião. “Aqui [na religião] os produtos do cérebro humano
parecem dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantêm relações
entre si e com os homens. Assim, no mundo das mercadorias, acontece com os
produtos da mão humana.” (IBIDEM, 1984, p. 71).
Interessa-nos, particularmente, a analogia de Marx, tanto com a religião
quanto com a figura imagética, da mesa que pensa e dança para explicar o
fetichismo da mercadoria. Quando o filósofo utiliza desses meios, está
justamente fazendo uso de imagens e símbolos que temos em nossas mentes
para elucidar um conceito complexo. Por sua vez, algo semelhante é feito por
Maiakóvski quando ele utiliza objetos animados nas encenações. E o teatro de
objetos aprofunda esse procedimento ao retirar a animação e investir nas
relações mentais do espectador.
O conceito do fetichismo da mercadoria em Marx nos possibilita um viés
de investigação sobre a relação entre o humano e o objeto. O filósofo esclarece
que esse fenômeno apenas ocorre por meio das complexas relações sociais que
ocorrem inclusive entre “coisas”:
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discutir, quase com embriaguez, pelo que era, pelo que só podia ser a
coisa mais bela, a única coisa bela, o perfeito. (PEREC, 2012, p. 37-
38)
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Esses espetáculos são vistos com bons olhos por instituições culturais e
educacionais críticas ao problema do consumismo infantil. Tal questão, a
princípio, pode parecer menor diante da dimensão do problema da exploração.
Porém, o mercado detectou na criança uma maneira de garantir a manutenção
do sistema capitalista, baseada na sociedade de consumo. Uma pesquisa de
20034, por exemplo, demonstrou que as crianças exercem influência em 80%
das decisões de compra de uma família brasileira. Além da ingerência das
crianças no consumo da família, esse público também garante fidelidade a
marcas e à cultura do consumo, pois são sugestionadas a isso desde o início da
vida.
O consumismo está ligado à ideia de extinção. Afinal, se se consome algo
até o final, esse algo tende a desaparecer. O desequilíbrio ambiental global,
portanto, está diretamente ligado à cultura do consumo. Porém, ninguém nasce
consumista, é preciso uma formação, uma educação e um ambiente de vida que
proporcionem essa vivência. Dessa forma, a publicidade, veiculada
principalmente pela TV e pela internet, trata de exercer esse papel de formador
do cidadão da sociedade de consumo, já na primeira infância. As consequências
desse adestramento são graves para a sociedade, culminando no aumento da
obesidade infantil, da erotização precoce, da depressão infantil, da banalização
da violência etc. O excesso de brinquedos industrializados e de exposição à TV
e à internet afeta, ainda, a criatividade e a imaginação da criança, impactando
suas capacidades cognitivas.
Na contramão dessa lógica estão os grupos de teatro independentes
fazendo teatro para crianças com objetos cotidianos e reciclados, em enredos
que estimulam o jogo simbólico no espectador infantil, comunicando a esse
público a mensagem intrínseca à forma: a diversão e a brincadeira dependem
da criatividade e da imaginação, não do que se pode comprar. Portanto,
podemos dizer que essas companhias também cumprem um papel formativo
importante, no sentido oposto ao da cultura do consumo.
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Pesquisa realizada pela agência InterScience em outubro de 2003. Disponível em:
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience.pdf
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Aquilo, para nós, foi uma surpresa, pois Genty nos falava em um Teatro
de Bonecos sem bonecos, com objetos prontos (ready-mades), onde a
manipulação, com todos os seus princípios (direção do olhar, ponto
fixo, dissociação, eixo e nível), era muito discreta, não sendo,
definitivamente, o mais importante (VARGAS, 2010, p. 31).
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CHERUBINI, Luiz André. Entrevista realizada em 27 de agosto de 2021, via áudio do aplicativo
WhatsApp. Não transcrita.
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Referências
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CRDP de Bourgogne, 2006.
EJNÈS, V. Cahier partages: des thèâtres par objets interposés. Mont-Saint-Aignan: Ed.
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MATTÉOLI, J.-L. Contre l'objet. Tout contre. E pur si muove. Charleville Mézières, n. 5, p. 33-
34, 2006.
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MATTÉOLI, J.-L. L’objet pauvre, mémoire et quotidien sur les scènes contemporaines
françaises. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2011.
PEREC, G. As coisas: uma história dos anos sessenta. São Paulo: Companhia das Letras,
2012.
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