O novo coronavírus (Covid-19) está intrinsecamente ligado à crise no meio ambiente. Neste texto, explico sucintamente como o vírus começou, em meio ao mercado de animais selvagens, e como as intervenções humanas na natureza podem causar problemas globais. Confira:
A crise no meio ambiente: coronavírus
A aviação comercial global, em 2019, transportou 4.5 bilhões de
passageiros, com eficiência e rapidez. Este mundo interconectado tem inúmeras vantagens que aceleram o desenvolvimento global e multiplicam oportunidades, mas também aproxima e globaliza problemas de uma forma que não estamos preparados para suportar.
Com o novo coronavírus (Covid-19) enfrentamos uma grave
pandemia, que segue se disseminando em velocidade sem precedentes. Quase todos os países já contam com casos confirmados e as diversas medidas adotadas visam evitar a expansão do contágio, para que não se ampliem os números de pessoas infectadas e os sistemas de saúde não entrem em colapso.
Muito se fala sobre a pandemia, porém, é pouco lembrado como
ela pode ser relacionada à questão ambiental e à crise no meio ambiente. No caso do Covid-19, é possível que ele tenha adquirido a capacidade de ter os humanos como hospedeiros a partir de outras espécies, como o pangolim e o morcego. Isto pode ter começado a partir do hábito de consumir, para alimentação, animais selvagens e pela destruição dos habitats naturais. Onde a crise no meio ambiente começa: O aquecimento global
As mudanças climáticas também são uma grave ameaça porque
podem favorecer o surgimento de vírus ainda desconhecidos e a expansão das arboviroses.
Com o aquecimento, mosquitos vetores podem se adaptar e
colonizar áreas onde, anteriormente, o clima era hostil à sua sobrevivência. Com estações mais quentes, o Aedes Aegypti já chegou ao hemisfério norte. Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o Aedes Aegypti já proliferou a ponto de ter infectado com o vírus da zika mais de 42 mil pessoas nos EUA.
O degelo do permafrost e das grandes geleiras do Himalaia, por
exemplo, também pode reanimar vírus congelados. Matéria do G1, de 24/1/2020, alertava que “cientistas chineses e americanos descobriram 28 grupos de vírus desconhecidos, que estavam congelados há 15 mil anos. A pesquisa recolheu amostras do gelo glacial mais antigo da Terra, que fica em Guliya, no noroeste do Tibete, na China”.
Este é um tema vasto, detalhadamente analisado por Sonia Shah,
jornalista e autora de “Pandemic: Tracking Contagions, from Cholera to Ebola and Beyond”, em seu artigo ‘Contra a pandemia, ecologia’, na edição 152 do Le Monde Diplomatique, cuja leitura e reflexão recomendo.
Enfim, se não entendermos a clara relação entre pandemias e a
crise no meio ambiente, poderemos enfrentar problemas ainda mais sérios no futuro, basta imaginarmos a mesma taxa de contaminação atual com um vírus com letalidade ainda maior. O Covid-19 já nos provou o quanto isto pode ser desastroso.
E qual a lição que fica para o dia de amanhã?
Os gestores públicos precisam ter visão multidisciplinar para lidar
com este mundo interconectado e o meio-ambiente é disciplina fundamental na equação.
A situação atual é gravíssima. Deve ser bem compreendida pela
população, por todos os seus membros, de todas as idades e de todos os níveis sociais e econômicos. Gerando a consciência que leve a que cada pessoa ofereça sua parcela de cooperação. Fique em casa; proteja a sua imunidade; cuide dos idosos; e resguarde seu lar. E, quando esta pandemia acabar, vamos cuidar melhor do meio ambiente.