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2 - O PODER DO EVANGELHO

Romanos 1.16-17

B. V.
16 - Não estou envergonhado desta Boa Nova a respeito de Cristo. Ela é o poderoso método
divino de levar ao céu todos quantos crerem nela. Esta mensagem foi primeiramente regada
só aos judeus, porém agora todos são convidados a ir a Deus deste mesmo modo.
17 - Esta Boa Nova nos diz que Deus nos prepara para o céu - e nos faz justos aos olhos de
Deus - quando colocamos nossa fé e nossa confiança em Cristo como Salvador. Isto é
realizado pela fé, do princípio ao fim. Tal como a Escritura afirma "O homem que encontra
a vida, vai encontrá-la confiando em Deus."!

Ah, se eu tivesse mil vozes para o Brasil encher


com os louvores de Cristo: Que singular prazer!'

Assustado com a falta de vergonha dos brasileiros, dos que estão no poder e do povo
em geral, o psicanalista ítalo-brasileiro Contardo Calligaris escreveu uma série de artigos,
que valem sobretudo pela preocupação. Ele lembra que a antropóloga norte-americana Ruth
Benedict estudou o comportamento das pessoas em relação à moralidade. Ela mostrou que
há sociedades reguladas pela vergonha e outras pela culpa. É comum no Japão uma pessoa,
flagrada em corrupção, tirar a própria vida. É a maneira que tem para preservar sua
dignidade. "Nas sociedades em que predomina a vergonha, o sujeito escolhe agir, se abster
ou impor limites à sua ação para não perder a face e para preservar ou resgatar sua honra e
sua dignidade. Nas outras, o sujeito age para evitar a culpa ou para expiá-la".
Os brasileiros dão um nó na antropologia em particular e nas ciências sociais em geral. A
vergonha é escassa. Seria de esperar, então, que houvesse culpa, mas o sentimento de culpa
é abrandado pela impunidade. De impunidade em impunidade, a culpa e a vergonha vão
cauterizando a mente (1 Tm 4.2) para não sentir vergonha nem culpa por mais vergonhosa e
culpada que seja a ação.
Vergonha e culpa são da condição humana. A Bíblia e o apóstolo Paulo em particular
põem a primeira como consequência da segunda. Nossa culpa, diz Daniel, deve nos levar a
sentir vergonha. Ele orou assim: Ó Senhor, nós e nossos reis, nossos líderes e nossos
antepassados estamos envergonhados por termos pecado contra ti (Dn 9.8).
Em sua vida pessoal, o apóstolo Paulo experimentou a mesma realidade em função
daquilo que Deus tinha feito. Ele era uma pessoa correta, seguidora dos mandamentos de
Deus, mas não de Deus, porque em nome do Senhor odiava outras pessoas também
tementes a Deus. O judeu Saulo de Tarso (este era o seu nome de nascimento, nome
hebraico) perseguia os cristãos. O poder de Deus o alcançou, derrubou-o de sua pretensão
de fazer justiça com as próprias mãos, e o então convertido Paulo (nome grego) se tornou
pregador do evangelho pelo qual foi salvo da ira de Deus. Só que esse evangelho era visto
como loucura. Como um só homem pode morrer por todos? Como as culpas de todos
podem ser apagadas pelo sacrifício de um só? Só pelo poder de Deus, mas quem o aceita?
Diante dos seus ex-correligionários, Paulo deve ter sido tentado a não contar sua história.
Envergonhar-se do evangelho é uma tentação. Certamente Paulo, não somente eu ou você,
foi tentado. Evidentemente, não há sentido algum em afirmar que não se tem vergonha de
alguma coisa, a não ser que se tenha sido tentado a envergonhar-se dessa coisa, disse James
Stewart. Por isto, disse a si mesmo: Ai de mim se não pregar o evangelho (1 Co 9.16).
CRISTÃOS QUE SE ENVERGONHAM:

Paulo não se envergonhava do evangelho porque cria no poder de Deus.


Não se envergonha do evangelho quem crê no poder de Deus.
E por que alguns cristãos se envergonham do evangelho?

1. Uma razão é intelectual

A ideia de que há um Deus pessoal criador que intervém na história, sendo a sua maior
intervenção o envio do seu Filho para resgatar a humanidade do pecado para um
relacionamento com ele, não atende ao postulado da razão. A existência desse Deus não
pode ser racionalmente provada. A ideia de que Deus tomou a forma humana, tendo
morrido na cruz para expiar os nossos pecados, é tomada como absurda. Já ao tempo do
apóstolo Paulo, a ideia de uma cruz com efeito universal era considerada louca. Ele
escreveu Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de
sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm
não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus por meio da loucura da pregação
(lCo 2.4-5).
Um pensamento deste deve ter irritado os politeístas, que se achavam racionalistas, por
exemplo o médico Celso no segundo século da era cristã: "Deve-se primeiro seguir a razão
como guia antes de se aceitar uma crença, porque quem crê sem antes testar uma doutrina
certamente será enganado".' E ele não ficou sozinho. Nietzsche (século 19) achava que a fé
é apenas uma forma de se evitar conhecer a verdade. Stendhal brincava que "a única
desculpa para Deus é que ele não existe".

O cristianismo é visto, em muitos círculos intelectuais, como uma forma de


superstição, a ser evitada. Nesses ambientes, o cristão é visto como alguém que abriu
mão da razão, logo, perigoso para a ciência e para o pensamento.

Ser visto assim é uma pressão muito grande. A tentação ao silêncio é forte. Por isso, é
como se Paulo nos dissesse: "não se envergonhe do evangelho porque é o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê", seja ele bem ilustrado ou pouco letrado. Bem
ilustrados e pouco letrados só conhecerão o poder de Deus se o evangelho lhes for
anunciado, mesmo que sob vaia.
Não há dúvida que de “a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para
nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos
sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.” Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde
está o questionador desta era? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que,
na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus
salvar aqueles que creem (l Co 1.18-21). Por isso, Irmãos, pensem no que vocês eram quando
foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos;
poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para
envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte.
Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o
que é, a fim de que ninguém se vanglorie diante dele. É, porém, por iniciativa dele que vocês estão
em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção,
para que, como está escrito: "Quem se gloriar, glorie-se no Senhor" (l Co 1.26-31).

2. A outra razão é social

O cristianismo é uma religião de alta moralidade. Seus padrões são tão elevados que são
considerados inalcançáveis por aqueles que só conhecem a sua superfície.
Para muitos em nossa sociedade, ser cristão é renunciar à vida e à liberdade. Abre-se, por
exemplo, uma revista popular para adolescentes e ali não se encontra nenhuma moral, a não
ser esta: cada um deve fazer com o seu corpo o que lhe der vontade ou cada um deve fazer
com a sua vontade o que o corpo pede.
Para muitos em nossa sociedade, ser cristão é abrir mão do enriquecimento ilícito, é não
se envolver em esquemas que tragam riqueza rápida, é não subir tendo o próximo como
trampolim, é não idolatrar o dinheiro ou aquilo que o dinheiro compra. Para muitos, o
cristão ignora a natureza humana, só sobrevive quem for lobo do outro.
A pressão é grande sobre o cristão. Para aquele que tem fé, é grande a tentação de ficar
anônimo nesse ambiente hostil.

O cristão lê e então entende o que João escreveu: Não amem o mundo nem o que nele há. Se
alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da
carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e
a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre (1 Jo 2.15-
17).

COMO ENVERGONHAR O EVANGELHO:

Paulo não se envergonhava do evangelho e nem envergonhava o evangelho.


Não se envergonha do evangelho quem não envergonha o evangelho.
Envergonhar o evangelho é uma possibilidade. Alguns o faziam. Paulo desejava que isso
jamais acontecesse com ele. Envergonha o evangelho quem envergonha a Cristo, negando a
fé nele por atos e palavras. Nesse sentido, o maior inimigo do cristão, para que o evangelho
avance, é o próprio cristão.
Temos problemas com as palavras, mas nosso verdadeiro campo de vergonha é o gesto. É
a ação, quando esta contradiz o que falamos.
Envergonhar o evangelho é dar um nó na Bíblia, porque nela estão to- das as
advertências quanto ao abismo, e caímos nele.
O evangelho não pode ser uma coisa, e o evangélico outra. O evangelho é o poder de
Deus para a salvação. O evangélico deve viver sob esse poder.
Eu envergonho o evangelho quando digo que faço o que não faço.
Eu envergonho o evangelho quando passo ao largo de quem está ferido.
Eu envergonho o evangelho quando compro sem poder pagar e não pago.
Eu envergonho o evangelho quando fecho um negócio no balcão baixo da negociata.
Eu envergonho o evangelho quando empenho a minha palavra, mas não cumpro o
prometido.
Eu envergonho o evangelho quando minto para obter uma vantagem, mesmo que o
desvio seja mínimo.
Eu envergonho o evangelho quando trabalho menos do que o combinado, chegando tarde
ou saindo cedo.
Eu envergonho o evangelho quando rio do que não podia rir.
Eu envergonho o evangelho quando surrupio direitos que são dos outros.
Eu envergonho o evangelho quando julgo o outro, eu que sei que não devo julgar.
Eu envergonho o evangelho quando odeio.
Eu envergonho o evangelho quando me arvoro em agente da ira de Deus, como um
membro da Al Qaeda. Eu envergonho o evangelho quando fico com o que é do outro.
Eu envergonho o evangelho quando me sujeito ao preconceito.
Eu envergonho o evangelho quando tomo o nome de Deus em vão.
Eu envergonho o evangelho quando erijo altares para deuses do além ou daqui mesmo.
Eu envergonho o evangelho quando não honro ao meu pai.
Eu envergonho o evangelho quando eu guardo como meu o que é de Deus.
Eu envergonho o evangelho quando forjo palavras para diminuir o outro.
Eu envergonho o evangelho quando desejo o que meu próximo conquistou.
Eu envergonho o evangelho quando levanto minha mão para agredir.
Eu envergonho o evangelho quando seduzo o outro.
Eu envergonho o evangelho quando me deixo seduzir pelo outro.
Eu envergonho o evangelho quando digo que meu próximo disse o que não disse.
Eu envergonho o evangelho quando penso que o evangelho é apenas um conjunto de
palavras.
Eu envergonho o evangelho quando brinco de evangélico.
Eu envergonho o evangelho quando acho que há poder em ser evangélico.
Eu envergonho o evangelho quando sucumbo diante do velho homem que habita em
mim e desisto de ser santo.
Eu envergonho o evangelho quando perco a vergonha de não ter mais vergonha.

Paulo estava certo de que Jesus Cristo não se envergonharia dele.


Quem não se envergonha do evangelho e não envergonha o evangelho não é
envergonhado por Jesus Cristo.

EVANGELHO É VIDA:

Quando queremos transformá-lo em outra coisa, nós o defraudamos.


Um evangelho defraudado não é evangelho. Um evangelho feito de palavras, na
pregação e no louvor, não é evangelho. Um cristão que defrauda o evangelho não é cristão.
Ele não passará pelo crivo de Cristo, que dirá: "Venham, benditos de meu Pai! Recebam como
herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me
deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram;
necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e
vocês me visitaram.’ Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos
de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou
necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei
responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o
fizeram’” (Mt 25.34-40).
Um cristão que envergonha o evangelho não é um cristão, porque não é cristão aquele
que aprendeu uma sequência de palavras sobre o evangelho. Jesus mesmo o diz: Se alguém
se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier
em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos (Lc 9.26). Permaneçamos em Jesus, para que,
quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua
vinda. Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é
nascido dele (1 Jo 2.28-29).
Um cristão é aquele que recebe o poder de Deus para a salvação e o dom de Deus para a
fidelidade. Ele não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. Portanto,
não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte
comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou
com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria
determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos, sendo
agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e
trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho (2 Tm 1.7-10).
Não envergonhamos o evangelho quando vivemos pelo poder de Deus.
Quando lemos que o evangelho é poder, ficamos um pouco assustados porque
conhecemos o poder. Não imaginamos que de algum poder possa vir uma boa notícia. Não
imaginamos que alguém possa usar o seu poder para nos salvar.
Quando pensamos em poder, vem-nos logo à mente Maquiavel (século 15), o pensador
medieval que descreveu os meios como os homens conquistam e mantêm o poder. E um
desses modos é que o detentor do poder não pode ser bom sempre; oferecer à sociedade
sacos de maldades faz parte da estratégia de manutenção do poder.
Para entendermos o que é o poder de Deus, precisaríamos deixar de nivelá-lo ao poder do
homem, mas nossa mente não é capaz de esquecer o que aprendemos sobre poder ou de
apagar da memória o que já perdemos por causa do poder. Só o poder de Deus justifica; o
dos homens pune. Algumas antíteses podem nos ajudar.
O poder do homem mais poder para o homem ambiciona.
O poder de Deus é distribuído a quem com ele se relaciona.
O poder do homem tem uma volúpia que nos assusta.
O poder de Deus é justiça plena que nada nos custa.
O poder do homem oprime, comprime, reprime.
O poder de Deus é simplesmente sublime.
O poder do homem se ufana, afana, engana, esgana, profana e dana.
O poder de Deus o caminho aplana, os seres irmana e o enfermo sana.
O poder do homem ameaça, amordaça, despedaça, devassa e passa.
O poder de Deus é graça, que suavemente e para sempre nos abraça.
O poder do homem magoa, enodoa, agrilhoa, amaldiçoa.
O poder de Deus abençoa, afeiçoa, aperfeiçoa, sobretudo perdoa.
O poder do homem irrompe, interrompe e corrompe para se manter.
O poder de Deus se oferece gratuito a quem só pela fé deseja viver.
O poder do homem revela quem o homem é.
O poder de Deus revela quem o homem pode ser.
O poder do homem no seu altar nos empala.
O poder de Deus na sua cruz nos saúda.
O poder do homem nos antagoniza e nos cala.
O poder de Deus nos evangeliza e nos muda.

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