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UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO – UNIFENAS

MARIO VIANA PAREDES FILHO

UTILIZAÇÃO DE MICRO-ORGANISMOS EFICAZES (EM)


NO PROCESSO DE COMPOSTAGEM

Alfenas - MG
2013
MARIO VIANA PAREDES FILHO

UTILIZAÇÃO DE MICRO-ORGANISMOS EFICAZES (EM)


NO PROCESSO DE COMPOSTAGEM

Dissertação apresentada à Universidade José do Rosário


Vellano – UNIFENAS, como parte das exigências do
curso de Mestrado Profissional em Sistemas de
Produção na Agropecuária, para obtenção do título de
Mestre.

Orientadora: Prof.a Dra. Ligiane Aparecida


Florentino

Coorientador: Prof.° Dr. Francisco Rodrigues


da Cunha Neto

Alfenas - MG
2013
Paredes Filho, Mário Viana
Utilização de micro-organismos eficazes(EM) no
processo de compostagem.—Mário Viana Paredes Filho.--
2013.
63 f.,enc.,il.,color.

Orientadora: Profª Drª Ligiane Aparecida Florentino


Co-orientador: Prof. Francisco Rodrigues da Cunha Neto

Dissertação(Mestrado) - Programa de Pós-graduação


em Sistemas de Produção na Agropecuária - Universidade
José do Rosário Vellano, Alfenas, 2013.

Referências: 58-63
1. Resíduos 2. Tratamento 3. Micro-organismos
Regenerativos 4. Composto orgânico 5. Legislação I. Título
CDU : 628.4:547-3(043)
Dedico este trabalho à memória de
Antônia Paulino Vicente (Tonha)
AGRADECIMENTOS

À orientadora Prof.a Dra. Ligiane Aparecida Florentino, pela disponibilidade, clareza nas
respostas, e pela autonomia dada no desenvolvimento deste trabalho.

Ao coorientador, Prof.° Dr. Francisco Rodrigues da Cunha Neto, pelo início do


desenvolvimento deste trabalho.

À Prof.a Dra. Roberta Bessa Veloso, pela ótima vontade em auxiliar-me no estudo estatístico
deste trabalho.

À Prof.a Dra. Herlane Costa Calheiros que colaborou de forma brilhante na avaliação,
enriquecendo este trabalho.

A todos os Professores do curso de Mestrado que contribuíram para o crescimento do


aprendizado.

Ao Sr. Anderson José Teixeira, proprietário da empresa Nutriorg, pela cooperação no


desenvolvimento dos trabalhos de campo.

Aos familiares, pelo constante incentivo aos estudos.

À minha esposa Flávia, pelo apoio e compreensão durante o período dedicado à execução dos
estudos e trabalhos de campo.

Aos colegas de turma que participaram ao longo do curso de mestrado.


“Quando Deus quer,
o homem sonha, a obra nasce”.
Fernando Pessoa
RESUMO

Os resíduos, sem o devido tratamento, constituem um problema ambiental e o seu


gerenciamento deve ser conduzido de forma adequada, seja pela sua disposição final ou pela
reciclagem. Entre as alternativas convencionais para o tratamento de resíduos estão: o aterro
sanitário, a incineração, o uso de biodigestores e a compostagem. A compostagem é um
processo de decomposição aeróbia controlada, onde através deste, obtêm-se um produto final
estável, higienizado, rico em compostos húmicos e cuja utilização no solo não oferece riscos
ao meio ambiente e à saúde pública. A eficiência do processo de compostagem está
diretamente relacionada a técnicas que podem proporcionar condições ótimas para que os
micro-organismos possam se multiplicar e atuar na degradação da matéria orgânica, como a
utilização de micro-organismos eficazes (EM). O presente trabalho teve como objetivo avaliar
a redução do período de compostagem e a influência do uso de micro-organismos eficazes na
qualidade do composto orgânico. O trabalho foi desenvolvido na usina de compostagem
denominada Nutriorg Fabricação de Adubos Orgânicos LTDA, situada no município de São
Sebastião da Bela Vista, MG, no período de março de 2013 a julho de 2013. Foi realizado o
preparo do EM utilizando-se 4 m3 de iogurte, 40 kg de farinha de trigo, 30 kg de açúcar, 0,2
kg de fermento de pão e 1 m3 de água. Foram montadas 5 leiras sem EM e 5 leiras com EM,
onde as mesmas apresentaram 1,5 m de altura, 3 m de base e 100 m de comprimento,obtendo-
se um volume de 225 m3. Para a aplicação do EM nas leiras, o mesmo foi previamente diluído
numa proporção de 1:20, onde foi aplicado em cerca de 110 toneladas de massa de resíduos.
Os dados coletados foram submetidos ao teste t de Student ao nível de 5 % de significância
para comparar as médias das amostras obtidas nas amostras sem EM e com EM, onde se
avaliaram os parâmetros físico-químicos. Foram avaliadas amostras sem EM e com EM para
os agentes biológicos e metais pesados para determinar a qualidade do composto produzido.
Comprovou-se a redução no período de compostagem através do enquadramento dos
elementos CTC, pH e relação C/N, que indicam se a decomposição da matéria orgânica
atingiu níveis desejáveis para que seja atribuída a qualidade do composto e pelo “teste da
mão”. As análises estatísticas realizadas indicaram uma não significância (P>0,05) para os
parâmetros físico-químicos sem EM e com EM. Quanto aos agentes biológicos e metais
pesados, os mesmos enquadraram-se na legislação e ocorreu uma redução expressiva nos
parâmetros do composto com o uso do EM. Conclui-se que o EM reduziu o período de
compostagem, entretanto não se justificou a influência no uso de micro-organismos eficazes
no processo de compostagem, pois no composto sem EM, observou-se que a concentração de
nutrientes no composto com EM foram semelhantes.

Palavras-chave: Resíduos. Tratamento. Micro-organismos regenerativos. Composto orgânico.


Legislação.
ABSTRACT

The waste without proper treatment constitute an environmental problem and its management
should be conducted appropriately, either it be for its final disposal or recycling. Among the
conventional alternatives to the waste treatment are the landfill, incineration, use of
biodigesters and composting. The composting is a controlled aerobic decomposition process,
where through this, we obtain a final product stable, sanitized, rich in humic compounds and
whose use in soil offer no hazard to the environment and public health. The efficiency of the
composting process is directly related to techniques that can provide great conditions in wich
the microorganisms can multiply and work in the degradation of organic matter, such as the
use of effective microorganisms (EM). This present study had as aimed to evaluate the
reduction of the period of composting and the influence of the use of effective
microorganisms in compost quality of the organic compound. The work was developed in the
composting plant called Nutriorg Manufacture of Organic Fertilizers LTDA, located in São
Sebastião da Bela Vista, MG, from March 2013 to July 2013. The preparation of the EM was
performed using 4 m3 yogurt, 40 kg of wheat flour, 30 kg of sugar, 0,2 kg of bread yeast and 1
m3 of water. 5 windrows without EM where the same presented 1.5 m in height, 3m of base
and 100 m of length, resulting in a volume of 225 m3. For the application of the EM in the
windrows, the same was previously diluted in a proportion of 1:20, where it was applied in
approximately 110 tons of waste mass. The collected data were subjected to Student's t test at
the level of 5% significance to compare the averages of the obtained samples in the samples
without and with EM, where the physical and chemical parameters were evaluated. Also were
evaluated samples without and with EM to the biological agents and heavy metals to
determine the quality of the compost produced. That was proved the reduction in the period of
composting through the framing elements of CTC, pH and C / N ratio, indicating if the
decomposition of organic matter reached desirable levels to be accorded to the status of the
compound and for the "hand test". The performed statistical analyzes indicated a non-
significant (P> 0.05) for the physico-chemical parameters without and with EM. Regarding
biological agents and heavy metals, the same fell into the legislation and there was a
significant reduction in the parameters of the compound with the use of EM. It is concluded
that EM reduced composting period, however the effect was not justified the use of effective
microorganisms in the composting process because without the compound EM, it was
observed that the concentration of nutrients in the compound with EM were similar.

Key-words: Waste. Treatment. Regenerative microorganisms. Organic compound.


Legislation.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Principais tipos de resíduos orgânicos......................................................................23


Figura 2– Forma geométrica da pilha e leira de compostagem................................................24
Figura 3 – Fases do processo de compostagem........................................................................25
Figura 4 – Relação entre temperatura e a taxa de consumo de oxigênio (taxa de degradação)
na compostagem........................................................................................................................27
Figura 5 – Distribuição uniforme de água na massa de compostagem para reposição da
umidade perdida........................................................................................................................28
Figura 6 – Variação de temperatura na leira durante a compostagem......................................29
Figura 7 – Variação do pH na leira durante a compostagem....................................................30
Figura 8 – A umidade no processo de compostagem e no produto acabado............................31
Figura 9 – Exemplo de leiras revolvidas utilizando equipamento específico no revolvimento
(composteira)............................................................................................................................34
Figura 10 – Equipamento acoplado a tomada de potência do trator, utilizado no revolvimento
de leiras (composteira)..............................................................................................................34
Figura 11 – Coordenadas geográficas do município de São Sebastião da Bela Vista – MG....43
Figura 12 – EM pronto para uso...............................................................................................45
Figura 13 – Fluxograma do processo de produção na usina de compostagem........................ 46
Figura 14 – Baia de material seco.............................................................................................47
Figura 15 – Baia de material líquido.........................................................................................47
Figura 16 – Leira montada em área externa..............................................................................47
Figura 17 – Bombeamento do chorume da caixa de contenção................................................48
Figura 18 – Composteira utilizada no revolvimento das leiras de compostagem.....................48
Figura 19 – Aplicação do EM na leira de compostagem..........................................................49
Figura 20 – Leitura da temperatura na leira de compostagem com termômetro analógico......49
Figura 21 – Peneirador rotativo................................................................................................50
Figura 22 – Composto a granel pronto para comercialização...................................................50
Figura 23 – Composto ensacado pronto para comercialização.................................................50
Figura 24 – Teste de mão..........................................................................................................52
Figura 25 – Avaliação da cura de composto orgânico através do teste da mão........................53
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Bactérias, fungos e actinomicetos identificadas na compostagem de diferentes


substratos e em diversos sistemas.............................................................................................26
Tabela 2 – Vantagens e desvantagens do método de compostagem de leiras revolvidas.........34
Tabela 3 – Médias comparadas pelo teste t de Student ao nível de 5% de significância para as
amostras obtidas sem EM e com EM em relação aos parâmetros físico-químicos levando em
consideração as variâncias e os tamanhos amostrais................................................................53
Tabela 4 – Análise biológica de coliformes termotolerantes, salmonella sp. e ovos viáveis de
helmintos de composto orgânico sem EM e com EM em uma amostra...................................54
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Destino final dos resíduos sólidos no Brasil, por unidades de destino – 1989/2008
...................................................................................................................................................18
Quadro 2 – Temperatura e tempo requeridos para inativação de patógenos............................29
Quadro 3 – Características dos principais resíduos utilizados na compostagem......................33
Quadro 4 – Valores de referência utilizados como limites máximos de contaminantes
admitidos em compostos orgânicos, resíduos de biodigestor, resíduos de lagoa de decantação
e fermentação, e excrementos oriundos de sistema de criação com o uso intenso de alimentos
e produtos obtidos de sistemas não orgânicos..........................................................................36
Quadro 5 – Especificações dos fertilizantes orgânicos mistos e compostos.............................37
Quadro 6 – Principais diferenças entre a produção de composto orgânico com EM e composto
orgânico tradicional...................................................................................................................42
Quadro 7 – Memorial descritivo da usina de compostagem.....................................................44
Quadro 8 – Análise microbiológica, química e física do EM...................................................45
Quadro 9 – Resultados analíticos de composto orgânico sem EM para metais pesados, CTC,
pH, umidade, matéria orgânica e relação C/N..........................................................................55
Quadro 10 – Resultados analíticos de composto orgânico com EM para metais pesados, CTC,
pH, umidade, matéria orgânica e relação C/N..........................................................................56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


C Carbono
°C Graus Celsius
CH4 Metano
C/N Relação carbono/nitrogênio
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CO2 Gás carbônico
CTC Capacidade de troca catiônica
EM Micro-organismos Eficazes
ETA Estação de Tratamento de Água
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
g Grama
H2 S Sulfeto de hidrogênio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IN Instrução Normativa
kg Quilograma
l Litro
m Metro
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e de Abastecimento
mg Miligrama
mg/kg Miligrama por quilo
ml Mililitro
mm Milímetro
mmol Milimol
MOA Fundação Mokiti Okada
MS Matéria seca
m3 Metro cúbico
N Nitrogênio
NPK Nitrogênio, Fósforo e Potássio
NMP Número mais provável
O2 Oxigênio
pH Potencial Hidrogeniônico
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
RS Resíduos Sólidos
RSD Resíduos Sólidos Domésticos
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
SMEWW Standard Methods for Examination of Water and Wastewater
ST Sólidos totais
UFC Unidade formadora de colônia
UFC/ml Unidade formadora de colônia por mililitro
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................15
2 OBJETIVOS ...............................................................................................................17
2.1 Objetivo geral..............................................................................................................17
2.2 Objetivos específicos...................................................................................................17
3 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................18
3.1 Os Resíduos no Mundo...............................................................................................18
3.2 Os Resíduos no Brasil.................................................................................................18
3.3 Definição, origem e composição dos Resíduos Sólidos.............................................19
3.4 Características dos Resíduos Sólidos que influenciam o processo de compostagem
...................................................................................................................................................19
3.4.1 Teor de umidade............................................................................................................19
3.4.2 Compressividade...........................................................................................................20
3.4.3 Relação Carbono/Nitrogênio (C/N)..............................................................................20
3.4.4 Potencial Hidrogeniônico (pH).....................................................................................20
3.4.5 Espécies microbiológicas..............................................................................................20
3.5 Classe de Resíduos Sólidos utilizados na compostagem..........................................21
3.5.1 Resíduos classe II A - Não inertes ...............................................................................21
3.6 Origem dos Resíduos Sólidos utilizados na compostagem......................................21
3.6.1 Resíduos sólidos urbanos (RSU)...................................................................................21
3.6.2 Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico.................................................21
3.6.3 Resíduos industriais......................................................................................................22
4 COMPOSTAGEM......................................................................................................23
4.1 Definição.....................................................................................................................23
4.2 Fases da compostagem...............................................................................................24
4.3 Parâmetros de controle da compostagem................................................................25
4.3.1 Micro-organismos........................................................................................................25
4.3.2 Aeração........................................................................................................................27
4.3.3 Temperatura.................................................................................................................28
4.3.4 pH.................................................................................................................................30
4.3.5 Umidade.......................................................................................................................30
4.3.6 Granulometria...............................................................................................................31
4.3.7 Relação Carbono/Nitrogênio.........................................................................................32
4.4 Métodos de compostagem...........................................................................................33
4.4.1 Leiras revolvidas (Windrow)........................................................................................33
4.4.2 Leiras aeradas estaticamente (Static pile).....................................................................35
4.4.3 Reatores biológicos ( In-vessel)....................................................................................35
4.5 Legislação aplicada aos compostos orgânicos..........................................................35
5 MICRO-ORGANISMOS EFICAZES EM)..............................................................38
5.1 Histórico.......................................................................................................................38
5.2 Importância e benefícios do EM................................................................................38
5.3 Grupos de micro-organismos eficazes.......................................................................39
5.4 Modo de preparo do EM............................................................................................40
5.5 Formação e ativação do EM.......................................................................................40
5.6 Tipos de utilização do EM..........................................................................................41
5.6.1 Na compostagem...........................................................................................................41
6 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................43
6.1 Localização e caracterização da usina de compostagem.........................................43
6.2 Preparação e caracterização dos micro-organismos eficazes (EM).......................44
6.3 Preparação e manejo das leiras de compostagem sem e com a utilização de micro-
organismos eficazes ................................................................................................................45
6.4 Análise estatística........................................................................................................51
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................52
7.1 Período de Compostagem...........................................................................................52
7.2 Parâmetros físico-químicos, biológicos e metais pesados........................................53
8 CONCLUSÃO.............................................................................................................57
REFERÊNCIAS..........................................................................................................58
15

1 INTRODUÇÃO

O volume de resíduos cresce de maneira acelerada tanto nos países desenvolvidos


quanto naqueles em desenvolvimento, e sua composição modifica-se ao longo dos anos,
devido ao constante desenvolvimento industrial, constituindo assim, um problema de ordem
social, econômica e ambiental. Se os resíduos forem lançados em qualquer local ou não
receberem tratamento ou disposição adequada, servirão de fonte de proliferação de insetos e
roedores, provocando riscos para a saúde pública.
Os problemas ocasionados pela utilização de fertilizantes solúveis e compostos
tóxicos para o controle de insetos, patógenos e plantas daninhas são conhecidos. Entretanto, a
demanda pela produção de alimentos sem resíduos de agrotóxicos é crescente em todo o
mundo, onde devem ser produzidos sob métodos que não deteriorem as condições do
ambiente.
Na tentativa de equacionar este problema, vários métodos de tratamento e
disposição de resíduos orgânicos foram e vêm sendo pesquisados em todo o mundo,
destacando-se a compostagem.
A compostagem é uma técnica simples e adequada para a disposição e o
tratamento de resíduos, pois contribui na proteção ambiental, tanto pelo controle da poluição,
quanto pela economia de energia e de recursos naturais. Esta técnica traz uma série de
vantagens, como exemplo a economia de espaço em aterros sanitários, o aproveitamento
agrícola da matéria orgânica através do composto orgânico gerado, a economia no tratamento
de efluentes, a reciclagem de nutrientes para o solo, por ser um processo ambientalmente
seguro e por eliminar patógenos nocivos ao homem.
O EM contém vários grupos de micro-organismos com funções diferentes, dentre
os quais podemos citar as bactérias produtoras de ácido lático, as leveduras, os actinomicetos,
e as bactérias fotossintéticas que coexistem dentro de um mesmo meio líquido
(Pergorer et al., 1995).
Como benefícios do uso do composto orgânico na agricultura citam-se: a redução
da poluição de recursos hídricos, o aumento da vida útil de aterros sanitários e a mitigação de
emissões de metano (CH4). A utilização do composto orgânico na atividade agronômica
depende, sobretudo, da sua qualidade, especialmente do conteúdo em matéria orgânica, da sua
maturidade, da concentração de nutrientes e da presença ou ausência de substâncias
potencialmente perigosas e indesejáveis ao meio ambiente.
16

Quanto à qualidade do composto produzido, adotam-se os valores de referência


dos elementos constantes no Anexo VI da Instrução Normativa (IN) nº 46/2011 do Ministério
da Agricultura, Pecuária e de Abastecimento (MAPA), bem como, as suas classificações e
especificações informadas na Instrução Normativa nº 25/2009 do MAPA, em função das
matérias primas utilizadas na sua produção.
17

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar o uso de micro-organismos eficazes no processo de compostagem.

2.2 Objetivos específicos

Avaliar o efeito do uso dos micro-organismos eficazes na redução do período de


compostagem.
Verificar a influência do uso de micro-organismos eficazes na qualidade do
composto orgânico.
18

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Os Resíduos no Mundo

Segundo Leripio (2004), nos últimos 20 anos, a população mundial cresceu menos
que o volume de lixo por ela produzido. Enquanto que entre os anos de 1970 e 1990 a
população do planeta aumentou em 18%, a quantidade de lixo sobre a Terra tornou-se 25%
maior.

3.2 Os Resíduos no Brasil

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 5.553


os municípios com serviço de coleta de resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos,
totalizando uma quantidade coletada diária de 183.488 toneladas. Entretanto, 259.547
(tonelada/dia) de resíduos são encaminhados nas várias unidades de destino final de resíduos
sólidos coletados e/ou recebidos (IBGE, 2010). Observa-se que existe uma destinação final
inadequada dos resíduos sólidos, de acordo com o QUADRO 1.

QUADRO 1
Destino final dos resíduos sólidos no Brasil, por unidades de destino – 1989/2008.
Destino final de resíduos sólidos no Brasil, por unidades de destino (%)
Ano
Vazadouro a céu aberto Aterro controlado Aterro sanitário
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7
Fonte: IBGE (2010).
19

3.3 Definição, origem e composição dos Resíduos Sólidos

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) através da


NBR 10004/2004 (ABNT, 2004) define os Resíduos Sólidos (RS) como resíduos em estado
sólido e semissólido, oriundos de atividades doméstica, industrial, de serviços, de varrição,
comercial, agrícola e hospitalar.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) também define o termo Resíduo
Sólido como qualquer material, substância, objeto ou bem descartado oriundo de atividades
humanas em sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou está obrigado
a proceder, no estado sólido ou semissólido (BRASIL, 2010).
Os restos das atividades humanas, considerados como inservíveis, indesejáveis ou
descartáveis, são chamados de resíduos. Destaca-se, no entanto, a relatividade da
característica inservível do lixo ou resíduo, pois aquilo que já não apresenta nenhuma
serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matéria – prima para um novo
produto ou processo (MONTEIRO et al., 2001).

3.4 Características dos resíduos sólidos que influenciam o processo de compostagem

3.4.1 Teor de umidade

O teor de umidade representa a quantidade de água presente em uma amostra de


resíduo sólido. O teor de umidade exerce papel fundamental no metabolismo dos micro--
organismos aeróbios ou anaeróbios, ou seja, altera a velocidade de degradação do resíduo,
atuando como fator limitante em processos de compostagem ou disposição em aterro sanitário
(BRASIL, 2010).
20

3.4.2 Compressividade

A compressividade é a capacidade da redução do volume do resíduo sob a ação de


uma pressão. O grau de compactação do resíduo influi diretamente na vida útil do aterro
sanitário (BRASIL, 2010).

3.4.3 Relação Carbono/Nitrogênio

A relação de carbono/nitrogênio (C/N) aponta o grau de decomposição da massa


do resíduo, pois o carbono é a fonte básica de energia para as atividades dos micro-
organismos e o nitrogênio é necessário à reprodução dos mesmos (PEREIRA NETO, 2007).
Geralmente, essa relação encontra-se na ordem de 20/1 a 35/1 (BRASIL, 2010).

3.4.4 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O Potencial Hidrogeniônico (pH) indica se o teor da massa de resíduo é ácida ou


alcalina. O pH altera-se durante as diversas fases da compostagem, sendo que, no final do
processo, os valores ficam próximos da neutralidade (BRASIL, 2010).

3.4.5 Espécies microbiológicas

O conhecimento das características biológicas dos resíduos é muito utilizado no


desenvolvimento de inibidores de cheiro e como inibidores ou aceleradores do processo de
decomposição da matéria orgânica (BRASIL, 2010).
21

3.5 Classe de Resíduos Sólidos utilizados na compostagem

3.5.1 Resíduos classe II A – Não inertes

Compõem-se os resíduos que não enquadram nas classificações de Resíduos


Classe I (Perigosos) ou de Resíduos Classe II B (Inertes). São os resíduos passíveis de possuir
propriedades tais como a combustibilidade, biodegrabilidade ou solubilidade em água
(ABNT, 2004).

3.6 Origem dos Resíduos Sólidos utilizados na compostagem

3.6.1 Resíduos sólidos urbanos (RSU)

São compostos pelos resíduos domiciliares e os resíduos de limpeza urbana


(BRASIL, 2010). Como exemplo pode-se citar os restos de comida (restaurantes), podas e
manutenção de gramados (INÁCIO; MILLER, 2009).
Cerca de 60 % do RSU gerado no país é constituído de matéria orgânica
(PEREIRA NETO, 2007). Para Grippi (2001), aproximadamente 70 % do resíduo municipal é
formado por matéria orgânica. Segundo Inácio e Miller (2009), os resíduos sólidos
domésticos (RSD), apresentam fração orgânica de 45 a 60 % em peso.

3.6.2 Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico

São compostos pelos lodos gerados nas Estações de Tratamento de Água (ETA) e
Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), onde os mesmos devem ser desidratados e tratados
(BRASIL, 2010).
22

3.6.3 Resíduos industriais

São gerados pelos processos produtivos e demais instalações industriais


(BRASIL, 2010). Como exemplo, pode-se citar os restos de comida (refeitórios), podas e
manutenção de gramados, restos de madeira (serragem e aparas) e lodos biológicos classe IIA,
oriundos de efluente sanitário e industrial (INÁCIO; MILLER, 2009).
23

4 COMPOSTAGEM

4.1 Definição

Barros (2012) define que a compostagem é um processo aeróbio que se


desenvolve a partir da mistura de elementos ricos em carbono (C) e nitrogênio (N), na
presença de oxigênio atmosférico, de acordo com a FIG. 1.

Resíduos Orgânicos Putrescíveis


(Matéria Orgânica)

Sobras de Resíduos
Frutas Orgânicos
Agroindustriais

Sobras de Resíduos
legumes Orgânicos
Industriais

Restos de Lodos
alimentos Orgânicos

Podas, Gramas, Palhas, Sobras


Agrícolas, Serragem, etc.

FIGURA 1 – Principais tipos de resíduos


orgânicos.
Fonte: Pereira Neto (2007)

A compostagem é o processo de decomposição ou degradação de materiais


orgânicos pela ação de micro-organismos em um meio aerado naturalmente e/ou
mecanicamente (BRASIL, 2009a).
Pereira Neto (2007) relata que a compostagem é um processo biológico aeróbio
utilizado no tratamento e na estabilização de resíduos orgânicos para a produção de húmus, ou
seja, o composto orgânico. A massa de resíduos pode ser disposta em montes de forma
cônica, conhecidos como “pilhas de compostagem”, ou em montes de forma prismática, com
seção reta aproximadamente triangular, chamados “leiras de compostagem”.
Destaca-se na FIG. 2 a diferença geométrica entre uma pilha e uma leira de compostagem.
24

Lima (1991) afirma que a compostagem pode ocorrer em processo misto,


caracterizado pela combinação dos processos aeróbios e anaeróbios, sendo que geralmente o
processo aeróbio ocorre primeiro e, em seguida, com a diminuição da quantidade de oxigênio,
ocorre o processo anaeróbio.

FIGURA 2 – Forma geométrica da pilha e


leira de compostagem.
Fonte: Pereira Neto (2007)

4.2 Fases da compostagem

De acordo com a FIG. 3, Teixeira Pinto (2001) divide o processo de compostagem


em três fases:
- Fase Inicial Mesófila. Nesta fase ocorre o ligeiro crescimento de micro-organismos
mesófilos, ocorrendo um gradativo aumento de temperatura.
- Fase Termófila. Conforme a temperatura aumenta, os micro-organismos mesófilos sofrem
uma diminuição, cedendo lugar às bactérias e fungos termófilos, de extrema atividade e
capacidade de reprodução, que elevam mais a temperatura, inativando os micro-organismos
patogênicos.
- Fase Final Mesófila. Com o esgotamento do substrato orgânico, a temperatura diminui,
ocorrendo à redução da população das bactérias termófilas, possibilitando novamente o
retorno e instalação das bactérias mesófilas, com atividade moderada.
Segundo Spellman (1997), conforme as temperaturas ótimas, os micro-
organismos podem ser classificados em: psicrófilos (0 – 20 ºC), mesófilos (15 – 43 ºC) e
termófilos (40 – 85 ºC).
25

FIGURA 3 – Fases do processo de


compostagem.
Fonte: Teixeira Pinto (2001)

4.3 Parâmetros de controle da compostagem

4.3.1 Micro-organismos

Os micro-organismos exercem um papel decisivo no processo de autodepuração e


decomposição da matéria orgânica, segundo Strauch (1991), determinando a taxa de
velocidade do processo de compostagem (TIQUIA; TAM, 2000). Controlando-se a umidade e
a aeração, estes micro-organismos se proliferam e distribuem-se pela massa de resíduo
(BRASIL, 2009a). Já os organismos macroscópicos podem ser vistos a olho nu, como os
cupins, formigas, centopeias, lacraias, aranhas, besouros e minhocas (PEIXOTO, 2005).
Quando se estuda o composto orgânico com vistas a sua composição
microbiológica, o mesmo é basicamente determinado pela concentração de grupos funcionais
de micro-organismos como: bactérias aeróbias, bactérias anaeróbias, fungos, actinomicetos e
bactérias fixadoras de nitrogênio (INÁCIO; MILLER, 2009).
Estes micro-organismos são fundamentais no processo de compostagem, pois
atuam na decomposição dos resíduos orgânicos até a formação do húmus. Estudos mostram
que as bactérias atacam preferencialmente os lipídeos e as frações de hemicelulose, enquanto
a celulose é decomposta por actinomicetos e fungos (PEIXOTO, 2005).
Inácio e Miller (2009) descrevem que a atividade biológica na leira de
compostagem depende de vários fatores e da relação entre as diferentes populações de micro-
organismos, de acordo com a TAB. 1.
26

TABELA 1
Bactérias, fungos e actinomicetos identificadas na compostagem de diferentes substratos e em diversos sistemas.

Espécies / Bactérias Espécies / Fungos Espécies / Actinomicetos


Bacillus Zigomicetos Actinobifida chromogena
B. brevis Absidia Nicrobispora bispora
B. circulans complex A. Ramosa Micropolyspora faeni
B. coagulans type A Absidia sp. Nocardia sp.
B. coagulans type B Mortierella turficola Pseudonocardia thermophilia
B. licheniformis Mucor Streptomyces
B. spharicus M. miehei S. rectus
B. stearothermophilus M. pusillus S. thermofuscus
B. subtilis Rhizomucor sp. S. thermoviolaceus
Clostridium Ascomicetos S. thermovulgaris
C. thermocellum Allescheria terrestris Streptomyces sp.
Clostridium sp. Chaetonium thermophilum Thermoactinomyces
Pseudomonas sp. Dactylomyces crustaceous T. vulgaris
Myriococcum albomyces T. sacchari
Talatomyces (Penicillium) Thermomonospora
T. dupontii T. curvata
T. emersonni T. viridis
T. thermophilus Thermomonospora sp.
Thermoascus aurantiacus
Thielavia
T. thermophila
T. terrestris
Basidiomicetos
Coprinus
C. Lagopus
Coprinus sp.
Lenzites sp.
Deuteromicetos
Aspergillus
A. fumigatus
Humicola
H. grisea
Sporotrichum thermophile
Scytalidium thermophilum
Papuslapora thermophilia

Fonte: Miller (1993, p. 530-534).


27

4.3.2 Aeração

A compostagem é um processo predominantemente aeróbio, e não totalmente


aeróbio, sendo comum a formação de microsítios e até zonas internas anaeróbias
(< 10 % de O2) devido ao intenso consumo de oxigênio pelo metabolismo microbiano, de
acordo com a FIG. 4 (INÁCIO; MILLER, 2009).

7
Consumo de O2 (MG/(g/d))

6
5
4
3
2
1
0
0 20 40 60
Temperatura (°C)
FIGURA 4 – Relação entre a temperatura e a
taxa de consumo de oxigênio(taxa de
degradação) na compostagem.
Fonte: Epstein (1997).

A aeração excessiva pode remover a umidade e causar a redução da temperatura


da mistura, ocasionando problemas à qualidade do produto final. Se o tamanho das partículas
for muito pequeno, a aeração será prejudicada pela redução do tamanho dos poros entre as
partículas e devido à compactação do material. Se o tamanho das partículas for grande, a área
de ataque dos micro-organismos será reduzida e os espaços entre elas serão grandes,
prejudicando a retenção de calor, tornando a decomposição lenta, ou até chegando ao ponto
de interrompê-la (TEIXEIRA PINTO, 2001).
O ciclo de reviramento deve ser realizado, em média, duas vezes por semana
segundo Pereira Neto (2007), onde o mesmo pode ocorrer por processos artificiais
(mecânicos) ou naturais (reviramento manual).
Davis et al. (1992) citam que a concentração ótima de oxigênio está na faixa de
5 a 12 %. Uma boa aeração na leira de compostagem está relacionada às características de
seus componentes em termos de forma, tamanho e estrutura (PEIXOTO, 2005).
28

No período de revolvimento da leira, Pereira Neto (2007) relata que o calor é


liberado para o ambiente na forma de vapor d’água, sendo necessária a correção da umidade,
por meio da distribuição uniforme de água na massa de compostagem, para que seja reposta a
perda de água no sistema, conforme a FIG.5 a seguir.

FIGURA 5 – Distribuição uniforme de água na


massa de compostagem para reposição da
umidade perdida.
Fonte: Pereira Neto (2007).

A aeração deficiente, ou seja, abaixo de 5 %, desenvolve os micro-organismos


anaeróbios, ocorrendo à produção de ácidos orgânicos, aminas, amônia,
sulfeto de hidrogênio (H2S), metano (CH4), mercaptanas e outras moléculas fitotóxicas, os
quais são responsáveis pelo odor agressivo na usina de compostagem. Ao contrário, o excesso
de aeração acaba por esfriar e ressecar a massa em compostagem, diminuindo a atividade
microbiana e impedindo a inativação dos micro-organismos patogênicos
(CARVALHO, 2001).

4.3.3 Temperatura

Aisse, Fernandes e Silva (2001) afirmam que a temperatura é um indicador de


equilíbrio biológico, é de fácil monitoramento e reflete a eficiência do processo. Quando os
valores de temperatura estão entre 40 ºC e 60 ºC, nos primeiros três dias, é sinal que o
processo está ocorrendo em condições adequadas (TEIXEIRA PINTO, 2001).
O QUADRO 2 indica os tempos requeridos para inativação de alguns micro-
organismos patogênicos durante o processo de compostagem, para várias temperaturas.
29

QUADRO 2
Temperatura e tempo requeridos para inativação de patógenos.
Tempo de exposição (minutos)
Micro-organismo
50 ºC 55 ºC 60 ºC 65 ºC 70 ºC
Salmonella 10.080 2.880
Salmonella 30 4
Poliovirus tipo 1 60
Ascaris lumbricoidis 240 60
Ovos de ascaris 60 7
Mycobacteria tuberculosis 20.060 20
Escherichia coli 60 5
Coliformes fecais 60
Entamoeba histolytica 5
Necator americanus 50
Vírus 25
Shigella 60
Fonte: Adaptado de WPCF (1990); JICA (1993); UEL (1999).

Peixoto (2005) mostra que em condições adequadas o crescimento e a atividade


microbiana na massa de compostagem promovem um comportamento característico de
evolução da temperatura, dividido em quatro fases distintas: aumento da temperatura, pico da
temperatura, esfriamento e maturação, de acordo com a FIG. 6.
Alguns pesquisadores observaram que a atividade dos micro-organismos na
matéria orgânica se eleva até a temperatura de 65 ºC e que, acima deste valor, o próprio calor
atua como fator limitante do desenvolvimento das populações aptas, havendo decréscimo da
atividade biológica, aumentando o período de compostagem (UEL, 1999).

2 7 20 60 90-180
Tempo (dias)
FIGURA 6 – Variação de temperatura na leira
durante a compostagem.
Fonte: Peixoto (2005).
30

4.3.4 pH

No início da compostagem, quando se inicia a decomposição do material


orgânico, desenvolvem-se os micro-organismos que geram uma fermentação ácida, tornando
o pH baixo, favorecendo à retenção de amônia (D`ALMEIDA; VILHENA, 2000).
O composto orgânico semi pronto, apresenta o pH na faixa de 6,0, porém, o composto curado
umidificado apresenta valores entre 7,0 e 8,0.
Os materiais mais importantes de origem orgânica, utilizados como matéria prima
na composição da massa de resíduos, são de natureza ácida, como sucos vegetais, sangue,
urina, fezes, entre outros. Portanto, em geral, no início do processo, a leira de compostagem
tem uma reação ácida, devido à formação de ácidos orgânicos e a incorporação de carbono
orgânico ao protoplasma celular microbiano (VALENTE, 2009).
Rodrigues et al. (2006) consideram que a faixa ótima de pH para o
desenvolvimento dos micro-organismos situa-se entre 5,5 e 8,5, pois nesta faixa as enzimas
estão ativas.
Durante o processo de compostagem ocorre uma variação do pH na massa de
resíduos, de acordo com a FIG. 7.

FIGURA 7 – Variação do pH na leira durante a


compostagem.
Fonte: Peixoto (2005).

4.3.5 Umidade

Inácio e Miller (2009) relataram a importância da umidade devido à necessidade


de água no metabolismo microbiano e devido à água concorrer com o oxigênio pelos mesmos
31

espaços na massa de resíduos. O valor ideal situa-se na faixa de 50 % a 60 %


(TEIXEIRA PINTO, 2001; RODRIGUES et al., 2006). Ao longo do processo, o teor de
umidade do composto tende a diminuir com a perda de água devido à aeração, portanto, a
umidade torna-se parâmetro necessário a ser monitorado durante o processo de compostagem
para o seu desenvolvimento satisfatório (UEL, 1999).
Teores abaixo de 40 % inibem a atividade dos micro-organismos e teores acima
de 65 % ocasionam o preenchimento dos espaços vazios pela água, tornando difícil a aeração
da massa (BRASIL, 2009a). Pode-se ajustar a umidade com a mistura de componentes ou
pela adição de água, levando-se em conta que a umidade depende da aeração satisfatória,
estrutura e porosidade dos resíduos utilizados no processo. Caso a massa de resíduos
apresente baixa umidade, é preciso adicionar água ou outro resíduo orgânico com elevado teor
de umidade em quantidade e proporção compatíveis, dentro da faixa desejada de 55 %
(PEREIRA NETO, 2007).
No final do processo de compostagem, a umidade do composto para uso agrícola
deve ser no máximo de 40 % conforme a FIG. 8 a seguir.

FIGURA 8 – A umidade no processo de


compostagem e no produto acabado.
Fonte: Kiehl (1985).

4.3.6 Granulometria

A dimensão das partículas está relacionada à superfície específica do material a


ser compostado e neste contexto, quanto menor a granulometria das partículas, maior a área a
32

ser atacada pelos micro-organismos, acelerando o processo de decomposição


(KIEHL, 1985; KEENER; DAS, 1996; FERNANDES; SILVA, 1999).
Deve-se tomar o devido cuidado com os materiais de granulometria muito fina
segundo Rodrigues et al. (2006), pois estes geram poucos espaços porosos, dificultando a
circulação de oxigênio no interior da leira, ocasionando anaerobiose, devido ao alto grau de
compactação e aumento da densidade da massa em compostagem
(PRIMAVESI, 1981; KIEHL, 1985).
Alguns autores obtiveram condições ótimas no processo de compostagem com
30 a 36 % de porosidade na massa e partículas com tamanho de 25 a 75 mm
(FERNANDES, 2000).
Pereira Neto (2007) recomenda que as partículas da massa de compostagem
devam situar-se entre de 10 a 50 mm de tamanho.

4.3.7 Relação Carbono/Nitrogênio

O carbono é a fonte de energia para as atividades dos micro-organismos e o


nitrogênio é necessário para a reprodução dos mesmos, sendo que a decomposição dos
resíduos orgânicos na leira de compostagem depende da reprodução celular dos micro-
organismos (bactérias, fungos e actinomicetos), pois na falta de nitrogênio não ocorre a
reprodução desses (PEREIRA NETO, 2007).
A relação ideal de carbono e nitrogênio para obtenção de alta eficiência no
processo deve situar-se entre 30 e 40:1. Em geral, os resíduos de gramíneas são fontes de
carbono; já os de leguminosas e os resíduos fecais constituem fontes de nitrogênio
(PEREIRA NETO, 2007).
Verifica-se durante o processo de compostagem uma redução da relação C/N
devido à oxidação da matéria orgânica pelos micro-organismos, através da sua respiração que
liberam CO2 (ZHANG; HE, 2006).
Na fase final da compostagem, a relação C/N situa-se entre 10 e 20, devido às
perdas maiores de carbono que de nitrogênio, no desenvolvimento do processo
(FERNANDES, 2000).
Apresenta-se no QUADRO 3 as características dos principais resíduos utilizados
na compostagem.
33

QUADRO 3
Características dos principais resíduos utilizados na compostagem.
Resíduo % sólidos %N %C
Podas de árvores 65-75 0,8-1,2 45-55
Palha de arroz 80-90 0,9-1,2 35-40
Bagaço de cana 60-80 0,1-0,2 40-50
Palha de trigo 80-90 0,3-0,5 40-50
Serragem 65-80 0,1-0,2 48-55
Lodo bruto 1-4 1-5 30-35
Lodo digerido 1-3 1-6 22-30
Lodo digerido seco (leitos de secagem) 45-70 1-4 22-30
Lodo digerido desidratado (prensa desaguadora) 15-20 1-4 22-30
Lodo digerido desidratado (centrífuga) 17-28 1-4 22-30
Fonte: JICA (1993); UEL (1999); Metcalf e Eddy (1991); Malina (1993).

4.4 Métodos de compostagem

4.4.1 Leiras revolvidas (Windrow)

A mistura de resíduos é disposta em leiras, onde a aeração é fornecida através do


revolvimento periódico dos resíduos, pela convecção e difusão do ar na massa do composto
(FERNANDES, 2000).
Kuter (1995) relata que durante o processo de compostagem, as leiras devem ser
revolvidas no mínimo três vezes por semana e que no processo de maturação o revolvimento
pode ser realizado de 20 a 25 dias.
Existem máquinas específicas que realizam a mistura e revolvimento do
composto, como a composteira, de acordo com a FIG. 9, que realiza o movimento deixando a
leira com uma dimensão padrão, que é determinada pelo modelo do equipamento, podendo
também ser acoplada na tomada de potência do trator, conforme a FIG. 10 e utilizando-se a pá
carregadeira convencional (FERNANDES; SILVA, 1999).
34

FIGURA 9 – Exemplo de leiras revolvidas


utilizando equipamento específico no
revolvimento (composteira).
Fonte: Teixeira Pinto (2001).

FIGURA 10 – Equipamento acoplado a tomada


de potência do trator, utilizado no revolvimento
de leiras (composteira).
Fonte: Inácio e Miller (2009).

Na TAB. 2 apresentam-se as vantagens e desvantagens do método de


compostagem de leiras revolvidas.

TABELA 2
Vantagens e desvantagens do método de compostagem de leiras revolvidas.
Método de compostagem Vantagens Desvantagens
Requer grandes áreas
Possível problema de odor
Leiras revolvidas Baixo custo de investimento Dificuldade em atingir a temperatura
Baixo custo de O&M (operação e necessária
manutenção) Potencial problema de mistura
Grande período de compostagem
Fonte: Adaptado de Teixeira Pinto (2001).
35

4.4.2 Leiras estáticas aeradas (Static pile)

Este método de compostagem utiliza equipamentos para insuflação de ar no


interior das leiras, com a função de resolver um típico problema da compostagem: a falta de
oxigênio (Inácio e Miller, 2009). Neste método ocorre um satisfatório controle da emissão de
odores, bem como, a redução de chorume.

4.4.3 Reatores biológicos (In-vessel)

Neste método, os resíduos são confinados em estruturas fechadas como, container,


grandes cilindros metálicos, em concreto e alvenaria (INÁCIO; MILLER, 2009).
O processo é todo mecanizado, ocupando menor área em relação aos outros
métodos de compostagem, controlando-se todas as variáveis do processo, minimizando a
emanação de odores e obtendo um melhor produto com respeito à redução de patógenos
(TEIXEIRA PINTO, 2001; INÁCIO; MILLER, 2009).
Carvalho (2001) enquadra os reatores em três categorias:
• reatores biológicos contínuos de fluxo vertical;
• reatores biológicos contínuos de fluxo horizontal;
• reatores biológicos de batelada.

4.5 Legislação aplicada aos compostos orgânicos

Em relação à qualidade do composto orgânico produzido, referencia-se o Anexo


VI da Instrução Normativa nº 46/2011 do MAPA (BRASIL, 2011), de acordo com o
QUADRO 4.
36

QUADRO 4
Valores de referência utilizados como limites máximos de contaminantes admitidos em compostos orgânicos,
resíduos de biodigestor, resíduos de lagoa de decantação e fermentação, e excrementos oriundos de sistema de
criação com o uso intenso de alimentos e produtos obtidos de sistemas não orgânicos.
Elemento Limite (MG kg-1 de matéria seca)
Arsênio 20
Cádmio 0,7
Cobre 70
Níquel 25
Chumbo 45
Zinco 200
Mercúrio 0,4
Cromo (VI) 0
Cromo total 70
Coliformes Termotolerantes (número mais provável por de
1000
matéria seca – NMP/g de MS)
Ovos viáveis de helmintos (número por quatro gramas de
1
sólidos totais - nº em 4 g ST)
Salmonella sp. Ausência em 10 g de matéria seca
Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (2011).

Quanto à classificação dos compostos orgânicos, a mesma é descrita no Art. 2º da


Instrução Normativa nº 25/2009 do MAPA (BRASIL, 2009b), em função das matérias primas
utilizadas na sua produção:

- Classe A: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima de origem


vegetal, animal ou de processamentos da agroindústria, onde não sejam utilizados, no
processo, metais pesados tóxicos, elementos ou compostos orgânicos sintéticos
potencialmente tóxicos, resultando em produto de utilização segura na agricultura.

- Classe B: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima oriunda de


processamento da atividade industrial ou da agroindústria, onde metais pesados tóxicos,
elementos ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente tóxicos são utilizados no
processo, resultando em produto de utilização segura na agricultura.

- Classe C: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer quantidade de


matéria-prima oriunda de lixo domiciliar, resultando em produto de utilização segura na
agricultura.

- Classe D: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer quantidade de


matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários, resultando em produto de
utilização segura na agricultura.
37

Destaca-se para esta última classe, a Resolução CONAMA nº 375/2006


(BRASIL, 2006), que define os critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos
provenientes de estação de tratamento de esgotos (ETE) e seus produtos derivados, onde
considera-se a compostagem desses resíduos.
De acordo com o QUADRO 5, apresenta-se as especificações dos fertilizantes
orgânicos mistos e compostos de acordo com a legislação do MAPA.

QUADRO 5
Especificações dos fertilizantes orgânicos mistos e compostos.
Garantia Misto/composto Vermicomposto
Classe A Classe B Classe C Classe D Classes A, B, C, D
Umidade (máx.) 50 50 50 70 50
N total (mín.) 0,5
*Carbono orgânico
15 10
(mín.)
*CTC Conforme declarado
pH (mín.) 6,0 6,0 6,5 6,0 6,0
Relação C/N (máx.) 20 14
*Relação CTC/Ca Conforme declarado
Outros nutrientes Conforme declarado
Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (2009b).
Notas: a É obrigatória a declaração no processo de registro de produto.
* Valores expressos em base seca, umidade determinada a 65 ºC.

Seguindo este conceito, toda utilização de lodo de esgoto na agricultura deveria


seguir às disposições da Resolução N°375/06 do CONAMA e também a legislação do
MAPA, ou seja, para registro de fertilizante, enquadrando-se como composto misto
(Classe D), este produto deve atender aos parâmetros agronômicos previstos na
IN Nº 25/2009, assim como não poderia exceder aos limites máximos de contaminantes
elencados na IN Nº 46/2011, onde o estabelecimento produtor deve estar registrado no
MAPA, possuir licenciamento ambiental e atender às demais disposições da Resolução
CONAMA n° 375/2006 (CARVALHO; COELHO; LEAL, 2010).
38

5 MICRO-ORGANISMOS EFICAZES (EM)

5.1 Histórico

Os primeiros estudos relacionados com os micro-organismos eficazes iniciaram-se


na década de 70 pelo Dr. Teruo Higa, com o objetivo de melhorar a utilização da matéria
orgânica na produção agrícola, sendo que em 1982, foram feitas experimentações com o EM
em campo, nas várias regiões do Japão, com resultados positivos (BONFIM et al., 2011).
Na agricultura natural são utilizadas técnicas ecológicas, com máximo proveito da
natureza, das ações do solo, dos organismos vivos, da energia solar e dos recursos hídricos.
Pratica-se o princípio da reciclagem de recursos naturais e o enriquecimento da matéria
orgânica com micro-organismos, tornando a atividade agrícola duradoura e racional.
O EM é utilizado em diversos países e em todos os continentes, sendo ainda muito
pouco utilizados e conhecidos no Brasil, onde o seu uso foi iniciado experimentalmente na
Fundação Mokiti Okada (MOA), em Atibaia-SP (PERGORER et al., 1995).

5.2 Importância e benefícios do EM

Os micro-organismos são usados na solução dos problemas relacionados com o


uso de fertilizantes químicos, pesticidas e são aplicados amplamente na produção natural e na
agricultura orgânica (HIGA, 1991).
Para Martinez (2002) os micro-organismos eficazes (regenerativos) são aqueles
que possuem a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, decompor os resíduos orgânicos,
desintoxicar o solo de pesticidas, suprimir enfermidades de plantas e patógenos do solo,
incrementar a reciclagem de nutrientes e produzir componentes bioativos como vitaminas,
hormônios e enzimas que estimulam o crescimento das plantas. Em contrapartida, os micro-
organismos daninhos ou degenerativos, são aqueles que podem induzir enfermidades nas
plantas, estimular os patógenos no solo, imobilizar nutrientes, produzir toxinas e substâncias
pútridas que afetam negativamente o crescimento e saúde das plantas (PARR et al., 1994).
39

Uribe et al. (2001) relatam que os micro-organismos eficazes também podem ser
utilizados no controle dos maus odores, moscas, acelerar a estabilização do processo de
compostagem, pois o EM é um inoculado constituído pela mescla de vários microrganismos
benéficos como as leveduras, actinomicetos, bactérias acidoláticas e fotossintéticas, que são
compatíveis entre si e coexistem num meio líquido. Os micro-organismos eficazes produzem,
através da fermentação, ácidos orgânicos, hormônios vegetais como auxinas, giberelinas,
citoquininas, vitaminas, antibióticos e polissacarídeos (HIGA; PARR, 1994).
Higa e Parr (1994) reforçam que o EM não substitui as outras práticas de
gerenciamento de resíduos, sendo que estes micro-organismos promovem a melhoria dos
efeitos sinérgicos que ocorrem no processo de compostagem.

Kyan et al. (1999) citam os benefícios com o uso do EM:


a) Diminuição da necessidade do EM com o tempo, devido à autopropagação dos micro-
organismos;
b) Necessidade de baixas quantidades de matéria orgânica para o desenvolvimento;
c) Aumento na produção e maior qualidade dos produtos colhidos;
d) Facilita a colheita contínua;
e) Elimina o uso de agroquímicos;
f) Realiza a quebra da matéria orgânica rapidamente.

5.3 Grupos de micro-organismos

Bonfim et al. (2011) classificam os micro-organismos eficazes em quatro grupos:


a) Leveduras (Sacharomyces spp.): utilizam as substâncias que são liberadas pelas raízes
das plantas, sintetizam as vitaminas e ativam outros micro-organismos eficazes no solo,
onde as substâncias bioativas, tais como hormônios e enzimas produzidas pelas
leveduras, provocam atividade celular nas raízes;
b) Actinomicetos: São bactérias que produzem antibióticos e por isso controlam fungos e
bactérias patogênicas e aumentam a resistência das plantas;
c) Bactérias produtoras de ácido lático (Lactobacillus spp. e Pediococcus spp.):
produzem ácido lático que controlam alguns micro-organismos fitopatogênicos como o
40

Fusarium spp. , que, pela fermentação da matéria orgânica não curtida, acabam liberando
nutrientes às plantas;
d) Bactérias fotossintéticas: utilizam a energia solar em forma de luz e calor. Utilizam as
substâncias excretadas pelas raízes das plantas na síntese de vitaminas e nutrientes,
aminoácidos, ácidos nucleicos, substâncias bioativas e açúcares, que favorecem o
crescimento das plantas, bem como, aumentam as populações de outros micro-
organismos eficazes, como os fixadores de nitrogênio, como os actinomicetos e fungos
micorrízicos.
Uribe et al. (2001) descreveram a seguir, as espécies de micro-organismos que
geralmente são encontrados em amostras de EM : Streptomyces albus, Rhodopseudomonas
sphaeroides, Lactobacillus plantarum, Propionibacterium freudenreichil, Streptococcus
lactis, Streptococcusfaecalis, Aspergillus yzae, Mucobacter hiemalis, Saccharomyces
cerevisiae e Candida utilis.

5.4 Modo de preparo do EM

Na decomposição da matéria orgânica (restos vegetais e animais), os micro-


organismos eficazes retiram seu alimento de modo equilibrado, com pouco gasto de energia,
de tempo e mantêm a estabilidade do sistema. O EM é comercializado pela Fundação Mokiti
Okada, AMBIEN Ltda e Korin Meio Ambiente (KMA), porém é conhecido pela população o
método caseiro de captura e preparo do EM / solo e EM / planta, caracterizando a tecnologia
social (não empresarial) deste composto (BONFIM et al., 2011).

5.5 Formação e ativação do EM

Segundo Bonfim et al. (2011), para realizar a formação do EM, deve-se seguir os
seguintes passos:
- Cozinhe aproximadamente 700 gramas de arroz sem sal,
- Coloque o arroz cozido em bandeja de plástico, madeira ou ainda em calhas de bambu.
- Cubra com tela fina para proteção,
41

- Coloque a bandeja com arroz e tela em mata virgem, para que ocorra a captura dos micro-
organismos (formação),
- Após 10 a 15 dias os micro-organismos já estarão formados e criados,
- As partes do arroz que ficarem com as colorações rosada, azulada, amarelada e alaranjada
estarão com os micro-organismos eficazes regeneradores e as partes que estiverem com a
coloração cinza, marrom e preto devem ser descartadas, pois são micro-organismos eficazes
degeneradores,
Para ativar o EM, deve-se seguir os seguintes passos:
- Distribuir o arroz colorido em torno de cinco garrafas de plástico de 2 litros,
- Colocar 200 ml de melaço ou caldo de cana em cada garrafa, onde estes elementos fazem
crescer a comunidade microbiana ativa, que pelas reações de fermentação, produzem ácidos
orgânicos, hormônios vegetais (giberelinas, auxinas, citocinina), além de vitaminas,
antibióticos e polissacarídeos, enriquecendo a solução,
- Completar as garrafas com água limpa, sem a presença de cloro, pois o mesmo mata os
micro-organismos,
- Fechar as garrafas e deixar à sombra cerca de 10 a 20 dias, liberando o gás armazenado nas
garrafas, de 2 em 2 dias,
- Coloque a tampa e certifique-se que não haja ar dentro da garrafa, pois a fermentação deve
ser anaeróbia,
- Agora o EM está pronto para uso, apresentando coloração alaranjada e cheiro agridoce,
podendo ser armazenado por um período de até 1 ano. Se o EM apresentar mau cheiro, não
deve ser usado em hipótese alguma.

5.6 Tipos de utilização do EM

5.6.1 Na compostagem

O EM pode ser utilizado na compostagem de resíduos de diversas origens, sendo


indicado principalmente na compostagem de resíduos que apresentam decomposição lenta,
como por exemplo, os resíduos com alta relação C/N (partes lenhosas da planta, troncos,
galhos, palhadas, gramíneas, gorduras, dentre outros) (BONFIM et al., 2011).
42

Gaylarde, Bellinaso e Manfio (2005) definem que a utilização da técnica de


adição de micro-organismos degradadores e/ou decompositores ao sistema de tratamento de
resíduos, denomina-se bioaumentação.
Bonfim et al. (2011) descreve que o EM acelera o processo de decomposição,
reduzindo o tempo de compostagem e, para isso, a leira deve ser umedecida com a solução de
EM, sendo que o volume a ser aplicado deve equivaler ao volume de água normalmente
utilizado. Apresenta-se no QUADRO 6 as principais diferenças entre a produção de composto
orgânico com EM e composto orgânico tradicional.
Segundo a Fundação Mokiti Okada (1998), para o processo de compostagem,
utiliza-se 1 litro de EM / m3 de composto.

QUADRO 6
Principais diferenças entre a produção de composto orgânico com EM e composto orgânico tradicional.

Composto orgânico com EM Composto orgânico tradicional

Menor tempo de decomposição. Entre 1 a 2 meses. Maior tempo de decomposição. Normalmente entre
3 a 6 meses.

Não existe presença de maus odores. Pode haver presença de maus odores e moscas.

Produto final com maior conteúdo de nutrientes. Menor conteúdo nutricional em comparação com o
composto EM.

Maior conteúdo de micro-organismos eficazes. Menor conteúdo de micro-organismos eficazes.

Fonte: APROLAB (2007).

O EM pode ser utilizado nos solos, nas plantas, na água, no saneamento


ambiental, nos animais, na limpeza de pisos, paredes, azulejos, janelas, vasos sanitários, ralos
de pia, caixa de gordura, na lavagem de roupas e na retirada de ferrugem em maquinários e
instalações (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 1998).
43

6 MATERIAL E MÉTODOS

6.1 Localização e caracterização da usina de compostagem

O trabalho foi desenvolvido na usina de compostagem denominada Nutriorg


Fabricação de Adubos Orgânicos LTDA, situada no município de São Sebastião da Bela
Vista, MG, no período de março de 2013 a julho de 2013. O município possui coordenadas
geográficas 22° 15’ de Latitude Sul e 45º 75’ de Longitude Oeste, conforme a FIG. 11. O
clima da região é do tipo Cwb, segundo a classificação de Köppen, ou seja, temperado úmido
com inverno seco, verão temperado e chuvoso (KOTTEK et al., 2006). A temperatura média
anual é 19,2 °C e a precipitação média anual de 1565,4 mm (BRASIL, 2007). As instalações
da usina de compostagem situam-se a 2,5 km do centro da cidade e 7,5 km das margens da
rodovia Fernão Dias (BR-381), onde seu logradouro é o Sítio Chapadão no bairro Paredão,
que está em conformidade com as normas ambientais vigentes para operação deste tipo de
empreendimento.

FIGURA 11 – Coordenadas geográficas do


município de São Sebastião da Bela Vista - MG.
Fonte: BRASIL (2007).

No QUADRO 7 apresenta-se o memorial descritivo da usina de compostagem, de


acordo com o levantamento realizado no local.
44

QUADRO 7
Memorial descritivo da usina de compostagem.
DESCRIÇÃO QUANTIDADE
Capacidade de produção de composto orgânico
2000 ton / mês
Capacidade de processamento de composto orgânico
4000 ton
Área total 170.000 m2
Área utilizada 8210 m2
Galpões 11
Escritórios 01
Banheiros 02
Funcionários 06
07
Maquinários (02 tratores, 01 composteira, 01 peneirador, 01 mini
pá carregadeira, 01 pá carregadeira, 01 chorumeira).

6.2 Preparação e caracterização dos micro-organismos eficazes (EM)

O preparo dos micro-organismos eficazes (EM) foi realizado com o uso e


quantidade dos seguintes produtos:
- Iogurte: 4 m3 (sobra de processo),
- Farinha de trigo: 40 Kg (sobra de processo),
- Açúcar: 30 Kg (sobra de processo),
- Fermento de pão: 0,2 Kg (correspondente a 01 tablete, dissolvendo-se em água
anteriormente),
- Água: 1 m3.
Esta medida foi para a o preparo de 5 m3 de EM, onde os produtos foram
adicionados no interior de uma caixa d’água de polietileno com capacidade para 5,5 m3 ,
sendo posteriormente homogeneizados com o uso de uma vara de bambu. O tempo ideal para
a “cura” do EM foram 45 dias, sendo que após este período, o EM encontrou-se pronto para
uso, conforme a FIG. 12.
45

FIGURA 12 – EM pronto para uso.

Apresenta-se no QUADRO 8 o resultado da análise microbiológica, química e


física feita em um litro de EM pelo laboratório da empresa Engequisa Sul de Minas, o qual
utilizou-se o método analítico do Standard Methods for Examination of Water and
Wastewater (SMEWW) 1060.

QUADRO 8
Análise microbiológica, química e física do EM.
PARÂMETRO RESULTADO
Bactérias heterotróficas 4 x 107 UFC/ml
Bolores (Fungos filamentosos) 1 x 103 UFC/ml
Leveduras 1 x 103 UFC/ml
pH 2,5
Temperatura 23,8 °C

O processo de preparação dos micro-organismos eficazes não foi realizado pelo


autor, onde o seu papel foi observacional.

6.3 Preparação e manejo das leiras de compostagem sem e com a utilização de micro-
organismos eficazes

Na FIG. 13 apresenta-se o fluxograma do processo de produção de uma unidade


de reciclagem de resíduos, denominada usina de compostagem.
46

Recebimento de material seco


e líquido

Mistura / Correção da umidade


e relação C/N

Montagem das leiras de


Recirculação do percolado compostagem

Compostagem Monitoramento e controle de


parâmetros químicos, físicos e
Inoculação biológica Leiras com EM Leiras sem EM
biológicos.

Fase ativa Fase de


maturação

Revolvimento do composto
(trator ou composteira)

Peneiramento do composto

Composto Rejeito
Recobrimento das leiras pronto

Venda do Descarte
composto para aterro

FIGURA 13 – Fluxograma do processo de


produção na usina de compostagem.

Para a montagem da leira foram utilizadas 85 toneladas de material seco,


constituído por: pó de serra, bagaço de cana, palha de café, aparas de sabão, lodo desidratado
de ETE e aparas de papel, de acordo com a FIG. 14 e 25 m3 de material líquido (lodo de ETE
na forma líquida, resíduo de caixa de gordura, restos de alimentos, soro de leite, leite cru,
sangue de animais e iogurte não processado) de acordo com a FIG. 15.
Ao final, obteve-se um total de 110 toneladas de massa de resíduos para
compostagem por leira.
47

FIGURA 14 – Baia de material seco.

FIGURA 15 – Baia de material líquido.

A homogeneização da massa de resíduos foi realizada por trator e composteira,


onde as leiras foram montadas na área externa, de acordo com a FIG. 16.

FIGURA 16 – Leira montada em área externa.

Ao final, obteve-se um total de 110 toneladas de massa de resíduos para


compostagem por leira.
48

O líquido que percolou nas leiras de compostagem, denominado chorume, foi


direcionado para uma caixa de contenção, onde o mesmo foi bombeado para a leira ou
retornou para a baia de líquidos, conforme a FIG. 17, atendendo desta maneira a necessidade
de ajuste da umidade das leiras de compostagem, que no período foi mantida entre 50 a 60 %.

FIGURA 17 – Bombeamento do chorume da


caixa de contenção.

Foram montadas 5 leiras sem EM e 5 leiras com EM, onde as mesmas


apresentaram 1,5 m de altura, 3 m de base e 100 m de comprimento, obtendo-se um volume
de 225 m3, onde as medidas da altura e da base foram padronizadas em função do tamanho da
composteira, que realizou o revolvimento das leiras, de acordo com a FIG.18.

FIGURA 18 – Composteira utilizada no


revolvimento das leiras de compostagem.

Para a aplicação do EM nas leiras, o mesmo foi previamente diluído numa


proporção de 1:20, ou seja, um litro de EM para 20 litros de água, onde foi aplicado em cerca
de 110 toneladas de massa de resíduos.
49

Foi utilizado um pulverizador costal com volume de 20 litros para a aplicação do


EM, onde o mesmo foi aplicado na parte superior da leira, sendo que logo após, foi realizado
o reviramento da mesma, conforme a FIG. 19.

FIGURA 19 – Aplicação do EM na leira de


compostagem.

O EM foi aplicado diariamente nas leiras por um período de um mês, pois neste
período ocorre uma alta taxa de degradação da matéria orgânica, devido à fase termófila do
processo de compostagem.
Realizou-se um reviramento por dia nas leiras, de acordo com o monitoramento
da temperatura obtido com uso de termômetro analógico tipo espeto, para o qual o valor não
ultrapassou 60 ºC, sendo que, acima deste valor, foi necessário o revolvimento da leira de
compostagem, de acordo com a FIG. 20. As medidas de temperaturas foram realizadas
diariamente, exceto nos finais de semana.

FIGURA 20 – Leitura da temperatura na leira de


compostagem com termômetro analógico.
50

O composto orgânico foi peneirado em um peneirador rotativo, conforme a


FIG. 21 e encontrou-se preparado para ser comercializado na forma a granel, de acordo com a
FIG. 22 ou ensacado, conforme a FIG. 23, caracterizado como farelado sem especificação
granulométrica classe A, apesar de ser utilizado como parte do material de origem na
montagem da leira o lodo de ETE, o que deveria alterar desta maneira a sua classe para D.

FIGURA 21 – Peneirador rotativo.

FIGURA 22 – Composto a granel pronto para


comercialização.

FIGURA 23 – Composto ensacado pronto para


comercialização.
51

Após a estabilização da massa de resíduos, foram feitas as coletas em pontos


distintos nas leiras, as quais foram homogeneizadas e submetidas às análises físico-químicas
sendo cobre, zinco, manganês, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre,
matéria orgânica, umidade, pH, relação C/N e CTC, biológicas, sendo coliformes
termotolerantes, Salmonella spp. e ovos viáveis de helmintos e de metais pesados, sendo
arsênio, cádmio total, chumbo total, cobre total, cromo VI, cromo total, mercúrio, níquel total
e zinco total, onde determinou-se os teores existentes no composto orgânico, utilizando-se o
método analítico do Standard Methods for Examination of Water and Wastewater
(SMEWW) 1060.

6.4 Análise estatística

Os dados coletados foram emparelhados e submetidos ao teste (bilateral)


t de Student ao nível de 5 % de significância para comparar as médias das amostras sem EM e
com EM, onde foram avaliados os parâmetros físico-químicos.
As hipóteses consideradas foram:
H0: As médias das características analisadas sem EM são iguais as médias das características
analisadas com EM.
H1: As médias das características analisadas sem EM são diferentes das médias das
características analisadas com EM.
A seguir está apresentada a estatística do teste t de Student (FERREIRA, 2005):

X1 − X 2
T=
1 1
S p2  + 
 n1 n2 

sendo,

S p2 =
( n1 − 1) × S12 + ( n2 − 1) × S22
n1 + n2 − 2

Para tanto, foi utilizado o software estatístico Sisvar (FERREIRA, 2008).


52

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 Período de Compostagem

O tempo necessário para a compostagem de resíduos foi associado aos vários


fatores que influem no processo, ao método empregado e às técnicas operacionais na usina de
compostagem.
Sem a utilização do EM, a compostagem levou-se de 60 a 90 dias para atingir a
bioestabilização ou semicura e de 90 a 120 dias para atingir a umidificação ou cura completa
do composto.
Com a utilização do EM, houve uma aceleração no processo de compostagem,
levando-se cerca de 40 a 60 dias para a semicura e de 60 a 90 dias para a cura completa,
conforme citado por Bonfim et al. (2011), o qual descreve que o EM acelera o processo de
decomposição, reduzindo o tempo de compostagem. Essa diferença ocorreu devido à duração
da fase termófila, que é reduzida de algumas semanas para dois a quatro dias (KIEHL, 1985).
Comprovou-se por outro método a redução no período de compostagem, através
do “teste da mão”, que determina a cura do composto orgânico, de acordo com a FIG. 24.

FIGURA 24 – Teste da mão.


Fonte: KIEHL (1985)

O composto orgânico produzido apresentou boa qualidade, pois o mesmo deixou


as mãos sujas (semelhante à graxa preta) após esfregá-lo entre as mesmas, soltando-se
facilmente, de acordo com a FIG. 25.
53

FIGURA 25 – Avaliação da cura de composto


orgânico através do teste da mão.

7.2 Parâmetros físico-químicos, biológicos e metais pesados

Os valores para a média, variância, tamanho da amostra e P-valor encontrados


para os parâmetros físico-químicos estão representados na TAB. 3.

TABELA 3
Médias comparadas pelo teste t de Student ao nível de 5% de significância para as amostras obtidas
sem EM e com EM em relação aos parâmetros físico-químicos levando em consideração as variâncias e
os tamanhos amostrais.

Tamanho
Média Variância
Parâmetros físico- da amostra P – valor
químicos (unidade)
Sem Com Sem Com Sem Com
EM EM EM EM EM EM
Cobre (mg/kg) 189,00 62,30 29596,00 2977,92 3 4 0,2145 ns
Zinco (mg/kg) 143,04 239,07 20869,84 13919,89 3 4 0,3752 ns
Manganês (mg/kg) 0,6 1,31 23002,45 0,6272 3 2 0,9999 ns
Nitrogênio (mg/kg) 2,4860 1,4267 10,6142 0,5641 5 3 0,6098 ns
Fósforo (mg/kg) 0,9067 0,8750 0,1906 0,4512 3 2 0,9516 ns
Potássio (mg/kg) 1386,05 0,5733 7672697 0,0696 4 3 0,3908 ns
Cálcio (mg/kg) 7,3575 2,0433 125,9126 2,4866 4 3 0,4625 ns
Magnésio (mg/kg) 0,4633 0,1200 0,3046 0,0008 3 2 0,4655 ns
Enxofre (mg/kg) 4,1500 1,9750 13,5225 2,5312 3 2 0,5031 ns
Matéria Orgânica(%) 33,63 49,86 12,4702 513,6546 4 3 0,3442 ns
Umidade (%) 28,80 30,80 26,2498 231,0990 5 3 0,7877 ns
pH 6,85 6,72 0,2833 0,3292 4 4 0,7602 ns
Relação C/N 18,60 22,33 17,8000 616,3333 5 3 0,8205 ns
CTC (mmol/kg) 240,00 230,00 7500,00 1600,00 3 3 0,8647 ns
*ns - não significativo ao nível nominal de 5% de significância pelo teste t de Student.
54

As análises realizadas indicaram uma não significância (P>0,05) entre os


parâmetros físico-químicos, que possivelmente devido ao pequeno tamanho amostral
(menor ou igual 5) podem ter interferido nos resultados, sendo que desta forma, o teste
t de Student não teve poder para identificar alguma diferença existente, principalmente se esta
diferença for pequena entre as médias dos parâmetros estudados.
Sangakkara et al. (1992) verificaram que a adição do EM ao composto orgânico,
aumentou a concentração de nitrogênio e potássio nas plantas de alface em relação ao uso de
composto orgânico sem EM, onde evidenciou-se a aceleração da mineralização dos resíduos
pelo uso do EM.
Ronzelli Júnior, Buff e Koehler (1999) não encontraram evidências para
recomendar a substituição da adubação química NPK tradicional, através da utilização do EM
nas diluições de 1:250, 1:500, 1:750, 1:1.000, 1:1.250 e 1:1.500, inclusive um com adubação
química NPK e um como testemunha sem adubação..
Santos et al. (2008) não encontraram diferença no teor de nitrogênio e potássio na
planta de alface quando aplicou-se os compostos de esterco de bovino com ou sem EM.
Os valores encontrados para os parâmetros biológicos estão representados na
TAB. 4.

TABELA 4
Análise biológica de coliformes termotolerantes, salmonella sp. e ovos viáveis de helmintos de
composto orgânico sem EM e com EM em uma amostra.
Parâmetros Sem EM Unidade Com EM Unidade
Coliformes
124 NMP/g de MS 100 NMP/g de MS
Termotolerantes
Salmonella sp. Ausente NMP/10g de MS Ausente NMP/10g de MS
Ovos viáveis de
0 Ovos/ 4g de ST 0 Ovos/ 4g de ST
helmintos

Nas amostras sem EM e com EM não ocorreu a inativação para o parâmetro


coliformes tolerantes, sendo que, já para o parâmetro Salmonella sp. e Ovos viáveis de
helmintos a inativação foi confirmada.
Apesar da não inativação de todos os parâmetros biológicos, os mesmos
enquadraram-se no Anexo VI da Instrução Normativa nº 46/2011 (BRASIL, 2011).
55

Apresenta-se no QUADRO 9 os valores para os metais pesados, CTC, pH,


umidade, matéria orgânica e relação C/N em uma amostra de composto orgânico sem EM.

QUADRO 09
Resultados analíticos de composto orgânico sem EM em uma amostra para metais pesados, CTC, pH, umidade,
matéria orgânica e relação C/N.
Parâmetro Resultado Unidade de Medida
Arsênio 14,5 mg/kg
Cádmio total 1,1 mg/kg
Chumbo total 47,9 mg/kg
Cobre total 119 mg/kg
Cromo VI 54,5 mg/kg
Cromo total 23,9 mg/kg
Mercúrio <1,0 mg/kg
Níquel total 29,9 mg/kg
Zinco total 289 mg/kg
CTC 270,0 mmol/kg
pH 7,4 -
Umidade 29,5 %
Matéria orgânica 37,30 %
Relação C/N 22/1 -

Para Barreira, Philippi Junior e Rodrigues (2006), a maturação do composto dá-se


pelos resultados do índice de pH, relação C/N e CTC, que indicam se a decomposição da
matéria orgânica atingiu níveis desejáveis para que seja atribuída a qualidade do composto.
De acordo com Kiehl (1985), os valores de pH abaixo de 6,0 são indesejáveis,
entre 6,0 e 7,5 são bons e acima de 7,5 ótimos. O valor encontrado no composto apresentou
nível bom quanto ao pH (7,4).
À medida que forma-se o húmus, há um aumento na capacidade de troca catiônica
(CTC) no composto, porém a Legislação Brasileira não exige a sua determinação
(KIEHL, 1998).
A Legislação Brasileira determina a relação C/N máxima de 18/1, matéria
orgânica em 40% (mínimo) e umidade em 40%, com tolerância até 44%. O composto
orgânico enquadrou-se quanto aos parâmetros acima, portanto apresentou-se estabilizado.
56

Apresenta-se no QUADRO 10 os valores para metais pesados, CTC, pH,


umidade, matéria orgânica e relação C/N em amostra de composto orgânico com EM.

QUADRO 10
Resultados analíticos de composto orgânico com EM em uma amostra para metais pesados, CTC, pH, umidade,
matéria orgânica e relação C/N.
Parâmetro Resultado Unidade de Medida
Arsênio <0,005 mg/kg
Cádmio total <0,001 mg/kg
Chumbo total <0,01 mg/kg
Cobre total <0,004 mg/kg
Cromo VI <0,05 mg/kg
Cromo total <0,01 mg/kg
Mercúrio <0,001 mg/kg
Níquel total <0,01 mg/kg
Zinco total 195,3 mg/kg
CTC 270,0 mmol/kg
pH 7 -
Umidade 40 %
Matéria orgânica 41,70 %
Relação C/N 8/1 -

Todos os metais pesados analisados enquadraram-se no Anexo VI da Instrução


Normativa nº 46/2011 (BRASIL, 2011). Portanto, o composto não apresentou restrições
quanto aos parâmetros estudados, garantindo-se a qualidade e a sua livre comercialização.
Golueke et al. (1954) ressalta que a utilização de inoculantes como o EM é
controverso, sejam estes comerciais ou não, pois a compostagem é um processo que envolve
um enorme número de espécies de micro-organismos, num processo de sucessão.
A chance de influência no processo de compostagem através de inoculantes seria
mínima ou não se daria, reconhecendo-se desta forma, que esta influência do composto-
inoculante é apenas na fase inicial do processo de compostagem (POINCELOT, 1975).
Verificou-se que o uso do EM acelerou o processo de compostagem conforme o
esperado, já quanto aos parâmetros físicos, químicos e biológicos que determinam a qualidade
do composto, os mesmos apresentaram-se semelhantes, com ou sem a utilização do EM.
57

8 CONCLUSÃO

O período de compostagem reduziu-se com a utilização do EM, servindo como


produto acelerador do processo de compostagem, de maneira semelhante aos produtos
comercializados no mercado.
Nas condições em que foi realizado este trabalho, não se justifica a influência no
uso de micro-organismos eficazes no processo de compostagem, pois no composto sem EM,
observou-se que a concentração de nutrientes do composto com EM foram semelhantes.
O processo de compostagem de resíduos com o uso do EM mostra-se como uma
prática que permite mitigar os problemas ambientais envolvidos com a disposição e
tratamento inadequado de resíduos e ao mesmo tempo produzir composto orgânico em menor
tempo, quantidade e qualidade, portanto, recomendam-se pesquisas aprofundadas sobre a
melhoria da eficiência do processo de compostagem, com foco na sucessão microbiológica,
no envolvimento de comunidades microbiológicas e em suas atividades, durante as fases
específicas do processo, que ainda são pouco conhecidas.
58

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