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SISTEMAS HÍBRIDOS DE ENERGIA SOLAR/EÓLICO/DIESEL PARA

ELETRIFICAÇÃO DE COMUNIDADES ISOLADAS DA REGIÃO


AMAZÔNICA BRASILEIRA – ESTADO PRESENTE E
DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Claudomiro Fábio de Oliveira Barbosa, João Tavares Pinho, Silvio Bispo do Vale
Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE), Departamento de Engenharia
Elétrica e de Computação, Centro Tecnológico, Universidade Federal do Pará, Caixa Postal 8605, CEP 66075-
900, Belém, PA, Brasil, Fone/Fax: +55 91 3183-1977
cfob@ufpa.br, jtpinho@ufpa.br, bispo@ufpa.br

Resumo: Este trabalho aborda o estado presente dos sistemas híbridos de energia instalados em
comunidades isoladas da Região Amazônica Brasileira e que usam as fontes renováveis de energia
solar e eólica, e a diesel (não renovável). Para tanto, primeiramente os sistemas híbridos de energia
são definidos e apresenta-se uma pequena revisão do seu desenvolvimento histórico no mundo. Em
seguida, são analisadas as tecnologias de conversão de energia nas diversas configurações
utilizadas (solar-diesel, solar-eólica, eólica-diesel, solar-eólica-diesel), as estratégias de operação, os
principais impactos, e as experiências adquiridas com a gestão e a sustentabilidade desses sistemas
na Amazônia. O trabalho apresenta ainda um relato sucinto dos desenvolvimentos futuros de tais
sistemas na Região e estudos da inserção de outras fontes.

SOLAR/WIND/DIESEL HYBRID POWER SYSTEMS FOR THE ELECTRIFICATION


OF ISOLATED COMMUNITIES IN THE BRAZILIAN AMAZON REGION –
PRESENT STATE AND FUTURE DEVELOPMENTS
Abstract: This work presents the current status of the Hybrid Power Systems installed in isolated
communities in the Brazilian Amazonian Region, which use solar and wind renewable energy sources,
and diesel (not renewable). First the Hybrid Power Systems are defined and a small revision of his-
torical development in the world is presented. Afterwards, the technologies of energy conversion in the
several used configurations (solar-diesel, solar-wind, wind-diesel, solar-wind-diesel), the operation
strategies, the main impacts, and the acquired experiences with the administration and the sustainabil-
ity of those systems in the Amazon Region are analyzed. Besides, this work still presents a brief report
of the future developments of such systems in the Region, and studies about the insertion of other
sources.

Keywords: Hybrid Power Systems, Isolated Communities, Renewable Energy Sources.

1. Introdução
No Brasil, a Região Amazônica é a que apre-
Uma promissora aplicação no mundo das senta a maior quantidade de comunidades dis-
tecnologias de conversão de energia que utilizam persas, distantes dos grandes centros e situadas
os recursos renováveis, como o solar, o eólico, o em locais remotos. Essas comunidades são
hídrico e a biomassa, é a instalação de Sistemas compostas em geral por 10 a 100 unidades con-
Híbridos de Energia (SHE’s) para a eletrificação sumidoras, as quais, quando são atendidas, con-
de comunidades isoladas, onde a alternativa de tam com um fornecimento de energia precário
suprimento de energia por extensão de rede é (poucas horas de atendimento diário, geralmente
técnica e economicamente desaconselhada (da- entre 4 e 12 horas, interrupções freqüentes e
das as características intrínsecas e próprias des- baixa qualidade de energia) e com elevados cus-
sas áreas), e os custos operacionais dos siste- tos inerentes aos sistemas diesel-elétricos.
mas diesel-elétricos elevam-se significativamente
conforme o grau de isolamento, além de ofere- Em busca de opções para reverter esse qua-
cem riscos ao meio ambiente, principalmente a- dro, desde o ano de 1996, estudos, simulações e
través da emissão dos gases de efeito estufa instalações de SHE’s têm sido realizados na A-
(GEE). mazônia por instituições nacionais, como a A-
gência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o potência (inversores de tensão e retificadores),
Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CE- em torno de dois barramentos: um CC e outro CA
PEL/ELETROBRÁS), o Grupo de Estudos e De- (Baring-Gould et alii, 2003). A Figura (1) ilustra a
senvolvimento de Alternativas Energéticas (GE- configuração geral desses sistemas.
DAE/UFPA), o Laboratório de Energia Solar
(LABSOLAR/UFSC), o Grupo REDE/CELPA, a
Companhia Energética do Amazonas (CEAM), o
Grupo GUASCOR do Brasil, a Petróleo Brasileiro
S/A (PETROBRAS), e instituições internacionais,
como o Departamento de Energia dos Estados
Unidos (DOE), através do Laboratório Nacional
de Energia Renovável (NREL).

Nos últimos nove anos foram seis os SHE’s


instalados e distribuídos na Região pelos estados
do Amazonas, Pará e Rondônia, totalizando a-
proximadamente 477 kW de capacidade nominal
de geração instalada.

Neste contexto, este trabalho conceitua os


SHE’s e apresenta uma pequena revisão do seu
desenvolvimento histórico no mundo. Em segui-
da, é abordado o estado presente desses siste- Figura 1: Configuração geral de um SHE.
mas na Amazônia, analisando as tecnologias de
conversão de energia nas configurações utiliza- Na literatura não há um consenso do ano de
das (solar-diesel, solar-eólica, eólica-diesel e so- implantação do primeiro SHE no mundo; porém,
lar-eólica-diesel), as estratégias de operação, os sabe-se que remonta ao final da década de 70.
principais impactos, e as experiências adquiridas Quinlan, 1996, destaca, como um dos primeiros
com a gestão e a sustentabilidade. O trabalho a- sistemas, o SHE eólico-diesel instalado no ano
inda apresenta um sucinto relato dos desenvol- de 1977 em Clayton, Novo México, EUA; por ou-
vimentos futuros de tais sistemas na Região, co- tro lado, Nelson et alii, 2002, da destaque ao sis-
mo o projeto de um sistema solar-eólico-diesel tema solar-diesel instalado no ano de 1978 na
para eletrificação da comunidade de Sucuriju, Es- reserva indígena Papago, Arizona, EUA. Toda-
tado do Amapá, a revitalização e expansão dos via, esses dois SHE’s tiveram um importante pa-
sistemas de mesmo tipo das vilas de Tamaruteua pel na construção dos arcabouços de inúmeros
e São Tomé (somente expansão), ambas situa- outros sistemas ao redor do mundo, cuja princi-
das no Estado do Pará, e estudos da inserção de pal finalidade, especialmente na década dos a-
outras fontes de energia nos sistemas, como por nos 80, era a redução do consumo de óleo com-
exemplo, as células a combustível. bustível e, conseqüentemente, os custos opera-
cionais.
2. Definição dos Sistemas Híbridos de Energia
e Revisão do Desenvolvimento Histórico no A partir da década de 90, a inserção desses
Mundo sistemas, além de se preocupar com a redução
dos custos operacionais, bem como os de capital
Define-se como um SHE aquele que utiliza (há casos onde os custos de capital de um sis-
mais de uma fonte primária de energia, depen- tema de única fonte são bem superiores aos de
dendo da disponibilidade dos recursos, para ge- um híbrido), passou também a se preocupar com
rar e distribuir energia elétrica de forma otimizada a questão ambiental. Nessa mesma década, a
e com custos mínimos, dada a capacidade de maturidade das tecnologias fotovoltaica e eólica
uma fonte suprir a falta temporária de outra, per- e o bom desempenho dos SHE’s solar-diesel e
mitindo assim que os mesmos operem com o mí- eólico-diesel abriram caminho para a instalação
nimo de interrupções (McGowan e Manwell, dos sistemas solar-eólico-diesel (García, 2004).
1999; Wichert, 1997). Salienta-se que surgiram outros tipos de configu-
rações de sistemas nesse período; como exem-
Os SHE’s instalados no mundo comumente plos, o solar-eólico de Joanes, Pará, Brasil (Bar-
são isolados e incorporam as tecnologias de bosa et alii, 2004) e o solar-micro-hidro de Tara-
conversão de fontes renováveis (módulos fotovol- tak, Indonésia (Muhida et alii, 2001).
taicos, aerogeradores, turbinas hidráulicas, etc.),
grupos geradores a diesel, um banco de baterias Nesse inicio de século, uma gama de traba-
(sistemas de armazenamento), e conversores de lhos (Aghossou et alii, 2001; Khan e Iqbal, 2005;
Vale et alii, 2004) antevêem a inserção das célu-
las a combustível nos SHE’s, dada a sua grande
eficiência na conversão de energia.

3. Sistemas Híbridos de Energia na Amazônia


Brasileira

Conforme supracitado, a Região Amazônica


possui inúmeras comunidades sem ou com um
serviço de eletricidade na maioria das vezes pre-
cário. Todavia, a maior parte dessas comunida-
des está localizada em áreas onde se dispõem
de recursos renováveis de energia (solar, eólico,
biomassa, hídrico) em potencial suficiente para a
Figura 2: Distribuição dos SHE’s na Região Amazôni-
geração e distribuição de eletricidade. ca.
Com relação aos potenciais energéticos solar e Ev olução da potência nominal instalada
eólico, principais fontes primárias de energia utili- 650
600
zadas nos sistemas abordados neste trabalho, 550
500
medições e estimativas já realizadas na região 450
400
mostram bons índices de insolação em toda a 350

kW
300
região (média anual de 4,5 horas) e de velocida- 250
200
de de ventos na parte litorânea dos estados do 150
100
Amapá, Pará e Maranhão e montanhosa de Ro- 50
0
raima (média anual de 7,5 m/s a 50 m altura) (A- 1996 1997 1998 1999 2001 2003 2006

marante, 2001; Tiba, 2000). FV Eólico Renovável Diesel Total


Ano
Evolução

Esses potenciais, aliados com às necessidades


Figura 3: Potência instalada e sua evolução na Ama-
de eletricidade dessas comunidades isoladas e zônia (previsão até o ano de 2006).
de redução dos custos operacionais dos siste-
mas diesel-elétricos, bem como o desenvolvi- A potência total instalada devida à geração
mento de pesquisas nesse campo (SHE’s), favo- híbrida totaliza hoje cerca de 477 kW, sendo 167
receram a instalação de seis sistemas e de outro kW de capacidade através da conversão das fon-
projeto a ser implantado (ver seção 4), a saber: tes de energias renováveis (87 kWp solar fotovol-
ƒ Um sistema solar-diesel na vila de Cam- taica e 80 kW eólica), e 310 kW proveniente dos
pinas (1996), município de Manacapuru, sistemas diesel-elétricos, potência esta distribuí-
estado do Amazonas; da em sistemas onde atuam apenas como um
ƒ Quatro sistemas no estado do Pará, sen- sistema de reserva (backup) e em outros de for-
do um solar-eólico na vila de Joanes ma conjugada com a tecnologias de conversão
(1997), município de Salvaterra, um eóli- renovável.
co-diesel na vila de Praia Grande (1998),
município de Ponta de Pedras, e dois do Para o ano de 2006 prevê-se 607,5 kW de
tipo solar-eólico-diesel, respectivamente capacidade total de geração (considerando a ex-
instalados, na vila de Tamaruteua (1999), pansão dos SHE’s das vilas de Tamaruteua e
municipio de Marapanim, e na vila de São Tomé e a capacidade de geração de Sucuri-
São Tomé (2003), município de Maraca- ju).
nã;
ƒ Um sistema solar-diesel na vila de Araras 3.1. Descrição dos sistemas
(2001), município de Mamoré, estado de
Rondônia; 3.1.1. SHE solar-diesel da vila de Campinas
ƒ Um sistema solar-eólico-diesel na vila de
Sucuriju (previsão de operação em O projeto do SHE da vila de Campinas, jun-
2006), estado do Amapá. tamente com o da vila de Joanes foi concebido
no ano de 1994 através da parceria Bra-
As Figuras (2) e (3) mostram a distribuição sil/Estados Unidos, como relata Taylor et alii,
dos SHE’s na região, as potências instaladas e 1994. Porém, somente no ano de 1996 comple-
sua evolução, respectivamente. mentou-se a geração diesel-elétrica (existente
desde 1987) com uma planta solar fotovoltaica
(Figura (4)) de capacidade nominal 51,2 kWp,
tornando híbrido (solar-diesel) o sistema de gera-
ção e suprindo aproximadamente 140 unidades Tabela II
consumidoras (Cartaxo, 2001). A Tabela (I) mos- Dados do SHE de Joanes.
tra os principais dados do sistema.
Subsistema solar fotovoltaico
1 Arranjo fotovoltaico de 10,2 kWp (módulos de 55
Wp).
Subsistema eólico
4 Aerogeradores de 10 kW cada.
4 Torres treliçadas estaiadas (2x24 m e 2x30 m de
altura).
Comuns às fontes de energia
1 Banco de baterias - 200 unidades seladas regula-
das à válvula 2 VCC/1.000 Ah.
1 Inversor rotativo de 52,5 kW.

Figura 4: Arranjo solar fotovoltaico de vila Campinas. 3.1.3. SHE eólico-diesel da vila de Praia Gran-
de
Tabela I
Dados do SHE de Campinas.
Em setembro de 1998, com financiamento do
Subsistema solar fotovoltaico
CNPq/PTU, implantou-se o SHE eólico-diesel da
1 Arranjo fotovoltaico de 51,2 kWp (módulos de 64 vila de Praia-Grande para abastecer as residên-
Wp). cias, o centro comunitário, a escola, o sistema de
1 Banco de baterias - 120 unidades chumbo-ácido 8 bombeamento de água da vila e a iluminação
VCC/ 200 Ah (série/paralelo 240 VCC). pública (Barbosa et alii, 2004). A Figura (6) e a
1 Inversor 50 kW. Tabela (III) mostram o sistema de condiciona-
Subsistema diesel-elétrico mento de potência e os principais dados do sis-
2 Grupos geradores a diesel de 60 kVA (48 kW) ca- tema, respectivamente.
da.

3.1.2. SHE solar-eólico da vila de Joanes

O projeto do SHE solar-eólico da vila de Joa-


nes, conforme mencionado anteriormente, foi
concebido no ano de 1994; porém, só em junho
de 1997 entrou em pleno funcionamento para a-
tender às 170 unidades consumidoras da vila
(Barbosa et alii, 2004).

Esse sistema foi concebido para ser interliga- Figura 6: Sistema de condicionamento de potência de
do à rede da usina termelétrica a diesel da locali- Praia Grande.
dade de Salvaterra, que atende Joanes.
Tabela III
A Figura (5) mostra uma visão geral do sis- Dados do SHE de Praia Grande.
tema de geração dando destaque para o arranjo
fotovoltaico (sobre a casa de força) e aerogera- Subsistema eólico
dores. 1 Aerogerador de 10 kW.
1 Controlador de carga (retificador).
1 Transformador de 30 kVA.
2 Inversores estáticos de 4 kW cada.
1 Banco de baterias - 20 unidades chumbo-ácido 12
VCC/ 150 Ah (série/paralelo 48 VCC).
1 Torre treliçada estaiada (20 m de altura).
Subsistema diesel-elétrico
2 Grupos geradores a diesel de 7,5 kVA (6 kW) ca-
da.

3.1.4. SHE solar-eólico-diesel da vila de Tama-


ruteua
Figura 5: Vista geral do sistema de geração de Joanes.
O sistema solar-eólico-diesel de Tamaruteua,
A Tabela (II) mostra os principais dados do financiado pelo CNPq/PTU, foi implantado em ju-
sistema solar-eólico. nho de 1999. Sua geração abastece residências,
escola, comércios, igrejas, prédios de uso diver-
so (salga de peixe, depósito e casa de farinha) A Tabela (V) apresenta os principais dados
da vila e iluminação pública (Barbosa et alii, do sistema.
2004). A Figura (7) e a Tabela (IV) mostram os Tabela V
aerogeradores do sistema eólico e os dados do Dados do SHE de Araras.
sistema, respectivamente.
Subsistema solar fotovoltaico
1 Arranjo fotovoltaico de 20,48 kWp (módulos de 64
Wp).
32 Inversores estáticos de 650 W (cada).
Subsistema diesel-elétrico
3 Grupos geradores a diesel de 60 kVA (54 kW) ca-
da.

3.1.6. SHE solar-eólico-diesel da vila de São


Tomé

O sistema híbrido solar-eólico-diesel de São


Figura 7: Aerogeradores de Tamaruteua. Tomé, financiado pela FINEP/CT-Petro, foi im-
plantado em setembro de 2003, com a finalidade
Tabela IV de abastecer as 67 unidades consumidoras da vi-
Dados do SHE de Tamaruteua. la (Barbosa et alii, 2004). A Figura (9) mostra
uma visão geral do sistema de geração através
Subsistema solar fotovoltaico das fontes renováveis e a Tabela. (VI) lista seus
1 Arranjo fotovoltaico de 1,92 kWp (módulos de 120 principais componentes.
Wp).
Subsistema eólico
2 Aerogeradores de 10 kW cada.
2 Controladores de carga (retificador).
2 Transformadores de 30 kVA cada.
2 Torres treliçadas estaiadas (24 m e 30 m de altu-
ra).
Comuns às fontes de energia renováveis
1 Banco de baterias - 64 unidades chumbo-ácido 6
VCC/ 350 Ah (série/paralelo 48 VCC).
3 Inversores estáticos de 5,5 kW cada.
Subsistema diesel-elétrico
1 Grupo gerador a diesel de 30 kVA (24 kW).
Figura 9: Vista geral do sistema de São Tomé.
3.1.5. SHE solar-diesel da vila de Araras Tabela VI
Dados do SHE de São Tomé.
O sistema solar-diesel de Araras entrou em
operação no ano de 2001, logo após a inserção Subsistema eólico
de uma planta solar fotovoltaica com uma capa- 1 Aerogerador de 10 kW.
cidade nominal de 20,48 kWp no sistema de ge- 1 Controlador de carga (retificador).
ração diesel-elétrica (162 kW) (Figura 8) através 1 Torre treliçada estaiada (30 m de altura).
da parceria ANEEL/LABSOLAR. Sua geração Subsistema solar fotovoltaico
supre uma demanda máxima de aproximada- 1 Arranjo fotovoltaico de 3,2 kWp (módulos de 80
mente 47 kW (Beyer et alii, 2003; GUASCOR, Wp).
Comuns às fontes de energia
2005; Ruther et alii, 2000).
1 Banco de baterias - 40 unidades chumbo-ácido
12VCC/ 150 Ah (série/paralelo 120 VCC).
1 Inversor estático de 15 kW.
Sistema diesel-elétrico
1 Grupo gerador a diesel de 20 kVA (16 kW).

3.2. Estratégias de operação

As estratégias de operação utilizadas pelos


SHE’s abordados neste trabalho são semelhan-
tes e visam, principalmente, a redução do con-
Figura 8: Grupos geradores a diesel de Araras. sumo de óleo combustível (diesel) e, conseqüen-
temente, os custos operacionais do sistema die-
sel-elétrico.
Em linhas gerais, a operação desses SHE’s A gestão do SHE’s de Araras é uma exceção
resume-se ao atendimento das unidades consu- no que se refere aos citados anteriormente, uma
midoras a priori pela energia oriunda das fontes vez que a mesma é realizada por um Produtor
renováveis solar e/ou eólica. No entanto, caso Independente de Energia (PIE – GUASCOR), o
ocorra uma seqüência de dias nublados e/ou de qual vende a energia para a concessionária local
calmaria, reduzindo assim o estado de carga do (CERON) (GUASCOR, 2005; Grupo Técnico O-
banco de baterias, serão acionados os grupos peracional da Região Norte – GTON, 2004).
geradores a diesel de maneira a garantir a conti-
nuidade do serviço. Problemas devidos à falta de manutenção
(por exemplo Joanes), ao papel desempenhado
As exceções a esse modo de operação são pela comunidade e a prefeitura, e à escassez de
observadas nos SHE’s das vilas de Joanes e A- recursos captados (Praia Grande e Tamaruteua)
raras. O primeiro sistema pode operar tanto de enfraqueceram a sustentabilidade dos respecti-
forma isolado (preferencial) quanto conectado à vos sistemas, tornando-os inoperantes. As Tabe-
rede existente em Joanes e energizada pela las (VII) e (VIII) mostram um resumo dos mode-
UTE-Salvaterra (Barbosa et alii, 2004). O segun- los de gestão em uso em cada sistema e a atual
do sistema entrega toda a geração solar fotovol- situação dos mesmos, respectivamente.
taica à rede, operando em paralelo com a gera-
ção diesel-elétrica (Beyer et alii, 2003). Tabela VII
Modelos gestores dos SHE’s.
3.3. Impactos
Modelo de Gestão
SHE’s
Dos impactos mais relevantes pode-se des- Administrativo Econômico
Campinas CEAM Convencional
tacar em termos socioeconômicos o crescimento
das vilas com o incremento do número de con- Joanes REDE/CELPA Convencional
sumidores a partir da entrada em funcionamento Comunidade e Cobrança de
Praia Grande
Prefeitura taxa mensal
dos SHE’s, e o de ordem econômica, proveniente
Comunidade e Cobrança de
das atividades comerciais (bares, armazéns, etc.) Tamaruteua
Prefeitura taxa mensal
sustentadas pela energia elétrica. Venda contratada
Araras PIE – GUASCOR
com a CERON
Em termos ambientais, os impactos são in- Comunidade e
significantes, visto que os sistemas são de pe- São Tomé Pré-pagamento *
Prefeitura
queno porte e utilizam prioritariamente os recur- * Novo modelo de tarifação, inovador no Brasil, que busca parcialmen-
te resolver os problemas inerentes à gestão econômica. Barbosa et ali-
sos renováveis. Ademais, não se tem registro de i, 2004a, descreve em detalhes esse modelo de tarifação.
qualquer manifestação contrária dos moradores a
respeito do visual e/ou ruído originados sobretu- Tabela VIII
do pelos aerogeradores, e do espaço físico utili- Situação dos SHE’s.
zado pelos sistemas (não houve perda de espaço
para outras finalidades). Perspectiva
SHE’s Situação Causa Revitalização/
Expansão
3.4. Gestão e sustentabilidade
Campinas Operando - -
Falta de
A gestão e sustentabilidade são aspectos de Joanes Inoperante Não
manutenção
projeto que devem ser bastante analisados antes Operação
da implantação dos SHE’s, pois, quando não ob- Praia Falta de
parcial Sim
servados podem comprometer a credibilidade Grande manutenção
(diesel)
desses sistemas, levando-os ao insucesso. Sim
Operação Revitalização
Falta de
Atualmente, há dois modelos de gestão em Tamaruteua parcial e expansão
manutenção
uso. Em um, os moldes administrativos são deli- (diesel) em
neados pela própria concessionária local, como é andamento
o caso dos sistemas das vilas de Campinas (ges- Araras Operando - -
tão CEAM) e Joanes (gestão REDE/CELPA). O Sim
São Tomé Operando - Expansão
outro modelo baseia-se na administração reali-
prevista
zada pela comunidade (Praia Grande, Tamaru-
teua e São Tomé), através de uma organização
4. Desenvolvimentos Futuros dos Sistema
ou associação comunitária e em parceria com as
Híbridos de Energia na Região
prefeituras municipais.
Dadas as boas experiências adquiridas com
os SHE’s já instalados e o fato que dificilmente a
extensão de rede será uma alternativa viável à la combinação de hidrogênio (principal combustí-
eletrificação das comunidades isoladas da re- vel) e oxigênio.
gião, bem como um atendimento com somente
recursos não renováveis, tais sistemas apresen- Um exemplo desses estudos é a proposta de
tam-se com uma aplicabilidade futura promisso- Vale, 2004, em integrar a um SHE solar-eólico-
ra. Neste contexto, podem-se destacar os se- diesel uma célula a combustível, cujo hidrogênio
guintes projetos de SHE que estão em fase de para o seu funcionamento viria da gaseificação
implantação ou ainda em estudo. dos recursos de biomassa disponíveis localmente
(casca de coco, resíduos de madeira, etc.). Outra
4.1. SHE solar-eólico-diesel da vila de forma de produção do hidrogênio seria a utiliza-
Sucuriju ção de um eletrolizador, alimentado com o exce-
dente de geração de energia proveniente do
Esse sistema encontra-se atualmente em im- SHE. O principal empecilho para a inserção da
plantação na vila de Sucuriju, município de Ama- célula a combustível é o seu custo muito elevado.
pá, estado do Amapá, com financiamento CT-
ENERG/MME/CNPq, sendo prevista sua capaci- É importante salientar ainda, que a biomassa
dade de geração nominal de 119 kW (20 kWp so- aplicada diretamente na forma de biodiesel em
lar fotovoltaico, 50 kW eólica e 48 kW diesel- substituição ao diesel nos grupos geradores dos
elétrica) e a gestão econômica através do serviço SHE’s apresenta-se como alternativa de inserção
pré-pago. Após o término de sua implantação bastante atrativa.
(2006), tal sistema se constituirá como o maior
SHE solar-eólico-diesel da região, suprindo as 5. Conclusões
cerca de 80 unidades consumidoras e um siste-
ma de dessalinização de água (Pereira et alii, As seguintes conclusões podem ser extraídas
2003). do exposto:
ƒ Os SHE’s apresentam-se como uma so-
4.2. Revitalização e expansão do SHE solar- lução viável e promissora para o atendi-
eólico-diesel da vila de Tamaruteua mento isolado das inúmeras comunida-
des espalhadas pela Região Amazônica
Este é outro projeto que também está em im- Brasileira;
plantação (com financiamento CT-ENERG/ ƒ A utilização dos SHE’s promove o de-
MME/CNPq) e no qual serão executadas as se- senvolvimento e a integração social das
guintes atividades: comunidades beneficiadas, além de re-
ƒ Manutenção preventiva nos conjuntos duzir significativamente a participação
torre/aerogeradores; dos grupos geradores a diesel na gera-
ƒ Substituição do grupo gerador a diesel ção e, conseqüentemente, os custos e os
existente por outro novo de maior capa- impactos ambientais;
cidade (cerca de 32 kW); ƒ Na Amazônia, os SHE’s já implantados
ƒ Aumento de 100 % da capacidade de são laboratórios, os quais constituirão
geração solar fotovoltaica (3,84 kWp); uma base para todo e qualquer desen-
ƒ Automação do sistema; volvimento regional futuro, associado à
ƒ Pré-pagamento pelo serviço de energia. geração de eletricidade, principalmente
em relação à universalização do serviço
4.3. Projeto de expansão do SHE de São Tomé de eletricidade;
ƒ Os modelos de gestão praticados ainda
Esse projeto prevê a expansão do sistema de apresentam arestas, projetando uma si-
geração renovável (50 % e 100 %, respectiva- tuação onde a sustentabilidade é com-
mente, de aumento de geração solar fotovoltaica prometida.
e eólica), e a automação do sistema, porém, ain-
da sem data para o seu inicio. 6. Referências

4.4. Inserção de outras fontes de energia Agbossou, K., Chahine, R., Hamelin, J., Laur-
encelle, F., Anouar, A., St-Arnaud, J.-M. and
Atualmente, dada a alta confiabilidade efici- Bose T. K. Renewable Energy Systems
ência energética, e baixo nível de emissão de Based on Hydrogen for Remote Applica-
GEE, diversos estudos mostram que a inserção tions. Journal of Power Sources, pp. 168-
de célula a combustível aumenta consideravel- 172, 2001.
mente a eficiência global dos SHE’s, através da
produção de eletricidade eletroquimicamente pe- Amarante, O. A. C. do e Sá, A. L. de. Atlas do
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ção e Operação do Primeiro Sistema de de Suscuriju-AP por meio de um Sistema
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Instalado em uma Localidade Isolada na dor. CBEE/UFPE e CESAR, Recife, 2003.
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