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Claudomiro Fábio de Oliveira Barbosa, João Tavares Pinho, Silvio Bispo do Vale
Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE), Departamento de Engenharia
Elétrica e de Computação, Centro Tecnológico, Universidade Federal do Pará, Caixa Postal 8605, CEP 66075-
900, Belém, PA, Brasil, Fone/Fax: +55 91 3183-1977
cfob@ufpa.br, jtpinho@ufpa.br, bispo@ufpa.br
Resumo: Este trabalho aborda o estado presente dos sistemas híbridos de energia instalados em
comunidades isoladas da Região Amazônica Brasileira e que usam as fontes renováveis de energia
solar e eólica, e a diesel (não renovável). Para tanto, primeiramente os sistemas híbridos de energia
são definidos e apresenta-se uma pequena revisão do seu desenvolvimento histórico no mundo. Em
seguida, são analisadas as tecnologias de conversão de energia nas diversas configurações
utilizadas (solar-diesel, solar-eólica, eólica-diesel, solar-eólica-diesel), as estratégias de operação, os
principais impactos, e as experiências adquiridas com a gestão e a sustentabilidade desses sistemas
na Amazônia. O trabalho apresenta ainda um relato sucinto dos desenvolvimentos futuros de tais
sistemas na Região e estudos da inserção de outras fontes.
1. Introdução
No Brasil, a Região Amazônica é a que apre-
Uma promissora aplicação no mundo das senta a maior quantidade de comunidades dis-
tecnologias de conversão de energia que utilizam persas, distantes dos grandes centros e situadas
os recursos renováveis, como o solar, o eólico, o em locais remotos. Essas comunidades são
hídrico e a biomassa, é a instalação de Sistemas compostas em geral por 10 a 100 unidades con-
Híbridos de Energia (SHE’s) para a eletrificação sumidoras, as quais, quando são atendidas, con-
de comunidades isoladas, onde a alternativa de tam com um fornecimento de energia precário
suprimento de energia por extensão de rede é (poucas horas de atendimento diário, geralmente
técnica e economicamente desaconselhada (da- entre 4 e 12 horas, interrupções freqüentes e
das as características intrínsecas e próprias des- baixa qualidade de energia) e com elevados cus-
sas áreas), e os custos operacionais dos siste- tos inerentes aos sistemas diesel-elétricos.
mas diesel-elétricos elevam-se significativamente
conforme o grau de isolamento, além de ofere- Em busca de opções para reverter esse qua-
cem riscos ao meio ambiente, principalmente a- dro, desde o ano de 1996, estudos, simulações e
través da emissão dos gases de efeito estufa instalações de SHE’s têm sido realizados na A-
(GEE). mazônia por instituições nacionais, como a A-
gência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o potência (inversores de tensão e retificadores),
Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CE- em torno de dois barramentos: um CC e outro CA
PEL/ELETROBRÁS), o Grupo de Estudos e De- (Baring-Gould et alii, 2003). A Figura (1) ilustra a
senvolvimento de Alternativas Energéticas (GE- configuração geral desses sistemas.
DAE/UFPA), o Laboratório de Energia Solar
(LABSOLAR/UFSC), o Grupo REDE/CELPA, a
Companhia Energética do Amazonas (CEAM), o
Grupo GUASCOR do Brasil, a Petróleo Brasileiro
S/A (PETROBRAS), e instituições internacionais,
como o Departamento de Energia dos Estados
Unidos (DOE), através do Laboratório Nacional
de Energia Renovável (NREL).
kW
300
região (média anual de 4,5 horas) e de velocida- 250
200
de de ventos na parte litorânea dos estados do 150
100
Amapá, Pará e Maranhão e montanhosa de Ro- 50
0
raima (média anual de 7,5 m/s a 50 m altura) (A- 1996 1997 1998 1999 2001 2003 2006
Figura 4: Arranjo solar fotovoltaico de vila Campinas. 3.1.3. SHE eólico-diesel da vila de Praia Gran-
de
Tabela I
Dados do SHE de Campinas.
Em setembro de 1998, com financiamento do
Subsistema solar fotovoltaico
CNPq/PTU, implantou-se o SHE eólico-diesel da
1 Arranjo fotovoltaico de 51,2 kWp (módulos de 64 vila de Praia-Grande para abastecer as residên-
Wp). cias, o centro comunitário, a escola, o sistema de
1 Banco de baterias - 120 unidades chumbo-ácido 8 bombeamento de água da vila e a iluminação
VCC/ 200 Ah (série/paralelo 240 VCC). pública (Barbosa et alii, 2004). A Figura (6) e a
1 Inversor 50 kW. Tabela (III) mostram o sistema de condiciona-
Subsistema diesel-elétrico mento de potência e os principais dados do sis-
2 Grupos geradores a diesel de 60 kVA (48 kW) ca- tema, respectivamente.
da.
Esse sistema foi concebido para ser interliga- Figura 6: Sistema de condicionamento de potência de
do à rede da usina termelétrica a diesel da locali- Praia Grande.
dade de Salvaterra, que atende Joanes.
Tabela III
A Figura (5) mostra uma visão geral do sis- Dados do SHE de Praia Grande.
tema de geração dando destaque para o arranjo
fotovoltaico (sobre a casa de força) e aerogera- Subsistema eólico
dores. 1 Aerogerador de 10 kW.
1 Controlador de carga (retificador).
1 Transformador de 30 kVA.
2 Inversores estáticos de 4 kW cada.
1 Banco de baterias - 20 unidades chumbo-ácido 12
VCC/ 150 Ah (série/paralelo 48 VCC).
1 Torre treliçada estaiada (20 m de altura).
Subsistema diesel-elétrico
2 Grupos geradores a diesel de 7,5 kVA (6 kW) ca-
da.
4.4. Inserção de outras fontes de energia Agbossou, K., Chahine, R., Hamelin, J., Laur-
encelle, F., Anouar, A., St-Arnaud, J.-M. and
Atualmente, dada a alta confiabilidade efici- Bose T. K. Renewable Energy Systems
ência energética, e baixo nível de emissão de Based on Hydrogen for Remote Applica-
GEE, diversos estudos mostram que a inserção tions. Journal of Power Sources, pp. 168-
de célula a combustível aumenta consideravel- 172, 2001.
mente a eficiência global dos SHE’s, através da
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