Você está na página 1de 17

Esclarecimento sobre a legalidade do procedimento de esterilização voluntária

em pessoa maior de 25 anos sem filhos.

Após pesquisar extensivamente sobre a legalidade do procedimento de esterilização


voluntária em pessoa maior de 25 anos sem filhos, constatei que a lei Nº 9.263, DE 12
DE JANEIRO DE 1996 que trata do planejamento familiar autoriza a esterilização
voluntária em homens e mulheres nas seguintes condições:

“I – em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de
idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta
dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico”.

No direito usa-se a máxima “verba cum effectu sunt accipienda”, que significa “A lei não contém
palavras inúteis”.

Portanto, ao dizer “maiores de vinte e cinco anos de idade OU, pelo menos, com dois filhos”, a
lei deixa claro que pessoas maiores de 25 anos E pessoas com dois filhos vivos podem se
submeter a procedimento de esterilização voluntária, uma vez que a conjunção “OU”, é o
oposto da conjunção “E”. Interpretação não apenas minha mas de diversos juristas.

Juntamente com esse documento, estão inclusos:

- A letra completa da lei tal qual se encontra em site oficial.

- Diretriz numero 12 da ANS tratando dos casos nos quais o procedimento de vasectomia tem
cobertura obrigatória pelos planos de saúde

- Exemplo de caso concreto de pessoa maior de 25 anos, sem filhos, que passou por
procedimento de esterilização voluntária legalmente, noticiado pela BBC.

- Prints de um site supostamente mostrando médicos que confirmam a possibilidade de


realização do procedimento de vasectomia em homem maior de 25 anos sem filhos, é possível
ver os números de CRM e telefones de contato dos médicos nas imagens, mas não posso
assegurar ser um site de confiança por isso a expressão “supostamente”.

Em face dos dados que apresento por meio deste, digo com segurança que a lei não apenas
não proíbe como abertamente permite a cirurgia de vasectomia em casos de homens com mais
de 25 anos, solteiros e sem filhos. Acrescento ainda que o código de ética do Conselho
regional de medicina do estado do Rio de Janeiro também não condena ou sequer menciona
tal situação até aonde pude constatar.

____________________________________________________________________________

Dados para contato:

Celular: 32-988303669

E-mail: igorthesendlerman@gmail.com

Endereço: Deputado Luiz Fernando Linhares 330, centro, Porciúncula-RJ 28390-000


Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.263, DE 12 DE JANEIRO DE 1996.

Mensagem de veto Regula o § 7º do art. 226 da


Constituição Federal, que trata do
planejamento familiar, estabelece
§ 7º do art. 226 da Constituição Federal penalidades e dá outras providências.

        O  PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono  a  seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DO PLANEJAMENTO FAMILIAR

        Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o disposto nesta Lei.

        Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de
regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da
prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.

        Parágrafo único - É proibida a utilização das ações a que se refere o caput para qualquer
tipo de controle demográfico.

        Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à


mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde.

        Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus
níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua rede
de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção
integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre
outras:

        I - a assistência à concepção e contracepção;

        II - o atendimento pré-natal;

        III - a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato;

        IV - o controle das doenças sexualmente transmissíveis;

        V - o controle e prevenção do câncer cérvico-uterino, do câncer de mama e do câncer de


pênis.

V - o controle e a prevenção dos cânceres cérvico-uterino, de mama, de próstata e de pênis. 


(Redação dada pela Lei nº 13.045, de 2014)

        Art. 4º O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e educativas e pela
garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a
regulação da fecundidade.
        Parágrafo único - O Sistema Único de Saúde promoverá o treinamento de recursos
humanos, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando a promoção de ações de
atendimento à saúde reprodutiva.

        Art. 5º - É dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde, em associação, no que
couber, às instâncias componentes do sistema educacional, promover condições e recursos
informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do
planejamento familiar.

        Art. 6º As ações de planejamento familiar serão exercidas pelas instituições públicas e
privadas, filantrópicas ou não, nos termos desta Lei e das normas de funcionamento e
mecanismos de fiscalização estabelecidos pelas instâncias gestoras do Sistema Único de
Saúde.

        Parágrafo único - Compete à direção nacional do Sistema Único de Saúde definir as
normas gerais de planejamento familiar.

        Art. 7º - É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros


nas ações e pesquisas de planejamento familiar, desde que autorizada, fiscalizada e controlada
pelo órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde.

        Art. 8º A realização de experiências com seres humanos no campo da regulação da


fecundidade somente será permitida se previamente autorizada, fiscalizada e controlada pela
direção nacional do Sistema Único de Saúde e atendidos os critérios estabelecidos pela
Organização Mundial de Saúde.

        Art. 9º Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos os
métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem
em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção.

        Parágrafo único. A prescrição a que se refere o caput só poderá ocorrer mediante
avaliação e acompanhamento clínico e com informação sobre os seus riscos, vantagens,
desvantagens e eficácia.

        Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações: (Artigo
vetado e mantido pelo Congresso Nacional - Mensagem nº 928, de 19.8.1997)

        I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de
idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta
dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à
pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento
por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce;

        II - risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório


escrito e assinado por dois médicos.

        § 1º É condição para que se realize a esterilização o registro de expressa manifestação da


vontade em documento escrito e firmado, após a informação a respeito dos riscos da cirurgia,
possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis
existentes.

        § 2º É vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante os períodos de parto ou aborto,


exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores.

        § 3º Não será considerada a manifestação de vontade, na forma do § 1º, expressa


durante ocorrência de alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool,
drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente.
        § 4º A esterilização cirúrgica como método contraceptivo somente será executada através
da laqueadura tubária, vasectomia ou de outro método cientificamente aceito, sendo vedada
através da histerectomia e ooforectomia.

        § 5º Na vigência de sociedade conjugal, a esterilização depende do consentimento


expresso de ambos os cônjuges.

        § 6º A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá


ocorrer mediante autorização judicial, regulamentada na forma da Lei.

        Art. 11. Toda esterilização cirúrgica será objeto de notificação compulsória à direção do
Sistema Único de Saúde. (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional)  Mensagem nº
928, de 19.8.1997

         Art. 12. É vedada a indução ou instigamento individual ou coletivo à prática da


esterilização cirúrgica.

        Art. 13. É vedada a exigência de atestado de esterilização ou de teste de gravidez para
quaisquer fins.

        Art. 14. Cabe à instância gestora do Sistema Único de Saúde, guardado o seu nível de
competência e atribuições, cadastrar, fiscalizar e controlar as instituições e serviços que
realizam ações e pesquisas na área do planejamento familiar.

        Parágrafo único. Só podem ser autorizadas a realizar esterilização cirúrgica as instituições
que ofereçam todas as opções de meios e métodos de contracepção reversíveis. (Parágrafo
vetado e mantido pelo Congresso Nacional)  Mensagem nº 928, de 19.8.1997

CAPÍTULO II

DOS CRIMES E DAS PENALIDADES

        Art. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10 desta
Lei. (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional)   Mensagem nº 928, de 19.8.1997

        Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime mais grave.

        Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for praticada:

        I - durante os períodos de parto ou aborto, salvo o disposto no inciso II do art. 10 desta
Lei.

        II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de


alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas, estados
emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente;

        III - através de histerectomia e ooforectomia;

        IV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial;

        V - através de cesária indicada para fim exclusivo de esterilização.

        Art. 16. Deixar o médico de notificar à autoridade sanitária as esterilizações cirúrgicas que
realizar.

        Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.


        Art. 17. Induzir ou instigar dolosamente a prática de esterilização cirúrgica.

        Pena - reclusão, de um a dois anos.

        Parágrafo único - Se o crime for cometido contra a coletividade, caracteriza-se como
genocídio, aplicando-se o disposto na Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956.

        Art. 18. Exigir atestado de esterilização para qualquer fim.

        Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.

        Art. 19. Aplica-se aos gestores e responsáveis por instituições que permitam a prática de
qualquer dos atos ilícitos previstos nesta Lei o disposto no caput e nos §§ 1º e 2º do art. 29 do
Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

        Art. 20. As instituições a que se refere o artigo anterior sofrerão as seguintes sanções,
sem prejuízo das aplicáveis aos agentes do ilícito, aos co-autores ou aos partícipes:

        I - se particular a instituição:

        a) de duzentos a trezentos e sessenta dias-multa e, se reincidente, suspensão das


atividades ou descredenciamento, sem direito a qualquer indenização ou cobertura de gastos
ou investimentos efetuados;

        b) proibição de estabelecer contratos ou convênios com entidades públicas e de se


beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas em que o Estado é
acionista;

        II - se pública a instituição, afastamento temporário ou definitivo dos agentes do ilícito, dos
gestores e responsáveis dos cargos ou funções ocupados, sem prejuízo de outras penalidades.

        Art. 21. Os agentes do ilícito e, se for o caso, as instituições a que pertençam ficam
obrigados a reparar os danos morais e materiais decorrentes de esterilização não autorizada
na forma desta Lei, observados, nesse caso, o disposto nos arts. 159, 1.518 e 1.521 e seu
parágrafo único do Código Civil, combinados com o art. 63 do Código de Processo Penal.

CAPÍTULO III

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

        Art. 22. Aplica-se subsidiariamente a esta Lei o disposto no Decreto-lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, e, em especial, nos seus arts. 29, caput, e §§ 1º e 2º; 43,
caput e incisos I , II e III ; 44, caput e incisos I e II e III e parágrafo único; 45, caput e incisos I e
II; 46, caput e parágrafo único; 47, caput e incisos I, II e III; 48, caput e parágrafo único; 49,
caput e §§ 1º e 2º; 50, caput, § 1º e alíneas e § 2º; 51, caput e §§ 1º e 2º; 52; 56; 129, caput e §
1º, incisos I, II e III, § 2º, incisos I, III e IV e § 3º.

        Art. 23. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias, a contar da
data de sua publicação.

        Art. 24. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

        Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário.

        Brasília, 12 de janeiro de 1996; 175º da Independência e 108º da República.


FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Adib Jatene

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.1.1996


Diretriz numero 12 da ANS sobre “CIRURGIA DE ESTERILIZAÇÃO MASCULINA (VASECTOMIA)”

12. CIRURGIA DE ESTERILIZAÇÃO MASCULINA (VASECTOMIA)

A esterilização masculina por método cirúrgico é um conjunto de ações

complexas das quais o ato médico-cirúrgico de ligadura bilateral dos

canais deferentes é apenas uma das etapas.

1. A esterilização cirúrgica voluntária como método contraceptivo através da

Vasectomia (Cirurgia para esterilização masculina) tem cobertura

obrigatória quando preenchidos todos os critérios do Grupo I e nenhum

dos critérios do Grupo II:

Grupo I

a. homens com capacidade civil plena;

b. maiores de vinte e cinco anos de idade ou com, pelo menos, dois filhos

vivos;

c. seja observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da

vontade e o ato cirúrgico para os devidos aconselhamentos e

informações;

d. seja apresentado documento escrito e firmado, com a expressa

manifestação da vontade da pessoa, após receber informações a respeito

dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua

reversão e opções de contracepção reversíveis existentes;

e. em caso de casais, com o consentimento de ambos os cônjuges expresso

em documento escrito e firmado;

f. o procedimento cirúrgico deve ser devidamente registrado em prontuário

e será objeto de notificação compulsória à direção do Sistema Único de

Saúde, cabendo ao médico executor do procedimento fazê-la;

g. seja realizado por profissional habilitado para proceder a sua reversão;


h. avaliação psicológica prévia da condição emocional e psicológica do

paciente.

Grupo II

a. durante a ocorrência de alterações na capacidade de discernimento por

influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados, incapacidade mental temporária


ou permanente e devidamente registradas no parecer

psicológico e/ou psiquiátrico;

b. em pessoas incapazes, exceto mediante autorização judicial,

regulamentada na forma da lei.

Referência Bibliográfica:

Lei nº 9.263 de 12 de Janeiro de 1996.


'Fiz laqueadura aos 25 anos e realizei um
sonho'
 Letícia Mori
 Da BBC News Brasil em São Paulo

18 novembro 2019

Crédito, Isadora Alves/Arquivo Pessoal

Legenda da foto,

Karoline diz que sempre ouvia relatos de pessoas que não conseguiram fazer o
procedimento

A assistente administrativa Karoline Alves queria fazer uma laqueadura —


cirurgia para não ter mais filhos — desde que soube que o procedimento existia,
quando ainda era adolescente.

"Sempre tive a certeza de que não queria ter filhos", conta ela à BBC News Brasil.
"Mesmo usando outros métodos anticoncepcionais, toda vez que atrasa a menstruação a
gente fica preocupada."

"Nunca me vi sendo mãe, nunca me vi tendo filhos, e fazer uma cirurgia para isso seria
uma preocupação a menos na vida", afirma. No entanto todas as histórias que ela ouvia
sobre a dificuldade de fazer o procedimento a desanimavam.

"Eu sempre ouvia que tinha que ter dois filhos para poder fazer. Mas não faz sentido. E
quem não quer ter filho nenhum?", diz ela, hoje com 26 anos.

 Os contraceptivos que você tem direito de exigir pelo SUS - e o que fazer se não
conseguir
 Com 55% de gestações não planejadas, Brasil falha na oferta de contracepção
eficaz

Quando tinha 25 anos, Karoline resolveu checar por si mesma quais eram, de fato, os
requisitos legais para o procedimento.

E descobriu que 25 anos é justamente a idade mínima exigida pela legislação para
mulheres que quiserem fazer a cirurgia de esterilização — e que mulheres mais jovens
também podem fazer o pedido se tiverem pelo menos dois filhos.

"Eu até levei a lei impressa na médica caso algum dos médicos fosse mal informado",
diz ela, que ficou positivamente surpreendida ao perceber que não teria resistência.
"Era a primeira vez que eu ia nessa médica, do plano de saúde que tenho no trabalho.
Demora, mas nenhum dos médicos que eu passei falou que eu não poderia fazer por
causa da minha idade ou por não ter filhos", diz Karoline. "Foi um alívio. Eu achei
sinceramente que seria mais difícil."

Depois de fazer a cirurgia, a jovem compartilhou seu relato no Facebook. O post teve 20
mil curtidas e mais de 16 mil comentários — boa parte dos quais fazendo perguntas
sobre o caminho para o procedimento ou querendo tirar dúvidas sobre como é passar
por ele.

"Eu quis compartilhar minha história para que outras mulheres com o mesmo desejo
saibam que é possível, para que elas não desanimem", diz a jovem. "A gente tem que
correr atrás dos nossos direitos."

"Teve alguns comentários criticando, mas, para ser sincera, depois de um tempo eu
parei de acompanhar, estou só respondendo quem me mandou dúvidas por mensagem."

Quais as exigências para fazer laqueadura?


A Lei de Planejamento Familiar, de 1996, estabelece que a esterilização só é permitida
em pessoas capazes, maiores de 25 anos, ou, se forem mais jovens, que tenham pelo
menos dois filhos vivos.

"Como é um ato definitivo, praticamente sem volta, existe uma cautela na lei para evitar
a realização em mulheres muito jovens", explica a advogada Renata Farah, presidente
da Comissão de Direito à Saúde da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil). "Mas a
maioria das dificuldades que as pessoas encontram não são entraves legais, mas da
cultura do hospital, do Estado, etc", afirma.

A partir dessa idade, as únicas exigências são quanto aos procedimentos que precisam
ser seguidos: é preciso um intervalo mínimo de 60 dias entre a pessoa manifestar a
vontade ao médico pela primeira vez (por escrito) e o procedimento, e a pessoa precisa
ser informada dos riscos da cirurgia, dos possíveis efeitos colaterais, da dificuldade de
revertê-la e das outras opções de contracepção existentes.

"A médica conversou comigo, perguntou se eu tinha certeza, disse que é um método
muito radical e a reversão é difícil, eles explicam tudo", conta Karoline. "Ela explicou
que, mesmo com a cirurgia, ainda há chance de falha, já que nenhum método é 100%
seguro."

"Mas como eu tinha muita certeza ela me encaminhou para a cirurgia", diz Karoline,
que também precisou se submeter aos vários exames pré-cirúrgicos de praxe e passou
por um atendimento psicológico nesses dois meses. "O que eu digo para quem me
pergunta é que é preciso ter muita certeza, porque a psicóloga vai te questionar muito."

Como mora com namorado, a auxiliar administrativa teve a opção de pedir o


procedimento como solteira ou como parte de uma união estável. "Acabei fazendo como
pessoa em união estável porque achei que seria mais fácil de ser aprovado", diz ela.
"Durante o procedimento, ficaram me perguntando qual a opinião do meu namorado, o
que ele acha. Ele também não quer ter filhos, mas esse não é o ponto, é uma decisão que
é minha."

Em casos de homens e mulheres casados ou com união estável, a lei exige que se
apresente também a autorização do cônjuge para a realização da cirurgia.

"Eu acho super errado, porque o corpo é meu, a decisão é minha, mas como queria
evitar ter problemas e tinha essa opção, acabei levando a autorização do meu
namorado", diz ela.

Após o encaminhamento da ginecologista, da psicóloga e do cirurgião, o plano de saúde


aprovou o procedimento. Após todas as burocracias, Karoline foi levada pelo pai e pelo
namorado ao hospital, onde ficou um dia internada para a cirurgia.

"Meus pais sempre aceitaram de boa que eu não quero ter filhos, é algo que eles sempre
souberam e sempre me deram muito apoio", conta. "É gente de fora [da família] que diz,
'ah, mas você vai se arrepender, vai mudar de ideia'. Pessoas que acham que a verdade
delas é a verdade de todo mundo."

"Eu tenho amigas que têm filhos e não queriam ter, é uma situação muito difícil", diz.

"O corpo é meu, a vida é minha, eu sempre tive certeza. Não acho que vou me
arrepender", afirma ela, que diz que realizar o procedimento foi a "realização de um
sonho".

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

A laqueadura é um metódo anticoncepcional praticamente irreversível

A laqueadura é uma cirurgia um pouco mais complicada que a vasectomia,


procedimento de esterilização feito em homens. É caracterizada pelo corte e ligamento
cirúrgico das tubas uterinas, impedindo o processo de fecundação.

Mas Karoline não teve problemas na recuperação.

"No dia, eu não podia levantar e tive um pouco de dor, mas passou com os remédios",
diz a jovem, que continuou tomando remédios e anti-inflamatórios nos dias seguintes.
"Também tive que limpar os pontos três vezes ao dia, mas foi só. Saí andando do
hospital."

Teoria e Prática
Karoline fez o procedimento pelo plano de saúde — os planos são obrigados por
determinação da Agência Nacional de Saúde a oferecer laqueadura, vasectomia e
implantação do DIU desde 2008, quando foram incluídos na lista de cobertura mínima
obrigatória.

Mas nem todo mundo tem a mesma facilidade que ela, com relatos de pessoas que
tiveram o procedimento negado por motivos não relacionados a questões médicas ou
legais, como "questões religiosas". Uma resolução da ANS determina que mesmo que
não haja médico ou hospital no plano que esteja disponível para realizar o
procedimento, a operadora do plano é obrigada a indicar um "profissional ou
estabelecimento mesmo fora da rede conveniada do plano e custear o atendimento".

O Estado também tem, por lei, o dever de oferecer o procedimento de esterilização


através do Sistema Único de Saúde — o SUS realizou mais de 67 mil laqueaduras em
2018 e um número parecido em 2017.

Pelas regras do Ministério da Saúde, a cirurgia pode ser feita de graça em qualquer
hospital público que tenha serviço de obstetrícia e ginecologia. Em 2017, foram
realizadas 67.525 laqueaduras, e, em 2018, 67.056 procedimentos.

No entanto, são frequentes os relatos de pacientes que tiveram muita dificuldade de


conseguir fazer a cirurgia e diversos que não conseguiram.

Um estudo publicado neste ano pela pesquisadora Amanda Muniz Oliveira, da


Universidade Federal de Santa Catarina, mostra que, embora o procedimento seja
garantido por lei, há frequentes recusas na realização da cirurgia no Estado, o que
"gerou judicialização de diversos pedidos". A pesquisa mostra que decisões judiciais
sobre o assunto em Santa Catarina ora ignoram e ora salientam os requisitos da lei.

Segundo o estudo, frequentemente, quando o procedimento é garantido pela Justiça, não


é "sob o fundamento de que se trata da vontade da mulher, e, sim, porque a mulher é
hipossuficiente financeiramente", diz Oliveira, na pesquisa.

"Os Estados, municípios e hospitais podem ter procedimentos locais diferentes, mas não
podem restringir direitos que são garantidos pela legislação nacional", afirma a
advogada Renata Farah.

Você também pode gostar