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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA

CLUBES DA RAPARIGA
SESSÕES NOS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE
E MULHER JOVEM DOS 15 AOS 24 ANOS
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA
CLUBES DA RAPARIGA
SESSÕES NOS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE
E MULHER JOVEM DOS 15 AOS 24 ANOS
Guião produzido por N’weti - Comunicação para Saúde
Rua Lucas Elias Kumato, 288,
Sommerschield
Maputo, Moçambique

Ficha Técnica

Título: GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA CLUBES DA RAPARIGA

N’weti, 2021, 2ª. edição (versão actualizada e adaptada para o programa DREAMS (Determined, Resilient, Empowered, AIDS-free,
Mentored and Safe), operacionalizado pela N’weti e os parceiros de implementação com financiamento do PEPFAR)

Coordenação Técnica e Editorial | Denise Namburete


Redacção e adaptação | Gildo Nhapuala & Edite Cumbe
Revisão e adaptação | Ilundi Durão de Menezes & Edite Cumbe
Índice
AGRADECIMENTOS...........................................................................................................................................................................................................................................................8
LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................................................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................................................................................................................................10
CONCEITOS-CHAVE A TER EM CONTA......................................................................................................................................................................................................................11
NOTAS PARA A MENTORA............................................................................................................................................................................................................................................15

SECÇÃO I: PACOTE DE SESSÕES................................................................................................................................................................................17

SESSÃO 1: GÉNERO.........................................................................................................................................................................................................................................................18

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................19
ACTIVIDADE 2: VISÃO GERAL SOBRE O PACOTE DE SESSÕES, EXPECTATIVAS E REGRAS..........................................................................................................................................................20
PACOTE DE SESSÕES...........................................................................................................................................................................................................................................................................................21
ACTIVIDADE 3: SER HOMEM, SER MULHER................................................................................................................................................................................................................................................22
ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................25

SESSÃO 2: SEXUALIDADE.............................................................................................................................................................................................................................................26

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................27
ACTIVIDADE 2: SEXO E SEXUALIDADE..........................................................................................................................................................................................................................................................28
ACTIVIDADE 3: FALANDO ABERTAMENTE SOBRE SEXO.........................................................................................................................................................................................................................31
ACTIVIDADE 4: DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS..........................................................................................................................................................................................................35
ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................28
SESSÃO 3: INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO SEXUAL (ITS).........................................................................................................................................................................................................................39
ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................40
ACTIVIDADE 2: INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO SEXUAL (ITS)................................................................................................................................................................................................................41
ACTIVIDADE 3: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................45
SESSÃO 4: OS RISCOS DE PARCEIROS MÚLTIPLOS...................................................................................................................................................................................................................................46
ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................47
ACTIVIDADE 2: HISTÓRIAS SOBRE PARCEIROS MÚLTIPLOS..................................................................................................................................................................................................................48
ACTIVIDADE 3: COMPORTAMENTOS DE RISCO.........................................................................................................................................................................................................................................53
ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................57

SESSÃO 5: PREVENÇÃO DO HIV..................................................................................................................................................................................................................................58

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................59
ACTIVIDADE 2: MEIOS DE TRANSMISSÃO E PREVENÇÃO DO HIV e SIDA E ATITUDES E CRENÇAS EM RELAÇÃO AO HIV..............................................................................................60
ACTIVIDADE 3: DEFININDO RISCO SUBSTANCIAL E DETERMINANTES DE VULNERABILIDADE EM RAPARIGAS E MULHERES JOVENS AO HIV......................................................63
ACTIVIDADE 4: PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV........................................................................................................................................................................................................................65
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ACTIVIDADE 5: ACESSO, NEGOCIAÇÃO E USO CONSISTENTE DO PRESERVATIVO........................................................................................................................................................................66


ACTIVIDADE 6: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................68

SESSÃO 6: HIV E EDUCAÇÃO PARA O TRATAMENTO...........................................................................................................................................................................................69

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................70
ACTIVIDADE 2: TESTAGEM E REVELAÇÃO DO ESTADO SEROLÓGICO................................................................................................................................................................................................71
ACTIVIDADE 3: ACONSELHAMENTO E TESTAGEM EM SAÚDE.............................................................................................................................................................................................................72
ACTIVIDADE 4: ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-RETROVIRAL...........................................................................................................................................................................................................76
ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................82
SESSÃO 7: PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO (PrEP)........................................................................................................................................................................................................................................83
ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................84
ACTIVIDADE 2: PREVENÇÃO COMBINADA..................................................................................................................................................................................................................................................85
ACTIVIDADE 3: FECHO DA SESSÃO................................................................................................................................................................................................................................................................88

SESSÃO 8: GRAVIDEZ E CONTRACEPÇÃO................................................................................................................................................................................................................89

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................................................................................................90
ACTIVIDADE 2: CONTRACEPÇÃO E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA...................................................................................................................................................................................................91
ACTIVIDADE 3: AS HISTÓRIAS DA MARIAMO E DA ALICE.....................................................................................................................................................................................................................96
ACTIVIDADE 4: PLANEAMENTO FAMILIAR E DIREITOS.........................................................................................................................................................................................................................100
ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO.............................................................................................................................................................................................................................................................102

SESSÃO 9: PROTECÇÃO SOCIAL DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM...............................................................................................................................103

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................................................................................................................................105
ACTIVIDADE 2: OS DIREITOS DAS CRIANÇAS...........................................................................................................................................................................................................................................105
ACTIVIDADE 3: A IMPORTÂNCIA DAS NORMAS SOCIAIS E COMUNITÁRIAS NA PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS DAS RAPARIGAS............................................................................110
ACTIVIDADE 4: QUEM SÃO OS RESPONSÁVEIS PELA PROTECÇÃO DA RAPARIGA E DOS SEUS DIREITOS?.......................................................................................................................114
ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO.............................................................................................................................................................................................................................................................118

SESSÃO 10: VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO (VBG).....................................................................................................................................................................................119

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................................................................................................................................121
ACTIVIDADE 2: PERCEBENDO O CONCEITO E FORMAS DE VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO.............................................................................................................................................121
ACTIVIDADE 3: QUEBRANDO O SILÊNCIO E BUSCANDO AJUDA.....................................................................................................................................................................................................130
ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO.............................................................................................................................................................................................................................................................132

SESSÃO 11: CASAMENTOS PREMATUROS............................................................................................................................................................................................................133

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................................................................................................................................134

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ACTIVIDADE 2: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DOS CASAMENTOS PREMATUROS......................................................................................................................................................................135


ACTIVIDADE 3: PREVENINDO OS CASAMENTOS PREMATUROS.......................................................................................................................................................................................................139
ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO.............................................................................................................................................................................................................................................................141

SESSÃO 12: USO DE ÁLCOOL E DROGAS..............................................................................................................................................................................................................142

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................................................................................................................................143
ACTIVIDADE 2: CLARIFICANDO O QUE É DROGA..................................................................................................................................................................................................................................144
ACTIVIDADE 3: DROGA E PRESSÃO DE PARES.........................................................................................................................................................................................................................................145
ACTIVIDADE 4: O CONSUMO DE ALCOOL E OS RISCOS DE INFECÇÃO PELO HIV.......................................................................................................................................................................146
ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO.............................................................................................................................................................................................................................................................147

SECÇÃO II: INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR.......................................................................................................................................................................................................148

I. GÉNERO.................................................................................................................................................................................................................149

II. INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO SEXUAL............................................................................................................................................................................................................150


III. ACONSELHAMENTO E TESTAGEM EM SAÚDE E TRATAMENTO ANTI-RETROVIRAL..........................................................................................................................156
IV. PLANEAMENTO FAMILIAR....................................................................................................................................................................................................................................160
V. CASAMENTOS PREMATUROS...............................................................................................................................................................................................................................162
VI. VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO....................................................................................................................................................................................................................163
VII. DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS.............................................................................................................................................................................................................166
VIII. PROTECÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA E CRIANÇA ÓRFÃ E VULNERÁVEL................................................................................................................................................167
IX. POLÍTICAS DE PROTECÇÃO SOCIAL..................................................................................................................................................................................................................167
X. ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS................................................................................................................................................................................................................................170
XI. A PANDEMIA DA COVID -19.................................................................................................................................................................................................................................172

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AGRADECIMENTOS
A actualização e adaptação deste manual foi possível graças ao apoio do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos
para o Alívio da SIDA (PEPFAR). A N’weti agradece as contribuições da equipa técnica do DREAMS/PEPFAR Moçambique e sede
(Washington, Estados Unidos da América), e de todos os colaboradores da N’weti que lideraram este processo e se empenharam para
a sua concretização. A N’weti gostaria de reconhecer e agradecer de forma individual pelos valiosos contributos a:

1. Equipa técnica do DREAMS Moçambique - Charlotte Hill, Iva Chirrime, Paula Paindane, Isabelle Casavant;

2. Equipa técnica do DREAMS Washington - Jessica Williams, Langan Denhard, Regina Benevides de Barros; e

3. Equipa da N’weti - Denise Namburete, Ilundi Durão de Menezes, Edite Cumbe.

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LISTA DE ABREVIATURAS
APSS Apoio Psicossocial

ARV Anti-retroviral

ATS Aconselhamento e Testagem em Saúde

CMMV Circuncisão Médica Masculina Voluntária

DREAMS Determined, Resilient, Empowered, AIDS-free, Mentored and Safe

HIV Vírus de Imunodeficiência Humana

ITS Infecção de Transmissão Sexual

OSC Organizações da Sociedade Civil

PPE Profilaxia Pós-Exposição

PF Planeamento Familiar

PrEP Profilaxia Pré-Exposição

PTV Prevenção da Transmissão Vertical

PVHIV Pessoas Vivendo com HIV

RAMJ Raparigas Adolescentes e Mulheres Jovens

SAAJ Serviços Amigos do Adolescente e Jovem

SIDA Síndroma de Imunodeficiência Adquirida

SSR Saúde Sexual e Reprodutiva

TARV Tratamento anti-retroviral

US Unidade Sanitária

VBG Violência Baseada no Género

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INTRODUÇÃO
Este Guião de Facilitação foi adaptado como parte do programa Clubes dentro e fora da escola para as RAMJ dos 15 aos 24 anos
DREAMS – Prevenção do HIV nas Raparigas, Adolescentes de idade.
e Mulheres Jovens (RAMJ) dos 15-24 anos – implementado
pela N’weti - Comunicação para a Saúde nas províncias de Na presente edição as sessões deste Guião foram actualizadas,
Gaza e da Zambézia, e financiado pela Agência dos Estados revistas e adaptadas, e algumas sessões foram especialmente
Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional adicionadas à segunda edição para responder aos objectivos
(USAID), através do PEPFAR. A N’weti conduziu a adaptação do programa DREAMS, operacionalizado pelos parceiros de
deste Guião graças ao apoio do Gabinete de Coordenação do implementação do DREAMS. O presente Guião comporta os
PEPFAR. A versão original, com 11 sessões e dirigida aos Clubes seguintes temas: (i) Género; (ii) Sexualidade; (iii) Infecções
da Rapariga dentro da Escola, foi também desenvolvida pela Sexualmente Transmissíveis (ITS); (iv) Os Riscos de Parceiros
N’weti como parte do mesmo programa em 2017. Múltiplos; (v) Prevenção do HIV; (vi) HIV e Educação para o
Tratamento; (vii) Profilaxia pré-exposição (PrEP); (viii) Gravidez
Este Guião constitui uma ferramenta padronizada para a e Contracepção; (ix) Protecção Social da Rapariga e Mulher
componente educativa sobre construção de activos sociais Jovem; (x) Violência Baseada no Género (VBG); (xi) Casamentos
para raparigas e mulheres jovens dos 15-24 anos, no contexto Prematuros; e (xii) Uso de Álcool e Drogas.
do programa DREAMS. Neste âmbito deverá ser utilizado por
todos os parceiros de implementação do DREAMS que prestam Outras instituições interessadas, que não sejam parceiras
serviços ao nível da comunidade. Mais concretamente, servirá impllementadoras do DREAMS, podem usar este Guião desde
de base para a facilitação de sessões nos espaços seguros dos que solicitem aprovação formal para o efeito.

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CONCEITOS-CHAVE A TER EM CONTA


Abstinência - ausência de qualquer forma de contacto sexual. principalmente as doenças transmitidas através das relações
sexuais. A retirada do prepúcio ajuda a manter a limpeza
Aconselhamento - fornecer informação e conselhos. do pénis, evita o mau cheiro e ajuda a prevenir de doenças,
Aconselhamento antes do teste ajuda as pessoas a decidir se principalmente as doenças transmitidas através das relações
podem ou não fazer o teste do HIV. Aconselhamento depois do sexuais. Todos os homens a partir dos 14 anos podem fazer a
teste dá uma oportunidade para aqueles que resultam negativos CMMV. É importante lembrar, que a circuncisão masculina não
para aprender como se protegerem da infecção do HIV e, para dá protecção total e também o homem circuncisado deve usar
aqueles que resultam HIV- positivos, como manter a sua saúde e sempre o preservativo em todas as relações sexuais!
como evitar transmitir o vírus para outras pessoas.
Desejo sexual1 - é a atracção de uma pessoa por outra que se
Atitudes e crenças culturais - valores compartilhados por uma manifesta por meio da paixão, da fantasia, da vontade de ficar
determinada cultura, que definem o modo como percebemos o junto e de ter relações sexuais.
mundo social, cultural, físico e psicológico.
Direitos Reprodutivos - direitos de homens e mulheres
Casamento Prematuro - o casamento prematuro é a união estarem informados, terem acesso e poderem escolher, dentre
marital envolvendo menores de 18 anos. métodos de contracepção, os mais seguros, eficazes, acessíveis
e aceitáveis, assim como outros métodos de sua escolha para a
Cultura - é todo o conjunto de elementos espirituais, materiais e regulação da fecundidade que não sejam contra as leis vigentes.
intelectuais que caracterizam uma sociedade ou um grupo social,
e inclui não só artes e letras, mas também modos de vida, direitos Diversidade sexual2 - são as numerosas e variadas formas de ser
fundamentais do ser humano, sistemas de valores, tradições e homem ou ser mulher e diferentes formas de viver e expressar
crenças. É heterogénea (está composta por elementos diversos a sexualidade, de amar, de desejar. Sentir atracção ou gostar de
e, portanto, contém diversidade no seu interior), é dinâmica (não uma pessoa do mesmo sexo ou dos dois sexos é outra forma de
é estática, muda ou pode mudar ao longo do tempo), é aberta expressar as emoções e de buscar por afecto. De acordo com
(encontra-se influenciada por relações externas), é apreendida especialistas na área da diversidade sexual existem três tipos de
(apreende-se através dos processo sociais de enculturação ou orientação sexual:
socialização), é compartilhada (os membros dum mesmo grupo
social compartilham padrões e valores culturais). Heterossexual - refere-se as pessoas que sentem desejo sexual
e afectivo por pessoas do sexo oposto.
Circuncisão Médica Masculina Voluntária (CMMV) - a
circuncisão é a retirada da pele que cobre a cabeça do pénis. Esta Homossexual - refere-se as pessoas que sentem desejo sexual e
pele é chamada de prepúcio. O prepúcio que cobre a cabeça afectivo por pessoas do mesmo sexo que o seu.
do pénis pode ficar com sujidade facilmente. A sujidade fica
escondida no prepúcio e pode criar mau cheiro. Esta sujidade Bissexual - refere-se as pessoas que sentem desejo sexual e
também deixa o homem mais vulnerável a contrair doenças, afectivo por pessoas de ambos os sexos.

1 Geração BIZ, Manual de formação: Educação e Aconselhamento em Sexualidade, Saúde, Direitos Reprodutivos e HIV/SIDA para Adolescentes e Jovens
2 Ibidem
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Homofobia - o preconceito contra os homossexuais chama-se e se expressar com coerência e sinceridade, e de acordo com
homofobia. É movida, sobretudo, pelo desconhecimento, pela os valores e justiça. Trata-se de viver de acordo com como se
desinformação em relação à sexualidade e às diferentes formas pensa e se sente. No sentido mais evidente, a honestidade pode
de expressão do desejo, do afecto e dos sentimentos. entender-se como o simples respeito à verdade em relação
com o mundo, os factos e as pessoas; em outros sentidos, a
Estado Serológico - o estado de ter ou não anticorpos honestidade também implica a relação entre o indivíduo e os
(organismos) no nosso corpo que podem ser identificados por outros, e do indivíduo consigo mesmo.
uma substância (antígeno), usada num teste de sangue (teste
serológico). Por exemplo, HIV positivo (seropositivo) significa Identidade sexual - fundamenta-se na percepção individual
que uma pessoa tem anticorpos identificados para o HIV pelo sobre o próprio sexo, masculino ou feminino percebido para si,
teste serológico. HIV negativo (seronegativo) significa que uma manifestado no papel de género assumido nas relações sexuais.
pessoa não tem anticorpos identificados para o HIV pelo teste
serológico. Infecção de Transmissão Sexual - uma ITS (também conhecida
por Infecção de Transmissão Sexual) é qualquer infecção
Género3 - o género é uma construção social. São os papéis transmitida apenas ou principalmente através da relação
sociais que abrangem uma gama de comportamentos e atitudes sexual. As ITS que causam lesões ou úlceras, como a gonorreia e
que são geralmente considerados aceitáveis, apropriados, ou multiplicam o risco de transmissão do HIV em mais de 7 vezes.
desejáveis para uma pessoa com base no sexo biológico ou
percebido dessa pessoa. Isso quer dizer que nós aprendemos Infecção oportunista - infecções que atacam o organismo mais
ao longo da vida certos comportamentos que dizem respeito a facilmente quando o sistema imunológico está enfraquecido.
uma expectativa sobre o que é ser homem e o que é ser mulher. As infecções oportunistas mais comuns são: tuberculose,
Estas expectativas podem se modificar conforme a sociedade pneumonia, herpes e diarreia.
e época em que vivemos, contrariando a ligação directa entre
género e sexo biológico. Estes tipos de papéis que são delegados Menstruação - é o sangramento através da vagina registado
a homens e mulheres definem as funções diferenciadas acerca pelas mulheres durante um determinado período todos
daquilo que é entendido como “ser mulher” e “ser homem”. os meses. É também chamado de período porque ocorre
Os papéis de género referem-se a um conjunto de padrões regularmente entre 21 a 35 dias, desde a puberdade até à
e expectativas de comportamentos que são aprendidos em menopausa.
sociedade correspondentes aos diferentes géneros e que
conformam as identidades dos indivíduos pertencentes a esses Normas Sociais - regras de conduta de uma sociedade,
grupos. que controlam e orientam o comportamento das pessoas.
Indica o que é “permitido” e “proibido”. O conceito de norma
HIV - Vírus de Imunodeficiência Humana: o HIV é um social corresponde às expectativas sociais acerca do que é um
retrovírus que entra nas células sanguíneas CD4, replicando-se comportamento adequado ou correcto. A interacção entre os
rapidamente. Ele desliga o sistema imunológico do organismo e indivíduos não obedece ao acaso; é nas normas sociais que se
leva ao desenvolvimento da SIDA, que é a fase de doença. encontra a base necessária à interacção e à acção social humana
geral. Todos os grupos humanos seguem normas definidas,
Honestidade - qualidade humana que consiste em se comportar que são sempre reforçadas por sanções de vária ordem, de

3 Adaptado de Agente M: Promovendo saúde e equidade de gênero entre adolescentes e jovens / Silvani Arruda : Ilustrações de Renato Cafuzo. – Rio de Janeiro : Instituto Promundo/
AstraZeneca, 2014
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sentido positivo ou negativo, indo desde a recompensa até à recentemente pelo sexo desprotegido. Esses medicamentos
desaprovação informal e à punição formal. precisam ser tomados por 28 dias, sem interrupção, para impedir
a infecção pelo vírus, sempre com orientação de um técnico de
Orientação sexual - refere-se a um padrão de atracção saúde. Quem faz a PPE deve complementar a sua prevenção à
sexual de um indivíduo. As pessoas podem ser consideradas infecção pelo HIV com o uso do preservativo sempre que tiver
heterossexuais (atraídas pelo sexo oposto), homossexuais uma relação sexual!
(atraídas pelo mesmo sexo) ou bissexuais (atraídas por ambos os
sexos). Diz respeito à atracção que uma pessoa sente por outros Preservativo feminino - uma bolsa feita de poliuretano que é
indivíduos não só em termos sexuais, mas também afectivos. inserida na vagina antes da relação sexual e mantida no lugar
por um anel interior e outro exterior. O preservativo feminino
Parceiros Múltiplos e Co-ocorrentes - ter relacionamentos previne a gravidez e fornece protecção contra infecções de
simultâneos, sobrepostos, mantidos durante um certo período transmissão sexual, incluindo o HIV. Ao contrário do masculino,
de tempo, com dois ou mais parceiros sexuais. o preservativo feminino não depende da erecção do homem.

Período de Janela - o período de janela ou janela imunológica Preservativo masculino - um revestimento feito de latex ou
é o termo que define o tempo que decorre entre a infecção e poliuretano que se desenrola ao longo do pénis erecto e previne
o aparecimento de anticorpos do HIV detectáveis no corpo. De gravidez e transmissão do HIV e outras infecções de transmissão
um modo geral, desde o momento da infecção, o corpo pode sexual.
demorar entre 1 a 3 meses a produzir anticorpos suficientes
para serem detectados por um teste aos anticorpos do HIV. Prevenção da transmissão vertical (PTV) - prevenção da
Durante este período, considerado janela, uma pessoa pode transmissão do HIV de uma mulher grávida e seropositiva para o
ter resultados negativos para o HIV, mas é, contudo, capaz de seu filho, durante a gravidez, o parto e a amamentação.
transmitir o vírus para os outros.
Relação sexual - a definição de relação sexual pode variar de
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) - PrEP significa: Pré = Antes acordo com a pessoa. Algumas pessoas consideram apenas o
/ Exposição = Situação de risco que pode levar à infecção sexo vaginal como relação sexual e vêm o sexo oral e anal como
por HIV / Profilaxia = Prevenção. A PrEP é o tratamento com uma forma de actividade sexual. O sexo vaginal, anal ou oral
medicamentos anti-retrovirais para impedir a aquisição do HIV. pode levar à transmissão do HIV se não for usado o preservativo.
A PrEP serve para ajudar a reduzir a probabilidade de infecção
pelo HIV para pessoas não infectadas pelo HIV, mas que estejam Parceiros múltiplos4 - quando uma pessoa mantém relações
em situações de risco. Quem toma a PrEP deve complementar sexuais com várias pessoas têm parceiros múltiplos. Quando
a sua prevenção à infecção pelo HIV com o uso do preservativo as pessoas têm vários parceiros aumentam o risco de infecção
sempre que tiver uma relação sexual. pelo HIV. Isto porque ter relações sexuais com vários parceiros
múltiplos e concorrentes envolve mais do que duas pessoas que
Profilaxia Pós-Exposição - conhecida também por PPE, é estão juntas num determinado período. Cada um dos parceiros
uma forma de prevenção da infecção pelo HIV por meio do pode ter outro parceiro sexual, e esses terem outros, aumentando
uso de medicamentos ARV utilizados no tratamento do HIV, assim o risco de infecção. Numa entrevista ao Jornal Diário de
para pessoas que possam ter entrado em contacto com o vírus Notícias, em 2009, a Directora Executiva da N’weti partilhou

4 https://www.dn.pt/globo/cplp/mocambique-reduz-parceiros-sexuais-para-combater-a-sida-1206377.html
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que: “em Moçambique, num cenário de epidemia generalizada, SIDA - Síndrome de Imunodeficiência Adquirida: a doença
reduzir a rede sexual já diminui bastante a incidência do HIV/ causada pelo HIV.
SIDA. Em Moçambique a taxa de incidência do HIV/SIDA é de
16%. O problema é que, depois de uma relação de três meses, Tabú - geralmente refere-se a uma proibição da prática
já não se usa preservativo. O vírus tem mais probabilidade de de qualquer actividade social quer seja moral, religiosa ou
passar em relações duradouras do que em ocasionais”. Dados culturalmente reprovável.
de 2007 revelaram que 42% dos homens moçambicanos estão
envolvidos com múltiplos parceiros sexuais concorrentes. Tradição - é uma herança que define e transmite uma ordem
apagando a acção transformadora do tempo, retendo apenas os
Risco - dá-se numa situação em que o vírus do HIV tem elevada momentos cruciais pelos quais os que a transmitem legitimam
probabilidade de ser transmitido dadas as condições favoráveis o seu poder e a sua influência. É herdada (passa de geração
para que tal ocorra. Por exemplo, num acto sexual desprotegido em geração), é respeitada (refere-se a aquilo que é antigo e
ou transfusão de sangue não examinado de pertença aos antepassados e precisa ser continuado sem
nenhum questionamento), é conservadora (considera-se como
Saúde Reprodutiva5 - estado de completo bem-estar físico, algo que deve ser conservado para manter a estabilidade da
mental e social e não apenas a ausência de doença ou comunidade).
enfermidade, em todas as questões relativas ao sistema
reprodutivo, suas funções e processos. Vulnerabilidade - no contexto da saúde, o termo
vulnerabilidade está associado a susceptibilidade das pessoas
Sexo Biológico - os órgãos sexuais que cada pessoa tem. Os a problemas e danos de saúde. A vulnerabilidade explora os
homens têm pénis e as mulheres vagina. potenciais factores que levam a existência de uma doença
não apenas para um único indivíduo mas para um todo como
Sexualidade - a sexualidade humana abarca tanto as relações resultante de um certo tipo de condições em que estes vivem.
sexuais (o coito) como o erotismo, a intimidade e o prazer. É a
combinação da identidade sexual, orientação sexual, atitude Vírus - um microrganismo (organismo muito pequeno) que é
sexual (como a pessoa age sexualmente neste momento, por capaz de viver de forma independente e reproduzir-se dentro
exemplo, como é que ele ou ela se identifica, heterossexual, mas duma célula viva.
bissexual em atitude) e preferências sexuais.

5. Geração BIZ, Manual de formação: Educação e Aconselhamento em Sexualidade, Saúde, Direitos Reprodutivos e HIV/SIDA para Adolescentes e Jovens

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NOTAS PARA A MENTORA


Cara Mentora, Quem pode usar a ferramenta
Este guião de facilitação foi desenvolvido a pensar em ti, pois Esta ferramenta é para ser usada por todos os parceiros
através desta ferramenta poderás melhor realizar o teu trabalho implementadores do DREAMS. Outras instituições interessadas,
na comunidade. É importante que o conserves e consultes que não sejam parceiras impllementadoras do DREAMS, podem
sempre antes de cada sessão. Encontrarás na primeira parte usar este Guião desde que solicitem aprovação formal para o
do guião, na primeira parte, um conjunto de 12 sessões e os efeito. Esta ferramenta é desenvolvida sobretudo para estimular
passos a seguir em cada uma delas. Para melhor te preparares, espaços comunitários de discussão e interacção em volta de
na segunda parte do guião, é providenciada informação temas ligados à saúde, por isso, todas aquelas organizações
adicional sobre os temas discutidos em cada sessão. Sempre que trabalhem na comunidade e considerem relevante esta
que tiveres dúvidas consulte esta informação e outros recursos ferramenta podem usá-la integralmente ou parcialmente
recomendados que tenhas. através de sessões específicas do guião de facilitação.

Lembra-te que o objectivo deste pacote de sessões e do teu Quem facilita as sessões
trabalho é de facilitar a apropriação dos temas discutidos nas
sessões como ponto de partida para induzir mudanças positivas As sessões dos Clubes devem ser facilitadas por Mentoras
e duradouras na vida das participantes e da comunidade. de Clubes da Rapariga no contexto do programa DREAMS
devidamente treinadas no uso desta ferramenta.

Maputo
2017 15
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA
GUIÃO
OS CLUBES
DE FACILITAÇÃO
DA RAPARIGA
PARAADOLESCENTE
OS CLUBES DENTRO
E MULHER
DA ESCOLA
JOVEM

Características de uma boa Mentora

Atitudes Habilidades Conhecimentos

• Não julgar e não discriminar • Ouvinte activa, bom • Acerca dos diferentes temas
questionamento e resumo em debate
• Amigável e honesta
• Boa comunicação • Acerca da organização e do
• Comprometida com a projecto a ser implementado
participação de todos • Feedback construtivo
• Conhecimento (pelo menos
• Sensível a questões de género • Lidar adequadamente com mínimos) da língua e dinâmicas
conflitos e emoções locais
• Respeito à diversidade cultura,
estado serológico e orientação • Gestão de tempo • Acerca do contexto
sexual comunitário e do país
• Colocar-se ao mesmo nível das • Acerca da cultura
participantes
• Auto-consciente

Quem deve participar nas sessões Não se esqueça de


Devem participar nas sessões raparigas e mulheres jovens Estimular a partilha de experiências de vida das
que de forma voluntária se inscrevem para participar nestas participantes;
nos Clubes dentro ou fora da escola. Cada grupo deve ter um
máximo de 25 participantes na faixa etária entre os 15-24 anos Ser sensível às experiências de vida das participantes de
de idade. Cada sessão tem a duração máxima de 2:30h. Consulte acordo com as suas faixas etárias – 15-19 e 20-24, pois
o tempo de cada sessão no guião de facilitação. podem ser diferentes;

Encorajar a participação activa de todas dando


É importante formar grupos de raparigas separados por faixas
oportunidades iguais a todos;
etárias. Deve haver dois grupos de raparigas formadas: i) grupos
só com raparigas dos 15 aos 19 anos de idade; e ii) grupos só
Valorizar os diferentes pontos de vista e opiniões;
com raparigas dos 20 aos 24 anos de idade.
Evitar tomar partido ou impor as suas opiniões ao grupo;
Para todas as sessões que forem conduzidas durante a pandemia
da COVID-19 deve-se garantir que se cumprem com todas as Tratar a todos com respeito e evitar qualquer tipo de
medidas de prevenção e mitigação da COVID-19, seguindo as confrontação.
orientações em vigor pelo Governo de Moçambique.

Maputo
16 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA
DENTRO
RAPARIGA
DA ESCOLA
ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SECÇÃO I: PACOTE DE SESSÕES

Maputo
2017 17
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SESSÃO 1: GÉNERO

Maputo
18 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
Apresentar o pacote de sessões e seus objectivos

Facilitar a compreensão da diferença entre sexo biológico e género e a forma como as relações entre homens e mulheres
influenciam os nossos comportamentos

Encorajar as participantes a perceberem que os papéis e tarefas de homens e mulheres são definidos pela sociedade

Estimular a adopção de novos papéis sociais que sejam transformadores entre homens e mulheres

Enfatizar que o diálogo melhora o entendimento nas famílias

Tempo: 1:45 min

Materiais: Marcadores, papel gigante

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar e dar boas-vindas às participantes. Apresente-se fazendo referência ao seu nome, idade, comunidade a
que pertence, qual o seu papel como Mentora, e o que é que ela mais gosta no seu trabalho como Mentora.

Passo 2: Distribua pedaços de cartolina e marcadores a todas as participantes. Solicite que cada participante procure alguém no grupo
que não conheça para formar um par e tente registar na cartolina o seguinte: nome pelo qual gosta de ser tratada e uma qualidade.

Passo 3: Peça que cada par de participantes se apresente.

Maputo
2017 19
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 2: VISÃO GERAL SOBRE O PACOTE DE SESSÕES, EXPECTATIVAS E


REGRAS

Tempo: 25:00 min

Passo 1: Explique em linhas gerais o que é a organização e quais os objectivos do projecto.

Passo 2: Escreva no papel gigante os objectivos do pacote e os temas de cada sessão (será útil preparar antes da sessão).

Passo 3: Coloque em local visível o papel gigante e discuta com as participantes os objectivos do pacote, sua ligação com o projecto.
Explique que cada sessão irá contribuir para alcançar esses objectivos. Esclareça possíveis dúvidas das participantes sobre os
objectivos do pacote de sessões e/ou dos objectivos do projecto.

Objectivos do pacote
Providenciar as participantes com informação e conhecimento localmente relevante sobre questões ligadas à SSR/ITS/PF e ITS,
incluindo o HIV e SIDA;

Facilitar a compreensão de como as normas de género influenciam o comportamento de homens e mulheres;

Estimular relações saudáveis e equilibradas de modo a prevenir situações de violência baseada no género (VBG) e a
contaminação pelo HIV;

Encorajar a busca pelos serviços de saúde para aceder aos cuidados e tratamentos do HIV, incluindo a PrEP;

Reforçar a importância do Planeamento Familiar para raparigas e mulheres jovens, incluindo pessoas vivendo com HIV e SIDA;

Providenciar informação sobre direitos – das crianças, mulheres, sexuais e reprodutivos;

Promover formas eficazes de prevenção e combate à VBG, incluindo os casamentos prematuros;

Fornecer informação sobre as causas e consequências do consumo do álcool e de outras drogas, incluindo a relação entre o
consumo de álcool e drogas e a infecção do HIV;

Providenciar as participantes com informações sobre os serviços de protecção para as raparigas adolescentes e mulheres
jovens e encorajar a busca por estes serviços e a denúncia de situações de VBG.

Maputo
20 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

PACOTE DE SESSÕES
Sessão 1: Género

Sessão 2: Sexualidade

Sessão 3: Infecções de Transmissão Sexual (ITS)

Sessão 4: Os Riscos de Parceiros Múltiplos

Sessão 5: Prevenção do HIV

Sessão 6: HIV e Educação para o Tratamento

Sessão 7: Profilaxia pré-exposição (PrEP)

Sessão 8: Gravidez e Contracepção

Sessão 9: Protecção Social da Rapariga Adolescente e Mulher Jovem

Sessão 10: Violência Baseada no Género (VBG)

Sessão 11: Casamentos Prematuros

Sessão 12: Uso de Álcool e Drogas

Passo 4: Peça às participantes para apresentarem as suas expectativas. Registe-as no papel gigante.

Passo 5: Analise cuidadosamente com as participantes as expectativas levantadas. Esclareça que expectativas serão alcançadas e
quais não serão alcançadas de modo a evitar que algumas participantes se sintam frustradas no final das sessões.

Passo 6: Através de uma chuva de ideias pergunte às participantes sobre as regras mais importantes que elas devem observar durante
a sua convivência nas sessões dos Clubes. Anote no papel gigante. Após anotar todas elas, leia uma de cada vez. No final pergunte
se todas concordam com as regras ali apresentadas ou querem alterar alguma delas. Caso não cole em local visível o papel gigante
com as regras de convivência.

Passo 7: Explique que o objectivo durante as sessões dos Clubes é a criação de um espaço seguro onde as participantes, raparigas
adolescentes e mulheres jovens, possam estar à vontade, partilhar as suas experiências e dúvidas sem receios, que tanto as Mentoras
como todas as participantes devem participar sem fazer julgamentos e criando um ambiente de apoio, positivo e saudável.

Maputo
2017 21
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 3: SER HOMEM, SER MULHER6,7

Tempo: 60:00 min

Passo 1: Divida uma folha de papel gigante em duas colunas. De um lado escreva: o que se entende por ser homem, e do outro lado
o que se entende por ser mulher.

Passo 2: Peça às participantes para dizerem o que lhes vem à cabeça quando pensamos o que é ser mulher na sua comunidade.
Esclareça que podem mencionar qualquer característica da personalidade, aspecto físico, objectos usados, tipo de roupas. Anote as
várias ideias na coluna sobre “o que é ser mulher”. Faça a mesma pergunta sobre o que é ser homem na nossa comunidade. Anote
também no papel gigante.

Passo 3: Para cada característica listada para “mulher” pergunte se apenas a mulher possui essa característica e faça um círculo
ou sublinhe as características que todos concordam que são exclusivas da mulher tais como ter seios (mamas), vagina, ser mãe,
amamentar, etc. Faça o mesmo para as características/ideias listadas para o homem. Não te esqueças de perguntar se apenas o
homem possui tais características. Circule ou sublinhe as características que todos concordam que são exclusivas do homem como
ter pénis, barba, esperma, ser pai, etc.

Passo 4: Na base da tabela com características de homens e mulheres e pergunte:

• Quais as características que nunca mudam nos homens?

• Quais as características que nunca mudam nas mulheres?

• Como é que aprendemos a ter certos comportamentos de homens ou de mulheres?

• Quando e como aprendemos sobre as expectativas de ser do nosso sexo? Quando e como aprendemos como devemos
vestir e agir consoante o nosso sexo?

• As expectativas dos homens e das mulheres são as mesmas ou diferentes numa outra comunidade ou província? Como?

• As expectativas de género mudam com o tempo e o lugar? Como?

• Qual é a relação entre género e poder? Como podemos ver essa relação entre poder e género nas nossas vidas pessoais?
E na nossa sociedade/comunidade?

• Existe alguma relação entre género e poder? Explique.

• Que características atribuídas ao homem ou à mulher são avaliadas como positivas ou negativas na nossa comunidade?

6. Agente M: Promovendo saúde e equidade de gênero entre adolescentes e jovens / Silvani Arruda : Ilustrações de Renato Cafuzo. – Rio de Janeiro : Instituto Promundo/ AstraZeneca,
2014
7. Adaptado de Jhons Hopkins Bloomberg School of Public Health “Center for Communication Programs. Tchova-Tchova” Histórias de Vida: Diálogos Comunitários Ferramenta dE género
Maputo para prevenção do HIV e SIDA em Moçambique
22 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Como seria para uma mulher assumir características atribuídas tradicionalmente ao homem? Seria fácil ou difícil?

• Como seria para um homem assumir características relacionadas tradicionalmente a uma mulher? Seria fácil ou difícil?

• Será que somente as mulheres podem cozinhar?

• Será que apenas os homens são fortes?

• Qual a influência que as nossas famílias e amigos têm sobre o significado de ser homem ou mulher?

• Quais os efeitos que os meios de comunicação (televisão, revistas, rádio, redes sociais, etc.) têm sobre a forma como
entendemos o que significa ser homem ou ser mulher?

• Como é que os meios de comunicação mostram o que é ser mulher? E ser homem?

• Como é que essas diferenças entre o significado de ser mulher ou homem afectam o nosso dia-a-dia? E as nossas relações
com a família? E as nossas relações com parceiros íntimos?

• Como podemos, nas nossas próprias vidas, mudar algumas expectativas negativas ou injustas de como um homem deve
agir?

• Como poderíamos mudar algumas expectativas negativas ou injustas sobre como uma mulher deve agir?

• Quais são as palavras que nós usamos na nossa língua local para falar sobre sexo e género? O que é que isso nos diz sobre
como falamos sobre diferenças entre homens e mulheres nas nossas línguas e culturas?

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos fazer também as perguntas abaixo

• Como é que é “ser mulher” e “ser homem” antes e depois de ter filhos?

• Quais são as expectativas de uma mãe e de um pai?

Passo 5: Encerre esta actividade fazendo um resumo da discussão. Enfatize a diferença entre sexo e género e, sobretudo, o facto de os
papéis sociais serem socialmente construídos. Recorra às notas da Mentora para enriquecer o resumo.

Maputo
2017 23
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora

Saber ouvir as necessidades e opiniões das outras pessoas é um passo importante para o bom entendimento entre os
casais – saber colocar-se no lugar de outra pessoa. Homens e mulheres desejam muitas coisas em comum mas também
tem necessidades diferentes.

Ouvir as necessidades do parceiro contribui para melhorar o entendimento sobre os valores e as tradições que são
positivos e devem ser mantidos, bem como aqueles que expõem as pessoas a um maior risco de infecção pelo HIV e
portanto devem ser mudadas.

Também é importante o nosso direito de identidade e expressão de género. A identidade e expressão de género é a
forma como nos sentimos como pessoas e a forma como nos vestimos, falamos, como cuidamos do corpo, etc, que pode
ser diferente do sexo biológico e que pode ser diferente da maneira convencional que definimos o que é ser homem e o
que é ser mulher.

Não se deve discriminar ninguém se a sua identificação e expressão de género não for homem ou mulher, como por
exemplo quem se identifica e expressa como transgénero. Transgénero é alguém que a sua identificação e expressão
de género é diferente do sexo biológico com que nasceu. Este tipo de estigma e discriminação é errado porque faz as
pessoas sentirem-se tristes, ameaçadas e isoladas.

Todas as pessoas do mundo têm o direito a expressar o seu género e viver a sua sexualidade livremente, sem medo nem
preconceitos! E têm também o dever de cuidar da sua própria saúde e da saúde das pessoas com quem se relacionam.

Maputo
24 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje.

Passo 2: Volte a verificar as presenças (apenas para o caso dos que não estiveram presentes no início da sessão).

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite que 4 raparigas procedam ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local da próxima sessão.

Maputo
2017 25
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SESSÃO 2: SEXUALIDADE

Maputo
26 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
Clarificar a diferença entre sexo e sexualidade

Estimular a reflexão sobre os direitos sexuais e reprodutivos como parte da saúde sexual e reprodutiva

Discutir os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos como parte integrante dos Direitos Humanos e reflectir sobre a
importância desses conceitos na vida das raparigas adolescentes e mulheres jovens

Tempo: 2:30 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, com a lista dos direitos sexuais e reprodutivos

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer ao grupo antes do início da
sessão (se uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhe chamou a atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

Maputo
2017 27
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 2: SEXO E SEXUALIDADE8

Tempo: 45:00 min

Em plenária: Chuva de ideias

Passo 1: Use o papel gigante e com um marcador divida a folha ao meio pela horizontal. Coloque de um lado a palavra SEXO e de
outro lado a palavra SEXUALIDADE.

Passo 2: Leia as definições de sexualidade para o grupo

“Sexualidade é o que nos motiva a buscar afecto, carinho, contacto físico. Tem a ver com sentimentos de satisfação e prazer. Cada pessoa
experimenta a sexualidade de forma diferente e varia ao longo do tempo. Faz parte da vida de todas as pessoas independentemente
da idade que elas têm. Diz respeito ao nosso corpo, à nossa história, às nossas relações afectivas, à nossa cultura. É bem mais do que
sexo e do que uma simples parte biológica de nosso corpo que permite a reprodução.”

“A Organização Mundial da Saúde (OMS), uma agência das Nações Unidas, define que a sexualidade é a energia que nos motiva a
encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-
se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso,
influencia também a nossa saúde física e mental. Ou seja, a sexualidade tem tudo a ver com saúde.”

Passo 3: Comece por perguntar às participantes o que lhes vem à cabeça quando ouvem falar na palavra sexo?

Passo 4: Registe no papel gigante, abaixo da palavra SEXO, as principais ideias das participantes.

Passo 5: Repita o mesmo procedimento para a palavra SEXUALIDADE.

Passo 6: Na base das anotações das ideias/contribuições das participantes, coloque as seguintes perguntas:

• Sexo e sexualidade são a mesma coisa? O que os diferencia?

• Sexualidade é o mesmo que relação sexual?

• De que modo podemos expressar a nossa sexualidade?

• Será que os homens expressam a sua sexualidade de uma forma diferente das mulheres?

8. Adaptado de Agente M: Promovendo saúde e equidade de gênero entre adolescentes e jovens / Silvani Arruda : Ilustrações de Renato Cafuzo. – Rio de Janeiro : Instituto Promundo/
AstraZeneca, 2014.

Maputo
28 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• A sexualidade é única ou pode haver vários tipos de sexualidade?

• Que factores influenciam a forma como vivemos a nossa sexualidade?

• Quem deve decidir sobre a nossa sexualidade?

• Que direitos sexuais e reprodutivos as mulheres e homens têm?

• Quais são alguns dos tabus que existem sobre sexualidade?

• O que é diversidade sexual? Qual é a relação entre diversidade sexual e os nossos direitos sexuais?

• Quais são alguns preconceitos que existem sobre pessoas homossexuais? Será que esses preconceitos são ligados com
ideias sobre o que é “ser mulher” e “ser homem”? Como?

Passo 7: Faça um resumo da discussão clarificando as principais ideias à volta dos pontos discutidos. Use as notas da Mentora para se
apoiar. Não te esqueças de perguntar se alguém continua com dúvidas sobre os pontos discutidos. Caso sim solicite que um presente
clarifique e se for necessário complemente.

Maputo
2017 29
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora

Sexo refere-se aos atributos biológicos que caracterizam homens e mulheres (por exemplo o homem pode fecundar e só a
mulher pode amamentar). Sexualidade tem a ver com a forma como expressamos os nossos sentimentos, comportamentos
crenças e atitudes. É algo mais abrangente que sexo e relações sexuais pois envolve aspectos como o afecto, a intimidade,
prazer, comunicação, ternura e paixão.

A nossa sexualidade é influenciada por vários factores como de natureza social, política, económica, cultural, religiosa, etc.
Pode ser expressa pela nossa orientação sexual, pela forma como nos vestimos, falamos, dançamos.

Todos temos direito de expressar e viver a nossa sexualidade livremente e de respeitar as opções dos outros. Os direitos sexuais
e reprodutivos implicam entre vários aspectos, que homens e mulheres têm o direito que de poder livremente desfrutar e
expressar sua sexualidade sem discriminação, violência, risco de contrair algum tipo de doença sexualmente transmissíveis
e ainda o direito de decidir, livremente sobre quando, como e com quem ter filhos, quantos filhos ter e o espaçamento entre
eles. É importante estimular desde cedo, a partir da educação, dos rapazes e raparigas o respeito mútuo pelos seus direitos
sexuais e reprodutivos.

Se te sentes preparada para começar a fazer sexo e encontraste alguém com quem te sentes confortável para dar esse passo,
tens de estar pronta para a responsabilidade. Vai a uma unidade sanitária ou a um SAAJ para tirares todas as tuas dúvidas e
lembra-te de usar o preservativo, sempre e correctamente, em todas as relações sexuais para te prevenires das ITS e de uma
gravidez não planeada.

Maputo
30 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 3: FALANDO ABERTAMENTE SOBRE SEXO

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Clarifique ao grupo que vão ouvir várias histórias para estimular a discussão sobre como podemos falar abertamente sobre
sexo.

Quem pode falar de sexo

Nota: Para o grupo das adolescentes de 15 a 19 anos fazer a actividade da história do Omar e da Cacilda

Passo 2: Leia a história do Omar e da Cacilda

O Omar e a Cacilda

A Cacilda quer namorar com o Omar há muito tempo. Os dois cresceram no mesmo bairro e já se conhecem há muito tempo.
A Cacilda e o Omar têm 15 anos. Um dia, eles encontraram-se no mercado do seu bairro e depois voltaram a caminhar para
casa. Pelo caminho a Cacilda disse ao Omar que gostava dele e gostava de namorar com ele para poder beijá-lo, estar com ele,
quem sabe até ficarem juntos e terem uma relação séria.

Passo 3: Depois de ler a história do Omar e da Cacilda coloque as seguintes questões para discussão:

• De que situação fala a história do Omar e da Cacilda?

• O que é que vocês acharam da iniciativa da Cacilda?

• O que é que acham que o Omar deve fazer? Porquê?

• Se o Omar aceitar ficar com a Cacilda, o que é que eles devem fazer para terem uma relação saudável?

• Se o Omar e a Cacilda ficarem juntos quem é que deve tomar a decisão sobre se vão ter relações sexuais?

• Essas situações acontecem aqui na comunidade?

• O que é que aprendemos com esta história?

Maputo
2017 31
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Passo 4: Faça um resumo da discussão clarificando as principais ideias à volta dos pontos discutidos. Use as notas da Mentora para se
apoiar. Não se esqueça de perguntar se alguém continua com dúvidas sobre os pontos discutidos. Caso sim solicite que um presente
clarifique e se for necessário complemente.

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos fazer a actividade das histórias dos casais Dina e
Issufo e Artísio e Latifa

Passo 5: Leia a história da Dina e do Issufo

Dois jovens namoram um ano e decidem casar. Depois do casamento fazem a sua lua-de-mel onde iriam ter relações sexuais
pela primeira vez. A Dina e o Issufo não falam um com o outro sobre sexo. A lua-de-mel não correu muito bem porque o casal
não teve prazer durante o sexo. A Dina quer falar sobre disso, mas isso deixa o seu marido Issufo muito desconfortável. Tanto
a Dina como o Issufo não foram educados pela família sobre a importância de falarem abertamente sobre assuntos ligados ao
sexo com os seus parceiros. Por isso, o Issufo fala com o seu velho amigo Matavel que lhe dá um mau conselho acerca de como
provar que ele é um homem de verdade e que quem manda sobre o sexo em casa é ele, a mulher tem de obedecer.

Passo 6: Depois de ler a história da Dina e do Issufo coloque as seguintes questões para discussão:

• De que situação fala a história da Dina e do Issufo?

• Porque vocês acham que a lua de mel correu mal?

• Será que é importante que os nossos pais e cuidadores nos ensinem a falar abertamente sobre asuntos ligados à nossa
sexualidade - como o acesso ao planeamento familiar, o HIV, como ter relações saudáveis, seguras e prazerosas - com os
nossos parceiros?

• Acham que é possível que a Dina ou o Issufo possam ter algum trauma ou medo relacionado com o sexo que têm medo
de partilhar um com o outro?

• Porque é que o Issufo se sentia mal em falar do que aconteceu na lua de mel com a esposa?

• Será que a lua de mel não podia ter corrido bem, mesmo que a Dina e o Issufo ainda se estejam a conhecer sexualmente?

• Para além do sexo, que outras coisas são importantes para termos relações saudáveis, seguras e prazerosas? (as respostas
devem incluir o diálogo entre os parceiros, fazerem actividades juntos, entre outros)

• Que risco é que o Issufo corre ao usar a solução proposta pelo Matavel?

• O que é que o casal deveria fazer para ultrapassar a situação?

• Acham que a Dina e o Issufo poderiam ir a um SAAJ ou a uma unidade sanitária para pedir conselhos para terem uma vida

Maputo
32 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

sexual saudável, segura e prazerosa?

• Essas situações acontecem aqui na comunidade?

• O que é que aprendemos com esta história?

Passo 7: Leia a história do Artísio e da Latifa

O Artísio e a Latifa estão numa relação séria e gostam muito um do outro, O Artísio quer tratar a Latifa muito bem de todas as
maneiras, incluindo no prazer sexual dela. Um dia, o Artísio e a Latifa estavam a conversar sobre sexo entre eles e a Latifa disse
que nunca tinha sentido aquele prazer... O Artísio disse que juntos iam continuar a se conhecer e a aprender como terem mais
prazer durante o sexo para a Latifa também ter mais prazer.

Passo 8: Depois de ler a história do Artísio e da Latifa coloque as seguintes questões para discussão:

• De que situação fala a história do Artísio e da Latifa?

• Vocês acham que a Latifa fez bem em partilhar com o Artísio como ela se sente durante o sexo?

• O que é que vocês acham da forma como o Artísio reagiu?

• Essas situações acontecem aqui na comunidade?

• O que é que aprendemos com esta história?

Passo 9: Faça um resumo da discussão clarificando as principais ideias à volta dos pontos discutidos. Use as notas da Mentora para
te apoiares. Não se esqueça de perguntar se alguém continua com dúvidas sobre os pontos discutidos. Caso sim solicite que um
presente clarifique e se for necessário complemente.

Maputo
2017 33
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora

É importante falar abertamente com o teu parceiro ou parceira sobre a vossa vida sexual. Falem sobre os vossos desejos,
fantasias e medos; descubram o que cada um gosta e o que não gosta. Falar abertamente sobre estes assuntos fortalece a
relação, protege-nos e contribui para o bem-estar de cada um e do casal. O sexo é um momento de partilha e intimidade.
As duas pessoas envolvidas devem concordar sobre o que querem fazer e como, e respeitar as opiniões e sentimentos da
outra pessoa.

Muitos de nós, em especial as raparigas, aprendemos desde cedo que não devemos falar sobre a vida sexual. Assuntos
ligados ao prazer sexual são vistos como tabu como resultado disso tanto homem e mulher não se sentem satisfeitos
sexual e emocionalmente. É importante evitar estas barreiras que impedem mulheres e homens de viver com saúde a
sua vida sexual.

Se possível, conversa com o teu pai ou mãe sobre estes assuntos; ou com outro adulto em quem confies, como uma tia/o,
irmã/ão, prima/o, ou outro.

A saúde sexual é um estado de completo bem-estar físico, emocional, mental associado à sexualidade e não só à ausência
de doença ou enfermidade (Organização Mundial da Saúde).

A pessoa pode apresentar alterações ou perturbações na sua resposta sexual levando a dificuldades ou problemas sexuais
que impedem a vivência de uma vida sexual satisfatória e gratificante.

As causas que podem estar na origem ou contribuir para estas dificuldades, podem ser fisicas, psicológicas ou mistas.
Problemas de saúde físicos e psicológicos, uso de medicamentos, tabagismo, problemas afectivos ou de natureza
relacional, falta de experiência sexual e de conhecimento do corpo, traumas sexuais, assim como factores socioeconómicos
e profissionais, podem reflectir-se de forma negativa na resposta sexual.

Ainda, em Moçambique, algumas práticas culturais, como os ritos de iniciação, podem determinar como a mulher deve
agir nas relações sexuais.

É muito importante que dialogar de forma aberta e sem julgar sobre o sexo e relações sexuais, lembrando que os homens
e as mulheres têm direito a uma vida sexual saudável, segura e prazerosa.

Maputo
34 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 4: DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Antecipadamente, faça um cartaz numa folha de papel gigante com os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Utilize a
Folha de Apoio que está no final desta actividade.

Passo 2: Prepare cópias da Folha de Apoio e recorte cada um dos direitos em tiras, para serem distribuídos.

Passo 3: Desenhe em papel gigante 4 colunas com os seguintes títulos em cada coluna: Direitos Sexuais e Reprodutivos (1 a 12)
Concordo, Concordo + ou – e Não Concordo.

Passo 4: Inicie a actividade explicando que os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos são Direitos Humanos.

Passo 5: Faça a divisão das participantes em pequenos grupos e distribua as tiras dos direitos. À medida que for distribuindo, leia os
direitos em voz alta para cada subgrupo.

Passo 6: Explique que cada grupo recebeu algumas tiras e peça que discutam o que entendem sobre as mensagens, se concordam,
se concordam mais ou menos, se não concordam e se esses direitos têm sido respeitados ou não no dia-a-dia.

Passo 7: Peça a cada grupo que apresente os direitos que foram discutidos e se estão de acordo ou não que estes direitos sejam
respeitados na comunidade onde vivem.

Passo 8: Depois que forem apresentados todos os direitos, abra para o debate a partir das seguintes questões:

• Os direitos sexuais e reprodutivos das raparigas e rapazes adolescentes são respeitados na tua comunidade? Se não, quais
são os direitos sexuais e reprodutivos que são mais violados? Porque é que isto acontece?

• Será que raparigas e rapazes têm os mesmos direitos sexuais e reprodutivos?

• E pessoas que têm orientações sexuais como a homossexualidade, por exemplo. Têm os mesmos direitos sexuais e
reprodutivos?

• Qual é o maior obstáculo que as raparigas enfrentam na protecção dos seus direitos sexuais e reprodutivos? E os rapazes? E
pessoas que têm orientações sexuais como a homossexualidade?

• O que podemos fazer para superar esses obstáculos?

Maputo
2017 35
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Passo 9: Faça um resumo da discussão clarificando as principais ideias à volta dos pontos discutidos. Use as notas da Mentora para
se apoiar. Não se esqueça de perguntar se alguém continua com dúvidas sobre os pontos discutidos. Caso sim solicite que um dos
presentes clarifique e se for necessário complemente.

Notas para a Mentora

Os direitos sexuais e reprodutivos incluem o acesso a cuidados de saúde sexual e reprodutiva e informação, autonomia na
tomada de decisão a nível sexual e reprodutivo.

Os direitos sexuais e reprodutivos partem do princípio de que todos tem o direito a uma vida sexual consensual, plena, segura
e saudável, e a controlar o seu corpo.

A igualdade de género é uma premissa importante para os direitos sexuais e reprodutivos sejam respeitados. Os direitos
sexuais e reprodutivos dos adolescentes e jovens incluem:

Direito de decidir iniciar ou não a actividade sexual;

Direito de decidir quando, onde, e com quem iniciar a sua actividade sexual;

Direito de desfrutar a sexualidade livre de violência, coacção e discriminação, num contexto de relações baseadas na igualdade,
no respeito e na justiça;

Direito de escolher ser ou não sexualmente activo/a, incluindo o direito de ter sexo consensualmente e de casar com pleno
consentimento.

Tenta conversar com o teu pai ou a tua mãe, ou um adulto em quem confias, sobre os teus namoros, o que se passa com o
teu coração, e até sobre a tua saúde sexual. Podes sentir-te mais à vontade em conversar com um familiar mais velho ou com
uma matrona. Também podes procurar ajuda numa unidade sanitária ou num SAAJ. A informação é um direito teu – não o
desperdices!

Maputo
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Folha de Apoio
Direitos Sexuais e Reprodutivos
1. O Direito à vida

2. O Direito à liberdade e segurança da pessoa

3. O Direito à igualdade e o direito a estar livre de todas as formas de discriminação

4. O Direito à privacidade

5. O Direito à liberdade de pensamento

6. O Direito à informação e educação

7. O Direito de escolher casar ou não e de constituir e planear família

8. O Direito de decidir ter ou não filhos e quando os ter

9. O Direito aos cuidados e à proteção da saúde

10. O Direito aos benefícios do progresso científico

11. O Direito à liberdade de reunião e participação política

12. O Direito a não ser submetido nem a tortura, nem a tratamento desumano ou degradante

Fonte: International Planned Parenthood Federation (IPPF) – Carta sobre os Direitos em Matéria de Sexualidade e de Reprodução

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ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite duas raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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SESSÃO 3: INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO SEXUAL (ITS)

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2017 39
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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da Sessão
Providenciar informação básica sobre os sistemas reprodutor masculino e feminino

Identificar e caracterizar as ITS mais frequentes na comunidade

Identificar as formas de prevenção das ITS

Explicar as consequências de ITS não tratadas e/ou mal-tratadas

Explicar a importância do diagnóstico precoce e tratamento das ITS nas unidades sanitárias

Tempo: 1:35 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, papel gigante com resumo das ITS, suas características e vias de transmissão, e cópia dos
sistemas reprodutores feminino e masculino

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, ou outros motivos).

Passo 2: Solicite a duas participantes/voluntárias para resumir o que mais lhe chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

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40 2017
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ACTIVIDADE 2: INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO SEXUAL (ITS)9

Tempo: 1:20 h

Em plenária:

Passo 1: Apresente às participantes os cartazes dos sistemas reprodutor feminino e masculino que estão na informação complementar
deste guião. Responda às dúvidas das participantes. Dê 40 minutos para esta actividade.

Passo 2: Ajude as participantes para construir uma tabela com as ITS sobre as quais elas têm conhecimentos e os seus sintomas.
Divida o papel gigante ao meio. Coloque de um lado “o tipo de ITS” e do outro lado “sintomas”. Dê 40 min para esta actividade.

Passo 3: Para as ITS mencionadas pelas raparigas pergunte se há diferenças nos sintomas entre os homens e as mulheres.

Passo 4: Caso note que alguma ITS esteja de fora pergunte se não há mais alguma que elas conheçam. Caso não haja sugestão das
participantes inclua as que tiverem ficado de fora e pergunte se alguém já ouviu falar e conhece os seus sintomas. Não se esqueça de
incluir o HIV na lista das ITS e partilhe que o tema vai ser falado com mais detalhe na próxima actividade da sessão.

Passo 5: Use o papel gigante com o quadro resumo das ITS e sintomas para fazer um resumo sobre a discussão. Clarifique e corrija
caso algo menos correcto tenha sido apresentado pelas participantes como ITS ou sintoma.

Passo 6: Na base do quadro resumo sobre ITS discuta com as participantes as seguintes questões:

• Vocês costumam usar outros nomes locais/informais para identificar as ITS que temos no quadro que fizemos juntos? Quais
são?

• Será que o facto de termos mais de um parceiro sexual ao mesmo tempo pode contribuir para contrairmos uma ITS?

• De que forma o consumo de álcool e drogas pode contribuir para contrairmos uma ITS?

• Quais são os sintomas que aparecem no nosso corpo que podem indicar que temos uma ITS?

• O que devemos fazer caso nós ou o nosso/a parceiro/a tenha algum sintoma de ITS? Será que devemos comunicar o/a
nosso/a parceiro/a?

9. Adaptado de Agente M: Promovendo saúde e equidade de gênero entre adolescentes e jovens / Silvani Arruda : Ilustrações de Renato Cafuzo. – Rio de Janeiro : Instituto Promundo/
AstraZeneca, 2014

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• Quais as consequências de não comunicarmos ao nosso/a parceiro/a que temos algum sintoma de ITS?

• E se não formos à busca de tratamento para a ITS quais podem ser as consequências?

• A que locais nós recorremos para tratamento quando temos algum sintoma de ITS?

• Qual a vantagem de tratarmos as ITS na unidade sanitária?

• É possível a mulher contrair ITS, incluindo o HIV, durante a gravidez? O que é que a mulher grávida deve fazer?

• De que forma as raparigas e rapazes adolescentes que já tiveram alguma ITS e trataram na unidade sanitária podem
encorajar outras raparigas e rapazes adolescentes a dirigirem-se à unidade sanitária para diagnóstico e tratamento de ITS?

• As escolas costumam falar sobre a prevenção das ITS? Como?

• Em que lugares o preservativo está disponível para as/os jovens? Os preservativos para as/os jovens são gratuitos?

Passo 7: Encerre esta actividade fazendo um resumo da discussão reforçando as ideias principais das participantes. Recorra às notas
da Mentora para enriquecer o seu resumo.

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Notas para a Mentora10

As ITS são todas as infecções transmitidas por via do contacto sexual durante sexo vaginal, anal ou oral sem protecção.
Usa sempre o preservativo em todas as relações sexuais para evitares as ITS.

É importante conhecermos o nosso corpo e sabermos o que é normal e o que pode ser um sintoma de uma ITS. Se
sentires algum dos sintomas abaixo procura um SAAJ ou vai à unidade sanitária mais próxima para seres vista por um
técnico de saúde e teres a certeza se é uma ITS e qual o tratamento que deves fazer.

Os sintomas podem ser diferentes consoante a ITS, mas os mais comuns são:

• dor ao urinar

• dificuldade em urinar

• comichão nos órgãos genitais

• borbulhas ou algo parecido na glande no pénis ou na vagina

• nas raparigas: corrimento, nalguns casos com cheiro e com cor não branca, mais grosso (às vezes até tipo
iogurte)

• nos rapazes: pode começar a sair um líquido anormal no pénis.

Mesmo conhecendo e sabendo quais são os sintomas mais comuns das ITS é preciso ter muito cuidado porque muitas
vezes as ITS não têm sintomas, principalmente quando estão no princípio e mesmo sem ter sintomas podes transmitir
ou apanhar uma ITS sem sequer desconfiares disso. Por isso, usa sempre o preservativo, de forma correcta e consistente,
em todas as tuas relações sexuais – não falhes!

Evita tomares medicamentos por iniciativa própria sem teres ido à unidade sanitária, pode ser um perigo para ti. Para
tratares as ITS procura um SAAJ ou uma unidade sanitária, pois lá terás o atendimento apropriado.

Se tiveres uma ITS, o teu parceiro/a também deve ir a uma unidade sanitária, mesmo que não tenha sintomas. É possível
prevenir todas as ITS, e tratar a maioria delas. Mas, algumas ITS, como o HIV e a herpes, não têm cura. Mesmo assim, com
o tratamento é possível controlar a doença e levar uma vida saudável.

Caso tenhas alguma ITS tens o direito de receber tratamento adequado na unidade sanitária próxima da tua casa. Não te
esqueças de cumprir rigorosamente com a medicação recomendada pelo técnico de saúde e evita fazer sexo durante o

10. https://www.avert.org/professionals/hiv-social-issues/key-affected-populations/women

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2017 43
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tratamento, é mais seguro para ti e para o/a teu/tua parceiro/a. Os dois parceiros devem fazer o tratamento. Vai com
o teu parceiro/a a uma consulta, mesmo que ele/a não tenha sintomas. Se ele/a não fizer também o tratamento, e
tiverem relações sem preservativo, vais voltar a infectar-te com as mesmas ITS.

Se tiveres uma ITS e não tratares logo, podes vir a ter problemas de saúde graves e facilitar a infecção pelo HIV.
Assim como, se uma ITS não for tratada ou for mal-tratada pode prejudicar a tua saúde e facilitar a infecção pelo
HIV. Raparigas e mulheres que já tiveram alguma ITS e trataram com sucesso na unidade sanitária têm um papel
importante no sentido de encorajar outras raparigas e mulheres a fazer o diagnóstico e tratamento das ITS nos
SAAJ ou unidade sanitária. Na unidade sanitária terás tratamento médico adequado para ti e com garantia de
confidencialidade e privacidade.

Se a mulher estiver grávida deve manter todos os cuidados de prevenção das ITS, incluindo o uso correcto do
preservativo em todas as relações sexuais. Uma mulher grávida deve ir a todas as consultas pré-natais onde o
técnico de saúde vai fazer alguns exames para analisar a saúde da mãe e do bebé. Esses exames ajudam a a verificar
se a mulher grávida tem alguma ITS/HIV, ou outras doenças que possam prejudicar a saúde do seu bebé, por isso
é muito importante iniciar as consultas pré-natais o mais cedo possível logo que a mulher saiba que está grávida.

As raparigas adolescentes e mulheres jovens têm maiores probabilidades de contrair ITS, incluindo o HIV, do que
os rapazes e os homens porque são o grupo com menor acesso à educação, algumas práticas culturais como os
ritos de iniciação e os casamentos prematuros levam a que as raparigas parem de estudar muito cedo e estejam em
casamentos com homens muito mais velhos o que leva à falta de acesso à informação e ao fraco poder de decisão
das raparigas e mulheres na negociação do sexo seguro. As barreiras às abordagens que trabalham sobre este
factores incluem baixas taxas de divulgação e denúncia destas práticas, o país tem poucos recursos para financiar a
resposta, e a pobreza extrema entre os agregados familiares afectados.

As raparigas adolescentes e mulheres jovens também estão em maior risco de contracção do HIV por causa de
factores biológicos. O risco de contrair o HIV durante o sexo vaginal é mais elevado para as mulheres do que para os
homens. Este risco elevado pode ser explicado por vários factores, incluindo a capacidade do vírus do HIV de passar
através das células do revestimento vaginal e da maior superfície da vagina. As raparigas adolescentes podem estar
em maior risco devido à existência de maior quantidade de mucosa genital/vaginal, que estão presentes no seu
colo do útero que ainda se está a formar. As raparigas adolescentes também têm maior risco de contrair infecções
vaginais, o que pode também aumentar o risco de contrair o HIV.

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ACTIVIDADE 3: FECHO DA SESSÃO


Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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SESSÃO 4: OS RISCOS DE PARCEIROS MÚLTIPLOS11

11. Adaptado de Johns Hopkins University (2011). Tchova Tchova – Histórias de Vida: Diálogos Comunitários Ferramenta de Género para a Prevenção do HIV e SIDA em Moçambique. Guião
de Facilitação das Sessões

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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da Sessão
Clarificar o entendimento das participantes sobre o que é ter parceiros múltiplos

Aumentar a percepção de risco das raparigas adolescentes e mulheres jovens em relação às ITS e ao HIV quando se tem vários
parceiros sexuais

Tempo: 2:15 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, preparar numa folha de papel gigante o Quadro de Parceiros, preparar folhas de papel gigante,
uma folha deve ter escrito MUITO RISCO, outra escrito ALGUM RISCO, outra escrito POUCO RISCO e outra escrito SEM RISCO.

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

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ACTIVIDADE 2: HISTÓRIAS SOBRE PARCEIROS MÚLTIPLOS12

Tempo: 1:20 h

Passo 1: Diga às participantes que irá descrever as relações sexuais que três pessoas tiveram entre 2016 e 2020. Diga às participantes
que nenhuma destas pessoas teve quaisquer outras relações sexuais durante as suas vidas. Leia em voz alta as suas histórias abaixo.
Ao ler cada história, desenhe o Quadro de Parceiros apresentado na figura no papel gigante. Peça às participantes para prestarem
atenção ao número de parceiros que cada pessoa teve.

A história do Suleimana – O Suleimana teve um parceiro sexual, a Rita, de 2016 a 2020.

A História da Rosa – A Rosa teve três parceiros sexuais, de 2016 a 2020. A Rosa e o Manuel tiveram
uma relação sexual em 2016. A sua relação terminou e depois ela e o Alvim tiveram sexo em 2018 e
acabaram. Em 2020, a Rosa e o Júnior mantiveram uma relação sexual.

A História do José – O José teve três parceiras sexuais - a Yumara, a Paula e a Rebeca - ao mesmo tempo
de 2016 a 2020. A Paula e a Rebeca também tinham outros parceiros sexuais durante esse tempo. A
Paula fazia sexo regularmente com o amigo Daniel e a Rebeca tinha outro parceiro, o Roberto.

Nenhum deles, o Suleimana, a Rosa e o José, vivia com HIV em 2016, quando começaram as relações
com os seus parceiros.

Embora muitas pessoas usem preservativos para se protegerem a si próprias e aos seus parceiros do
HIV, o Suleimana, a Rosa e o José não usaram preservativo com nenhum dos seus parceiros.

12. Adaptado de Promoting Partner Reduction – Helping Young People Understand and Avoid HIV Risks from Multiple Partnerships, 2012, FHI 360

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Quadro de Parceiros

Suleimana Rosa José

2016 Suleimana Rosa José

Manuel

2017

Rosa
2018

Alvim

2019

Rosa
Yumara Paula Rebeca
2020 Rita Júnior
Daniel Roberto

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Passo 2: Depois de ler as histórias, faça as seguintes perguntas às participantes:

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos faça as perguntas abaixo

• Quantos parceiros cada pessoa teve de 2016 a 2020?

• Uma forma comum de as pessoas pensarem no seu risco de contrair ITS, incluindo o HIV, é pensar no número de parceiros
que têm. Com as histórias que ouviram do Suleimana, da Rosa e do José, qual a pessoa com menos risco de contrair ITS,
incluindo o HIV, se nenhuma delas vivia com HIV antes de 2016? Porquê?

• É fácil acontecer a transmissão das ITS, incluindo o HIV entre os parceiros sexuais? Porquê?

• Quais são algumas das razões pelas quais as raparigas têm vários parceiros?

• E os rapazes?

• As razões são as mesmas, são diferentes? Porquê?

• É mais ou menos aceitável que as raparigas tenham vários parceiros do que os rapazes? Porquê?

• Como é que raparigas e rapazes escolhem os seus parceiros sexuais? O que levam em consideração para escolher com
quem vão manter relações sexuais?

• Os adolescentes e os adultos da vossa comunidade têm vários parceiros?

• Quais as suas razões para terem vários parceiros?

• São as mesmas ou diferentes?

• Ajude as participantes a reflectir sobre quantas pessoas do grupo teriam sido infectadas ou reinfectadas com ITS, incluindo
o HIV, caso esta brincadeira fosse uma realidade.

• Ajude as participantes a reflectir sobre o facto de que quando as pessoas têm múltiplos parceiros, todos acabam por estar
em relação uns com os outros.

• Porque é que as raparigas estão em maior risco de contrair ITS, incluindo o HIV?

• Como podem as raparigas motivar o uso consistente e correcto do preservativo com os seus parceiros sempre que
mantiverem relações sexuais?

• É a mesma coisa para raparigas e rapazes? Porquê ou porque não?

• Pergunte às participantes se podem indicar, pelo menos, três ITS?

• Pergunte às participantes “o que podemos aprender com este exercício?”

Maputo
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Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos faça as perguntas abaixo

• Quantos parceiros cada pessoa teve de 2016 a 2020?

• Uma forma comum de as pessoas pensarem no seu risco de contrair ITS, incluindo o HIV, é pensar no número de parceiros
que têm. Com as histórias que ouviram do Suleimana, da Rosa e do José, qual a pessoa com menos risco de contrair ITS,
incluindo o HIV, se nenhuma delas vivia com HIV antes de 2016? Porquê?

• É fácil acontecer a transmissão das ITS, incluindo o HIV entre os parceiros sexuais? Porquê?

• Quais são algumas das razões pelas quais as mulheres jovens têm vários parceiros?

• E os rapazes?

• As razões são as mesmas, são diferentes? Porquê?

• É mais ou menos aceitável que as mulheres tenham vários parceiros do que os homens? Porquê?

• Como é que mulheres e homens escolhem os seus parceiros sexuais? O que levam em consideração para escolher com
quem vão manter relações sexuais?

• As pessoas da vossa comunidade têm vários parceiros?

• Quais as suas razões para terem vários parceiros?

• São as mesmas ou diferentes?

• Ajude as participantes a reflectir sobre quantas pessoas do grupo teriam sido infectadas ou reinfectadas com ITS, incluindo
o HIV, caso esta brincadeira fosse uma realidade.

• Ajude as participantes a reflectir sobre o facto de que quando as pessoas têm múltiplos parceiros, todos acabam por estar
em relação uns com os outros.

• Porque é que as mulheres estão em maior risco de contrair ITS, incluindo o HIV?

• Como podem as mulheres motivar o uso consistente e correcto do preservativo com os seus parceiros sempre que
mantiverem relações sexuais?

• É a mesma coisa para mulheres e homens? Porquê ou porque não?

• Pergunte às participantes se podem indicar, pelo menos, três ITS?

• Pergunte às participantes “o que podemos aprender com este exercício?”

Passo 3: Encerre esta actividade clarificando alguns pontos que tenham suscitado dúvidas. Use as anotações no papel gigante e as
notas da Mentora para resumires a discussão.

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2017 51
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Notas para a Mentora

As pessoas que mantêm relações sexuais com mais de uma pessoa têm parceiros múltiplos.

Esclareça que o exercício acima mostra como pode ser rápida a dinâmica de infecção de ITS, incluindo o HIV entre
pessoas que fazem sexo com vários parceiros sexuais ao mesmo tempo sem usarem o preservativo.

Tanto nós como os nossos parceiros podem ter parceiros múltiplos e muitas vezes desconhecemos com quem os
nossos parceiros sexuais mantiveram ou mantém relações sexuais ao mesmo tempo, sem usarem o preservativo.

Muitas vezes as pessoas, adolescentes, jovens e adultas, têm vários parceiros na nossa comunidade. A melhor forma
de evitar as ITS, incluindo o HIV é adiar o início da actividade sexual. Mas se tivermos uma vida sexual activa, devemos
reduzir o número de parceiros sexuais que temos, como vimos na história do Suleimana e devemos usar o preservativo
em todas as relações sexuais para nos prevenirmos das ITS, incluindo o HIV. Esta é a melhor forma de te protegeres a
ti e aos outros. Quando temos muitos parceiros sexuais, não estamos só nós em risco de contrair ITS, incluindo o HIV,
estamos também a pôr os nossos parceiros em risco de contrair ITS, incluindo o HIV.

Também é importante tu e o teu parceiro fazerem o rastreio das ITS, incluindo o teste do HIV para saberem o vosso
estado de saúde e serológico na unidade sanitária mais próxima, numa consulta de ATS ou no SAAJ. Deve-se sempre
manter o uso correcto e consistente do preservativo em todas as relações sexuais mesmo que se esteja a tomar os
medicamentos anti-retrovirais.

Vimos que ter muitos parceiros aumenta muito o risco de contrair ITS, incluindo o HIV e transmitir as ITS, incluindo o
HIV para outras pessoas. É importante pensares se o teu comportamento ou o do teu parceiro aumentam o vosso risco
de contraírem ITS, incluindo o HIV e transmitirem a outras pessoas e o que é que vocês podem fazer para reduzirem
esse risco – como por exemplo reduzirem o número de parceiros que têm e usar o preservativo de forma consistente
e correcta em todas as relações sexuais.

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52 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 3: COMPORTAMENTOS DE RISCO13

Tempo: 40:00 min

Passo 1: Afixa as 4 folhas de papel gigante já preparadas com as frases MUITO RISCO, ALGUM RISCO, POUCO RISCO e SEM RISCO

Nota: Para esta actividade verifique a tabela Comportamentos de Risco para o debate durante a actividade.

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos faça a actividade abaixo

Passo 2: Diga às raparigas que vai dizer diferentes comportamentos listados abaixo e para cada comportamento as raparigas vão ter
de escolher qual é o risco desse comportamento para as ITS, incluindo o HIV e explicar porque é que fizeram essa escolha. Se tiver
tempo para debater sobre mais comportamentos use a tabela dos comportamentos de risco para mais ideias

• Partilhar agulhas para consumir drogas

• Ter sexo desprotegido

• Ter uma relação com alguém muito mais velho

• Beber álcool ou usar drogas

• Usar sempre e correctamente o preservativo em qualquer relação sexual

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos faça a actividade abaixo

Passo 3: Diga às mulheres jovens que vai dizer diferentes comportamentos listados abaixo e para cada comportamento as participantes
vão ter de escolher qual é o risco desse comportamento para as ITS, incluindo o HIV e explicar porque é que fizeram essa escolha. Se
tiver tempo para debater sobre mais comportamentos use a tabela dos comportamentos de risco para mais ideias.

• Partilhar agulhas para consumir drogas

• Ter sexo desprotegido

• Ter uma relação com alguém mais velho

• Beber álcool ou usar drogas

• Vender bebidas numa barraca

• Estar numa relação violenta (física, psicológica, sexual)

13. Adaptado de UNFPA, Advocates for Youth, UNESCO Lesson Plan – STI Transmission Part I and II
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2017 53
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Ir ao curandeiro e submeter-se a tratamentos que implicam cortes e saída de sangue sem condições de higiene e sanitárias

• Usar sempre e correctamente o preservativo em qualquer relação sexual

• Amamentar um filho sem saber o diagnóstico do HIV

• Ir para a praia, rio ou lago para nadar com alguém que vive com HIV

• Doar sangue

• Ter relações sexuais protegidas só com um parceiro e os dois fizeram o rastreio das ITS, incluindo o teste do HIV

Passo 4: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use a tabela dos comportamentos de risco e as notas da Mentora para resumires a discussão.

Notas para a Mentora


• O risco de nos infectarmos e infectarmos o nosso parceiro com ITS, incluindo o HIV, aumenta se tivermos
muitos parceiros sexuais ao longo do tempo e/ou se tivermos muitos parceiros sexuais ao mesmo tempo -
parceiro sexuais concorrentes.

• A sociedade deve encorajar os relacionamentos com apenas um parceiro sexual pois estes são mais seguros.

• O parceiro ideal é aquele que nos consegue satisfazer (emocional e sexualmente), e que ao proteger e cuidar
da sua saúde, garante também a nossa protecção e saúde.

• Nós devemos ser sempre responsáveis e evitarmos comportamentos de risco para a nossa saúde usando o
preservativo de forma correcta e em todas as relações sexuais, buscando os serviços de planeamento familiar
para aconselhamento, prevenção da gravidez não planeada e das ITS, incluindo o HIV, e conversando com o
parceiro sobre estes temas para que os dois possam fazer escolhas informadas e saudáveis.

• As ITS são transmitidas durante as relações sexuais, quando fazes sexo vaginal, anal ou oral. Algumas, como
o herpes genital e o papiloma vírus humano (HPV), também se transmitem por contacto pele com pele (sem
penetração necessariamente).

• A transmissão é facilitada se não usares preservativo e se tiveres vários parceiros sexuais ao longo do tempo,
mesmo que sejas fiel e tenhas apenas um/a parceiro/a de cada vez. Também é mais fácil contraíres uma ITS, por
exemplo HIV, se já tiveres outra, por exemplo sífilis.

Maputo
54 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Qualquer pessoa sexualmente activa, seja homem ou mulher, pode ser infectada por uma ou mais ITS. A
transmissão dá-se do homem para a mulher e da mulher para o homem.

• Podes ficar infectado/a com uma ITS se tiveres relações sexuais com alguém que esteja infectado.

• Quem tem um único parceiro sexual, ao longo de toda a vida, poderá ter uma ITS se esse parceiro tiver
relações sexuais com outra(s) pessoa(s) e se infectar.

• As infecções sexualmente transmissíveis são frequentes e constituem um problema de saúde pública, pelas
doenças que provocam e pelas complicações que podem causar.

• A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que no mundo, em cada ano, mais de 250 milhões de
pessoas adquirem uma nova ITS.

• As RAMJ têm risco elevado de contrair infecções sexualmente transmissíveis por várias razões:

• Devido à imaturidade do seu corpo, têm maior susceptibilidade para adquirir ITS, sobretudo as mulheres
jovens;

• Muitas têm dificuldade em aceder aos serviços de saúde, em expôr as suas queixas ou dúvidas aos/às
técnicos/as de saúde por medo ou receio de estigmatização ou quebra de confidencialidade, ou mesmo
porque não têm recursos para ir a uma consulta;

• Algumas RAMJ têm vários parceiros/as sexuais e muitos/as não usam o preservativo.

• Algumas destas ITS, se não forem tratadas a tempo, podem provocar doenças ou complicações graves:
cancro do colo do útero, do pénis ou do ânus, doença inflamatória pélvica (DIP), infertilidade, orquite
(doença dos testículos), entre outras.

• Nas mulheres grávidas, algumas ITS podem passar para o bebé durante a gravidez e provocar malformações
graves, aborto, parto prematuro ou doença no recém-nascido.

• O diagnóstico e tratamento no início da infecção são fundamentais para a cura sem complicações.

• As infecções sexualmente transmissíveis não se curam sem tratamento, por isso, deves procurar a ajuda
de um técnico de saúde numa unidade sanitária ou SAAJ se pensas que estás infectada. As análises para o
diagnóstico ou rastreio das ITS são fáceis, seguras e confidenciais.

• À excepção do herpes genital, das verrugas genitais (ou condilomas) e da infecção pelo HIV (vírus do SIDA),
a maioria das ITS é facilmente curada com injecções ou comprimidos.

Maputo
2017 55
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

COMPORTAMENTOS DE RISCO
MUITO RISCO ALGUM RISCO POUCO RISCO SEM RISCO

Fazer sexo vaginal, anal ou oral


Beber álcool ou usar drogas numa
com preservativo desde que se
Partilha de agulhas para injectar festa que pode reduzir a capacidade Abstinência de todos os tipos de
use sempre e correctamente o
drogas porque o sangue que da pessoa tomar decisões e aumenta sexo e drogas, levando à ausência de
preservativo em todas as relações
fica na agulha entra no corpo da a probabilidade da pessoa se comportamentos de risco que possam
sexuais para não permitir a
outra pessoa envolver em comportamentos transmitir as ITS, incluindo o HIV.
passagem das ITS, incluindo o
sexuais de risco
HIV

Ter relações sexuais protegidas


apenas com o mesmo parceiro
Ter sexo vaginal ou anal sem
e ambas as pessoas rastrearam
preservativo porque estes dois Ter sexo oral sem preservativo
ITS e fizerem o teste do HIV.
comportamentos são mais permite que o sémen ou os fluídos
Quanto menos parceiros sexuais,
arriscados devido à presença vaginais do parceiro entrem na boca Estar com alguém que está a chorar, a tossir ou
menos hipóteses há de ser
de sémen, fluídos vaginais, do parceiro que está a dar o sexo a espirrar, não transmite ITS, incluindo o HIV
exposto a alguém infectado com
possivelmente sangue, e a oral. A mucosa que reveste a boca e
ITS, incluindo o HIV. Também
mucosa dentro da vagina e do pode rasgar facilmente
é importante que os dois
ânus que pode rasgar facilmente
parceiros façam o rastreio das ITS,
incluindo o teste do HIV

Ter uma relação com alguém


Amamentação de uma mãe com muito mais velho que já teve vários
HIV que não foi diagnosticada parceiros sexuais e tem uma posição Doação de sangue, porque a unidade sanitária
ou que não está em tratamento, de poder sobre o parceiro jovem que testa o sangue antes de usar para outros
uma vez que o leite materno pode não conseguir negociar o uso utentes
pode transmitir o HIV do preservativo com o parceiro mais
velho

Partilhar uma escova de dentes


porque pode haver sangue que fica
Picada de mosquito porque as ITS, incluindo
na escova de dentes e que pode ser
o HIV não se transmitem pelos insectos
transmitido para a boca de outra
pessoa

Fazer piercing ou tatuagens com


Abrir portas, sentar na sanita, comer em
uma agulha já utilizada por causa
pratos, porque o vírus do HIV não vive fora
do sangue que pode estar presente
do corpo
na agulha usada

Ir para a escola com uma pessoa que vive


com HIV, porque não há nenhum risco em
conviver com pessoas que vivem com HIV

Apertar a mão a alguém que vive com HIV,


porque não há nenhum risco em conviver
com pessoas que vivem com HIV

Ir para a praia, para o rio ou para o lago para


nadar com alguém que vive com HIV, porque
não há nenhum risco em conviver com
pessoas que vivem com HIV

Maputo
56 2017
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ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 duas raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

Maputo
2017 57
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SESSÃO 5: PREVENÇÃO DO HIV

Maputo
58 2017
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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para
apoiar na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
Abordar crenças, valores e atitudes relacionadas ao HIV

Providenciar informação básica sobre HIV

Definir risco substancial de HIV na comunidade

Identificar os determinantes de vulnerabilidade das raparigas e mulheres jovens à infecção pelo HIV

Desenvolver habilidades para negociar o uso eficaz do preservativo

Identificar formas eficazes de prevenção de HIV

Tempo: 2:30 h

Materiais: Marcadores, papel gigante

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

Maputo
2017 59
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ACTIVIDADE 2: MEIOS DE TRANSMISSÃO E PREVENÇÃO DO HIV e SIDA E ATITUDES


E CRENÇAS EM RELAÇÃO AO HIV

Tempo: 40:00 min

Em plenária:

Passo 1: Inicie pedindo às participantes que partilhem os conhecimentos que têm sobre o HIV e a SIDA. Prossiga e pergunte qual a
diferença entre HIV e a SIDA. Divida o papel gigante em três colunas e anote na primeira coluna as ideias das participantes sobre HIV e
na segunda coluna as ideias sobre SIDA. Depois pergunte sobre quais são as crenças, atitudes e mitos sobre o HIV na sua comunidade.
Aponte na terceira coluna no papel gigante.

Passo 2: Na base das ideias apresentadas pelas participantes esclareça as diferenças entre HIV e SIDA e apresente as informações
correctas sobre as crenças, atitudes e mitos da comunidade sobre o HIV e SIDA.

Em grupos:

Passo 1: Peça às participantes para se dividirem em 2 grupos e discutirem sobre os meios que conhecem de transmissão do HIV e
aqueles através dos quais não podemos nos contaminar pelo HIV.

Passo 2: Solicite que os grupos apresentem as suas opiniões. Inicie com as vias de transmissão e só depois as vias através das quais
não pode haver transmissão. Tome nota no papel gigante, colocando do lado direito as vias de transmissão e do lado esquerdo as vias
que não levam à transmissão pelo HIV.

Passo 3: Elimine do papel gigante as ideias menos correctas sobre as vias de transmissão do HIV e faça os esclarecimentos devidos.
Use as notas da Mentora para reforçar as principais mensagens sobre o assunto

Passo 4: Com base nas anotações feitas no papel gigante sobre as vias de transmissão do HIV, peça que as participantes indiquem
quais são as formas de prevenção do HIV que conhecem e anote no papel gigante.

Passo 5: Elimine do papel gigante as ideias menos correctas sobre as formas de prevenção do HIV e faça os esclarecimentos devidos.
Use as notas da Mentora para reforçar as principais mensagens sobre o assunto.

Passo 6: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

Maputo
60 2017
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Notas para a Mentora

Como se transmite o HIV:


O HIV pode ser transmitido através da transfusão de sangue contaminado, partilha de objectos perfuro-cortantes não
esterilizados, relações sexuais desprotegidas, e de mãe que vive com HIV para o seu filho durante a gravidez, parto e
amamentação. O HIV não se transmite através da picada do mosquito, convívio com pessoas que vivem com o HIV ou
com doentes de SIDA, por aperto de mão ou abraço, partilha do mesmo sabonete, partilha de comida ou na sala de aulas.
Existem alguns factores que colocam as raparigas e mulheres jovens em risco de contrair o HIV tais como:
• Não usar o preservativo nas relações sexuais
• Ter vários parceiros sexuais
• Falta de informação sobre as formas de prevenção do HIV
• A falta de comunicação com o parceiro sobre a importância do uso do preservativo nas relações sexuais
Sendo assim é importante:
• Pensar nas escolhas que fazemos e nas consequências dessas escolhas
• Usar o preservativo correctamente em todas as relações sexuais e com todos os parceiros
• Evitar ter mais do que um parceiro sexual ao mesmo tempo
• Fazer o teste de HIV para saberes o teu estado serológico
• Evitar o uso e partilha de seringas, lâminas e outros objectos cortantes não esterilizados

Quais são as formas de prevenção do HIV:

• Podemo-nos prevenir do HIV através do uso correcto e consistente do preservativo, evitando ter mais de um
parceiro sexual ao mesmo tempo, evitando o uso e partilha de seringas, lâminas e outros objectos cortantes
não esterilizados. Podemos ainda nos prevenir do HIV através da fidelidade se o casal não tiver HIV, abstinência,
e fazendo a circuncisão médica masculina voluntária (CMMV) e usando consistentemente o preservativo.

• A circuncisão médica masculina voluntária também é uma forma de fazer a prevenção do HIV. A CMMV é a
retirada do prepúcio que é a pele cobre a cabeça do pénis. A retirada do prepúcio ajuda a manter a limpeza do
pénis, evita o mau cheiro e ajuda a prevenir de doenças, principalmente as doenças transmitidas através das
relações sexuais. A CMMV é aquela que é feita numa unidade sanitária por um técnico de saúde treinado para
o efeito. Todos os homens a partir dos 14 anos podem fazer a CMMV. É importante lembrar que a circuncisão
masculina não dá protecção total e o homem circuncisado deve usar sempre o preservativo!

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Os serviços de prevenção e tratamento do HIV são:

• O tratamento anti-retroviral (TARV) é a terapia com medicamentos anti-retrovirais usada para o


tratamento do HIV e serve para manter a pessoa infectada pelo HIV saudável e para prevenir que a
mesma transmita o HIV a outros

• A prevenção da transmissão do HIV de uma mulher grávida e vivendo com HIV para o seu filho (PTV),
é o tratamento com medicamentos anti-retrovirais durante a gravidez, o trabalho de parto, o parto e a
amamentação

• A profilaxia pré-exposição, mais conhecida como PrEP, é uma estratégia de se utilizar medicamentos
anti-retrovirais por via oral para situações de risco de contracção do HIV.
Consulte a sessão 7 sobre PrEP para mais informações.
Deve-se sempre manter o uso correcto e consistente do preservativo mesmo que se faça a CMMV ou que se esteja
a tomar medicamentos anti-retrovirais para o TARV, a PTV ou a PrEP.
Procura a unidade sanitária ou os serviços de saúde específicos para adolescentes e jovens (SAAJ) sempre que
precisares de ajuda!

Maputo
62 2017
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ACTIVIDADE 3: DEFININDO RISCO SUBSTANCIAL E DETERMINANTES DE


VULNERABILIDADE EM RAPARIGAS E MULHERES JOVENS AO HIV

Tempo: 40:00 min

Em plenária:
Passo 1: Pergunte às participantes se já ouviram falar sobre risco para o HIV. Pergunte se viver numa comunidade onde há transmissão
do HIV é suficiente para que todos se venham a infectar. Divida o papel gigante ao meio e anote do lado esquerdo as ideias das
participantes sobre SIM e do lado direito as ideias sobre NÃO.

Passo 2: Na base das ideais apresentadas pelas participantes esclareça o que conceito de RISCO INDIVIDUAL de transmissão do HIV e
os diferentes níveis de risco.

Defina o que é risco substancial de HIV: O risco elevado de infecção por HIV é definido pela incidência do HIV de 3 em cada 100
pessoas num ano. Quando a incidência do HIV for mais do que 3 em 100 pessoas num ano em alguns grupos da população, isto tem
impacto no risco individual de contracção do HIV. Alguns grupos com risco elevado de infecção são mulheres trabalhadoras de sexo,
e homens e mulheres heterossexuais que têm parceiros sexuais com infecção por HIV não diagnosticada ou tratada. Ou seja, alguns
grupos da população, estão em maior risco de contrair HIV do que outros e isto pode fazer com que o risco individual das pessoas
nestes grupos também aumente.

O risco individual varia dentro dos grupos de risco substancial, dependendo do comportamento individual e das características dos
parceiros sexuais. Por exemplo, uma mulher que esteja numa relação com um parceiro que tem HIV sem saber pode reduzir o seu
risco de contrair o HIV com este parceiro se o casal usar sempre e correctamente o preservativo em todas as relações sexuais que
tiverem.

Em grupos:
Passo 3: Peça às participantes para se dividirem em 2 grupos e discutirem entre si sobre quais grupos definiriam como de risco
elevado na sua comunidade? Porquê?

Passo 4: Solicite que algumas participantes dos 2 grupos apresentem as suas opiniões. Tome nota no papel gigante, colocando do
lado direito as ideias de um grupo e do lado esquerdo as ideias do outro grupo.

Passo 5: Faça o mesmo exercício olhando para as raparigas e mulheres jovens como um grupo de elevado risco na comunidade e
discuta de acordo com o contexto local o porquê de serem um grupo de alto risco para o HIV.

Passo 6. Na base das anotações feitas no papel gigante convide as participantes a comentar, perguntando se alguém tem uma
opinião diferente, gostaria de acrescentar algo ou precisa de algum esclarecimento.

Maputo
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Passo 7: Elimine do papel gigante as ideias menos correctas sobre grupos de elevado risco para o HIV e faça os esclarecimentos
devidos. Use as notas da Mentora para reforçar as principais mensagens sobre o assunto.

Passo 8: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelos participantes e apresentando uma visão
geral sobre a situação de Moçambique, conforme a informação que tem nas notas da Mentora. Esclareça alguns pontos que tenham
deixado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

Notas para a Mentora


A violência de género, especialmente a violência sexual e de parceiro íntimo, é generalizada, aumentando muito o risco
de contrair o HIV. Em alguns contextos, até 45% das adolescentes relatam que sua primeira experiência sexual foi forçada.
Em todo o mundo, apenas 3 em cada 10 meninas adolescentes e mulheres jovens de 15 a 24 anos têm conhecimento
abrangente e claro sobre o HIV e outras questões de saúde sexual e reprodutiva. Os serviços de SSR e HIV geralmente não
atendem às preocupações e necessidades das raparigas adolescentes e mulheres jovens, especialmente para aquelas que
não são casadas.

A falta de direitos legais reforça a condição de subordinação das mulheres, incluindo o direito de se divorciar, possuir e
herdar propriedade, processar e testemunhar em tribunal e abrir contas bancárias. Restrições culturais e / ou estigma contra
as raparigas adolescentes e mulheres jovens por serem sexualmente activa fora do casamento podem afectar a demanda
pelos e o acesso aos serviços de SSR e HIV para as raparigas adolescentes e as mulheres jovens.

Moçambique continua a registar altos índices de novas infecções de HIV, sendo que a última estimativa (Spectrum, 2020),
é de cerca de 130 mil novas infecções ocorridas em 2019 com uma predominância destas entre o grupo de raparigas
adolescentes e mulheres jovens. Os homens, principalmente mais velhos que as raparigas adolescentes e as mulheres
jovens, são a maior fonte de novas infecções.

Existe uma diferenciação geográfica importante, porque alguns distritos e províncias do país têm mais casos de novas
infecções do que outros. Por outro lado, dentro das populações-chave como os mineiros e os trabalhadores de alta
mobilidade continuam a verificar-se novas infecções. Outro grupo importante de novas infecções tem sido a transmissão
vertical (de mãe para filho), em que apesar de se terem alcançado altas coberturas de testagem e acesso ao TARV para as
mulheres grávidas, a prevalência de transmissão vertical ainda continua alta, estimada em 15%.

Para o controlo da epidemia em Moçambique é importante continuar a identificar os grupos de novas infecções pelo HIV
e adequar estratégias de resposta focalizadas. Mesmo apesar de Moçambique enfrentar uma epidemia generalizada, estão
identificados os grupos populacionais bem como as regiões geográficas que mais contribuem com novas infecções no país,
nomeadamente: raparigas adolescentes e mulheres jovens (15 – 24 anos), os homens entre 15 e 29 anos, populações de
alta mobilidade e populações-chave, com destaque para as mulheres trabalhadoras de sexo. A elevada taxa de transmissão
vertical no país também se apresenta como um desafio a ser priorizado como forma de reduzir novas infecções pediátricas
pelo HIV. Em termos de contribuição geográfica, as Províncias de Maputo, Nampula e Zambézia são aquelas que contribuem
com maior número de novas infecções, cerca de 56% de novas infecções em 2019 (Spectrum, 2020).

Maputo
64 2017
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ACTIVIDADE 4: PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV

Tempo: 20:00 min

Passo 1: Sessão de chuva de ideias. Reveja a discussão sobre como o HIV é transmitido de uma pessoa para outra. Peça às participantes
para relembrarem rapidamente como o HIV é transmitido:

Lembre-se de que o HIV é transmitido de uma pessoa seropositiva para outra seronegativa.

Só pode transmitir o HIV se os fluídos corporais (sémen, sangue, fluídos vaginais, fluídos anais e leite materno) entrem no corpo da
pessoa seronegativa.

O HIV é transmitido por meio de:

• Relações sexuais desprotegidas com uma pessoa infectada pelo HIV

• Transfusão de sangue infectado

• Através da transmissão de mãe para filho (durante a gravidez, parto e através do leite materno)

• Através da partilha de objectos pontiagudos contaminados (agulhas, lâminas de barbear, etc.)

Passo 2: Peça às participantes para lhe dizerem como se podem se proteger do HIV ou de infectar ou reinfectar outra pessoa. As
participantes devem mencionar:

• Evitar comportamentos sexuais de risco

• Reduzir o risco de contaminação: ser fiel ao parceiro, praticar sexo seguro/dupla protecção, uso correcto e consistente do
preservativo, evitar a partilha de objectos contaminados

• Use as notas da Mentora das Actividades 2 e 3 desta sessão para apoiar a discussão desta actividade.

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2017 65
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ACTIVIDADE 5: ACESSO, NEGOCIAÇÃO E USO CONSISTENTE DO PRESERVATIVO

Tempo: 40:00 min

Passo 1: Faça as seguintes perguntas às participantes:

• Quais são as barreiras que impedem as raparigas adolescentes de negociar o sexo seguro com os seus parceiros (usar o
preservativo nas relações sexuais)? E os rapazes adolescentes?

• Quando os parceiros são mais velhos há alguma diferença na negociação do uso do preservativo? O que é que as raparigas
e mulheres podem fazer para negociarem o sexo seguro com parceiros mais velhos?

• Como é que as normas de género podem impedir as conversas abertas sobre sexo e uso de preservativo?

• Como é que as normas de “ser mulher” impedem uma mulher jovem ter controle sobre a sua própria sexualidade?

• Quais são as desculpas que os parceiros costumam usar para evitar o uso do preservativo?

• Que vantagens as raparigas adolescentes têm em negociar o sexo seguro com o/a seu/sua parceiro/a?

Passo 2: Caso as participantes tenham dificuldades em mencionar as barreiras para usar o preservativo, a Mentora poderá ajudar
referindo algumas barreiras abaixo para estimular o debate:

• Confiança no parceiro sexual

• Acreditar que o preservativo deve ser usado apenas nas relações ocasionais

• A ideia de que o preservativo diminui o prazer sexual, não permitindo a satisfação sexual

• Porque o parceiro é tão bonito que não se pode usar preservativo com ele

• A existência de homens que simplesmente não aceitam usar o preservativo quando as suas parceiras pedem

• Falta de comunicação entre o casal

Passo 3: Em pares, as participantes vão escolher algumas das barreiras enfrentadas e/ou as desculpas usadas pelos parceiros que
impedem o uso do preservativo. Os pares vão usar papel gigante para listar respostas/estratégias para lidar com essas situações.
Depois de 15 minutos, pede que cada grupo apresente as suas estratégias ao grupo geral.

Passo 4: Estimule as participantes a pensarem nas suas especificidades como raparigas adolescentes e jovens e a relação disso com a
possibilidade de enfrentarem a situação de negação do uso do preservativo com seus parceiros.

Maputo
66 2017
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• O que se pode fazer para mudar a situação ou reduzir o risco de não usar o preservativo?

• Os rapazes e as raparigas têm o mesmo direito e dever de exigir o uso do preservativo, independente da idade que o seu
parceiro tiver. Não deixes que o teu parceiro/a decida sobre a tua saúde.

• O que aprendemos deste exercício?

Passo 5: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

Nota para a Mentora


É importante a adesão e retenção em todos os cuidados e tratamentos do HIV. Quando se cumprem todos os cuidados e
tratamentos do HIV e se faz a toma dos ARV todos os dias sem falhar é possível controlar a carga viral.

A carga viral é a quantidade do vírus do HIV no sangue. Quando a quantidade do vírus no sangue é tão pequena que não
é detectável, elimina a probabilidade de uma pessoa seropositiva infectar outra a pessosa seronegativa com o HIV. Esta é
uma forma de se minimizar a possibilidade de transmissão do vírus. É importante lembrar, que mesmo com a manutenção
da carga viral indetectável deve-se sempre usar sempre o preservativo em todas as relações sexuais!

Existem outras estratégias para a prevenção do HIV:

Profilaxia Pós-Exposição – conhecida também por PPE, é uma forma de prevenção da infecção pelo HIV por meio do uso
de medicamentos ARV utilizados no tratamento do HIV, para pessoas que possam ter entrado em contacto com o vírus
recentemente pelo sexo desprotegido. Esses medicamentos precisam ser tomados por 28 dias, sem interrupção, para
impedir a infecção pelo vírus, sempre com orientação de um técnico de saúde. Quem faz a PPE deve complementar a sua
prevenção à infecção pelo HIV com o uso do preservativo sempre que tiver uma relação sexual!

Profilaxia Pré-Exposição – mais conhecida como PrEP, é uma estratégia de se utilizar medicamentos anti-retrovirais por via
oral para situações de risco de contracção do HIV. Quem toma a PrEP deve complementar a sua prevenção à infecção pelo
HIV com o uso do preservativo sempre que tiver uma relação sexual!

Consulte a sessão 7 sobre PrEP para mais informações.

Circuncisão masculina médica voluntária – é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção do prepúcio (a pele que
cobre a glande/cabeça do pénis). É importante lembrar, que a circuncisão masculina não dá protecção total e também o
homem circuncisado deve usar sempre o preservativo em todas as relações sexuais!

Para garantir a máxima eficácia da prevenção do HIV através das opções listadas acima é importante garantir que nunca
se falha a adesão ao método de prevenção escolhido, nem se falha todas as visitas aos serviços de saúde para controle e
seguimento do método de prevenção escolhido. E nunca falhar o uso correcto do preservativo em todas as relações sexuais.

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2017 67
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ACTIVIDADE 6: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite duas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

Maputo
68 2017
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SESSÃO 6: HIV E EDUCAÇÃO PARA O TRATAMENTO

Maputo
2017 69
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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar na
preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
Reflectir sobre a importância do Aconselhamento e Testagem em Saúde (ATS)

Discutir e estimular a revelação do estado serológico

Reflectir sobre as barreiras que dificultam a revelação do estado serológico

Estimular a ligação aos cuidados e tratamento

Tempo: 1:35 h

Materiais: Marcadores, papel gigante

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se um
colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhe chamou a atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

Maputo
70 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Nota para a Mentora


Para esta actividade a Mentora deve lembrar às participantes que não se devem sentir pressionadas para revelar nenhuma
informação pessoal sobre a saúde, nem o seu estado serológico.

A Mentora deve ainda lembrar às participantes que não devem revelar informações sobre as suas famílias e/ou outras
pessoas das suas comunidades para manterem a privacidade dessas pessoas.

ACTIVIDADE 2: TESTAGEM E REVELAÇÃO DO ESTADO SEROLÓGICO

Tempo: 1:00 h

Em plenária:

Passo 1: Comece por perguntar às participantes se alguém das presentes já foi a uma consulta de ATS. Na base das respostas das
participantes procure saber:

• Que serviços são oferecidos numa consulta de ATS?

• O que são os Serviços Amigos dos Adolescentes e Jovens (SAAJ) e como se pode aceder a estes serviços?

• Devemos pagar alguma coisa numa consulta de ATS? Qual A importância de irmos a uma consulta de ATS?

• Qual a importância e vantagens de fazermos o teste de HIV numa consulta de ATS?

• Onde podemos fazer uma consulta de ATS e o teste de HIV aqui na nossa comunidade?

• Caso o resultado seja negativo que devemos fazer?

• E se o resultado for positivo?

• Será que devemos revelar o nosso resultado à nossa família/aos nossos cuidadores?

• Devemos revelar o nosso resultado ao nosso parceiro/a? E se tivermos mais de um parceiro sexual que devemos fazer caso
nosso resultado seja positivo?

Maputo
2017 71
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Que barreiras enfrentam as raparigas adolescentes e mulheres jovens para revelarem o seu estado serológico, sobretudo
se forem seropositivas? E os rapazes?

• Caso sejamos seropositivos quais as vantagens de revelar o nosso estado serológico à nossa família/aos nossos cuidadores?

• Caso sejamos seropositivos quais as vantagens de revelar o nosso estado serológico ao nosso parceiro/a?

Passo 2: Termine fazendo um resumo da discussão reforçando as ideias principais das participantes. Recorra às notas da Mentora que
estão depois da actividade 3 desta sessão para enriquecer o resumo.

ACTIVIDADE 3: ACONSELHAMENTO E TESTAGEM EM SAÚDE14

Tempo: 40:00 min

Passo 1:

• Peça que uma dupla de voluntárias que faça um teatro que conta a história de uma rapariga de 16 anos que começou
a namorar um jovem de 23 anos e apesar de gostar muito dele teme que ele possa ter sido exposto ao HIV em outros
relacionamentos. Ela partilha com ele que gostaria que ambos fizessem o teste pois a qualquer altura podem acabar tendo
contacto sexual, mas ele diz ainda não se sentir preparado. Mas após reflectir algumas semanas sobre o assunto e sem ter
falado com mais ninguém, ela decide fazer o teste do HIV à mesma. A rapariga vai à unidade sanitária para fazer o teste do
HIV e é atendida no SAAJ por um técnico de saúde. O técnico de saúde explica que o resultado do teste não demora porque
é um teste de diagnóstico rápido. Depois de fazer o teste o técnico de saúde informa que o teste da rapariga deu positivo
para o HIV. Esta foi a primeira vez que a rapariga foi à unidade sanitária.

• Depois do grupo apresentar o teatro as participantes devem comentar sobre o teatro, a forma como as raparigas se
exprimiram durante o teatro, a sua postura, a atitude do técnico de saúde.

• Em seguida pergunte ao grupo:

• Sobre a rapariga: o que fez com que ela procurasse o serviço de saúde para fazer o teste? Quanto tempo levou para decidir?
Como ela vai encarar o resultado? O que ela espera do serviço de saúde? Como é que ela se está a sentir? Com medo?
Confiante? Porquê? Ela conversou com alguém sobre isto? A sua família sabe o que ela foi fazer à unidade sanitária?

• Sobre o profissional: por que trabalha naquele serviço? Gosta do que faz? O que ela/e pensa da rapariga que pede o teste
de HIV? Ela/e está a atender bem a rapariga?

14. Adaptado de Agente M: Promovendo saúde e equidade de gênero entre adolescentes e jovens / Silvani Arruda : Ilustrações de Renato Cafuzo. – Rio de Janeiro: Instituto
Promundo/ AstraZeneca, 2014

Maputo
72 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Depois deste debate, peça que outra dupla de voluntárias faça o mesmo teatro, mas, desta vez, no momento da entrega do
resultado do teste o resultado é negativo. A rapariga suspira de alívio e o técnico de saúde aconselha sobre o que deve fazer
para se manter negativa e que ainda assim deverá voltar a testar 3 meses depois, porque a rapariga pode estar no período
de janela, e que o seu parceiro também deve ir à unidade sanitária para fazer o teste do HIV.

• Terminado o teatro, passe para o debate, a partir das perguntas:

• Na nossa comunidade, onde podemos fazer teste e aconselhamento do HIV? Existem serviços específicos para adolescentes
e jovens?

• Qual é a importância de fazer regularmente o teste?

• Quais são as barreiras que uma rapariga pode enfrentar para fazer o teste? Procura saber as barreiras sociais, as barreiras
familiares, as barreiras na unidade sanitária, e as barreiras dentro do casal.

• Existe uma ligação entre o HIV, género e sexualidade?

• O que uma pessoa sente ao descobrir que tem o HIV?

• O que uma pessoa sente ao descobrir que não tem o HIV?

• Se o teste tivesse sido positivo, qual seria a primeira pessoa a abordar ao saber que vive com o HIV?

• O que aprendemos durante esta actividade? Existe algo que poderia ser aplicado nas nossas próprias vidas e relacionamentos?

Maputo
2017 73
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Notas para a Mentora

Os serviços de ATS são gratuitos nas unidades sanitárias e permitem ao utente saber mais sobre a sua saúde
incluindo a possibilidade de fazer o teste de HIV. Algumas organizações que trabalham na área de saúde em
parceria com as unidades sanitárias oferecem serviços de ATS gratuitamente nas comunidades através de brigadas
móveis. Independentemente do resultado do teste de HIV, é sempre importante informamos a nossa família/aos
nossos cuidadores para termos uma rede de apoio que nos acompanha. Se tivermos um parceiro, devemos sempre
informar qual o nosso estado serológico, sobretudo se for positivo, pois é importante que ele/a também faça o teste
para que saiba qual o seu estado serológico. O mesmo deve ser feito caso tenhamos mais de um parceiro sexual
num mesmo período.

Os SAAJ são os Serviços Amigos do Adolescente e Jovem. É um serviço de saúde com as atenções viradas para os
adolescentes e jovens. Nos SAAJ são oferecidos os seguintes serviços:

• Saúde sexual e reprodutiva do adolescente e jovem;

• Prevenção e tratamento para o HIV

• Componente de nutrição;

• Componente de higiene e saneamento do meio;

• Componente de saúde mental.

Algumas unidades sanitárias têm os SAAJ específicos e outras têm os SAAJ integrados nas consultas de ATS.

O teste não deve ser feito apenas por um dos parceiros, ou simplesmente pela mulher. O homem deve também
fazer o teste juntamente com a sua parceira. Se ambos souberem qual o seu estado serológico, juntos podem tomar
as melhores decisões sobre o futuro com apoio de um profissional de saúde.

Maputo
74 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora


O estado serológico é uma informação confidencial e privada, ao abrigo da Lei de Protecção da Pessoa, do Trabalhador e
do Candidato a Emprego Vivendo com HIV (Lei nº19/2014) de 27 de Agosto de 2014. A rapariga pode decidir não revelar
o seu estado serológico, mas se decidir revelar, a/s pessoa/s a quem a rapariga decidir revelar, esta/s pessoa/s também
devem manter esta informação confidencial e privada. Apenas a rapariga seropositiva pode revelar o seu estado aos
outros, se esta for a sua vontade.

Se a revelação do estado serológico levar o parceiro a ter uma reacção agressiva/violenta ao receber essa informação
a rapariga deve procurar os seguintes apoios na sua comunidade: unidades sanitárias (algumas unidades sanitárias
também têm um Centro de Atendimento Integrado (CAI) para o atendimento às vítimas de violência sexual), polícia,
Gabinetes de Atendimento à Mulher e à Criança Vítimas de Violência, Comités Comunitários de Protecção da Criança,
Agentes Polivalentes Elementares (APE), Comités de Saúde, Conselhos de Escola, Instituto de Patrocínio e Assistência
Jurídica (IPAJ), Procuradoria Provincial ou Distrital, líderes comunitários, religiosos, anciãos e outros líderes locais. Em
algumas comunidades existem também organizações e iniciativas comunitárias que apoiam e protegem as vítimas de
violência baseada no género.

Pode-se ainda ligar para o número 116 – a Linha Fala Criança, que é grátis para qualquer rede, para denunciar abusos e
violência contra a criança.

A violência nunca é a solução para os problemas. Alguns homens tiveram uma educação baseada em modelos prejudiciais
de submissão da mulher e que os motiva a praticar a violência baseada no género. Isto não é correcto. Caso sejam vítimas
de violência baseada no género ou conheçam alguém que tenha sido, não fiquem caladas, denunciem o agressor.

É importante que as vítimas e os seus familiares procurem apoio com os vários actores comunitários, nos vários locais e
nos serviços disponíveis de apoio em situações de violência baseada no género nas suas comunidades.

É muito importante reforçar que a violência nunca é culpa da vítima! Não importa o que uma pessoa faça, como se veste,
que idade tem, se está sobre a influência do álcool ou drogas, se está sozinha, se tem muitos parceiros, o seu estado de
saúde, etc, se a pessoa for vítima de violência NUNCA é sua culpa. A responsabilidade é SEMPRE da pessoa que cometeu
o acto de violência/do agressor.

Devido à natureza desta actividade, as raparigas também podem revelar questões sensíveis às Mentoras, incluindo
revelações de violência - isso requer acompanhamento activo como descrito no folheto de apoio a este guião sobre como
as Mentoras podem apoiar as raparigas em situações de risco. As Mentoras devem agir para ajudar com as necessidades
das raparigas que denunciem abusos; incluindo ajudá-las a obter serviços quando apropriado. Recomendamos que
as Mentoras tenham disponível uma lista de referências / recursos para: polícia, assistência jurídica, serviços de saúde
incluindo saúde mental, serviços de planeamento familiar, e outros serviços de apoio psicossociais, incluindo atendimento
pós-violência (por favor vejam as opções de apoio listadas acima). Também é muito importante que a Mentora avalie
o contexto em que está a trabalhar para saber quais são os pontos de apoio seguros na sua comunidade para casos
sensíveis como a violência baseada no género.

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2017 75
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ACTIVIDADE 4: ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-RETROVIRAL15

Tempo: 1:00 h

Em plenária:

Passo 1: Coloque a seguinte pergunta ao grupo:

• Quem pode nos esclarecer o que entendemos por TARV?

• O que significa para vocês a adesão ao TARV?

Passo 2: Resuma as diferentes opiniões das participantes. Reforce algumas ideias e não deixe de gentilmente clarificar algumas
formulações menos correctas. Sublinhe que: em Moçambique todos os adultos, adolescentes e crianças que vivem com HIV são
iniciados no tratamento anti-retroviral (TARV) universal, independente do seu estado de saúde e contagem de CD4. Os anti-retrovirais
(ARV) impedem o vírus do HIV de se multiplicar e prejudicar o nosso sistema imunitário.

O HIV infecta certas células (CD4) que fazem parte do sistema imunitário do organismo. À medida que mais células são infectadas e
morrem, o sistema imunitário torna-se menos capaz de lutar contra as doenças. A contagem de CD4 é um teste que faz a contagem
da quantidade de células CD4 que estão presentes no sangue.

Adesão ao TARV significa que o paciente deve tomar a sua medicação respeitando as recomendações do técnico de saúde – todos
os dias, sem interrupção e para toda a vida. Muitas vezes quando falamos de adesão falamos do tratamento anti-retroviral, mas a
adesão também se aplica a outros medicamentos que são prescritos pelo técnico de saúde na unidade sanitária. A adesão e retenção
ao TARV quer dizer que o utente e a comunidade aceitam este cuidado e tratamento do HIV e SIDA e que cumprem com todas as
visitas para as consultas na unidade sanitária, com a toma dos medicamentos prescritos e seguimento de todas as recomendações
recebidas pelo técnico de saúde.

Passo 3: Divida as participantes em 5 grupos. Distribua papel gigante e marcadores. Cada grupo responde a duas questões (ex. grupo
1 responde as duas primeiras questões, e assim sucessivamente para os outros grupos e questões). Indique as questões para cada
grupo. Leia as questões para que os grupos possam anotar.

Clarifique que terão 20 min para discussão e síntese nos pequenos grupos e cada apresentação irá durar 10 minutos (5 para
apresentação e os restantes 5 para resposta a possíveis perguntas).

15. Informação Essencial sobre Cuidados e Tratamento de Hiv & Direitos Das PVHIV, Junho de 2020. MISAU, NAMATI Moçambique

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Questões para discussão:

• Que barreiras dificultam a adesão das adolescentes e mulheres jovens ao TARV?

• Que factores ajudam a adesão ao TARV por parte de raparigas adolescentes e mulheres jovens?

• Será que a forma de socialização de algumas raparigas adolescentes e mulheres jovens influencia na sua decisão em relação
TARV? De que forma? E as mulheres?

• Como raparigas e rapazes adolescentes e jovens em TARV podem estimular outras raparigas e rapazes adolescentes jovens
HIV positivos a iniciar o tratamento?

• Que mensagens encorajadoras podemos dizer às raparigas adolescentes e mulheres jovens vivendo com HIV para aderirem
ao TARV?

• O que dizer às famílias de raparigas adolescentes e mulheres jovens vivendo com HIV sobre como apoiá-las na adesão ao
TARV?

• Como é que a família pode apoiar a superar o estigma e discriminação do seu familiar que está a fazer TARV?

• Como é que a comunidade pode apoiar a superar o estigma e discriminação das raparigas e rapazes adolescentes e jovens
com HIV que estão a fazer TARV?

• Quais os efeitos colaterais do TARV e o que fazer para ultrapassar esses efeitos colaterais?

• Que cuidados devemos ter com a nossa alimentação quando estamos a fazer o TARV? Podemos consumir álcool e drogas
enquanto estamos em tratamento?

Passo 4: Peça aos grupos para apresentarem as suas sínteses em 5 min. Abra espaço para que o grupo maior possa colocar algumas
questões pontuais que mereçam esclarecimentos. Faça o sumário no final. Use as sínteses das participantes e complemente com as
notas da Mentora.

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2017 77
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Notas para a Mentora

Moçambique está a implementar a abordagem de “testar e iniciar” (T&I). Testar e iniciar significa TARV universal para todos
os adultos, adolescentes e crianças vivendo com HIV, independentemente da contagem de CD4 e do estado de saúde do
utente. O utente deve iniciar o TARV dentro de 15 dias após o diagnóstico de HIV, ou antes desde que o paciente se sinta
preparado para o tratamento.

As mulheres grávidas e lactantes devem iniciar o TARV o mais rápido possível para proteger a sua saúde e evitar transmissão
ao bebé. Devem ser submetidas à avaliação da prontidão para o início do TARV desde o dia do diagnóstico de HIV. Os
pacientes que estão infectados com tuberculose e HIV ao mesmo tempo devem iniciar o TARV o mais cedo possível logo
após 2 semanas do tratamento para a tuberculose.

Antes de iniciar o TARV, todos os pacientes devem receber o aconselhamento sobre o vírus e o tratamento (como e
quando tomar os medicamentos, possíveis efeitos secundários, etc.) e ter oportunidade de falar sobre as suas dúvidas e
possíveis barreiras que prejudicam a continuidade do TARV. Os pacientes devem ser escutados e sentirem-se apoiados. Este
aconselhamento pode ser feito em grupo ou individualmente.

Os ARV impedem o vírus de se multiplicar e de prejudicar o nosso sistema imunitário. O risco de transmitir o vírus está
relacionado à quantidade de vírus de HIV no sangue do paciente. A análise para saber se a quantidade de vírus no sangue
é alta ou baixa chama-se carga viral. Se uma pessoa tem carga viral suprimida (abaixo de 1000 cópias/ml) significa que tem
muito menos chances de transmitir o vírus a outros, incluindo ao parceiro ou ao bebé.

A adesão ao TARV, comportamentos seguros saudáveis e retenção no tratamento são muito importantes para alçancar e
manter a carga viral baixa, por fim reduzir ou eliminar a transmissão do HIV. O objectivo do tratamento anti-retroviral é de
atingir carga viral indetectável.

Para manter carga viral baixa ou indetectável o paciente em tratamento anti-retroviral deve ter boa adesão, o que significa
tomar diariamente medicamentos e seguir as recomendações do médico para o resto da vida para ficar saudável. A toma
dos medicamentos deve continuar ao longo da vida, mesmo quando o paciente se sente bem e/ou tem carga viral baixa ou
indetectável. A retenção é o cumprimento de todas as consultas na unidade sanitária, sessões de aconselhamento e apoio
psicossocial (APSS) e levantamento dos medicamentos.

É importante lembrar, que mesmo com a manutenção da carga viral indetectável deve-se sempre usar sempre o preservativo
em todas as relações sexuais!

Por vezes, a toma dos anti-retrovirais causa vómitos, cansaço, tonturas, diarreias. Na consulta com o profissional de saúde
é importante que a pessoa em tratamento busque informação sobre os efeitos colaterais da medicação (e como aliviar)
e cuidados a ter na sua alimentação. A alimentação deve ser saudável e diversificada e fornecer proteínas, vitaminas,
carbohidratos, minerais e lípidos. Deve incluir frutas, legumes, verduras. Converse com o técnico de saúde para saber mais
sobre os cuidados com a tua alimentação. O paciente em TARV deve evitar consumo de bebidas alcoólicas, drogas, perder
noites e outros comportamentos que coloquem em risco a sua saúde.

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78 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Pode ser um desafio manter o TARV e todos os cuidados e tratamento para quem vive com HIV, especialmente para as
crianças, adolescentes e jovens. Pode ser difícil gerir a escola, a vida com a família e amigos, manter a esperança e os
objectivos e aspirações pessoais de vida. Procura apoio com os teus familiares e amigos que te dão coragem e força
para continuares a cumprir a medicação e valorizares e respeitares o teu esforço. Procura grupos de apoio de outros
adolescentes e jovens na tua comunidade. Às vezes, conversar com outro adolescente e jovem que vive com HIV e
também está em tratamento ajuda e motiva sobre a importância e benefícios que o tratamento e a adesão e retenção no
TARV pode trazer para a tua vida.

Há várias serviços existentes na comunidade para apoiar as PVHIV, entre eles Aconselhamento e Testagem em Saúde
na Comunidade (ATSC), grupos de apoio à adesão comunitária (GAAC), grupos de mãe para mãe, grupos de homens
para homens, grupos de adolescentes para adolescente, grupos que oferecem visitas e cuidados domiciliários, apoio
nutricional, apoio a crianças órfãs e vulneráveis, apoio legal, associações de PVHIV, organizações não governamentais
(ONG) e as organizações baseadas na fé.

Em cada consulta de seguimento de um paciente com HIV e em tratamento deve acontecer o seguinte: os pacientes
em TARV devem receber aconselhamento para adesão, análises de laboratório e um exame físico que inclui exame da
pele e da boca; rastreio de tuberculose e ITS; pesagem e medição de altura do paciente para poder determinar o estádio
nutricional; e avaliação da tensão arterial.

Os pacientes adultos aderentes ao TARV e clinicamente estáveis (sem doenças oportunistas como por exemplo a
tuberculose, malnutrição, meningite, diarreia crónica, candidíase) têm o direito de espaçar as suas consultas médicas para
uma vez a cada 6 meses. Estes pacientes estáveis em tratamento por mais de 6 meses devem ir à farmácia da unidade
sanitária mensalmente para levar medicamentos suficientes para um mês ou trimestralmente para levar medicamentos
suficientes para três meses se a unidade sanitária oferecer dispensa trimestral.

Direitos das pessoas que vivem com HIV (PVHIV) e SIDA:

Em Moçambique, a Constituição da República de Moçambique (CRM), a Lei de Protecção da Pessoa, do Trabalhador e


do Candidato a Emprego Vivendo com HIV (Lei nº 19/2014) e a Carta dos Direitos e Deveres do Utente estabelecem e
garantem os direitos e deveres das pessoas que vivem com HIV (PVHIV) e SIDA.

A CRM reconhece a saúde como um direito humano fundamental (artigos 89 e 116) e protege outros direitos que impactam
a saúde como: o direito à vida e a integridade fisica e psicológica (artigo 40), o direito à dignidade, honra e privacidade
(artigo 41), o direito à igualdade (artigo 35), e o direito de acesso à informação (artigo 48).

Maputo
2017 79
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

A Carta dos Direitos e Deveres do Utente (MISAU, 2007) reafirma os direitos humanos fundamentais na prestação dos
cuidados de saúde e protege a dignidade e integridade humana, bem como o direito à autonomia/escolha. É um
instrumento os utentes dos serviços de saúde podem usar para apresentar queixas e reclamações quando ocorram
violações dos seus direitos. Inclui vários direitos, entre eles: Direito a ser tratado com cortesia e no respeito pela dignidade
humana; Direito a não ser discriminado, nem na base do sexo, da orientação sexual, da raça ou etnia, da condição sócio
económica, da religião, das suas opções políticas ou ideológicas ou doença; Direito a confidencialidade, privacidade e
consentimento informado; Direito a receber informações sobre a promoção da saúde e cuidados preventivos, curativos,
de reabilitação e terminais; e Direito à prestação de cuidados continuados e a beneficiar do sistema de referência.

A Lei de Protecção da Pessoa, do Trabalhador e do Candidato a Emprego Vivendo com HIV (Lei nº19/2014) prevê o
“princípio da não discriminação” nos artigos 4 e 16, onde estabelece que a pessoa que vive com HIV ou SIDA goza dos
mesmos direitos e tratamento que qualquer outra pessoa e, por isso, não deve ser discriminada, estigmatizada, nem
sujeita a maus-tratos por ser seropositiva. Todo aquele que discriminar, estigmatizar ou maltratar a pessoa a viver com HIV
ou SIDA, ou seus parceiros, pode ser responsabilizado civil e criminalmente. Nos artigos 5 e seguintes refere que a pessoa
que vive com HIV ou SIDA tem os direitos que se seguem: Assistência médica e medicamentosa (a consulta no âmbito do
HIV e SIDA e os medicamentos ARV devem ser gratuitos); Respeito pela privacidade no seio da família e da comunidade;
e Indemnização em caso de contaminação dolosa por terceiro ou resultante de erro, negligência ou incúria médica ou de
terceiros. No artigo 6 estabelece os seguintes direitos relacionados com a confidencialidade do estado serológico: Não
ser obrigado a revelar o seu estado serológico, salvo nos casos previstos na presente lei e demais legislações pertinentes;
Não ser submetido, sem aviso prévio, conhecimento e consentimento, a exames médicos de HIV; Não ver publicado ou
divulgado o estado serológico de qualquer pessoa que viva com HIV a terceiros sem consentimento. O artigo 28, sobre
o direito à confidencialidade, consagra que o teste serológico de HIV não deve ser divulgado a terceiros, salvo à pessoa
testada ou ao seu cônjuge, aos seus progenitores ou tutor, no caso de ser menor de idade. A violação deste direito
confere a indemnização à pessoa testada e às pessoas afectadas pela quebra de confidencialidade.

Deveres das pessoas que vivem com HIV (PVHIV) e SIDA:

• Segundo o artigo 13 da Lei 19/2014 as PVHIV têm as seguintes responsabilidades: Adoptar atitudes, hábitos e
comportamentos que evitem a transmissão a outrem; Sensibilizar outras pessoas quanto à infecção e a doença;
Cumprir com a prescrição médica; Informar o seu estado serológico ao clínico; Dar a conhecer ao cônjuge ou
parceiro sexual sobre a sua condição serológica; e Não doar sangue e seus derivados, leite materno, órgãos ou
tecidos para uso terapêutico, salvo no âmbito de intervenção científica

• A Carta dos Direitos e Deveres do Utente estabelece que o utente deve: Zelar pelo seu estado de saúde, adoptar
modos de vida saudáveis, e procurar cuidados preventivos; Fornecer aos profissionais de saúde todas as
informações necessárias para obtenção de um correcto diagnóstico e adequado tratamento; Respeitar as regras
de funcionamento dos serviços de saúde e Denunciar cobranças ilícitas e outras formas de comportamentos
incorrectos.

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80 2017
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Exemplos de barreiras mais comuns que põem em risco a adesão e a retenção dos pacientes e PVHIV nos serviços para
cuidados e tratamento do HIV:

• Atendimento sem cortesia/respeito (nas consultas, na farmácia, no laboratório, nas chamadas, etc.); Discriminação,
que inclui referir aos pacientes com HIV como “doentes” ou “infectados”; Não oferecer ou recusar de fazer o teste
de HIV, e os adolescentes, pessoas com deficiência e idosos são especialmente vulneráveis; Fazer o teste de HIV
em grupo; Falta de informação e/ou não oferta dos serviços de planeamento familiar para as PVHIV; Falta de
informação clara ou suficiente sobre o diagnóstico, cuidados e tratamento (sobre critérios de início do TARV, efeitos
secundários e toma dos medicamentos, significado dos resultados carga viral, demora ou perda dos resultados,
etc.); Não divulgação de informação sobre os vários modelos diferenciados e os critérios de elegibilidade; Recusa
de atendimento dos pacientes provenientes ou transferidos de outras unidades sanitárias; Atrasos e/ou ausências
dos provedores sem comunicação, podendo causar demora no atendimento; Não receber um exame físico durante
a consulta; Perda frequente dos processos clínicos e/ou resultados dos pacientes; Incumprimento da abordagem
de Testar e Iniciar (por vezes por falta de informação actualizada alguns provedores pensam que se aplica apenas
aos recém-diagnosticados); Falta de privacidade (pacientes questionados ou observados na presença de outros,
falta de privacidade na janela da farmácia); Falta de confidencialidade (os resultados dos testes não agrafados ou
partilhados com outros utentes ou provedores não associados com o paciente); Falta de casa de banho condigna;
Não fornecimento ou fornecimento insuficiente dos medicamentos; e Cobranças ilícitas.

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2017 81
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ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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82 2017
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SESSÃO 7: PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO (PrEP)

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2017 83
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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
Partilhar informações básicas sobre a PrEP

Partilhar informações básicas sobre a prevenção combinada

Reflectir sobre a importância da PrEP

Identificar as barreiras no acesso à PrEP

Tempo: 1:15 h

Materiais: Marcadores, papel gigante.

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhe chamou a atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

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84 2017
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ACTIVIDADE 2: PREVENÇÃO COMBINADA

Tempo: 1:00 h

Passo 1: Explique às participantes que esta sessão sera dada de forma um pouco diferente por se tratar de um tema novo.

Comece por recapitular as formas de prevenção do HIV passando para o conceito de Prevenção Combinada.

Prevenção Combinada: É o pacote de intervenções de prevenção que consiste na Comunicação para a Mudança Social e de
Comportamento; Promoção do uso do Preservativo Masculino e Feminino, PrEP, Diagnóstico Precoce e Tratamento de ITS, PPE e
lubrificantes compatíveis, ATS e a Circuncisão Masculina Médica Voluntária (CMMV) e Biossegurança.

Passo 2: Explique que esta sessão é específica para abordar a PrEP por ser uma intervenção para pessoas que vivem em comunidades
onde o risco e vulnerabilidade ao HIV é bastante alta e as raparigas adolescentes e mulheres jovens são um grupo de alto risco.

Passo 3: Pergunte se as participantes têm questões e responda para passar à definição do conceito de PrEP e quem pode tomar a PrEP.

Defina a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) como o uso de medicamentos anti-retrovirais por pessoas HIV NEGATIVAS para impedir a
transmissão do HIV ANTES da exposição ao HIV, em locais onde o risco de transmissão é bastante elevado.

• Quem deve tomar a PrEP?

1. Pessoas HIV negativas

2. Que vivem numa comunidade de elevado risco para o HIV

• Explique que a PrEP é oral:

1. Faz parte de um pacote de prevenção combinada (não protege contra as ITS ou a gravidez)

2. É uma das intervenções para reforço da prevenção do HIV

3. Não é para todos

4. Empodera as raparigas adolescentes e mulheres jovens a terem mais um controle sobre a prevenção do HIV

5. Requer uma decisão informada e compromisso pessoal não apenas na adesão, mas também no uso continuado
conforme prescrito pelo técnico de saúde

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2017 85
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Passo 4: Actividade de grupo:

• Peça às participantes para se dividirem em 3 grupos para identificarem as barreiras que podem impedir as raparigas
adolescentes e mulheres jovens de utilizar os serviços de prevenção do HIV, SSR e PrEP. Comece fazendo as seguintes três
colunas numa folha de papel gigante:

1. Barreiras relacionadas com a rapariga

2. Barreiras relacionadas com a comunidade

3. Barreiras relacionadas com o provedor

Passo 5: Peça para cada grupo apresentar e discuta as opções.

Notas para a Moderadora

Mais de 70% de todas as infecções do HIV ocorrem na África Subsaariana, das quais 56% em mulheres e destas 2/3 em
raparigas adolescentes e mulheres jovens. As raparigas adolescentes e mulheres jovens têm 2–3 vezes mais probabilidade
de serem infectadas pelo HIV do que os seus pares do sexo masculino. As mulheres correm maior risco de contrair o HIV
numa idade mais jovem.

Os homens têm menos probabilidade de saber o seu estado serológico ou de receber tratamento para o HIV. Mulheres
mais jovens têm parceiros sexuais masculinos mais velhos. Esta dinâmica e mistura de idades nas relações sexuais
contribui para o alto risco de HIV entre as raparigas adolescentes e mulheres jovens.

Um dos serviços de prevenção é a profilaxia pré-exposição (PrEP) que significa:

Pré = Antes

Exposição = Situação de risco que pode levar à infecção por HIV

Profilaxia = Prevenção.

A PrEP é o tratamento com medicamentos anti-retrovirais para impedir a aquisição do HIV. A PrEP é recebida por pessoas
que testem negativo para o HIV numa consulta de Aconselhamento e Testagem em Saúde (ATS), mas que estejam em
situações de risco de infecção pelo HIV. Exemplos de pessoas que recebem a PrEP: os profissionais de sexo, homens que
fazem sexo com homens, as pessoas que tenham um parceiro sexual seropositivo, as raparigas dos 15 aos 24 anos de

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86 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

idade, entre outros. A PrEP é tomada pela pessoa seronegativa enquanto esta estiver numa situação de risco de infecção
pelo HIV. Quem toma a PrEP deve complementar a sua prevenção à infecção pelo HIV com o uso do preservativo sempre
que tiver uma relação sexual. A PrEP serve para ajudar a reduzir a probabilidade de infecção pelo HIV para pessoas não
infectadas pelo HIV, mas que estejam em situações de risco. Quem toma a PrEP deve complementar a sua prevenção à
infecção pelo HIV com o uso do preservativo sempre que tiver uma relação sexual!

Barreiras no acesso aos serviços do HIV, incluindo a PrEP:

Barreiras relacionadas com a rapariga: não sabe onde encontrar o serviço, não tem meios para aceder ao serviço, atitude
dos seus amigos (por exemplo, crítica, repreensão), sente-se desconfortável, envergonhada, com medo de ser vista pela
comunidade, baixa auto-estima, estigma, nãotem poder para tomar uma decisão sobre a sua saúde (incluindo auto-
estigma, vergonha), mitos, informação errada, falta de apoio do parceiro sexual, medo da crítica ou violência por parte do
parceiro

Barreiras relacionadas com a comunidade: normas culturais, religiosas e morais relacionadas as raparigas adolescentes
e mulheres jovens solteiras sexualmente activas, baixa consciência da comunidade sobre a PrEP, falta de apoio dos pais/
cuidadores

Barreiras relacionadas com o provedor: os provedores acreditam que os jovens não irão usar o serviço, os provedores
acreditam que os jovens são difíceis, especialmente as raparigas adolescentes, os prestadores de serviços não têm confiança
para prestar serviços a adolescentes e devido a tabus em discutir sexo e sexualidade, os provedores têm dúvidas sobre se as
raparigas adolescentes tomarão a PrEP diariamente, os provedores acreditam o uso da PrEP pode levar a comportamentos
de risco como (sexo desprotegido; falta de cuidado; falta de controle; etc).

O aconselhamento para adolescentes deve considerar o seu estágio de desenvolvimento e necessidades como o
estabelecimento da sua autonomia e independência. Outras questões relacionadas à idade podem incluir privacidade
sobre decisões relacionadas com a sua saúde e comportamento, e consentimento para testes e serviços de HIV. O adiamento
da relação sexual pode ser uma estratégia de protecção para algumas adolescentes e mulheres jovens que ainda não são
sexualmente activas. No entanto, adolescentes e jovens adultas que perguntam sobre se podem iniciar ou usar a PrEP
muitas vezes já tiveram relações sexuais ou estão se a preparar para fazê-lo com segurança. As jovens que solicitam ou
podem-se beneficiar da PrEP geralmente são jovens que estão em situações que não conseguem/têm dificuldades em
usar preservativos ou negociar seu uso consistente. Para elas, um adiamento ou mesmo um retorno à abstinência pode ser
provavelmente inaceitável ou inviável.

Os preservativos continuam a ser muito importantes para a prevenção do HIV e devem ser fornecidos em todos os serviços
de SAAJ e onde se ofereça a PrEP.

Para garantir a máxima eficácia da prevenção do HIV através da PrEP é importante garantir que nunca se falha a adesão da
PrEP, nem se falha todas as visitas aos serviços de saúde para controle e seguimento da PrEP.

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2017 87
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ACTIVIDADE 3: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite que 4 raparigas procedam ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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88 2017
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SESSÃO 8: GRAVIDEZ E CONTRACEPÇÃO

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
• Reforçar a importância do PF a partir da unidade sanitária

• Conhecer e caracterizar os diferentes métodos contraceptivos

• Reforçar o princípio de escolha livre e informada

• Estimular a importância de abordagens de planeamento familiar para mulheres seropositivas e seus parceiros

Tempo: 2:30 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, preparar folha de papel gigante com os principais métodos de PF e suas características de
acordo com as notas da Mentora.

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhe chamou a atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

Maputo
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ACTIVIDADE 2: CONTRACEPÇÃO E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

Tempo: 55:00 min

Passo 1: Pergunte às participantes se alguma delas passou por uma situação de gravidez na adolescência ou conhecem alguém que
tenha passado por essa situação. Encoraje-as a contar a sua história ou de alguém conhecido.

Passo 2: No final das histórias coloque as seguintes questões:

1. O que mais nos marcou nas histórias que ouvimos?

2. Quais são os riscos que raparigas adolescentes correm no caso de uma gravidez não planeada?

3. Quais podem ser as consequências de uma gravidez não planeada na adolescência para o rapaz e para a rapariga?

4. De que forma raparigas adolescentes podem prevenir uma gravidez?

5. Em que locais os adolescentes podem ter acesso a informação apropriada e métodos contraceptivos de modo a evitar uma
gravidez não planeada?

6. Existem algumas barreiras que impedem os adolescentes da nossa comunidade em aceder a métodos contraceptivos?

7. Quais são alguns dos medos que as raparigas têm sobre o uso de contraceptivos?

8. De que forma podemos estimular os adolescentes sexualmente activos a usar contraceptivos?

9. O contexto da pandemia da COVID-19 aumenta os riscos de gravidezes precoces e não planeadas? Porquê?

Passo 3: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

Nota: A Mentora deve lembrar às participantes que ao contarem histórias de outras pessoas devem usar nomes fictícios
para manterem a privacidade dessas pessoas.

Maputo
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Notas para a Mentora16,17

A gravidez na adolescência traz consigo muitos riscos para a mãe e para o bebé. Algumas adolescentes morrem durante
a gravidez e no parto porque o seu corpo ainda não esta suficientemente desenvolvido para ter um bebé. Os bebés
podem também nascer com problemas de saúde. Quando uma adolescente fica grávida por vezes tem de abandonar
a escola e se o pai reconhece a criança também passa a ter responsabilidades que podem impedí-la de continuar os
estudos.

O rapaz e a rapariga devem ser ambos responsáveis por prevenir a gravidez, usando um método contraceptivo que
seja confortável para ambos. Para que o rapaz e a rapariga saibam melhor sobre como se prevenir de uma gravidez não
planeada devem dirigir-se a um SAAJ ou a unidade sanitária mais próxima. Lá terão toda a informação sobre métodos
contraceptivos mais apropriados para a sua faixa etária. É dever do profissional de saúde providenciar toda a informação
necessária para que o adolescente previna uma gravidez.

A única forma de prevenir a gravidez e as ITS, incluindo o HIV, quando se tem relações sexuais é combinando o uso do
preservativo com um método contraceptivo. Por exemplo, o preservativo e implante; ou o preservativo e a pílula, etc.
Não te esqueças de usar sempre e correctamente o preservativo em todas as relações sexuais.

Em Moçambique os adolescentes e jovens têm vários métodos disponíveis para escolher e fazerem a prevenção da
gravidez precoce e não planeada:

Métodos de barreira

Preservativo Masculino e Feminino:

Vantagens: São grátis nas unidades sanitárias públicas. Protegem ao mesmo tempo da gravidez e das ITS, incluindo HIV.

Desvantagens: quando o preservativo masculino é usado de forma correcta e em todas as relações sexuais é 98% eficaz
na prevenção da gravidez. Se forem mal usados, podem romper-se. Algumas pessoas queixam-se de que o preservativo
masculino diminui a sensibilidade. Mas se for sempre usado e lubrificado, vocês habituam-se rapidamente.

O preservativo feminino é também uma opção para as raparigas cujos parceiros não querem usar preservativo masculino.

Tanto o preservativo masculino como o feminino são colocados antes do sexo e devem ser trocados cada vez que fazem
sexo. Se rebentarem devem ser trocados imediatamente.

16. https://www.voaportugues.com/a/viol%C3%AAncia-contra-mulheres-aumentou-com-medidas-de-combate-%C3%A0-covid-19-em-mo%C3%A7ambique/5770946.html
17. https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-pandemia-da-covid-19-aumenta-risco-de-casamentos-prematuros/a-54743776

Maputo
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Métodos hormonais

Pílula: Pode ser tomada na adolescência, mas deve ser recomendada por um técnico de saúde.

Vantagens: Ajuda a regular o ciclo menstrual e também ajuda a diminuir as dores menstruais. É gratuita nas unidades
sanitárias públicas. Existe à venda em farmácias privadas de todo o país. Se a mulher quiser engravidar é só parar de
tomar.

Desvantagens: Toma-se todos os dias mais ou menos à mesma hora – difícil para as raparigas mais distraídas. Algumas
raparigas não se dão bem com a pílula – por exemplo, sentem-se enjoadas, engordam ou ficam inchadas. Se for o teu
caso, explica a um especialista o que sentes, para procurarem outras formas de protecção. Não protege das ITS, incluindo
HIV. Para prevenir a gravidez e as ITS, incluindo o HIV, quando se tem relações sexuais deve-se combinar o uso do
preservativo com a pílula.

Injecção (DEPO): Pode ser tomada na adolescência desde que seja numa unidade sanitária.

Vantagens: As mesmas que a pílula. Só se apanha uma injecção a cada 3 meses. Por isso, não precisas de te lembrar
todos os dias. É gratuita nas unidades sanitárias públicas.

Desvantagem: Não protege das ITS, incluindo HIV. Para prevenir a gravidez e as ITS, incluindo o HIV, quando se tem
relações sexuais deve-se combinar o uso do preservativo com a injecção.

Implante: Pode ser usado na adolescência desde que seja recomendado e colocado por um técnico de saúde. É muito
discreto.

Vantagens: Pode durar cerca de 4 anos, mas pode retirar-se antes, se a mulher decidir engravidar. Não precisas de te
lembrar todos os dias. É gratuito nas unidades sanitárias públicas.

Desvantagem: O ciclo menstrual pode tornar-se irregular. Depois da mulher parar de tomar, ela pode levar algum tempo
a conseguir engravidar. Não protege das ITS, incluindo HIV. Para prevenir a gravidez e as ITS, incluindo o HIV, quando se
tem relações sexuais deve-se combinar o uso do preservativo com o implante.

Métodos intrauterinos

DIU (Dispositivo Intrauterino): Pode ser usado na adolescência, mesmo que a rapariga ainda não tenha filhos.

Maputo
2017 93
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Vantagens: Depois de colocado, pode ficar entre 5 a 10 anos sem ser trocado. Podes retirá-lo antes disso, se entretanto
decidires engravidar. É muito discreto.

Desvantagens: Pode fazer com que o fluxo menstrual (quantidade de sangue que sai) aumente. Não protege das ITS,
incluindo HIV. Para prevenir a gravidez e as ITS, incluindo o HIV, quando se tem relações sexuais deve-se combinar o
uso do preservativo com o DIU.

Se a adolescente desconfiar que está grávida, deve dirigir-se imediatamente a um SAAJ ou uma unidade sanitária
onde poderá ter melhor acompanhamento. Em caso de uma gravidez, tanto o rapaz como a rapariga devem ser
responsáveis.

Em Moçambique, o encerramento das escolas devido à pandemia da COVID-19 está a aumentar a vulnerabilidade das
raparigas. As raparigas estão a sofrer maior pressão para se casarem antes dos 18 anos, a idade mínima estabelecida
por lei. As raparigas são pressionadas a tentar ajudar na renda familiar para não serem mais um encargo, um peso
dentro da família.

Como as escolas têm estado encerradas por longos períodos de tempo por causa das medidas de confinamento por
causa da COVID-19, as raparigas estão confinadas nas casas sujeitas a crueldade, violações e violência contra mulheres
e raparigas presas por membros abusivos da família. Normas socioculturais e de género põem a rapariga e a mulher
numa situação de submissão aos homens que se vêm numa posição de poder para praticarem actos violentos contra
as raparigas e as mulheres. Com as medidas de confinamento, as raparigas e mulheres não têm como escapar de
parceiros abusivos ou sair das suas casas em busca da protecção.

Por estas razões, as gravidezes precoces e não planeadas têm acontecido em maior número no contexto da pandemia
da COVID-19.

Existem muitos mitos, ideias erradas e rumores sobres os métodos contraceptivos que acabam por assustar muitas
mulheres e homens, em especial os adolescentes, na adesão.

Maputo
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Abaixo pode ver alguns mitos comuns sobre os métodos contraceptivos:

Usar métodos contraceptivos na adolescência provoca dificuldades em engravidar e impede de engravidar no futuro
Crença partilhada de que o os métodos contraceptivos são apenas para quem não quer ter mais filhos
GERAL Os métodos contraceptivos são vistos como assunto exclusivo das raparigas e mulheres, mas o controlo e sanção social
cabe aos mais velhos
Adolescentes e jovens não podem aderir aos métodos modernos de contracepção enquanto ainda não provaram se
conseguem ter filhos ou não

O aparelho desloca-se até ao útero e pode desaparecer no organismo da mulher


Não é eficiente e a mulher pode engravidar e o bebé nasce com o DIU na mão ou na cabeça
A mulher não pode trabalhar (ir à machamba, cuidar da família e da casa, carregar água, etc) enquanto estiver com o DIU
Pode prejudicar a saúde da mulher
Causa desconforto no útero, como algo que se instala na parte frontal do útero
DIU
Causa desconforto e compromete o acto sexual
Impede ter filhos por muito tempo ou mesmo para sempre
Recomendado para as mulheres mais velhas que já tiveram filhos sufi cientes e/ou que já não querem ter mais filhos
Quando aplicado para as mulheres jovens, cria desconforto ou dificulta as relações sexuais
Desconfortante para o útero porque mexe-se muito dentro do útero

O implante anda e pode deslocar-se no organismo da mulher


O caminho da deslocação do implante pode incluir ir do braço para o coração
IMPLANTE A mulher não pode trabalhar (ir à machamba, cuidar da família e da casa, carregar água, etc)
Faz com que a mulher ganhe massa corporal tornando-se gorda
Baixa a autoestima da mulher, porque a mulher engorda

A Depo queima o útero


A Depo faz ficar com hemorragia sem parar
INJECÇÃO (DEPO) Pode causar infertilidade na mulher (na6o conseguir ter filhos)
Cria inchaço no corpo e prejudica a saúde da mulher
Impede a mulher de ter filhos

Maputo
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ACTIVIDADE 3: AS HISTÓRIAS DA MARIAMO E DA ALICE18

Tempo: 40:00 min

Passo 1: Forme 4 subgrupos de até seis pessoas e peça que escolham alguém para coordenar.

Passo 2: A Mentora irá distribuir história à ponto focal de cada grupo (devem ser formados 4 grupos). A história deve ser lida por uma
voluntária em cada grupo e a seguir serão discutidas as questões.

Passo 3: Explique que a pessoa selecionada para coordenar o grupo vai distribuir a história para que todos leiam e respondam às
questões no final da história.

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos use a história da Mariamo e do Gerson para fazer esta
actividade

A história da Mariamo
A Mariamo e o Gerson já namoram há um ano. O Gerson gosta muito da Mariamo e gostava de avançar no namoro deles para
terem relações sexuais. Os amigos do Gerson também estão a pressioná-lo para resolver logo o assunto. O Gerson conversou
com a Mariamo, mas a Mariamo está com dúvidas. Ela não sabe se está preparada, tem medo de engravidar e o que isso pode
fazer com a sua vida, e tem medo de aceitar só para agradar ao Gerson. O Gerson e a Mariamo combinaram que vão esperar
até ela se sentir pronta e o Gerson disse aos amigos que vai respeitar a decisão da Mariamo e vai esperar por ela.

1. O que sente uma rapariga quando está apaixonada?

2. O que sente um rapaz quando está apaixonado?

3. Quem é que tem que pensar na contracepção? A Mariamo ou o Gerson?

4. E na prevenção das ITS e HIV?

5. Porque é que acham que a Mariamo quer esperar?

18. Adaptado de Pathfinder (2013). Manual do Activista do Programa Geração Biz

Maputo
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6. Porque é que acham que o Gerson já quer ter relações sexuais?

7. Como pensas que terminou essa história?

Passo 4: Após o tempo determinado, peça que as respostas de cada grupo sejam apresentadas em plenária pela coordenadora do
grupo: Abra a discussão tendo como base as seguintes questões:

1. Que opções têm os adolescentes quando têm de decidir se vão ter relações sexuais?

2. Quais são os riscos e consequências de iniciar a vida sexual? É a mesma coisa para os rapazes e as raparigas?

3. O que é que as raparigas e os rapazes devem fazer se querem iniciar a vida sexual?

4. Com quem é que as raparigas podem falar se quiserem tirar as suas dúvidas sobre ter relações sexuais?

5. Qual é a reacção dos cuidadores da rapariga?

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos use a história da Alice para esta actividade

A história da Alice
A Alice é uma jovem de 21 anos. A sua melhor amiga é a Sheila, para quem não tem segredos. A Sheila e a Alice foram juntas
para Maputo para estudarem juntas na universidade e se ajudarem numa cidade nova. Era a primeira vez que Alice ia ficar
longe da sua família. A Alice sentia que estava vivendo a melhor fase da sua vida. Teve certeza disso logo que chegou a
Maputo conheceu um rapaz, o Nelson, um jovem de 23 anos que vive no mesmo bairro em Maputo onde está a Alice e a
Sheila. Conversaram, se aproximaram, se apaixonaram.

Alice e Nelson se encontravam praticamente todos os dias depois das aulas da universidade da Alice e nos momentos em que
estavam separados, trocavam palavras carinhosas por mensagens de telefone. Numa tarde, o Nelson convidou a Alice para
visitar a sua casa. Conversa vai, conversa vem, até que uma hora os carinhos e os beijos foram ficando tão ousados que…. a
Alice e o Nelson tiveram uma relação sexual e foi muito emocionante, mas não usaram nenhuma proteção.

Na volta para casa a Alice ficou com dúvidas se devia ter tido sexo sem protecção, mas sentiu-se segura porque tinha acabado
de ter a menstruação, não tinha como ficar grávida! Trinta dias depois, a Alice percebeu que alguma coisa não andava bem,
a sua menstruação não chegava, os seus seios estavam inchados e estava sempre com náuseas. Demorou 15 dias para ter
coragem e ligar para o Nelson e dizer-lhe que estava grávida e que não sabia o que fazer.

Maputo
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1. O que sente uma mulher quando está apaixonada?

2. O que sente um homem quando está apaixonado?

3. Quem é que tem que pensar na contracepção? A Alice ou o Nelson?

4. E na prevenção das ITS e HIV?

5. Porque tu pensas que eles acabaram tendo uma relação sexual sem usar preservativo ou algum outro método contraceptivo?

6. Porque é que a Alice demorou 15 dias para dizer ao Nelson que estava grávida?

7. Como pensas que terminou essa história?

Passo 5: Após o tempo determinado, peça que as respostas de cada grupo sejam apresentadas em plenária pela coordenadora do
grupo: Abra a discussão tendo como base as seguintes questões:

1. Que opções tem um casal quando se descobre que a mulher está grávida?

2. Qual é a reacção da mulher quando ela descobre que está grávida? Como ela se sente? O que isso muda na sua vida?

3. Qual é a reacção do homem quando ele descobre que a namorada está grávida? Como ele se sente? O que isso muda na sua vida?

4. E se for uma mulher com quem o homem só saiu uma vez? É diferente? Porquê?

Passo 6: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumires a discussão.

Maputo
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Notas para a Mentora


A gravidez na adolescência pode comprometer os planos dos dois adolescentes de estudarem, terem uma profissão e uma
vida melhor.

A adolescência é um período de mudança e de descoberta para a maioria dos rapazes e raparigas. Dever ser um período
sem as responsabilidades da vida adulta. Mas as escolhas que fazemos nessa fase podem ter um impacto negativo no resto
das nossas vidas.

Se a rapariga engravidar na adolescência, ela tem os mesmos direitos e deveres de uma mulher adulta:

• Direito e dever de procurar e receber informação, cuidados e tratamento adequados;

• Direito a ser atendida com dignidade, respeito e privacidade;

• Direito a ter o apoio do teu parceiro, da tua família e amigos.

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ACTIVIDADE 4: PLANEAMENTO FAMILIAR E DIREITOS

Tempo: 40:00 min

Passo 1: Comece por perguntar às participantes se alguém está a usar algum método contraceptivo e se sente à vontade para partilhar
a sua história com as outras participantes.

Passo 2: Na base da história apresentada, coloque a seguinte pergunta aos presentes:

• O que vos chamou atenção na história partilhada?

Passo 3: Aprofunde a discussão colocando as seguintes questões: Qual a importância/vantagens dos contraceptivos?

• Que riscos corremos se não fizermos planeamento familiar?

• Quando podemos iniciar com o planeamento familiar?

• Que métodos contraceptivos conhecemos, ou já ouvimos falar?

• Que métodos contraceptivos estão disponíveis na nossa comunidade?

• Existe um método contraceptivo que seja recomendado para todos?

• Onde podemos ter acesso a informação e aconselhamento sobre planeamento familiar e acesso a contraceptivos na nossa
comunidade?

• Quem deve decidir sobre a escolha do método de planeamento familiar a usar? O profissional de saúde? A rapariga
adolescente, ou o rapaz adolescente? De ambos?

• De quem é a responsabilidade sobre a contracepção? Da rapariga adolescente, ou o rapaz adolescente? De ambos ?

• O que impede alguns rapazes adolescentes de se dirigir às consultas de planeamento familiar junto com a sua parceira?
Quais as vantagens do rapaz adolescente se dirigir com a sua parceira às consultas de planeamento familiar?

• Qual é a importância do espaçamento entre uma gravidez e outra?

• Se a rapariga adolescente for HIV positiva, pode engravidar e ter filhos?

• Que barreiras enfrentam as raparigas seropositivas em relação a gravidez e planeamento familiar?

Maputo
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• Como podemos ultrapassar estas barreiras?

• Que benefícios a rapariga seropositiva tem ao dirigir-se a uma consulta de planeamento familiar?

Passo 4: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumires a discussão.

Notas para a Mentora

Os métodos contraceptivos ajudam-nos a evitar uma gravidez não planeada e a regular a fecundidade. Nas consultas de
planeamento familiar, a maior parte dos profissionais de saúde recomendam aos adolescentes e jovens a dupla protecção,
um método contraceptivo e também o preservativo. Além de evitar a gravidez, evita as ITS e o HIV. Para saberes qual
o método mais apropriado para ti, deves dirigir-te a um SAAJ ou unidade sanitária. Tens o direito de ter informação
relevante sobre os vários métodos de planeamento familiar e de escolher livremente o método mais apropriado para ti.
Ninguém pode obrigar-te a escolher determinado método.

É importante saber que existem métodos contraceptivos de longa duração que permitem uma maior prevenção contra
a gravidez. Fazem parte destes, as Injecções, o Implante e Dispositivo Intra-Uterino.

O planeamento familiar é responsabilidade de homens e mulheres por isso ambos devem ir juntos a consulta de
planeamento familiar. É importante que o casal dialogue e defina com ajuda do profissional de saúde o melhor
espaçamento entre filhos e outras questões sobre a sua saúde sexual e reprodutiva. As mulheres seropositivas devem ir as
consultas pré-natais e receber aconselhamento sobre o PTV. Seguindo as instruções do profissional de saúde aumentam
as chances dela ter um filho sem HIV.

Maputo
2017 101
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ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

Maputo
102 2017
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SESSÃO 9: PROTECÇÃO SOCIAL DA RAPARIGA


ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Maputo
2017 103
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Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da sessão
• Consolidar o conhecimento sobre os direitos das crianças, rapariga adolescente e mulher jovem

• Discutir o papel da família e do Estado na protecção da criança, rapariga adolescente e mulher jovem

• Explorar a importância de algumas normas sociais e comunitárias que preservam e promovem os direitos das crianças,
raparigas adolescentes e mulheres jovens

Tempo: 2:30 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, preparar uma folha de papel gigante com direitos sexuais e reprodutivos que podem ser
consultados na sessão 2 sobre Sexualidade, preparar uma folha de papel gigante com os direitos das crianças.

Se for possível ter acesso a um telefone, tablet ou computador com acesso à internet mostrar os vídeos:

Sobre os direitos das crianças:


https://www.youtube.com/watch?v=2txldr_OVcg

Sobre os direitos das mulheres:


https://www.youtube.com/watch?v=1paQdUsIzjc
https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g

Maputo
104 2017
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ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

ACTIVIDADE 2: OS DIREITOS DAS CRIANÇAS

Tempo: 45:00 min

Em plenária:

Passo 1: Coloque as seguintes questões para discussão:

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos faça as perguntas abaixo e use a lista dos Direitos das
Crianças

• Quais são os direitos e deveres das crianças?

• Os direitos e deveres das crianças são iguais aos dos adultos?

• Quais são os principais direitos que as crianças têm?

• Será que esses direitos são respeitados na nossa comunidade?

• Porque é que alguns desses direitos não são respeitados?

• O que podemos fazer para garantir que a nossa comunidade respeite os direitos da criança?

Maputo
2017 105
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Os direitos dos rapazes e raparigas na comunidade são os mesmos? Quais são as diferenças?

• Os direitos das crianças são diferentes com base nas suas características (com deficiência, de diferentes orientações sexuais,
etc)?

• Existem certos serviços económicos, de educação, de saúde ou sociais que não estão disponíveis para as crianças e que
estão disponíveis para os adultos?

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos faça as perguntas abaixo e use a lista dos Direitos Sexuais e
Reprodutivos como indicados na sessão 2 sobre Sexualidade

• Quais são os principais direitos que as mulheres têm?

• Quais são os direitos das mulheres na comunidade? Em que diferem dos direitos dos homens?

• Será que esses direitos são respeitados na nossa comunidade?

• Porque é que alguns desses direitos não são respeitados?

• Há direitos diferentes para raparigas e mulheres? Em caso afirmativo, com que idade é que esta mudança ocorre?

• Como é que os direitos das mulheres e dos homens diferem na comunidade?

• Os direitos das mulheres são diferentes com base nas suas características (com deficiência, de diferentes orientações
sexuais, etc)?

• Existem certos serviços económicos, de educação, de saúde ou sociais que não estão disponíveis para mulheres jovens?

Passo 2: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

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106 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora


As crianças têm direitos estabelecidos a nível universal. As Nações Unidas aprovaram uma lei chamada Convenção
sobre os Direitos da Criança. Uma convenção é uma lei internacional que tem princípios a serem seguidos pelos países
que aceitaram e assinaram (Países signatários). A Convenção Sobre os Direitos da Criança é uma lei internacional que
estabelece todos os direitos da pessoa humana menor de 18 anos.

Os direitos das crianças não lhes devem ser retirados. Em Moçambique, os direitos das crianças são protegidos por lei
e é dever do Estado (e de todos nós) garantir que esses direitos não sejam violados em circunstância alguma. O Estado
Moçambicano é signatário de vários instrumentos internacionais e regionais de protecção da criança e promoção dos
seus direitos. De entre estes instrumentos, contam-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e a Carta Africana
dos Direitos das Crianças.

Moçambique é um dos países signatários da Convenção Sobre os Direitos da Criança desde 1990. Em 1994 ractificou este
instrumento comprometendo-se deste modo a garantir os direitos de todas as crianças Moçambicanas, assegurando um
bom início de vida, um crescimento saudável com acesso aos serviços básicos de educação, saúde, abastecimento de
água potável, convivência familiar e comunitária e a participação em questões que lhes dizem respeito.

Segundo a Convenção dos Direitos da Criança e a constituição da República de Moçambique, CRIANÇA, é todo ser humano
com idade menor de 18 anos de idade. Criança é todo o ser humano desde a nascença até aos 18 anos de idade. Por isso,
todas estas pessoas têm todos os direitos consagrados nesta convenção.Muitas pessoas não conhecem os direitos das
crianças. São essas que permitem ou colocam as crianças em situações de abuso e maus-tratos. São muitas as crianças
que são envolvidas em casos de trabalho infantil, prostituição e várias outras situações.

TEMOS DE ACABAR COM ISSO!!!

Direito é o sistema de normas de conduta criado e imposto por um conjunto de instituições para regular as relações
sociais. Os teus direitos dizem respeito ao que podes fazer, e ao que as pessoas responsáveis por ti devem fazer para que
sejas feliz, saudável e te sintas seguro(a). Mas, claro que tu também tens responsabilidades para com as outras crianças e
para com os adultos para que também eles gozem dos seus direitos.

DIREITOS são os comportamentos e atitudes que os outros devem ter para connosco.

DEVERES são os comportamentos e atitudes que devemos ter para com os outros.

Maputo
2017 107
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Os DIREITOS e os DEVERES andam SEMPRE juntos, não podem ser separados!

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 10 de
Dezembro de 1948. Esta Declaração estabelece os principais Direitos Humanos, ou seja, direitos de todas as pessoas no
mundo. É o documento mais importante sobre os Direitos Humanos para o Mundo inteiro. Os Estados que assinaram a
Declaração – como Moçambique – comprometem-se a respeitar os direitos humanos.

Os direitos humanos são universais (são iguais para todos os cidadãos do mundo). Não podem ser separados dos seres
humanos, ou seja, não há ser humano sem direitos, e todos os direitos são igualmente importantes. O direito à vida,
à saúde, à educação, ao desporto, ao lazer, e ao afecto são alguns exemplos de direitos humanos e são considerados
Direitos Humanos muito importantes para o bem-estar físico e emocional de uma pessoa. Segundo a Declaração, não
existe uma pessoa mais importante do que outra, nem um direito mais importante do que o outro.

As mulheres e as crianças raparigas são mais vulneráveis, muitas vezes porque dependem de outros para satisfazer as
suas necessidades básicas e não têm a capacidade de se protegerem de abusos/negligência. Por isso, existem também
os direitos das mulheres. A criação de novos instrumentos específicos em relação às mulheres, como a Declaração Sobre
a Eliminação da Discriminação à Mulher em 1967 e a Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher, em 1979, a Plataforma de Beijing e outros acordos internacionais, têm sido importantes instrumentos
de pressão sobre os governos para a implementação de mecanismos de igualdade de oportunidades entre mulheres e
homens e mudanças nas relações de género ainda marcadas pelas desigualdades.

Os direitos das mulheres são necessários para definir os direitos humanos sob uma perspectiva de género, a partir das
realidades de vulnerabilidade das mulheres. Esta necessidade culminou com a Declaração pela Organização das Nações
Unidas dos 12 Direitos da Mulher, que são os mesmos que os Direitos Sexuais e Reprodutivos listados na sessão 2 sobre
Sexualidade.

Direitos das crianças

1. Ter uma educação de boa qualidade

2. Ter acesso à cultura e aos meios de comunicação e informação

3. Poder brincar com outras crianças da mesma idade

4. Não ser obrigada a trabalhar como adulto

5. Ter uma boa alimentação que dê ao corpo todos os nutrientes que precisam para crescer com saúde e energia

Maputo
108 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

6. Receber assistência médica gratuita nas unidades sanitárias do sistema público de saúde sempre que precisarem
de cuidados e tratamento

7. Ser livre para ir e vir (para se movimentar), conviver em sociedade e expressar ideias e sentimentos

8. Ter a protecção de uma família seja biológica ou adoptiva, ou de um lar oferecido pelo Estado se, por infelicidade,
perderem os pais, parentes e cuidadores mais próximos;

9. Não sofrer agressões físicas ou psicológicas por parte daqueles que são encarregados da protecção e educação
ou de qualquer outro adulto

10. Ser protegida de qualquer tipo de violência, tratamento negligente, maus-tratos ou exploração

11. Ser protegida da exploração e abuso sexual, incluindo casamentos prematuros

12. Ser beneficiada por direitos, sem nenhuma discriminação por raça, cor, sexo, língua, religião, país de origem,
classe social ou riqueza e toda a criança do mundo deve ter seus direitos respeitados

13. Ter desde o dia em que nasce um nome e uma nacionalidade, ou seja, ser cidadão de um país

14. Conhecer os seus direitos e os adultos têm a obrigação de conhecer estes direitos e ajudar as crianças a
aprendê-los

Nota: A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) tem um total de 54 artigos que explicam detalhadamente cada um
dos direitos nela contidos. Aqui trazemos um resumo dos principais direitos da CDC para que as raparigas adolescentes
e mulheres jovens saibam mais sobre alguns destes direitos em mais detalhe e para que possam protegê-los e defendê-
los com vista a criarem um ambiente são e saudável para elas.

Fonte: Sumário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Crianças, UNICEF, Ministério Do Género, Criança
e Acção Social, Janeiro 2017

Maputo
2017 109
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 3: A IMPORTÂNCIA DAS NORMAS SOCIAIS E COMUNITÁRIAS NA


PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS DAS RAPARIGAS

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Inicie a discussão fazendo as seguintes perguntas:

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos faça as perguntas abaixo

As nossas comunidades são guiadas por práticas, valores e costumes.

• Porque é que eles são tão importantes assim?

• O que acontece com alguém da comunidade que não segue uma determinada prática?

• Podem essas práticas serem mudadas? Por quem? Como? (Peça exemplos concretos).

Existem algumas práticas nas nossas comunidades que contribuem para a violação dos direitos das raparigas.

• Conhecem algumas?

• Podem dar exemplos concretos?

• Existem também outras práticas que podem contribuir para a preservação dos direitos das raparigas.

• Conhecem algumas?

• Podem dar exemplos concretos?

O que é que a comunidade deve fazer para preservar os direitos das raparigas?

O que cada um de nós pode fazer para influenciar essas práticas?

Qual o papel das raparigas na mudança dessas práticas? E das comunidades?

Maputo
110 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos faça as perguntas abaixo

As nossas comunidades são guiadas por práticas, valores e costumes.

• Porque é que eles são tão importantes assim?

• O que acontece com alguém da comunidade que não segue uma determinada prática?

• Podem essas práticas serem mudadas? Por quem? Como? (Peça exemplos concretos).

Existem algumas práticas nas nossas comunidades que contribuem para a violação dos direitos das mulheres.

• Conhecem algumas?

• Podem dar exemplos concretos?

• Existem também outras práticas que podem contribuir para a preservação dos direitos das mulheres.

• Conhecem algumas?

• Podem dar exemplos concretos?

O que é que a comunidade deve fazer para preservar os direitos das mulheres?

O que cada um de nós pode fazer para influenciar essas práticas?

Qual o papel das mulheres na mudança dessas práticas? E das comunidades?

Passo 2: Com base na discussão, faça um resumo dos principais pontos para encerrar. Dê enfoque às práticas positivas e à necessidade
de promover essas práticas. Use as notas para a Mentora para o resumo.

Maputo
2017 111
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora


A nossa sociedade e as nossas comunidades são regidas por práticas, valores e costumes com um grande poder. Algumas
dessas práticas são antigas e passaram de geração em geração. Algumas pessoas pensam que, por este motivo, torna-se
difícil influenciar essas práticas. Todavia, é importante referir que qualquer prática é passível de mudança, desde que os
efeitos negativos dessas práticas sejam explorados e as pessoas tenham consciência deles.

Muitas práticas nas nossas comunidades são prejudiciais para a preservação dos direitos das crianças. Outras, porém,
ajudam. São essas práticas prejudiciais que devemos combater, como membros dessas comunidades. Temos que ser
capazes de ir contra essas formas de ser e de agir, que na sua maioria, foram passadas de geração em geração. Temos que
ser capazes de mudar essas práticas, pelo nosso bem e de todos os outros.

Temos, também, que ser capazes de, a partir de nós mesmos, promover as mudanças que queremos nessas práticas,
sendo exemplos para as nossas comunidades. Temos que ser também exemplos na promoção das práticas que ajudam a
preservar os nossos direitos.

Por exemplo, nenhuma tradição ou prática cultural justifica que raparigas ou rapazes menores de 18 anos sejam sujeitos
ao casamento prematuro (casamento antes dos 18 anos).

O registo de nascimento é importante porque confirma se a rapariga tem a idade legal para casar ou não. Isto evita que
a decisão pelo casamento precoce se baseie noutro tipo de aspectos, como o aparecimento da primeira menstruação ou
a passagem pelos ritos de iniciação.

A idade legal para casar em Moçambique é dos 18 anos para cima, conforme plasmado nas leis: Lei da Família – Lei n.º
22/2019 de 11 de Dezembro de 2019 e Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras – Lei 19/2019 de 22 de Outubro
de 2019.

O Governo de Moçambique e várias organizações estão preocupados com os casamentos prematuros, por isso, desde
2015 que existe também uma estratégia nacional para prevenir e combater estas uniões que é a Estratégia Nacional de
Prevenção e Combate dos Casamentos Prematuros.

Maputo
112 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Em Moçambique, a penalização pelos vários actos de violência baseada no género (que inclui os casamentos prematuros,
violência física, sexual, psicológica, moral, patrimonial e social) é garantida ao abrigo das leis:

1. Lei da Família

2. Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras

3. Código Penal de Moçambique – Lei de Revisão do Código Penal – Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro de 2019

4. Lei Sobre a Violência Doméstica Praticada Contra a Mulher, Lei nº 29/2009, de 29 de Setembro.

A aplicação destas leis é garantida pelo Governo, as várias organizações da sociedade civil e os actores comunitários.

Qualquer pessoa, incluindo crianças e adolescentes e jovens, que queira denunciar ou precise de ajuda em situações de
violência baseada no género ou violação dos seus direitos pode procurar os seguintes apoios na sua comunidade: unidades
sanitárias (algumas unidades sanitárias também têm um Centro de Atendimento Integrado (CAI) para o atendimento
às vítimas de violência sexual), polícia, Gabinetes de Atendimento à Mulher e à Criança Vítimas de Violência, Comités
Comunitários de Protecção da Criança, Agentes Polivalentes Elementares (APE), Comités de Saúde, Conselhos de Escola,
Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), Procuradoria Provincial ou Distrital, líderes comunitários, religiosos,
anciãos e outros líderes locais. Em algumas comunidades existem também organizações e iniciativas comunitárias que
apoiam e protegem as vítimas de violência baseada no género.

Pode-se ainda ligar para o número 116, grátis para qualquer rede, para denunciar abusos e violência contra a criança.

A violência nunca é a solução para os problemas. Alguns homens tiveram uma educação baseada em modelos prejudiciais
de submissão da mulher e que os motiva a praticar a violência baseada no género. Isto não é correcto. Caso sejam vítimas
de violência baseada no género ou conheçam alguém que tenha sido, não fiquem caladas, denunciem o agressor.

É importante que as vítimas e os seus familiares procurem apoio com os vários actores comunitários, nos vários locais e
nos serviços disponíveis de apoio em situações de violência baseada no género nas suas comunidades.

É muito importante reforçar que a violência nunca é culpa da vítima! Não importa o que uma pessoa faça, como se veste,
que idade tem, se está sobre a influência do álcool ou drogas, se está sozinha, se tem muitos parceiros, o seu estado de
saúde, etc, se a pessoa for vítima de violência NUNCA é sua culpa. A responsabilidade é SEMPRE da pessoa que cometeu
o acto de violência/do agressor.

Maputo
2017 113
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Devido à natureza desta sessão, as raparigas também podem revelar questões sensíveis às Mentoras, incluindo revelações
de violência - isso requer acompanhamento activo como descrito no folheto de apoio a este guião sobre como as Mentoras
podem apoiar as raparigas em situações de risco. As Mentoras devem agir para ajudar com as necessidades das raparigas
que denunciem abusos; incluindo ajudá-las a obter serviços quando apropriado. Recomendamos que as Mentoras
tenham disponível uma lista de referências / recursos para: polícia, assistência jurídica, serviços de saúde incluindo saúde
mental, serviços de planeamento familiar, e outros serviços de apoio psicossociais, incluindo atendimento pós-violência
(por favor vejam as opções de apoio listadas acima). Também é muito importante que a Mentora avalie o contexto em
que está a trabalhar para saber quais são os pontos de apoio seguros na sua comunidade para casos sensíveis como a
violência baseada no género.

ACTIVIDADE 4: QUEM SÃO OS RESPONSÁVEIS PELA PROTECÇÃO DA RAPARIGA E


DOS SEUS DIREITOS?

Tempo: 45:00 min

Notas para a Mentora

Para esta actividade não se pode obrigar as raparigas adolescentes e as mulheres jovens a partilhar nenhuma experiência/
história que não queiram. As raparigas adolescentes e mulheres jovens devem partilhar as experiências/histórias para
este exercício de forma voluntária.

Nota: Para o grupo das raparigas adolescentes de 15 a 19 anos faça a actividade abaixo

Maputo
114 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Passo 1: Solicite algumas participantes que se sintam abertas para contar alguma experiência que tenham tido ou que conheçam
alguém na comunidade sobre o que fizeram para ajudar uma rapariga em condições desfavoráveis e que precisava de ajuda. Lembre
às participantes que caso queiram referir-se a um caso de uma pessoa conhecida que não devem revelar o nome verdadeiro, devem
usar um nome fictício.

Passo 2: Explore o conteúdo das histórias colocando a seguinte pergunta: o que mais vos chamou atenção em cada uma das histórias?
(Oriente a discussão de modo que as participantes explorem as diferentes possibilidades e oportunidades para ajuda, as motivações
que levaram à pessoa a prestar ajuda e as potenciais consequências para a criança se a ajuda não tivesse sido prestada).

Passo 3: Com base nas histórias, explore as seguintes questões para discussão:

• O que podemos aprender destas histórias?

• Qual é o papel que a família tem na protecção da rapariga?

• Qual é o papel do Estado? O que é que nós, como adolescentes, devemos exigir do Estado?

• Que serviços é que o Estado tem disponível para prestar às raparigas? (Serviços sociais, polícia, entre outros)

• Que exemplos podemos dar de coisas que os pais/cuidadores devem fazer para garantir os direitos das raparigas?

• Quem é responsável por proteger a rapariga situações de violência e abuso?

• Quem é responsável pela educação da rapariga?

• Existem organizações da sociedade civil que trabalham na protecção da rapariga? Quais são?

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos faça a actividade abaixo

Passo 1: Solicite algumas participantes que se sintam abertas para contar alguma experiência que tenham tido ou que conheça de
alguém na comunidade sobre o que fizeram para ajudar uma mulher em condições desfavoráveis e que precisava de ajuda. Lembre
às participantes que caso queiram referir-se a um caso de uma pessoa conhecida que não devem revelar o nome verdadeiro, devem
usar um nome fictício.

Passo 2: Explore o conteúdo das histórias colocando a seguinte pergunta: o que mais vos chamou atenção em cada uma das histórias?
(Oriente a discussão de modo que as participantes explorem as diferentes possibilidades e oportunidades para ajuda, as motivações
que levaram à pessoa a prestar ajuda e as potenciais consequências para a criança se a ajuda não tivesse sido prestada).

Maputo
2017 115
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Passo 3: Com base nas histórias, explore as seguintes questões para discussão:

• O que podemos aprender destas histórias?

• Qual é o papel que a família tem na protecção da mulher?

• Qual é o papel do Estado? O que é que nós, como mulheres, devemos exigir do Estado?

• Que serviços é que o Estado tem disponível para prestar às mulheres? (Serviços sociais, polícia, entre outros)

• Quem é responsável por proteger a mulher situações de violência e abuso?

• Existem organizações da sociedade civil que trabalham na protecção da mulher? Quais são?

Passo 4: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas para a Mentora para resumir a discussão.

Maputo
116 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora


O Estado tem o dever promover os direitos da criança, rapariga adolescente e mulher jovem, por um lado, e de garantir
que esses direitos não sejam violados.

O Estado tem o dever de proteger a criança, a rapariga adolescente e a mulher jovem, dar assistência quando esta precisa
de ajuda e mitigar os efeitos da vulnerabilidade resultante de mortes, doenças e situações de calamidades.

É no seio da família que a criança e a rapariga adolescente deve ser criada, de modo a crescer com saúde e livre de
qualquer tipo de trauma. Termine com as seguintes mensagens:

• As crianças, raparigas adolescentes e mulheres jovens têm o direito a cuidados e protecção do Estado e da família.

• As crianças, raparigas adolescentes e mulheres jovens devem ser acolhidas dentro duma família, porque só assim
estaremos a contribuir para que elas não sejam vulneráveis.

Há vários serviços disponíveis nas comunidades para a protecção da rapariga adolescente e mulher jovem: unidades
sanitárias (algumas unidades sanitárias também têm um Centro de Atendimento Integrado (CAI) para o atendimento às
vítimas de violência sexual), serviços de ATS, SAAJ, polícia, Gabinetes de Atendimento à Mulher e à Criança Vítimas de
Violência, Comités Comunitários de Protecção da Criança, Agentes Polivalentes Elementares (APE), Comités de Saúde,
Conselhos de Escola, Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), Procuradoria Provincial ou Distrital, líderes
comunitários, religiosos, anciãos e outros líderes locais. Em algumas comunidades existem também organizações e
iniciativas comunitárias para a protecção da rapariga e mulher jovem.

Pode-se ainda ligar para o número 116, grátis para qualquer rede, para denunciar qualquer violação dos direitos das
crianças.

É importante que as raparigas adolescentes e mulheres jovens procurem apoio com os vários actores comunitários, nos
vários locais e nos serviços disponíveis de apoio nas suas comunidades.

Recomendamos que as Mentoras tenham disponível uma lista de referências / recursos específicos para as comunidades
onde decorrem as sessões dos Clubes. Também é muito importante que a Mentora avalie o contexto em que está a
trabalhar para saber quais são os pontos de apoio seguros na sua comunidade para as raparigas e mulheres jovens.

Maputo
2017 117
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 duas raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

Maputo
118 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SESSÃO 10: VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO (VBG)

Maputo
2017 119
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

A Mentora que facilitar esta sessão tem de ter recebido formação do pacote LIVES - apoio de
primeira linha

Notas para a Mentora

As discussões sobre género, poder e violência são tópicos muito sensíveis que devem ser tratados com gentileza e apoio.
Não se esqueça que qualquer pessoa do seu grupo pode ter sofrido violência ou pode ainda estar a sofrer violência nas
suas relações em casa ou na escola. Esteja preparada para apoiar as participantes se surgirem emoções difíceis. Lembre
às participantes que este é um espaço seguro, e que tudo o que for discutido é confidencial. Informe-as também que
existem muitos apoios disponíveis e que você está lá para as ajudar a obter quaisquer serviços de que precisem.

Objectivos da sessão
• Clarificar o conceito de violência baseada no género (VBG)

• Identificar e caracterizar as diferentes formas de VBG

• Identificar as causas e consequências da VBG

• Identificar formas eficazes de prevenção de VBG

• Discutir a relação entre a VBG e vulnerabilidade ao HIV

• Encorajar as vítimas de violência doméstica e os membros da comunidade a denunciarem casos de VBG

• Identificar os caminhos e recursos familiares, comunitários, governamentais e outros para apoio a vítimas de VBG

Tempo: 2:00 h

Materiais: Marcadores, papel gigante

Maputo
120 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do inicio da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite a duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

ACTIVIDADE 2: PERCEBENDO O CONCEITO E FORMAS DE VIOLÊNCIA BASEADA NO


GÉNERO19

Tempo: 1:00 h

Em plenária:

Passo 1: Use o bloco gigante e coloque no meio a palavra violência baseada no género. Use a forma abreviada VBG. Tenha o cuidado
de assegurar que todas as participantes percebem a abreviatura.

Passo 2: Solicite às participantes para descreverem o que é para elas VBG.

Passo 3: Anote as principais ideias no papel gigante.

Passo 4: Com base nas anotações feitas no papel gigante, sintetize as opiniões das participantes e apresente o conceito de VBG.
Esclareça que a VBG pode se manifestar de diferentes formas (ex. violência física, psicológica, sexual, violência praticada pelo parceiro
íntimo).

Passo 5: Divida as participantes em 3 ou 4 grupos. Cada um dos grupos receberá uma folha de papel gigante. As participantes
deverão escrever qual a definição de violência, reflectindo sobre o que isto significa para elas. Se preferirem, podem desenhar o que
a violência significa para elas.

19. Adaptado de Fanzine – Poder, Relacionamentos e Violências, Promundo, 2019


Maputo
2017 121
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Passo 6: Peça aos grupos, um a um, para apresentar as suas definições de violência. Destaque as principais ideias e conceitos-chave
de cada um dos grupos e coloque-os numa folha de papel gigante. A partir das ideias levantadas pelos grupos divida em quatro
tipos de violência: física, emocional/psicológica, sexual e violência praticada pelo parceiro íntimo. Usa as notas para a Mentora para
ajudar nesta actividade.

Notas para a Mentora

Para que as participantes compreendam melhor o processo dos diversos tipos de violência de modo mais visual, pode-
se desenhar uma árvore, com raízes, tronco e galhos. Deste modo, nas raízes podem ser escritas as várias causas da
violência, no tronco, os tipos de violência e nos galhos, as consequências/efeitos.

Passo 7: Para praticar a identificação dos vários tipos de violência leia as histórias que estão depois das Notas para a Mentora e peça
às participantes para debaterem sobre os tipos de violência que aparecem nas histórias.

Notas para a Mentora

Para o passo 7 as Mentoras têm histórias fictícias - Histórias sobre os vários tipos de violência – e duas histórias verídicas
de beneficiárias do DREAMS – Beneficiárias do DREAMS contam as suas histórias.

Passo 8: Depois de ler todas as histórias e as participantes identificarem os tipos de violência em cada história, faça as perguntas:

• Estas situações podem acontecer na realidade?

• Existem violências que estão relacionadas ao sexo da pessoa? Qual o tipo de violência mais comum praticada contra as
mulheres? E contra os homens?

• Apenas os homens são violentos ou as mulheres também são? Qual o tipo de violência mais comum que as mulheres usam
contra outras pessoas? É o mesmo tipo que os homens usam?

• Quais são os tipos de violência mais comuns que ocorrem em um relacionamento íntimo?

• Alguma pessoa, seja homem ou mulher, “merece” apanhar ou sofrer algum tipo de violência? Porquê?

• Existe alguma relação entre poder e violência? Explique. (Incentive as participantes a pensarem sobre os diferentes tipos de
poder que uma pessoa pode ter sobre outra e a relação disto com violência).

Maputo
122 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

• Quais são as consequências da violência para os indivíduos? Para o casal? Para a comunidade?

• O que você aprendeu com esta actividade? Você aprendeu alguma coisa que poderia ser aplicada em sua própria vida ou
relacionamentos?

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos fazer também as perguntas abaixo

• Qual é o tipo mais comum de violência que acontece com as mulheres jovens?

• Existe alguma violência pior que a outra?

• O que é que as mulheres jovens podem fazer se estiverem a sofrer algum tipo de violência?

• O que é que as mulheres jovens podem fazer para prevenir situações de violência na sua vida, família, comunidade?

• O que é que as mulheres podem fazer para prevenir situações de violência praticadas pelos parceiros íntimos?

Passo 9: Faça o fecho desta actividade clarificando o conceito de VBG e as suas formas. Esclareça alguns pontos que tenham suscitado
dúvidas. Use as anotações no papel gigante e as notas da Mentora para resumir a discussão.

Maputo
2017 123
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora20,21


Violência baseada no género (VBG) é qualquer forma de violência que é dirigida a um indivíduo com base no sexo biológico,
identidade de género (por exemplo, transexual), ou comportamentos que não estão em linha com as expectativas sociais
do que significa ser um homem ou mulher, rapaz ou rapariga (por exemplo, homens que fazer sexo com outros homens).

As relações de negociação entre os pares têm como características principais, o diálogo e o respeito. Neste tipo de relação,
as pessoas estão abertas para exercer a escuta, sendo capazes de ter em consideração o posicionamento da outra e
esta¬belecer um acordo em comum. Aqui, as decisões são definidas em conjunto, o que não quer dizer que não haja
conflito. O conflito, quando é negociado, transforma-se em solução e a relação constrói-se de forma saudável.

No entanto, nas relações em que há violência não há acordo possível e não existe nenhum tipo de escuta quando há
imposição ou abuso de uma posição de poder. Ou seja, numa relação violenta apenas uma pessoa tem importância, e
essa pessoa impõe de forma agressiva o seu ponto de vista, demonstrando que apenas ela existe nessa “relação” e não há
espaço para a voz outra pessoa na relação. Quando usamos este tipo de poder, não reconhecemos que todas as pessoas
têm direitos iguais, independentemente do género, classe social, raça e orientação sexual. O poder nestas relações é
utilizado de forma violenta e situações de opressão são produzidas nas relações.

Geralmente associamos lutas, agressões físicas, roubos e assassinatos como casos de violência. Realmente, essas
situações são de facto violentas e opressoras. Porém, existem formas de violência que não são tão visíveis publicamente e
passam despercebidas ou já são tão comuns na nossa sociedade que temos dificuldade de reconhecer que determinado
comportamento também violenta outras pessoas ou grupos sociais.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS:

Violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou potencial, contra si próprio, contra outras pessoas ou
contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.

Há vários tipos de violência:

Violência física - entendida como qualquer acto que ofenda sua integridade ou saúde corporal

Violência psicológica (emocional) - entendida como qualquer acto que cause dano emo¬cional e diminuição da
autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas acções,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, crítica, humilhação, manipulação, isola¬mento, vigilância
constante, perseguição constante, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação

Violência sexual - entendida como qualquer acto que seja um impedimento para presen¬ciar, manter ou participar

20. Adaptado de Fanzine – Poder, Relacionamentos e Violências, Promundo, 2019


21. Organização Mundial da Saúde. Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher: ação e produção de evidência. 2012

Maputo
124 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimónio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos

Violência patrimonial - entendida como qualquer acto que configure re¬tenção, subtracção, destruição parcial ou total
de objectos pessoais, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos económicos,
incluindo os destinados a satisfazer necessidades pessoais

Violência moral - entendida como qualquer acto que configure calúnia, difamação ou injúria.

Existem muitos comportamentos ou atitudes que estimulam a VBG tais como o alcoolismo, consumo de drogas, ciúmes
exagerados, relações de poder, falta de diálogo entre o casal, etc. Muitas vezes a VBG é causada por uma diferença na forma
como o estatuto de homem e mulher é socialmente construído e percebido, isto é, porque por vezes a sociedade atribui
um baixo estatuto a mulher comparativamente ao homem.

A VBG diz respeito a qualquer tipo de violência de género que dê ou possa dar origem a danos físicos, sexuais ou psicológicos
ou que provoque ou possa provocar sofrimento das mulheres e homens, que tem como base pertencer a um sexo ou outro.

Apesar de a VBG fazer parte da realidade dos dois sexos, as raparigas e mulheres são na sua maioria as vítimas. A VBG
acontece independentemente dos extractos sociais, em famílias ricas ou pobres.

A violência praticada pelo parceiro íntimo é um problema sério. Devido à natureza da violência praticada pelo parceiro
íntimo, a sua ocorrência e impactos ficam escondidos, ocultando as reais consequências e riscos destas situações. As
mulheres e a família sofrem algum tipo de violência (física, sexual, psicológica, económica) por um parceiro íntimo em
algum momento de suas vidas deixando diversos problemas físicos, mentais e de saúde sexual a curto e longo prazo desde
feridas e problemas físicos, à gravidez indesejada, aborto, complicações ginecológicas, infecções sexualmente transmissíveis
(incluindo HIV/SIDA), violência durante a gravidez que pode levar a aborto espontâneo, parto prematuro e baixo peso da
criança ao nascer, entre outros. A violência pelo parceiro íntimo tem impactos negativos no bem-estar emocional e social
de toda a família, com efeitos prejudiciais nas habilidades dos cuidadores e nos resultados de educação, saúde e trabalho.
Além disso, os casos de comportamentos de alto risco, como consumo do álcool, drogas e sexo desprotegido são muito
mais altos em vítimas de violência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo. Crianças que crescem em casas onde
existe violência pelo parceiro íntimo podem apresentar altas taxas de problemas comportamentais e emocionais, que
podem resultar em maiores dificuldades com educação e emprego, muitas vezes levando a abandono escolar precoce,
delinquência juvenil e gravidez precoce.

Todos esses problemas afectam regularmente as famílias onde ainda existe uma grande desigualdade entre mulheres e
homens.

Maputo
2017 125
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

A VBG afecta negativamente a auto-estima da mulher, tornando-lhe triste, insegura e traz consequências negativas para
toda família. As crianças sofrem consequências emocionais por viverem num lar violento tais como medo, ansiedade,
depressão e o seu desempenho na escola pode baixar.

Uma relação sexual forçada aumenta o perigo da mulher contrair o HIV e outras ITS porque pode causar ferimentos que
facilitem a infecção. A violência sexual pode também provocar uma gravidez indesejada. A mulher vítima de violência
sexual deve dirigir-se a unidade sanitária num prazo máximo de 72 horas para receber cuidados médicos que previnam
gravidez não planeada, ITS e infecção pelo HIV.

A violência nunca é a solução para os problemas.

Em Moçambique, a VBG constitui um dos muitos desafios para as RAMJ sendo que a prevenção e resposta à GBV é parte
do pacote primário do DREAMS.

Cerca de 1/3 das adolescentes de 15 anos declaram que são sobreviventes de violência física e 46% de violência
doméstica, sexual ou emocional pelos seus parceiros. Para além disso, 19% de raparigas relatam iniciação sexual forçada
particularmente nas regiões Norte e Centro do país, onde os ritos de iniciação associados à puberdade perpetuam o poder
desigual de género tradicional na família e torna as raparigas vulneráveis ao abuso e assédio sexual, incluindo no ambiente
da escola (IMASIDA, 2011).

Para muitas raparigas, o seu corpo é um activo usado para uma ampla gama de resultados - obter notas, obter apoio
financeiro ou material e até atenção. Muitas das RAMJ ao chegarem ao programa DREAMS já teráo tido, provavelmente,
muita informaçao a partir do meio onde vivem, meios de comunicação, mas também muitas informações erradas, mitos e
factos incorretos. Elas também podem ter muitas questões e em ambientes socioculturais muito rígidos estes assuntos não
se falam ao nível das famílias ou de forma franca e aberta.

Maputo
126 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Nota: Estas histórias podem ser usadas com os dois grupos dos Clubes – raparigas adolescentes (15 a 19 anos) e
mulheres jovens (20 a 24 anos)

Histórias sobre os vários tipos de violência


• O Beto convidou a Susana para passear. Conversaram primeiro amor da vida dela e ela queria passar todo
um pouco, lancharam e o Beto a convidou para ir a o seu tempo livre com ele. Parou de sair com as suas
uma pensão, dizendo que ele tinha dinheiro para amigas e começou a ter notas baixas. Ela mentia sempre
passarem algumas horas lá. A Susana disse que sim. aos seus pais sobre com quem estava e, por isso, não
Eles foram para a pensão e começaram a beijar-se. O conseguia estar ainda mais tempo com o João. Ele era
Beto começou a tirar sua roupa. Mas a Susana disse muito ciumento e a Fernanda não poderia ter nenhum
a ele que não queria fazer sexo. O Beto ficou furioso. amigo homem sem que ele ficasse com raiva. Depois
Disse a ela que tinha gastado muito dinheiro com de saírem por dois meses, eles começaram a ter muitas
o quarto, e disse: “O que é que os meus amigos vão discussões porque ela não queria ter sexo com ele. Um
dizer?” Ele queria insistir até convencê-la. (Retirado da dia eles tiveram uma discussão muito forte e ele bateu
actividade “O Bastão Falante” do Manual “Da Violência nela.
para a Convivência” do Programa H).
• A Renata e o João estão a namorar há alguns meses.
• A Maria namora o Ricardo há poucos meses. A Renata ainda está a tirar o curso de Gestão e João
Recentemente, o Ricardo começou a questionar o seu formou-se no ano passado. Desde então, o João
comportamento. Ele sempre pergunta à Maria com tem tentado encontrar um emprego estável, mas
quem ela conversa na aula, por que ela não estava em não tem tido sorte. Ultimamente, a Renata tem feito
casa quando ele ligou e por que ela passa parte do seu comentários sobre o ex-namorado, dizendo que ele
dia conversando com suas amigas, quando poderia tinha um bom emprego, que sempre a levava para
estar com ele. A Maria tenta não dar muita atenção a bons restaurantes e comprava presentes para ela.
estes comentários, mas ultimamente o Ricardo tem Ela começou a chamar o João de preguiçoso e burro,
falado de forma agressiva e tem ficado muito nervoso. dizendo que se ele fosse um “homem de verdade” ele
Tem insultado e gritado com ela nos corredores da já teria conseguido um emprego.
escola e depois pede desculpas. Na noite passada,
ele bateu nela. Ele diz que está chateado porque ele a • A Ana tem 21 anos de idade e mora numa capital
ama, mas ela “o deixa louco” de ciúmes. de província. No ano passado, ela conheceu um
estrangeiro, que trabalha no banco, com quem
• A Isadora está a namorar há um ano. Recentemente, começou a namorar. Ela não contou sobre o namoro
o namorado dela tem falado que ela está gorda e que à sua família. Apesar de ser mais velho, ela gostava de
está com vergonha de sair com ela. Ele faz comentários sair com ele, especialmente quando ele a levava para
o tempo todo sobre o corpo de outras mulheres e restaurantes caros e discotecas chiques. No fim da sua
o quanto Isadora ficaria mais bonita e atraente se viagem, ele a convenceu a acompanhá-lo ao seu país
perdesse peso. Ele controla a quantidade de comida de origem. Ele prometeu que seria fácil conseguir um
que ela come. Ele diz que quando ela emagrecer, eles emprego, e a Ana aceitou o convite. Depois de chegar
podem noivar. lá, ele imediatamente pegou passaporte da Ana e ficou
muito controlador, e às vezes fisicamente agressivo.
• A Fernanda mal tinha acabado de começar o Instituto
Ela também descobriu que ele não trabalhava no
Comercial quando conheceu o João. Ele era diferente
banco e que não tinha muito dinheiro. A Ana sentiu-se
dos outros jovens que ela já tinha conhecido. Foi o
muito isolada, sem amigos ou família e sem conhecer

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2017 127
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

a língua local. Ele a pressionou para trabalhar como • A Susana tem um filho de 11 anos, o Henrique, que é
dançarina numa discoteca, um trabalho duro, e que muito criativo e cheio de energia. Entretanto, ele está
incluía ofertas diárias para se prostituir. sempre a ter problemas na escola por uma coisa ou
outra. O marido da Susana, o João, geralmente a culpa
• A Tatiana saiu com o seu namorado, o Paulo, e os pelo mau comportamento do filho, dizendo que ela
seus amigos para dançar. Enquanto a festa estava a gasta muito tempo no seu trabalho, quando deveria
acontecer e todo a gente estava a dançar, a Tatiana estar em casa, a cuidar do Henrique. Um dia, a Susana
reparou que outra moça estava a dançar à frente do e o seu marido entraram numa discussão e ele bateu
Paulo e aproximou-se cada vez mais. A Tatiana entrou nela. Magoada e nervosa, a Susana bateu no Henrique,
logo para separar os dois e indicar que o Paulo andava dizendo que ele era um mau filho e que só lhe trazia
com ela. A moça recuou. Passado um tempo, a Tatiana problemas.
foi tomar algo no bar com outra amiga, deixando
o Paulo com os amigos. Quando ela voltou, a moça
tinha voltado só que desta vez estava a dançar de uma
maneira muito provocadora ao lado dele. A Tatiana
irritou-se, largou o copo e foi atrás dessa moça com
toda a raiva, e puxou o cabelo dela.

Maputo
128 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Nota: Para o grupo das mulheres jovens de 20 a 24 anos use a história abaixo

Beneficárias do DREAMS contam as suas histórias


France, uma rapariga que é um exemplo de superação em dinheiro, mas quando ficava cansada ela continuava a perguntar
tempo de COVID-1922 o que iríamos comer e a violência voltava novamente”, chorou
France lembrando o seu passado recente.
France Paulino de 18 anos de idade é beneficiária do DREAMS,
uma abordagem implementada pela N’weti na Zambézia Para fugir da violência, a France passou a dormir e a passar mais
que visa reduzir novas infecções pelo HIV/SIDA em raparigas tempo fora de casa, principalmente nos dias em que ela não se
adolescentes e vulneráveis. queria envolver com homens:

A viver nos arredores de Quelimane com a sua mãe e 5 irmãos, “Dormia na escola perto da minha casa, às vezes na companhia
a pressão da COVID-19 reduziu a zero todos os esforços de de outras moças, às vezes ficava com elas a beber até tarde e na
sustento desta família, tornando-se a France uma alternativa madrugada ia-me deitar nos bancos de ferro de uma das salas
fácil e imediata, que deveria usar o sexo com vários homens para de aulas” contou sobre a sua vida.
sustentar a casa:
A vida da France começou a melhorar quando a N’weti criou
“A nossa vida já era difícil antes da COVID-19, porque para nos clubes de raparigas no seu bairro e iniciou com as sessões
dar de comer a minha mãe saía com muitos homens, mas eu em Janeiro de 2021. Um dia recebeu uma chamada de uma
conseguia ir à escola e conseguíamos ter comida”, lembrou mentora da N’weti, mas teve medo de atender e então recebeu
France. uma mensagem de insistência, a informar que podia retornar a
qualquer hora:
Com a eclosão da COVID-19 os clientes da mãe da France
deixaram de ir à rua onde se encontravam, o que influenciou a “Na ligação, ouvi uma voz amigável a informar que eu era
mudança de comportamento dela perante os filhos: importante e que ia ser importante para outras raparigas do
clube eu participar, mas, para isso, tinha que me juntar às
“Por causa da COVID-19 a minha mãe passou a chegar cedo outras raparigas do clube no meu bairro. Foi assim que passei a
em casa alegando que não havia movimento. E cada dia que frequentar as sessões do DREAMS”, lembrou France.
passava ela se transformava numa leoa nervosa, principalmente
comigo e com a minha irmã, dizia-nos sempre que somos Graças ao DREAMS passei a poupar, e voltei a matricular-me na
mulheres e tínhamos que fazer qualquer coisa”, disse France com escola. A minha mãe está em processo de sensibilização pelas
ressentimento. mentoras. Ela começou a tratar-me bem. Com a abordagem do
DREAMS implementada pela N’weti, a France conta com o apoio
A France e sua irmã foram obrigadas a abandonar a escola assim das mentoras e de uma polícia de atendimento para situações
que a pandemia da COVID-19 começou porque a sua mãe dizia de violência, que aconselha a continuar com estudos e a andar
que não tinha como sustentar as suas despesas: segura:
“Ela disse que eu já era mulher com 17 anos, era bonita e tinha
“Eu tenho muitos planos para o meu futuro”, concluiu France
que brincar com homens para trazer dinheiro em casa. Quando
feliz.
neguei ela tirou a minha roupa fora de casa e passou a violentar-
me todos os dias. Às vezes eu ia atender os tais homens e trazia

22. Nome alterado para proteger a confidencialidade da rapariga


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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 3: QUEBRANDO O SILÊNCIO E BUSCANDO AJUDA

Tempo: 1:00 h

Em plenária:

Passo 1: Explore as seguintes questões para discussão e use as notas para a Mentora e o folheto de apoio a este guião com os passos
a seguir pelas Mentoras lidando com casos de violência para ajudar o debate

• Será que a forma como os homens e mulheres são educados contribui para que haja casos de VBG como aqueles referidos
nas histórias que ouvimos? Como podemos alterar esta situação?

• O que devemos fazer quando somos vítimas de VBG?

• Há nas nossas comunidades raparigas e mulheres que denunciaram casos de VBG? O que impede as raparigas e mulheres
de denunciar o agressor?

• Que barreiras impedem a família e a comunidade de denunciar casos de VBG?

• De que forma a família e os líderes comunitários podem ajudar a resolver casos de VBG?

• A que instituições governamentais e não-governamentais e da comunidade podemos recorrer caso sejamos vítimas de
VBG?

• Como rapazes e homens não violentos ou que já foram violentos podem ajudar os agressores a evitar a VBG?

Passo 2: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Notas para a Mentora


Em Moçambique, a penalização pelos vários actos de violência baseada no género (que inclui os casamentos prematuros,
violência física, sexual, psicológica, moral, patrimonial e social) é garantida ao abrigo das leis:

1. Lei da Família

2. Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras

3. Código Penal de Moçambique – Lei de Revisão do Código Penal – Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro de 2019

4. Lei Sobre a Violência Doméstica Praticada Contra a Mulher, Lei nº 29/2009, de 29 de Setembro.

A aplicação destas leis é garantida pelo Governo, as várias organizações da sociedade civil e os actores comunitários.

Qualquer pessoa, incluindo crianças e adolescentes e jovens, que queira denunciar ou precise de ajuda em situações de
violência baseada no género ou violação dos seus direitos pode procurar os seguintes apoios na sua comunidade: unidades
sanitárias (algumas unidades sanitárias também têm um Centro de Atendimento Integrado (CAI) para o atendimento
às vítimas de violência sexual), polícia, Gabinetes de Atendimento à Mulher e à Criança Vítimas de Violência, Comités
Comunitários de Protecção da Criança, Agentes Polivalentes Elementares (APE), Comités de Saúde, Conselhos de Escola,
Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), Procuradoria Provincial ou Distrital, líderes comunitários, religiosos,
anciãos e outros líderes locais. Em algumas comunidades existem também organizações e iniciativas comunitárias que
apoiam e protegem as vítimas de violência baseada no género.

Pode-se ainda ligar para o número 116, grátis para qualquer rede, para denunciar abusos e violência contra a criança.

A violência nunca é a solução para os problemas. Alguns homens tiveram uma educação baseada em modelos prejudiciais
de submissão da mulher e que os motiva a praticar a violência baseada no género. Isto não é correcto. Caso sejam vítimas
de violência baseada no género ou conheçam alguém que tenha sido, não fiquem caladas, denunciem o agressor.

É importante que as vítimas e os seus familiares procurem apoio com os vários actores comunitários, nos vários locais e
nos serviços disponíveis de apoio em situações de violência baseada no género nas suas comunidades.

É muito importante reforçar que a violência nunca é culpa da vítima! Não importa o que uma pessoa faça, como se veste,
que idade tem, se está sobre a influência do álcool ou drogas, se está sozinha, se tem muitos parceiros, o seu estado de
saúde, etc, se a pessoa for vítima de violência NUNCA é sua culpa. A responsabilidade é SEMPRE da pessoa que cometeu
o acto de violência/do agressor.

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2017 131
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Devido à natureza desta sessão, as raparigas também podem revelar questões sensíveis às Mentoras, incluindo revelações
de violência - isso requer acompanhamento activo e referências como descrito folheto de apoio a este guião - Mentoras
lidando com casos de violência. As Mentoras devem agir para ajudar com as necessidades das raparigas que denunciem
abusos; incluindo ajudá-las a obter serviços quando apropriado. Recomendamos que as Mentoras tenham disponível
uma lista de referências / recursos (por favor vejam as opções de apoio listadas acima). Também é muito importante que
a Mentora avalie o contexto em que está a trabalhar para saber quais são os pontos de apoio seguros na sua comunidade
para casos sensíveis como a violência baseada no género.

ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje.

Passo 2: Solicite 2 raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 3: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SESSÃO 11: CASAMENTOS PREMATUROS

Maputo
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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Objectivos da Sessão
• Definir a noção de casamentos prematuros

• Identificar e explicar as causas e consequências dos casamentos prematuros

• Identificar formas eficazes de prevenção dos casamentos prematuros

Tempo: 1:20 h

Materiais: Marcadores, papel gigante.

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 2: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DOS CASAMENTOS PREMATUROS

Tempo: 50:00 min

Beneficárias do DREAMS contam as suas histórias


Uniões prematuras em tempo da COVID-19
“Com o apoio da N’weti consegui separar-me do segundo marido”

Foto 1: Cecília Chaquil (a primeira da fila com lenço na cabeça) na companhia de outras Foto 2: Cecília Chaquil (com a bebé na mão) e a Mentora do DREAMS Alcina Mussa
raparigas do Clube da Rapariga do DREAMS na Comunidade de Supinho, Distrito de conversando sobre as vantagens do curso vocacional para as raparigas saírem das uniões
Quelimane, Província da Zambézia prematuras
Foto tirada por: Claudina Lembe Foto tirada por: Claudina Lembe
Consentimento obtido no momento de captura da foto a 09 de Julho de 2021 Comunidade de Supinho, Distrito de Quelimane, Província da Zambézia
Consentimento obtido no momento de captura da foto a 09 de Julho de 2021

Antes da COVID-19 a Cecília Chaquil, actualmente com 15 anos, Cecília, é o orgulho dos seus pais “maPebanes” por estar no
era uma criança que foi levada do distrito de Pebane, com apenas distrito de Quelimane, e estes aceitaram quando receberam
9 anos, para cuidar de outras crianças em casa dos seus tios em a notícia sobre a união da Cecília com o Quenio. Selada esta
Supinho distrito de Quelimane. Os planos tomaram outro rumo, união, Quenio passou a satisfazer a família da Cecília com peixe,
quando em Novembro de 2020 os seus tios a aconselharam a arroz e capulanas para a tia e camisas para o tio da Cecília em
casar com Quenio, um jovem pescador que iria contribuir para Quelimane:
o bem-estar da família. O tio da Cecília acabava de regressar da
empresa onde trabalhava no alto mar que reduziu o pessoal
devido à COVID-19.

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

“Nos primeiros meses até mandava dinheiro para os meus conversou comigo e com os meus tios. Explicaram aos meus
pais que pagavam a pessoas que ajudavam na machamba em tios que se eu continuar com este homem ela viria recolher os
Pebane”, lembrou Cecília. meus tios e este homem para a cadeia. Foi assim que ele não
veio mais”, contou Cecília sobre o último casamento com Mussa.
Com a união prematura a Cecília deixou as brincadeiras, passou
a fazer tarefas de uma mulher adulta mesmo continuando a A polícia Helena, uma polícia honrada para as raparigas e para a
viver na casa dos tios com o seu marido. Não queria fazer parte Cecília “gosto ver aquela polícia, até me dá vontade de ser como
do Clube da Rapariga do DREAMS: ela”, falou Cecília orgulhosa do trabalho da Helena Massausso
uma agente da Polícia da República de Moçambique que tem
“Não ligava para estas minhas amigas do Clube, lá em casa estado a trabalhar com a N’weti durante as brigadas móveis que
diziam que eram brincadeiras e que eu tinha de cuidar das aproximam os serviços às raparigas.
tarefas de casa e do meu marido. Contudo, dentro de mim
apreciava porque elas estavam alegres e passavam na minha A N’weti tem Clubes da Rapariga nas comunidades costeiras
casa em grupo quando iam e regressavam do Clube”, lembrou de Supinho e Zalala que são maioritariamente habitadas por
Cecília. pescadores que fazem o comércio de peixe através do Oceano
Índico. Graças ao trabalho das Mentoras, que contam com o
Um dia a Mentora Alcina ganhou coragem e foi ter com os tios apoio dos líderes comunitários e da polícia de atendimento
da Cecília: a vítimas de violência, têm feito sensibilizações durante as
brigadas móveis e 7 raparigas foram resgatadas das uniões
“Expliquei à tia para que deixasse a Cecília juntar-se ao Clube prematuras. As raparigas inseridas em várias actividades de
e falei que aquela união era crime apesar da nossa tradição fortalecimento económico, tais como a poupança e cursos
em casar cedo. Mesmo depois de iniciar com as sessões ela vocacionais de curta duração.
continuava casada”, disse Alcina.

Depois de várias idas a casa dos tios da Cecília, a Alcina chegou a


sofrer ameaças do tio da Cecília por ela destruir a tradição. A Alcina
não parou, buscou o apoio do projecto e do líder comunitário.
Só assim houve a separação da Cecília e do Quenio em Marco
de 2021. Esta sorte durou apenas uns dias para a Cecília, até lhe
ser apresentado o segundo marido e a formalização secreta da
união que aconteceu em finais de Abril de 2021:

“Era pescador casado que vivia com a outra mulher em Zalala a 8


quilómetros daqui. Fui aconselhada a esconder da Mentora para
ser uma relação secreta, mas nada se esconde aqui no bairro”,
riu Cecília.

“Para além da Mentora falar comigo para eu negar a união,


veio cá a polícia Helena com as brigadas móveis que também

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Em plenária:

Passo 1: Coloque as seguintes perguntas às participantes.

• O que vos chamou atenção na história que acabamos de ouvir?

• Qual a designação que damos a uma união ou casamento igual ao da Cecília?

• Será que na nossa comunidade há casos de raparigas adolescentes que são vítimas de casamentos prematuros como a
Cecília? Alguém conhece um caso igual ao da Cecília e que quer partilhar?

• Será que os pais da Cecília podiam ter tomado uma outra decisão? Qual? Quais são as causas dos casamentos prematuros
na nossa comunidade?

• Que práticas culturais ou crenças da nossa comunidade contribuem para a existência de casamentos prematuros?

• Quais podem ser as consequências de casamentos prematuros para as raparigas?

Passo 2: Encerre esta actividade fazendo um resumo das discussões e opiniões das participantes. Recorra às notas da Mentora para
enriquecer o teu resumo.

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Notas para a Mentora

Casamento prematuro é toda e qualquer relação marital que envolve um menor de 18 anos de idade. Em Moçambique
a lei da Família proíbe que menores de 18 anos possam casar-se.

Moçambique é o 10 país com a maior prevalência de casamentos prematuros. De acordo com o Inquérito Demográfico
de Saúde (IDS) de 2011 cerca de 14% das mulheres entre os 20-24 anos de idade casaram-se antes dos 15 anos e 48%
antes dos 18 anos.

O casamento prematuro pode impedir que a rapariga continue os seus estudos e desta forma aumenta a sua
vulnerabilidade à pobreza. A gravidez precoce é uma das consequências imediatas dos casamentos prematuros,
podendo levar a complicações que resultem na morte da mãe e da criança. As raparigas adolescentes que se casam
prematuramente estão mais vulneráveis ao abuso sexual, violência doméstica e psicológica e podem ser infectadas pelo
HIV e SIDA.

Algumas práticas culturais como os ritos de iniciação contribuem para o início da vida sexual precoce nas raparigas e
para os casamentos prematuros.

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ACTIVIDADE 3: PREVENINDO OS CASAMENTOS PREMATUROS

Tempo: 1:15 h

Em pequenos grupos

Passo 1: Divida as participantes em 4 grupos e convide-lhes a definirem um conjunto de actividades para prevenir os casamentos
prematuros. Cada grupo deverá pensar no que pode ser feito para prevenir os casamentos prematuros junto de apenas um grupo
dos seguintes:

• Pais e cuidadores das raparigas;

• Líderes comunitários;

• Funcionários da Acção Social;

• Raparigas.

Em plenária:

Passo 2: Convide os grupos a apresentarem os seus trabalhos.

Passo 3: Pergunte se alguém do grupo tem algo a acrescentar. De seguida abra espaço para que os membros dos outros grupos
possam colocar perguntas sobre a apresentação feita. Use este procedimento para todas apresentações.

Passo 4: Encerre esta actividade fazendo um resumo das 4 apresentações e reforce a importância da contribuição de todos actores
para prevenção dos casamentos prematuros. Recorra as notas da Mentora para enriquecer o teu resumo.

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Notas para a Mentora

A sensibilização dos pais e cuidadores das raparigas, líderes comunitários, funcionários da Acção Social, Polícia,
Professores, Comités Comunitários de protecção da Criança entre outros é fundamental para a prevenção de casos de
casamentos prematuros.

A linha Fala Criança 116 pode ser usada para denunciar qualquer caso de casamento prematuro ou outra violação dos
Direitos da Criança.

O empoderamento económico das raparigas e suas famílias pode contribuir para a redução de casos de casamentos
prematuros. As condições económicas das famílias (a pobreza, em especial), o fraco acesso à educação, e as normas
sociais e de género, incluindo a religião, são algumas das razões que levam aos casamentos prematuros.

O acesso à educação é muito importante para que as raparigas possam desenvolver todo o seu potencial, e deve ser
encorajado e garantido pelas famílias e pelo Estado.

É importante que a rapariga receba formação e aprenda habilidades para a vida através da formação vocacional (ou
seja, aprender a fazer algo que possa dar um rendimento). Por isso, raparigas e mulheres jovens devem poder receber
microcrédito ou outros tipos de apoio para começarem negócios que lhes tragam algum rendimento.

Os Clubes da Rapariga e outros grupos e associações que promovem os direitos da rapariga são espaços seguros para ela
aprender habilidades para a vida e prevenir o casamento prematuro.

Ao adiar o casamento, a rapariga corre menos riscos de ter uma gravidez precoce e de abandonar a escola.

Entretanto a resposta às situações de casamentos prematuros requer uma abordagem multissectorial envolvendo vários
Ministérios e Instituições Públicas e Privadas.

O país possui a Estratégia Nacional de Prevenção de Casamentos Prematuros o que mostra o compromisso do Governo
para a eliminação deste mal.

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 4: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para partilharem como pensam usar os aprendizados desta sessão na sua vida.

Passo 3: Solicite duas raparigas voluntárias para procederem ao resumo da sessão dada no próximo encontro.

Passo 4: Solicite 2 duas raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 5: Encerre a sessão lembrando a data, hora e local do próximo encontro (sessão).

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

SESSÃO 12: USO DE ÁLCOOL E DROGAS23

23. Adaptado Pathfinder Internacional (2013). Manual do Activista do Programa Geração Biz

Maputo
142 2017
GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

Não se esqueça que pode sempre consultar os conceitos-chave e a informação complementar deste guião para apoiar
na preparação e facilitação de cada sessão.

Nota: A Mentora deve coordenar com o seu Supervisor a participação de um representante do Gabinete de
Prevenção, Controle e Combate à Droga para esta sessão, para falar às participantes sobre álcool e outras
drogas.

Objectivos da sessão
• Clarificar o conceito de droga

• Identificar as causas e consequências do consumo do álcool e de outras drogas

• Discutir a relação entre o consumo do álcool e a infecção pelo HIV

Tempo: 2:30 h

Materiais: Marcadores, papel gigante, uma folha de papel gigante com a palavra DROGA ESCRITA bem grande.

ACTIVIDADE 1: INTRODUÇÃO

Tempo: 10:00 min

Passo 1: Comece por saudar as participantes e pergunte se alguma delas tem algo importante a dizer antes do início da sessão (se
uma colega não pôde vir por estar doente, anúncio de um evento importante na comunidade, etc).

Passo 2: Solicite duas raparigas voluntárias para resumir o que mais lhes chamou à atenção na última sessão (os pontos mais
importantes da última sessão).

Passo 3: Agradeça às participantes pelo resumo da sessão anterior. Use o papel gigante para apresentar os objectivos da sessão.

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GUIÃO DE FACILITAÇÃO PARA OS CLUBES DA RAPARIGA ADOLESCENTE E MULHER JOVEM

ACTIVIDADE 2: CLARIFICANDO O QUE É DROGA

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Coloque na folha de papel gigante a palavra DROGA.

Passo 2: Peça às participantes, uma de cada vez, para que digam a primeira coisa que lhes vem à cabeça quando escutam a palavra
DROGA.

Passo 3: Anote as contribuições na folha de papel gigante em volta da palavra.

Passo 4: Abra a discussão com o grupo a partir das seguintes questões:

• Na vossa opinião que é droga?

• Qual é a droga mais consumida pelos jovens moçambicanos?

• Na vossa opinião, porquê os jovens consomem álcool e outras drogas?

• Como seria possível fazer um trabalho de prevenção do uso do álcool e de outras drogas na tua escola e na tua comunidade?

Passo 5: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Reforce o conceito de droga e
esclareça alguns pontos que tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumires a discussão.

Notas para a Mentora


Droga é qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas
ou de comportamento. Por exemplo: uma substância ingerida contrai os vasos sanguíneos (modificando a função) e a
pessoa passa a ter um aumento da pressão arterial (mudança na fisiologia ou funcionamento do corpo). A nível mundial,
o álcool é a droga mais consumida e também a maior responsável por acidentes e situações de violência. O uso do tabaco
por sua vez, é uma das principais causas de morte evitável no mundo actual, segundo a avaliação da Organização Mundial
da Saúde.

Maputo
144 2017
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ACTIVIDADE 3: DROGA E PRESSÃO DE PARES

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Divida as participantes em quatro grupos. Distribua papel gigante e marcadores para que as participantes registem as suas
principais ideias a volta da seguinte tarefa:

Grupo 1 – Apresentar os motivos alegados pelos rapazes para convencer uma rapariga a consumir uma bebida alcoólica.

Grupo 2 – Apresentar os motivos alegados pelos rapazes para não quererem consumir uma bebida alcoólica.

Grupo 3 – Apresentar os motivos alegados pelas raparigas para convencer um rapaz a consumir uma bebida alcoólica.

Grupo 4 – Apresentar os motivos alegados pelas raparigas quando não querem consumir uma bebida alcoólica.

Passo 2: Peça que a representante de cada grupo apresente os resultados da sua discussão.

Passo 3: Pergunte às participantes: o que aprenderam com este exercício?

Passo 4: Termine esta actividade resumindo as principais ideias das participantes. Use as notas para a Mentora para enriquecer o seu
resumo.

Notas para a Mentora


O uso do álcool faz com que muitas vezes uma pessoa que sempre se cuidou, sob o efeito desta substância deixe de fazê-lo.
Isso porque o álcool e outras drogas alteram a percepção das pessoas deixando-as mais vulneráveis para contrair uma ITS
ou o HIV. Por esta razão, a Mentora, ao desenvolver as actividades com as raparigas e mulheres jovens, precisa de reflectir
com elas sobre a relação existente entre a infecção pelo HIV e ITS e o consumo do álcool e outras drogas, ajudando-os a
perceber que essas substâncias aumentam as possibilidades de exposição às relações sexuais desprotegidas. Também
não se esqueça que é importante reflectir que numa situação como essa a gravidez também pode acontecer. As condições
necessárias para o uso consistente do preservativo podem ficar prejudicadas quando as pessoas estão sob o efeito de
qualquer droga psicotrópica (substância actua no nosso cérebro e que altera de alguma forma o nosso humor, as nossas
percepções, sensações, o nosso comportamento, e a nossa capacidade de tomar decisões).

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2017 145
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ACTIVIDADE 4: O CONSUMO DE ALCOOL E OS RISCOS DE INFECÇÃO PELO HIV

Tempo: 45:00 min

Passo 1: Leia a história “A Escolha”

O Manito e a Farah estão apaixonados e acabaram de se mudar para uma casa para viverem juntos. Uma noite, o Manito, fica toda
a noite a beber num bar com os amigos. O Manito só volta para casa no dia seguinte e não se lembra de nada do que aconteceu
na noite anterior em que esteve a beber com os amigos. A Farah está furiosa, mas perdoa-o. O Manito pede aos amigos para lhe
contarem o que aconteceu, porque ele não se lembra. Os amigos dizem ao Manito que ele teve relações sexuais com duas mulheres
nessa noite que também estavam lá no bar. O Manito está desesperado e não sabe o que fazer! O Manito nunca iria trair a Farah
sóbrio. Ela é a mulher da vida dele. Agora, ele nem se lembra de a ter traído e nem sabe se usou protecção. Ele não só se colocou
numa situação de risco, como também pôs a Farah em risco. Ele não sabe se deve contar à Farah o que aconteceu. Ele tem medo do
que pode acontecer com a sua relação, mas se ele não contar não vai conseguir encarar a Farah todos os dias!

Passo 2: Coloque as seguintes questões para discussão:

• De que fala a história?

• Quais são os riscos de ter uma relação ocasional como a que o Manito teve?

• Poderá a Farah também estar em risco? Porquê?

• O que vocês fariam no lugar do Manito? Contariam à Farah?

• E se estivessem no lugar de Farah? Perdoariam o Manito?

• Que lições podemos tirar desta história?

Passo 3: Encerre a discussão fazendo uma síntese das principais ideias levantadas pelas participantes. Esclareça alguns pontos que
tenham suscitado dúvidas. Use as notas da Mentora para resumir a discussão.

Maputo
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Notas para a Mentora


A bebida aumenta o risco de nos envolvermos com alguém que não conhecemos. É importante que evitemos este tipo de
envolvimento sobretudo porque o álcool diminui a nossa capacidade de pensar e de tomar decisões acertadas, podendo
levar-nos a fazermos sexo com alguém que nem conhecemos e sem usar o preservativo.

ACTIVIDADE 5: FECHO DA SESSÃO

Tempo: 5:00 min

Passo 1: Agradeça às participantes pela participação activa na sessão de hoje e partilhe as mensagens-chave.

Passo 2: Solicite algumas raparigas voluntárias para dizerem algumas palavras sobre o que mais gostaram ao longo das 12 sessões e
como esperam usar tudo o que aprenderam.

Passo 3: Solicite 2 duas raparigas voluntárias para proceder ao preenchimento da ficha de opinião.

Passo 4: Encerre a sessão agradecendo a participação de todas ao longo das 12 semanas.

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2017 147
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SECÇÃO II: INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR

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148 2017
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I. GÉNERO
É importante clarificar, como ponto de partida, que existe uma sempre que pretendermos repensar e discutir alguns papéis de
grande diferença entre sexo e género. Enquanto que o sexo género considerados nocivos.
refere- se a características eminentemente biológicas de homem
e mulher (ex., seios, pénis, menstruação, espermatozóides) Geralmente às mulheres é reservado um papel mais reprodutivo,
género refere-se aos diferentes papéis que as mulheres e realizado na esfera doméstica (cuidar das crianças, das limpezas,
homens desempenham, os quais são determinados de acordo cozinhar), menos valorizado e não remunerado, enquanto que
com as expectativas da sociedade sobre o que deve ser homem aos homens é reservado um papel produtivo mais ligado ao
e mulher, pelos usos, costumes e desenvolvimentos da sua trabalho fora na esfera pública em posições remuneradas e
sociedade valorizadas (enfermeiros, advogados, carpinteiros, engenheiros,
etc).
A forma como a sociedade define esses papéis de género tem
um grande impacto na vida de homens e mulheres, por exemplo, Contudo, nos dias de hoje não faz mais sentido uma visão tão
nas oportunidades de emprego fora da esfera doméstica, acesso conservadora. Homens e mulheres devem partilhar as tarefas e
a informação, acesso e gestão dos recursos da família, tomada responsabilidades de forma igual e responsável. É importante
de decisão (ex. sobre número de filhos). A prática demonstra questionar as normas de género que promovem relações
que muitas vezes as mulheres acabam por ser colocadas em desiguais entre homens e mulheres. As famílias têm uma grande
posições de submissão exactamente porque as expectativas responsabilidade nesse sentido: educando rapazes e raparigas
socialmente construídas sobre o seu papel lhe colocam numa desde cedo num contexto de relações iguais e de partilha de
posição de vulnerabilidade, inferioridade. tarefas e responsabilidades, estimulando a aprender tarefas que
tradicionalmente são vistas como das mulheres, por exemplo
Os papéis de género podem e devem ser mudados sempre que cuidar da casa, cozinhar, e o mesmo em relação às raparigas.
os mesmos sejam vistos como nocivos a convivência saudável Este esforço da família só poderá resultar se outras instituições
entre homens e mulheres. A sociedade é responsável por moldar ligadas à nossa socialização também mudarem a sua perspectiva
homens e mulheres em função das suas expectativas, indicando sobre os papéis de homens e mulheres, por exemplo os canais de
o comportamento apropriado para ambos. Por isso algumas comunicação, as igrejas, etc. Mas as instituições de socialização
instituições tais como a família, a escola, a igreja/mesquita, não mudam por si só, essa mudança começa connosco e se
meios de comunicação que são responsáveis pelo reforço de reforça com a acção colectiva.
alguns papéis de género devem ser tomados em consideração

Maputo
2017 149
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II. INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO


SEXUAL
As ITS transmitem-se através de contacto sexual desprotegido,
contacto oral e anal com pessoa contaminada. A contaminação
requer contacto com algumas membranas, mucosas e fluídos
do corpo (sangue, esperma, secreções vaginais).

Alguns sintomas das ITS envolvem ardor ou dor ao urinar,


aumento da frequência da urina, borbulhas ou feridas nos
órgãos genitais; comichão na virilha; verrugas no pénis, boca
e ao redor da vagina e do ânus; febres, dores de cabeça e do
corpo. Caso tenhamos algum sintoma de ITS devemos dirigir-
nos imediatamente a unidade sanitário ou a um SAAJ para
recebermos tratamento médico. É importante informar ao
nosso parceiro/a ou aqueles com quem tivemos relações sexuais
desprotegidas recentemente. No caso do tratamento das ITS é
importante seguir até ao fim e de forma rigorosa as instruções do
técnico de saúde. Devemos evitar a automedicação, e comprar
sempre os medicamentos em locais seguros (ex. farmácias e
não nos mercados). Não nos devemos esquecer de que o uso do
preservativo nas relações sexuais ajuda a proteger-nos das ITS.

Uma ITS não tratada ou mal tratada pode levar à infertilidade,


aborto, cancro do colo do útero, nados mortos, crianças com
baixo peso a nascença e gravidez for a do outro, entre outras
consequências.

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150 2017
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TABELA 1: ITS MAIS FREQUENTES EM MOÇAMBIQUE


ITS, SINTOMAS, TRATAMENTO

1-CANCRÓIDE
Sintomas: nos homens as lesões geralmente surgem na glande do pénis, no prepúcio, em torno dos testículos e no ânus. Os
testículos podem ficar inchados e doloridos. Quando a região da virilha é acometida, há dor ao abrir as pernas.
Nas mulheres as lesões geralmente surgem no interior ou em volta da vagina, no colo do útero, no clítoris e no ânus. Pode haver
dor ao urinar. Quando a região da virilha é acometida, há dor ao abrir as pernas. É possível que as lesões também se apresentem
nas mamas, dedos, coxas ou na boca.

2-CANDIDIASE GENITAIS (cândida)


Sintomas: nas mulheres: pode causar comichão, vermelhidão e irritação da região exterior da vagina, e/ou secreção branca e
espessa (corrimento branco e leitoso). Nos homens: inchaço e/ou vermelhidão do pénis e prepúcio.
Consequência grave: quando não tratada pode causar infertilidade (homens e mulheres). É curável mas se não for bem tratada,
pode tornar-se crónica (a pessoa pode ter várias vezes ao longo de toda vida).

3-CLAMIDIA
Sintomas: pode ter os mesmos sintomas que a gonorreia, Pode passar despercebida e os sintomas podem desaparecer, sem que a
infecção seja curada. Por isso, continua a ser transmissível e pode ter efeitos a longo prazo.
Consequência grave: esterilidade.

4-CONDILOMAS
Sintomas: aparecimento de verrugas (massas/ elevações da pele) na região do ânus, glande (cabeça) do pénis, uretra, nádegas,
vagina. Pode não apresentar sintomas.
Consequência Grave: pode causar cancro do colo do útero existe vacina de prevenção.

5-GONORREIA
Sintomas: pode causar inflamações da uretra, disúria (dor ao urinar) e corrimentos.
Consequência grave: esterilidade (homens e mulheres) e cegueira (recém-nascido). Por vezes não é detectada durante muito
tempo, especialmente nas mulheres, por não ter outros sintomas.

6-HEPATITE B
Ausência de Sintomas
Consequência grave: provoca muitas vezes a inflamação do fígado cirrose do fígado (cicatrização do fígado), cancro no fígado e
morte. Raramente é detectada no início Existe uma vacina contra a Hepatite B.

7-HERPES GENITAIS
Sintomas: pode provocar pequenas bolhas (feridas), que causam ardor nos órgãos sexuais e nos lábios.
Consequência grave: em mulheres grávidas, pode passar para o recém-nascido.

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2017 151
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8-SIFILIS
Os sintomas são: pode provocar abcessos (inchaços em qualquer parte do corpo), que depois desaparecem, feridas no tronco e nos
pés, os abcessos iniciais podem não causar dor e desaparecem sem serem percebidos, mais continuando a ser transmissível e pode
ter efeitos a longo prazo. Consequência grave: afecta o sistema nervoso e pode causar a morte, na mulher grávida pode transmitir ao
bebe (sífilis congénita).

9-TRICOMONÍASE
Sintomas:
Mulheres:

• Desconforto na relação sexual

• Coceira na parte interna das coxas

• Corrimento vaginal (ralo, amarelo esverdeado, espumoso)

• Prurido vaginal

• Coceira na vulva ou inchaço dos lábios

• Odor vaginal (cheiro forte ou fétido) Homens:

• Queimação após a micção ou ejaculação

• Coceira da uretra

• Corrimento leve da uretra

Consequências: ocasionalmente, alguns homens com tricomoníase podem desenvolver prostatite ou epididimite causada pela
infecção. A tricomoníase é associada com maior risco de transmissão do HIV, pode causar um baixo peso ou nascimento prematuro
da criança (em casos de gestantes). A tricomoníase é também associada com o aumento das chances de câncer de colo uterino.

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152 2017
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Sistema Reprodutor Feminino24,25

Órgãos Externos:

• Dois conjuntos de dobras de pele, que são chamados lábios.

• A vagina é onde o homem coloca o seu pénis durante o acto sexual. Além disso, o sangue menstrual e os bebés passam
também pela vagina.

• Perto do topo dos lábios, dentro das dobras, está o clítoris. O clítoris é muito sensível e ajuda a mulher a sentir prazer sexual.

Órgãos Internos:

• Todas as mulheres nascem com milhares de óvulos nos seus ovários. Os óvulos são tão pequenos que não podem ser vistos
a olho nu.

• As Trompas de Falópio ligam os ovários ao útero.

• O útero é o recato em que os bebés crescem.

24. Adaptado de Centro de Programas de Comunicação (CCP) da Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins (2011). Avante Raparigas! Habilidades para a Vida para
as Raparigas ao Nível da Comunidade: Manual de Capacitação. Baltimore, Maryland. Developed under the terms of USAID Contract No. GHH-1-00-07-00032-00, Project SEARCH, Task Order 01
25. Adaptado de Primary Prevention of Sexual Violence and HIV among 9–14-year-olds, PEPFAR, January 16 2019

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A) Trompas de Falópio

B) Útero com endométrio

D) Ovários
C) Colo do útero

E) Vagina e mucosa
vaginal

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Sistema Reprodutor Masculino

O pénis tem a capacidade de endurecer e de amolecer; é muito sensível ao estímulo. Parte do pénis é coberta pelo prepúcio, nos
homens que não foram circuncidados. O pénis dá passagem tanto à urina como ao sémen. O pénis coloca o esperma na vagina
durante a relação sexual.

Os testículos são dois órgãos em formato de ovo, situados à frente e entre as coxas. Cada testículo produz e armazena esperma,
capaz de fertilizar o óvulo da mulher, a partir da puberdade.

Coluna vertebral

E) Bexiga

Próstata
A) Pénis

B) Uretra
Ânus
C) Testículo

D) Escroto

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2017 155
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III. ACONSELHAMENTO E TESTAGEM EM SAÚDE E TRATAMENTO


ANTI-RETROVIRAL
O HIV e SIDA Transmissão do HIV

O HIV é o vírus da imunodeficiência humana (vem das palavras O HIV se transmite via contacto sexual não protegido com
em inglês: Human immunodeficiency virus). O HIV infecta preservativo, de mãe vivendo com o HIV ao seu filho durante a
certas células (CD4) que fazem parte do sistema imunitário do gravidez, durante o parto ou pela amamentação, ou através do
organismo. À medida que mais células são infectadas e morrem, sangue que tem HIV.
o sistema imunitário torna-se menos capaz de lutar contra as
doenças. Em Moçambique, o contacto sexual não protegido é o principal
modo de transmissão do HIV, isto significa relações sexuais
SIDA e a síndrome da imunodeficiência adquirida (em Inglês: vaginais ou anais não protegidas (sem preservativo) com um
Acquired Immunodeficiency Syndrome) que e causada pelo parceiro que vive com HIV. O HIV pode ser transmitido também
HIV. SIDA inicia-se quando o número das células do sistema através do sexo oral, mas e muito menos comum. Por isso e
imunitário desce abaixo do nível crítico, o que não é suficiente muito importante usar preservativo durante todos relações
para haver resposta imunitária eficaz a invasores. Isto abre o sexuais.
caminho as doenças oportunistas e tumores que podem matar
o doente se nao toma medicamento contra HIV (tratamento A mãe vivendo com HIV pode transmitir o HIV ao seu filho
anti-retroviral, TARV). Sem tratamento, o HIV leva geralmente durante a gravidez, durante o parto ou pela amamentação. Por
muitos anos a passar a SIDA, mas esta varia entre as pessoas. Os isso, é muito importante que as mulheres gravidas façam o teste
potenciais factores que modificam a história natural da infecção do HIV e se o resultado for positivo sigam as orientações do
sao genéticos, idade, modo de transmissão, etc. Durante este pessoal de saúde, incluindo a toma regular do TARV que protege
tempo a pessoa pode se sentir saudável, mas ainda pode o filho contra a transmissao do HIV. Se uma mulher grávida
transmitir o HIV para outros. Por isso, não é possível saber através apanha o HIV durante o gravidez, o perigo de passar o HIV para
da aparência ou sintomas quem é que tem HIV. Sempre devemos o filho é maior. Por isso, é muito importante a usar preservativo
nos proteger usando o preservativo nas relações sexuais. nas relações sexuais durante a gravidez.

Enquanto não há nenhuma cura conhecida para o HIV, o A maior parte da transmissão do HIV pelo sangue resulta da co-
tratamento anti-retroviral (TARV) para a o HIV diminuem a utilização de material de injecção com uma pessoa vivendo com
progressão viral. O TARV altera o curso natural da infecção por HIV durante o consumo de drogas injectáveis. A transmissao é
HIV e protege contra progressão da doença e transmissão do possivel também durante a transfusão de sangue infectado que
HIV para outros. O TARV tem que ser tomado regularmente por não é rastreiado por HIV (o sangue oferecido nos hospitais e
toda a vida. Aderindo ao TARV ajuda a pessoa ter vida longa e rastreado) e através da utilização de material perfuro-cortante
saudável. incorretamente esterilizado.

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Existem muitos mitos e crenças falsas sobre a transmissão do ou todo, do prepúcio do pénis. Homens circuncidados têm um
HIV. O HIV não se transmite: risco inferior de contraírem várias infecções da área reprodutiva,
incluindo HIV, do que os homens não circuncisados. Todos os
• apertando a mão, abraçando ou beijando a PVHIV; homens a partir dos 14 anos podem fazer a CMMV. É importante
lembrar que a circuncisão masculina não dá protecção total e o
• tossindo ou espirrando;
homem circuncisado deve usar sempre o preservativo!
• utilizando quartos de banho ou chuveiros;
Para evitar a transmissão da mãe para o filho, e importante
• por picada de mosquito ou outro insecto; saber se a mãe tem o HIV. Por isso na visita pré-natal é feito
• banhando-se em piscinas públicas; um teste de HIV, mas ainda é melhor se a mulher sabe o seu
seroestado antes de ficar grávida. Se o resultado é positivo, é
• utilizando um telefone público; muito importante que a mãe começa o TARV imediatamente
para evitar a transmissão do HIV para o filho durante gravidez,
• visitando um hospital; parto e amamentação. Os provedores de saúde podem também
dar outras instruções para a mãe vivendo com HIV. Também é
• trabalhando, acompanhando ou vivendo com PVHIV;
importante que o(s) parceiro(s) da mulher grávida façam o teste
• etc. do HIV. A transmissão do HIV durante a gravidez aumenta o risco
da mãe transmitir o HIV para o filho. Assim, durante a gravidez é
Para diminuir a estigma e discriminação contra as PVHIV é muito importante usar o preservativo nas relações sexuais.
importante informar pessoas também sobre como o HIV NÃO
pode ser transmitido. Transmissão pelo sangue é evitado com rastreio do sangue
doado nos hospitais que dão sangue aos pacientes. Além disso
Prevenção do HIV é importante nunca partilhar agulhas, seringas com outras
pessoas e as lâminas e outros objetos cortantes devem ser
devidamente esterilizados.
Para cuidarmos de nós mesmos e as nossas famílias, é importante
prevenir o HIV. O transmissão sexual, que é mais comum,
pode ser prevenida com utilização correcta e consistente do Serviços de apoio à prevenção do HIV
preservativo masculino ou feminino em todos actos sexuais. O PrEP
preservativo previne o contacto entre a mucosa genitais e os
fluidos que podem ter HIV. Também, a abstinência e fidelidade A profilaxia pré-exposição (PrEP) significa:
absoluta (só quando os dois parceiros são seronegativos)
protegem a pessoa contra transmissão do HIV. Aderir ao TARV Pré = Antes
diminui a risco de transmitir o HIV para os parceiros sexuais e
filhos, porque o TARV, quando é eficaz, diminui a quantidade do Exposição = Situação de risco que pode levar à infecção por HIV
vírus na sangue, esperma e secreções vaginais.
Profilaxia = Prevenção.
A circuncisão médica masculina diminui a transmissão do HIV
quando o homem não tem o HIV. A circuncisão remove parte,

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A PrEP é o tratamento com medicamentos anti-retrovirais para do profissional de saúde que tem o dever de nos providenciar
impedir a aquisição do HIV. A PrEP é recebida por pessoas toda a informação que precisemos para que iniciemos com o
que testem negativo para o HIV numa consulta de ATS, mas tratamento na unidade sanitária.
que estejam em situações de risco de infecção pelo HIV.
Exemplos de pessoas que recebem a PrEP: os profissionais de Nos casos em que alguém é testado e o resultado é positivo
sexo, homens que fazem sexo com homens, as pessoas que é recomendado que informe ao seu parceiro (e todos outros
tenham um parceiro sexual seropositivo, entre outros. A PrEP é parceiros, caso tenham mais de um parceiro sexual). Deste
tomada pela pessoa seronegativa enquanto esta estiver numa modo o parceiro poderá também dirigir-se a uma consulta de
situação de risco de infecção pelo HIV. Quem toma a PrEP deve ATS e fazer o teste pois só fazendo o teste é que se pode saber se
complementar a sua prevenção à infecção pelo HIV com o uso o parceiro é seropositivo ou não. Se os dois parceiros souberem
do preservativo sempre que tiver uma relação sexual. A PrEP o seu estado serológico mais rapidamente poderão apoiar-
serve para ajudar a reduzir a probabilidade de infecção pelo se mutuamente no seguimento das orientações oferecidas
HIV para pessoas não infectadas pelo HIV, mas que estejam em pelo profissional de saúde em relação ao TARV e as consultas
situações de risco. regulares de controlo e negociarem o uso do preservativo para
evitar reinfecções. Há ainda a vantagem de ambos poderem,
Aconselhamento e Testagem em Saúde e Tratamento Anti- com aconselhamento de um profissional de saúde, tomar
retroviral decisões sobre quando ter filhos e apoiarem-se mutuamente no
seguimento da PTV nos casos em que a mulher é seropositiva.
Numa consulta de ATS podemos nos beneficiar de vários Há casos em que os casais têm resultados diferentes, ou seja,
serviços, entre eles, controle da tensão arterial, rastreio de um é seropositivo e outro não, é o que se chama um casal
diabetes e outras doenças, aconselhamento sobre hábitos serodiscordante. Os casais podem manter-se serodiscordantes
e estilos de vida saudável, incluindo testagem do HIV. Estes se seguirem as medidas preventivas conforme orientação do
serviços oferecem aconselhamento pré e pós testagem do HIV profissional de saúde, entre elas, o uso correcto e consistente
e referência as unidades sanitárias para se iniciar o TARV para os do preservativo. Nem sempre é fácil revelar o estado de saúde
casos de pessoas diagnosticadas com HIV. O TARV é a terapia ao parceiro pelo facto de existirem algumas barreiras sócio-
com medicamentos anti-retrovirais usada para o tratamento culturais. Por exemplo alguns homens acham que não devem
do HIV. O TARV serve para manter a pessoa infectada pelo HIV ser questionados e nem devem justificações às suas esposas
saudável e para prevenir que a mesma transmita o HIV a outros. associado ao facto de algumas mulheres evitarem questionar os
seus maridos e não solicitar que façam o teste de HIV com receio
Estes serviços são gratuitos em todas unidades sanitárias e por de serem vítimas de violência baseada no género.
vezes algumas organizações que trabalham na área de saúde em
parceria com as unidades sanitárias oferecem o ATS móvel nas Há, também, o receio de outras atitudes do seu marido que
comunidades como forma de aproximar estes serviços a mais podem colocar em risco a estabilidade familiar levando a
membros da comunidade. É importante que façamos o teste de situações em que as mulheres são expulsas de casa acusadas
HIV pois permite tomar decisões importantes sobre a saúde do de terem trazido o HIV para dentro da família. Este receio das
indivíduo. Quanto mais cedo fizermos o teste ficamos a saber do mulheres é justificado ainda pelo receio de perder o direito ao
nosso estado de saúde e caso o resultado seja positivo podemos acesso e cuidados aos seus filhos. Alguns homens podem achar
nos beneficiar de orientações e acompanhamento por parte que revelando o seu estado serológico pode significar que ele

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reconhece que tem sido infiel, que é sinal de fraqueza. Alguns Devemos igualmente reforçar a importância de nunca falhar
têm receio por achar que serão abandonados pela família com a medicação e usar o preservativo sempre mesmo que
(esposa e filhos). Estes receios de homens e mulheres associados sinta que esta a melhorar. Como qualquer medicação os
ao estigma e descriminação dificultam a adesão ao TARV e antiretrovirais podem ter alguns efeitos colaterais tais como
contribui para a não protecção do parceiro. Os outros parceiros cansaço, dores de cabeça, diarreia, vómitos, tonturas, feridas na
sexuais também devem fazer o teste de HIV para que saibam o pele e boca seca. Nos casos em que isto acontece é importante ir
seu seroestado. É importante também testar os filhos do casal. a unidade sanitária para ter aconselhamento do profissional de
saúde. A alimentação da pessoa que esta em tratamento deve
No caso em que o resultado é negativo é importante encorajar o ser muito bem cuidada, por isso é importante que a pessoa em
paciente a tomar cuidados que evitem que possa contrair o HIV tratamento consulte ao profissional de saúde que alimentos são
e lembrar-lhe da importância de fazer o teste a cada 3 meses. mais recomendados para o seu caso. Mesmo que a PVHIV sinta
que está saudável não pode interromper o TARV, isso significa
Há casos em que alguns parceiros (especialmente mulheres) que o tratamento está a ter efeitos positivos.
iniciam o TARV a revelia. Por mais difícil que seja é sempre
importante revelar o estado serológico ao parceiro pois deste É muito importante garantir a adesão e retenção aos serviços
modo ambos saem protegidos e podem planificar juntos como e cuidados do HIV para manter uma vida saudável e evitar a
melhorar a sua qualidade de vida com apoio de um profissional transmissão do HIV. Para manter carga viral baixa ou indetectável
de saúde. É importante procurar ajuda de profissionais de o paciente em tratamento anti-retroviral deve ter boa adesão ao
saúde, familiares de confiança, líderes comunitários/religiosos TARV, o que significa tomar diariamente medicamentos e seguir
e associações de PVHIV caso haja necessidade de apoio para as recomendações do médico para o resto da vida para ficar
revelar o estado serológico ao parceiro. Nada deve justificar o saudável. A toma dos medicamentos deve continuar ao longo
silêncio. da vida, mesmo quando o paciente se sente bem e/ou tem
carga viral baixa ou indetectável. O paciente deve tomar a sua
É importante que as pessoas diagnosticadas com sendo medicação respeitando as recomendações do técnico de saúde
seropositivas busquem na unidade sanitária orientações sobre –todos os dias, sem interrupção e para toda a vida.
o início do tratamento. Só após avaliação médica é que se pode
iniciar o TARV. Como o HIV não tem cura o TARV é importantes A retenção é o cumprimento de todas as consultas na unidade
pois melhora a qualidade de vida da pessoa e prolongam a sua sanitária, sessões de aconselhamento e apoio psicossocial (APSS)
vida e evitam a transmissão para outros. Para tal devem seguir e levantamento dos medicamentos. Quer dizer que o utente
rigorosamente com as orientações do profissional de saúde e a comunidade aceitam este cuidado e tratamento do HIV e
sobre a toma de medicamentos e os cuidados de saúde a ter SIDA e que cumprem com todas as visitas para as consultas na
e a importância de participar nas consultas de controle. Se o unidade sanitária, com a toma dos medicamentos prescritos e
TARV não for seguido correctamente ou for interrompidos os seguimento de todas as recomendações recebidas pelo técnico
medicamentos não terão o efeito desejado e o vírus pode tornar- de saúde.
se resistente aos medicamentos e a pessoa ao invés de melhorar
a sua saúde piora. Por outro lado, a sua carga viral aumenta e
desta forma pode transmitir o HIV a outras pessoas pois quanto
maior for a carga viral maior é o risco de transmissão do HIV.

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2017 159
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IV. PLANEAMENTO FAMILIAR


Planeamento familiar é muito importante pois permite, entre próxima para acederem a aconselhamento numa consulta de
vários aspectos, regular a fecundidade (a capacidade da mulher planeamento familiar. Nessa consulta terão toda a informação
e do homem gerar filhos) em função do desejo do casal, da que precisarem para tomar as melhores decisões sobre o
mulher e do homem, trazendo a enorme vantagem de prevenir número de filhos que gostariam de ter e quando, assegurando
uma gravidez não planeada, orientar as mulheres, homens e espaçamento apropriado entre as gravidezes. Indo juntos
casais sobre o método de planeamento familiar que melhor a unidade sanitária, o casal terá mais informação e estará
responde às suas necessidades e interesses e apoia o casal a melhor preparado para lidar com as suas dúvidas apoiando-se
melhor orientar o espaçamento entre os seus filhos. mutuamente a tomar as melhores decisões sobre a sua saúde
sexual e reprodutiva. Diferentemente do que se pode pensar a
Há várias barreiras que impedem os casais de tomar a melhor responsabilidade pelo planeamento familiar não é apenas da
decisão sobre quando e quantos filhos ter e o espaçamento mulher, mas sim de ambos, do casal. Por este facto o parceiro
entre uma gravidez e outra. Algumas dessas barreiras tem a ver deve participar juntamente com a mulher nas consultas de
com falta de informação e conhecimento sobre as vantagens planeamento familiar e em consultas pré-natais e pós-natais.
do planeamento familiar por parte do casal ou de um dos seus
membros, falta de diálogo no casal aliado a factores sócio- A escolha do método de planeamento familiar deve ser feita
culturais que em alguns casos determinam que o homem de forma livre e informada. Portanto, ninguém pode obrigar
controle e decida sozinho o número de filhos que o casal deve ao utente a escolher determinado método, sendo que se não
ter e quando. houver razões de natureza médica contrárias o método a usar
deve ser o escolhido pelo utente. Para tal é dever do profissional
A partir de uma determinada idade antes dos 18 anos e mais de saúde apoiar na escolha do método de planeamento familiar
de 35 anos ter filhos pode colocar em risco a saúde da mãe e mais apropriado a mulher, homem, e ao casal respondendo a
do bebé havendo mais riscos de complicações na gravidez, todas as dúvidas e perguntas que lhe forem colocadas sobre
no parto, de perder o bebé ou dar a luz um bebé pouco as várias opções disponíveis. Deste modo é, também, dever do
saudável. Por este facto a mulher e sobretudo o casal deve profissional de saúde fornecer informação sobre esse método,
procurar aconselhamento por parte de um profissional de suas vantagens e desvantagens e compará-los com outros
saúde especializado sobre o melhor momento para engravidar. métodos.
O casal deve dialogar abertamente sobre o planeamento
familiar e negociar quantos filhos pretende ter e quando, Existem vários métodos anticonceptivos tais como a pílula, o
sendo importante assegurar que o diálogo e a decisão do casal preservativo, dispositivo intra-uterino (DIU), diafragma, injecção,
promovam um adequado espaçamento entre os filhos do casal. implante, e outros. Não há um método que seja adequado para
O recomendável é esperar entre 2 a 3 anos entre cada gravidez. todas as mulheres, homens e casais. Cada método depende
da escolha do utente e da avaliação feita pelo profissional de
É importante que sempre que, a mulher, o homem, o casal tenha saúde. Entretanto alguns profissionais de saúde recomendam
dúvidas sobre algum aspecto ligado a sua vida reprodutiva aos adolescentes e jovens a dupla protecção (ex. preservativo e
procurem um profissional de saúde na unidade sanitária mais pílula) pois para além de evitar uma gravidez não planeada evita

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as ITS. Numa consulta de planeamento familiar poderás O estigma a discriminação e por vezes a falta de informação
fazem com que muitas mulheres seropositivas e seus parceiros
(1) receber aconselhamento sobre HIV e SIDA e fazer o teste tenham receio de ter filhos ou tem filhos sem seguir as
de para saber se tens HIV, (2) receber aconselhamento sobre orientações do profissional de saúde colocando em risco a
métodos contraceptivos e receber contraceptivos incluindo sua saúde e do bebé. Por isso devemos encorajar as mulheres
preservativo sem pagar nada, (3) ter orientação para controle seropositivas e seus parceiros a dirigirem-se a unidade sanitária
da fecundidade e planeamento de cada gravidez permitindo onde poderão fazer o planeamento familiar (incluindo o pré-
melhor espaçamento entre cada gravidez, (4) receber natal e PTV). É dever do profissional de saúde que trabalha nas
aconselhamento e tratamento sobre ITS, entre outros aspectos. consultas de planeamento familiar garantir confidencialidade
do estado de saúde da mulher seropositiva e do seu parceiro. A
As mulheres seropositivas têm direito a engravidar e ao família tem um papel importante no apoio a mulher seropositiva
planeamento familiar. É dever do profissional de saúde e ao parceiro a aderir as consultas de planeamento familiar e no
providenciar a informação que a mulher seropositiva e o seu seguimento das orientações do profissional de saúde sobre o
parceiro precisam para decidirem qual o melhor método de PTV e TARV. Devemos recomendar a todas mulheres grávidas
planeamento familiar para si e o que devem fazer caso decidam para se dirigirem a unidade sanitária para fazerem o pré-natal
ter filhos. É importante que a mulher seropositiva receba incluindo o teste de HIV para melhor decidirem sobre a sua
aconselhamento numa consulta de planeamento familiar para saúde e a do bebé.
melhor decidir se quer ter filhos e planificar a sua gravidez. Deste
modo elas precisam ser informadas que se ela e o seu parceiro
seguirem as instruções do profissional de saúde e iniciarem o
PTV aumentam as chances de terem um filho sem HIV.

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V. CASAMENTOS PREMATUROS26
Toda e qualquer união marital entre menores de 18 anos Factores socioculturais aparecem a jogar ainda, um papel
é considerada de casamento prematuro na República de relevante na definição de normas sobre a idade do casamento.
Moçambique. Moçambique encontra-se em 10° lugar no mundo As disparidades regionais na prevalência dos casamentos
entre os países mais afectados pelos casamentos prematuros, prematuros sugerem que factores socioculturais específicos
atendendo os dados relacionados com a proporção de raparigas em regiões de elevada prevalência, podem ser particularmente
com idades entre os 20-24 anos que se casaram enquanto apontados como causas dos casamentos prematuros. Normas
crianças, isto é, antes dos 18 anos de idade. A maior parte destes sobre a idade apropriada ou desejada para o casamento são
casamentos são de facto uniões, mais do que casamentos transmitidas e sustentadas por instituições tradicionais dentro
legalmente registados, mas são usualmente formalizados das comunidades e por lideres de opinião ao nível local,
através de procedimentos costumeiros Como o pagamento do incluindo as madrinhas e matronas responsáveis pelos ritos de
lobolo para a família da rapariga. De acordo com os dados do iniciação envolvendo crianças raparigas, praticas que são mais
Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) 2011, 48% de raparigas comuns nas regiões centros e norte do país e que tem as taxas
com a idade entre os 20-24 anos casou-se antes dos 18 anos mais elevadas de casamentos prematuros. Além de inculcar um
e 14% antes de atingir os 15 anos. Moçambique encontra-se senso geral de submissão feminina perante os homens, estes
ainda atrasado nos esforços de prevenção e combate contra eventos constituem o rito de passagem para a fase adulta,
este fenómeno, apresentando um nível de prevalência de endossando uma norma social que torna ou legitima que as
casamentos prematuros acima dos restantes países da África raparigas já no início da sua adolescência, se encontram prontas
Austral. para casar e procriar

Submeter uma rapariga adolescente ao casamento não só traz Factores socioculturais aparecem a jogar ainda, um papel
um imediato ganho material, na forma de lobolo,mas também relevante na definição de normas sobre a idade do casamento.
alivia o pai ou a família da pressão de ter um membro a menos Os dados do IDS sugerem a existência de outros factores chave
para alimentar – este é um aspecto como a educação, a religião e o sexo e idade dos chefes dos
agregados familiars. O casamento prematuro enfraquece a
importante a ter em conta principalmente para as famílias que rapariga, fecha as suas oportunidades de desenvolvimento e
vivem abaixo ou no limiar da pobreza. Este factor económico tem uma ligação directa com a gravidez precoce e seus riscos
não pode ser visto facilmente no IDS 2011, que mostra as associados.
taxas de casamentos prematuros mudando pouco a partir dos
quintis socioeconómicos de riqueza, excepto no quintil mais
rico onde existe uma significativa redução. Isto reflecte o facto
de a pobreza ser o fenómeno mais comum em Moçambique,
afectando cerca de metade da população, e o facto de uma boa
parte dos não pobres se encontrarem ainda muito próximos da
linha de pobreza.

26. Texto extraído de: UNICEF (s/d). Casamento Prematuro e Gravidez na Adolescência em Moçambique – Resumo de Análises

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VI. VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO


Violência Baseada no Género (VBG) pode ser definida como todo propriedade ou das heranças, privação das necessidades
o tipo de violência direccionada a um individuo com base no básicas, proibição de trabalhar ou de controlar os seus
seu sexo biológico, identidade de género ou percepção de sua rendimentos de trabalho, bem como a exclusão na
adesão as normas de masculinidade e feminilidade definidas tomada de decisões que afectam directamente o seu
socialmente. Inclui abuso físico, sexual e psicológico; ameaças, modo de vida;
coacção, privação arbitrária da liberdade, e privação económica
quer ocorra na vida pública ou privada.27 • Violência Sociocultural - refere-se às práticas
culturais e tradicionais que podem por em perigo a auto-
estima, a saúde e a vida da vítima enquanto pessoa,
A VBG não é um problema exclusivo de homens e mulheres
tais como a mutilação genital-feminina, casamentos
adultos, as crianças também são vítimas de VBG. Podemos ainda
prematuros e forçados e o lobolo envolvendo grandes
incluir minorias sexuais, por exemplo lésbicas, homens que
somas monetárias ou avultados bens de valor. Refere-se
fazem sexo com homens. Basicamente os tipos mais comuns de
igualmente à privação da vítima em socializar com outras
VBG incluem:
pessoas amigas, parentes ou vizinhos.
• Violência Física - refere-se à agressão contra alguém
e que resulte em dano no organismo, e expressa em A violência doméstica é um tipo de VBG.
acções como por exemplo morder, bater, chuta, queimar,
empurrar, amarrar; Estes tipos de VBG podem manifestar-se sob diversas formas,
destacando-se:
• Violência Psicológica - refere-se a todo o acto ou
omissão que visa destruir ou controlar as acções, • Violência Doméstica – reflecte a desigualdade nas
comportamentos, crenças e decisões de uma pessoas, relações de poder no casal, a maior parte das vezes, do
por via da intimidação, manipulação, ofensas, ameaças, poder do homem sobre a mulher. É referido como sendo
humilhação e isolamento, ou qualquer outra conduta que qualquer acto ou omissão, que pode ser físico, sexual,
prejudique a saúde mental ou autodeterminação pessoal; emocional, verbal, psicológico e/ou económico, praticado
por alguém da família ou a mande deste, dentro da esfera
• Violência Sexual/Abuso Sexual - refere-se à pratica familiar e do qual resulte em sofrimento, dano ou morte
de relações sexuais forçadas ou por meio do uso da da vitima. Pode acontecer na esfera familiar ou doméstica
força, chantagens, intimidação ou falsas promessas de (em casa) ou fora dela (mas entre membros da mesma
namoro ou casamento. Não se restringe ao acto sexual, família).
mas também a exposição forçada de outras formas de
sexualidade (caricias não desejadas, obrigar a vítima a • Exploração Sexual – ocorre quando a vitima é forçada
assistir a ver filmes pornográficos, etc); ou convencida a prostituir-se ou a fazer filmes ou fotos
sexuais.
• Violência Patrimonial ou Económica - refere-se a
qualquer acção ou omissão que ponha em perigo os bens Uniões forçadas (casamentos infantis e prematuros) –
da família, e que se traduz na destruição, sonegação da quando as vítimas (principalmente mulheres e raparigas)
são reduzidas a objectos reprodutores de filhos e vistas

27. AIDSTAR-one (2011) Violência baseada no género e HIV: manual programático para integrar a prevenção e a resposta contra a violência baseada no género em programas PEPFAR. USA:
John Snow, Inc
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como força de trabalho, particularmente na esfera Uma mulher vítima de VBG pode apresentar sinais de baixa
doméstica. Outro exemplo reporta-se a casos de jovens auto-estima, tornando-se triste e insegura. Nos casos da mulher
que são obrigadas a casar com homens muito mais velhos ser vítima de violência sexual ela corre enormes riscos de
e muitas vezes obrigadas a aceitar as outras mulheres do contrair doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV,
marido. devido as lesões geradas pelo sexo forçado. É importante nestes
casos que ela se dirija imediatamente a unidade sanitária mais
• Prostituição forçada – quando as vítimas são obrigadas próxima para ter atendimento por parte dos técnicos de saúde.
pelas suas famílias a venderem o seu corpo em troca A ida a unidade sanitária tem de ser num prazo não superior
de dinheiro, roupa ou outros bens, ou quando por a 72 horas para que ela receba todos os cuidados que precisa
questões de pobreza e/ou pressão de pares se dedicam à incluindo profilaxia para prevenção do HIV e outras ITS. As
prostituição em busca melhores condições de vida. crianças também são bastante vulneráveis a casos de VBG. Estas
situações podem chegar a afectar o seu rendimento na escola,
• Tráfico de Pessoas e de Órgãos Humanos – trata-
e afectar-lhes emocionalmente gerando medo, ansiedade e
se do recrutamento de pessoas para que outras possam
depressão
obter benefícios e contrapartidas económicas, através
do assassinato das vítimas para extracção de órgãos
Nos casos em que alguém é vítima de VBG é sua obrigação
humanos. Pode ocorrer dentro e fora do território
denunciar o agressor. Este dever não é só da vítima mas de
nacional. O tráfico de pessoas está geralmente também
todos àqueles que tenham conhecimento ou presenciado uma
associado à prostituição forçada.
situação de VBG.
• Assédio Sexual – reporta-se à tentativa forçada através
de chantagens e intimidações, exercida por quem tem Nos casos de VBG algumas comunidades tem Gabinetes de
mais poder, sobre quem tem menos poder, como por Apoio a Vitimas de violência doméstica, é importante que as
exemplo em contextos laborais, em que é exercido de vítimas e seus familiares procurem apoio neste local. Algumas
chefias sobre subalternos ou em contextos educacionais, comunidades têm serviços e iniciativas comunitárias de apoio e
de professores sobre alunas. protecção as pessoas vítimas de VBG. Pode-se ainda recorrer as
esquadras da polícia, unidade sanitárias, procuradoria provincial
• Entrega de raparigas a curandeiros – ocorre ou distrital ou a instituições comunitárias de resolução de
quando os familiares não têm forma de pagar serviços conflitos caso sejamos vítimas de violência doméstica ou
aos curandeiros e oferecem jovens ou crianças como pretendamos denunciar algum caso. Os líderes religiosos,
forma de pagamento. As vítimas geralmente tornam-se comunitários, anciãos e outros líderes locais têm um papel
empregadas ou são forçadas a relações maritais a quem importante na denúncia e resolução de casos de VBG. Por esse
foram entregues. facto é importante solicitar o seu apoio em situações de VBG na
comunidade.
As causas da VBG são várias, mas elas se devem fundamentalmente
as desigualdades estruturais entre homens e mulheres É importante estimular o debate na comunidade sobre o
sobretudo pela distribuição desigual de poder. Atitudes como problema de VBG. Os encontros regulares na comunidade pode
o alcoolismo, ciúmes exagerados, relações de poder desiguais, ser uma oportunidade para colocar este tipo de problemas e
falta de diálogo entre o casal. Entretanto é importante sublinhar ouvir diferentes vozes sobre como lidar com este problema.
que apesar destas prováveis causas, há um papel importante Em algumas situações será útil que homens conversem com
para existência de casos de VBG das diferenças de estatuto de outros homens sobre o assunto, e sobretudo homens que já
homem e mulher com base na construção social dos seus papéis, foram violentos no passado e venceram este problema podem
isto é, as expectativas socialmente construídas sobre seus papéis. ser pessoas-chave para conversar e desencorajar outros homens
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violentos, o mesmo se aplica as mulheres. A comunidade e as A lei 10/2004, conhecida também como Lei da Família, visa
famílias precisam desde cedo educar os seus filhos que homens regular as relações no seio da família promovendo relações
e mulheres são iguais em direitos apesar de terem papéis sociais saudáveis entre os seus membros e prevenindo possíveis formas
diferentes. Que a violência não é uma característica do homem, de desigualdades de tratamento nas relações familiares. Entre
que o homem não precisa recorrer a violência para impor os seus vários aspectos a lei estabelece na alínea d) do artigo 4 que a
pontos de vista e a sua posição na família, mas que através do família incumbe, em particular, o dever de assegurar que não
diálogo homem e mulher podem ultrapassar as suas diferenças. ocorrem situações de descriminação, exploração, negligência,
O homem tal como a mulher deve ser educado desde cedo a excessivo abuso de autoridade ou violência no seu seio.
preservar a família, respeitar e valorizar cada membro e nunca
recorrer a violência como forma de resolução de conflito. A VBG Por sua vez a Lei n° 6/2008, de 9 de Julho, estabelece o regime
não pode ser visto como um problema individual pois pode jurídico aplicável à prevenção e combate ao tráfico de pessoas,
também afectar a estabilidade da comunidade. em particular mulheres e crianças. De acordo com esta lei o
tráfico de pessoas é um crime e a mesma defende o direito a
O Governo de Moçambique aprovou alguns instrumentos legais protecção as vitimas, denunciantes e testemunhas. Esta lei
para protecção dos direitos da mulher tais como a Lei da Família, estabelece que o tráfico de pessoas é um crime público, ou
a Lei contra tráfico e abuso de mulheres e crianças, a lei de seja, qualquer pessoa que tiver conhecimento de um caso de
violência doméstica contra mulheres, a lei contra discriminação tráfico pode fazer a denúncia na polícia ou outras entidades
das pessoas vivendo com HIV e SIDA. Estes instrumentos competentes como migração, alfândegas e outras instituições
protegem as vítimas de VBG por isso é importante quebrar públicas.
o silêncio e denunciar qualquer caso de VBG. Nada justifique
que a vítima e quem conheça situações de VBG permaneça no A Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança aprovada
silêncio. É dever de todos denunciar qualquer caso de VBG. por via da Lei nº 7/2008, de 9 de Julho, à luz do seu artigo 1,
traz como principal objecto, a protecção da criança, visando
Moçambique dispõe de um conjunto de leis que ajudam a reforçar, estender, promover e proteger os direitos da criança,
prevenir, combater e penalizar as diferentes formas de VBG. tal como se encontram definidos na Constituição da República,
na Convenção sobre os Direitos da Criança, na Carta Africana
De acordo com a Lei-mãe, a Constituição da República de sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança e demais legislação
Moçambique, todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam de protecção à criança. O artigo 25 vai mais longe e estabelece
dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, que é dever de todos os cidadãos zelar pela dignidade da
independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de criança, salvaguardando-a de qualquer tratamento desumano,
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado cruel, violento, exploratório, humilhante, constrangedor ou
civil dos pais, profissão ou opção política. Deste modo de acordo discriminatório.
com a nossa constituição homens e mulheres são iguais em
direitos e deveres e o seu sexo não deve ser usado como forma A lei 12/2009 de 12 de Março, aprova os direitos e deveres
de subjugar e ou violentar as pessoas de outro sexo seja de que da pessoa vivendo com HIV e SIDA. No rol dos direitos das
forma for. pessoas vivendo com HIV e SIDA. Esta lei estabelece que os
indivíduos vivendo com HIV e SIDA tem o direito a tratamento
gratuito no sistema Nacional de Saúde, assistência médica e

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medicamentosa, a inviolabilidade da integridade sexual, moral


e psíquica, não revelar o seu estado serológico fora nos casos VII. DIREITOS SEXUAIS E
previstos na lei entre outros direitos e deveres. Na base desta lei
é proibida a discriminação a qualquer pessoa vivendo com HIV.
REPRODUTIVOS
Alguns Direitos Sexuais e Reprodutivos das
A Lei nº 29/2009 de 29 de Setembro, Lei sobre a violência
Doméstica praticada contra a Mulher sublinha no seu artigo 21 Raparigas Adolescentes e Mulheres Jovens28
que a violência doméstica constitui um crime público, por esse
facto qualquer cidadão que tenha conhecimento de algum caso
pode e deve denunciar esse facto às autoridades. O artigo 22 diz Direito à Vida - Nenhuma pessoa deve ter a vida em risco
que o atendimento às vítimas de violência deve ter prioridade por falta de acesso aos serviços de saúde e/ou informação,
na polícia e nas unidades de saúde. aconselhamento ou serviços relacionados com a saúde sexual
e reprodutiva.

Direito à Igualdade e o Direito a Estar Livre de Todas as Formas


de Discriminação - Ninguém deve ser discriminado, no âmbito
da sua vida sexual e reprodutiva, no acesso aos cuidados e/ou
serviços. Nenhuma pessoa deve ser discriminada no seu acesso
à informação, cuidados de saúde, ou serviços relacionados com
as suas necessidades de saúde e direitos sexuais e reprodutivos
ao longo da sua vida, por razões de idade, orientação sexual,
“deficiência” física ou mental.

Direito à Privacidade - Todos os serviços de saúde sexual e


reprodutivos, incluindo a informação e o aconselhamento,
deverão ser prestados com privacidade e garantia de que as
informações pessoais permanecerão confidenciais. Todas as
pessoas têm o direito de exprimir a sua orientação sexual a fim
de poder desfrutar de uma vida sexual segura e satisfatória,
respeitando contudo o bem-estar e os direitos dos outros, sem
receio de perseguição, perda da liberdade ou interferência de
ordem social.

Direito à Informação e Educação - Todas as pessoas têm o direito


de receber uma educação e informação suficientes de forma a
assegurar que quaisquer decisões que tomem, relacionadas
com a sua vida sexual e reprodutiva, sejam exercidas com seu
consentimento pleno, livre e informado.

28. Adaptado de Pathfinder (2013). Manual do Activista do Programa Geração Biz

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VIII. PROTECÇÃO SOCIAL DA com doenças crónicas.

• As crianças que vivem na rua.


CRIANÇA E CRIANÇA ÓRFÃ E
• As crianças que vivem em instituições (orfanatos,
VULNERÁVEL prisões, instituições de saúde mental).

• Crianças em conflito com a lei (crianças julgadas sob a


A protecção social é um importante instrumento de política
lei vigente para crimes.menores).
pública para enfrentar a exclusão social, a desigualdade e a
pobreza. Pese embora não exista uma definição chave para • As crianças com necessidades especias. As Crianças
o conceito, pode considerar-se que a protecção social é um vítimas de violência.
conjunto de medidas, asseguradas pelo Estado, que visam
auxiliar e melhorar as condições de vida dos cidadãos de • As crianças que são vítimas de abuso e exploração
determinada sociedade. As políticas de protecção social podem- sexual. As crianças que são vítimas de tráfico.
se traduzir em diversos pontos de acção, mas sempre tendo
como objectivo o impacto positivo e melhoria na qualidade • Crianças (casado antes dos 18 anos).
de vida das populações. Os seus resultados são medidos e • As crianças que são vítimas das piores formas de
revelados nos indicadores sociais e de pobreza. trabalho infantil.

Quando se fala de Protecção Social da criança, pretende-se • Crianças refugiadas ou crianças deslocadas.
referir à prevenção e resposta à violência, exploração e abuso
contra crianças, incluindo exploração sexual, tráfico, trabalho
infantil e práticas tradicionais nocivas à saúde da criança, tais
como mutilação genital feminina e casamento infantil (Unicef, IX. POLÍTICAS DE PROTECÇÃO
2009). Porém, num contexto global onde o HIV e SIDA se têm
destacado como factores que põem em causa a observância e SOCIAL
respeito pelos direitos da criança é importante considerar que
os efeitos da doença atentam contra a protecção da criança A Constituição da República de Moçambique (CRM) defende de
e, por isso, considerar que as acções de protecção da criança forma inequívoca os direitos das crianças à protecção da família,
também incidam sobre as Crianças Órfãs e Vulneráveis (COVs). da sociedade e do Estado, tendo em vista o seu desenvolvimento
integral e acesso aos cuidados necessários ao seu bem-estar, a
Designam-se COVs todas as crianças que estão incluídas nos opinião e participação nos assuntos que lhe dizem respeito, em
seguintes grupos: função da sua idade e maturidade. Assim, o acesso à educação
básica, à água e saneamento, aos cuidados de saúde materno-
• As crianças afectadas ou infectadas pelo HIV e SIDA. infantil, à medicina preventiva, à protecção e ao lazer, integram
as principais prioridades do país como forma de assegurar o
• As crianças que vivem em agregados familiares
cumprimento dos Direitos da Criança.
chefiados por outras crianças, jovens, mulheres ou
pessoas idosas.
No seu artigo 47, a CRM que a Criança tem direito a protecção e
• As crianças que vivem em famílias chefiadas por adultos aos cuidados necessários ao seu bem- estar:

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• O direito à Vida. O direito à Saúde. Em 2009 foram criadas as Normas da Estratégia de Segurança
Social Básica, onde se subdividiu a segurança social básica em
• O direito à liberdade, ao Respeito e à Dignidade. O acção social directa, acção social relacionada com a saúde,
direito à Convivência Familiar e Comunitária. acção social relacionada com a educação e rede de segurança
produtiva. Surgem cinco programas de protecção social básica:
• O direito à Educação, à Cultura, ao Desporto e ao Lazer.
A protecção contra o abuso, maus tratos e exploração. • Dois programas de assistência (um programa
de transferências de dinheiro e um programa de
Moçambique ratificou, de entre outras Convenções relativas à transferências sociais em espécie), e,
criança, a Convenção sobre os Direito da Criança, que no seu
Artigo 2 estabelece que os Estados Partes deverão respeitar • Três programas de promoção e desenvolvimento
os direitos enunciados na Convenção, bem como assegurar a (Beneficio Social pelo Trabalho, Geração de Rendimentos
sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, devendo e Desenvolvimento Comunitário).
para tal, tomar todas as medidas apropriadas para assegurar
a protecção da criança contra toda forma de discriminação, • Destes, o Programa de Subsídio de Alimentos (PSA), que
castigo ou maus tratos por causa da condição, das actividades, se traduz em transferências incondicionais de dinheiro,
das opiniões manifestadas ou das crenças dos seus pais, é o que tem tido maior alcance e contribuído para uma
representantes legais ou familiares. melhoria significativa nas condições de vida de muitas
crianças vulneráveis.
Do ponto de vista legal, não existe protecção social virada
• Em 2006, foi aprovado o Plano Nacional de Acção
especificamente para a criança. A segurança social que
para a Criança (PNAC) e o Plano Acção para Crianças
abrange a criança resulta da segurança social prevista para os
Órfãs e Vulneráveis (PACOV) , para o período 2006-2010,
adultos sobretudo para os trabalhadores, o que significa que,
pretendendo o Governo responder aos compromissos
nestes casos, só estão cobertas crianças filhas de pais que têm
assumidos através de instrumentos internacionais sobre
emprego (MMAS, 2011). A assistência social da criança aparece
os direitos da criança. Nestes planos, o acesso à educação
ainda transversalmente noutros programas, tais como o acesso
básica, à água e saneamento, à educação pré-escolar,
gratuito à educação e programas de apoio escolar e o acesso
aos cuidados de saúde materno-infantil, à medicina
gratuito aos serviços de saúde.
preventiva, à protecção e ao lazer, constituíam-se como as
principais prioridades do país como forma de assegurar o
Em 2007, foi aprovada a Lei de Protecção Social, que veio exigir
cumprimento dos Direitos da Criança.
a providência de segurança social básica a pessoas e crianças
pobres em situações difíceis. Nela, foram distinguidos grupos- • No âmbito do PNAC II, foram criados padrões mínimos
alvo específicos: de atendimento à criança (PMAC), facilitando assim
a monitoria das acções, e sobretudo a melhoria na
• Pessoas em situação de pobreza absoluta, Crianças em
qualidade da resposta à criança, famílias e comunidades.
difíceis circunstâncias,
Estes padrões mínimos contemplam as seguintes áreas
• Pessoas portadoras de deficiência em situação de de serviços: Saúde, Alimentação e Nutrição, Educação,
pobreza absoluta, e Protecção e Apoio Legal, Habitação, Apoio Psicossocial e
Fortalecimento Económico.
• Pessoas com doenças crónicas ou doenças
degenerativas.

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O PNAC dirigia-se à criança em geral, enquanto o PACOV concentrou as suas acções nas Crianças Órfãos e Vulneráveis e no HIV
e SIDA.

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X. ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


O termo “droga” tem origem na palavra drogg, proveniente Um estudo realizado no nosso país em 2007 sobre o consumo
do holandês antigo, que significa folha seca. Antigamente, os do álcool refere que de um total de 2626 estudantes, 33%
medicamentos usados eram feitos principalmente a partir da afirmaram que já tinham consumido bebidas alcoólicas e 22%
secagem dos vegetais. Actualmente, a palavra droga é definida afirmaram consumir actualmente. As principais razões para o
como qualquer substância capaz de modificar a função dos uso de bebidas alcoólicas mencionadas pelos adolescentes e
organismos vivo, o que resulta em mudanças fisiológicas ou de jovens são:
comportamento.
• O uso de bebidas alcoólicas é uma prova de virilidade
As drogas são divididas a partir dos efeitos que causam nas para os rapazes;
pessoas que as consomem. Assim sendo temos:
• O comportamento de beber excessivamente está
• Drogas depressoras – que diminuem a actividade do vinculado à vida adulta, sendo reconhecido pelos
nosso cérebro, de modo que a pessoa que usou este tipo familiares e por sua rede social;
de substância fique mais lenta, desligada e desinteressada;
• Os pais expõem muito cedo os filhos homens ao tabaco
• Drogas estimulantes – que aumentam a actividade e às bebidas alcoólicas;
do sistema nervoso central, ou seja, estimulam o seu
• A dificuldade de acesso a outros locais para diversão e
funcionamento, provocando uma aceleração física e
ao trabalho é apontada como a principal do consumo de
mental;
bebidas alcoólicas.

Drogas perturbadoras – que confundem ou que desorientam o


Outras razões associadas ao consumo de álcool incluem:
funcionamento cerebral, provocando distorções na percepção
da realidade. • Curiosidade;

Existem diversos tipos de drogas psicotrópicas.29 Todas elas • Para esquecer os problemas, frustrações ou
produzem mudanças na forma de compreensão da realidade, insatisfações; Para fugir da rotina e da vida habitual de
mas os efeitos variam. Podem ser depressoras, estimulantes e todos os dias; Para escapar da timidez e da insegurança;
perturbadoras do Sistema Nervoso Central. No entanto, cada
• Por acreditar que certas drogas aumentam a
pessoa, de acordo com as suas características pessoais e com a
criatividade, a sensibilidade e a potência sexual;
situação em que se encontra, pode ter reacções diferentes.
• Busca do prazer;
Em Moçambique, há informações sobre o cultivo tradicional de
cannabis sativa mais conhecida por “soruma”. As outras drogas • Necessidade de experimentar emoções novas e
entram no país por meio das redes de tráfico de drogas e as mais diferentes.
consumidas são: a cannabis sativa, o haxixe e o mandrax.30

29. Substâncias psicotrópicas ou psicoactivas são aquelas que actuam no nosso cérebro e que alteram de alguma maneira o nosso humor, as nossas percepções, sensações e comportamentos
30. O mandrax consiste em comprimidos com propriedade tranquilizante, que no passado era importado da India. Actualmente em África, também se confirmou a produção local desta
substância.
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Aspectos sociais e económicos como o desemprego, a prevenção e combate às drogas e formular políticas e estratégias,
discriminação, a pobreza, a violência e a existência do Dia do visando a repressão do consumo e tráfico de drogas.
Homem;
Nesse sentido, a Lei 3/97 introduziu o ordenamento jurídico para
A Organização Mundial da Saúde recomenda que acções a prevenção e combate à droga constituindo-se no principal
de prevenção do consumo do álcool e outras drogas, sejam instrumento regulador da matéria no país.
realizados tendo como base a chamada Teoria de Redução de
Danos. A redução de danos diz respeito a políticas e programas Foi também aprovada a Lei 7/2002 de 5 de Fevereiro sobre a
que focam directamente na redução dos danos resultantes do repressão da utilização do sistema financeiro para a prática
uso nocivo do álcool e de outras drogas sem necessariamente de actos de lavagem de capital, proveniente de actividades
recomendar-se a abstenção do uso da substância para o resto criminosas. Esta Lei é de fundamental importância uma vez
da vida. Estas políticas estão directamente associadas a: que o tráfico de drogas gera lucros fáceis e rápidos, capazes de
corromper os funcionários públicos.
• Reduçao da oferta – uma política de redução de danos
deve necessariamente incluir medidas para reduzir
a oferta do álcool e de outras drogas, por exemplo,
aumentando os preços das bebidas ou determinando
que as mesmas só podem ser vendidas em alguns locais
específicos

• Redução da demanda – refere-se a medidas viradas


para a redução da procura de drogas psicoactivas e de
bebidas alcoólicas por seus consumidores por meio de
estratégias educacionais, de tratamento e de reabilitação.

Trabalhar na perspectiva da redução de danos é também uma


forma de se lidar com a questão do álcool e de outras drogas a
partir da óptica dos Direitos Humanos, respeitando as escolhas
individuais e desenvolvendo acções no sentido de minimizar as
consequências sociais e de saúde relacionados com o consumo
destas substâncias. Assim sendo, a abstinência pode ser uma
recomendação, mas nunca uma exigência para aconselhar e
atender as pessoas que usam estas substâncias.

Moçambique possui um dispositivo legal que regula o consumo


e tráfico de drogas. Temos o Gabinete Central de Prevenção e
Combate à Droga (GCPCD) que tem como objectivo principal, a
centralização de informações que possam facilitar a investigação
sobre o tráfico ilícito de drogas, coordenar e planear acções de

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XI. A PANDEMIA DA COVID -1931,32


Desde Dezembro de 2019, o mundo vive os efeitos do surto • Através de gotículas de aerossóis (gotas de saliva ou
de uma Síndrome Gripal causa pelo novo Coronavírus (SARS- secreções das vias respiratórias contaminadas) eliminadas
COV-2), que teve início em Wuhan, província de Hubei, na China do tracto respiratório através da boca ou nariz quando a
e, poucas semanas depois, casos da mesma síndrome foram pessoa fala, tosse ou espirra; e
observados no Japão, Tailândia e Coreia do Sul, chegando aos
países de outros continentes como o Europeu, Americano e • Pode também ser transmitida através do contacto
Africano. A 30 de Janeiro de 2020, a OMS declarou a COVID-19 directo das mãos com superfícies ou objectos
como sendo uma emergência mundial de saúde pública contaminados por essas gotículas e, passadas para o
e, a 10 de Março de 2020 passou a ser considerada uma corpo através da mucosa da boca, nariz ou olhos quando
pandemia, criando assim a necessidade de coordenação de o indivíduo toca a face com as mãos contaminadas.
esforços, que a nível global como a nível de cada país, entre
os profissionais de saúde, os governos e a população geral na Chama se período de incubação ao tempo que decorre desde
adopção e implementação de medidas preventivas para conter que o vírus entra no organismo até o dia em que o indivíduo
a propagação e mitigar a doença. A 22 de Março de 2020, foi inicia com a manifestação dos sinais ou sintomas da doença.
diagnosticado o primeiro caso positivo para a COVID-19 em No caso do Sars-Cov-2 este período pode variar entre 2-14 dias,
Moçambique, na cidade capital, Maputo. sendo em média entre 3-7 dias.

Sars-Cov-2 é o nome que a OMS atribuiu ao novo Coronavírus. Indivíduos infectados pelo Sars-Cov-2, incluindo crianças,
Por sua vez a COVID-19 é a doença causada pelo vírus Sars- mesmo sem apresentar sintomas de COVID-19 podem transmitir
Cov-2. ‘CO’ vem da palavra corona, ‘VI’ vem de vírus, ‘D’ significa o vírus a outras pessoas. Mesmo os indivíduos que ainda estejam
doença e o 19 representa o ano em que foi descoberto o no período de incubação (antes do início da manifestação de
novo coronavírus. Esta doença apresenta-se em formas leves, sinais e sintomas) podem transmitir o vírus para outras pessoas,
moderadas e graves, sendo a forma grave manifestada por daí a importância de manter sempre todas as medidas de
pneumonia, no qual os pacientes apresentam dificuldade prevenção.
para respirar e requerem internamento e medidas de suporte
respiratória. Acredita-se que em cerca de 80% dos casos a As medidas de prevenção da COVID-19 são:
infecção pelo novo Sars-Cov-2 seja assintomática, contudo,
eles poderão mesmo assim transmitir o vírus a outras pessoas. • Lavar várias vezes as mãos com sabão ou cinza durante,
Daí a importância de diagnosticar a doença e permitir isolar os pelo menos, 20 segundos
pacientes e os seus contactos próximos o mais rápido possível,
evitando o surgimento de novos casos na comunidade. • Estar sempre de máscara para tapar as gotas de saliva e
ranho que saem quando falamos, tossimos ou espirramos
O novo Sars-Cov-2 transmite-se de uma pessoa para outra, de • Ficar longe das pessoas, pelo menos, 1.5 metros porque
duas maneiras principais: assim, mesmo se escapar alguma gota não consegue
chegar a outra pessoa

31. Manual de Prevenção COVID-19. Ministério da Saúde e Direcção Nacional de Saúde Pública. Abril de 2020
32. Plano Nacional de Vacinação contra a COVID-19. Ministério da Saúde; Direcção Nacional de Saúde Pública; e Programa Alargado de Vacinação. 4 de Março de 2021

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• Quando tossirmos e espirrarmos taparmos a boca e o • Pessoas com sintomas suspeitos de COVID-19 (pessoa
nariz com o braço, porque também ajuda a tapar as gotas com tosse seca, febre, dor muscular).
de saliva e ranho que saem.
As pessoas em isolamento domiciliar devem permanecer em
Os principais sinais e sintomas mais frequentes associados casa e cumprir de forma rigorosa com os procedimentos de
à infecção pela COVID-19 são: febre (temperatura ≥ 37,5ºC), isolamento domiciliar. Em caso de agravamento da doença,
tosse e dificuldade respiratória (ex: falta de ar). Também pode solicitar orientação as autoridades sanitárias locais através das
surgir dor de garganta, corrimento nasal, dores de cabeça e/ linhas telefónicas disponibilizadas.
ou musculares e cansaço. Em casos mais graves, pode levar a
pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência As linhas telefónicas disponibilizadas para lidar com todo e
dos rins e de outros órgãos, e eventual morte. qualquer assunto e dúvida relacionado com a COVID-19 são:

A quarentena e o isolamento domiciliar são métodos eficientes Alô Vida – todas as redes 800 149 / Movitel 1490 / TMcel 82 149
usados para evitar a disseminação do vírus na população ou e 1490 / Vodacom 84 146
comunidade. Devem ficar em quarentena obrigatória as pessoas Ligar de qualquer rede para a Central de Chamadas através do
que tiverem as seguintes características: número 110
Mandar SMS para PENSA *660#
• Pessoas com ou sem sintomas, mas que tiveram Procurar os contactos designados para a COVID-19 de cada
contacto próximo (há menos de 15 dias) com um caso província
confirmado ou suspeito da COVID-19.
Estigma e discriminação: Nunca devemos discriminar ninguém
• Viajantes provenientes de territórios com registos
por causa de alguma doença, por causa da sua origem, da língua
activos de casos da COVID-19 mesmo que não apresentem
que fala, ou o dinheiro que têm. Todas as pessoas têm direito
quaisquer sintomas.
a serem respeitadas e a receber ajuda quando estão doentes.
A COVID-19 não tem nada a ver com o que a pessoa é, de que
Pessoas que tenham sintomatologia suspeita devem procurar os família vem, etc. Qualquer pessoa pode ficar doente com a
serviços de saúde através das linhas telefónicas disponibilizadas COVID-19 e deve ter ajuda de todos nós para se recuperar.
ou dirigir-se à unidade sanitária imediatamente após sentir
algum dos sintomas.
O estigma relacionado à COVID-19 acontece quando associamos
negativamente uma pessoa ou grupo de pessoas pelo facto de
A população em geral deve apoiar na vigilância dos casos nas ter COVID-19. Esta associação negativa pode significar que as
comunidades e reportar ao pessoal de saúde casos de indivíduos pessoas são rotuladas, discriminadas, tratadas separadamente
que não estejam a cumprir com a quarentena obrigatória através e/ou sofrem perda de status devido a uma percepção de
das linhas telefónicas disponibilizadas. ligação com uma doença. Este tratamento social pode afectar
negativamente as pessoas com a doença, bem como os
Quem deve ficar em Isolamento domiciliar são: provedores de cuidados, família, amigos e comunidades pois, as
pessoas que não têm a doença mas tem alguma ligação com a
• Todas as pessoas com diagnóstico confirmado de pessoa estigmatizada também podem sofrer o estigma.
COVID-19 e que não apresentam sintomas ou que tenham
sintomas leves; e

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A COVID-19 não tem cura, mas existe uma vacina para A vacina é grátis e pode-se obter nas unidades sanitárias. Estar
prevenção. Em Março de 2021 iniciou o programa de vacinação vacinado contra a COVID-19 não quer dizer que não se esteja
para a COVID-19 em Moçambique. A introdução de uma vacina em risco de contrair a COVID-19 e transmitir para os outros. A
segura e eficaz representa uma prioridade nacional para aliviar o vacina é uma prevenção e não uma cura. Se estiver vacinado
impacto negativo da pandemia da COVID-19 a nível do sistema contra a COVID-19 mantenha todas as medidas de prevenção
sanitário e socioeconómico. Actualmente, o principal objectivo como listadas acima. Se tiver dúvidas sobre a vacinação para a
da vacinação é proteger contra doença severa, hospitalização e COVID-19 use aos contactos telefónicos indicados acima.
morte que é fundamental para redução da morbi-mortalidade,
alívio da pressão do Sistema Nacional de Saúde e também Pode-se ainda consultar a página - https://covid19.ins.gov.
permitirá uma transição ao novo normal mais segura. mz/ - do Ministério da Saúde que é dedicada à COVID-19 em
Moçambique.

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www.nweti.org

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